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elhor amigo, companheiro. Para alguns, confidente. Para cada vez mais, parte da família. Há 10 mil anos o homem domesticou animais, em um primeiro momento, apenas para sua utilização prática, e, até hoje, destina grande parte da sua atenção à criação dos bichinhos. No último ano, o faturamento da indústria pet foi de cerca de R$ 15 bilhões, em um número

Em meio a este cenário de proporções impressionantes, nascem dezenas de milhares de novos animais todos os dias, muitos deles na rua. Mas tantos outros são simplesmente deixados de lado, ficando à beira da morte. Na melhor das hipóteses, os 30 milhões de cães e gatos abandonados no Brasil, número estimado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), serão vítimas da subnu-

hador para encontrar um lar para o pet. É o caso da Associação Vida, de Taubaté, interior de São Paulo. Sustentada exclusivamente por doações e mantida somente por voluntários, a Associação mantém hoje mais de 600 cães e gatos abandonados, mais do que o próprio centro de Zoonose da cidade. “Nós baseamos o cuidado dos animais na adoção provisória.

que, espera-se, deve crescer em ao menos 10% neste ano. Não é difícil encontrar filhotes de cães ou gatos sendo vendidos por preços exorbitantes, e mesmo os que não alcançam tais valores, fazem parte de um mercado inesgotável.

trição e de mal tratos. Preocupadas com esta realidade, pessoas comuns vêm se unindo e, voluntariamente, tentando mudar a sorte destes animais. ONGs e associações são criadas em todo o país, recolhendo, cuidando e trabal-

O voluntário, que ama os animais e quer ajudar, abriga um ou mais deles. Por conta do voluntário fica a moradia, o carinho e o compromisso de comparecer nos eventos de adoção. A Associação fica responsável pelos custos de criação.”

Adotando uma nova postura, ganhando um amigo Por Renan de Jesus Soares


CRÉDITOS DE TODAS AS FOTOS: Renan Soares

Animais aguardam a hora de serem adotados e chegarem em uma nova casa. A maioria dos animais da ONG são doados, encontrados nas ruas ou que sofreram maus tratos, e não são apenas filhotes para serem adotados.

Cartaz da Associação Vida, em Taubaté, que se mantém apenas com doações e voluntários, e já é maior que a própria zoonose da cidade.

Quem explica é Afonso Neto, de 53 anos, presidente da Associação. “Não trabalhamos com abrigo porque acaba em superlotação, o que não bom para o animal” - e continua - “Quando junta muitos cachorros em um espaço pequeno, fica desconfortável e aumenta as chances de proliferação de doenças.” Afonso é empresário e precisou de apenas dois amigos e uma grande iniciativa para criar a associação. Hoje eles contam com um escritório no centro da cidade, corpo administrativo, conselho fiscal, relações públicas e duas páginas no Facebook, com mais de 5 mil seguidores. Todos os fins de semana a Associação Vida monta seu evento de adoção, como Afonso faz questão de chamar, na praça mais movimentada da cidade, a Santa Teresinha. Exceto aos

primeiros domingos de cada mês, quando o centro de Zoonose leva seus animais para serem adotados. “A Zoonose tem hoje 378 animais que precisam de um lar, por isso tentamos trabalhar juntos.” Afonso explica também que para adotar é preciso, além de comprometimento, algum critério por parte da Associação. Quem vai ao evento e se apaixona por um dos cãezinhos ou gatinhos precisa, para levar o novo amigo para casa, de um cadastro que conta com documentos pessoais e comprovante de residência, e também do pagamento de uma taxa de R$ 30 para machos e R$ 40 para fêmeas, valor referente à castração dos animais. Embora o funcionamento das atividades dos voluntários seja exemplar e tenha resultados expressivos, ainda não dá con-

ta da demanda de animais que são deixados nas ruas. Todos os dias a Vida Taubaté recebe cerca de 40 ligações de pessoas que não têm condições de manter um animal ou denunciando outros em condições sofríveis. Quem procura a Associação para deixar um animal recebe a oportunidade de se tornar um lar provisório, mas, se mesmo assim não pode cuidar do bichinho, é convidado a participar dos eventos, pois toda ajuda é bem vinda. Quem ajuda uma instituição como essas garante que o retorno é imensurável, e algumas dessas pessoas não acredita em limites na hora de ajudar. É o caso de Solange de Paula, de 30 anos, comerciante, que abriga em sua casa 46 cães e gatos em estadia provisória. “Quando comecei, foi com a intenção de ajudar a (Associação) Vida

abrigando um ou dois bichos. Mas vão chegando mais e mais e fica difícil negar um cantinho de amor para eles.” Mas não somente por meio de instituições formais se ajuda na adoção de animais. Perto da praça onde os eventos são realizados, mora a Dona Maria Lúcia, de 69 anos. Quem passa pela frente da sua casa repara em duas peculiaridades: felinos pelos muros e uma simpática placa em que se lê “doa-se lindos gatinhos”. Na casa da aposentada, apaixonada por gatos, moram cerca de 80 animais. E o número é vago mesmo, pois nem mesmo Dona Lúcia sabe quantos são. “Tem gente que deixa gato aqui, tem gente que deixa ração, e assim eles vão ficando. Mas sempre aparece alguém querendo levar um filhote.”

De uma forma, ou de outra, ou de outra, ou de outra; são muitas maneiras de contribuir para melhorar a situação dos animais abandonados. Muitas vezes, um amigo adotado devolve o carinho com ainda mais

dedicação, grato pelo lar que ganhou. Não cabem julgamentos, mas, se for comprar um amigo de estimação, desses de outra espécie, conheça primeiro alguns dos que estão para adoção.


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