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os três planos do mundo
from Projeto Feiro
OS TRÊS PLANOS DO MUNDO (textos e imagens por Gabrielle Ribeiro, Giovana Netto, Matheus Isaac e Suzy Coelho)
Esta primeira Utopia descreve em forma de conto um proposta de um mundo que é dividido em três planos, como se fossem três andares de convivência, cada um com uma experiência social diferente. O primeiro e segundo planos seriam a vida como indivíduo (local de descanso onde se vive com privacidade) e a vida em meio a natureza bem preservada, respectivamente. Já o terceiro plano é um local de convívio em sociedade, com experiências de trocas comerciais e culturais, da mesma forma como acontece em uma feira. Com isso, imagina-se um mundo em que o modo de vida da feira tomou conta do modo de vida da sociedade como um todo, conjeturando como seria a forma como nós interagimos com outros seres humanos se ela fosse simplesmente baseada em trocas.
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“O Sol está se pondo. Me levanto do dormitório, me preparo e me direciono à escadaria que leva ao plano superior para viver. Após alguns degraus, consigo ver a luz e começo a ouvir as vozes de outros moradores. A conversa é contínua e o plano está cheio nesse momento. Ele é extenso e infinito. Em cada espaço, vejo cores e alturas diferentes. Estranharia-me se não estivesse aqui diariamente. Para iniciar meu dia, dirijo-me à primeira banca de pão de queijo. O rapaz me cumprimenta e começamos as negociações. Ele oferece três opções por um período de limpeza. Eu retruco. Quatro. Então temos um acordo. No mesmo plano, posiciono-me, então, no espaço que ofereço meus serviços. Esse é um espaço de grandes dimensões, sem barreiras. É um lugar de compartilhamento com outros seres e está sempre em constante transformação. Trocadores se mudam de lá pra cá de acordo com seus anseios por viver um autêntico eu. Me desloco para uma nova troca. Vista bonita. Contraste. Pontos cheios e circulações ocupadas. O desejo de mudar novamente desperta ao longo do caminho. Termino minha terceira atividade e decido descer para o espaço intermediário. Gosto de frequentar ali. Apesar de não receber o mesmo fluxo de pessoas do espaço de trocas, enalteço a diversidade ali presente. A natureza pode ser tão grande quanto nossa vida na parte de cima. Pergunto-me se já estou satisfeito a ponto de voltar pro meu espaço de descanso. Não. Talvez deva acompanhar, por um momento, as crianças que estão nadando no rio. Quando me aproximo reconheço uma delas. Cuida da horta de verduras à alguns blocos do meu ponto. Pergunto-as como está sendo seu dia. Algumas delas me respondem que estão apenas começando o período, enquanto outras afirmam que logo voltarão aos seus cubículos. Eles são um pouco distantes de onde estamos - era uma visita a área. Bem interessante, a mais velha me disse. Sugeri uma nova troca, de cubículos dessa vez. Pode ser temporário, se ela interessar pelo novo ponto, mas ficamos de decidir depois. Descendo de volta a meu espaço individual, vi baixa luz se esvaindo, as vozes diminuindo, até que o silêncio tomou conta dos degraus. Cheguei à minha porta, tirei meus trajes e voltei a deitar. Daqui uns instantes acordaria de novo. Dessa vez subiria para assistir algumas aulas de culinária, talvez. Ou procuraria a horta de verduras das crianças. Antes de pegar no sono penso nas diversas experiências de hoje. Em um momento estava lá, várias pessoas, cheiros e cores, no outro momento estou aqui, sozinho, esperando ansiosamente voltar.”
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Corte
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