Reportagem camila gregori

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ATUALIDADE

Saindo debaixo da asa As desventuras e os aprendizados de sair da casa dos pais antes dos 25 anos Texto por Camila Gregori Imagens por Camila Gregori e dos arquivos pessoais dos entrevistados

Na foto: bichinho de pelúcia na cama de Renata que lembra o seu cachorro da casa dos pais

“L

iberdade para eu fazer o que quiser, quando quiser, com quem quiser”, “não acordar com barulho e conversas logo pela manhã”, “o aprendizado que levamos pra vida adulta” e “não ter horário”. Quando se pergunta para um jovem as vantagens de se morar sozinho, muitas das respostas serão essas frases. A liberdade é o ponto mais atrativo da situação, mas as responsabilidades acabam se tornando ainda mais importantes para a vida. A partir dos 17 anos começa aquela fase da vida de muita gente onde surge um dos grandes empecilhos da vida adulta: sair ou não da casa dos pais? Para muitas pessoas isso acaba nem sendo uma opção, principalmente se a faculdade não for na cidade ou estado em que mora. Mas para algumas pessoas vem daquela vontade de ser livre, de ter o seu espaço no aglomerado da cidade. A necessidade da mudança foi o motivo de Plaisla Cáceres, 20, estudante de Ciência Forenses e Criminais no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz nos arredores de Lisboa. Como o curso não tem no Brasil, a primeira opção foi ir para Portugal, onde ela mora em uma residência universitária. Apesar da distância quem ainda paga as contas são os pais, pois não há a possibilidade de estágio no momento. “Já não sinto que pertenço mais a casa dos meus pais, mas ao mesmo tempo sinto falta de carinho e atenção todo dia”, diz.

A estudante de Direito na UniCuritiba Renata Serapião, 19, também se mudou para estudar. Por mais que houvesse o curso em seu estado, estudar fora sempre foi uma opção, principalmente depois do intercâmbio de um ano na Itália. Ela mora em um flat com cinqüenta jovens, mas não divide apartamento com ninguém. “Temos uma sala, uma cozinha, uma academia e uma lavanderia em comum, mas ainda mantemos nossa privacidade por não

“Sem dúvida é o

aprendizado para a vida adulta o que mais importa morando sozinha. É a melhor coisa para crescer” Renata Serapião

dividir quarto com ninguém e também não estamos sozinhos” ela afirma. O maior dilema entre morar fora da casa dos pais é se compensa dividir com outras pessoas, em uma república estudantil ou um apartamento com as pessoas mais próximas, ou ficar sozinho. Lucas Besseler de Freitas, 20, prefere ficar sozinho, pois tem maior liberdade, mas admite que as vezes sente falta de alguém para conversar. Já Luan Passafaro Basile, 20, prefere dividir apartamento

com alguns amigos. As contas ficam mais baratas, todas as tarefas são divididas igualmente e há tanto companhia quanto uma certa liberdade. Estudar em outro estado tem sido uma opção cada vez mais comum desde o surgimento do SISU – Sistema de Seleção Unificada, onde os estudantes podem ingressar em faculdades federais e estaduais fazendo apenas a prova do ENEM. Como essas faculdades são públicas, acaba ajudando com o custo de moradia, afinal na maioria dos casos os pais ajudam os filhos a se sustentarem por um tempo considerável, mesmo já trabalhando. Mas esse não foi o caso de Augusto Félix Goes, 20, que divide um apartamento com seu irmão gêmeo, Victor. Os dois saíram da casa dos pais pois ficava muito caro irem e voltarem todo dia de outra cidade. Procuraram emprego em São Paulo, e durante um ano Augusto trabalhou como Analista de Sistemas e Desenvolvedor de Softwares, pagando assim as contas. Agora, estudante da POLI-USP ele se sustenta com bolsas da faculdade. Os pais não pagam mais nada para os dois, apenas eventuais coisas para o apartamento. O grande impasse na hora de sair da casa dos pais é escolher a melhor opção de moradia. As repúblicas estudantis são sempre uma boa opção para quem está entrando na faculdade, e acabam dividindo os custos. O problema acaba sendo a falta de


CRÉDITO: Camila Gregori

A estudante de Direito, Renata Serapião mora em Curitiba e os pais em Jundiaí - SP. Para ela, cada dia é uma nova descoberta (e as lembranças ficam nas prateleiras e fotos).

privacidade. Quem prefere privacidade e ficar sozinho encara os altos preços. Um aluguel em São Paulo pode variar de R$200 a R$980.000 dependendo da região escolhida. Os preços em outras cidades acabam sendo mais baixos, mas também há menos opções. Além de procurar o melhor lugar para morar, surgem outras preocupações e custos. Em relação a faxina a opção mais comum é ter uma faxineira que vá periodicamente, e o jovem faça as limpezas básicas. Quando se divide o apartamento, Luan explica que acabam dividindo todas as tarefas. E Augusto concorda, “nós dividimos todas as atividades, e damos

cobertura um ao outro quando uma das nossas agendas está muito cheia, é uma questão de conversar”. A comida acaba sendo outra coisa a se pensar e incluir nos gastos. Algumas universidades tem restaurantes no campus, o “bandeijão”, e por ser barato é uma boa opção. Mas a maioria dos jovens prefere cozinhar, por uma questão de custo e por ser mais saudável. “Quando estou com vontade de comer alguma coisa diferente de arroz, salada e frango acabo indo a um restaurante, mas geralmente sou eu quem cozinho” diz Renata. Já o estudante Victor Hugo Lopes, 20, prefere comer fora de casa, pela praticidade. “Na

Bolívia, eu tinha que cozinhar, porque os restaurantes de lá eram um pouco sujos e as comidas me faziam mal. Então, na marra tive que aprender a cozinhar”. Para quem mora em São Paulo, comer fora de casa acaba sendo um custo muito alto, mas em Curitiba acaba compensando ir a restaurantes diferentes quando se tem vontade, como explicou Renata. Já Augusto também aprendeu a cozinhar morando fora, mas usava o vale refeição do trabalho para ajudar. E por mais que a liberdade seja linda e sedutora, a saudades de casa volta nas horas mais inesperadas. Renata sente falta da família e dos amigos, “e

sem dúvida nenhuma do meu cachorro”. A casa dos pais traz a sensação de que você sempre terá um lugar para voltar e ficar, além dos pequenos mimos, como carinho dos pais e comida da avó. “Acho que a coisa mais marcante que aconteceu comigo desde que saí de casa, foi a minha primeira noite que eu e minhas vizinhas ficamos acordadas para assistir série e comer brigadeiro e pipoca. Foi muito divertido, mas no dia seguinte acordei com aquele sentimento de “se arrependimento matasse” diz Renata rindo. Quando questionada se voltaria a morar com os pais ela nega, falando que se um filho está apto a morar sozinho aos 20 anos, ele estará cada vez mais preparado para isso. Estudar em outro estado tem sido uma opção cada vez mais comum desde o surgimento do SISU – Sistema de Seleção Unificada, onde os estudantes podem ingressar em faculdades federais e estaduais fazendo apenas a prova do ENEM. Como essas faculdades são públicas, acaba ajudando com o custo de moradia, afinal na maioria dos casos os pais ajudam os filhos a se sustentarem por um tempo considerável, mesmo já trabalhando. Mas esse não foi o caso de Augusto Félix Goes, 20, que divide um apartamento com seu irmão gêmeo, Victor. Os dois saíram da casa dos pais pois ficava muito caro irem e voltarem todo dia de outra cidade.

CRÉDITO: Arquivo pessoal

No apartamento de Augusto, amigos e familiares deixam recados na parede para diminuir a saudades (ou quase).

Procuraram emprego em São Paulo, e durante um ano Augusto trabalhou como Analista de Sistemas e Desenvolvedor de Softwares, pagando as contas. Agora, estudante da POLIUSP ele se sustenta com bolsas da faculdade. Os pais não pagam mais nada para os dois, apenas eventuais coisas para o apartamento. O impasse na hora de sair da casa dos pais é escolher a melhor opção de moradia. As repúblicas estudantis são sempre uma boa opção para quem está na faculdade, e dividindo os custos. O problema acaba sendo a falta de privacidade. Quem prefere privacidade e ficar sozinho encara os altos preços. Um aluguel em São Paulo pode variar de R$200 a R$980.000 dependendo da região escolhida. Os preços em outras cidades acabam sendo

mais baixos, mas também há menos opções. E por mais que a liberdade seja linda e sedutora, a saudades de casa volta nas horas mais inesperadas. Renata sente falta da família e dos amigos, “e sem dúvida nenhuma do meu cachorro”. A casa dos pais traz a sensação de que você sempre terá um lugar para voltar e ficar, além dos pequenos mimos, como carinho dos pais e comida da avó. Apesar de todas as dificuldades encontradas, dos altos preços, dificuldades para se sustentar, morar fora acaba sendo uma aventura e um grande aprendizado. A casa dos pais ainda é um porto seguro e local de conforto, mas todo o aprendizado adquirido nas noites sozinhas – ou compartilhadas com colegas de casa – é algo que se leva para a vida toda.


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