De Convento da Esperança a Quartel de Bombeiros

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A denominação de Convento da Esperança pelo qual veio a ficar mais conhecido deve-se a uma confraria de mareantes que na igreja estabeleceu um altar dedicado a Nossa Senhora da Esperança. O conjunto habitacional deste mosteiro foi aumentado quando se soube ser a casa de acolhimento escolhida por D. Catarina para passar a maior parte do seu tempo ao ficar viúva de D. João III e, mais tarde, em 1667, por D. Maria Francisca de Sabóia, durante o período em que decorreu a anulação do seu casamento com D. Afonso VI. Inserido na linha concetual de cidade dos eleitos, para nele viverem segundo as leis divinas, o convento foi projetado de forma ordenada, com vários espaços anexados e cercados por um muro, símbolo de separação entre a cidade divina e a cidade terrestre3, que satisfaziam as necessidades das suas moradoras e que, ao longo dos séculos, tornou-se mais social à vivência comunitária que o circundava, principalmente por a igreja ter o culto aberto ao povo. Como casa religiosa de freiras seguidoras da regra de Santa Clara, este convento sofreu praticamente durante toda a sua existência alterações e modificações, bem como novas edificações, aumento e aperfeiçoamento das estruturas já existentes, num prolongamento do seu caminho natural de comunidade conventual urbana. 11

A PASSAGEM DO COMPLEXO CONVENTUAL PARA A POSSE DA CÂMARA Em 1834, Joaquim António de Aguiar, ministro do Reino e secretário de Estado, determinava, por decreto, a extinção de todos os mosteiros, conventos, colégios, hospícios e casas religiosas de qualquer ordem regular e a incorporação de todos os seus bens na Fazenda Nacional, exceto paramentos e algumas alfaias religiosas utilizadas nos cultos. Estas seriam entregues nas dioceses a fim de serem distribuídas pelas igrejas paroquiais mais necessitadas. O decreto ordenava a imediata extinção das casas religiosas masculinas e, por óbito da última freira residente, o fecho dos conventos femininos. A portaria de 20 de julho de 1857, referente aos conventos femininos que «apelava á urgente necessidade de se ter um exacto conhecimento do seu estado e bens», demonstra-nos não só

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Santo Agostinho, A Cidade de Deus. vol. II. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, p. 988.


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