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SEMINÁRIO DE COIMBRA: EM SEIS ANOS PASSOU DE 2 PARA 11 SEMINARISTAS

FERNANDA PAÇÓ

OSeminário Maior de Coimbra está a passar por reformas desde 2020 e muito já foi feito: espaços transformados, programas culturais e visitas turísticas vieram para marcar esta nova fase da instituição. Mas, segundo o padre Nuno Santos, ainda há muito por vir.

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E foi precisamente num destes novos espaços que o Reitor nos concedeu esta entrevista/conversa, numa sala repleta de livros antigos, organizados em prateleirasque se erguem do chão ao tecto, cobrindo todas as paredes.

“A ideia do projecto é a de abrir portas, dar a conhecer [o Seminário], acolher e propor uma dimensão de espiritualidade”, explicou-nos. Para entendermos o presente (e o futuro) da instituição, vamos recuar um pouco no tempo, até 2016, ano em que Nuno Santos chegou a esta casa religiosa. Como o próprio contou, já se sabia que o edifício de 1.765 precisava de reformas para além da sua dimensão física.

“Nessa altura estavam a viver dois sacerdotes na casa e cinco funcionários, o que causava um desequilíbrio grande, porque havia despesas e prejuízos em cada ano na ordem dos 80 mil euros”, afirmou.

Assim, tornou-se evidente que mudanças tinham de acontecer. O Reitor, já em 2017, com a ajuda de uma empresa de turismo, dera início às visitas turísticas pelo Seminário. Depois, em 2020, foi a vez das reformas estruturais da casa. Finalmente, ao longo de todos estes anos o padre tem realizado um trabalho cultural, que promete ligar “arte e espiritualidade”.

Foi desta forma que o número de seminaristas na instituição passou de dois (2017), para onze (2023).

“Em Portugal, como na Europa, nós estamos a sentir um decréscimo acentuado no número de seminaristas em particular. A diocese de Coimbra já vive essa situação há muitos anos, mas eu devo dizer que é um pequeno sucesso este tempo que eu estou aqui, em termos de números de seminaristas. Há seis anos havia dois seminaristas, e hoje há onze”, partilhou Nuno Santos.

O padre realçou que “praticamente todas as dioceses nacionais estão a baixar os números de seminaristas, algumas de forma drástica”, mas que o Seminário Maior de Coimbra “tem tido uma significativa capacidade de acompanhar jovens com mérito para fazer esse caminho”.

Há muitas pessoas a quererem realizar o seu caminho espiritual na instituição, mas nem todas são aprovadas na selecção que é feita pelo próprio Seminário. Embora o número de seminaristas seja o maior dos últimos anos, o Reitor afirmou que há outros objectivos para o Seminário, que vão além de bater recordes numéricos.

“ CRIAR PONTES COM A CIDADE”

Uma dessas metas é “criar pontes com a cidade”. Para isso, o padre apostou numa dimensão cultural e social que envolve um conjunto de espaços para concertos, exposições e congressos.

Uma dessas exposições pode ser visitada até o dia 14 de Abril, e chama-se “Lugar a Proceder”: com fotografias, vídeos, sons e peças de roupa suspensas, o projecto de doutoramento de Vítor Garcia promete investigar “a ideia de corpo, a ligação encarnada aos objectos e a vivência espacial da memória”.

Mais uma novidade é o ateliê da artista plástica Lu Lessa Ventarola, que será inaugurado em breve, perto do baloiço do Seminário.

“Este projecto já está numa fase bem adiantada do processo”, informou-nos.

Outra iniciativa para aproximar a população do Seminário é o grupo “Comunidade das Onze”, que desde 2016 se reúne todos os domingos, às 11h00, para celebrar a missa que actualmente reúne mais de 250 pessoas. A entrada é livre, mas para quem não puder estar presente fisicamente no Seminário, há uma transmissão feita através do Youtube, pelo canal da instituição.

O próprio grupo promove actividades culturais, como o “Mercado de Natal”, que em 2022 atraiu mais de 1.000 pessoas. Além disso, desde o início da pandemia que no último domingo do mês é feita uma partilha económica com causas sociais.

Inicialmente as instituições de Coimbra foram beneficiadas e agora são famílias em concreto que recebem esta ajuda monetária. “Ao longo desses anos, partilhamos mais de 35 mil euros. Esse dinheiro vem das pessoas que se reúnem na ´Comunidade das Onze`, e ela própria promove esta acção”, disse-nos o Reitor, informando-nos também que no último domingo de Fevereiro (26), o valor arrecadado foi entregue às vítimas do sismo que ocorreu recentemente na Turquia e na Síria.

PARTILHAR, APESAR DE…

“Queremos ser um pequeno sinal de esperança no meio das dificuldades. Claro que nós, o Seminário, também precisamos de dinheiro, mas não é porque não precisamos que podemos partilhar. É apesar de precisarmos. Não queremos deixar de ajudar, porque nunca vai haver o dia ideal para partilharmos, jecção [para o fim] é de mais dois anos. Como não há orçamento, poderemos ter de parar a obra, iremos até onde conseguirmos. Não faremos mais empréstimos: se tivermos mais recursos, tentaremos concluir algumas coisas, mas vamos parar onde chegarem os cinco milhões”, confirmou. sempre haverá uma necessidade qualquer”, explicou. Neste momento, a instituição encontra-se sem saber se terá dinheiro suficiente para concluir as reformas que estão a ser feitas. O orçamento original da obra rondava os cinco milhões de euros, conseguidos através de um empréstimo (três milhões) e um investimento de fundos próprios do Seminário da diocese (dois milhões).

Uma das instalações que foram remodeladas no Seminário é este café, com a parede repleta de livros antigos, organizados em prateleiras que se erguem do chão ao tecto.

Para angariar fundos, no início das remodelações, o Seminário iniciou uma campanha para que os doadores pudessem dar nome aos quartos que estão a ser criados. Com a contribuição de 7.500 euros, é possível atribuir nomes de santos, figuras ilustres ou bispos, por exemplo, as habitações. Ainda estão disponíveis 20, de 70 quartos, para serem nomeados.

“Quando pensávamos que dois milhões era muito, percebemos que era muito pouco. E agora reforçamos essa visão, diante da realidade em que nos encontramos”.

“IREMOS

At Ao

LIMITE DOS CINCO MILHÕES”

O Reitor Nuno Santos ressaltou que teve algumas dificuldades no decorrer da obra, como o próprio mercado imobiliário e de construção, além do facto de terem mudado de empreiteiro em Janeiro deste ano.

“Nós iniciámos as obras há quase três anos e a pro-

“Há um esforço muito grande das pessoas que doam, e nós, por ano, conseguimos juntar mais de cem mil euros, mas isso é insuficiente”. A factura dos seminaristas é próxima desse valor, por isso o montante é insuficiente para a intervenção, completou o padre. “Me custa estar a pedir dinheiro quando lidamos com um mundo com crises tão grandes. Isso é um elemento inibidor na hora de pedir ajuda. Precisamos, mas tenho consciência de que há quem precise mais do que nós”. Para o Reitor, concluir as obras seria um passo brilhante na história do Seminário.

“No fundo, queríamos que esses projectos fossem alargados, reforçados e acelerados”, acrescentou. Nuno Santos declarou que, apesar das dificuldades financeiras, espera que o Seminário possa fazer parte de um processo de renovação da cidade, com novos circuitos pedonais, sobretudo, e de ligação entre a Alta e a Baixa da cidade, mas que isso é prematuro, porque não depende só da instituição.

A esperança não abandonou o Reitor, que escolheu acreditar “que daqui a alguns anos, quem sabe, o Seminário será ainda mais bonito”.

PARA (RE)VISITAR

O padre Nuno Santos, como parte do seu projecto para o Seminário Maior de Coimbra, que fica localizado na rua Vandelli, 2, inaugurou em 2017 as visitas na instituição. Actualmente, há 11 instalações para conhecer, como o museu Póvoa dos Reis, os aposentos do Bispo, capelas, uma biblioteca com mais de 9.000 volumes, sendo o mais antigo dos livros do ano 1506 e a igreja Sagrada Família. O visitante pode optar por conhecer todos os locais, por cinco euros, ou escolher apenas aqueles que lhe interessar, sendo este tipo de visita um euro por espaço. Além disso, o baloiço com vista para o Rio Mondego, que desde 2021 conta com um bar de apoio, é uma das atrações mais conhecidas do Seminário. A entrada é gratuita e a sua paisagem é digna de um cartão postal. Além da parte turística, há refeições e alojamentos no âmbito de actividades pastorais. A ideia é abrigar peregrinos, retiros e turismo espiritual, por exemplo.

Uma parte das obras tinha por objectivo aumentar a capacidade de acolhimento do local, e agora falta pouco para alcançarem essa meta. No fim, terão 90 camas e um refeitório para 150 pessoas disponíveis.

Outro objectivo é atingir 25 moradores permanentes, sendo que actualmente há 10 pessoas, em sua maioria padres, a viver na casa.

A Catedral também vale a visita: com seu estilo italiano, do século XVIII, ela é toda decorada em mármore. O órgão da capela é espanhol e possui 1.500 tubos. O espaço passou por remodelações e uma das mudanças feitas foi o piso, agora todo em mármore português.

Todas as terças-feiras, às 19h00, é celebrada uma missa na Catedral. No fim da sessão há música clássica e, depois, quem quiser pode ficar para jantar no refeitório do Seminário, mediante inscrição feita através do e-mail da casa (seminariomaiordecoimbra@gmail.com).

“É aberto para todos [a missa e o jantar]. Há pessoas que nunca cá vieram, e não há problema. É só mandar um email e dizer que quer ficar para jantar”, convidou Nuno Santos. As visitas no Seminário Maior de Coimbra podem ser feitas de segunda a sexta, entre as 14h00 e as 17h00 e, aos sábados, das 10h00 às 17h00.

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