bicicleta e mobilidade urbana em s達o paulo caderno 5 ciclo ativismo
trabalho final de graduação FAU USP junho 2012 Camille Laurent orientador Prof. Alexandre Delijaicov
bicicleta e mobilidade urbana em s達o paulo caderno 5 ciclo ativismo
A bicicletada, ou massa crítica, é um evento mundial que acontece em várias cidades do mundo, inclusive São Paulo. Surgido em 1992, nos Estados Unidos, com o nome critical mas, a ideia é promover o encontro de ciclistas a fim de pedalar pela cidade e divulgar a cultura da bicicleta como meio de transporte, não motorizado, e como uma alternativa de vida mais sustentável e agradável. A bicicletada é um movimento horizontal independente, sem líderes: os passeios são organizados pelos próprios participantes e acontecem uma vez por mês. Com uma causa em comum, várias pessoas – com gostos pessoais e opiniões diferentes – se juntam para afirmar e apoiar a possibilidade de pedalar na cidade, dando, assim, maior visibilidade ao ser-ciclista. São várias as reivindicações, a primeira é de poder pedalar, ter o direito e o respeito de todos nas ruas e as compartilhar. A frase “Não estamos atrapalhando o trânsito, nós somos o trânsito” mostra essa vontade de ser aceito e respeitado como mais um tipo de transporte. Muitos movimentos de cicloativismo nascem na bicicletada, pois nela se juntam pessoas com ideias com um forte ponto comum: a paixão – ou o interesse – pela bicicleta. É um momento de encontro, em que cada ciclista da cidade pode pedalar com vários outros com segurança; esse suporte ajuda as pessoas a se sentirem bem pedalando. De movimentos que surgiram na bicicletada, podemos citar: o Bike Anjo, as Pedalinas), o Pedal Verde, a Ciclocidade, a Cicloliga... são tantos movimentos quanto a vontade de ter uma cidade diferente, com mais bicicletas nas ruas e novas formas transporte. Cada movimento se organiza de uma forma diferente – podendo ser coletivos, associações ou ONG’s
Ciclistas na bicicletada, Praรงa do Ciclista Fotos Camille Laurent
– e tem sua finalidade, além do apoio comum à bicicleta. Alguns deles se orientam mais para o desenvolvimento de projetos políticos, no sentido de interferir com o poder público, provocar, interagir e propor soluções em relação à mobilidade e ao lugar das bicicletas nas ruas. Dois exemplos são a Cicloliga e a Ciclocidade. A Cicloliga é a junção de quatro coletivos de ciclista: o Bike Anjo, o Coletivas, o CRU e o site Vá de bike. Eles se juntaram a fim de expandir seu universo de ação, com uma finalidade mais política, utilizando-se sempre de dois mecanismos: um vídeo (difundido na internet) denunciando e chamando o público para a causa e a redação de cartas depois enviadas ao poder ou organismo “atacado”. No começo de 2012, foi feito um primeiro vídeo sobre o uso da bicicleta no metrô, denunciando a dificuldade do acesso; esse vídeo fez um grande sucesso na internet e possibilitou a liberação do uso das escadas rolantes para subir com a bicicleta. Esse exemplo mostra como um grupo pode mudar algumas coisas na sociedade, fazendo ações fortes e criando um contato, abrindo uma conversa com os órgãos responsáveis pela mobilidade urbana. Em 2009, surgiu a Ciclocidade. Percebendo a força da bicicletada, alguns ciclistas decidiram se organizar a fim de ter uma instituição legal que representasse os ciclistas urbanos. Inicialmente, a ideia era ser um órgão de defesa do ciclista; hoje em dia, seu campo de proposição se estendeu para promover a bicicleta como instrumento de transformação da cidade de São Paulo. Seu caráter é político desde o início, apesar de tratar também de outros assuntos. Ela se organiza em 7 áreas,
Pág. anterior: ciclistas na bicicletada, em “die in”, em protesto à violência do trânsito.
4 de suportes – que são os associados, o desenvolvimento institucional e a comunicação e a tecnologia – e mais 3 áreas de atuação, pesquisa, cultura e formação e participação pública. Essas áreas funcionam independentemente umas das outras, se juntando nas reuniões ou com os associados, que participam em várias delas. Em se tratando de sua atuação política, este ano, no contexto das eleições, a Ciclocidade fez pesquisas com os usuários de bicicletas, entrou em contato com todos os candidatos a fim de conhecer suas propostas em relação à bicicleta e, como último passo dessa ação, será escrita e enviada uma carta esperando ser assinada pela maioria dos candidatos, com propostas para uma política de mobilidade urbana. Essa duas organizações são exemplos de como os ciclistas se organizam a fim de ter uma força política na cidade de São Paulo. Há também outros métodos de ação apoiando e demonstrando a necessidade da criação de políticas públicas fortes em mobilidade urbana. São as organizações, mas também os ciclistas que são responsáveis pelas mudanças de comportamento. Ser cicloativista não é necessariamente participar de todas as bicicletadas e todos os movimentos, mas pode ser uma coisa pequena que é levada no dia a dia; o simples fato de pedalar nas ruas e respeitar ciclistas, pedestres, motoristas e o transporte público já é um tipo de cicloativismo, assim como se manter informado e informar as pessoas. A visibilidade do ciclista nas ruas é um dos maiores apoios. Pedalar todos os dias, chegar ao trabalho ou à faculdade de bicicleta, usar a integração com o transporte público, mostrar que é possível
andar de bicicleta em São Paulo é uma participação importante na mudança de mentalidade, na forma de olhar a cidade. É essencial mostrar que existem alternativas aos carros, que usando a bicicleta – combinada com metrô e ônibus – os deslocamentos podem ser feitos de uma outra maneira. Esse cicloativismo pacífico do dia a dia é considerado pelas organizações, assim como a relação com os cidadãos, pois o entendimento deles é primordial na ideia de conseguir transformar a cidade. Há várias ações de sensibilização do cidadão à bicicleta, como oficinas de conserto – por exemplo a Mão na Roda, que acontece uma vez por semana, com o objetivo de ensinar os usuários a conservar e consertar suas bicicletas. São organizadas oficinas em eventos, como o dia mundial sem carro, o Baixo Centro, nos SESCs, e também na periferia, eles se deslocam para ajudar e transmitir a cultura da bicicleta. São organizados debates públicos, palestras, encontros e workshops, além de passeios ao longo da semana e nos finais de semana, tudo como apoio para dar mais visibilidade e mostrar o que poderia ser a cidade com um outro tipo de mobilidade. O mais importante é ter uma prefeitura que dê espaço para as políticas de mobilidade urbana, entendendo sua responsabilidade nessa área. Os movimentos estão lutando para dar cada vez mais visibilidade e entrar mais em contato com o poder público, conscientes de que as mudanças são feitas de cima para baixo. Eles estão criando uma sociedade civil mais forte. Essas organizações, mostrando um outro jeito de se locomover, um outro jeito de olhar e viver a cidade, participam de sua mudança.