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HÁ 60 ANOS NA LUTA CONTRA O CANCRO

Sábado

Campeão das Províncias [CP]: A Saúde sofreu algumas consequências com a pandemia nomeadamente nas referenciações e nas listas de espera, o IPO de Coimbra também foi afectado?

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Margarida Ornelas [MO]: Mesmo, em 2020, no ano de maior criticidade da pandemia, o IPO de Coimbra obteve um bom desempenho, na generalidade dos indicadores de acesso, garantindo sempre uma boa gestão da capacidade assistencial, com algumas áreas, mesmo nesse ano, em que se registou um crescimento de actividade. Recorde-se que o IPO de Coimbra, reforçou, nesse período, no contexto da pandemia, a sua missão enquanto Instituto de referência da doença oncológica na região Centro, dando resposta, a outros hospitais. A criação de um segundo Hospital de Dia com vista à resposta a doentes do Hospital Distrital da Figueira da Foz foi disso exemplo. Nos últimos anos a referenciação, de facto, tem aumentado, registando-se um maior número de primeiras consultas, com uma variação, em 2022, face ao ano de 2021 de 7,8% e, face a 2019, ano pré-pandemia, de 20%. No último ano, conseguiu-se, também atingir, tal como nos anos anteriores, de forma plena, o acesso às consultas dentro do tempo máximo de resposta garantido. No que diz respeito à actividade cirúrgica, também se assistiu a um crescimento, mesmo tendo o último ano sido fortemente marcado pela obra em curso no IPO, a qual provocou a redução da capacidade disponível de salas de bloco operatório e do número de camas de internamento. Apesar disso, fruto de uma reorganização interna e de várias acções levadas a cabo, o ano 2022 foi marcado por um aumento do número de doentes intervencionados e uma redução significativa da lista de espera cirúrgica - uma variação positiva de 7% (mais 343 doentes intervencionados) face ao ano anterior e uma redução da lista de espera cirúrgica de 4,7%.

[CP]: Quais são os maiores desafios que o IPO enfrenta?

[MO]: Os desafios que enfrentamos são simultaneamente aqueles que têm constituído os três grandes pilares das nossas orientações estratégicas. Desde logo: garantir o acesso a cuidados em tempo oportuno, no difícil contexto em que temos uma empreitada em curso, mas, também, o acesso à inovação, a novos medicamentos e à evolução tecnológica, sem descurar a sustentabilidade. Por outro lado, o IPO reconhece, também, como importante desafio, fomentar o papel de complementaridade e apoio entre as instituições da região Centro com as quais se articula. Em segundo lugar, os investimentos, com a execução de um exigente plano. Os últimos anos foram marcados por importantes investimentos, dos quais se destacam: a construção de um novo bloco operatório periférico; a instalação de 2 novos aceleradores lineares; a concretização do programa de eficiência energética no âmbito do Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos – POSEUR e a actual empreitada, em curso, de requalificação do edifício de cirurgia/ imagiologia, correspondente à construção de um novo edifício que aumentará em 31,7% a área de prestação directa de cuidados de saúde e melhorará as condições para a prestação de cuidados. Por último, mas não menos importante, o desafio de capacitar e motivar os nossos profissionais, garantindo a coesão interna e desenvolvendo acções para reter os melhores.

[CP]: Prevê-se que daqui a poucos anos metade da população tenha um cancro ao longo da vida. Há forma de contrariar isto?

[MO]: A palavra de ordem para contrariar isso é a prevenção. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a incidência global de cancro deve atingir patamares recorde nos próximos anos, apresentando uma evolução contínua. As neoplasias figuram já entre as principais causas de morte. Todos os anos, 3,5 milhões de pessoas na União Europeia são diagnosticadas com cancro e 1,3 milhões morrem da doença. No entanto, é importante mencionar que mais de 40% dos casos de cancro são evitáveis. Por este facto, é-nos exigido a todos uma atenção redobrada nomeadamente quanto aos hábitos de vida saudáveis e à detecção precoce.

[CP]: O Dia Mundial do Cancro serve para consciencializar a população para esta doença. Tem havido sensibilização suficiente?

[MO]: Neste domínio da consciencialização, a sensibilização nunca é demais. Um aspecto fulcral é o da promoção da literacia em saúde, em especial em

ONCOLOGIA INFANTO-JUVENIL

grupos vulneráveis, visando reduzir as desigualdades. No IPO de Coimbra, temos procurado prosseguir este objectivo, já que esta é, também, a nossa missão. Um dos eixos que prosseguimos, nas nossas orientações estratégicas, é o da literacia em saúde, desenvolvendo várias acções: campanhas de sensibilização; materiais informativos; parcerias com entidades externas; iniciativas abertas à comunidade, todas em torno deste desiderato. O assinalar deste Dia, ou dos meses temáticos -– em cada mês do ano fazendo alusão a um tipo de cancro - são duas das iniciativas que temos levado a cabo. É importante comunicar, usando diversos meios, designadamente as redes sociais, o nosso site e entrevistas como esta. Por conseguinte, no que ao IPO de Coimbra concerne, procuraremos continuar a sensibilizar para esta temática, sendo que este será sempre um caminho inacabado, logicamente.

[CP]: Os rastreios vieram ajudar a combater a doença?

[MO]: Como é referido no Plano Europeu de Luta contra o Cancro a detecção precoce através do rastreio oferece a oportunidade de combater o cancro e salvar vidas. Também no IPO Coimbra se continua a dar resposta ao nível dos rastreios de base populacional na área da oncologia, designadamente no rastreio do colo do útero e do cólon e reto, tendo-se registado, no ano 2022, um aumento significativo face a 2021. No domínio da detecção precoce, os rastreios são fundamentais no combate à doença, sendo igualmente muito importante monitorizar e avaliar os programas de rastreio do cancro.

[CP]:De que forma as comemorações dos 60 anos do IPO reflectem a problemática do Cancro?

[MO]: As comemorações centram-se em 6 eixos: pessoas, comunidade, cuidado, memória, ciência e futuro sob o slogan “Construindo o presente entre o passado e o futuro”. Trata-se de um marco muito importante para reflectir a problemática do cancro, já que estão previstas várias iniciativas, alicerçadas nestes eixos e abertas à comunidade hospitalar.

A este propósito, aproveito, para relembrar a nossa próxima iniciativa, que acontece já no dia 11 de Fevereiro: Dia Mundial do Doente. Neste dia será organizada uma caminhada, procurando sensibilizar para a importância do exercício físico, pelo que, desde já, convido todos os interessados a participar. Leia a versão completa no site do Campeão das Províncias

PEDIÁTRICO REFERE TAXA DE SOBREVIVÊNCIA ACIMA DOS 80%

Em Portugal, todos os anos cerca de 400 crianças e jovens são diagnosticadas com cancro, sendo esta a principal causa de morte não acidental na população infanto-juvenil. Para perceber melhor esta realidade, o “Campeão” conversou com o Dr. Manuel João Brito, director de oncologia do Hospital Pediátrico de Coimbra.

Campeão das Províncias [CP]: Quais os principais desafios na oncologia pediátrica?

Manuel João Brito [MJB]: Numa altura em que mais de 80% das crianças com cancro sobrevivem, os principais desafios são o tratamento das crianças com recaídas ou com doença refractária ao tratamento e simultaneamente minimizar o tratamento inicial; conseguindo manter a taxa de cura, com menos efeitos secundários.

[CP]: Em que idades há maior incidência de cancro?

[MJB]: A faixa etária em que há maior incidência de cancro em idade pediátrica é a dos adolescentes a partir dos 15 anos. Logo a seguir é a faixa dos 0 aos 4 anos de idade.

[CP]: Quais os tipos de cancro mais frequentes em idade pediátrica?

[MJB]: Os tipos de cancro mais frequentes são as leucemias e os tumores do sistema nervoso central. Há no entanto alguma variação com a idade com os tumores embrionários a serem predominantes nos primeiros anos de vida e os linfomas nos adolescentes mais velhos.

[CP]: Qual é o índice de cura actualmente?

[MJB]: Acima de 80% para todos os cancros. Nalguns casos a taxa de cura é superior a 90%. Em raros casos de cancro não existe ainda cura.

[CP]: Que tipo de apoio ou orientação é dado aos pais e crianças nestas situações?

[MJB]: A família destas crianças tem direito a um apoio monetário estatal (subsídios), pela situação da doença da criança e têm direito a parte da medicação e transporte para o hospital e do hospital para casa. No entanto, como acabam por ter uma redução do vencimento, há várias organizações não governamentais que acabam por apoiar estas famílias.

[CP]: Da vossa experiência, as crianças entendem o que lhes está a acontecer?

[MJB]: Dependendo da idade as crianças têm um entendimento diferente do que lhes está a acontecer. Salienta-se no entanto que habitualmente o entendimento é muito superior ao que seria de esperar para a idade da criança. A partir dos 8 anos as crianças têm habitualmente uma noção total da doença que têm e das possíveis implicações.

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A luta não pode parar!

Para assinalar o Dia Mundial do Cancro, que se celebra a 4 de Fevereiro, o “Campeão” falou com a Psicóloga Clínica e da Saúde, Sónia Silva, responsável pela Unidade de Psico-Oncologia da Liga Portuguesa Contra o Cancro do Núcleo Regional do Centro.

Campeão das Províncias [CP]: Quais os principais medos de um paciente que recebe o diagnóstico?

Sónia Silva [SS]: De uma forma geral, os sintomas emocionais mais frequentes são a ansiedade e a depressão. No entanto, cerca de 1/3 dos doentes oncológicos desenvolvem quadros compatíveis com perturbações de um diagnóstico clínico, causam inevitavelmente sofrimento e podem ter um impacto na qualidade de vida do doente, requerendo avaliação, monitorização e redução, através de intervenção psicológica especializada. nóstico, sobretudo na fase da sobrevivência inicial, isto é, nos primeiros anos após o diagnóstico.

No passado mês de Novembro, a Liga Portuguesa Contra o Cancro lançou os resultados de um estudo em que avaliou o sofrimento emocional de doentes e cuidadores seguidos nas Unidades de Psico-Oncologia entre Fevereiro de 2020 e Outubro de 2022. Este estudo revelou que nove em cada 10 dos utentes em acompanhamento revelam um elevado sofrimento emocional. Estes resultados demonstram o distress psicológico daqueles que procuram a resposta psicológica da Liga e reforçam a necessidade desta intervenção.

[CP]: Qual a abordagem da Psico-Oncologia?

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