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UNIVERSIDADE DE COIMBRA CONTINUA A NÃO FECHAR A PORTA FÉRREA À LIBERDADE EDITORIAL

OReitor da Universidade de Coimbra e a sua equipa reitoral decidiram cessar a colaboração que Vladimir Pliassov, Professor aposentado, vinha mantendo sem conhecimento da Reitoria no Centro de Estudos Russos, ligado a uma Fundação criada por Putin em 2007 e com a qual a Universidade já havia cessado o respectivo protocolo de colaboração, no contexto da guerra na Ucrânea. Sejamos mais claros: o referido professor - porque já aposentado e sem razão para por ali se manter activo apesar da orientação que a Universidade assumira e que, por estas duas razões, desconhecia qualquer colaboração já não necessária nem consentida - mantinha-se por ali, disfarçando eventuais campanhas de apoio à invasão da Ucrânia pela Rússia (ou dando disso claros indícios), sabendo que o estava a fazer dentro de uma Universidade estrangeira que já havia tomado uma posição formal de repúdio e discordância perante a invasão russa que despoletara idêntica reacção na generalidade dos países livres. Ao saber disto, a Universidade afastou o referido professor, que continuava a colaboração de que fora dispensado, mas manteve o Centro de Estudos Russos a funcionar (contrariamente ao que outras Universidades fizeram), permitindo também a continuidade de outros Professores e Investigadores russos, bem como duas dezenas de alunos igualmente russos que ali continuam. A Universidade de Coimbra manteve bem nítida a distinção entre impedir abusos de quem não soube respeitar a cordialidade, e a traía no desempenho de funções que já não tinha, e a continuidade de quem ali se justificava em funções meramente académicas, fosse como docente, investigador ou aluno. Choveram críticas ferozes ao Reitor e à Reitoria, algumas embrulhadas em insultos mal disfarçados. Defendem esses críticos que o referido professor se deveria manter por ali, em casa alheia e ainda que desempenhando funções que já não tinha e mantendo colaboração de que fora formalmente dispensado pela Universidade. Mas, afinal, para quê e porquê deveria o referido professor continuar a frequentar o referido Centro de Estudos, se já se aposentara e a Universidade lhe comunicara para cessar a colaboração que mantinha sem o conhecimento da própria Universidade? Seria correcto continuar a frequentar aquele espaço e aquele Centro para fazer (no mínimo havia disso claros indícios) política contrária à posição que a Universidade havia assumido, enquanto instituição pensante, activa e participativa da vida pública portuguesa e Escola que não costuma acovardar-se sempre que doutrinas contrárias à liberdade dos povos tentam subir as Escadas Monumentais, permitindo-se - como seria alegadamente o caso em análise - acolher propaganda de regimes ditatoriais que só resistem à força de balas e se infiltram nos regimes democráticos de forma sub-reptícia e com propósitos conhecidos? Mais do que isso: defendem esses críticos que a Universidade deveria continuar a assumir o pagamento dessa política de perfil suspeito? A Universidade de Coimbra não o fez e entregou esse dinheiro, não à Fundação russa mas à Direcção da Faculdade para que contrate quem entenda ser verdadeira-

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Universidade Explica Procedimento

«No contexto da guerra na Ucrânia, a opção da Reitoria da UC foi a de cessar o protocolo com a Fundação Russkyi Mir - Fundação criada por Vladimir Putin em 2007, sancionada pela Comissão Europeia por constituir veículo de propaganda e desinformação, e liderada por Vyacheslav Nikonov, oligarca russo sancionado internacionalmente.

Várias outras Universidades europeias decidiram de forma igual, tendo em alguns casos determinado mesmo a extinção dos Centros de Estudos Russos. Na Universidade de Coimbra, garantimos a continuidade do Centro de Estudos Russos, mas financiado com base em recursos próprios da Reitoria e o contrato de trabalho do Professor Vladimir Pliassov foi cumprido pontualmente até à data da sua aposentação.

Distinguimos assim o regime de Vladimir Putin do povo, da cultura, da língua e da literatura russas. As Universidades devem promover pontes de diálogo, pela cultura e ciência, num mundo com cada vez mais muros políticos.

Rejeitamos qualquer acção com base num princípio de culpa colectiva, pelo que não há mente necessário ao trabalho sério que ali deva ser desenvolvido. Fez, a nossa Universidade, o que todas as Universidades livres do mundo fizeram e, ao agir assim, dignificou o seu passado de instituição livre e corajosa. Isso é motivo de orgulho e não o contrário. Uma certa esquerda, elitizada e aburguesada, agacha-se debaixo de certas sombras porque acredita que, independentemente dos valores que defende ou ataca, isso lhe dá estatuto. Não está sozinha. Há também quem o faça noutras áreas do pensamento político. Mas o núcleo central da democracia reside exactamente aí, na capacidade de reagir quando o bom senso cede perante ideologias de ocasião que espreitam em permanência a oportunidade de aniquilarem a liberdade. Defender certas ideologias e procedimentos, não por questões ideológicas mas porque é chique e está na moda, é assumir da mediocridade a forma e o jeito. E por vezes o proveito. Ainda bem que a Universidade de Coimbra, agindo na mesma linha de outras Universidades livres, nos tranquiliza enquanto instituição de elevados méritos científicos mas também como peregrina na busca e defesa de valores éticos que enformam as civilizações respeitadoras dos valores e direitos humanos. De política barata está o mundo cheio e por ela se está em permanente estado de guerra, no terreno ou a caminho. lugar a afastamentos em função da nacionalidade. Na UC encontram-se actualmente 4 professores de carreira, 4 investigadores e 21 estudantes de nacionalidade russa.

Sem conhecimento da Reitoria, o Prof Vladimir Pliassov, após a aposentação, continuou a dirigir o Centro de Estudos Russos, gerindo a respectiva página da Internet, onde até Dezembro de 2022 constava ainda, indevida e inaceitavelmente, o logotipo da Fundação Russkyi Mir. A continuação do referido professor na UC, a partir de 1 de Setembro de 2022, fez-se com base num acordo de colaboração voluntária, a título gracioso. A Reitoria, ao tomar conhecimento efectivo deste acordo, cessou-o de imediato no quadro jurídico aplicável.

Resumidamente: repusemos a solução que já estava definida aquando da cessação do vínculo com a Fundação Russkyi Mir. O nosso compromisso com a causa ucraniana é inequívoco, pois representa a defesa do humanismo, dos valores europeus e do Direito Internacional».

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