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Os jornais impressos continuam a justificar-se mesmo em tempo de Internet?

Ofuturo dos jornais impressos é, actualmente, um tópico de debate e especulação. Enquanto alguns argumentam que a ascensão dos média digitais tornou os jornais impressos obsoletos, outros afirmam que sempre haverá lugar para publicações impressas.

Há sempre um deslumbramento inicial com o “novo” e naturalmente o mesmo acontece com o avanço tecnológico. Vimos isso acontecer com a fotografia abalando gigantes como a Kodak, onde no primeiro momento todos passámos para as fotos digitais, mas após o impacto inicial voltaram as insubstituíveis impressões das fotografias de momentos especiais que pretendemos eternizar. Curiosamente este avanço fez com que mais pessoas se interessassem por fotografia, algo que no passado era muito caro, especializado, apenas para profissionais.

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Outro exemplo foi na música (Napster, Spotify, etc.) desaparecendo os “vinis” e onde o próprio CD teve uma vida muito fugaz não durando uma geração. Hoje, mais uma vez após o impacto inicial, vemos o ressurgimento dos discos em vinil como forma de manter uma herança, um legado patrimonial, que pode passar de geração em geração, registando um aspecto cultural e a obra completa (e não avulsa) de autores mais significativos.

Nos livros tem acontecido o oposto, a facilidade de impressão e edição favoreceu o mercado, o sistema de ISBN, tem cada vez mais editores registados e o número de publicações com este identificador tem vindo a aumentar consideravelmente, de 2018 a 2022 passaram de 18.627 a 21.115. Não só mais “escritores”, mas também mais “leitores” e em 2022 venderam-se mais de 2,7 milhões de livros em Portugal, o que representa um aumento de 17,6% face a 2021 (APEL), quando já tinha aumentado 16,6% face a 2020.

Por um lado, é inegável o declínio dos jornais impressos nos últimos anos. De acordo com o Pew Research Center, a circulação nos dias úteis dos jornais diários dos EUA caiu 8% em 2020, e a receita de publicidade impressa está em declínio constante há mais de uma década. Isso pode ser atribuído a vários factores, incluindo o aumento do canal digital e a pressões económicas. Não se pode esquecer que o digital tem também vantagens, como a facilidade de actualização de notícias e sua evolução, como a possibilidade de juntar gráficos e imagens dinâmicas além dos vídeos.

Por outro lado, ainda há muitas pessoas que preferem ler jornais impressos. Para algumas pessoas é simplesmente uma questão de hábito ou nostalgia. Outros apreciam a experiência de segurar um jornal e o seu ritual. O jornal impresso é ainda símbolo de confiança, pressupõe uma redacção, um editor, jornalistas credenciados transmitindo maior credibilidade à informação. É, ainda, mais inclusivo pois o leitor comprando o jornal físico é confrontado com todas as notícias e não só as que quer ler. Muito diferente da experiência digital onde apenas a “sua” notícia (ou a notícia recomendada) aparece no ecrã, além de haver muitas distrações a concorrerem para a sua atenção (notificações, várias páginas abertas em simultâneo, pop-ups, etc).

A própria escrita online tem outra “emoção” (emojis, etc.) que pode influenciar a percepção do leitor.

Além disso, os jornais impressos ainda oferecem benefícios únicos que a média digital não pode replicar. Os jornais impressos fornecem um senso de comunidade ao conectar os leitores a notícias e eventos locais. Também muito importante apresentam reportagens e análises aprofundadas (fascículos e números especiais) que são menos comuns no mundo acelerado das notícias online. Muitos autores recorrem ao conjunto de publicações impressas para editarem um livro (origem da Mafalda de Quino por exemplo). Estas constituem também um património que permanece ao longo dos tempos.

Dito isso, fica claro que os jornais impressos enfrentarão desafios significativos nos próximos anos. À medida que mais pessoas recorrem ao canal digital para as notícias e informações, os jornais impressos necessitarão de se adaptar para sobreviver. Isso pode significar focar-se em nichos de mercado ou oferecer conteúdo exclusivo que não está disponível online.

O “Campeão das Províncias” é um exemplo de profissionalismo e serviço público ao serviço da região e da sua comunidade, cuja edição impressa muito tem contribuído para a valorização da democracia e da informação. Embora seja impossível prever exactamente o que o futuro reserva, é claro que os jornais impressos precisarão ser inovadores se quiserem permanecer relevantes nos próximos anos.

(*) Professor do Ensino Superior e Presidente do ISCAC | Coimbra Business School

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