bicicleta e mobilidade urbana em s達o paulo caderno 4 ser-ciclista
trabalho final de graduação FAU USP junho 2012 Camille Laurent orientador Prof. Alexandre Delijaicov
bicicleta e mobilidade urbana em s達o paulo caderno 4 ser-ciclista
Valdinei Calvento igualvoce. wordpress.com
O trânsito caótico da cidade e o congestionamento permanente são problemáticas cotidianas do paulistano. O estresse, os problemas de saúde pública e ambientais são consequências de uma política pública de mobilidade baseada nos automóveis. O poder público não se preocupa em buscar e desenvolver outros tipos de transporte, o padrão é sempre do transporte motorizado e individual e todo o planejamento urbano é feito para esse tipo de transporte. O carro é uma prolongação da casa, um lugar individualista e privado que anda e ocupa espaço nas ruas que são públicas. Ele deixa os usuários isolados, sem contato com o mundo exterior e sem relação com os outros. Apoiando essa cultura individualista, torna-se extensão do motorista, oferecendo um suposto poder e uma força sobre os outros. Ele é representação da sua classe social, de quem você é. Dirigindo um carro, você se deixa alienar pela sociedade, que te ensina que ele é o único meio de transporte eficiente. Sua visão da cidade é diretamente ligada ao uso do seu carro; você vê a cidade de dentro de uma caixa, dentro de um percurso predefinido. Você torna-se vítima do trânsito, vítima do seu carro, vítima de sua própria atitude, ficando horas preso sem trafegar. O trânsito e o congestionamento não ajudam a ser mais humano, mais paciente, você simplesmente tem que chegar, chegar rapidamente e os outros atrapalham. O uso da bicicleta, ao contrário, motiva um comportamento mais humano. Primeiramente, em relação ao seu próprio corpo. Começando a pedalar, você se reapropria do seu corpo, começa a ter consciência de como ele funciona e de quem você é. Por estar consciente do esforço e por perceber
como seu corpo trata e recicla sua energia você se torna mais sustentável (ver entrevista Renata Falzoni). Respeitando o próprio corpo, você começa a procurar lugares mais agradáveis e mais sustentáveis. Sua alimentação muda, seus costumes mudam, o meio ambiente diretamente ligado a você começa a se transformar. Toda essa transformação acontece principalmente porque estão diretamente ligadas ao seu ser humano, são mudanças internas. Começando a pedalar todos os dias, você se reapropria também da cidade. Sua visão sobre ela muda, o tempo muda. Ao invés de ficar preso no congestionamento, de bicicleta você passa. O carro é dependente das condições do trânsito, já a bicicleta não se escraviza, pois oferece essa possibilidade de passar, de sair da rota. O tempo dos percursos se torna uma ciência exata, independente dos horários de ônibus, do trânsito, dos metrôs lotados ou da falta de transporte em vários lugares. Seu tempo muda, sua cidade e seus caminhos mudam junto. Procurando aruas menos íngremes, com asfalto bom e menos trânsito, você acaba descobrindo uma nova cidade. Os percursos não são a linha direta entre dois pontos da cidade, mas um caminho mais agradável. O deslocamento fica mais seguro, pedalando você vai de porta a porta, sem ficar parado nos lugares. Há a possibilidade de experimentar novos percursos sem o medo de encontrar congestionamentos ou uma rua na contramão, é possível descer da sua bicicleta e andar a pé, parar a qualquer momento e em qualquer lugar.
Ciclistas não se focam em nível social, lugar de moradia ou qualquer critério econômico, mas apenas em ser ciclista. Pedalar nas ruas traz uma liberdade muito grande, não há mais classe social nem origem, só o seu corpo interagindo com a cidade. Ao se deslocar de bicicleta todos são iguais. Diariamente pessoas se conhecem, se encontram, trocam dicas sobre o trânsito e as melhores rotas. As bicicletas favorecem encontros de pessoas de diferentes meios, diminuindo as distâncias sociais entre elas. Para quem pedala, todos esse pontos parecem óbvios, são coisas que podem ser vivenciadas todos os dias, a maioria dos ciclistas urbanos conhecem e praticam essa vida diferente, sendo cicloativista ou não. Mudando sua vida e seus costumes em relação à cidade, eles influenciam diretamente a vida dos outros, seja mostrando uma nova possibilidade de locomoção ou simplesmente melhorando o seu cotidiano, sendo um carro a menos para poluir e congestionar São Paulo.