ESCOLA DA CIDADE - HISTORIA
VILA MODERNA
F L Á V I O - D E - C A R V A L H O
CAMILO CONCHA NATALIA SANTIAGO ISADORA PANACHAO PALMA NICOLE CAHALI
C O T E X T O -
O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL
BRASIL E EUROPA OCIDENTAL TIVERAM SUAS RELAÇÕES ESTREITADAS APÓS A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL. NO BRASIL, A INTENSA PARTICIPAÇÃO POLÍTICO-SOCIAL, SOB A CLARA INFLUÊNCIA DOS ESTÍMULOS VANGUARDISTAS EUROPEUS, CULMINOU EM UM SURTO INDUSTRIAL QUE PRETENDIA ROMPER COM O TRADICIONALISMO CONSERVADOR E O ELITISMO VIGENTE PARA, ENTÃO, DISSEMINAR UM IDEÁRIO SUPOSTAMENTE MAIS DEMOCRÁTICO. O IDEAL MODERNISTA. PARA UM PAÍS DE MATRIZ COLONIAL, RECÉM EGRESSO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA, O MODERNISMO SURGIU COMO DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA. NÃO POR ACASO, É NESSA ÉPOCA DE AGITAÇÃO SOCIAL QUE SE DÃO AS GRANDES GREVES EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO (1917-1920), A FUNDAÇÃO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (1922) E A REVOLUÇÃO DE 1924. EIS QUE DO IDEAL MODERNO BROTAM PROBLEMÁTICAS MODERNAS: INDUSTRIALIZAÇÃO, URBANIZAÇÃO, NOVAS TECNOLOGIAS, MÃO DE OBRA OPERÁRIA E O DESGASTE DO ACADEMICISMO TORNA-SE QUESTÕES A SEREM TRATADAS E INCORPORADAS NO VOCABULÁRIO DAQUELES INTELECTUAIS QUE CONCEBIAM O TAL “NOVO MUNDO”.
ARTISTAS COMO ANITTA MALFATTI E SUA RELAÇÃO COM CEZANNE, OU O POETA MARIO DO ANDRADE E SUA RELAÇÃO COM O EXPRESSIONISMO ALEMÃO E INCLUSIVE MOYA, DA CONTA DE UMA RELAÇÃO CADA VEIS MAIS FORTE DO ARTE EUROPEU E O ARTE BRASILEIRO. ENQUANTO OS CENTROS EUROPEUS SE RECUPERAVAM CULTURALMENTE E ECONOMICAMENTE, NOS ANOS POSTERIORES A GUERRA, VARIAS TENDÊNCIAS EXPRESSIONISTAS SE MANIFESTAM PELA AMÉRICA. A ESCOLA DO PARIS NÃO ERA MAIS HEGEMÔNICA E NO BRASIL O PERÍODO POSTERIOR AO ESTADO NOVO ASSINALOU CARACTERÍSTICAS DE INOVAÇÃO CULTURAL. EM 25 DE JANEIRO DE 1945 INAUGURO-SE A SEÇÃO DE ARTE DA BIBLIOTECA MUNICIPAL, CRIADA POR SERGIO MILLIET E MARIA EUGENIA FRANCO. NO MESMO ANO DEU SE A SEGUNDA EXPOSIÇÃO DA ARTE FRANCESA. AINDA NO MESMO ANO FORMOU-SE O CLUBINHO DOS ARTISTAS, EO IAB DE SÃO PAULO EXIBIU A RESTROSPECTIVA DO NOTÁVEL ERNESTO DE FIORI.
A ARQUITETURA DO MOMENTO
BRASIL E EUROPA OCIDENTAL TIVERAM SUAS RELAÇÕES TAMBÉM NO CAMPO DA ARQUITETURA, A CONCEPÇÃO DO MODERNO PASSA PELA SUBVERSÃO DO TRADICIONAL. ATÉ O FIM DA REPÚBLICA VELHA (1889-1930) A ARQUITETURA BRASILEIRA ESTAVA LIMITADA POR ESQUEMAS URBANÍSTICOS OBSOLETOS QUE SE EXPRESSAVAM ATRAVÉS DE UM HÍBRIDO ENTRE A CIDADE EUROPEIA E A CIDADE COLONIAL.
ESTE ECLETISMO ARQUITETÔNICO PROPORCIONAVA DIVERSAS PECULIARIDADES, TANTO NAS FORMOSAS RESIDÊNCIAS DOS BAIRROS JARDIM, QUANTO NOS SOBRADOS DAS VILAS OPERÁRIAS ÁS MARGENS DAS VIAS FÉRREAS. TOME COM EXEMPLO HIERARQUIZAÇÃO ESPACIAL ENTRE CÔMODOS SOCIAIS (SALA DE VISITAS), ÁREAS INTIMAS (QUARTOS) E ÁREAS DE SERVIÇO QUE DENUNCIAVAM A PROXIMIDADE COM A MORAL SERVIL DO REGIME ESCRAVOCRATA. OU, AINDA O HÁBITO DE SE CAMUFLAR ESPAÇOS E ESTRUTURAS CONVENCIONAIS COM UM TRATAMENTO FORMAL DE APARÊNCIA MODERNA - COMO EM CERTAS CONSTRUÇÕES CUBISTAS QUE ESCONDERAM ESTRUTURAS DE TELHAS COLONIAIS COM GRANDES PLATIBANDAS ORTOGONAIS EXTERNAS- ISSO PORQUE OS RECURSOS TÉCNICO-CONSTRUTIVOS AINDA ERAM PRECÁRIOS E O CONCRETO ARMADO SÓ TORNOU-SE USUAL NO BRASIL DEPOIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. A PARTIR DOS ANOS 30, O MODERNISMO COMEÇOU A SE ENRAIZAR NO IMAGINÁRIO BRASILEIRO. ARQUITETOS, ENTÃO, SE AUTO-INCUMBIRAM DA MODERNIZAÇÃO DO PAÍS TROPICAL. FORTEMENTE VINCULADOS À FIGURA DO ESTADO – TIDO COMO O MOTOR DA MODERNIDADE, POR PATROCINAR E EMPREENDER AS INICIATIVAS DO MOVIMENTO – EMPENHARAM A MISSÃO DE INSTRUIR O HOMEM NA NOVA MANEIRA DE HABITAR A CIDADE E, POR CONSEQUÊNCIA, A PRÓPRIA HABITAÇÃO.
F L Á V I O - D E - C A R V A L H O BREVE BIOGRAFIA DE FLAVIO DE CARVALHO NASCIDO FLÁVIO DE REZENDE CARVALHO, A 10 DE AGOSTO DE 1899, EM BARRA MANSA - RIO DE JANEIRO, O MULTIFACETADO ARTISTA RECEBEU EDUCAÇÃO PRIVILEGIADA NA FRANÇA E NA INGLATERRA E FORMOU-SE ENGENHEIRO CIVIL EM 1922 AO MESMO TEMPO QUE REALIZAVA SEUS ESTUDOS DE BELAS ARTES. EM 1930, PARTICIPOU DO CONGRESSO PAN-AMERICANO DE ARQUITETOS COM A CONFERÊNCIA “A CIDADE DO HOMEM NU”, NA QUAL RESSALTOU A IDÉIA DO HOMEM DESPIDO DOS PRECONCEITOS DA CIVILIZAÇÃO BURGUESA, TESE TEM AMPLA CONEXÃO COM O MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO. EM 1931, REALIZOU A POLÊMICA EXPERIÊNCIA Nº 2, EM SÃO PAULO, QUANDO CAMINHOU EM SENTIDO CONTRÁRIO AO DE UMA PROCISSÃO CATÓLICA COM O INTUITO DE ESTUDAR A REAÇÃO POPULAR. ACABOU POR TESTAR OS LIMITES DA TOLERÂNCIA E DA AGRESSIVIDADE DAS MULTIDÕES RELIGIOSAS E TEVE QUE SER PROTEGIDO DOS FIÉIS POR POLICIAIS. EM 1932, PARTICIPOU DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA COMO CAPITÃO ENGENHEIRO. ENTRE 1932 E 1934, ABRIU UM ATELIÊ E FUNDOU O CLUBE DOS ARTISTAS MODERNOS, CAM, COM ANTONIO GOMIDE (1895-1967), DI CAVALCANTI (1897-1976) E CARLOS PRADO (1908-1992). EM 1935, REALIZOU SUA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL QUE FOI FECHADA PELA POLÍCIA E TEVE CINCO OBRAS APREENDIDAS SOB A ALEGAÇÃO DE ATENTADO AO PUDOR E IMORALIDADE. MAIS TARDE O ARTISTA REVIU O DIREITO DE REABERTURA DA
MOSTRA. TENDO SUAS PINTURAS CLASSIFICADAS COMO EXPRESSIONISTA, COM ASPECTOS SURREALISTAS. SEUS TEMAS MAIS FREQÜENTES ERAM OS RETRATOS, ESCOLHA BASEADA NO INTERESSE EM CAPTAR ASPECTOS EMOTIVOS E PSICOLÓGICOS. PARTICIPOU DO 5º, 6º E 7º SALÃO DO SINDICATO DOS ARTISTAS PLÁSTICOS, NA GALERIA PRESTES MAIA.EM 1947, REALIZOU OS DESENHOS DA SÉRIE MINHA MÃE MORRENDO, NOS QUAIS REGISTROU A AGONIA DA PRÓPRIA MÃE EM SEU LEITO DE MORTE. NA DÉCADA DE 50, CONFECCIONOU OS CENÁRIOS E FIGURINOS PARA O BAILADO A CANGACEIRA, DO BALLET DO 4º CENTENÁRIO E O CENÁRIO PARA O BAILADO COM MÚSICA, DE PROKOFIEV. A PARTIR DE 1955 PASSOU A ESCREVER A COLUNA CASA, HOMEM E PAISAGEM NO DIÁRIO DE SÃO PAULO. NO ANO SEGUINTE, EM SÃO PAULO, REALIZOU O EVENTO EXPERIÊNCIA Nº 3, QUE CONSISTIU NUMA PASSEATA NO VIADUTO DO CHÁ, EM QUE O ARTISTA VESTIU SAIOTE E BLUSA DE MANGAS CURTAS E FOLGADAS, CONJUNTO DESENHADO POR ELE E DENOMINADO TRAJE TROPICAL. EM 1968, CONSTRUIU O MONUMENTO A GARCÍA LORCA, DESTRUÍDO POR UM GRUPO ARMADO EM 1969. NO ANO DE 1971 RECEBEU SALA ESPECIAL NA XI BIENAL E PARTICIPA DO PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA, NO MAM E DA II MOSTRA INTERNACIONAL DE GRAVURA, NO MAM-SÃO PAULO. POR FIM, VEIO A FALECER EM 4 DE JUNHO DE 1973. FLÁVIO DE CARVALHO CONSAGROU-SE COMO GRANDE NOME DA GERAÇÃO MODERNISTA BRASILEIRA, ATUANDO NÃO SÓ COMO ARQUITETO E ENGENHEIRO, MAS TAMBÉM COMO CENÓGRAFO, TEATRÓLOGO, PINTOR, DESENHISTA, ESCRITOR, FILÓSOFO, PERFORMER E MÚSICO. SEMPRE EXALTANDO SEU INTERESSE PELO EXPERIMENTAL E SUA ATRAÇÃO PELA FUGA DAS NORMAS ACADEMICISTAS. SEU ESTILO PECULIAR É RESULTADO DA FUSÃO DOS ESTILOS SURREALISTAS, EXPRESSIONISTAS E CUBISTAS E DO SEU DESEJO DE INOVAR, BASEANDO-SE NOS IDEAIS DO ANTROPOFAGISMO BRASILEIRO E EM MESTRES DO MODERNISMO EUROPEU, DENTRE ELES O TAMBÉM MULTIFACETADO LE CORBUSIER.
A VILA MODERNISTA IDEAL DE FLÁVIO DE CARVALHO
CONSTRUÍDA NA DÉCADA DE 30 PELO ARQUITETO FLÁVIO DE CARVALHO E FINALIZADA ENTRE OS ANOS DE 1936 E 1938, A VILA MODERNISTA ERA CONSTITUÍDA POR DEZESSETE CASAS E UMA RUA INTERNA QUE LEVAVA AO MIOLO DA QUADRA. DESSAS DEZESSETE RESIDÊNCIAS, DEZ ESTAVAM VOLTADAS PARA AS ALAMEDAS LORENA E MINISTRO ROCHA AZEVEDO E ERAM INDEPENDENTES ESTRUTURAL E VOLUMETRICAMENTE - AS OUTRAS SETE, VOLTADAS PARA A RUA INTERNA, ERAM CONSTRUÇÕES GEMINADAS.
EMBORA HAJA TRÊS TIPOLOGIAS DIFERENTES DE PLANTAS PARA O CONJUNTO, TODAS AS CASAS APRESENTAM ORGANIZAÇÃO SEMELHANTE VARIANDO EM ORIENTAÇÃO NA IMPLANTAÇÃO SEM APARENTE PREOCUPAÇÃO COM A INSOLAÇÃO. O VERDADEIRO OBJETIVO ERA GARANTIR DUPLA FRONTALIDADE PARA TODAS AS CASAS DA VILA, VOLTANDO –AS AO MESMO TEMPO PARA A ÁREA COMUM, PARTILHADA COM AS VIZINHAS, E A RUA, PARTILHADA COM A CIDADE. AS DIMENSÕES DOS CÔMODOS SÃO REDUZIDAS PARA OS PADRÕES DA ÉPOCA, CONSEQUÊNCIA DO DESEJO DO ARQUITETO DE ESTENDER A VIVENCIA DOMÉSTICA PARA A CIDADE, DIMINUINDO O TEMPO DE PERMANÊNCIA NO NÚCLEO RESIDENCIAL PRIVADO, VALORIZANDO, ASSIM, O ESPAÇO PÚBLICO. A CONCEPÇÃO DE QUADRA INTEGRADA A CIDADE SERIA, PARA FLÁVIO DE CARVALHO, UM MODELO A SER ADOTADO POR TODOS OS QUARTEIRÕES DA CIDADE MODERNA. TODAS AS EDIFICAÇÕES DO CONJUNTO FORAM PROJETADAS PARA SEREM ALUGADAS PELA CLASSE MÉDIA E ERAM ACOMPANHADAS PELO “MANUAL DA FORMA DE MORAR” ELABORADO PELO PRÓPRIO FLÁVIO DE CARVALHO.
A HERANÇA COLONIAL NA VILA MODERNA AO ANALISAR-SE MELHOR AS PLANTAS DAS RESIDÊNCIAS PROJETADAS PARA A VILA, É POSSÍVEL PERCEBER UMA RELAÇÃO TRIPARTIDA NA DISTRIBUIÇÃO DOS PROGRAMAS NA RESIDÊNCIA. NOTA-SE QUE AOS CÔMODOS DO FUNDO DO LOTE DELEGOU-SE AS FUNÇÕES DE ÁREA DE SERVIÇO, A ÁREA ÍNTIMA DOS QUARTOS DE DORMIR FOI RESGUARDADAS NO SEGUNDO PAVIMENTO, ENQUANTO A ÁREA SOCIAL VOLTAVA-SE PARA A RUA.
ESSA ORGANIZAÇÃO REMONTA A TRADIÇÃO COLONIAL. EMBORA HOUVESSE O ESFORÇO POR PARTE DO ARQUITETO EM SUAVIZAR ESSA RELAÇÃO POR MEIO DA BIFRONTALIDADE, AS POSSIBILIDADE DE CIRCULAÇÃO REFORÇAM AINDA MAIS A ANALOGIA, POIS SUGEREM DOIS PERCURSOS DISTINTOS – UM DIRETO PARA A SALA DE ESTAR E OUTRO INDEPENDENTE PARA A ÁREA DE SERVIÇO E QUARTO DE EMPREGADOS. (A PRÓPRIA INCLUSÃO DE UM DORMITÓRIO DE EMPREGADOS NO PROGRAMA É EVIDENCIA DE QUE A SOCIEDADE MODERNA BRASILEIRA AINDA CARREGA VESTÍGIOS DOS VALORES E NECESSIDADES TRADICIONAIS DA COLÔNIA.
O AMBIENTE PEDAGÓGICO
INSPIRADO PELAS CONVICÇÕES DE ARQUITETOS MODERNOS EUROPEUS, FLÁVIO DE CARVALHO ESCREVEU UM MANUAL PARA OS FUTUROS MORADORES DA VILA MODERNISTA. ESTE FOLHETO TINHA COMO OBJETIVO CLARO ENSINAR O USUÁRIO COMUM A HABITAR, E POR EXTENSÃO VIVER, NA ERA MODERNA. A CRENÇA NOS BENEFÍCIOS PEDAGÓGICOS DO AMBIENTE CONSTRUÍDO COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL LEVOU FLÁVIO A CONSTRUIR AS TIPOLOGIAS VISANDO O AUMENTO DA CAPACIDADE PRODUTORA DA CLASSE OPERÁRIA QUE A POVOARIA. O AMBIENTE CONFORTÁVEL, HIGIÊNICO E FUNCIONAL INFLAMARIA POSITIVAMENTE O USUÁRIO DESSA MÁQUINA DE MORAR, CONFERINDO-LHE A ENERGIA NECESSÁRIA PARA QUE ELE LUTASSE POR PROGRESSO, POR UMA SOCIEDADE IGUALITÁRIA, MAIS JUSTA E FRATERNA NUM ÂMBITO MAIS ELEVADO, DISTANTE DE NECESSIDADES ELEMENTARES A DIGNIDADE HUMANA. DESSA FORMA O HOMEM DO FUTURO VIVERIA NUMA SOCIEDADE SOCIALISTA – TODOS DESFRUTANDO DA MESMA QUALIDADE DE VIDA QUE OS DEMAIS - APERFEIÇOADOS PELO PRÓPRIO ESPAÇO EM QUE VIVEM. ENTÃO FICA CLARO O APELO SOCIAL QUE A OBRA DE CARVALHO EMANAVA. ERA UM PROJETO EM DEFESA DAS MASSAS DE TRABALHADORES, EM PROL DE UMA SOCIEDADE HOMOGENIA E DE UM INDIVÍDUO PARTICIPATIVO E DE CONSCIÊNCIA COLETIVA. É EVIDENTE O CONTRAPONTO ENTRE O “HOMEM NU” DE FLÁVIO DE
CARVALHO E A FIGURA DO BURGUÊS. O PRIMEIRO É VIRTUOSO, CAPAZ DE APRENDER COM OS ERROS DO PASSADO E EVITAR AS TRADIÇÕES ESTANQUES QUE DELE DERIVAM, O SEGUNDO É O “PORTADOR DE TODOS OS VÍCIOS E DE TODA A ESTUPIDEZ HUMANA”, RETRÓGRADO E INDIVIDUALISTA.
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V I S O E S - D O - D E S E N H I S T
A
O HABITAR A CIDADE INTEGRAR A HABITAÇÃO E OS EQUIPAMENTOS DA CIDADE ERA FUNDAMENTAL PARA ALCANÇAR A FINALIDADE DE DIMINUIR A IMPORTÂNCIA DA CASA COMO CENTRO ÚNICO DA ATIVIDADE HUMANA. AMBIENTES DOMÉSTICOS ECONÔMICOS E ABUNDANCIA DE SERVIÇOS COLETIVOS VOLTADOS PARA AS ATIVIDADES DO LAR COMO LAVANDERIAS, CRECHES, ESCOLAS, CENTROS DE LAZER E ESPORTES – POSSIBILITARIAM MAIOR VIVENCIA NO ÂMBITO COLETIVO E, POR DECORRÊNCIA, AUMENTO DA CONSCIÊNCIA DO VIVER EM SOCIEDADE, TENDO A RESIDÊNCIA PARTICULAR COMO MERO APÊNDICE DA CIDADE MODERNA. POR ISSO AS CASAS DA VILA MODERNISTA TEM SUAS DIMENSÕES LIGEIRAMENTE DIMINUTAS EM RELAÇÃO AS CONSTRUÇÕES TRADICIONAIS DA ÉPOCA. O SUCESSO DO PROJETO DEPENDIA DA IMPLANTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS PÚBLICOS EM SEU ENTORNO IMEDIATO, OU SEJA DEPENDIA, NA VERDADE, DO SUCESSO DO MODELO URBANÍSTICO MODERNO COMO “PLANO DIRETOR” PARA A CONFORMAÇÃO DA CIDADE DALI EM DIANTE.
O MODO DE MORAR COMO CRÍTICA ANTI-BURGUESA O “MODO DE USAR” ESCRITO POR FLÁVIO DE CARVALHO CHEGAVA A TAL NÍVEL DE DETALHE, QUE ESPECIFICAVA ATÉ O TIPO DE MÓVEIS COM QUE O USUÁRIO DEVERIA MOBILIAR A CASA. DE FORMA ALGUMA ESTES DEVERIAM IMITAR O MOBILIÁRIO BURGUÊS, AO CONTRÁRIO, DEVERIAM TER MANUTENÇÃO SIMPLES, SER HIGIÊNICOS E BARATOS, DE PREFERENCIA QUE OCUPASSEM POUCO ESPAÇO E QUE FOSSEM CONFECCIONADOS EM METAL OU MADEIRA. ESTAS ESPECIFICAÇÕES ERAM MAIS QUE MERO CAPRICHO DA ARQUITETO, MAS CONSTITUÍAM UMA CRÍTICA FERRENHA AO MODO DE VIDA BURGUÊS E À SOCIEDADE CUNHADA NA BASE DA FAMÍLIA. EM CONTRAPONTO SE PROPUNHA A IDEOLOGIA SOCIALISTA DO ARQUITETO MODERNO QUE DITAVA A PRÁTICA SOCIAL FUNDADA NO COLETIVO, O DESPRENDIMENTO MATERIAL, A IGUALDADE NA RELAÇÃO ENTRE SEXOS E A TRANSFORMAÇÃO COMPLETA DOS VALORES DA FAMÍLIA COMO BASE DA ESTRUTURA SOCIAL PARA UMA FUNDADA A PARTIR DO COLETIVO.
R E A L
I D A D
E
O FRACASSO DO IDEAL
EM MEADOS DOS ANOS 40, O EMPREENDEDOR QUE PATROCINOU O PROJETO DA VILA MODERNISTA SE VIU OBRIGADO A VENDER AS CASAS, ORIGINALMENTE DESTINADAS AO ALUGUEL, PARA ARTISTAS E INTELECTUAIS ABASTADOS.
A FANTASIA DE QUE FAMÍLIAS DE CLASSE MÉDIA TRABALHADORA TIVESSEM CONDIÇÕES DE ALUGÁ-LAS, OU MESMO QUE SE INTERESSASSEM POR SUA PROPOSTA RADICAL, FOI DESMANTELADA PELA CRUEZA DA REALIDADE CAPITALISTA . TÃO POUCO DUROU O PROJETO ORIGINAL NAS MÃOS DAQUELES QUE O COMPRARAM. AS CASAS PROVARAM-SE INSUFICIENTES UMA VEZ QUE A ARTICULAÇÃO COM A CIDADE NÃO SE CONCRETIZOU CONFORME IMAGINOU O ARQUITETO. LOGO AS DESCARACTERIZAÇÕES NA PLANTA E NA FACHADA DAS CASAS DA VILA DERAM SEGUIMENTO AO ABANDO COMPLETO POR PARTE DOS ILUSTRES PROPRIETÁRIOS. NA DÉCADA DE 50 AS ALAMEDAS FORAM TOMADAS POR EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS QUE SE APROPRIARAM DAS CASAS PERIFÉRICAS À QUADRA. JÁ NOS ANOS 60, FECHOU-SE AS ENTRADAS DE SERVIÇO COM MUROS DE ALVENARIA E SUBSTITUIU-SE OS CAIXILHOS ORIGINAIS POR GRADES DE SEGURANÇA. DEPOIS OS MUROS DERAM LUGAR A ESTACIONAMENTOS DE FRENTE DE LOJA E OS VOLUMES EM BALANÇO SÃO ENCOBERTOS POR NOVAS FACHADAS. AS CASAS SOBREVIVENTES SÃO AS GEMINADAS DA RUA INTERNA, HOJE FECHADA AO PÚBLICO, E ESTÃO, EM SUA MAIORIA, ABANDONADAS.
C O N C L U S Ã O EMBORA A VILA MODERNISTA APRESENTE CERTOS ANACRONISMOS EM RELAÇÃO A SUA PROPOSTA SOCIALISTA E A REALIDADE CAPITALISTA DA ÉPOCA - ALÉM DA FORTE PRESENÇA COLONIAL EM SUA MATRIZ PROJETUAL - FICA CLARA A INTENÇÃO DO ARQUITETO EM RECRIAR A CASA COMO EQUIPAMENTO DA CIDADE, FOCANDO NO EXERCÍCIO DO CONVÍVIO COMUM. FLÁVIO DE CARVALHO FAZ PARTE DO GRUPO DE ARQUITETOS MODERNISTAS QUE BUSCARAM NA LINGUAGEM MODERNA UMA IDENTIDADE PUNGENTE PARA CARACTERIZAR A ERA DAS MÁQUINAS. BUSCOU NOS CONTEMPORÂNEOS EUROPEUS A INSPIRAÇÃO PARA DAR FORMA A SEUS DESEJOS TRANSFORMADORES DA SOCIEDADE. EMBORA NÃO TENHA SIDO RECONHECIDO PARTICULARMENTE POR SUA TÉCNICA CONSTRUTIVA OU PLASTICIDADE ARQUITETÔNICA, E SIM POR SUAS CONVICÇÕES ANARCO-SOCIALISTAS QUE TANTO TENTOU IMPRIMIR NAS QUADRAS DAS CIDADES DITAS MODERNAS.