Jornal Municipal - jul | ago | set'16

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SETÚBAL JORNAL MUNICIPAL.setembro 2016.ano 16.n.º61

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Excelência premiada

Mais Cidade Paços do Concelho, Moinho de Maré da Mourisca e Casa Bocage são os mais recentes espaços requalificados pela autarquia. Comemorações dos 250 anos do poeta encerram com novas inaugurações

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Transformação a caminho da zona ribeirinha

Emoção pedala de volta

Redução de riscos sai à rua

pág. 21

págs. 14 e 15

Projeto GIRUSetúbal trabalha todos os dias com toxicodependentes

pág. 9

Poesia passa pelo túnel

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SETÚBAL

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sumário

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4  PRIMEIRO PLANO  O Dia da Cidade assinalou o encerramento das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage. A mesma cidade que recebeu mais equipamentos requalificados, ao dispor da população.

8  LOCAL  A modernização chega a todo o concelho e nem os túneis escapam. A zona ribeirinha aguarda um grande investimento, enquanto o Forte de Albarquel está a postos para receber obras que permitirão a reabertura ao público. 13  FREGUESIA  A Junta de Freguesia de S. Sebastião dotou o Jardim de Palhais de melhores condições. Uma nova ligação na zona de Poço Mouro foi feita pela Junta da Gâmbia, enquanto a do Sado criou mais estacionamento.

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14  PLANO CENTRAL  O GIRUSetúbal intervém na redução de riscos e na minimização de danos junto de toxicodependentes. O trabalho de campo vai mais longe e inclui ainda acompanhamento psicológico e refeições diárias.

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Redução de riscos sai à rua págs. 14 e 15

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pág. 9

Emoção pedala de volta pág. 21

Poesia passa pelo túnel

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16  TURISMO  Um jantar especial celebrou o Mercado do Livramento como um dos mais famosos espaços de peixe do mundo. Num concelho que continua a atrair visitantes, a Feira de Sant’Iago voltou a deslumbrar. 18  CULTURA  A Casa da Cultura foi distinguida por uma revista da área das artes pelo trabalho que tem desenvolvido. A Festa do Teatro passou, em agosto, por aquele equipamento e muitos outros espaços para ser um êxito. 20  EDUCAÇÃO  Miúdos e graúdos partilharam experiências nos Ateliers de Verão, numa edição que registou cinco centenas e meia de participantes. Os mais novos envolveram-se ainda numa ação de remoção de beatas da praia. 21  DESPORTO  A Volta a Portugal em Bicicleta voltou a Setúbal 42 anos depois numa etapa marcada por decisão em cima da meta, acompanhada por uma multidão. O futebol de praia também encantou, num recinto novo. 22  ACADEMIA  Dois estudantes de Engenharia Biomédica da Escola Superior de Tecnologia levam a reabilitação a comunidades mais isoladas. Cinquenta alunos do secundário partiram à descoberta do Politécnico de Setúbal. 23  RUMOS  André Lourenço foi dirigente desportivo, criou várias empresas e até fundou uma escola. Hoje, com apenas 35 anos, é o rosto principal da Trojan Horse Was a Unicorn, meca mundial da indústria criativa. 24  RETRATOS  São artesãos, artistas, carpinteiros, pintores. Moradores da Bela Vista aproveitam aquilo que as pessoas deitam fora para transformarem em peças reaproveitadas. O Garrrbage tem loja no Mercado 2 de Abril. 25  INICIATIVA  A paixão pela música e a necessidade de sentir os aplausos do público como de água para viver levaram um grupo de amigos a formar o Coro Setúbal Voz. A formação já espalha a arte pelo concelho. 26  MEMÓRIA  O aqueduto do século XV, construído por ordem de D. João II, atravessa a história da cidade. A visita de Hans Christian Andersen a Setúbal foi mais tarde, há 150 anos, bem como a abertura do Café Esperança. 28  PLANO SEGUINTE  A ascensão e queda de um dos maiores mitos do futebol nacional, o setubalense Vítor Baptista, motiva um encontro em outubro. No mesmo mês há a Semana do Mar.

informações úteis

Setúbal - Jornal Municipal Propriedade: Câmara Municipal de Setúbal Diretora: Maria das Dores Meira, Presidente da CMS Edição: SMCI/Serviço Municipal de Comunicação e Imagem Coordenação Geral: Sérgio Mateus Coordenação de Redação: João Monteiro Redação: Hugo Martins, Marco Silva, Micaela Neves, Raquel Proença, Vera Mariano Fotografia: José Luís Costa, Mário Peneque Paginação: Humberto Ferreira Impressão: PROS – Promoções e Serviços Publicitários, Lda. Redação: SMCI - Câmara Municipal de Setúbal, Paços do Concelho, Praça de Bocage, 2901-866 Setúbal Telefone: 265 541 500 E-mail: smci@mun-setubal.pt Tiragem: 8000 exemplares Distribuição Gratuita Depósito Legal N.º 183262/02

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Paços do Concelho Praça de Bocage 265 541 500 | 808 200 717 (linha azul) Gabinete da Presidência gap@mun-setubal.pt Departamento de Administração Geral, Finanças e Recursos Humanos dafrh@mun-setubal.pt Gabinete da Participação Cidadã gapc@mun-setubal.pt

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Edifício do Banco de Portugal Rua do Regimento de Infantaria 11, n.º 7 265 545 180 Departamento de Cultura, Educação, Desporto, Juventude e Inclusão Social Departamento de Recursos Humanos Edifício Sado Rua Acácio Barradas, 27-29 265 537 000 Departamento de Ambiente e Atividades Económicas daae@mun-setubal.pt Departamento de Obras Municipais dom@mun-setubal.pt Departamento de Urbanismo Gabinete de Apoio ao Consumidor Gabinete de Apoio ao Empresário Av. Luísa Todi, 165 Mercado do Livramento, 1.º andar 265 545 390 SEI – Setúbal, Etnias e Imigração Rua Amílcar Cabral, 4-6 265 545 177 | Fax: 265 545 174 sei@mun-setubal.pt Gabinete da Juventude Casa da Cultura Rua Detrás da Guarda, 28 265 236 168 gajuve@mun-setubal.pt

Sugestões e informações dirigidas a este jornal podem ser enviadas ao cuidado da redação para o endereço indicado nesta ficha técnica.

Posto Municipal de Turismo - Azeitão Praça da República, 47 212 180 729

Galeria Municipal do Banco de Portugal Av. Luísa Todi, 119 265 545 180 Casa Bocage Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro Rua Edmond Bartissol, 12 265 229 255

Loja municipal “Coisas de Setúbal” Praça de Bocage – Paços do Concelho coisasdesetubal@mun-setubal.pt

Museu Sebastião da Gama Rua de Lisboa, 11 Vila Nogueira de Azeitão 212 188 399

espaços culturais

Casa do Corpo Santo Museu do Barroco Rua do Corpo Santo, 7 265 534 402

Utilidade Pública Loja do Cidadão Av. Bento Gonçalves, 30 – D 265 550 200 Balcão CMS: 265 550 228/29/30 Piquete de água 265 529 800 Piquete de gás 800 273 030 Eletricidade 800 505 505

Urgências

SOS 112 Intoxicações 217 950 143 Biblioteca Pública Municipal Serviços Centrais SOS Criança Av. Luísa Todi, 188 808 242 400 265 537 240 Cinema Charlot – Auditório Municipal Linha Saúde 24 Rua Dr. António Manuel Gamito 808 242 424 Polo da Bela Vista 265 522 446 Rua do Moinho, 5 Hospital S. Bernardo 265 751 003 265 549 000 equipamentos Hospital Ortopédico do Outão Polo Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra desportivos 265 543 900 Estrada Nacional 10, Pontes 265 706 833 Complexo Piscinas das Manteigadas Companhia Bombeiros Sapadores Via Cabeço da Bolota 265 522 122 Polo de S. Julião 265 729 600 Pct. Ilha da Madeira (à Av. de Angola) Linha Verde CBSS 265 552 210 800 212 216 Piscina Municipal das Palmeiras Av. Independência das Colónias Bombeiros Voluntários de Setúbal Polo Sebastião da Gama 265 542 590 265 538 090 Rua de Lisboa, 11, V. Nogueira Azeitão 212 188 398 Proteção Civil Piscina Municipal de Azeitão 265 739 330 Rua Dr. Agostinho Machado Faria Fórum Municipal Luísa Todi 212 199 540 Av. Luísa Todi, 61-67 Proteção à Floresta 265 522 127 117 Complexo Municipal de Atletismo Capitania do Porto de Setúbal Casa da Cultura Estrada Vale da Rosa 265 548 270 Rua Detrás da Guarda, 28 265 793 980 265 236 168 Comissão Proteção Crianças Pavilhão Municipal das Manteigadas e Jovens de Setúbal Museu de Setúbal/Convento de Jesus Via Cabeço da Bolota 265 550 600 Praça Miguel Bombarda 265 739 890 PSP 265 537 890 265 522 018 Pavilhão João dos Santos Museu do Trabalho Michel Giacometti Rua Batalha do Viso GNR Lg. Defensores da República 265 573 212 265 522 022 265 537 880


editorial

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A cidade sonhada Talvez por sermos uma cidade de poetas acreditemos tanto nos nossos sonhos e levemos tanto a sério Gedeão, quando assegurava que o sonho comanda a vida, e Sebastião da Gama, que nos apontava o futuro quando dizia que pelo sonho é que vamos. Quando aqui chegámos tínhamos o sonho de devolver à cidade o brio perdido, de recuperar a força esmorecida, de olhar em frente de cabeça erguida. Por isso, tantas vezes afirmamos que Setúbal é um polo urbano de enorme importância que não poderá nunca ser confundido com qualquer outra realidade ou diluído em qualquer realidade político-administrativa efémera. Por isso, tanto insistimos na valorização do nosso nome, da nossa história, do nosso presente e do nosso futuro. Esta cidade desejada já não é um sonho. Já a conseguimos ver de olhos abertos. Podemos vê-la na transformação das mais importantes vias da nossa rede viária, criando novas e mais eficazes condições de circulação automóvel. Podemos ver esta cidade na aposta permanente na requalificação de espaços públicos degradados, transformando-os em novos polos de atração local. Podemos ver esta Setúbal na Avenida Luisa Todi, a grande avenida que hoje palpita de vida. Podemos vê-la na Cidade Europeia do Desporto, estatuto europeu que traz à cidade centenas de eventos desportivos e contribui, decisivamente, para o fortalecimento das nossas bases desportivas. Esta é a cidade sonhada que é capaz de atrair, cada vez mais, o turismo nacional e estrangeiro. Simultaneamente, assistimos a uma nova vida da nossa baixa, com novos estabelecimentos comerciais, nova hotelaria e requalificação de velhos edifícios para habitação. Teremos condições para crescer mais? Acreditamos que sim. Para crescer sustentadamente, com qualidade e assegurando a harmonia entre os nossos recursos naturais e a necessidade de crescer. Temos, aliás, feito notórios esforços na procura de investidores para garantir este crescimento. O recente memorando de entendimento que assinámos com a Macau Legend para a construção da sonhada marina de Setúbal e de um conjunto de equipamentos hoteleiros e de apoio é a mais evidente demonstração deste labor constante de procura de investimento capaz, também, de gerar mais emprego na nossa região. Assinámos com este importante operador turístico e de lazer daquele território sob administração chinesa um documento que contém um conjunto de intenções que estamos a trabalhar para transformar em compromissos firmes, e que serão traduzidos em rigorosos instrumentos de planeamento destinados ao escrutínio das várias entidades da administração central que, obrigatoriamente, têm de se pronunciar sobre este tipo de questões. O nosso compromisso nesta matéria é o de ajudar a criar na nossa cidade um novo polo de atração turística de grande qualidade, que tenha em consideração todas as condicionantes urbanas e ambientais relevantes e aberto a todos os setubalenses. Esse é o nosso compromisso para a cidade sonhada. Uma cidade onde se pode olhar para o futuro. O tempo que há de vir consubstancia-se em grandes projetos como o da marina, impulsionado por investidores privados com o profundo empenhamento municipal. Mas também em projetos em que continuamos a trabalhar, como o do Parque Urbano da Várzea, espaço onde confluem várias utilidades. Os próximos anos serão, pois, tempos de intenso empenhamento na continuação da criação das melhores condições de vida urbana na nossa cidade e no concelho e em projetos como o do Parque Urbano da Várzea, a par da continuada aposta na requalificação da nossa zona ribeirinha e na libertação dos espaços de utilização não portuária para o usufruto de todos, cumprindo o que definimos há três anos como uma das linhas orientadoras do nosso mandato: ter Mais Rio para ter Mais Cidade.

Os próximos anos serão tempos de intenso empenhamento na continuação da criação das melhores condições de vida urbana na nossa cidade e no concelho

Presidente da Câmara Municipal de Setúbal


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Setúbal vive cul

A cidade saiu à rua. No 15 de Setembro, Dia de Bocage e da Cidade, festejou-se o poeta e o orgulho de ser e viver Setúbal. Entregaram-se medalhas, reabriram-se museus, inauguraram-se exposições e celebrou-se a música. Não se trata de um sonho. O futuro é hoje e já chegou

primeiro plano

S

etúbal voltou a festejar o aniversário de Bocage em dia feriado, 15 de Setembro, cheio de atividades e novidades que reforçam a dimensão e o orgulho do próprio concelho. Com a bandeira do município hasteada bem no alto dos Paços do Concelho em cerimónia a que se seguiu a deposição de coroas de flores na estátua erigida a Bocage,

as comemorações do Dia da Cidade prosseguiram com a entrega das medalhas honoríficas. Rosa Mota, ícone da história do atletismo português e personalidade há já vários anos ligada às mais diversas atividades desenvolvidas em Setúbal, recebeu a Medalha de Prata da Cidade. Esta que é uma das mais altas condecorações atribuídas pelo muni-

cípio – maior, só mesmo a Medalha de Ouro –, foi também entregue ao Comité Olímpico de Portugal, em ano de especial significado, com Setúbal a ser Cidade Europeia do Desporto 2016. Na sessão solene foram ainda condecoradas 28 individualidades e entidades, dos mais diferentes quadrantes sociais, com a Medalha de Honra da Cidade.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, endereçou aos agraciados um “profundo agradecimento de Setúbal pelo trabalho que desenvolveram pela cidade”, contributos que reforçam, adiantou, os evidentes sinais de desenvolvimento e progresso sentidos no concelho nos mais diversos setores económicos, sociais e culturais.

Congresso reforça mito do génio sadino A vida e obra de Bocage foi revista e reinterpretada através dos mais diferentes ângulos académicos durante o Congresso Internacional “Bocage e as Luzes do Século XVIII”, realizado a 12, 13 e 14 de setembro, no Fórum Municipal Luísa Todi. “O mito consolida-se. Analisou-se Bocage sob os mais variados aspetos”, resumiu Daniel Pires, presidente do Centros de Estudos Bocageanos e membro da Comissão Científica das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage. O investigador bocagiano anunciou que “as atas do congresso serão publicadas em breve”, para que as cerca de quatro dezenas de co-

municações proferidas contribuam para a perpetuação da memória do poeta setubalense.

O Congresso Internacional “Bocage e as Luzes do Século XVIII” garante ao vereador da Cultura da Câmara

Municipal de Setúbal, Pedro Pina, a “certeza de que o que se discutiu vai permitir a continuação do debate sobre Bocage durante, certamente, muito tempo”. O autarca salientou que “trazer à cidade de Setúbal os mais renomados académicos e estudiosos que dedicam o seu labor investigativo ao mais amado, respeitado e controvertido poeta nacional foi uma iniciativa notável”. O congresso, organizado pela Câmara Municipal, pelo Centro de Estudos Bocageanos e pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, repre­ sentou o culminar do programa de um ano de Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage.


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lto de Bocage

“A cidade desejada já não é um sonho”, frisou Maria das Dores Meira. Como exemplos da concretização desse sonho, a autarca apontou a renovada zona ribeirinha, a maior proximidade da cidade ao rio, a projeção internacional de Setúbal, a reformulação da rede viária com devolução do espaço público aos peões, a aposta em equipamentos e eventos culturais e a captação de avultados investimentos estrangeiros para a cidade. Convicta de que Setúbal “é hoje uma cidade orgulhosa de si própria, do seu passado e do seu futuro”, assegurou que o concelho constitui “um polo urbano de enorme importância que não poderá nunca ser confundido com qualquer outra realidade ou diluído em qualquer realidade político­ ‑administrativa efémera”.

Entrega de medalhas A sessão solene do feriado municipal de 15 de Setembro, em que marcaram presença inúmeras individualidades, como o presidente do Conselho Municipal de Quelimane, Manuel de Araújo, traduziu, como é tradição, um dos pontos altos das comemorações do Dia de Bocage e da Cidade. Rosa Mota, no momento em que foi agraciada com a Medalha de Prata da Cidade, após uma prolongada ovação de pé do público presente no Salão Nobre dos Paços do Concelho, agradeceu todo o carinho com que foi recebida em Setúbal. “A primeira vez que cá vim foi em 1982,

quando corri a convite da Junta de Freguesia de S. Sebastião. Desde então não parei de visitar Setúbal com regularidade, uma cidade que já a sinto como minha”, frisou a famosa maratonista e vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal. Coube ao presidente José Manuel Constantino receber a Medalha de Prata da Cidade atribuída ao Comité Olímpico de Portugal, “distinção que serve principalmente aos homens e mulheres que em mais de cem anos dedicaram as suas vidas ao Comité”. Na atribuição das Medalhas de Honra da Cidade, na classe Cultura, foram distinguidas Fernanda Silva, diretora do Festroia, a título póstumo, a atriz Manuela Couto, os músicos José Eduardo da Encarnação Ferreira e Luís Manuel Carvalho Vaz, e Ian Ritchie, diretor artístico do Festival de Música de Setúbal. Na classe Desporto foram agraciados Henrique Jones, médico, Luís Ramos, árbitro, Afonso Costa, remo, Ângelo Pais, atletismo adaptado, António Morais, andebol, Bruno Cabrita, pesca desportiva, Domingos Diniz, ténis de mesa, Cândido do Rosário, ciclismo BMX, Edi Maia e Susana Costa, atletismo, e Inês Moreira, ginástica. João Martinho, judo, João Sanona, ténis em cadeira de rodas, João Terlim, râguebi, João Valido, pentatlo moderno, Júlio Silva, basquetebol, Luís Dias, voleibol, Luís Ventura, canoagem, Luciano Neto, taekwondo, e Simone Fragoso, natação adaptada, foram os restantes homenageados nesta classe.

Em Ciência e Tecnologia, a Medalha de Honra da Cidade foi entregue a Jacques Resina, a título póstumo, antigo diretor do Sanatório do Outão, hoje Hospital Ortopédico, e a Ricardo Seabra Gomes, cardiologista. No Associativismo e Sindicalismo, Setúbal distinguiu a associação O Alcache, representativa dos militares em situação de reserva na Armada. Na sessão solene foram ainda entregues lembranças aos funcionários da Câmara Municipal de Setúbal que se aposentaram no último ano.

Amaral Dias, a orquestra contou com os contributos do Coro Voces Celestes e dos solistas Ana Paula Russo, soprano, Cátia Moreso, mezzo-soprano, Marco Alves do Santos, tenor, e André Henriques, baixo. Na abertura do primeiro espetácu-

lo, dia 15 à noite, Maria das Dores Meira, num balanço das comemorações, sublinhou “o sentimento de grande alegria e de imperioso dever cumprido por se ter conseguido evocar da forma mais digna, ampla e diversa a obra de Manuel Maria Barbosa du Bocage”.

Visita de Beethoven As comemorações reservaram, já no período da tarde, a reabertura ao público da Casa Bocage, após obras de requalificação (ver pág. 6), e a inauguração da exposição coletiva de pintura “Bocage e o Desporto”, da Associação de Artistas Plásticos de Setúbal, no Espaço das Artes da Casa da Cultura. O Dia da Cidade coincidiu com o desfecho das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, a decorrer desde 15 de setembro de 2015. Um ciclo sinfónico de quatro concertos em outros tantos dias, nunca antes interpretado pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, com as nove sinfonias de Beethoven foi apresentado no Fórum Municipal Luísa Todi para 1600 pessoas. Sob direção do maestro Pedro

ANIMAÇÃO. Milhares de pessoas participaram, a 17 de setembro, na Noite Bocagiana – Verão na Baixa 2016. Música, arruadas e apontamentos teatrais realizaram-se, ao longo da noite, nas ruas da Baixa comercial, na Praça de Bocage e nos largos da Misericórdia e da Ribeira Velha, com diversos estabelecimentos comerciais a acompanhar, mantendo as portas abertas. A Noite Bocagiana, inserida nas Comemorações dos 250 Anos do Nacimento de Bocage, encerrou o Verão na Baixa 2016, uma iniciativa da Câmara Municipal e da União das Freguesias de Setúbal, promovida em parceira com comerciantes locais. Destaque, na Praça do Bocage, para um espetáculo de homenagem à fadista Piedade Fernandes que marcou também o encerramento oficial do projeto Fado em Setúbal 2016.


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Casa redescobre poeta Escrita com arte na rua

A Casa Bocage tem uma nova exposição de longa duração que conta a história do poeta e da época em que viveu. O espaço reabriu mais elegante e com outro conforto A Casa Bocage reabriu no Dia da Cidade, 15 de Setembro, após obras que alteraram o projeto museográfico do espaço, com a criação de uma exposição em torno da vida e obra do poeta. O equipamento municipal beneficiou de trabalhos de requalificação de alguns pontos estruturais do edifício, caso da canalização, recebeu chão novo e viu janelas recuperadas. A principal novidade da Casa Bocage, edifício onde se atribui o local de nascimento do poeta setubalense, em 1765, é a renovação da exposição longa duração. “Bocage – Polémico. Discutido. Genial.” é o título da nova mostra, que percorre a cronologia bocagiana, a começar na própria família do poeta e terminando na forma como foi visto e interpretado mesmo após a

morte em 1805, aos 40 anos. A exposição, complementada com suportes audiovisuais, é composta por texto e imagem e inclui um friso cronológico, com referência aos principais acontecimentos que marcaram o mundo ao longo da vida de Bocage. Na reabertura, a presidente da Câmara Municipal de Setúbal revelou que outro espaço da Casa Bocage, o Centro de Documentação, localizado no primeiro andar, “ainda não está pronto, pois vai levar várias peças alusivas a Bocage”. A autarca adiantou que o objetivo é fazer daquele espaço “uma espécie de ‘bocagemania’, com a exposição das muitas peças que existem com referências a Bocage”. Ao lado do Centro de Documentação funciona o Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro,

também alvo de beneficiações específicas. “Está aqui guardada a história moderna de Setúbal. São milhares de fotografias que guardam a memória do concelho. Por isso tem sido desenvolvido um grande esforço para catalogar essas imagens, sendo hoje um acervo que é procurado por todos”, sublinhou Maria das Dores Meira. De regresso ao piso térreo, foi apresentado um painel azulejar oferecido pela Galeria Ratton e pelo artista plástico Andreas Stöcklein, o autor, que pode ser apreciado no pátio. Tiago Montepegado, da Ratton, explicou que a obra constitui o ponto de partida para a intervenção pública recentemente inaugurada pela autarquia de decoração do Túnel do Quebedo, da autoria de Andreas Stöcklein, juntamente com aquela galeria de arte (ver pág. 8).

As últimas três estruturas de “Bocage na Rua – 30 Poemas”, projeto em destaque no programa das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage que já encerrou oficialmente, foram inauguradas a 14 de setembro. O percurso pedonal começa na Rua Arronches Junqueiro, no local do antigo Estanqueiro do Tabaco, e segue para a Rua Álvaro Castelões, para evocar a antiga Rua das Tabernas, local que abraça a décima quarta estrutura. Na Praça de Bocage, onde foi inaugurada a última estrutura, seguiu-se um espetáculo de encerramento do projeto, uma organização conjunta entre o Teatro Estúdio Fontenova e a Câmara Municipal de Setúbal.

Desenhos mal-educados

Poesias “malcriadas” que mostram a vertente satírica, ciumenta e mesmo maldizente de Bocage inspiram uma mostra de desenhos de Manuel João Vieira, inaugurada a 9 de setembro, na Casa da Cultura. Perto de uma centena de pessoas marcaram presença na abertura de “Bocage Malcriado”, com o músico e artista plástico a conversar com os visitantes sobre as duas dezenas de desenhos em exposição, alguns de grandes dimensões. A mostra, organizada pela autarquia e pelo atelier DDLX, está patente até dia 29 e pode ser visitada de terça a quinta-feira das 10h00 às 22h00, à sexta e ao sábado das 10h00 à 01h00 e ao domingo até às 20h00.

Proteção Civil debate risco de catástrofes Diversos peritos nacionais e internacionais são esperados em Setúbal, nos dias 30 e 31 de março de 2017, para partilhar conhecimentos e refletir sobre diversas matérias na área da Proteção Civil. A Conferência Internacional Riscos, Segurança e Cidadania, apresentada a 14 de setembro, na Casa da Baía, no âmbito do programa das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, enquadra-se na es-

tratégia do Quadro de Sendai para a Redução do Risco de Catástrofes 2015-2030. O encontro, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal, pelo Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil e pelo Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, pretende ser um “espaço multidisciplinar com o objetivo da partilha de conhecimento e da aplicação de diversas metodologias com vista à redução do risco de desastre e com potencial

aplicação nos domínios da segurança”, refere o vereador da Proteção Civil, Carlos Rabaçal. Para o autarca, esta conferência lança “um grande desafio”, que é o de debater e analisar as matérias de proteção e socorro “com grande clareza, em toda a sua latitude e importância nos domínios económico, social, político e ambiental”, o que, a acontecer, “dará um contributo inestimável para melhorar as atitudes, comportamentos e políticas a nível nacional”. Riscos, Segurança e Cidadania constituem os eixos condutores da conferência, que inclui, ao longo dos dois dias, um conjunto de comunicações subordinadas a diversas temáticas que permitem abordar a Proteção Civil “de forma alargada”, sublinha Duarte Caldeira, do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, que é também o mentor da ideia de realização da conferência. São aceites comunicações para apresentação no encontro, cujos resumos devem ser submetidos até 31 de outubro, através da página da internet www.smpcb.pt, na qual é possível encontrar todas as informações sobre o evento.

Bocage visto em musical

Satírico e cómico, “Bocage, Inferno e Paraíso”, a 128.ª produção do Teatro Animação de Setúbal, partilhou com o público, em quatro espetáculos realizados no Fórum Municipal Luísa Todi, aspetos da vida e da obra do poeta setubalense. O musical, em cena entre 1 e 4 de setembro, ultrapassou as fronteiras da literatura e da poesia e constituiu um espelho de época, de 1765, ano de nascimento de Bocage, até à atualidade. Com textos e encenação de Miguel Assis, que também participou como ator, a produção teatral contou ainda no elenco com Célia David, Duarte Victor, Sónia Martins e Susana Brito, a par do cantor/ator convidado David Ventura.


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Paços de portas abertas Os Paços do Concelho foram alvo de obras de modernização. O edifício, pintado com a cor do município, recebeu novos elementos decorativos e equipamento mobiliário. Com características museológicas, fica mais aberto à população, para a realização de eventos

primeiro plano

A sede da Câmara Municipal de Setúbal abriu as portas a 14 de setembro, à noite, no âmbito das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, para mostrar as intervenções de valorização que a transformam num equipamento mais moderno, atrativo e próximo da população. A intervenção, feita em apenas dois meses, com assinatura do decorador João Maria, inclui peças recuperadas do espólio do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, como mobiliário e painéis do pintor Luciano dos Santos. Pinturas, com o roxo, cor do município, no exterior, restauros e tratamento de madeiras foram algumas das ações englobadas na obra de requalificação que capacitou os Paços do Concelho para acolher um conjunto mais alargado de eventos, como a possibilidade de celebrar casamentos e visitar o edifício ao fim de semana. “Será possível trazer as pessoas aos Paços do Concelho e, consequentemente, gerar mais receita”, sublinhou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, esclarecendo que a obra resultou da intervenção direta da autarquia, apenas com pequenas prestações de serviços para trabalhos mais específicos. “Vemos este tipo de intervenções como um investimento, não uma despesa.” No átrio, placas douradas inscrevem o nome de todos os presi-

dentes da Câmara Municipal de Setúbal, perpetuando a memória “às gerações vindouras”. Outra das novidades deste espaço é a reunião sedutora entre os dois candeeiros que iluminam as escadas de acesso ao piso superior, o papel de parede em tons de vermelho e bordeaux, o rosa e o lilás dos arranjos florais, o teto branco e bege e os espelhos, que revestem quer as paredes, quer a zona da escadaria. A par dos espelhos, o vidro marca presença no exterior, agora também nas portas que ladeiam a entrada, com um texto sobre a história do edifício. No primeiro piso, três pinturas retratam Bocage, a que se juntam 16 fotografias de Américo Ribeiro. O Salão Nobre também foi intervencionado, com a recuperação dos candeeiros, em folha de ouro, enquanto a varanda, com vista para a

Baixa, recebeu cadeiras e mesas de apoio. As alterações incluíram ainda a requalificação ambiental do próprio edifício, dotado de novos sistemas de iluminação LED, no interior e exterior. A requalificação contempla ainda, numa outra fase, o levantamento do telhado para recuperação geral da cobertura, no âmbito de uma candidatura a fundos comunitá-

rios, num investimento de 200 mil euros. A intervenção prevê o aproveitamento de um imóvel localizado na lateral esquerda dos Paços do Concelho, para colocação de alguns dos serviços do Arquivo Municipal, com os dois edifícios a ficarem ligados por uma passagem envidraçada.

Moinho com estílo As beneficiações nos Paços do Concelho são o mais recente exemplo da estratégia municipal que está a conferir uma maior dignidade, fulgor e atratividade a edifícios camarários, como foi o caso da Biblioteca Pública Municipal e da Casa da Baía. Mas há mais. O Moinho de Maré da Mourisca reabriu as portas a 26 de agosto, após uma intervenção, desenhada igualmente por João Maria, que requalificou aquele centro de turismo de natureza, agora mais acolhedor, depois de redecorado e dotado de mais pontos de fruição para os visitantes.

Uma nova zona de cafetaria, o reaproveitamento da mezzanine, a instalação de um passadiço de madeira, iluminado e decorado com esculturas de Pedro Marques, e beneficiações gerais são mudanças que formam o renovado Moinho de Maré, capacitado para acolher uma panóplia mais alargada de eventos. Além de pinturas, restauros e tratamento de madeiras, as alterações incluíram a requa­lificação ambiental do próprio edifício, dotado de uma unidade fotovoltaica, além de novos sistemas de iluminação LED, com redução de cerca de 80 por cento no consumo energético. A renovação de edifícios municipais foi alargada aos polos da Biblioteca Pública Municipal, como são os casos dos da Bela Vista e de Azeitão, e também a espaços museológicos, com intervenções a decorrer nos museus do Trabalho Michel Giacometti e Sebastião da Gama, edifícios que recebem beneficiações gerais e novos projetos expositivos.

PAVILHÃO. O Pavilhão Antoine Velge saiu beneficiado com um conjunto de ações que melhoraram as condições de usufruto do equipamento para atletas e público. As obras, no valor de 300 mil euros, foram impulsionadas pela autarquia, que solicitou apoio mecenático ao grupo Macau Legend. Os trabalhos incluíram a recuperação do pavimento do campo e dos balneários, a par da pintura integral do edifício, que recebeu um novo design decorativo. Já a Câmara Municipal assumiu o asfaltamento e a limpeza nas imediações.

ECOPARQUE. Um antigo parque de campismo, na Arrábida, deu lugar ao EcoParque do Outão, equipamento com gestão municipal a funcionar desde 30 de junho como estação de serviço e parque de estacionamento com capacidade para sessenta autocaravanas. Inclui uma zona com máquinas de venda automática, áreas de ecopontos e contentores para resíduos sólidos, além de balneários em instalações provisórias, uma vez que o antigo edifício está a ser totalmente requalificado para reabrir com novas valências em 2017.


Local

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Encontro defende Europa inclusiva

Cor da poesia no túnel São poetas que os setubalenses não esquecem e que amaram e homenagearam Setúbal como poucos, através da sua arte. Por isso, a Câmara Municipal de Setúbal quis perpetuá-los nas paredes do Túnel do Quebedo e a obra nasceu, num conjunto de painéis de azulejos Bocage, Vasco Mouzinho de Quevedo, Sebastião da Gama, José Afonso e Luiz Pacheco são autores que, por nascença ou vivências, amaram a cidade do Sado que os tem homenageado de diversas formas. No dia 15 de julho, Setúbal mostrou ao mundo, mais uma vez, que estes poetas são inesquecíveis. “Nestas paredes prestamos homenagem à vida e obra de poetas e artistas que amaram a nossa cidade. Nestes reside boa parte da nossa riqueza enquanto comunidade. Setúbal está-lhes para sempre grata.” São palavras escritas pela presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, gravadas na placa que a própria descerrou no dia da inauguração da intervenção artística do Túnel do Quebedo, promovida pela autarquia, com painéis de azulejos concebidos por Andreas Stöcklein

e colocados pela Ratton Cerâmicas. “Os azulejos do Túnel do Quebedo serão uma marca perene na paisagem urbana setubalense, uma marca que fala dos nossos poetas e escritores, que recorda os melhores de nós. São, acima de tudo, um património de uma cidade que se respeita e que exige ser respeitada e que assim também se faz mais cidade.” Para Maria das Dores Meira, o Túnel do Quebedo é uma das vias de circulação mais importantes da cidade, “porque a une” e “porque impede a distinção entre os que estão acima da linha e os que estão do outro lado”. O artista plástico Andreas Stöcklein trabalhou no projeto de conceção dos painéis de azulejos durante cinco meses. A primeira inspiração foi Bocage, devido à celebração dos 250 anos do nascimento do poeta, mas “não fazia sentido, em tantas paredes,

fazer uma homenagem a uma só pessoa”, explica. Foi então que decidiu escolher mais quatro autores ligados à cidade e perpetuá-los, através de palavras retiradas de poemas, nas paredes do túnel. Para prestar tributo a Sebastião da Gama, que ocupa toda a parede curva que liga a Avenida 5 de Outubro à Avenida Manuela Maria Portela, o artista criou uma espécie de aproximações visuais da Arrábida e colocou a frase “Meu caminho é por mim fora”. Na parede fronteira é evocado Zeca Afonso com uma imagem onde pode ver-se uma árvore grande a par de uma frase retirada de uma entrevista que o cantautor deu em 1972: “Só quero ter o meu tamanho real.” Na sequência da mesma parede, surge a obra de Vasco Mouzinho de

Quevedo com a escolha da palavra “Arzila”, cidade marroquina à qual dedicou o poema “Afonso Africano”. Nas paredes do lado sul, para quem inicia o percurso pela passagem pedonal, vindo do jardim, encontra­ ‑se, em primeiro lugar, o legado de Luiz Pacheco, e por fim, a homenagem a Bocage, com versos bem conhecidos do poeta, escritos a branco ou a preto. Os trabalhos de requalificação do Túnel do Quebedo contemplaram, ainda, a pintura das paredes, do corrimão metálico ao longo da passagem pedonal e do poste de iluminação pública, bem como o preenchimento de uma parte do piso com seixo rolado, de dimensões diferentes, por forma a criar uma superfície irregular e permitir o escoamento das águas pluviais.

A Câmara Municipal de Setúbal participou, entre 31 de agosto e 2 de setembro, no encontro “Europa o local onde gostamos de viver”, na Sardenha, em Itália. O evento realizou-se no âmbito de um ciclo de cinco encontros internacionais no âmbito do projeto “Europa do Futuro – Multifacetada e Unificada”, impulsionado pelas autarquias búlgara de Aksakovo, italiana de Nughedo-Santa Vittoria, espanhola de Igualada e portuguesa de Setúbal, com iniciativas nas cidades associadas até 30 de junho de 2017. O evento que decorreu em Nughedo-Santa Vittoria incluiu a conferência “O Poder Local e o seu papel no fornecimento de Igualdade de Oportunidades aos cidadãos da Europa. Qual o papel da periferia?”, no âmbito do qual o município de Setúbal deu a conhecer o trabalho desenvolvido na área da inclusão social. A presidente da autarquia, Maria das Dores Meira, participou na abertura do evento, para destacar a importância das autoridades locais na criação da igualdade de oportunidades para os cidadãos europeus.

Campanha por praia mais limpa A época balnear incluiu uma nova campanha ambiental que consistiu na colocação de um conjunto de placas com mensagens de sensibilização para uma “Praia mais Limpa”, na estrada que dá acesso às praias da Arrábida.

A iniciativa, impulsionada pela Câmara Municipal, enquadra-se na campanha de sensibilização e educação ambiental “Setúbal em Bom Ambiente”. O azul, o verde e o amarelo saltam à vista nas placas instaladas nas ime-

diações das praias de Albarquel, da Figueirinha, de Galapos e dos Coelhos, a par do Creiro e do Portinho da Arrábida, com frases de sensibilização e decoradas com golfinhos, peixes e outros elementos relacionados com a natureza e a atividade balnear. “Estenda a toalha numa areia limpa. Não deixe o lixo ocupar o lugar!”, “Obrigado por deixar a praia limpa. Por si e pela sua família”, “Não deixe que a maré varra o seu lixo. Mantenha a praia limpa!” e “O lixo vem sempre à superfície. Não o esconda debaixo da areia!” são alguns dos reptos lançados a munícipes e visitantes. Esta nova iniciativa dá continuidade à estratégia municipal de melhoria da qualidade ambiental no concelho, materializada na campanha “Setúbal em Bom Ambiente”.

Ajuda a Quelimane O presidente do Conselho Municipal de Quelimane, Manuel Araújo, esteve em Setúbal no início de julho e reuniu com entidades e empresas locais para identificar futuros projetos de cooperação. Um dos mais urgentes é a construção de poços de água potável em bairros periféricos da cidade moçambicana,

com a qual Setúbal está geminada. A Câmara Municipal de Setúbal decidiu apoiar esta iniciativa, através do lançamento de uma campanha de sensibilização junto da população sadina, em particular do tecido empresarial, para a recolha de fundos destinados a permitir o avanço do projeto.


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Transformação ribeirinha A zona ribeirinha de Setúbal pode, em breve, conhecer uma autêntica revolução. Lazer, turismo e entretenimento constituem os pilares de um investimento da ordem dos 250 milhões de euros para a construção de um empreendimento que inclui marina, hotéis, casino e zonas comerciais e residenciais. O acordo de entendimento entre a autarquia e o grupo investidor já foi firmado A Câmara Municipal de Setúbal assinou, a 7 de julho, em Macau, um memorando de entendimento com investidores daquela região administrativa especial chinesa no qual se prevê a construção de um empreendimento de excelência na frente ribeirinha da cidade. O “Projeto Setúbal”, um investimento de 250 milhões de euros da Macau Legend Development Limited, inclui dois hotéis, de quatro e cinco estrelas, um dos quais com casino, uma marina e uma zona residencial voltada para o rio Sado com sessenta apartamentos. Além de uma área comercial, o projeto integra um clube náutico, um pavilhão multiusos e um equipamento cultural, a par de espaços de estacionamento e de novas instalações para o Clube Naval Setubalense, que será relocalizado na mesma zona. Tudo numa renovada avenida à beira-rio. O projeto qualificador da frente ribeirinha, com o qual está prevista a criação de três mil postos de trabalho, materializa um importante contributo para devolver ainda mais o rio à cidade, uma das principais

orientações estratégicas assumidas pelo Executivo municipal no atual mandato autárquico.

Acordo de entendimento A presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, considera que a assinatura deste acordo constitui “um passo de enorme importância para alcançar o objetivo estruturante e estratégico de promover uma histórica requalificação da zona ribeirinha de Setúbal e de criar emprego na região”. Esta operação, sublinha a autarca,

configura uma “transformação profunda nos usos da zona ribeirinha e lançará, definitivamente, a cidade na rota do turismo e dos investimentos turísticos de qualidade e qualificadores da cidade, capazes de atrair também turistas asiáticos”. Maria das Dores Meira salienta que o memorando assinado “é muito mais do que um mero conjunto de intenções”, resultando, “acima de tudo, da incessante procura de investidores para a cidade feita nos últimos anos” com o objetivo de qualificar Setúbal e a zona ribeirinha, potenciar o tu-

rismo e gerar empregabilidade. Os terrenos para a implantação do projeto são propriedade pública, sob administração portuária. Há situações que necessitam de resolução mas o processo está a ser acompanhado pela autarquia, Estado e Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra. A Câmara Municipal de Setúbal decidiu solicitar ao investidor a realização de um estudo de impacte ambiental e de avaliação económica. A autarquia está ainda empenhada em que o projeto respeite o Plano

PROJETO SETÚBAL INVESTIMENTO. A Macau Legend Development ­Limited, do empresário macaense David Chow, impulsiona o investimento de 250 milhões de euros.

REVOLUÇÃO. O projeto estimula uma notória transformação na zona ribeirinha e dá continuidade ao objetivo camarário de aproximar mais a cidade ao rio.

PROJETO. Dois hotéis, um com casino, zonas comerciais e residenciais, uma marina, um pavilhão multiusos e um equipamento cultural fazem parte do projeto.

EMPREGO. Além da potencial atração de investidores, o desenvolvimento do “Projeto Setúbal” permite a captação de mais de três mil postos de trabalho.

ARRANQUE. A expectativa da autarquia é que o empreendimento centrado nas valências de lazer, turismo e entretenimento arranque já em 2017.

EXPANSÃO. Setúbal é a terceira aposta internacional do grupo de Macau depois de projetos no ilhéu de Santa Maria, em Cabo Verde, e Savannakhet, no Laos.

Diretor Municipal, apontando a necessidade de elaboração de um plano de pormenor da zona de intervenção.

Maior ligação a Troia O projeto para Setúbal prevê ainda um terminal de ferries e táxi marítimo, com o objetivo de articular a operação turística entre a cidade e a península de Troia, na qual se localiza o casino da Amorim Turismo, que o grupo macaense pretende integrar no investimento. “O Projeto Setúbal e o Casino de Troia vão ser complementares ao oferecerem diferentes valências. Esta sinergia permite que este projeto beneficie das singularidades de Setúbal e Troia”, afirma o presidente da Macau Legend Development Limited, David Chow. A empresa com atividades nas áreas do entretenimento e lazer está cotada desde 2013 na Bolsa de Valores de Hong Kong. Concretizou, em 2012, a fusão com a Macau Fisherman’s Wharf International Investment Limited, operação que garantiu a propriedade do maior complexo de lazer e entretenimento em Macau.


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Pista trata águas residuais

Uma estação de tratamento de águas residuais compacta para unidade desportiva está a ser instalada no Complexo Municipal de Atletismo de Setúbal, no Vale da Rosa. A obra, uma empreitada no valor de 24.008,93 euros, tem conclusão prevista para meados de outubro e destina-se ao tratamento de águas residuais do equipamento desportivo.

Espaço público reabilitado

A Rua do Mirante, localizada nas imediações da EB de Aranguez, foi reabilitada pela Câmara Municipal de Setúbal numa empreitada 9.433,24 euros que conferiu renovadas condições de usufruto. A obra, concluída no final de julho, incluiu a reabilitação das zonas de circulação pedonal, o ordenamento do estacionamento e a criação de uma passadeira.

Viragem com segurança

A Avenida Álvaro Cunhal é beneficiada numa obra com alterações viárias e operações urbanísticas que visam melhorar os acessos ao “Mercado dos Mosqueteiros”. A ­intervenção inclui a criação de uma caixa de viragem à esquerda e um novo passeio, a par do reforço ­infraestruturas das redes de água e de drenagem doméstica naquela zona.

Ruas melhoram condições

As ruas Moinho do Frade e Campos Rodrigues são reabilitadas numa intervenção de melhoria das condições de usufruto urbano. A obra, iniciada no final de agosto, num investimento camarário de 212 mil euros, no âmbito do programa “Ouvir a População, Construir o Futuro”, inclui reabilitação de redes de água e saneamento e arranjos urbanísticos.

Telhado remove amianto

A estrutura operacional de emergência da Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Setúbal, na zona dos Quatro Caminhos, conta desde o final de julho com uma nova cobertura. O antigo telhado, em fibrocimento, foi substituído por uma estrutura que proporciona melhores condições térmicas, acústicas e de segurança para os voluntários.

Mais contemporânea e com primazia ao usufruto público. Uma operação urbanística transformou a Avenida Independência das Colónias, agora com passeios amplos e ciclovia A operação urbanística impulsionada pela autarquia na Avenida Independência das Colónias ficou concluída em meados de setembro, com condições renovadas de usufruto público. Novos acessos pedonais, mais amplos e que dão primazia à circulação de transeuntes e à vivência urbana, dotados de uma ciclovia ligada a outros troços cicláveis já existentes na cidade, foram criados naquela via localizada nas imediações do Estádio do Bonfim. O novo desenho urbano da avenida, agora mais contemporâneo e adaptado às necessidades da cidade, englobou ainda a criação de uma nova

linha de árvores e a reabilitação de redes de água e de esgotos. A obra promoveu a otimização do esquema de circulação, com a construção de uma nova rotunda na interseção entre as avenidas Independência das Colónias, da Europa e Dr. António Manuel Gamito. Paralelamente a esta intervenção, realizada entre março e setembro, a autarquia tem em curso, numa área que ficou disponível após a demolição de um imóvel em ruína, a construção de mais uma bolsa de estacionamento automóvel, que reforça a capacidade de parqueamento automóvel naquela área da cidade.

Local

Ligação mais atrativa

Rendas sociais alteradas Praça muda desenho A imagem urbana da Praça Dona Olga Morais Sarmento sai beneficiada numa operação, em curso, que inclui a alteração da geometria do nó giratório e o reperfilamento da zona envolvente, com novos acessos pedonais e bolsas de estacionamento, assim como a reabilitação de redes de águas e esgotos. A reestruturação do atual nó giratório, que passa a ter o formato convencional de uma rotunda, é uma das principais ações da intervenção que dá continuidade à es-

tratégia municipal de beneficiação da imagem urbana da cidade, uma empreitada no valor de 154.591,55 euros, com conclusão prevista para novembro. A par da nova rotunda, que mantém a capacidade de fluxo de tráfego e melhora as condições de circulação e segurança, a obra impulsiona um novo desenho urbanístico que faz sobressair a forma retangular da praça, com zonas ampliadas de circulação pedonal e mais estacionamento.

A eliminação dos despejos e a utilização do rendimento ilíquido no cálculo das rendas são as principais alterações aprovadas a 7 de julho, na Assembleia da República, à Lei do Arrendamento Apoiado, e que tiveram em conta propostas de moradores setubalenses. A Lei n.º 81/2014, de 19 de dezembro, que estabelece o novo regime do arrendamento apoiado para a habitação e regula a atribuição de fogos de âmbito social, motivou, no ano passado, a contestação de moradores dos bairros de habitação social de Setúbal.

Beneficiação urbana renova avenida A Avenida Mariano de Carvalho é requalificada numa operação urbanística que dá continuidade à estratégia de beneficiação da imagem urbana que a autarquia tem em curso em vários locais da cidade. Neste local, com trabalhos a decorrer desde agosto, a intervenção foi iniciada com o reforço da rede de abastecimento de água, pela Águas do Sado, a que se seguem ações de reperfilamento urbanístico.

A criação de novos acessos pedonais, mais amplos e dotados de ciclovia, e a pavimentação do troço viário fazem parte da empreitada, com condicionamentos de trânsito, que é alargada ainda à Avenida 22 de Dezembro e à Rua dos Arcos. A melhoria da interseção das avenidas Mariano de Carvalho, 22 de Dezembro e Rua dos Arcos, para aumento da fluidez do tráfego automóvel, é outra ação em agenda.


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Mecenato recupera património Setúbal continua a apostar na recuperação do património. O Forte de Albarquel é um dos mais recentes exemplos. As obras de recuperação do monumento, lideradas pela Câmara Municipal de Setúbal, contam com um importante apoio mecenático A Câmara Municipal de Setúbal aprovou, na reunião pública de 27 de julho, um memorando de entendimento a celebrar com a fundação The Helen Hamlyn Trust para recuperação do Forte de Albarquel. Aquela instituição de beneficência com sede em Londres, Inglaterra, compromete-se a financiar a intervenção de recuperação e restauro do Forte de Albarquel até ao limite de 750 mil libras esterlinas, cerca de 900 mil euros, no âmbito da Lei do Mecenato e das Leis Inglesas e do País de Gales. A The Helen Hamlyn Trust desenvolve projetos que visam melhorar a qualidade de vida das populações,

como, por exemplo, a experiência na recuperação de fortes com relevância histórica e o apoio concedido ao Festival de Música de Setúbal. O Forte de Albarquel, a par de uma parcela de terreno com cerca de 7800 metros quadrados, foi cedido pelo Estado português à Câmara Municipal de Setúbal, que lidera o projeto de reabilitação, através de um auto de cedência e de aceitação, outorgado a 29 de janeiro de 2015, que vigora por um período de 32 anos.

Usos variados Uma das componentes do projeto envolve a instalação de um núcleo

de índole museológica e expositiva, destinado à fruição cultural e histórica, dirigida aos cidadãos em geral, mas sobretudo aos alunos dos diversos níveis de ensino. Uma segunda valência, para atividades culturais, prevê a realização de manifestações culturais e artísticas de caráter mais restrito, incluindo concertos de música de câmara, recitais de poesia, apontamentos teatrais, apresentação de obras literárias e mostras de artes plásticas. A terceira componente, vocacionada para receção e acolhimento, visa capitalizar o enquadramento natural do Forte de Albarquel, utilizando o edifício como sala de visitas de Se-

túbal para receber individualidades como corpos diplomáticos, delegações estrangeiras, investidores e empresas.

Interesse público O memorando de entendimento destaca o “grande interesse público na recuperação e reabilitação do Forte de Albarquel”, uma vez que possibilita “a criação de um espaço de grande qualidade para a utilização cultural e social dirigido a todos os munícipes e cidadãos”. O documento realça que o projeto “permite alavancar a reabilitação de toda a zona, dando continuidade às

políticas públicas de atração e aproximação dos cidadãos ao mar e às zonas ribeirinhas nos grandes centros urbanos”. O memorando de entendimento delimita a base sobre a qual a Câmara Municipal de Setúbal e a The Helen Hamlyn Trust vão trabalhar até à aprovação e execução do contrato de subvenção. A autarquia compromete-se, entre outras intervenções, a preparar e a promover a realização de limpezas dos espaços exteriores envolventes, concretamente entre o Forte de Albarquel e uma futura área de estacionamento a ser implantada pelo município setubalense.

Mobilidade reforçada

Estudo regula ações na Várzea O Estudo Urbanístico da Envolvente do Parque Urbano da Várzea, elaborado pelo gabinete Bruno Soares Arquitetos, foi aprovado em reunião pública de Câmara, a 27 de julho. O instrumento abrange uma área de intervenção com 204.739 metros quadrados balizada entre a Ribeira do Livramento, a poente, a Avenida dos Ciprestes, a nascente, a Avenida da Europa, a sul, e uma propriedade privada, a norte. O documento, preparado entre 2012 e 2014, enquadra-se, segundo o Plano Diretor Municipal, em Espaços Urbanizáveis – Área Habitacional de Alta Densidade e Área Verde de Recreio e Lazer, a integrar no futuro Parque Urbano da Várzea.

Trata-se de um espaço de recreio e de lazer para a população no qual são integradas bacias de retenção de águas pluviais que permitem a regularização do regime de escoamento da Ribeira do Livramento e o controlo das cheias nas áreas urbanas da cidade localizadas a jusante. Neste âmbito, foram concertados os limites do parque e da área urbanizável, os perfis e as cotas dos arruamentos envolventes, a modelação do terreno, assim como os acessos. O instrumento procura, igualmente, dar resposta às funções viárias de ligação com o centro da cidade, bem como entre as zonas urbanas a nascente e a poente do futuro Parque Urbano da Várzea.

É proposto um conceito de circulação “em anel” e estabelecida uma nova ligação transversal através do prolongamento da Avenida de Moçambique até à Avenida dos Ciprestes, bem como abandonado o prolongamento da Avenida Antero de Quental, em viaduto, sobre a área destinada ao parque. No que diz respeito à organização da edificação e qualificação urbanística relativa à zona envolvente do futuro espaço verde foram estudadas diversas soluções alternativas de ocupação, concretamente programas funcionais, com menor e maior presença do setor terciário, a par de diferentes hipóteses de edificação.

Uma em cada três deslocações da população residente em Setúbal é feita a pé, revela um estudo apresentado a 22 de setembro, Dia Europeu Sem Carros, no encontro “Novas Mobilidades, Mais Qualidade de Vida”. Esta é uma das conclusões do diagnóstico à mobilidade do concelho, divulgado por Pedro Santos, da empresa TIS.PT – Consultores em Transportes, Inovação e Sistemas, no âmbito do Plano de Mobilidade Sustentável e Transportes do Município de Setúbal, em desenvolvimento. O vereador do Urbanismo, André Martins, salientou as preocupações da Câmara Municipal de Setúbal

com a mobilidade e as acessibilidades, o que levou à encomenda daquele plano. No entanto, “Setúbal não pode ficar à espera da conclusão do plano”, pelo que a autarquia tem desenvolvido “um conjunto de intervenções que têm contribuído para uma grande transformação do uso do espaço público da cidade”, enquanto “muitos outros projetos estão ainda perspetivados para dar continuidade a essa transformação”. O autarca ressalvou, no entanto, que só a partir de 2020 é que as autarquias têm competências para atuar numa matéria fundamental para a mobilidade sustentável que é o transporte coletivo.


Local

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O Parque do Bonfim guarda boas memórias de muitos setubalenses. Local de brincadeiras para miúdos e de descanso para graúdos, ganha agora uma imagem renovada, graças a um conjunto de obras de reabilitação

Bonfim regenera imagem A Câmara Municipal de Setúbal está a executar um conjunto de obras no Parque do Bonfim que melhoram a atratividade do espaço, dotado de condições renovadas de usufruto para a população. A beneficiação da área central, concretamente junto do lago, é uma das principais ações da operação urbanística executada por administração direta, ou seja, com recurso a meios técnicos e humanos da própria autarquia. Naquele local, além da substituição das lajetas

em pedra danificadas que circundam a área pedonal envolvente ao lago, foram redefinidas as caleiras das árvores de grande porte que proporcionam amplas zonas de sombra. Também o relógio de sol, de pedra, fica recuperado. O lago, que alberga uma comunidade de aves, foi, igualmente, beneficiado no âmbito desta intervenção, a decorrer entre o início de agosto e finais de setembro. Neste caso, a Câmara Municipal instalou um sistema de repuxos, com iluminação decorativa, que, além de reforçar

a atratividade do local, auxilia a oxigenação da água. Da obra fez também parte a criação de um palco instalado na zona central do Bonfim. A infraestrutura, fixa, está apetrechada de um sistema elétrico e iluminação dedicada, a par de um ponto de água, recursos que permitem a realização de eventos culturais e desportivos variados. A operação urbanística inclui ainda a pavimentação de todas as zonas de circulação pedonal, a colocação de novo mobiliário urbano, como

bancos de jardim, assim como a beneficiação da iluminação pública, agora toda com tecnologia LED, e trabalhos pontuais de reparação no parque. Paralelamente a esta intervenção, que confere uma nova atratividade e condições renovadas de usufruto ao Parque do Bonfim, a Câmara Municipal de Setúbal reabilitou, neste caso com recurso a empreitada, a rede de saneamento público que serve o espaço verde do centro da cidade.

Associação a socorrer há 128 anos

Casa acolhe mães jovens A Cáritas Diocesana de Setúbal dispõe, desde 5 de setembro, de uma residência temporária para jovens grávidas e mães com os filhos, a funcionar em instalações cedidas pela Câmara Municipal, nas Manteigadas. A Casa de Acolhimento Nossa Senhora da Misericórdia tem quatro quartos com capacidade para acolher jovens mães com os respetivos filhos, de uma forma transitória, até que tenham autonomia para conseguirem viver sozinhas com eles. A residência foi inaugurada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa cerimónia que incluiu o descerramento de uma placa, antecedida de bênção pelo bispo de Setúbal, D. José Ornelas de Carvalho, e pelo padre Constantino, da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

A cerimónia prosseguiu no Centro Social Nossa Senhora da Paz, na Bela Vista, onde o presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, e a secretária de Estado da Cidadania e da Igualdade, Catarina Marcelino, assinaram um protocolo que garante o funcionamento da casa até ao final do ano. A autarquia participou na concretização do projeto ao ceder o primeiro andar de um prédio nas Manteigadas, onde funciona a nova residência temporária. “Este é um passo que a Câmara Municipal de Setúbal dá em simultâneo com a Cáritas. Estamos perante um exemplo concreto da preocupação constante com os outros destes homens e mulheres que trabalham na Cáritas, no que é um trabalho árduo, complexo e sem tréguas”, salientou a presidente, Maria das Dores Meira.

Um programa comemorativo assinalou, a 15 de julho, o 128.º aniversário da Associação de Socorros Mútuos Setubalense. O programa incluiu uma cerimónia de hastear da bandeira, nas instalações da instituição de solidariedade social, a que se seguiu uma sessão solene. A atuação do novo coro da Associação de Socorros Mútuos Setubalense, bem como a entrega de lembranças a Joaquim Frazão de Carvalho, sócio cinquentenário, e a antigas funcionárias da instituição, presidida por Fernando Paulino, preencheram a cerimónia comemorativa do aniversário desta que é uma das mais antigas instituições existentes na cidade. A Câmara Municipal de Setúbal esteve representada pelos vereadores Manuel Pisco e Paulo Lopes, evento em que participaram outras individualidades.

Festival ajuda a mudar olhar na Bela Vista A música e a dança estiveram em destaque no Festival Mudar o Olhar, certame de convívio e partilha multicultural dinamizado por jovens, a 3 de setembro, no Parque da Bela Vista. A quinta edição da iniciativa do programa Nosso Bairro, Nossa Cidade, promovida pelo grupo de jovens Mudar o Olhar, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal e da Junta de Freguesia de São Sebastião, animou mais de duas centenas de jovens com ritmos de afro house, kuduro e kizomba. Firma Danger, The African Queens, BK Family, Ary Bronze, Elenco 2 Tokes, Tchunk, Mira King, PBC Roots, Eliana, Black Flowers, Cubita & Michael, Suculentas, Bad Tchicken, Mynda Guevara, Younng D & Vivex, DJ Dotorado e Ary Bronze foram os grupos e artistas participantes, provenientes dos vários bairros abrangidos pelo programa municipal Nosso Bairro, Nossa Cidade.


freguesia

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Palhais ganha cara nova

O Jardim de Palhais tem cara nova, após a realização de obras de melhoria das condições de circulação pedonal e de embelezamento. O espaço está mais amplo e acolheu diversas iniciativas de animação durante o verão

A requalificação do Jardim de Palhais, obra realizada pela Junta de Freguesia de São Sebastião em parceria com a Câmara Municipal, transformou aquele espaço de lazer, do-

tando-o de melhores condições de usufruto pela população. Os trabalhos realizados consistiram na regularização do solo, que se encontrava desni-

velado, e na substituição da terra batida por piso empedrado, o que permite uma melhoria da circulação pedonal, em particular das pessoas que se deslocam em cadeiras de ro-

das ou que transportam carrinhos de bebé. O projeto incluiu ainda a colocação de mais um tapete de relva e a deslocalização do parque infantil para a zona ajardinada, próximo da sede do São Domingos Futebol Clube. As intervenções resultaram de uma solicitação dos moradores daquela zona da freguesia de São Sebastião, bem como do clube, no âmbito do projeto municipal Ouvir a População, Construir o Futuro. De acordo com o presidente da junta, Nuno Costa, numa das reuniões realizadas com a população, foi manifestada a “necessidade de requalificar aquela área, onde se localiza a sede da coletividade, de modo a acolher pequenos eventos como bailes, convívios e outras atividades”. O autarca enaltece o papel do São Domingos Futebol Clube, pela sua vitalidade e pela dinamização de diversas iniciativas, como a festa “São Domingos a Bombar”, que assinalou a inauguração das obras no jardim, a 15 de julho. “As melhores obras, as que têm mais valor, são aquelas que servem imediatamente as pessoas”, salienta Nuno Costa. Esta foi uma obra realizada paralelamente à requalificação do Túnel do Quebedo, inaugurada no mesmo dia, em que o elemento de principal destaque é uma intervenção artística em azulejos que homenageia Bocage, Sebastião da Gama, Vasco Mouzinho de ­Quevedo, Luiz Pacheco e José Afonso (ver pág. 8).

Poço Mouro cria acesso Os habitantes do condomínio Terrazzo e do Poço Mouro vão ter uma ligação que evita deslocações pela Avenida Álvaro Cunhal, através de um acesso pedonal. A nova acessibilidade pedonal, que se encontra em fase de conclusão, criada numa parceria entre a Junta de Freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra e a Câmara Municipal de Setúbal, dá primazia ao acesso rampeado, facilitador da utilização por pessoas em cadeiras de rodas e de carrinhos de bebé. O projeto inclui uma rampa com pavimento em pavet, um passeio, um pequeno muro, construído ao longo do acesso, em blocos de cimento, e ainda áreas ajardinadas. Para o presidente da Junta de Freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra, José ­Belchior, trata-se de uma obra de “grande

importância que é uma mais-valia para a freguesia”. Isto porque, salienta, a inexistência de um acesso entre as duas urbanizações “obrigava as pessoas, muitas das quais crianças, a um caminho moroso e perigoso pela Avenida Álvaro Cunhal, para acederem aos equipamentos lúdicos e desportivos que se encontram no Poço Mouro e, por outro lado, ao jardim de infância existente no condomínio Terrazzo”. O autarca destaca que esta ligação foi uma das necessidades identificadas pelos moradores no âmbito do projeto municipal Ouvir a População, Construir o Futuro, que fica agora resolvida com um investimento de cerca de 20 mil euros. “É uma obra que permite reforçar a comunicação e a interação entre os habitantes de duas urbanizações da freguesia.”

Sado reordena espaço O Largo Tomás Ribeiro, nas Praias do Sado, vai ter mais lugares de estacionamento, passeios e uma melhor organização do espaço, graças a uma obra em curso de requalificação do espaço público. A necessidade de ordenar o estacionamento naquela zona habitacional e construir melhores acessos pedonais está nos planos da Junta de Freguesia do Sado desde 2004. Segundo o presidente, Manuel Véstias, uma parte daquela área habitacional, entre o Largo Tomás Ribeiro e a Rua António Gil, “não tem boas condições em termos de zonas pedonais que são ainda em piso de terra”, além de o estacionamento ser feito “de forma desordenada, em cima dos passeios, na zona onde estes ­existem”. A obra em curso, levada a cabo pela Junta de Freguesia do Sado em parceria com a Câmara

Municipal de Setúbal, que deverá estar concluída até ao final do ano, consiste em “partir o passeio existente” no Largo Tomás Ribeiro e criar cerca de cinco dezenas de lugares de estacionamento. Será construído um novo acesso pedonal, com melhores condições de circulação para os peões, que promove a ligação este Largo e a Rua António Gil, onde não existia passeio. Assim, “o estacionamento fica mais ordenado, bem como a circulação pedonal”, além de que está prevista a plantação de novas árvores para “deixar o espaço mais bonito e agradável”, sublinha Manuel Véstias. A intervenção, por administração direta com o apoio da Câmara Municipal, inclui ainda a preparação das infraestruturas necessárias para que, “no futuro, as linhas de eletricidade passem a ser subterrâneas”.


14SETÚBALjulho|agosto|setembro16

O projeto GIRUSetúbal intervém na redução de riscos e na minimização de danos junto de utilizadores de drogas. E não só. Além da troca de seringas, a equipa especializada assegura o acompanhamento psicológico, refeições diárias e cuidados de saúde. O trabalho diário contempla ainda a luta pela cidadania. No total, este projeto já ajudou mais de trezentos utentes

Na rota da redução de plano central

B

om dia! Vão fazer a volta? Tenham um bom trabalho.” A abordagem de uma moradora da Avenida 5 de Outubro, que ao ver a equipa do GIRUSetúbal se apressa a cumprimentá-los, revela que todos são conhecidos aqui. É sexta-feira. O giro começa em frente do Clube Naval Setubalense. No percurso até à primeira paragem, Cristina Martins, a condutora de serviço, Diana Vieira e Sofia Guedes delineiam o plano de ação da manhã. As duas primeiras são enfermeiras, Sofia Guedes é assistente social e responsável pelo GIRUSetúbal. No banco de trás segue José Fonseca, educador de pares, que faz o primeiro contacto com os utentes. São eles os quatro elementos fixos do Grupo de Intervenção de Rua, conhecido como GIRUSetúbal. A carrinha que utilizam para percorrer a cidade denuncia-os. De cor bege, com apontamentos coloridos e a frase “feel free to fly”, mensagem que evoca a expressão “ser livre para voar”, desperta a curiosidade. São dez da manhã. Na primeira paragem está Jaime, 37 anos, que de imediato apresenta a gata Xanina. Jaime é o único utente que aceita revelar a identidade durante esta reportagem. “Não tenho nada a esconder. Sou de Setúbal e estou aqui a arrumar carros há quatro anos. Consumi drogas mais de dez anos, agora estou limpo”, ­garante. A conversa com a equipa do GIRU

revela que se conhecem. Entre respostas imediatas a questões pertinentes do seu dia a dia, Jaime bebe um chá e come um bolo, que a Pastelaria Vitória disponibiliza gratuitamente. Apercebendo-se da presença da carrinha, outros utentes aproximam-se. Tomam o pequeno-almoço e discutem política tão facilmente como abordam assuntos triviais. “Não comas tantos bolos”, diz um para outro. “Come bolos, sim, fazem-te bem”, responde este. Antes de virarem costas, recolhem o kit pessoal, que contém material para um consumo de drogas mais seguro. Sofia e José perguntam por utentes habituais que não têm visto. “É importante perceber como andam e onde estão. Estamos em agosto, esta é uma época atípica. Algumas destas pessoas mantém contacto com as famílias e, por vezes, vão para junto delas”, explica a assistente social. Ao lado, as enfermeiras monitorizam outra situação. “Um dos nossos utentes tem problemas de tensão alta. Vigiamos e, por vezes, encaminhamo­ ‑lo para o centro de saúde”, explicam. Jaime retoma a conversa. “Estas amigas estão a ajudar-me a tratar dos documentos pessoais. Só ainda não está tudo resolvido por culpa minha. Para ir fazer os papéis perco o dinheiro de um dia aqui a arrumar carros”, ­refere. Agarrado a este modo de vida, confessa que a vontade de mudança

tarda em chegar. “É complicado. É difícil”, murmura.

Questão social O mercado negro da vida destas pessoas é a própria liberdade. De arrumadores de carros a pedintes, de sem-abrigo a doentes mentais, são mais de trezentas as pessoas com quem o GIRU já lidou nos dois anos em que o projeto está em vigor na cidade, ao abrigo de um protocolo da Câmara Municipal de Setúbal com a APDES – Agência Piaget para o Desenvolvimento (ver caixa). “A maior parte destas pessoas está

cansada deste registo de vida, mas acaba por não dar o passo para a mudança. É necessário estarem criadas condições favoráveis a essa mudança. A sociedade não está preparada para os aceitar e aponta-lhes o dedo”, lamenta Sofia Guedes. A população só vê o lado negro da vida destas pessoas. Estão sujas, vestem roupas de inverno num dia em que as temperaturas ultrapassaram os quarenta graus. Quem passa já se habituou a vê-las ali. São olhadas de lado. As moedas oferecidas são mais pretas do que douradas. O contacto é o mínimo possível. “Não somos de confiança. Somos aqueles

Ser GIRU em Setúbal O GIRU – Grupo de Intervenção de Rua em Setúbal, da APDES – Agência Piaget para o Desenvolvimento, materializase numa equipa de rua e de proximidade que intervém junto de consumidores de drogas. O projeto, com financiamento do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, do Ministério da Saúde, desenvolve-se ainda em Vila Nova de Gaia, através do GIRUGaia, e em Barcelos, com o GIRUBarcelos. No concelho de Setúbal, incide nas áreas da União das Freguesias de Setúbal e de São Sebastião.

“As nossas equipas de rua são multidisciplinares. Atuam na primeira linha com o objetivo da redução de riscos associados ao consumo de substâncias psicoativas e junto de pessoas que utilizam drogas e que vivem a problemática do álcool”, explica Cláudia Rodrigues, coordenadora-geral do GIRU. A Câmara Municipal de Setúbal aprovou, em junho, um protocolo de colaboração com a APDES, que dá continuidade local a este projeto – presente na cidade desde 2014 – até janeiro de 2018, podendo ser novamente renovado.


15SETÚBALjulho|agosto|setembro16

“Temos ganhos ao nível da saúde” Sofia Guedes, assistente social, responsável pelo projeto GIRUSetúbal, destaca a importância do estabelecimento de relações de confiança mútua entre técnicos e utentes para o êxito deste tipo de projetos Prestam auxílio a consumidores de droga e não só. Como é feito o vosso trabalho? Trabalhamos na redução de riscos. Contactamos com os utentes na rua, através das nossas rotas, e distribuímos material de apoio para que possam fazer um consumo sem riscos para eles e para a sociedade. Trabalhamos a nível psicossocial e ao nível da saúde e da cidadania.

de riscos que armam problemas. É assim que olham para nós”, constata Jaime. Depois deste desabafo, a atenção centra-se no educador de pares José Fonseca. “Veja lá dentro se está mais alguém”, pede Sofia, apontando para um edifício devoluto. Até então calado e despercebido, é aqui que se começa a perceber a importância do trabalho de um educador de pares. “Estou na frente de ataque”, diz, com simpatia.

Educador de pares Não é da cidade. José Fonseca escolheu ficar em Setúbal depois do tratamento que o libertou da dependência de drogas. “Foi para não voltar às velhas rotinas”, inicia a conversa. Hoje, com 36 anos, “o Fonseca”, como é chamado, é quem explora os locais da atuação do grupo e identifica novas rotas e utentes. Nos pontos de paragem mais sensíveis é ele quem entra nas casas abandonadas a anunciar a presença do GIRU. “Eles identificam-se comigo, embora nunca tenha privado com nenhum destes utentes”, salienta. As memórias do passado estão adormecidas. “Durante mais de vinte anos vivi com a única preocupação de consumir, de matar aquele vício. Consumi todo o tipo de substâncias”, conta. Num tom de voz pausado, assertivo, relembra o primeiro dia do resto da sua vida. “Deu-me um clique”, solta, entre risos.

“Estes cliques servem para cairmos em nós. Aconteceu-me quando tinha pouco mais de quarenta quilos e percebi que já não tinha vida. Foi um acordar de um desespero enorme”, explica, com um suspiro. “Sou muito mais feliz hoje. Já não vivo anestesiado, já não preciso de camuflar sentimentos. Sinto-me útil.” Em pé, numa das ruas junto da zona ribeirinha, local da segunda paragem do dia, Fonseca fala despreocupado. “Já tive uma vida semelhante a esta. Faço o primeiro contacto, exploro os territórios e vejo a dinâmica dos utentes, de forma a estarmos presentes e chegarmos onde a ajuda é precisa. Por outro lado, também sei qual é a melhor abordagem. Sei aquilo que vai dentro da cabeça destas pessoas”, ­afirma. A carrinha segue para o ponto seguinte, na Avenida Luísa Todi, antes

do final do percurso, que termina em Albarquel. Fonseca olha à volta, identifica caras conhecidas. “Aqui ficamos mais tempo, podemos conversar mais”, assegura. Recosta-se, coloca as mãos em cima das pernas e retoma a conversa. “Sabe, não posso esconder isto, sei que vai acontecer-me durante muito tempo. A desconfiança por parte das pessoas é o pior, mas aprendemos a lidar com ela”, afirma. De imediato, pergunta: “Sabe o que é mais importante agora?... Quero que a minha experiência de vida sirva para ajudar as pessoas, especialmente aquelas que vivem aquilo que eu vivi. É possível reaprender a viver. Tudo tem o seu tempo e eu ainda me estou a encontrar, mas, a viver, isso eu já reaprendi”, vinca, enquanto bate com as mãos nas pernas, a garantir aquilo que acaba de afirmar.

Como são estabelecidas as rotas que percorrem? Em Setúbal temos duas rotas fixas, em dois pontos da cidade. À quarta-feira fazemos trabalhos exploratórios, de forma a identificarmos os locais onde os nossos utilizadores permanecem e pernoitam. Exploramos casas abandonadas e fábricas, os locais mais propícios para o consumo. É um trabalho com uma dinâmica ativa. Isso implica estarem entrosados nestes grupos? É por isso que o trabalho exploratório é essencial. Permite avaliar as necessidades. Depois de um ano de afirmação da nossa equipa, no ano passado sentimos necessidade de alterar as rotas e mudar a forma de estar com os utentes. O que mudou? Ficamos mais tempo em cada local. Estamos a apostar na qualidade do serviço e no número de utentes que é possível abarcar em cada paragem. Vamos criando

vínculos e estabelecemos relações de confiança mútua. Quantos utentes beneficiam da vossa ajuda? Temos um total de trinta utentes para cada rota e não são sempre os mesmos. Em dois anos contactámos com mais de trezentas pessoas. Nem todas consomem drogas, estamos a falar de familiares, da comunidade e também abarcamos a parte da saúde mental. Já são os utentes a vir ao vosso encontro? Somos uma equipa de proximidade. Por vezes, procuram-nos só para pedir uma informação. Conhecem-nos, sabem onde estamos e a que horas estamos. Isso tem facilitado o serviço e tem-nos trazido mais pessoas, independentemente de este ser ou não um projeto com continuidade. Como é encarado o vosso projeto na comunidade? No geral, as pessoas associam mais o nosso trabalho à questão da troca de seringas. A verdade é que temos tido muitos ganhos ao nível da saúde e temos conseguido que muitos utilizadores, além desta questão de práticas de consumo de menor risco, consigam aceder a estruturas de saúde e consigam ativar estruturas sociais para conseguirem ter meios de subsistência.


16SETÚBALjulho|agosto|setembro16

Almendralejo visita Setúbal

turismo

Os vinhos da região espanhola de Almendralejo estiveram em destaque em Setúbal, nos dias 15, 16 e 17 de julho, numa Fam Trip que integrou a programação do Wine Sunset Party, num passeio pelo Sado a bordo do catamarã da Vertigem Azul. O evento incluiu visitas a diversos locais para mostrar as riquezas e potencialidades do concelho.

Natureza oferece atividades

Mais de cinco mil pessoas estiveram, a 17 e 18 de setembro, na VIII ObservaNatura, na Herdade da Mourisca, certame dedicado ao turismo de natureza, em particular à observação de aves. A iniciativa, com mais de quatro dezenas de expositores, proporcionou ainda experiências de stand up paddle e passeios de barco, charrete e cavalo com guia.

Áreas protegidas em foco

Compotas, doces, licores e moscatel, queijo de Azeitão e outros produtos regionais estiveram em foco no Mercado das Áreas Protegidas, que decorreu nos dias 26 e 27 de julho, em frente da Casa da Baía. Destaque ainda para a assinatura de novos contratos de empresas aderentes à marca Natural.PT, das quais quatro são da região de Setúbal.

Largo com sabor a marisco

O Largo José Afonso foi, pelo quarto ano consecutivo, o palco escolhido pelas empresas Unicer e Essência do Vinho, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, para a realização do evento gastronómico “Marisco no Largo”. Além do habitual espaço para saborear pratos à base de marisco, o certame incluiu sessões de cozinha ao vivo e animação musical.

Carapau manteiga à mesa

O carapau manteiga foi rei nas ementas de 25 restaurantes do concelho de Setúbal, durante mais um certame gastronómico promovido pela autarquia. O Festival do Carapau Manteiga, organizado com o apoio das empresas Lallemand e Makro no âmbito de um ciclo gastronómico a decorrer ao longo do ano, realizou-se entre 20 de agosto e 4 de setembro.

Do mercado para o mundo A caldeirada deu sabor a um jantar-convívio realizado no Mercado do Livramento. O repasto contou com a presença da jornalista norte-americana que o elegeu como um dos melhores mercados de peixe do mundo O Mercado do Livramento, eleito pelo jornal USA Today como um dos mais famosos mercados de peixe do mundo, recebeu a jornalista Marla Cimini, que assinou o artigo em junho de 2015 para um jantar de caldeirada enquadrado nas comemorações dos 140 anos daquele equipamento municipal. “Com o trabalho que fez no USA Today, ao qual devemos, aliás, boa parte da fama internacional do Mercado do Livramento, levou o nome deste centenário equipamento mais longe”, destacou a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, no jantar, a 13 de julho. Marla Cimini, que já esteve em vários mercados no mundo, confes-

Baías com parcerias ambientais A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, propôs, no mês de julho, em Paris, França, várias parcerias entre o Clube das Mais Belas Baías do Mundo e entidades ligadas à Unesco, no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

A autarca deslocou-se a Paris no contexto da presidência do Clube das Mais Belas Baías do Mundo, atualmente a cargo de Setúbal, para associar este clube ao PNUMA com o objetivo primordial de promover a conservação do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e o uso eficiente dos recursos.

Para a autarca, “o reconhecimento da Unesco é muito importante para o Clube, que conta com baías com património mundial. Sabemos que é um processo que poderá levar algum tempo, mas que ambicionamos muito”. Na sede da Unesco, Maria das Dores Meira reuniu com Arab Hoballah, do PNUMA, a quem propôs uma parceria no âmbito do projeto Passaporte Verde, que resultou de uma campanha lançada em 2008 e é já uma referência internacional no setor do turismo sustentável A presidente da Câmara Municipal de Setúbal encontrou-se ainda com o diretor do Programa Sobre o Homem e a Biosfera, Han Qunli, e, no Palácio do Luxemburgo, sede do Senado Francês, com o presidente da ANEL – Association Nationale des ELus du Littoral, Jean-François Rapin, a quem propôs uma parceria para o desenvolvimento de esforços comuns ao nível da proteção do património marítimo.

sa que ficou “muito impressionada com o Livramento, a sua dimensão e beleza, mas também a forma como é gerido”. A jornalista garante que o artigo publicado há mais de um ano “foi um dos mais populares” que escreveu e que “ainda hoje é bastante procurado, tanto nas redes sociais como na versão online do USA Today”. Perto de três centenas de pessoas participaram no jantar de aniversário do Mercado do Livramento, que incluiu, além da caldeirada, a tradicional massinha do caldo, num convívio animado pela música do grupo típico Os Alcorrazes e danças de salão do Grupo Desportivo Estrelas de Algeruz.

Visitantes aumentam O número de turistas que visitam Setúbal voltou a crescer no primeiro semestre de 2016, com os números referentes a este período a indicarem um aumento de 8 por cento nas dormidas na hotelaria face a igual período do ano passado. De acordo com dados da Entidade Regional de Turismo de Lisboa (ERTL), baseados numa amostra de 87 por cento da oferta turística de Setúbal, entre janeiro e junho registaram-se 93.764 dormidas no concelho. Aquele total traduz um crescimento de 8 por cento em comparação com as 86.887 dormidas verificadas no período homólogo de 2015 nas unidades hoteleiras do concelho. De salientar, igualmente, que o número de dormidas cresceu em todos os meses de 2016, entre janeiro e junho. Os dados, que não incluem os números do alojamento local, de que

não há ainda informação suficiente, confirmam a tendência de afirmação do turismo em Setúbal, que, em 2014 e 2015, revelou subidas totais anuais de, respetivamente, 23 por cento e 6,2 por cento nas dormidas. O encerramento de duas unidades hoteleiras locais, o Hotel Isidro e a Pousada de São Filipe, ajudam a explicar o menor aumento registado em 2015, facto para o qual pode contribuir, igualmente, a escassez de equipamentos hoteleiros no concelho, que, em breve, será minimizada com a abertura de novas unidades de alojamento, entre as quais um hotel e vários hostels. Outro facto a destacar é que em Setúbal tem vindo a crescer não só o turismo nacional, mas também o turismo internacional, o que comprova que o concelho não tem uma dependência em relação a um mercado específico.


17SETÚBALjulho|agosto|setembro16

Desporto brilha em Sant’Iago A Feira de Sant’Iago voltou com muita música, gastronomia e divertimentos para todos os gostos. Sob o lema da Cidade Europeia do Desporto, o convite para aparecer no certame foi aceite por cerca de 300 mil pessoas

Espetáculos musicais para todos os públicos, gastronomia, artesanato e muitos divertimentos voltaram a chamar as pessoas à Feira de Sant’Iago, que decorreu entre 29 de julho e 7 de agosto, nas Manteigadas. O dia de encerramento do certame, que este ano teve como tema Setúbal Cidade Europeia do Desporto, foi um dos que registaram maior afluência, sobretudo para assistir ao concerto de Marco Paulo. A par da noite de encerramento, os dias 2 e 6, com António Zambujo, antecedido do jovem setubalense Miguel Guerreiro, e Dengaz, respetivamente, foram as que tiveram mais público. A festa não parou durante os dez dias e foram vários os motivos de interesse. O concerto de abertura, com Tiago Bettencourt, a 29 de julho, e o regresso dos Deolinda à cidade sadina, no dia seguinte, foram outros momentos altos. No panorama musical, destaque ainda, a 31 de julho, para o espetáculo Vila dos Heróis que animou miúdos e graúdos, e logo a seguir dois grupos típicos setubalenses, Os Massacotes e Os Alcorrazes, dominaram o programa da noite. O projeto Mestiço, com Luís Represas e Paulo Flores, e a cantora Carolina Deslandes subi-

ram ao palco a 1 de agosto e no dia 3 estiveram em destaque Átoa e Carlão. Pelo palco da Feira de Sant’Iago passaram depois, a 4, a banda Supernova e o projeto Cais do Sodré Funk Connection, e no dia 5 a noite foi dedicada ao fado com atuações do Quarteto de Fado Deolinda de Jesus e de Cuca Roseta. A Feira de Sant’Iago contou com os habituais stands gastronómicos, para se comer uma fartura, uma bifana acompanhada de uma cerveja e tantos outros petiscos, e as bancadas de artesanato, além de divertimentos variados, como os carrósseis, a par de stands institucionais e do tecido empresarial da região. “Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016” foi tema desta edição, com o pavilhão da Câmara Municipal de Setúbal a ser dedicado à divulgação das atividades que têm decorrido ao longo deste ano desportivo. O pavilhão, grande foco de atração do certame, partilhou, através de imagens e texto, a atividade desportiva já realizada até ao momento no âmbito da distinção europeia e deu a conhecer a panóplia de eventos ainda em agenda. Uma exposição dedicada ao fotógrafo setubalense Américo Ribeiro, enquadrada nas comemorações do 110.º aniversário do seu nascimento, foi outro motivo de interesse. VISITA. O presidente da Câmara de Puerto Galera, nas Filipinas, Hubbert Dolor, visitou Setúbal, pela primeira vez, a 4 de agosto e conheceu vários pontos de interesse, como o Mercado do Livramento, o Convento de Jesus e a Casa da Baía. Hubbert Dolor, sempre acompanhado da presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, participou num passeio de barco pelo Estuário do Sado e numa degustação de ostras. A visita surgiu na sequência de um convite endereçado em fevereiro pela autarca, aquando da realização, nas Filipinas, do Congresso do Clube das Mais Belas Baías do Mundo.

Festas animam verão Os meses de julho e agosto foram de grande animação proporcionada por diversas festividades, organizadas pelas juntas de freguesia, comissões de festas e movimento associativo, com temáticas para todos os gostos, que decorreram em vários pontos do concelho. Um dos destaques do extenso programa aconteceu no fim de agosto, nos dias 26, 27 e 28, na Herdade da Mourisca, Faralhão. Artesanato, música, passeios e exposições foram pontos altos da 17.ª Festa do Moinho de Maré da Mourisca, em que a gastronomia voltou a ser o prato principal, em especial com os sabores únicos do Estuário do Sado. No início do verão, o Fest’Asso abriu as hostilidades festivas, com muita música e gastronomia, entre 25 de junho e 10 de julho, no Largo José Afonso, e com os olhos postos nos jogos do Euro 2016. Cerca de dez mil pessoas passaram pela 27.ª edição das Festas da Arrábida e Azeitão, entre 30 de junho e 3 de julho, em Vila Nogueira, com música, iniciativas de caráter religioso, stands gastronómicos e de artesanato e atividades lúdicas. Noutro ponto do concelho, no Clube Desportivo, Cultural e Recreativo de Gâmbia, a música dos Irmãos Cabanas foi um dos destaques da festa que se realizou entre 1 e 3 de julho, a qual contou, igualmente, com atividades desportivas.

Com quatrocentos anos de tradição na comunidade piscatória da Anunciada e interrompido na década de 70, o Novo Círio Marítimo de Nossa Senhora da Arrábida, realizou-se pelo segundo ano consecutivo, nos dias 9 e 10 de julho. Ainda tendo como palco o rio, as Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, entre 20 e 22 de agosto, incluíram dois círios de barcos engalanados no Sado, de ida para Troia e de regresso a Setúbal, que foi recebido por uma multidão de centenas de pessoas. Em terra firme, a Festanima voltou a animar as Escarpas de Santos Nicolau, de 15 a 24 de julho, com as habituais tasquinhas gastronómicas e música. Gastronomia e música foram também os atrativos das Festas de São Simão, certame realizado entre 29 e 31 de julho, em Vendas de Azeitão, e que contou ainda com divertimentos para os mais novos e venda de artesanato. Um espetáculo de sevilhanas a cargo do Mais Flamenco Ballet – Companhia de Dança e a atuação da banda Cruzados foram os destaques da Festa de São Lourenço, que decorreu a 5 e 6 de agosto, no Azeitão Bacalhôa Parque, em Vila Nogueira. Já a Aldeia da Piedade voltou a animar-se com as Festas de Nossa Senhora da Conceição, que decorreram entre 12 e 15 de agosto, com celebrações religiosas, iniciativas culturais e várias tascas de petiscos.


cultura

18SETÚBALjulho|agosto|setembro16

Música anima Baía

As Noites da Baía animaram o verão da Casa da Baía, com concertos para todos os gostos, entre 24 de junho e 17 de setembro. Deolinda de Jesus e António Pinto Basto atuaram na primeira sessão e o encerramento, com o recinto completamente esgotado, coube à Ala dos Namorados, banda de Nuno Guerreiro e Manuel Paulo, com Zé Nabo.

Prémio distingue Casa da Cultura A Casa da Cultura é, cada vez mais, uma referência, quer a nível regional, quer nacional. O equipamento municipal foi distinguido por uma revista pelo trabalho que tem desempenhado na dinamização cultural do concelho

Cinema de luto A Câmara Municipal aprovou, a 17 de agosto, um voto de pesar pelo falecimento de Fernanda Silva, diretora do Festroia – Festival Internacional de Cinema de Setúbal. Fernanda Silva nasceu a 15 de julho de 1957, na aldeia de Santa Clara, Almodôvar, e faleceu em Setúbal a 3 de agosto de 2016. Em 1988 entrou para a organização do Festival Internacional de Cinema de Troia, criado três anos antes por Mário Ventura Henriques. Fez parte do secretariado e foi relações públicas do evento antes de se tornar coordenadora geral, em 1993, e diretora do Festival, em 1995, cargo que ocupou até à trigésima e última edição do Festroia, em 2014. “Foi graças ao dinâmico e inestimável contributo de Fernanda Silva que o festival conseguiu manter, até à interrupção, o lugar destacado no calendário da sétima arte em Portugal”, assinala o voto de pesar. O texto acrescenta que Fernanda Silva foi, “nos anos mais recentes e à frente de uma equipa coesa e manifestamente apaixonada por cada realização, a grande alma do Festroia, no qual desempenhou sempre cargos decisivos para o crescente reconhecimento internacional do certame cinematográfico”.

A Casa da Cultura foi distinguida no final de julho com o prémio Juízo Gerador Honroso, atribuído pela Revista Gerador, uma publicação trimestral, distribuída a nível nacional, dedicada à cultura portuguesa. Com uma tiragem de cinco mil exemplares, a revista dedica as suas páginas a diferentes aspetos da cultura portuguesa, aos artistas, intervenientes e entidades, numa perspetiva descontraída e bem-humorada. A publicação atribui, trimestralmente, os prémios Juízos Gerador, que distinguem locais, iniciativas, pessoas e entidades que merecem

ser destacados pelo seu contributo para a cultura portuguesa, através de propostas e votações de uma assembleia de colaboradores. Na edição publicada a 30 de julho, a Revista Gerador atribuiu o Juízo Gerador Honroso, referente à categoria Na Tua Rua, à Casa da Cultura devido à “arquitetura do edifício recuperado e pelo que tem feito na dinamização da cultura na cidade”. A revista destaca os serviços culturais prestados à comunidade, como “uma escola de música, um centro de documentação e até o espaço das artes”, os quais mostram “o associativismo e a criatividade dinâmica da cidade de Setúbal, tudo concentrado

num único local a que todos podem chamar casa”. A Casa da Cultura, equipamento municipal instalado na Rua Detrás da Guarda, junto da Praça de Bocage, é um polo dinamizador da atividade artística desenvolvida no concelho, conciliando diferentes valências que se encontram ao serviço do movimento associativo e, principalmente, da população. Atividades de música, artes plásticas, literatura, cinema, teatro, dança e fotografia são desenvolvidas no âmbito de uma programação regular e, nalguns casos, por associações da cidade, algumas delas com espaços próprios no imóvel.

Festival junta bandas filarmónicas Mais de quinhentas pessoas assistiram, nos dias 1 e 2 de julho, ao Festival de Bandas Filarmónicas da Cidade de Setúbal, que decorreu no Largo da Misericórdia.

O evento, organizado pela Sociedade Musical Capricho Setubalense e pela Câmara Municipal de Setúbal, com o apoio da União das Freguesias de Setúbal, contou, no dia 1,

com concertos das bandas da Sociedade de Instrução Musical de Quinta do Anjo e da Sociedade Musical Sesimbrense. No dia 2, ao final da tarde, os grupos da Sociedade Filarmónica Operária Amorense e da Capricho Setubalense desfilaram pelas ruas da Baixa comercial e atuaram depois no concerto de encerramento, no Largo da Misericórdia. O festival foi ainda uma oportunidade para o vereador Carlos Rabaçal entregar, em nome da Câmara Municipal de Setúbal e da Capricho Setubalense, uma lembrança a Joaquim Silva, comemorativa dos 34 anos de dedicação do maestro à coletividade.

RTP destaca Setúbal

O programa televisivo “Praias Olímpicas” da RTP1 teve transmissão em direto, na manhã de 24 de agosto, a partir da Praia da Figueirinha, divulgando a atividade cultural e turística do concelho. Numa entrevista, o vereador Pedro Pina destacou o ano intenso de atividades no âmbito de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016.

Itália exibe filmes

Setúbal recebeu, pela primeira vez, entre 11 e 13 de agosto, no Charlot, a 8 ½ Festa do Cinema Italiano, com a exibição de produções clássicas e outras recentes que integraram uma secção competitiva. A organização do certame que decorre em cidades portuguesas desde 2008 foi recebida na Casa da Baía pela vereadora Carla Guerreiro.

Livros em arruada

A quarta edição da arruada de livros da Culsete, com a venda de vários tipos de obras a preços bonificados, animou o passeio defronte da livraria, na Avenida 22 de Dezembro, entre os dias 1 e 9 de julho. A iniciativa incluiu um programa cultural com música e dança, bem como encontros com autores e atividades para crianças.


19SETÚBALjulho|agosto|setembro16

Festa do Teatro atinge maioridade com êxito

Escavações em fotografias

A exposição “Diário Gráfico de uma Escavação”, patente entre 2 de julho e 3 de agosto, no anexo da Galeria de Exposições da Casa da Cultura, mostrou fotografias e ilustrações da arqueóloga Maria João Cândido e do arquiteto José Minderico, técnicos da Câmara Municipal de Setúbal. A iniciativa divulgou o quotidiano das escavações arqueológicas na área nascente dos claustros do Convento de Jesus, entre novembro de 2015 e março de 2016.

Marchas recebem prémios

O teatro voltou a invadir os equipamentos culturais e espaços públicos do concelho. Entre 18 e 28 de agosto, na XVIII Festa do Teatro – Festival Internacional de Teatro de Setúbal, mostrou-se o que de melhor se faz no país e além-fronteiras Cerca de três dezenas de iniciativas culturais, como teatro de sala e de rua, música, cinema e manifestações artísticas emergentes, contribuíram para o êxito da XVII Festa do Teatro, numa parceria do Teatro Estúdio Fontenova e da Câmara Municipal de Setúbal. O diretor artístico do certame, José Maria Dias, sublinha que o balanço desta edição “só pode ser muito positivo, com o público a aderir acima das expectativas e a visibilidade do festival a nível nacional também a surpreender além do esperado”. O programa variado permite, segundo José Maria Dias, levar ao público um leque alargado de experiências relacionadas com a atividade cénica. “Iniciativas como o (Re)Cantos, em que atores conversam informalmente com o público, são muito boas. As pessoas acabam

por se aperceber e travar contacto com muitas coisas que invariavelmente não se apercebem durante uma encenação, tornando-se numa experiência muito enriquecedora.”

O êxito de mais uma edição do Festival Internacional de Teatro de Setúbal, a décima oitava, leva a que o diretor artístico se mantenha otimista em relação ao futuro, uma vez que “está, assim, garantido e com perspetivas de melhorar”. O responsável frisa ainda a importância do apoio financeiro e logístico da Câmara Municipal de Setúbal, que tem contribuído para a realização e o sucesso do evento. A estreia da peça “Ciclo Novas Bacantes/“Bichos e Leões”, da Companhia João Garcia Miguel, foi um dos destaques do evento, assim como Lullaby, da Cão à Chuva/d’Orfeu AC, “Novecentos – O Pianista do Oceano”, da Peripécia Teatro, “Variações à Beira de um Lago”, do Teatro dos Aloés, “Poemas na Minha Vida”, por Io Appolloni, e “Bonecas Russas”, do Coletivo SophieMarie.

EUROVISÃO. Setembro é mês de viver os êxitos do Festival Eurovisão da Canção. Setúbal, como capital dos artistas da festa internacional, recebeu, na noite de dia 10, arte, coreografias e concertos. Na oitava edição, o espetáculo Eurovision Live Concert – Portugal levou ao Auditório José Afonso o entusiasmo de fãs, portugueses e estrangeiros, e a curiosidade de outros, num total de cerca de duas mil pessoas. Polónia, Espanha, Portugal, Bósnia & Herzegovina, Hungria, Dinamarca e Lituânia foram os países que subiram ao palco. Com apresentação de Natália Abreu e Deban Aderemi, o evento contou com as participações especiais de Rui Andrade & Legacy, Carla Ribeiro, Ana Luísa Cardoso, Gerson Santos, Vision Ensemble e Catarina Guinout, sobrinha da cantora Maria Guinout, vencedora, em 1984, do Festival RTP da Canção, homenageada pela organização, a cargo da associação Deriv@Status, em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal e a OGAE Portugal, também ela distinguida.

O Grupo Desportivo Setubalense “Os 13”, vencedor das Marchas Populares de Setúbal 2016, recebeu o prémio no dia 16 de julho, num espetáculo realizado no Fórum Municipal Luísa Todi. O evento, que incluiu atuações de Ivone Dias, Madrinha das Madrinhas da edição do ano passado, e de Maria Cordeiro, a sucessora, foi ainda palco da entrega dos galardões atribuídos às restantes marchas que ganharam os restantes prémios previstos no concurso.

Rodrigo grava no Fórum

O Fórum Municipal Luísa Todi recebeu no dia 2 de julho o fadista Rodrigo, num espetáculo evocativo de mais de meio século de carreira, marcado por uma interação constante com o público, que o fez regressar ao palco, por mais do que uma vez, para agradecer as ovações com encores dos principais êxitos. O concerto, intitulado “Rodrigo – 55 anos de Fado”, foi gravado ao vivo para dar origem a um CD, a cargo da editora setubalense RW Music.

Imagens retratam África

A exposição “De África”, composta por fotografias do antropólogo Zica Capristano, retiradas do livro “De África”, obra com mais de quatrocentas imagens, fruto de quatro décadas de viagens e que revelam uma marcante paixão pelo continente africano, esteve patente na Casa da Cultura, entre 9 de julho e 2 de agosto. Carmona Rodrigues, companheiro de viagens de Zica Capristano, apresentou a mostra, povoada de rostos, ambientes e lugares.


educação

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Aula de ciência ao vivo

O Parque Urbano de Albarquel recebeu a 29 de julho, pelo quarto ano consecutivo, a iniciativa “Ciência Viva no Verão”. Sob o tema “À Descoberta da Terra – Sismos e Energia Solar”, a novidade desta edição do programa destinado a crianças e jovens foi a possibilidade de se poder experimentar um carro movido a energia solar, além de ficar a conhecer o protótipo de dispositivo de alerta de tsunamis instalado em Setúbal.

Ateliers reforçam laços geracionais Miúdos e graúdos partilharam experiências e saberes entre 20 de junho e 29 de julho. Foram cinco centenas e meia de participantes em mais de cinquenta oficinas lúdicas e pedagógicas, promovidas nos Ateliers de Verão 2016

A vigésima edição dos Ateliers de Verão foi ocupada de forma ativa, com propostas gratuitas para todos os gostos e idades, proporcionando atividades para crianças e jovens entre os 6 e os 18 anos, bem como para a população sénior do concelho. Nas áreas do Desporto, Aventura e Movimento, Artes e Ofícios e ainda Informática e Multimédia foram muitas as propostas apresentadas aos munícipes Atividades desportivas e criativas, informática, teatro comunitário, danças latinas, urbanas e contemporâneas, canto, olaria, culinária e cinema foram algumas das áreas disponibilizadas em ateliers, em vários locais, como os parques da cidade, as piscinas municipais e espaços

das entidades parceiras neste projeto municipal. Os ateliers de piscina recreativa, ténis, danças latinas, futebol, teatro, capoeira, hip-hop, canoagem e vela foram os que registaram maior número de frequências por parte das cinco centenas e meia de crianças, jovens e seniores que participaram este ano no projeto. No total, fo-

ram contabilizadas 1220 horas de atividades, acompanhadas de perto por sete dezenas de monitores. O projeto municipal Ateliers de Verão, que se realiza desde 1997, organizado em parceria com diversas entidades do concelho, inclui atividades de ocupação das férias letivas que aliam momentos de aprendizagem, diversão

e troca de conhecimentos entre gerações. Os objetivos, além de uma resposta efetiva de ocupação dos tempos livres de crianças e jovens no período de férias escolares, consistem em aprofundar o diálogo entre gerações e reforçar fatores de proteção, combater riscos psicossociais e promover a partilha de experiências. Para alcançar este reforço de laços, realizou-se uma dezena de ateliers intergeracionais, além dos que se destinaram especificamente a crianças e jovens ou à população sénior. O apoio às famílias, através de um conjunto diversificado de atividades, numa perspetiva lúdica e pedagógica, é outro objectivo dos Ateliers de Verão.

Jovens recolhem beatas no areal Perto de cinco mil beatas de cigarros foram recolhidas na manhã do dia 19 de julho no areal da Praia da Figueirinha, numa iniciativa de sensibilização ambiental dirigida aos veraneantes, no âmbito do Programa Bandeira Azul 2016. Treze jovens do Centro Jovem Tabor, com idades entre os 13 e os 17 anos, munidos de garrafas de plástico e luvas, dividiram-se em pares e dirigiram-se a vários pontos da praia. Uma hora depois, de regresso ao ponto de encontro, as garrafas que entraram vazias no areal ficaram praticamente cheias de beatas de cigarros. Sob o lema “Por um Mar sem Beatas!”, esta foi a segunda ação de educação ambiental a decorrer na

Figueirinha no âmbito da Bandeira Azul 2016, organizada pela Câmara Municipal de Setúbal, pela Associação Portuguesa do Lixo

Marinho, pela Associação Portugal Sem Beatas, pela Tara Recuperável.Org e pela Brigada do Mar. “É importante multiplicarmos este

tipo de ações, que servem de limpeza e também de sensibilização”, sublinha Manuel Nobre, da Associação Portugal Sem Beatas. No final do processo de limpeza do areal, os veraneantes foram convidados a participar numa campanha de selfies com a mensagem “Eu não deixo lixo na praia!”. O programa “Por um Mar sem Beatas!” incluiu ainda as exposições fotográficas “Valores da Arrábida”, dinamizada pela Associação de Municípios da Região de Setúbal e pela Câmara Municipal, e “Os mais procurados!”, pela Associação Portuguesa do Lixo Marinho e pela autarquia, que estiveram patentes na calçada da Figueirinha até 18 de setembro.

Escola melhora cobertura

A antiga cobertura de fibrocimento com amianto da Escola Básica/Jardim de Infância de S. Gabriel foi substituída este verão, numa obra que deu continuidade ao trabalho da Câmara Municipal nesta área. O investimento, no total de 24.226 euros, de melhoria das condições de conforto dos alunos, proporcionou a oportunidade de reabilitar a rede de drenagem de águas pluviais da escola, tornando-a mais eficiente.

Férias à volta dos livros

A promoção do livro e da leitura de um modo divertido e pedagógico foi estimulada durante as férias escolares, no Clube de Leitura de Verão, iniciativa que decorreu na Biblioteca Pública Municipal, com perto de quarenta participantes, entre os 8 e os 17 anos. O projeto envolveu a leitura de livros e a realização de trabalhos a partir dos mesmos, como escrita criativa, dramatizações, jogos didáticos e oficinas de expressão.

Acampamento bem ativo

O Arrábida Camp, realizado entre os dias 12 e 17 de julho, no Parque Ambiental do Alambre, proporcionou um conjunto de atividades a cerca de quarenta jovens, entre os 13 e os 18 anos, como workshops de voleibol de praia, canoagem, danças tradicionais, capoeira e percussão, assim como uma atividade de arborismo, no Centro Desportivo Nacional do Jamor. A iniciativa foi promovida pela Câmara Municipal.


desporto

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Andebol veste de gala

O andebol esteve em destaque, a 27 e 28 de agosto, em eventos que trouxeram a Setúbal a elite da modalidade. Primeiro na VI Gala do Andebol, no Fórum Luísa Todi, com a consagração de várias individualidades, depois com a Supertaça, em masculinos e femininos, no Pavilhão Antoine Velge, conquistada por Benfica e Madeira SAD.

Emoção de volta Milhares de pessoas juntaram-se, a 6 de agosto, à festa da 78.ª Volta a Portugal em Bicicleta. Daniel Mestre venceu ao sprint a nona etapa da prova do ciclismo nacional, que cruzou a meta em Setúbal após uma ausência de 42 anos

A 78.ª Volta a Portugal em Bicicleta fez vibrar Setúbal. Milhares de pessoas saíram à rua, a 6 de agosto, para participar na festa da emblemática prova do ciclismo nacional, que, nesta edição, voltou à cidade sadina para proporcionar um espetáculo com muita emoção. A Avenida Luísa Todi, em particular na zona do Largo José Afonso, na qual estava instalada a meta, encheu-se de gente para receber, apoiar e participar na festa de consagração dos ciclistas que completaram os 176,1 quilómetros que uniram Alcácer do Sal a Setúbal, com passagens por Azeitão e Arrábida. Daniel Mestre, da Efapel, venceu ao sprint, em 4h12m50s, na chegada a

Setúbal, a penúltima etapa da competição maior do ciclismo nacional, prova que terminou no dia seguinte em Lisboa, com Rui Vinhas, da W52-Futebol Clube do Porto, a sa-

grar-se o grande vencedor. “É um grande orgulho e uma emoção voltar a ter em Setúbal, 42 anos depois, este grande evento português e popular”, realçou a presidente da Câmara

Municipal, Maria das Dores Meira, que entregou o principal troféu em disputa na etapa setubalense. O português impôs-se ao espanhol Alejandro Marque, da LA Alumínios/Antarte, classificado em segundo lugar, e ao italiano Alessio Taliani, da Androni Giocattoli/Sidermec, que terminou em terceiro a etapa integrada no programa de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016. Para a autarca sadina, mais do que o orgulho por voltar a receber a emblemática prova do ciclismo nacional, este foi um dia de sentimentos fortes, “uma emoção que se viu e sentiu nas ruas, não só da cidade, mas também de Azeitão e por vários locais de passagem dos ciclistas”.

Futebol de praia estreia estádio Setúbal recebeu em festa, num estádio instalado à beira-rio, as fases finais das divisões Elite e Nacional do Campeonato Nacional de Futebol de Praia, com mais de um milhar de pessoas a assistir, a 20 e 21 de agosto, aos jogos das 12 melhores equipas das competições. No evento, organizado pela Federação Portuguesa de Futebol, com o apoio da autarquia, os cachecóis e as camisolas dos adeptos tomaram

conta das bancadas no novo equipamento desportivo instalado no Parque Urbano de Albarquel. O Sporting ficou no primeiro lugar na Divisão de Elite, ao vencer na final o SC Braga por 7-4, enquanto o CD Nacional sagrou-se campeão na Divisão Nacional ao derrotar o Vila Franca do Rosário por 4-3. Já o Vitória FC, a jogar em casa, e o GR Amigos Paz alcançaram a manutenção na Elite do futebol de praia.

Alta rotação motorizada

O Setúbal Especial Sprint, a 17 de julho, marcou o regresso das provas de automobilismo à cidade. Clássicos e modernos, os bólides de mais de sessenta equipas aceleraram na Avenida da Europa, com cerca de cinco mil pessoas a assistir às diferentes provas, de sprint e regularidade, além dos desfiles e demonstrações.

Vólei consagra atletas

Os voleibolistas Miguel Maia e João Brenha foram homenageados a 28 de agosto numa competição com 16 equipas realizada na Praia da Figueirinha. No Torneio Old School Maia/Brenha, Miguel Maia elogiou o Vólei Clube de Setúbal, que promoveu o evento com a Câmara Municipal, pela persistência em manter vivo o voleibol na região.

Campeões no atletismo MOVIMENTO. O Pavilhão do Município que partilhou, ao longo de dez dias, na Feira de Sant’Iago, a atividade de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016, volta a estar patente ao público, desta vez numa mostra itinerante iniciada no Parque Urbano de Albarquel. O pavilhão, um cubo modelar com um design arrojado e inovador, com 250 metros quadrados, dá a conhecer os eventos desportivos já realizados e projeta novas iniciativas. No pavilhão, que inclui um pódio e um jogo de espelhos, é dado destaque ao investimento realizado em equipamentos desportivos e feita uma retrospetiva fotográfica e documental do programa em curso.

Setúbal decidiu, a 16 e 17 de julho, os campeões do atletismo das 1.ª e 2.ª divisões do Campeonato Nacional de Clubes. Mais de duas mil pessoas assistiram à competição, no Complexo Municipal de Atletismo, com meio milhar de atletas envolvidos nas diversas provas do calendário nacional, de corrida lançamentos e saltos.


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Dois estudantes de Engenharia Biomédica da Escola Superior de Tecnologia desenvolvem um projeto na área da reabilitação física que leva o serviço a comunidades mais isoladas. O empreendedorismo deu o mote às atividades do IPS StartUP Week, com cinquenta alunos do ensino secundário a descobrirem o Instituto Politécnico de Setúbal

Clínica transporta reabilitação

academia

Inovação na área dos cuidados de reabilitação física de utentes. Dois estudantes de Engenharia Biomédica desenvolvem um projeto que aponta à criação de uma clínica móvel. A ideia, premiada a nível académico, é facilitar o serviço a comunidades mais isoladas e à população mais debilitada, sobretudo a sénior. Catarina Gomes e Ricardo Vagarinho são os mentores do “Biocare”, um projeto potenciado no âmbito da licenciatura da Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Setúbal. Contudo, a ideia em maturação pelos dois jovens estudantes tem génese numa forte componente pessoal. “Ambos temos raízes em pequenas povoações, concretamente nas regiões do Alentejo e da Beira Interior. A ideia partiu daqui, da necessidade de levar este tipo de cuidados a populações mais isoladas e com maiores dificuldades em aceder a unidades de saúde das grandes cidades”, salienta Catarina Gomes. Os estudantes, atualmente no início do terceiro ano da licenciatura, apontam duas perspetivas de negócio para a criação da clínica móvel para cuidados de reabilitação, que, em qualquer dos casos, será concretizada com recurso a duas carrinhas de transporte. “Uma das possibilidades consiste num veículo de maiores dimensões, preparado para a realização de tratamentos no interior pelos profissionais. A outra

nesta ideia e vamos com ela até ao fim. É isto que queremos fazer. Ajudar as pessoas”, afirmam os estudantes, que esperam ter o “Biocare” a funcionar no final de 2017.

Tratamento otimizado

hipótese é uma carrinha mais pequena, somente para o transporte de equipamentos e tratamentos na casa dos utentes”, explica Ricardo Vagarinho. Em ambos os casos, tratando-se de um serviço móvel de reabilitação, o “Biocare” apenas permite a realização de tratamentos primários. São excluídas intervenções mais avançadas ou que exijam metodologias com recurso a tecnologias mais modernas, como, indicam, a análise do movimento. “Será sempre com uma perspetiva de

reabilitação normal, para utentes com próteses, com problemas de mobilidade ou que tenham realizado intervenções cirúrgicas”, esclarece Catarina Gomes. Ainda assim, garante, o “Biocare” pode assegurar “70 a 80 por cento dos tratamentos de reabilitação”. Na clínica móvel de reabilitação, um fisioterapeuta pode executar os mesmos tratamentos que um profissional a trabalhar num espaço físico. São sobretudo intervenções ao nível da recuperação de traumas

e de problemas de sedentarismo, em particular em pessoas com mais de 65 anos. “Para já, queremos ter parcerias com instituições em Setúbal para começar a operação. Estamos a estabelecer contactos para lançar o projeto, numa primeira fase localmente, para testar o serviço, e depois alargá-lo a outras zonas do território nacional”, adianta o empreendedor. Os dois jovens, na casa dos 20 anos, mostram-se confiantes no sucesso do projeto. “Acreditamos de coração

Além de levar a reabilitação a locais e a pessoas mais isoladas, o “Biocare” pretende otimizar o processo de tratamento de utentes logo após a saída de unidades hospitalares. Em síntese, trata-se de encurtar o tempo de espera entre uma cirurgia e o início da reabilitação. “Em muitas situações, as pessoas que passam por uma cirurgia não ficam imediatamente aptas para se deslocaram a clinicas de reabilitação para os tratamentos. Esta é também uma lacuna que queramos colmatar”, salienta Catarina Gomes. Apesar de o foco do projeto estar definido, os estudantes aliam uma componente de investigação. “Vamos tentar perceber de que forma é que a fisioterapia e a psicologia podem interagir. A ideia é saber se a fisioterapia é mais eficiente com acompanhamento de psicólogo”, destaca o jovem estudante. O “Biocare” venceu, a 21 de junho, a etapa regional do 13.º Poliempreende, competindo em setembro na fase final com outros projetos a nível nacional. O concurso teve, nesta edição, coordenação nacional do Instituto Politécnico de Setúbal.

Empreendedorismo à descoberta

Meia centena de jovens de todo o país participaram, entre 25 e 30 de julho, na 3.ª edição da IPStartUP Week. A iniciativa abriu as portas do Instituto Politécnico de Setúbal a estudantes do ensino secundário e profissional para a descoberta da

inovação e do empreendedorismo académico. Durante uma semana, a iniciativa, organizada pelo IPS e pela Fórum Estudante, proporcionou um programa com atividades lúdicas e pedagógicas que procuraram desen-

volver as capacidades interpessoais, criativas, empreendedoras e de trabalho em equipa. “Esta é uma iniciativa que decorre da estratégia de proximidade com as escolas secundárias e profissionais”, explica Sandra Silva, técnica do Instituto Politécnico de Setúbal, que acompanhou as ações dinamizadas na semana dedicada ao empreendedorismo, “uma das bandeiras” da instituição. O programa da IPStartUP Week incluiu atividades em laboratório e conversas com empreendedores da Incubadora de Ideias de Negócio, a par de ações de simulação da realidade empresarial, comunicação através do desporto, suporte básico de vida e exploração de projetos nas áreas automóvel e robótica. O empreendedorismo foi a temática transversal a toda a semana, com atividades pedagógicas em cada uma das escolas do IPS, incluindo no campus do Barreiro, e também iniciativas de caráter lúdico, que deram

a conhecer a região e o património urbano e natural de Setúbal. Os participantes, oriundos de vários locais do país, como Braga, Leiria, Vila Verde, Almada, Se­ simbra e, também, Setúbal, ficaram alojados na residência de estudantes do IPS, solução que permitiu a sedimentação de laços de amizade e o contacto com a realidade académica. Sandra Silva adianta que a IPStartup Week, que “constitui uma ferramenta de comunicação que visa aproximar os jovens da instituição”, é impulsionada com o objetivo de cativar os estudantes a optarem por uma licenciatura no IPS. E a iniciativa já deu frutos, com uma participante na primeira edição da semana temática a escolher, em Setúbal, a licenciatura em Marketing, na Escola Superior de Ciências Empresariais. Colabora, ainda, na vertente comunicacional do evento e no contacto com os jovens.


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rumos

“Há talento em todo o lado” Empreendedor inato, tem construído – e destruído – a carreira com apostas fortes nas suas ideias. André Lourenço, hoje com 35 anos, foi um dos dirigentes mais novos num clube da Primeira Liga, criou várias empresas e até fundou uma escola. É movido por convicções, pela originalidade e pela entrega aos projetos que cria. Assume, em pleno, o fanatismo pelo Vitória e por Setúbal. O risco e a inexperiência valeram-lhe grandes dissabores. Soube aprender as regras do jogo e a dar a volta às adversidades. De tal forma que é atualmente o mentor da meca mundial da indústria criativa, a Trojan Horse Was a Unicorn, de regresso a Troia e Setúbal em setembro, que tem tanto de original que até o nome é desprovido de sentido. Já tem uma história demasiado grande para a página de um jornal e continua a somar-lhe linhas, sem parar, dando seguimento às ideias em que continua a acreditar. A Trojan Horse Was a Unicorn (THU) é o maior encontro mundial de criativos e o André Lourenço é o mentor e a principal cara desse projeto. Mas não é, porém, na aceção artística da palavra, um criativo. O que faz exatamente? Sou gestor, empreendedor. A THU acaba por ser uma parte do meu trajeto. Usando a brandura de um eufemismo, parece ter sido um trajeto atribulado. Como foi esse caminho até à THU? Tirei Design Industrial e logo a seguir abri a minha primeira empresa, aos 22 anos, num processo natural depois de reestruturar a comunicação do grupo de empresas do meu pai, numa área que não dominava, o branding. Julgo que fundei no país das primeiras empresas neste setor. Depois conheci o meu sócio, que ainda o é hoje, o David Ramalho, e começámos a crescer. Logo de seguida fui dirigente no Vitória de Setúbal. Tinha uns 24 anos. Como foi integrar a direção do clube do coração? Foi o meu MBA. Era muito miúdo, com muito sangue na guelra e a mania de que era muito bom. Era movido pelo fanatismo ao Vitória. Sou fanático pelo clube e por Setúbal. Entretanto, quis legitimar as minhas funções no clube com uma

pós-graduação de Marketing Management. É surreal, mas estava a fazer o meu último exame quando me ligaram a dizer que a Direção se tinha demitido. No fim, foi muito gratificante. Naquele período no Vitória de Setúbal tive uma grande lição de humildade e de consciência das coisas. É pouco comum encontrar pessoas que reconheçam abertamente erros do passado e tais lições de vida. É inato ou foi preciso uma chapada do destino para mudar? Foram muitas chapadas. Tive picos de ganhar muito êxito, de me armar em campeão, e de bater no fundo. Fiz várias coisas boas, incluindo no Vitória. Era conhecido como o Harry Potter, pelo aspeto e pela forma como fazia acontecer coisas. Só que a carreira tem sido uma montanha­ ‑russa. Altos e baixos. Estive ligado a três áreas: do desporto, da cultura e da educação. O que fez em cultura e educação? Ajudei no reebranding do Cinema São Jorge, com o qual ainda hoje colaboro. Em 2008 abri a minha escola em Lisboa, altura em que comecei a conhecer pessoas fora de Setúbal. Do nada, diz que abriu uma escola. Pelas contas, com 27 anos. Fui cofundador da primeira escola focada na indústria do entreteni-

mento digital, de animação, visual effects. A Odd School, de onde já saí. Revolucionámos a educação nesta área, que ainda não é indústria em Portugal. A indústria criativa, setor no qual o THU se insere, é das mais lucrativas a nível mundial, só que em Portugal nunca se fez nada no país a pensar em escala. Eu prefiro estar orientado para o público, criar emprego, gerar um ciclo.

ser bom gestor porque sou muito desorganizado. Obrigo-me a ser gestor porque os projetos que tento criar não existem, são originais e não existem padrões definidos. Por isso forço-me a esse papel. Querer ser diferente é um princípio e uma lógica comercial. Não gosto de ser mais uma ovelha no rebanho. Além disso, sempre soube que não quereria trabalhar por conta de outrem.

Gerar um ciclo desses não parece tarefa fácil. Entre 2007 e 2008, estive, por in­ experiência, sem linhas de crédito noutras empresas que tinha. Não correu bem. Deixei de pagar à Segurança Social e às Finanças. Eu e o meu sócio não percebemos, naquela altura, como é que tudo se passou. Estávamos assustadíssimos. Nunca insolvemos as empresas porque quisemos pagar tudo. Ainda devemos, mas já está tudo encaminhado. Limpámos os nossos nomes. Foram dois anos muito difíceis. De 2008 a 2010 foquei-me na Odd School e engoli o que se estava a passar.

Há quem diga que falhar é um estágio necessário para o êxito. Acho que tudo aquilo por que passei podemos aprender na escola. Hoje as pessoas ouvem-me e essas são experiências que tento transmitir. Quando assumi os meus insucessos ganhei uma aura diferente, dando início a um novo ciclo da minha vida. Cheguei a falar em eventos sobre o assunto.

Essa experiência de gestor não foi suficiente para se afastar desse ­papel? Foi horrível, sim. Os jovens não têm perceção da realidade. E eu era um desses jovens. Eu não sou gestor. É contrassenso, mas não posso

É movido por convicções? Gosto de ajudar pessoas. Não sou ligado ao dinheiro. Claro que simpatizo com a ideia de o ter, mas não é uma preocupação. A política das minhas empresas é a distribuição por toda a gente. Tenho uma política muito “socialista”, em que a tendência é ganharmos todos o mesmo. Uma política em que somos todos iguais. Trojan Horse Was a Unicorn. Além de enigmático, o que é mais?

O nome não significa nada. Queríamos algo disruptivo, original, tal como o evento o é. A THU em Troia é o culminar de um ano inteiro. Neste momento tem várias áreas de negócio. Um é o main event, aquilo a que as pessoas vêm e que acaba por ser a partilha de experiências entre pessoas criativas. Tens a parte TV, uma espécie de Netflix com documentários e programas para artistas e criativos. Há a loja, em que, mais do que merchandising, as pessoas veem como lifestyle e que tem muita procura. De tal modo que vamos criar uma linha de roupa, que esperamos associar a Setúbal e, assim, finalmente entrar na área de responsabilidade social. “Finalmente”? Soa a objetivo de longa data. Sempre acreditei que eventos destes devem ter impacte, pelo menos, local. Também devem ajudar a dinamizar as populações locais. Queremos começar por Setúbal, num projeto-piloto que está atualmente em análise. Acredito que não é preciso ir para os grandes centros urbanos para ter sucesso na área criativa. Queremos trabalhar com os jovens para lhes explicar como esta indústria funciona. O talento está em todo o lado, só precisa de ser moldado e de dares as condições certas.


retratos

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Seja ferro, móveis, brinquedos, roupa ou eletrodomésticos. Em Setúbal, há quem partilhe uma filosofia: aproveitar utensílios que os outros não querem e esperar que acabem nos contentores. Na loja do Garrrbage, a funcionar há um ano num dos espaços do Mercado 2 de Abril, vende-se mobiliário com uma vida nova, outrora abandonado e danificado

As vidas que o lixo tem

O cheiro a tinta é intenso. A oferta é variada. Armários, cómodas, bancos, cadeiras, mesas de centro, arcas e aparadores. Tudo redesenhado a partir de móveis antigos, com defeitos ou partidos, encontrados por aí. “Será que é mesmo lixo?” é a questão que se coloca quando se entra na loja do Garrrbage (Grupo de Ação pela Recolha, Reabilitação e Reutilização de Bens Aproveitáveis – Gerações Ecologistas). Para Domingos Nunes, Luís Teixeira, Lúcia Joaquim, Fernando Bonheira, José Carlos e Helena Freitas, inseridos no Garrrbage, projeto criado no âmbito do programa municipal “Nosso Bairro, Nossa Cidade”, não, não é lixo. Bens inutilizados, com especial incidência em móveis, mas também brinquedos roupas e eletrodomésticos, renascem e é-lhes dada uma segunda vida. Uma cabeceira de cama pode transformar-se em banco e uma mesa renascer como minibar. São artesãos, artistas, carpinteiros, pintores. “O que fazemos é restaurar”, esclarece Domingos Nunes. “Apanhamos o que supostamente é lixo e reutilizamos a matéria-prima.” O ventre do projeto é uma oficina cedida pela Câmara Municipal, localizada num dos pátios do Bairro da Bela Vista. O renascimento das peças começa ali. Antes da abertura da loja do Garrrbage, a funcionar no piso zero do Mercado 2 de Abril, o espaço de tra-

balho funcionava como 3 em 1 – armazém, oficina e área de venda. A loja, aberta desde outubro de 2015, além de possibilitar um alívio do espaço de trabalho, ajuda a dar visibilidade ao que dali sai. E as encomendas não vão faltando. No entanto, “também há quem peça para guardar uma cadeira ou um móvel e nunca mais aparece”, diz Fernando Bonheira. O preço dos artigos é variável. As horas de trabalho, a dedicação, os materiais utilizados refletem o valor final. As cadeiras são, normalmente, as peças mais baratas a sair das mãos dos artesãos. Custam entre trinta e cinquenta euros. As mais caras, como armários e roupeiros, podem ir até aos duzentos. À loja deslocam-se clientes de Setúbal, mas não só. Através das páginas do Facebook e do OLX, a procura tornou-se nacional. Aberta apenas aos sábados, no período da manhã, os telefones com os números 914 133 428, 913 782 631 e 933 940 094 ou o endereço geral@ garrrbage.pt estão sempre disponíveis para aceitar encomendas. Além de vendidas, as peças do Garrrbage são encaminhadas para quem necessita, em forma de doação, ou trocadas, de modo a compensar quem efetuou o trabalho de reabilitação, mas, sobretudo, para fazer face aos gastos com os ma-

teriais utilizados – lixas, vernizes, subcapas, massas de reparação, pregos, tintas, colas. “Há certos objetos que não têm salvação”, refere Domingos Nunes. “Simplesmente, não é possível. Encontramos peças num estado lastimável”, avança, com um encolher de ombros de indignação.

Desperdício vira luxo Quando os membros da equipa, todos moradores da Bela Vista, tiveram a ideia de recolher artigos deixados junto dos contentores que, aparentemente, poderiam parecer lixo (garbage, em inglês), guiados pelo espírito do “nada se perde, tudo se transforma”, estavam longe de imaginar que em apenas quatro meses, desde a abertura da oficina, conseguiriam recuperar mais de vinte peças. Tudo o que fazem é “um modo de reciclagem”. Em esforço e horas de trabalho, vasculham as ruas à caça de coisas que quem tinha deixou de querer ter. É um segundo emprego. A tarefa ocupa-lhes toda a atenção. Desempregado, é na oficina do Garrrbage que Fernando Bonheira passa os dias. “Aqui desanuvio a cabeça e não penso em mais nada”, conta o pintor da construção civil. A principal despesa é com os materiais. Só com ofertas de tintas, esmalte e lixas é que Helena Freitas,

fundadora do projeto, cumpre outro dos objetivos do Garrrbage: pagar aos voluntários que, tal como Fernando, possam estar desempregados ou ter rendimentos baixos. O marido de Helena, Luís Teixeira, voluntário, conta que “quando aparece um móvel em muito mau estado aproveita-se sempre alguma coisa, até os parafusos”. Por outro lado, o reaproveitamento alcançado pelo Garrrbage, projeto resultante de uma proposta de moradores do Bairro da Bela Vista, feita no II Encontro Nosso Bairro, Nossa Cidade, em novembro de 2014, contribui para a redução da quantidade de lixo que vai para os aterros e sensibiliza a população para a importância da reutilização de alguns artigos. Além da procura, a dimensão do projeto já se provou com a conquista de alguns troféus. Helena Freitas recebeu, em 2015, o Prémio “Os Nossos Heróis”, na categoria “Herói do Ano”, na Grande Conferência da Visão Solidária e do Montepio, que distingue pessoas e empresas que se destacam na área social, e, em 2016, o “Prémio Teresa Rosmaninho Soroptimista Jovem Líder”, da Organização não-governamental Soroptimist International. A criadora do Garrrbage pretende levar a ideia a todos os municípios do país, quer pela importância da redução do desperdício, quer pela

integração de pessoas em situações socialmente desfavoráveis.

Espírito de cooperação Apesar de a reabilitação ser feita apenas por aquele grupo de voluntários, que disponibiliza tempo livre para se dedicar a estas atividades, o projeto está aberto a outros moradores da Bela Vista, da Alameda das Palmeiras, do Forte da Bela Vista, da Quinta de Santo António e das Manteigadas, ou seja, às áreas habitacionais abrangidas pelo “Nosso Bairro, Nossa Cidade”. Este programa municipal tem possibilitado tudo isto, não esquecendo, sobretudo, o lado humano. Novos projetos, novas ideias, as reuniões com moradores e os vários programas direcionados às novas gerações têm sido prioridade tanto da Câmara Municipal de Setúbal como dos que ali residem. Com atividades que vão da recuperação do edificado às mais variadas ações de índole cultural, social e desportiva, o programa, em desenvolvimento desde 2012, assenta na premissa de que toda a ação deve ser protagonizada pelos próprios moradores. Ou seja, geradora da participação das pessoas nas decisões que a elas e à sua comunidade dizem respeito, promovendo a autonomia, a responsabilidade e o crescimento coletivo.


rosto Experiência na condução Num coro, um dos atores principais é o maestro, neste caso, uma maestrina, Gisela Sequeira, que integra o projeto desde o início, pois também conhecia ou tinha laços de amizade com a maioria dos coralistas do Setúbal Voz. Gisela nasceu em Setúbal há 41 anos e desde os 6 que está ligada à música, tendo começado por ter aulas particulares de piano. A partir daí não mais parou a formação e construiu uma carreira ligada à direção de grupos corais em Tomar, Alcobaça, Santarém, Caldas da Rainha e Setúbal. Atualmente, além de dirigir o Setúbal Voz, é maestrina do coro da Sociedade Filarmónica Humanitária de Palmela e do Scola Cantorum, um coro do Agrupamento de Escolas de Alcochete. “A música é a minha grande paixão, sobretudo dirigir coros. Tenho uma licenciatura em Composição, mas esse é um trabalho mais solitário e prefiro conviver com as pessoas”, adianta. Garante que não é difícil ser maestro num coro, “se a pessoa tiver formação e vocação”, e sublinha que esta é uma área em que “vale a pena investir na formação para ajudar os coralistas a terem mais técnica”. Para a maestrina, este projeto fazia falta na cidade, pois “cobre uma lacuna, ao querer marcar a diferença pelo reportório e pela versatilidade”. Os objetivos artísticos que Gisela Sequeira gostaria de concretizar no Setúbal Voz são criar um coral sinfónico, com missas, cantatas e óperas, trabalhar em musicais com solistas e encenação, realizar grandes espetáculos pelo Natal e pela altura da Páscoa ou do aniversário e ainda ter uma orquestra a acompanhar. “O coro está a dar os primeiros passos, mas vai crescer e os objetivos vão concretizar-se. Espero, com a minha experiência, ajudar nesse crescimento.”

Coro de paixão

iniciativa

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Garantem que vão cantar até que a voz lhes doa. A música está-lhes no sangue e na alma e não conseguem imaginar a vida sem partilharem com os outros a sua arte. Fundaram um novo coro em Setúbal, no qual, além de darem largas ao sonho de cantar, criam laços de amizade A paixão pela música e a necessidade de sentirem os aplausos do público como de água para viver levou-os a formarem um novo grupo coral em Setúbal para darem largas à vontade de cantar. Manuela Palma Rodrigues, coralista há 35 anos, Ana Paula Rosa, há 25, e Maria do Carmo Nunes, há oito, confessam que já não conseguem viver sem cantar, mas, mais do que isso, não se imaginam a não fazerem parte de um coro. Por isso, em fevereiro juntaram-se a outros amigos com o mesmo sonho e formaram o Coro Setúbal Voz. Rui Águas não é coralista, mas conhecia grande parte dos elementos do grupo e juntou-se-lhes para criar a associação que deu corpo ao sonho. A 13 de junho, a Associação Setúbal Voz foi constituída oficialmente e Rui Águas foi eleito presidente da direção, apresentando ideias concretas para dar continuidade ao desejo dos que não abdicam de cantar para serem mais felizes. Para já, dão passos pequenos, à medida da realidade de uma associação que ainda não tem sede social e vê­ ‑se a braços com as mesmas dificuldades de financiamento vividas por tantas outras. Têm um escritório que funciona como sede temporária no Centro Comercial Aranguez e ensaiam, duas vezes por semana, às segundas e quintas-feiras, à noite, no auditório do Mercado do Livramento, por cedência temporária da Câmara Municipal de Setúbal. Nos últimos quatro meses já conseguiram ser “os agentes principais em palco”, como sublinha Rui Águas, em quatro concertos, em Setúbal e

Palmela, e, garante Manuela Palma Rodrigues, “a recetividade do público tem sido muito boa e dá vontade para fazer mais e melhor”.

Surpresa natalícia Até ao fim do ano, querem realizar, pelo menos, mais quatro concertos de acordo com o objetivo definido pela direção, incluindo a presença já garantida nas Festas da Moita, em setembro, e um “grande projeto de Natal”, que será muito mais do que um simples espetáculo, garante Rui Águas. “Estamos a pôr todo o cuidado no projeto de Natal. Queremos que seja um espetáculo muito forte e que fique na retina de todos.” Sem desvendar muitos pormenores, o presidente da Associação Setúbal Voz adianta que o coro vai fazer “uma prece de amor”, com música tradicional portuguesa e uma segunda parte de vertente clássica “para mostrar a qualidade dos instrumentistas e das vozes”.

Apesar de grande parte dos esforços da associação estar concentrada na preparação deste espetáculo, não são descurados outros objetivos nos quais trabalha “com grande amor à camisola”, desdobrando-se em contatos e na procura de apoios e parcerias. “A médio-longo prazo queremos dar relevo ao ensino do canto e ser uma voz forte no país em termos da preparação de pessoas para vários estilos musicais”, vinca Rui Águas.

Captação de jovens Manuela Palma Rodrigues recorda que “nas escolas oficiais não há ensino de música, apenas nos conservatórios”, logo, acredita que a associação, que integra pessoas com muita experiência de coro, “pode ser uma boa escola de música”. A captação de crianças e jovens para integrarem um coro infantil e juvenil é outra meta da associação, que, para já, tem apenas o coro adulto,

constituído por 35 elementos, a partir dos 15 anos, dos quais oito entraram já depois da formação do grupo. Rui Águas lamenta que os jovens não se interessem muito por esta atividade, pois “preferem música mais moderna”, mas a associação já trabalha num projeto a ser implementado nas escolas a partir de setembro para captar jovens e fazer audições. Ana Paula Rosa, que é também secretária da assembleia-geral, não tem dúvidas sobre os bons motivos que possam levar crianças, jovens e adultos a integrar o coro. “É uma boa atividade para qualquer pessoa que goste de cantar e de estar em grupo, ter amigos. Gera-se uma dinâmica de coletividade, de amizade, de união, e isso é muito importante na vida das pessoas. Temos empregos desgastantes e chegar àquela hora e, ao mesmo que levamos a sério, também descomprimir, é muito bom. Estamos a fazer algo que preenche as nossas vidas.” Desenvolver projetos em conjunto com outras associações é outra prioridade, pois, sublinha Maria do Carmo Nunes, “o coro está aberto à cidade e a todas as coletividades”. Nesse sentido, pretendem estabelecer parcerias com outras instituições para “desenvolver um trabalho de qualidade e dinamizar a cidade, abrangendo vários públicos”, sublinha Rui Águas. “Tanto podemos estar num espetáculo ao ar livre, como numa igreja a cantar música clássica. É essa a versatilidade que o coro terá.” A meta, conclui Rui Águas, é “construir uma marca, que é Setúbal Voz, e cativar as pessoas”.


memória

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Da malha urbana faz parte o Aqueduto dos Arcos, cuja arcaria acompanha uma parcela do Parque da Algodeia, continuando pela Estrada das Machadas. Geometria racional, ferido em terramotos devastadores, o aqueduto atravessa a história da água em Setúbal

História

ARCOS. Construção quatrocentista, é uma das obras de arquitetura civil mais marcantes da cidade. Imagem de 1967 do Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro

Nos caminhos da água Hoje é banal abrir uma torneira e sair, imediatamente, água. Mas nem sempre foi assim. Levar água às populações foi uma preocupação contínua, de séculos, milénios, e, a concretização de tal feito, um esforço hercúleo. E por falar em Hércules: os romanos estabeleceram o paradigma dos aquedutos, construindo as obras hidráulicas por todo o império. Em Setúbal, o herói foi outro. D. João II, chegado à vila a 18 de julho de 1484 para aqui viver durante vários períodos do reinado, foi o responsável pela edificação do Aqueduto dos Arcos, em 1487. Apesar de a vila possuir terrenos férteis, com vegetação e abundância de água no solo, a população setubalense sempre sofreu com problemas de escassez deste recurso. As fontes e os poços eram o único abastecimento. Em “D. João II: As Águas”, de Almeida Carvalho, o historiador escreve que o rei, “estando em Setúbal, vendo a falta que na villa havia de água, aconselhou os seus habitantes” a contribuírem para a edificação de um aqueduto que conduzisse água a partir de Alferrara, em Palmela. O historiador relata que os setubalenses “lhe responderam que não o podiam fazer por sua pobreza, pois que pagavam grandes tributos”, mas “El -Rey lhos diminui logo, reduzindo-os a metade, porque da outra lhes fez donativo para construírem o aqueduto”. A função era bastante prosaica e, todavia, essencial: o abastecimento de água à vila por conduta subterrânea.

Pago com dinheiro do rei e do município, surgiu assim a primeira rede de abastecimento a Setúbal. A água vinha da Alferrara até à arca d’água localizada na Rua do Buraco d’Água, atual Rua Tenente Valadim, e dali até ao Largo do Sapal, a atual Praça de Bocage. José Augusto Rebelo, no livro “Conheça um pouco mais de Setúbal”, dá conta de que “a água na nascente era abundante, mas ia ficando alguma pelo caminho, devido à canalização; e então quase toda a vila aqui vinha ao Sapal em busca da água, havendo mesmo quem a fosse vender às casas dos seus fregueses”. O chafariz era também constituído por uma pia para bebedouro de animais. Eram os aguadeiros galegos, com recurso a barris, os responsáveis pela distribuição da água pela vila. Vendiam-na em pequenos púcaros de barro ou ao domicílio. A devoção

destes profissionais impedia, muitas vezes, os populares de encherem os cântaros de água, gratuita nas origens, o que motivava rixas e obrigou à aprovação de posturas municipais para o controlo da situação.

Funcionalidades distintas Os regadores de relva são agora a única presença aquífera perto dos arcos. Mas, durante mais de três séculos, o aqueduto serviu de alimentador para diferentes chafarizes. Apesar de a água chegar ao centro da vila, no século XVII ainda havia reivindicações da população em face da escassez, principalmente durante o verão. “As abadessas do Convento de Jesus fizeram, em 1671, uma petição para que se lhes pudesse dar, com o consentimento da Câmara de Setúbal, um anel de água da que ia para o Sapal”, elucida José Augusto Rebelo.

Nascente na Arca d’Água, em Alferrara, depois de São Paulo, onde ainda restam vários vestígios dos arcos que, durante quatro séculos, abasteceram a cidade de água

O pedido foi logo aceite. Por ordem do Rei D. Manuel I, a água corria até à fonte localizada no claustro do mosteiro. Anos mais tarde, foram também tirados anéis para o abastecimento da Fonte do Rossio do Anjo da Guarda, no Parque do Bonfim, criada durante o reinado de D. Pedro II, mas destruída devido ao terramoto de 1755. Veio a ser reconstruída no reinado de D. Maria I para, em 1878, ser demolida. Do aqueduto seguia ainda um anel de água desde o Buraco d’Água, na Tenente Valadim, até à Fonte de Palhais, no Quebedo, construída por ordem do Marquês de Pombal, em 1772. Desta fonte, ainda presente no local nos dias de hoje, partia outro anel para o Convento das Bernardas, situado próximo daquele chafariz. Já no século XIX foram efetuadas reparações no aqueduto de forma a não perder a água que por ele corria até aos chafarizes da cidade, e iniciou-se a construção de um novo reservatório, nas Fontainhas. Toda a terminologia associada ao Aqueduto dos Arcos, classificado atualmente como Imóvel de Interesse Público, forma uma história poética que ilustra o processo de levar água a vários cantos e recantos da vila. A nascente em Alferrara e o aqueduto eram as “mães d’água” e os chafarizes, metaforicamente, os filhos. Com a mãe e os filhos, concretizou­ ‑se o sonho de abastecer Setúbal de água, cumprindo a proposta impulsionada por D. João II.

Vestígios de hoje Desde o Parque da Algodeia até à Quinta da Arca d’Água, em Alferrara, é possível encontrar pedaços e vestígios que restam do aqueduto. Junto da rotunda da “via rápida”, ainda na Rua dos Arcos, estão oito dos arcos do aqueduto no passeio. Continuam do outro lado da rotunda, encostados a uma habitação. Seguindo-se pela Estrada das Machadas, na direção de São Paulo, surge do lado esquerdo, apesar de a construção se confundir com um simples muro e, nalguns troços, se encontrar disfarçado pela vegetação. Para se continuar a acompanhar o aqueduto é necessário virar num caminho à esquerda, pouco depois de uma quinta. Os arcos aumentam de altura e continuam a confundir-se com um muro, sendo utilizados como tal pelas quintas existentes. A dúvida de que se trata ou não do aqueduto acaba quando se espreita para o topo, onde é possível ver a caleira da água. Prosseguindo o caminho, o aqueduto aumenta de altura, para compensar o declive da encosta, terminando na Arca d’Água.

Terramoto danifica Almeida Carvalho deixou um documento intitulado “Fonte do Sapal; Terramoto de 1755 e as águas”, no qual descreve os danos causados após o sismo. “O grande terramoto havia concorrido para que neste ano havia mais falta de água, porque em caso geral havia tido muita ruína, desabando em pontes o aqueduto, e caindo muitos dos arcos.” Poucos anos depois, em 1763, Setúbal é de novo assolada por um violento terramoto, que, além de provocar inúmeras vítimas, destruindo várias casas do centro histórico, principalmente na zona do Troino, abala monstruosamente o aqueduto, “de modo que se achava no mais avançado estado de ruína”. Alvo de recuperação, os arcos continuaram a levar água até ao século XIX.

Fontes “Conheça um pouco mais sobre Setúbal”, José Augusto Rebelo, Setúbal, 1992 “D. João II: As Águas”, Almeida Carvalho, Arquivo Distrital de Setúbal, 1840-1897 “O Património de Água Pública em Setúbal”, in Atas do Ciclo de Conferências sobre “Água e Património”, associado à exposição “Aquedutos de Portugal”, Manuela Tomé, Setúbal, 2011 “Memória sobre a História e Administração do Município de Setúbal”, Alberto Pimentel, Lisboa, 1877 “Fonte do Sapal; Terramoto de 1755 e as águas”, Almeida Carvalho, Arquivo Distrital de Setúbal, 1840-1897


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Edíficio

Botequim de nostalgia

A linha férrea de Setúbal não estava concluída e ainda nem sequer havia iluminação a gás quando o Café Esperança abriu. Durante três séculos, além de botequim, foi também espaço de convívio. Agora, dá lugar a uma cadeia internacional de restauração. Emblemático para a história dos cafés de Setúbal e modificado radicalmente com novas funções, o Esperança, que funcionou até aos anos 90, onde hoje está instalado o McDonald’s, era um espaço “luxuoso, não obstante a areia [de Troia] que cobria sempre o sobrado”, como descreve Maria da Conceição Quintas na “Monografia da Freguesia de São Julião”. As portas abrem a 29 de agosto de 1858 na Avenida Luísa Todi pelas mãos de José Maria Lapido, num espaço que escapa às ruas estreitas e medievais que compõem a parte antiga da cidade. A primeira planta do edifício dá conta de que a sala do café, dominada por um candeeiro de cristal, estava dividida ao meio por um arco e tinha “sete ou oito” mesas com tampo de pedra. As cadeiras, a imitar bambu, tinham assentos de palhinha, assim como as bancadas laterais. As paredes destacavam dois espelhos, emoldu-

rados a dourado, envolvidos por tule cor-de-rosa, e imagens de mulheres orientais, também em tons de dourado. A sala tinha dois compartimentos, um virado para a praia, onde os clientes jogavam cartas, outro no interior, onde se encontravam as bebidas, preparadas no “laboratório”, um balcão situado num corredor à direita do café. A partir desse corredor abria-se uma porta para o botequim, uma pequena sala que continha a porta de entrada, uma abertura envidraçada, oval, onde se expunham os antigos licores da casa. Separada da cozinha por um balcão estava a adega do Esperança, mais tarde transformada em barbearia. No livro “Para a História do Club Setubalense”, Carlos Mouro e Horácio Pena escrevem que o Café Esperança “era frequentado por gente do cais, carregadores, catraeiros, pequenos negociantes de peixe, frequência que passou para a taverna do Patrão João, ali perto”. Um pouco acima do café ficava a sala de bilhar que, simultaneamente, servia para jogos de gamão, dominó e damas. Às referências positivas à arquitetura do espaço juntam-se os elogios

Estória

Visitante ilustre

Setúbal recebeu há 150 anos Hans Christian Andersen, o “pai” da literatura infantil, numa viagem que durou 32 dias, com passagens por vários locais da cidade. Autor de vasta obra, Hans Christian Andersen permaneceu durante três meses em Portugal em 1866, a convite de Jorge Torlades O’Neill e José O’Neill, com quem privou em Copenhaga entre 1828 e 1832, quando os dois irmãos permanecerem naquela cidade para aprender o idioma dinamarquês. Para o criador de personagens como “O Patinho Feio”, “A Pequena Sereia” e “O Soldadinho de Chumbo”, a viagem era um imperativo de

vida para, depois de cada trajeto, escrever a partir de apontamentos que tomava em diários íntimos e de correspondência que enviava para amigos. Na passagem por Setúbal, que decorreu entre 8 de junho e 9 de julho de 1866, o escritor dinamarquês ficou instalado na Quinta dos Bonecos, na Estrada das Machadas, morada de Carlos O’Neill, irmão de Jorge e José O’Neill. Ali deleitou-se com a exuberância da vegetação. “Que cores magníficas! E que variedade de flores! Até das frestas das paredes irrompiam cravos e catos que na nossa terra, no Norte, seriam

culinários. O estabelecimento prosperou, e muito. A partir de 1870, Arronches Junqueiro passou a ser freguês assíduo, sempre acompanhado do pai, que tomava “capilés no verão e queijadas de Lisboa, por ocasião da feira que se estendia mesmo em frente”.

Espaço de tertúlia Sedutor para os setubalenses e para um elevado número de turistas, o que tornava “em certos dias muito extraordinaria ali a concorrencia”, o

Café Esperança albergou várias histórias, épocas e pessoas. Rezam as crónicas que depressa se tornou um espaço conceituado para a burguesia da cidade. “Effectivamente o Café Esperança, tanto no serviço como na disposição dos bilhares, rivalisa com os principaes cafés de Lisboa”, noticiava o Diário Ilustrado, a 23 de julho de 1875. Espaço de tertúlia incontestável, onde se abordavam temas como as touradas, muito concorridas na época, como aludem Carlos Mouro e Horácio Pena. “Saímos da praça e

CAFÉ. Interior do café do Hotel Esperança. Imagem de 1948 do Arquivo Fotográfico ­Américo Ribeiro

cultivados em estufas”, escreveu em “Et Besøg i Portugal 1866” (“Uma visita a Portugal em 1866”). Os arredores da cidade também mereceram elogios. “Senti-me repleto da delícia da natureza no ar claro, suave e quente”, registou sobre a Serra de São Luís. “Era uma verdadeira ida à igreja na grandiosa e estrangeira natureza de Deus.” Por ser filho de uma cidade fria, Hans Christian sofreu com o calor que “durante o dia quase não se conseguia suportar, mesmo sob a sombra mais cerrada das árvores”. Já a noite era “amena e refrescante”. Em Setúbal visitou ainda o Convento de Brancanes, o Castelo de Palmela, a Igreja de Jesus, “uma das mais belas igrejas”, fez uma excursão marítima a Arrábida e Troia, e assistiu a alguns festejos populares, como uma tourada a 29 de junho, Dia de São Pedro. Durante o alojamento na cidade, Andersen foi à Festa de Santo António, com “uma procissão inteiramente constituída por gente do mar”, com cantigas, músicas de flautas, tambores e fogueiras. Sensível e cauteloso, sofreu com os estrondos do fogo de artifício e dos foguetes, com a agitação do povo e com os solavancos da carruagem que o transportava. “Estava inteiramente preparado para a eventualidade de partir um braço ou uma perna”, constatou.

fomos direitinhos ao Esperança (essa espécie de centro misto em que ora se acaloram os políticos cá da terra) para ali ouvirmos a opinião de gregos e troianos e, afinal, sairmos dali ainda mais convencidos de que a corrida tinha sido das mais inferiores que os olhos dos aficionados têm presenciado.”

Chegada do hotel A partir de 1895, o café sofreu modificações. É trespassado a José Lourenço, um empregado, genro de José Lapido, antigo proprietário. Em 1901, fecha para obras e, em dezembro, do mesmo ano abre um hotel, propriedade da firma “Irmãos Lourenço & Lourenço”. Servia almoços e jantares, a 500 e 600 réis, respetivamente, numa ampla sala virada para a Avenida Luísa Todi. O hotel e o café encerram, reabrindo em 1938. O Hotel Esperança era agora a Pensão Esperança e o café foi “invadido pela rapaziada, perdendo o caráter de família”. O edifício foi demolido, assim como o prédio contíguo, sendo substituindo por uma nova construção, projetada pelo arquiteto Francisco Botelho de Souza, com inauguração a 28 de fevereiro de 1964.

Na rota de Andersen Quinta dos Bonecos A 8 de junho de 1866, chega a Setúbal, ficando instalado na morada de Carlos O’Neill, irmão de Jorge e José O’Neill, situada na Estrada das Machadas. Convento de São Paulo A cavalo, Andersen visita o mosteiro, na altura em estado de parcial abandono, com o filho de Carlos O’Neill. “Mas que paisagens se nos ofereciam quanto mais alto subíamos!” Castelo de Palmela e Serra de São Luís Nos dias seguintes conhece, a burro, aquela zona de “abundante e variada” vegetação. Por ali dá de caras com um caçador a descansar. “Era uma verdadeira imagem viva cheia de harmonia; o rosto corajoso, o sorriso melancólico nos lábios, posto ali pela mágoa do último mês.” Igreja de Jesus “Uma das mais belas igrejas pequenas que já vi”. É assim que o escritor a descreve. Arrábida e Troia Num passeio atribulado de barco por culpa da ondulação do rio Sado vê toda a costa da Serra da Arrábida, Troia, a “aldeia de pescadores, a Pompeia de Setúbal”, e as ruínas romanas. Brancanes Na última noite, Andersen visita o jardim do convento. “Ali havia uma calma, uma solidão e um aroma refrescante vindo das árvores e arbustos; as estrelas cintilavam”. A despedida de Setúbal é “cheia de melancolia”. No livro “Uma visita a Portugal em 1866”, faz um breve relato do último dia em Setúbal. “Dos muros do jardim, para o lado sul do horizonte, vi os contornos sombrios de Palmela, S. Luís, e toda a extensão da Serra

da Arrábida. Eram doravante para mim uma cena familiar, conhecida e amada.” Além de Setúbal, Hans Christian Andersen visitou Lisboa, Sintra, Coimbra e Aveiro.


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plano seguinte

A competência em desfazer defesas com a força e a técnica de um futebol avançado para a época foi tão famosa como a irreverência fora de campo. Um encontro recorda Vítor Baptista, o primeiro futebolista português a usar brinco. Era “O Maior”

Ascensão e queda de um mito O temível ponta de lança, que, após marcar um golo, parou um Benfica­ ‑Sporting à procura do brinco, é o tema de conversa de uma sessão do ciclo “Ao final da tarde...”, a realizar a 6 de outubro. O encontro, das 18h00 às 20h00, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, tem como mote o documentário/reportagem “O maior – a história de Vítor Baptista”, dos jornalistas do Expresso Joana Beleza e Pedro Candeias, que estão presentes. A iniciativa, de entrada livre, organizada pela Câmara Municipal de Setúbal, no âmbito de Setúbal Ci-

dade Europeia do Desporto 2016, conta com diversos convidados, alguns dos quais conviveram de perto com o homenageado, como amigos de infância e antigos colegas, incluindo o “irmão” Fernando Tomé, o que permite recordar e revelar alguns aspetos da vida intensa e curta de Vítor Baptista, falecido aos 50 anos. Setúbal, a terra de nascimento, a 18 de outubro de 1948, foi onde “O Maior” despontou para o futebol. Ingressou no Vitória Futebol Clube com 15 anos e rapidamente ascendeu à primeira categoria para viver

épocas de brilho, com golos atrás de golos. Pela mão do treinador José Maria Pedroto, subiu do meio campo para o coração da área e na última temporada nos sadinos apontou 22 tentos, quase suplantando outro temível goleador, mais refinado do que fogoso, Artur Jorge, com quem fez dupla de luxo, a partir de 1971, no Sport Lisboa e Benfica, já Eusébio caminhava para o ocaso da carreira. O fascínio pelas estrelas rock britânicas e norte-americanas do início dos anos 70 assentou como uma luva na personalidade rebelde de Vítor

Baptista, como aconteceu na mesma altura, em Inglaterra, com George Best, atacante do Manchester United, tão falado pelo que fazia dentro como fora das quatro linhas. Vítor Baptista jogou no Benfica até 1978, para voltar ao Vitória, a que se seguiram passagens pelo Boavista, Earth Quakes, dos Estados Unidos, Amora, Montijo, União de Tomar, Monte de Caparica e Estrelas do Faralhão, equipa que também treinou, em 1985/86. Foi o declínio de um craque dos relvados, com muitas tardes de glória no Vitória, no Benfica, mas também na

seleção portuguesa, que representou por 11 vezes, marcando dois golos. O encontro a realizar a 6 de outubro na Biblioteca vai lembrar um setubalense que conquistou a glória para, anos depois, perder tudo e acabar num quadro de degradação e miséria, vindo a morrer a 1 de janeiro de 1999. O brinco, que começou a usar antes do 25 de Abril, o ar de rock star, o potente Jaguar 4.2, a boémia e, depois, as teias da droga ajudaram a construir o mito Vítor Baptista. Quem o viu jogar recorda o talento de um grande avançado português.

Bocage musicado

Semana oferece visitas a navios Visitas aos navios Sagres e Creoula e à caravela Vera Cruz, veleiros ao luar com street food e animação musical, e passeios em embarcações tradicionais são atividades da Semana do Mar – Setúbal 2016, que decorre entre 10 e 16 de outubro. O evento, organizado pela Câmara Municipal e pela Administração

dos Portos de Setúbal e Sesimbra, de celebração da relação da cidade com o rio através de um conjunto de iniciativas abertas à população, inclui ainda o seminário internacional “Valorização Sustentável dos Recursos do Mar – Oportunidades da Economia Azul para a Região de Setúbal” e a exposição “Saberes das Artes de Pesca no Sado”.

Christopher Bochmann homenageia Bocage num espetáculo a realizar a 28 de outubro, às 21h30, no Fórum Municipal Luísa Todi. O músico apresenta, na primeira parte do concerto, incluído nas Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, “O Suspiro do Rouxinol”, inspirado no soneto do poeta “Olha Marília, as flautas dos pastores(...)”, com a participação da mezzo-soprano Suzana Teixeira, acompanhada de Fernando Pernas, no clarinete, e Ana Teles, piano. Na segunda parte, os agrupamentos Paganinus e Violetas e a Orquestra de Violoncelos do Conservatório Regional de Setúbal interpretam Bach, Haendel, Purcell, Tellemann e Vivaldi. Os bilhetes são a quatro euros para o balcão e cinco para a plateia.

Palestra lembra visita de Andersen à cidade Setúbal volta a receber Hans Christian Andersen, agora em forma de palestra, que se realiza a 28 de outubro, às 21h30, na Biblioteca Pública, numa iniciativa organizada pela Synapsis e pela Câmara Municipal. O encontro assinala os 150 anos sobre a visita e que o escritor dinamarquês fez a Portugal, em 1866, com João Reis Ribeiro a abordar as

impressões dessa viagem de três meses ao país. O “pai” da literatura infantil esteve 32 dias em Setúbal, onde conheceu, entre outros locais, a Serra de São Luís, o Convento de Brancanes, o Castelo de Palmela e a Igreja de Jesus. Fez uma excursão marítima a Arrábida e Troia e assistiu a festejos popu­lares.


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