Canguru | BH | Setembro de 2016 | Número 12

Criando filhos em BH

www.cangurubh.com.br | set 2016 | nº 12

E XE M P LAR G RAT U I TO PARA E SCO LAS PARCE I RAS

10 dicas para seu

filho aprender a

LIDAR COM DINHEIRO

Sexualidade:

O QUE FAZER QUANDO ELES COMEÇAM A PERGUNTAR

sobre “aquilo”

INTELIGÊNCIA

verde

Crianças no estádio:

QUANDO LEVAR E

que cuidados tomar

O contato com a natureza melhora o desenvolvimento intelectual dos pequenos

4nesta edição

seções

6 8 10 12 13 14 15 16 18 20 42 43 44 45

Primeiras palavras

46

Padecendo no Paraíso, por Bebel Soares e Tetê Carneiro

47 48 50

Artigo, por Cláudia Aparecida Borges Magalhães

24

Nossos leitores www.cangurubh.com.br Missão Instagram Eles dizem cada coisa Canguru viu e curtiu Corrente do bem Mundo Kids Moda Comprinhas Viagens, modo de usar, por Luís Giffoni

Bárbara Mayrink, de 3 anos, moradora de Lagoa Santa: contato direto com a natureza, por opção de seus pais

22

História de mãe, por Mariana Isabel Para ler com seu filho, por Leo Cunha Na Pracinha, por Flávia Pellegrini e Miriam Barreto

Artigo, por Daniela Silveira Crônica, por Cris Guerra

Isabel Tavares em exame oftalmológico: cuidado para prevenir problemas de vista mais graves na fase adulta

38

Reportagens

22

Saúde | Acompanhamento oftalmológico desde cedo ajuda a prevenir problemas graves de visão

24

Natureza | Contato frequente com áreas verdes faz com que as crianças se desenvolvam melhor

32

Comportamento | Veja como a sexualidade aparece em cada fase da infância

36

Educação financeira | Conheça dez dicas para seu filho aprender a lidar com dinheiro

38

Futebol | Saiba qual a melhor idade para levar seus filhos ao estádio e que cuidados tomar

Marco Túlio e o filho Marcos: ele esperou o menino completar 8 anos para levá-lo ao estádio pela primeira vez

Nossa capa Leonardo, de 4 anos, é filho de Renata Rocha Pinheiro e Marcelo Luís de Lima.

FOTO: Gustavo Andrade

FOTO: GUSTAVO ANDRADE

4primeiras palavras

Para rever escolhas O TEMA DA palestra era a importância do sono para as crianças — e do horário de colocá-las na cama. Diante da plateia de pais e mães que lotavam as poltronas da Paróquia Nossa Senhora Rainha, no Belvedere, o psiquiatra José Belizário falava sobre o impacto negativo dos novos hábitos das famílias, que estão deixando os pequenos ficar acordados até, no mínimo, uma hora mais tarde do que era o costume há duas décadas. De repente, porém, o respeitado especialista mineiro, que é referência no atendimento a crianças, mudou o tom da conversa e anunciou: “Mas a falta de verde na vida das crianças anda me preocupando ainda mais”.

Foi a primeira vez que ouvi falar (ou que prestei a devida atenção) sobre estudos científicos internacionais que comprovam a relação entre o convívio com a natureza e o desenvolvimento intelectual na infância. Você sabia que o contato periódico com o verde pode melhorar em até 65% a capacidade de memorização e o desenvolvimento cognitivo nos primeiros anos de vida? É o que diz um estudo realizado na Espanha há dois anos. Para pais que vivem nos grandes centros urbanos e oferecem aos filhos poucas oportunidades de desfrutar a natureza (grupo no qual me incluo), os dados que detalhamos na reportagem de capa deste mês, assinada pela repórter Rafaela Matias, chegam a ser alarmantes.

“Se estiver em dúvida sobre duas escolas para o seu filho, escolha a que tiver maior área verde”, sentenciou Belizário, naquele sábado de maio, quando decidi que esta pauta precisava ser explorada pela Canguru. Infelizmente, poucas escolas conseguem oferecer a abundância de verde prescrita pelo médico. Sim, prescrita. Conviver mais com a natureza tem sido o tratamento indicado pelo psiquiatra para alguns pequenos pacientes.

Guardamos a reportagem para publicá-la na edição de setembro, numa espécie de celebração do Dia da Árvore (21). Se você tem filhos pequenos que vivem longe das áreas verdes, não deixe de ler. É possível que, com essa matéria, você reveja muitas das escolhas que tem feito para sua família.

E não é só isso que destaco na edição. Em tempos de crise econômica, as famílias precisam fazer o orçamento render como nunca, garantindo bom uso de cada real ganho. A repórter Isabella Grossi ouviu especialistas para dar dez dicas aos pais sobre como ensinar aos filhos que dinheiro não é brinquedo, não.

Boa leitura!

Ivana Moreira, DIRETORA DE REDAÇÃO ivana@cangurubh.com.br

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Ivana e os filhos Gabriel e Pedro

DIRETOR EXECUTIVO: Eduardo Ferrari DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS: Ivana Moreira

www.cangurubh.com.br DIRETORA DE REDAÇÃO: Ivana Moreira EDITORA: Cristina Moreno de Castro EDITORA DE ARTE: Christina Castilho PROJETO GRÁFICO: Christina Castilho (Mondana:IB) REPÓRTER: Rafaela Matias ESTAGIÁRIOS: Daniele Franco e Thailor Gonçalves COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Cris Guerra, Isabella

Grossi, Karoline Barreto, Leo Cunha, Luís Giffoni FOTÓGRAFO: Gustavo Andrade REVISORA: Shirley Souza Sodré COORDENADORA DE MARKETING: Camila Capone ANALISTA DE MARKETING: Juliane Ferreira ATENDIMENTO AO LEITOR: Gabriela Linhares GERENTE COMERCIAL E ADMINISTRATIVA: Suellen Moura ASSISTENTE COMERCIAL E ADMINISTRATIVA: Laura Ramos A Canguru é uma publicação mensal da Scrittore Comunicação e Editora Ltda.

CNPJ 12243254/0001-10, Rua Alberto Bressane, 223, Belo Horizonte/MG, CEP 30240-470 TIRAGEM: 25 000 exemplares IMPRESSÃO: Log&Print Gráfica e Logística S.A. DISTRIBUIÇÃO: VIP BH

Gratuita na rede de escolas parceiras*.

* Instituições particulares de educação infantil que se encarregam de enviar a revista aos pais de seus alunos na mochila dos estudantes. A relação das escolas parceiras pode ser consultada por anunciantes.

PARA ANUNCIAR Suellen Moura: (31) 3656-7818 . (31) 98651-2047 suellen@cangurubh.com.br PARA FALAR COM A REDAÇÃO: mande e-mail para redacao@cangurubh.com.br ENDEREÇO: Rua Rio Grande do Norte, 867 — sala 901, Savassi, Belo Horizonte — MG — CEP 30130-135.

(31) 3656-7818 Artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da revista e de seus responsáveis.

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benevolência são qualidades inatas, e nós, ao crescermos, vamos perdendo tudo isso e nos tornando pessoas que são capazes de ignorar umas às outras?

— Ângela Corrêa

Comportamento

Canguru Como de costume, não leio a revista na ordem das páginas, mas sim na ordem dos meus interesses. Comecei pelo texto da Cris Guerra, “Os invisíveis”, e já me senti tocada. Continuei lendo a revista, e o próximo texto foi “1, 2, 3... Criança outra vez”, de Ana Gabriela Souza Lemos, sobre o grupo de meninas de 5 anos que vibraram e se empolgaram com uma grande conquista de uma colega. Veio à minha mente novamente o texto da Cris Guerra e fiquei pensando: será que preciso realmente ensinar meu filho a ter consideração e respeito pelas pessoas com as quais ele convive? Será que cortesia, decência e

Amei a matéria de capa (“Uma máquina de aprender”). Nos primeiros anos (0 a 12) são absorvidas as crenças que podem limitar ou incentivar a vida inteira de um ser humano. E esse aprendizado está intimamente ligado à formação das sinapses. É um momento de extrema importância na criação dos pequenos.

— Kika Moreira

Mundo Kids Com certeza eu gostaria de ver por aqui uma iniciativa como a que foi citada na nota “Princesas, que nada”. Nada contra ser feminina, vaidosa e ter qualidades que são culturalmente ligadas à mulher. Mas aprender que esse padrão é o modelo desejável, a regra pra ela ser amada e feliz, não é saudável.

— Thais Alencar Ensino minha filha como ser princesa e digo também que o

mais importante não é ficar esperando pelo príncipe. Não vou tirar a fantasia de princesa dela não! Desprincesar para quê? O problema não está na princesa e sim no príncipe.

— Joyce Silveira de Morais

História de pai Parabéns pelo artigo “Agenda bloqueada para ficar com os filhos”, que li e gostei muito. Já com os filhos adultos, pude constatar uma realidade que Márcio Patrus, autor do texto, percebeu em tempo ao fazer o bloqueio da agenda profissional, abrindo espaço para os filhos e dando oportunidade à esposa de fazer um curso uma vez por semana.

Recordei-me que, sob o argumento de que “o trabalho é mais urgente”, muitos, como em meu tempo, perderam oportunidades de construir com mais qualidade a ponte de afeto entre pais e filhos, que proporciona uma relação mais feliz na vida adulta.

— Davi Maciel

FALE COM A CANGURU Entre em contato por e-mail: redacao@cangurubh.com.br ou deixe um comentário em nossas redes sociais.

www.cangurubh.com.br Todos os meses, a Canguru promove seminários gratuitos sobre temas relacionados à educação dos filhos.

Fique atento à programação dos próximos eventos.

palestra

[1]

O que preciso saber (e fazer) sobre a rotina escolar do meu filho?

Tatiana Camargos é a convidada para o Encontro Canguru de setembro ACOMPANHAR A VIDA escolar dos filhos é, quase sempre, um grande desafio para os pais. Afinal, o que é preciso saber (e fazer) sobre a rotina escolar das crianças? Como e quando eles devem interferir? Essas são questões que Tatiana Camargos Lamego pretende responder no Encontro Canguru do mês de setembro. Professora com especialização em educação infantil e comunicadora social, Tatiana é fundadora da BEM FAMÍLIA TUTORIA, que orienta, de forma individualizada, pais com diferentes necessidades. “Eu acredito na educação de pais e filhos como base da família”, costuma dizer a especialista. O encontro será no dia 24 de setembro, no Anfiteatro do Pátio Savassi. O evento é gratuito, mas as vagas são limitadas. Para garantir sua inscrição, entre no cangurubh.com.br.

Promoção

Família com check-up em dia Concorra ao sorteio de uma avaliação laboratorial completa e vacina H1N1

[2]

Mães e pais vivem preocupados com a saúde dos filhos. Mas é preciso ficar atento não apenas aos pequenos — os adultos da casa também merecem atenção. Neste mês de setembro, a promoção da Canguru vai garantir uma avaliação laboratorial completa para a família de um leitor. Em parceria com o Laboratório São Marcos, vamos oferecer o check-up para um casal e dois filhos. Os quatro terão direito ainda a doses da vacina de gripe H1N1. Essa sessão de check-up será realizada na unidade conceito, no Mangabeiras, que tem uma área de atendimento especialmente preparada para a criançada. Cuidar da saúde vai virar uma brincadeira para meninos e meninas. Eles nem vão se lembrar do medo das agulhas e ainda vão sair de lá com o “certificado da coragem”. Entre no cangurubh.com.br e confira as regras para participar deste sorteio.

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Campanha

novidade

Compre o livro, ajude a instituição e contribua para a inclusão

Blogueiras em estreia

FOTOS: [1] BEMFAMILIA.COM.BR; [2] FREEPIX; [3] DIVULGAÇÃO.

A inclusão de crianças com deficiência na rotina escolar é um desafio para toda a sociedade. E não pode ser uma bandeira só dos pais que têm filhos com deficiências. A inclusão tem muito a ensinar para todos. É disso que trata [3] o livro Tony e Nina, uma História de Afeto, da escritora Marismar Borem. O enredo emocionante vai sensibilizar adultos e crianças para o tema e também vai ajudar o Projeto Assistencial Novo Céu, que acolhe pessoas com paralisia cerebral. Toda a renda com a venda do livro será destinada à casa. A campanha de financiamento coletivo para a produção e distribuição da obra está no endereço infanciar.juntos. com.vc. É possível doar a partir de R$ 35,00 para garantir a compra do livro, ajudar o Novo Céu e contribuir para a causa da inclusão. Confira no cangurubh.com.br, uma entrevista exclusiva com Marismar Borem, que doou os direitos autorais em favor da campanha.

Em setembro, o site da Canguru vai ganhar a colaboração de duas novas blogueiras: Kika Castro e Rafaela Matias. Kika é o apelido de Cristina Moreno de Castro, jornalista com passagem por veículos como Folha de S.Paulo, G1 e o O Tempo e que hoje é editora da revista Canguru. Ela, que já está na blogosfera desde 2003, vai escrever sobre sua experiência como mãe de primeira viagem de um menino de 9 meses.

Já Rafaela Matias, que também é jornalista e hoje atua como repórter da Canguru, vai compartilhar com nossos leitores seu amor pelos pets. No blog, vai dar dicas para famílias que têm ou pretendem ter animais de estimação em casa.

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NA CBN Às terças

e quintas, às 10h40, acompanhe ao vivo o boletim Canguru: criando filhos em BH. Todos os áudios estão disponíveis no portal cangurubh.com.br.

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A primavera vai começar, neste ano, no dia 22 de setembro. E, para celebrar a chegada dessa estação colorida, pedimos a nossos leitores que marcassem a #cangurubh nas fotos das crianças junto com flores. Ficamos encantados com o resultado, veja só!

Isabelle Cristina Leite de Souza, de 3 anos, andou descalça sobre o gramado da Praça da Liberdade, cheio de flores de ipê! O registro estava no Instagram @potinhodefelicidade.

Veja a carinha de felicidade do pequeno Lucca Mayrink Marques, de 3 anos, junto às flores da pracinha do condomínio Alphaville! O clique é de @polimayrink.

Próxima missão: Mês das crianças!

O dia 12 de outubro é aguardado por dez de cada dez crianças. E o que elas mais gostam de ganhar em seu dia? Brinquedo, é claro!

Compartilhe no Instagram uma foto de seu filho com um brinquedo que ele adora, marcando a gente com a hashtag #cangurubh.

Os melhores registros serão publicados na edição de outubro.

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FOTOS: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

A pequena Marina, de 1 ano e 11 meses, explorou as flores da paisagem de Dresden, na Alemanha, em uma viagem especial que fez com @heloisa.drumond, que não perdeu o clique.

POR Rafaela

Matias

Mãe, lá n o cé guarda-r u tem Porque e oupa? u de ficar c não gosto om a mes ma roupa tod o dia, não !

RAQUEL, 5 anos, filha de Diego Gontijo e Leandra Gontijo.

GUSTAVO HENRIQUE, 3 anos, filho de Daniel Rodrigues de Freitas e Gláucia Santos.

Minha mão está tão gelada que parece que eu coloquei na geladeira.

Meu pai mentiu! Ele disse que eu tenho 5 anos, mas eu tenho só 4.

Quero fazer um gol forte igual ao Hulk!

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

CAUÃ RAFAEL, 3 anos, filho de Ágata Ludmila e Rafael Martins.

LAURA, 4 anos, filha de Gustavo Levi e Jeanne Porto, ao perceber que o pai confundiu a sua idade.

De tanto a gente falar de novo, de novo e de novo, já devia ser “de velho ”.

POLIANA, 10 anos, filha de Andreza Lívia Andrade e Kener Wenceslau de Abreu.

Se seu filho também diz pérolas, envie a frase para o e-mail redacao@cangurubh.com.br.

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EDIÇÃO Camila

Capone

O QUE ESTÁ ROLANDO DE ÚTIL, DIVERTIDO OU CURIOSO NA WEB E NAS REDES SOCIAIS

Organizando as roupinhas do bebê Quando o assunto é roupinha de bebê, todo mundo se derrete. Sempre tão bonitinhas, mas também complicadas de dobrar, não é mesmo? Mas há como deixar a gavetinha de roupas de bebê organizada.

Assista a esse vídeo com o nosso QR Code e veja como a tarefa vai ficar mais fácil.

Ou acesse bit.ly/comodobrar

Pequenos beijoqueiros Assista a esses dois pequenos beijoqueiros e se contagie com as deliciosas risadas! Para morrer de amores com o vídeo, use nosso QR Code.

IMAGENS: REPRODUÇÃO

Ou acesse bit.ly/pequenosbeijoqueiros

Bichos e Beatles — para crianças!

A cada dia, o Netflix vem se consolidando como uma ótima opção de entretenimento, não apenas para os adultos. A nova aposta é a série infantil BEAT BUGS, inspirada nos Beatles. Cada um de seus episódios terá como tema uma das canções da banda.

Clique em nosso QR Code para conferir. Yeah! Yeah! Yeah!

Ou acesse bit.ly/beatbugsforkids

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POR Rafaela COLABOROU Daniele

Matias Franco

Aprendendo a ser mãe

Da maternidade à arte Moradora de Macacos, distrito de Nova Lima, na Grande BH, a educadora e artista plástica Tatiana Santana conheceu no início do ano um grupo de mães da ocupação Água Limpa, localizada na mesma região, e decidiu usar a arte para levar um pouco de cor à vida daquelas mulheres. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), do governo federal, cedeu o material para que ela pudesse ministrar oficinas de bordado para 25 mães da ocupação, algumas ainda com bebês de colo. Bastaram dez aulas para que as moças conseguissem fazer do ofício aprendido uma fonte de renda. Elas criaram uma cooperativa de bordadeiras e realizam, dentro da própria comunidade, uma feira de artesanato aos sábados e domingos, onde expõem e vendem os produtos. “A grande maioria não conseguia trabalho fixo pelo fato de ser mãe. O projeto permitiu que elas projetassem alguma perspectiva financeira associada à maternidade”, conta Tatiana. Os interessados em participar, doar materiais ou fazer encomendas podem entrar em contato pelo telefone 9.94577449 ou pela página facebook.com/bordadobordo. Doações de roupas, brinquedos e alimentos também são bem-vindas.

Quem já tem um pequeno sabe que durante a gravidez os gastos não são baixos. Por isso, um curso de gestante pode acabar ficando de fora da lista de prioridades.

Mas não se depender da Caritas Paroquial Nossa Senhora de Fátima, associação sem fins lucrativos que desenvolve projetos de assistência social e de incentivo ao voluntariado. Há mais de vinte anos a entidade está à frente de um projeto que beneficia mulheres grávidas de baixa renda, o GESTANTE CIDADÃ. Dividindo-se em quatro edições anuais, o programa promove cursos de gestante ministrados por profissionais voluntários das mais diversas áreas, como dentistas, médicos, enfermeiros, psicólogos e advogados. São atendidas de vinte a trinta mulheres por edição, e a prioridade é para as mães de primeira viagem. Além das aulas, as participantes recebem um kit enxoval, com banheira, manta, pagão, fraldas, conjunto de lã e itens de higiene. Informações sobre datas, inscrições ou doações pelo telefone 3291-6515.

FOTOS: DIVULGAÇÃO; [1] IRA MACHADO.

Inclusão e oportunidade

[1]

Acreditar. Dessa palavra nasceu o INSTITUTO MANO DOWN, que contempla uma centena de pessoas com síndrome de Down. A entidade oferece aulas fixas de atividades diversas, como dança, capoeira e música, que têm, hoje, trinta alunos matriculados.

Além disso, há atividades extraclasse, que reúnem mais de 100 pessoas para se divertirem e criarem laços em saídas para parques, restaurantes e museus, por exemplo.

Neste mês de setembro, a agenda do Mano Down terá palestra sobre sexualidade e autonomia (2), encontro em uma pizzaria (14) e balada com show do Dudu do Cavaco (19). Foi justamente esse último que inspirou o irmão, Leonardo Gontijo, a fundar o instituto. Seu talento e capacidade provam que as pessoas com Down podem ir muito longe quando têm oportunidades. Veja todas as atividades do instituto e saiba como ajudá-lo no site www.manodown.com.br.

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POR Rafaela COLABOROU Thailor

dos pais brasileiros criam CONTAS DE E-MAIL PARA SEUS BEBÊS COM MENOS DE 2 ANOS, segundo a série de estudos Digital Diaries, realizada pela AVG Technologies.

Diversão sob demanda

[2]

Imagine a seguinte situação. O seu filho quer muito um brinquedo e lhe pede com aquela carinha fofa. Você compra, ele brinca, e duas semanas depois já está enjoado.

E, claro, começa a pedir o próximo.

Identificou-se? Se sim, a ideia da advogada Adriana Verotti pode vir a calhar.

Inspirada na própria experiência como mãe, ela criou o CLUBINHO DA DIDI, marca belo-horizontina especializada em aluguel de brinquedos via internet. “Assim, os pais podem gastar menos e ter acesso a uma enorme variedade, além de economizar espaço em casa”, afirma Adriana. No site www.clubinhodadidi.com.br é possível escolher os brinquedos e selecionar as opções de aluguel: quinzenal ou mensal. Acessórios, fantasias, livros e outros produtos infantis também estão disponíveis. Os itens são entregues em até cinco dias, já montados e com pilhas recarregáveis. A sede fica no bairro Belvedere, mas para os que optarem pela retirada dos brinquedos em casa, o frete é reduzido. E vivam as boas ideias!

PM para crianças Uma boa notícia para os pais: agora, os [3] pequenos podem aprender a se manter seguros de uma forma bem divertida. A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) lançou uma página no Facebook voltada para os pequenos cidadãos. Com uma linguagem acessível à criançada, a PMMG MIRIM dá dicas de segurança e fala sobre as ações do serviço militar estadual. Com cerca de 5 000 curtidas, a fanpage reúne imagens, GIFs animados, memes e até paródias de músicas populares com cunho educativo. Um canal no YouTube também foi lançado pela corporação e é atualizado com vídeos e animações. Para acessar, basta procurar por PMMG Mirim na barra de pesquisa dos sites.

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[1]

Transporte com segurança Entre os dias 18 e 25 de setembro é comemorada a Semana Nacional do Trânsito, e o tema escolhido para este ano não poderia ser melhor para os que têm pequenos a bordo. Com o nome de EU SOU + 1 POR UM TRÂNSITO + SEGURO, o foco do projeto em 2016 é lembrar que simples atitudes fazem a diferença e contribuem para a proteção dos que transitam pela cidade. Quando se trata de passageiros mirins, por exemplo, é indispensável o uso adequado dos equipamentos de segurança, como a cadeirinha e o bebê conforto. Uma cartilha elaborada pela ONG Criança Segura informa os pais sobre a forma correta de utilizar os itens e indica a idade para cada um deles.

BEBÊ CONFORTO OU CONVERSÍVEL ›› Peso e idade: desde o nascimento até 13 quilos ou conforme recomendação do fabricante (aproximadamente 1 ano de idade). ›› Posição: voltada para o vidro traseiro (de costas para o movimento), com inclinação sugerida de 45 graus ou conforme instruções do fabricante.

CADEIRA DE SEGURANÇA ›› Peso e idade: de 9 a 18 quilos (aproximadamente de 1 a 4 anos de idade). ›› Posição: voltada para a frente, na posição vertical, no banco de trás.

ASSENTO DE ELEVAÇÃO OU “BOOSTER” ›› Peso e idade: de 18 a 36 quilos (aproximadamente de 4 a 10 anos de idade). ›› Posição: no banco traseiro com cinto de três pontos.

CINTO DE SEGURANÇA DE TRÊS PONTOS ›› Peso e idade: acima de 36 quilos e no mínimo 1,45 m de altura (aproximadamente 10 anos de idade). ›› Posição: até 10 anos de idade, no banco traseiro do carro, com cinto de três pontos.

FOTOS: [1] DETRAN/ ANPR / FOTOS PÚBLICAS; [2] PIXABAY; [3] DIVULGAÇÃO PMMG.

14%

Matias Gonçalves

eu já fui

criança Especial medalhistas olímp

icos

Rafaela Silva Quem garantiu a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos dentro de casa foi a judoca Rafaela Silva, 24 anos, natural do Rio de Janeiro. Ela começou a praticar judô quando tinha apenas 5 aninhos de idade. “Meus pais viam o esporte como alternativa para que eu me afastasse da violência na Cidade de Deus”, disse a atleta ao site do Comitê Olímpico Brasileiro. Aos poucos, ela foi tomando gosto pelo esporte, que já lhe rendeu várias outras conquistas importantes.

[1]

[2]

FOTOS: [1] [3] [5] REPRODUÇÃO INSTAGRAM ; [2] [4] ROBERTO CASTRO / BRASIL 2016; [6] FRANCISCO MEDEIROS /ME.

Diego Hypolito O ginasta de Santo André (SP) conquistou a medalha de prata no solo masculino de ginástica artística dos Jogos Olímpicos 2016. Foi aos 7 anos que o atleta começou sua carreira, por influência de sua irmã, a também atleta olímpica Daniele Hypolito, no Sesi de Santo André. No site do Comitê Olímpico Brasileiro, ele diz que Daniele é seu ídolo no esporte, ao lado de Ayrton Senna. E revela seu filme favorito: “Harry Potter”!

[3]

[4]

Poliana Okimoto Poliana começou sua carreira bem cedo: aos 2 anos de idade. Foi novinha assim que ela aprendeu a nadar e, já aos 7, começou a treinar.

Quando tinha 13 anos, conquistou sua primeira medalha em um campeonato brasileiro absoluto. Na Olimpíada Rio 2016, Poliana ganhou medalha de bronze na maratona aquática de 10 km. Terminou a prova em 1h56min51, a apenas dezenove segundos da primeira colocada. A atleta é natural de São Paulo (SP) e hoje tem 33 anos.=

[5]

[6]

4moda

Para cuidar do jardim (ou arrasar por aí) Ah, a primavera! Estação das flores, da natureza, das temperaturas amenas... e da moda! Com início em 22 de setembro, a temporada é ideal para abusar de jardineiras, macaquinhos e macacões. Inspiradas nas roupas usadas pelos profissionais do campo, as peças combinam perfeitamente com um dia florido e de céu azul. Seja para ajudar a cuidar de um jardim ou simplesmente brincar por entre as flores. Foi o que fez Sophia Victoria Barbosa Guilherme, de 5 anos, usando macaquinho da loja Angels Kids POR Rafaela

Matias MACAQUINHO, R$ 108,00, da Angels Kids.

Rua Castelo da Beira, 268, Castelo, tel.: 3476-7959.

[1]

SAIA COM PEITILHO, R$ 229,90, da Chicco.

DiamondMall, tel.: 3335-1043.

MACAQUINHO, R$ 119,99, da PUC. Boulevard Shopping, tel.: 3241-5897.

MACACÃO, R$ 69,99, da Hering Kids.

Shopping Del Rey, tel.: 3415-7321.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO; [1] GUSTAVO ANDRADE.

JARDINEIRA FEMININA, R$ 119,95; JARDINEIRA MASCULINA, R$ 129,95, da Alphabeto. Shopping Cidade, tel.: 3212-2631.

apresenta

FOTO: FOTO:SHUTTERSTOCK SHUTTERSTOCK

Dengue: a hora da prevenção é agora O ciclo da dengue se repete a cada ano. Com o calor e a umidade do verão, o mosquito Aedes aegypti se reproduz com mais facilidade e o número de pessoas contaminadas pela doença aumenta consideravelmente em janeiro e fevereiro, atingindo o seu pico nos meses de março e abril. A boa notícia é que essa história pode mudar em 2017, se alguns cuidados começarem a ser tomados agora. Além das formas de prevenção tradicionais (veja ao lado), que continuam sendo a melhor maneira de evitar a reprodução do vetor, existe agora a vacina contra a dengue, que já está disponível na rede privada de saúde e representa mais uma arma contra a doença.

Após vinte anos de pesquisa, a vacina foi liberada para comercialização e chegou a Belo Horizonte no último mês. Eficaz contra os quatro sorotipos do vírus registrados no Brasil, a vacina é dada em três doses, com intervalo de seis meses entre elas. “Por isso, quem receber a primeira dose ainda neste mês poderá tomar a segunda a tempo de se proteger contra o surto do ano que vem”, explica o médico infectologista Adelino de Melo Freire Jr., gerente de vacinas do Laboratório São Marcos e coordenador de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Felício Rocho.

Segundo os estudos, a eficácia de vacina é de cerca de 65% para infecção sintomática e de 93% para quadros mais graves, que requerem hospitalização. Por enquanto, as doses são indicadas para pessoas de 9 a 45 anos. Alguns efeitos colaterais podem surgir após as aplicações, mas os sintomas costumam ser brandos e desaparecem dentro de alguns dias.

Mais informações sobre a vacina da dengue estão disponíveis no site do Laboratório São Marcos (www.saomarcoslaboratorio.com.br).

Não custa nada lembrar Veja alguns cuidados indicados pelo Ministério da Saúde para prevenção e combate à doença ›› Tampe os tonéis e caixas d'água; ›› Mantenha as calhas sempre limpas; ›› Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo; ›› Mantenha lixeiras bem tampadas; ›› Deixe ralos limpos e com aplicação de tela; ›› Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia; ›› Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais; ›› Retire a água acumulada na área de serviço, principalmente atrás da máquina de lavar roupa.

A todo vapor Ainda em clima de Olimpíada, selecionamos itens esportivos para que nossos pequenos atletas possam gastar muita energia por aí

MAIÔ E TOUCA

39,99

R$ Centauro

Pátio Savassi, tel.: 3284-8138.

BICICLETA

169,90

R$ Magazine Luiza Rua Curitiba, 745, Centro, tel.: 2138-5750.

99,99

R$ PBKIDS

BH Shopping, tel.: 3228-4306.

20

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

ARCO E FLECHAS

EDIÇÃO Rafaela

Matias

MÁSCARA DE NATAÇÃO DO DARTH VADER R$

79,99

Ri Happy Shopping Del Rey, tel.: 3306-5640.

BOLA DE BASQUETE

44,91

R$ Americanas.com

www.americanas.com.br

LUVAS DE GOLEIRO

89,99

R$ Sport Hall DiamondMall, tel.: 3292-9473.

CHUTEIRAS

199,99

R$ Authentic Feet Shopping Cidade, tel.: 3213-3138.

* Preços pesquisados em agosto de 2016. A Canguru não se responsabiliza pela alteração de preços ou pela falta de produtos. Imagens ilustrativas.

4saúde

Fique de lh !

O acompanhamento oftalmológico desde os primeiros anos de idade pode prevenir problemas graves POR Karoline

Barreto

ASSIM COMO O acompanhamento com o pediatra tem de ser corriqueiro durante toda a infância, a ida ao oftalmologista deveria acontecer desde os primeiros meses de vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um quarto da população brasileira — nada menos que 50 milhões de pessoas — sofre com algum tipo de distúrbio de visão e 60% dos casos de cegueira e deficiência visual poderiam ser evitados se descobertos e tratados precocemente.

Estima-se que no Brasil existam entre 25 000 e 30 000 crianças cegas, e outras 140 000 portadoras de baixa visão. A médica especialista em oftalmologia pediátrica pela Universidade do Texas (EUA) Érika Mota Pereira esclarece que a região do cérebro associada à visão se torna igual à de um adulto aos 7 anos. Caso algum problema seja identificado antes dessa idade,

as chances de recuperação total da acuidade visual são grandes.

O primeiro exame oftalmológico deve ser o teste do reflexo vermelho, também conhecido como teste do olhinho, que geralmente é feito pelo neonatologista ainda no berçário. Caso o exame não seja fornecido pela maternidade, recomenda-se que seja feito na primeira consulta de acompanhamento com o pediatra ou em uma consulta com um oftalmologista. “Esse exame pode diagnosticar catarata, glaucoma, tumores, má-formação no globo ocular e retinopatia de bebês prematuros, principal causa de cegueira na infância”, explica Érika. “A primeira triagem é fundamental para saber se a estrutura ocular está intacta.”

O teste tornou-se obrigatório a partir de 2010, por decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar

O que é preciso observar nas crianças Ela fecha um dos olhos ao sair na claridade?

Aproxima-se muito da TV e de objetos?

Coça muito os olhos?

Apresenta vermelhidão, lacrimejamento ou pisca excessivamente? É comum queixar-se de dor de cabeça ou cefaleia?

Fecha os olhos parcialmente na tentativa de enxergar?

Apresenta olhos que desviam do eixo (olho torto) após os seis meses de idade?

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Possível necessidade de óculos Possível necessidade de óculos Alteração alérgica, possível caso de astigmatismo alto ou ceratocone (doença que afeta o formato e a espessura da córnea) Alteração alérgica, alteração do segmento anterior do olho ou conjuntivite Possível necessidade de óculos Possível necessidade de óculos Possível caso de estrabismo

FOTO: KAROLINE BARRETO

Algumas atitudes dos pequenos podem acender o alerta para possíveis distúrbios

Sofia Navarro no consultório oftalmológico: acompanhamento a cada seis meses até os 2 anos de idade e anualmente até os 7 anos

(ANS), e é custeado por planos de saúde. Em Minas, é fornecido pelo SUS em maternidades públicas. Ainda nos primeiros meses de vida, a criança deve ir ao oftalmologista para realizar também o exame de fundo de olho, que observa em maior detalhe toda a estrutura ocular, fundamental para identificar doenças mais graves. Foi o caso de Ana, hoje com 5 anos, que recebeu o diagnóstico de retinoblastoma (um tipo de câncer) nos dois olhos, porém mais avançado no esquerdo.

Sua mãe, a chef de cozinha Manuela Ratton, lembra que a filha chegou a fazer o teste do olhinho, mas não foi apontada nenhuma irregularidade. Ela percebia, no entanto, um desenvolvimento mais lento de Ana em relação a sua irmã gêmea, Luiza, quando as duas eram bebês. Manuela procurou vários especialistas, mas nenhum da área oftalmológica. Quando a menina já estava com 1 ano e meio, a mãe começou a perceber que a pupila do olho esquerdo da filha permanecia dilatada o tempo todo. Na mesma época, por causa de um terçol, a criança foi levada a um atendimento de urgência, quando recebeu o encaminhamento correto.

Devido ao grau já avançado da doença, Ana perdeu a visão do olho esquerdo, mas foi possível salvar a do direito com o tratamento feito em São Paulo. Atualmente, a menina tem uma vida normal. “Levanto a bandeira de que todas as crianças deveriam fazer o exame de fundo de olho”, aconselha Manuela. “Muitos

pediatras não falam sobre ele, e o conhecimento das mães sobre sua importância pode ajudar muito.”

Solução a tempo A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica recomenda que, após os primeiros exames, o acompanhamento com especialista deve ser feito a cada seis meses até os 2 anos de idade e anualmente até os 7 anos. Luiz Alberto Laborne Tavares, conselheiro do Centro Oftalmológico de Minas Gerais, ressalta que há muitos casos de pacientes adultos que chegam para tratar doenças que poderiam ter sido curadas na infância. “Atendi recentemente uma adolescente de 17 anos que veio em uma consulta com a mãe pela primeira vez, sem queixas”, conta. “Ao realizar o exame completo, descobrimos que ela tinha 8 graus de miopia em um olho, apesar de o outro ser normal.”

Ela não percebia, pois usava apenas o olho bom para enxergar, deixando o outro com seriíssimo risco de perda de visão por desuso. A mãe relatou que a filha nunca fez nenhum teste na infância. “Colocamos uma lente de contato em um olho só e resolvemos a tempo o problema”, diz Laborne Tavares. O resultado poderia não ser tão feliz. “Embora muitas doenças não diagnosticadas na infância possam até apresentar uma melhora, boa parte torna-se irreversível.” Por isso, o acompanhamento é fundamental. =

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4natureza

FOTO: GUSTAVO ANDRADE

Bento GuimarĂŁes Mendes, de 2 anos, frequenta os parques de Belo Horizonte desde bem pequeno

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Lição de casa:

brincar no parque Estudo aponta que o contato periódico com o verde pode melhorar em até 65% a capacidade de memorização e o desenvolvimento cognitivo durante a infância POR Rafaela

IMAGINE A CIDADE de Belo Horizonte há 100 anos. Árvores por todos os lados, jardins tão compridos quanto avenidas e a maioria esmagadora da população fazendo das próprias pernas o principal meio de transporte. Pouco se parece com o turbilhão de veículos automotivos que atualmente circulam por entre as árvores remanescentes. Nem é necessário viajar um século no passado para perceber que a troca da grama pelo concreto é algo progressivo. Cerca de trinta anos atrás, a cobertura verde da cidade era pelo menos 30% maior do que a que vemos hoje, segundo um estudo do Instituto de Geociências da UFMG. Mais do que saudosismo, a preocupação com a redução da área verde da capital mineira diz respeito à saúde, especialmente dos pequenos, que ainda estão se desenvolvendo. Já é senso comum que correr por um gramado contribui para a coordenação motora da criança de maneira muito mais satisfatória que ficar em casa assistindo à TV. Mas estudos recentes, que co-

Matias

meçaram nos anos 90, mostram que o contato regular com a natureza (pelo menos uma vez a cada sete dias) também influencia — e muito — no bom desenvolvimento intelectual durante a infância.

Um deles, realizado com crianças de escolas primárias de Barcelona e publicado em 2015 na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, mostrou a relação entre o convívio frequente com espaços verdes e o desenvolvimento cognitivo infantil. O resultado das análises foi surpreendente, apresentando uma melhora de 20% a 65% na memória de trabalho — responsável pela capacidade de memorização que permite o aprendizado da tabuada e das horas, por exemplo — das crianças que passavam mais tempo em meio à natureza. Além disso, o estudo mostra que aprendizes com boa memória de trabalho têm 80% mais chance de apresentar um bom desenvolvimento escolar. Parece que correr por entre as árvores é mais que uma simples brincadeira, não? 4

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O psiquiatra José Belizário recomenda espaços verdes amplos e com presença de água

Segundo Belizário, isso acontece porque o cérebro humano ainda não se adaptou à urbanização e depende do contato com a natureza para manter o corpo em equilíbrio. “Ouvir o barulho da água, por exemplo, indica ao sistema nervoso central que estamos em um local seguro, com abundância de alimentos e onde não haverá sede”, explica.

Em entrevista à BBC Brasil, o escritor americano Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza, diz que, nos Estados Unidos, vários especialistas da área da saúde já se dão conta dos efeitos negativos do que ele chama de transtorno de déficit de natureza. “Vejo cada vez mais profissionais começando a prescrever ‘brincar no parque’. Prescrever mesmo, por escrito”, diz. Além disso, ele afirma que em algumas partes daquele país já existem associações de médicos que usam o mapeamento das áreas verdes de sua cidade para alertar os pais: “Tem um bosque a duas quadras da sua casa, portanto não há desculpa para não levar seu filho lá duas vezes por semana”.

Em Belo Horizonte, um médico segue caminho parecido. Interessado pelos números apontados pelas pesquisas estrangeiras, o psiquiatra José Belizário, doutor em saúde e educação pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, passou a receitar o convívio com o verde a seus pacientes e já nota os resultados na prática.

“Atendi uma criança com suspeita de autismo e, antes de fechar o diagnóstico, pedi aos pais que a levassem por alguns dias para a fazenda da família. Ela voltou com um comportamento totalmente diferente, que mostrou que, de fato, não havia um problema psíquico”, relata o médico.

Psiquiatra de Belo Horizonte passou a receitar o convívio com o verde a seus pacientes e já nota os resultados na prática 26

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É importante ressaltar, contudo, que um pequeno jardim não configura contato com a natureza. Um dos estudos utilizados pelo psiquiatra mostra que a presença de árvores, água e grama torna a experiência mais eficiente do que aquela que privilegia componentes decorativos, como as flores. Por isso, espaços verdes com algum fluxo de água são os mais indicados para que o cérebro passe pelo processo de restauração que permitirá maior capacidade de atenção e, consequentemente, de aprendizado. “Se você leva seu filho para o sítio no fim de semana que antecede uma prova, é possível que ele tenha um desempenho melhor”, afirma o psiquiatra. Além disso, a amplitude que permite à criança correr, subir em árvores e explorar ambientes também apresenta desafios cognitivos que dificilmente seriam encontrados em outros meios.

Sabendo disso, algumas escolas já mostram interesse em proporcionar aos alunos algum contato com o verde, mas, para Belizário, ainda não existe nenhuma em Belo Horizonte que ofereça um nível satisfatório de aulas ao ar livre. “Há países em que 80% das aulas acontecem fora da sala. Aqui, infelizmente, não temos exemplos disso”, afirma.

Por enquanto, então, cabe aos pais aproveitarem as horas de descanso para passear com os filhos em locais onde é possível sentir um pouco da natureza na cidade (veja quadro na página 31). Casas de campo, sítios e fazendas no interior também são ótimas opções para visitar aos fins de semana, nas férias e em feriados. Além de ajudar a colocar o sono em dia devido à redução de ruídos, proporcionam uma imersão que certamente vai fazer com que o seu pequeno aprenda coisas novas da forma mais relaxante possível. E lembre-se: ainda que pareça brincadeira, esse aprendizado é tão importante quanto aquele da escola.

FOTOS: GUSTAVO ANDRADE

Não basta um jardim

Bons exemplos Mesmo com a correria do dia a dia e as imposições da cidade grande, algumas famílias belo-horizontinas demonstram preocupação em criar rotinas que incluam a natureza na vida dos pequenos. Canguru convidou quatro delas para contar um pouco como conseguem fazer do contato com o verde uma prioridade na vida dos filhos. Inspire-se!

Natureza em casa O pequeno LEONARDO PINHEIRO DE LIMA, de 4 anos, já aprendeu que se sujar faz bem. Buscando uma alimentação que privilegiasse os orgânicos, a mãe dele, a dentista Renata Rocha Pinheiro, decidiu aproveitar o quintal de casa para fazer uma horta. Além de deixar os pratos mais nutritivos, o lugar serviu para que Leo pudesse pegar na terra, cuidar das plantas e observar seu desenvolvimento. Mas, como criança também precisa de espaço, a família frequenta o sítio de amigos no interior de Minas sempre que possível. “Em casa ele aprende a valorizar a natureza e no sítio ele pode rolar, sujar, pegar em tudo, matar a curiosidade. Dá até gosto de ver”, conta Renata. 4

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BÁRBARA MAYRINK, de 3 anos, poderia ter uma rotina comum, como a de uma criança da cidade grande. Mas seus pais, a administradora Tatiana Mayrink e o piloto Warley Nunes, tomaram uma decisão drástica para proporcionar a ela uma infância à moda antiga. Moradores de BH, eles decidiram se mudar para Lagoa Santa, na região metropolitana, quando a menina completou 6 meses. “Eu tive uma infância diferenciada, morando em uma chácara, e queria que a Bárbara tivesse a mesma qualidade de vida”, conta Tatiana. Graças a essa vontade, a pequena agora colhe frutas direto das árvores, rola na grama do quintal de casa e toma banho de mangueira no meio da rua. Nada mau! 4

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Como nos velhos tempos

Uma questão de saúde Para BENTO GUIMARÃES MENDES, de 2 anos, o contato com o verde é recomendação médica. Ele nasceu prematuro, com apenas 27 semanas de gestação, e precisou ficar 83 dias no CTI para terminar de se desenvolver. Quando saiu, os cuidados deveriam ser redobrados e as visitas, limitadas. Como Bento não tem irmãos e ainda não foi para a escolinha, por precaução, a mãe, a psicóloga Lívia Pires, recorreu aos parques da cidade para estimular o desenvolvimento e a socialização do filho. “Em ambientes abertos ele corria menos risco de contrair doenças”, explica. Hoje, Bento já tem o sistema imunológico mais forte, mas o hábito de curtir a natureza aos fins de semana permanece. “Gosto de ensiná-lo a cuidar do verde. Se ele aprender a curtir a natureza e ser cuidadoso com ela, Bento será ainda mais com os seres humanos.”

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Se durante a semana a pequena ANA SOPHIA ATHAYDE, de 5 anos, leva uma vida urbana, aos sábados e domingos ela pode tirar os sapatos, subir em árvores, pisar na grama, andar a cavalo e nadar no rio. Seja no condomínio de amigos em Lagoa Santa ou no sítio da tia em Brumadinho, a mãe, a relações públicas Ana Cristina Andrade Athayde, faz questão de levar Sophia para curtir o verde. O amor pela natureza é tanto que a família decidiu cruzar o oceano para conhecer os parques de Londres, na Europa. “Foi uma viagem totalmente focada nisso. Ficamos encantados de ver como os espaços verdes de lá são limpos, amplos e seguros. Um verdadeiro exemplo”, conta.

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FOTOS: [1] GUSTAVO ANDRADE; [2] ARQUIVO PESSOAL.

Escapadinha relaxante

Para colocar em prática

Veja cinco lugares em BH com campos verdes, lagos e árvores, para levar os pequenos AGGEO PIO SOBRINHO O parque ocupa uma área aproximada de 600 000 metros quadrados e integra parte do maciço da Serra do Curral.

A vegetação nativa é composta, em sua maioria, de espécies da Mata Atlântica e do Cerrado, como embaúba, cedro, ingá e jatobás.

Endereço: Avenida Professor Mário Werneck, 2691, Buritis. Contato: 3277-6828 Horário de Funcionamento: segunda a domingo, das 6h30 às 18h LAGOA DO NADO Localizado entre os bairros Planalto e Itapoã, o parque possui uma área de aproximadamente 311 000 metros quadrados. Sua vegetação é composta de espécies do Cerrado e de uma mata ciliar que circunda uma lagoa de 22 000 metros quadrados, formada pelo represamento de três nascentes.

Endereço: Rua Desembargador Lincoln Prates, 240, Itapoã. Contato: 3277-7321, ccln@pbh.gov.br Horário de Funcionamento: segunda a domingo, das 8h às 18h PARQUE ECOLÓGICO DA PAMPULHA Implantado na Ilha da Ressaca, formada pelo acúmulo de resíduos sedimentares depositados ao longo dos anos na Lagoa da Pampulha, o espaço ocupa 300 000 metros quadrados, divididos em três áreas: uma para visitação pública, outra para passeios monitorados de pesquisadores e uma restrita, que é a reserva florestal de árvores e plantas representativas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Floresta Amazônica.

Endereço: Avenida Otacílio Negrão de Lima, 6061, Pampulha. Contato: 3277-7439 Horário de Funcionamento: terça a domingo, das 8h30 às 18h PARQUE DAS MANGABEIRAS Encravado na Serra do Curral, o Parque Municipal das Mangabeiras é um dos maiores e mais belos redutos ecológicos da capital. Com projeto paisagístico assinado por Burle Marx, é a maior área verde da cidade, com 2,3 milhões de metros quadrados de matas nativas, onde se pode fazer trilhas no meio de micos, esquilos e de outros animais silvestres.

Endereço: Avenida José do Patrocínio Pontes, 580, Mangabeiras. Contato: 3277-8277, mangaba@pbh.gov.br Horário de Funcionamento: segunda a domingo, das 8h às 17h PARQUE MUNICIPAL Localizado na Região Central de Belo Horizonte, foi inaugurado antes mesmo da nova capital mineira. Possui uma área de 182 000 metros quadrados de vegetação, formando hoje um ecossistema representativo, com árvores centenárias e grande diversidade de espécies. Possui nascentes que abastecem três lagoas e cerca de 280 tipos de árvores exóticas e nativas, como figueiras, jaqueiras, flamboyants e eucaliptos. Além disso, o espaço abriga mais de 100 espécies de aves, entre bem-te-vis, sabiás, garças, periquitos e pica-paus, e outros animais, como gambás e micos.

Endereço: Avenida Afonso Pena, 1377, Centro. Contato: 3277-4161 Horário de Funcionamento: terça a domingo, das 6h às 18h. =

4comportamento

Eles também querem falar sobre sexo Como lidar com a curiosidade e contribuir para o desenvolvimento sexual saudável ao longo da infância Barreto

ILUSTRAÇÃO: JULIANE FERREIRA

POR Karoline

QUANDO TINHA 3 anos de idade, Felipe começou a perguntar por que o corpo de sua mãe, a arquiteta Isabela Soares, era tão diferente do corpo do pai. Mais recentemente, já aos 7 anos, o garoto fez questionamentos sobre a forma como os bebês nascem. O que fazer quando a sexualidade começa a aparecer nas conversas dos filhos em casa?

Fabiene Vale, ginecologista especialista em reprodução humana, sexóloga e responsável pelo Comitê de Infanto Puberal do SUS em Minas Gerais, orienta a responder de forma clara, objetiva e curta. Usar corretamente os nomes é um bom começo, sem precisar

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detalhar todo o acontecimento. “O diálogo e a compreensão são a melhor forma de lidar com as dúvidas da criança.”

Foi o que fez a mãe de Felipe. Ela confessa que teve um pouco de receio, mas decidiu que a melhor forma de lidar com as perguntas sobre sexo seria agir de maneira natural. “Fui orientando à medida que as dúvidas foram surgindo, sem entrar em muitos detalhes”, relata. Ao ouvir o fatídico “de onde vêm os bebês?”, ela respondeu de forma honesta, porém em uma linguagem simples, que o filho pudesse entender. A arquiteta achou engraçada a reação do filho, que ficou surpreso ao saber a verdade. “Acho que é importante se preparar e estar pronta para responder aos filhos. Tenho muitas amigas que sentem vergonha e acabam não sabendo o que fazer”, expõe Isabela.

Muitos pais não sabem mesmo quando começar a falar sobre sexo com os filhos. A psicóloga especialista em educação sexual Cida Lopes diz que as dúvidas vão surgindo naturalmente e é importante não forçar o assunto. “Os pais precisam deixar que as coisas aconteçam de forma espontânea. Sempre que questionados, devem responder de forma clara e ter atitude imediata diante de uma situação em que a criança precise ser orientada sobre privacidade e autoproteção”.

Segundo os especialistas, o desenvolvimento da sexualidade pode aparecer muito antes do que os pais esperam — na verdade, desde os primeiros anos da infância. Muitos pais desconhecem isso e, também por ser um assunto tabu, são levados a ignorar ou não conseguem lidar com os primeiros sinais de comportamento sexual de seus filhos. Contudo, é muito importante que eles estejam preparados para agir de forma correta, propiciando à criança autoproteção e um crescimento saudável e sem traumas.

O que acontece em cada fase A médica Fabiene Vale explica que o desenvolvimento psicossexual na infância pode ser dividido em várias fases. O período do nascimento até 1 ano e meio corresponde à fase oral, em que a criança experimenta o mundo pela boca. Aqui ocorre sua primeira experiência de prazer, no momento da sucção do leite e no contato com a mãe, e também é comum

que a criança leve à boca todo e qualquer objeto que chega às suas mãos.

A segunda experimentação se dá de 1 a 2 anos, quando a criança atinge a fase denominada anal e sente satisfação em conseguir controlar o esfíncter. A fase de 1 ano e meio a 3 anos corresponde ao processo de socialização. É nesse momento que os pequenos começam a se descobrir, se tocar e experimentar seus próprios genitais. “Os pais devem agir naturalmente a qualquer manipulação genital. Ensinar aos filhos que nenhum sentimento é ‘feio’ ou ‘condenável’, mas que temos que aprender a expressá-los de forma adequada. O que não deve ser feito é uma repressão, levando à sexualidade culposa, que é quando a criança sente culpa por qualquer ato ou expressão de sexualidade”, orienta Fabiene.

Dos 3 aos 6 anos, as crianças iniciam a exploração das diferenças sexuais como parte do processo de formação da identidade. Nessa etapa, ocorrem as perguntas sobre a origem dos bebês e sobre as diferenças entre homem e mulher. 4

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Dos 7 aos 10 anos, aumenta o interesse por assuntos sexuais e surgem muitas dúvidas advindas da maior capacidade de compreensão que a criança adquire. “Nessa fase as crianças não são levadas a sério e muitos pais possuem a falsa ilusão de que haverá um momento em que estarão preparados para fazer a abordagem sobre sexo, por isso há maior repressão”, diz a psicóloga especialista em educação sexual Cida Lopes.

Foi por perceber que existe uma lacuna na literatura sobre essa fase que a psicóloga resolveu desenvolver um estudo em escolas. Sua pesquisa deu origem ao livro Soltando os Grilos, que aborda temas mais complexos sobre sexualidade, oferecendo fundamentos para que pais, profissionais e educadores possam lidar com o assunto com mais segurança. Cida explica que a sexualidade não está relacionada somente ao sexo, mas a tudo que se relaciona à afetividade e ao convívio e, nesse contexto, família e escola podem contribuir muito para um desenvolvimento que irá ajudar na formação de um ser humano mais confiante.

Pode ou não pode Alguns pais não veem problema em se beijar e se abraçar diante das crianças. Outros preferem não ter nenhuma atitude de casal quando os filhos estão próximos. A ginecologista e sexóloga Fabiene Vale afirma que os pais podem criar um ambiente de amor e carinho — e isso inclui beijo e abraço —, mas ter uma intimidade de casal muito grande na frente dos filhos pode gerar na criança um comportamento inapropriado. “As crianças interagem com o que acontece à sua volta e estão aptas para aprender com tudo. Os

O desenvolvimento da sexualidade pode aparecer muito antes do que os pais esperam — na verdade, desde os primeiros anos da infância exemplos de comportamentos que ela presencia certamente exercerão influência sobre seu próprio comportamento.”

Beijar os filhos nos lábios, pode? E tomar banho junto? Fabiene explica que não há bibliografia que condene ou imponha restrição. “Muitas questões relativas à sexualidade na infância não têm uma regra”, diz. Dependem de aspectos culturais da sociedade e dos valores da família. Mas os pais devem ter um elo com os filhos. “Olhar, acariciar e conversar cria a intimidade e a confiança necessárias para o bom desenvolvimento emocional, intelectual e sexual da criança.”

Cida Lopes ressalta as consequências da repressão da sexualidade, que pode transformar as crianças em adultos que possuem algum medo, dificuldade de dar e receber afeto, falta de autonomia, baixa autoestima, além de problemas como disfunção sexual. “Existem formas bonitas de ensinar sexualidade, sem causar trauma e de maneira que a criança saiba seu limite e não faça nada que a agrida”, enfatiza. Quanto a esse ponto, a sexóloga Fabiene Vale salienta a importância de ensinar aos filhos como se cuidar e se proteger. Ela exemplifica o que pode ser dito a eles: assim como não é correto um coleguinha ou qualquer outra pessoa colocar o dedo no seu nariz, ouvido ou boca, também não é correto deixar que alguém coloque a mão em suas partes íntimas.

A sexualidade na infância ›› 0 A 1 ANO: fase oral, em que a criança sente prazer ao experimentar tudo pela boca ›› 1 A 2 ANOS: fase anal, em que a criança sente satisfação em controlar o esfíncter ›› 1 ANO E MEIO A 3 ANOS: fase da socialização, em que a criança descobre os próprios genitais ›› 3 A 6 ANOS: a criança começa a explorar as diferenças sexuais e faz mais perguntas sobre a origem dos bebês e as diferenças entre o homem e a mulher ›› 7 A 10 ANOS: aumenta o interesse por assuntos sexuais e a criança faz muito mais perguntas. =

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4educação financeira

Dinheiro não

é brinquedo

Especialistas dão dez dicas para educar seu filho financeiramente e evitar que ele se torne um adulto consumista POR Isabella

Grossi

FOI-SE O TEMPO em que a educação financeira das crianças se resumia apenas a engordar, com toda sorte de moedas, o cofrinho escondido no armário. Ensinar os pequenos a entender o real valor do dinheiro passou a ser prioridade entre pais e mães que caminham na contramão do consumismo e, acima de tudo, reconhecem a importância de um bom planejamento. Não só em função das finanças, mas como estratégia para facilitar a conquista de qualquer objetivo.

Mas qual é a melhor hora para introduzir o papo? “Tão logo a criança comece a manifestar uma interação com o dinheiro, querendo comprar uma boneca ou uma pizza, por exemplo”, sugere o escritor Carlos Eduardo Freitas Costa, que publicou a série de livros infantis Meu Dinheirinho. É o que pensa, também, a superintendente de previdência da Porto Seguro, Fernanda Pasquarelli. “O ideal é mostrar, quanto antes, o valor das coisas e o sacrifício que é preciso fazer para tê-las”, pontua.

Confira, a seguir, dez dicas para educar seus filhos e transformá-los em adultos financeiramente equilibrados.

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$1 PRIMEIRO PASSO

Insira a criança nos hábitos financeiros da casa, mostrando as faturas de água e luz, por exemplo, e explicando a diferença entre pagamentos com dinheiro, cartão de crédito, cheque e boleto.

Uma boa dica, também, é levá-la ao banco para acompanhar, de perto, as transações corriqueiras do dia a dia.

$2 VERDADE NUA E CRUA

Seja transparente. Converse abertamente com seus filhos sobre as condições financeiras da família. Mostre que existem diferenças entre eles e os coleguinhas — não é porque os amigos têm um brinquedo que eles também podem ter. Não invente histórias. Crianças são espertas e não gostam de ser ludibriadas.

$3 HORA DE ADMINISTRAR

$7 ENTRE AS GÔNDOLAS

$4 O BOM E VELHO COFRINHO

$8 ASAS À IMAGINAÇÃO

Mesadas e semanadas são ferramentas que ajudam a ensinar a finitude do orçamento. Estabeleça um valor fixo e se atenha a ele. Se o pequeno gastar tudo com guloseimas, vai ter que esperar o próximo acerto para ir ao cinema. Lidar com as consequências das suas escolhas é um excelente começo.

Ninguém guarda dinheiro por guardar. Estimule a criança a encher o cofrinho associando a ação a algum sonho ou objetivo. Seja uma nova aquisição ou uma viagem à Disney. De tempos em tempos, abra o cofre, troque a quantia por notas, para pôr as moedas em circulação, e aplique o dinheiro numa caderneta de poupança.

$5 FAZENDO O BEM

Incentivar atividades filantrópicas é tão importante quanto ensinar a poupar. Aproveite a passagem do aniversário ou do Natal e ajude o pequeno a separar brinquedos ou roupas que não se adaptam à sua idade. É fundamental que a criança aprenda, desde cedo, a importância de doar e reciclar.

$6 XÔ, CONSUMISMO

Estabeleça datas especiais para presentear e fique atento para não cair na armadilha de fazer agrados fora de hora com bens de consumo. Caso contrário, a criança pode achar que a cortesia é, na verdade, obrigação dos pais, perdendo-se, assim, o valor da conquista.

Muita gente comete o engano de pensar que levar as crianças ao supermercado é sinônimo de dor de cabeça. Pelo contrário. É uma excelente forma de mostrar aos pequenos a importância de pesquisar preços e de seguir a lista de compras, priorizando as necessidades e deixando para trás produtos supérfluos.

Passear com a meninada no shopping com frequência é um erro? Não, mas tome cuidado para não associar os prazeres da vida familiar exclusivamente ao ato de consumir. Invente programas e brincadeiras que despertem uma infância mais consciente.

$9 DIREITOS E DEVERES

Se possível, leve as crianças para conhecer o seu ambiente de trabalho. É uma ótima maneira de elas aprenderem, na prática, o valor do dinheiro. Depois, reproduza as obrigações em casa. Separe pequenas tarefas domésticas para serem recompensadas com alguma quantia, mesmo que seja simbólica.

$10 FAÇA O QUE EU FAÇO

Não adianta ampliar as noções de economia do seu pequeno se ele observa os pais numa rotina discordante, fazendo compras desenfreadas mesmo quando precisam apertar o cinto. As crianças sempre copiam o modelo. Adultos descontrolados inevitavelmente terão mais dificuldades para educar os filhos. =

4futebol

Manual do torcedor mirim Veja a idade ideal para levar os pequenos a um estádio de futebol pela primeira vez e saiba os cuidados que você deve tomar para garantir a segurança e o conforto da criança POR Thailor

Gonçalves

A pequena Laura foi pela primeira vez ao estádio com os pais quando tinha apenas 3 meses e se comportou “como gente grande”

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AGLOMERAÇÃO DE GENTE, tumulto, barulheira e gritos. Assim podem ser descritos os estádios de futebol durante os jogos. Sobretudo se as partidas envolverem grandes clubes, como nos clássicos entre Atlético e Cruzeiro. Seria esse um ambiente ideal para crianças?

Elas, afinal, ganharam um incentivo a mais para torcerem in loco por seu time do coração. Desde julho deste ano, entrou em vigor uma nova lei municipal que garante acesso gratuito a menores de 12 anos em estádios e ginásios da capital. Mas cabe aos pais preservarem ao máximo a segurança e o conforto dos pequenos para que eles aproveitem a experiência da melhor forma possível.

Não há consenso sobre a idade ideal para levar o filho ou filha a uma partida de futebol pela primeira vez. O casal Tainá Souza, 26, e Breno de Paula, 35, não esperou muito para levar a pequena Laura, hoje com 5 meses de idade, a um jogo do Cruzeiro. A estreia da bebê no Mineirão foi com apenas 3 meses.

Tainá, que cresceu indo ao estádio com seu pai, diz que a pequena se comportou “como gente grande” e não chorou em momento algum. Tanto que já repetiu a experiência outras vezes desde então.

Para a jovem mãe, a segurança e o bem-estar de Laura estão em primeiro lugar. “Como eu conheço

[2]

Os atores Sophie Charlotte e Daniel de Oliveira levaram o filho Otto ao estádio no Horto com apenas 5 meses

critérios para saber que o filho já poderia encarar a empreitada foram práticos: “Ele já andava sozinho, não dependia de fraldas e a alimentação dele já não era tão complexa. Foi aí que percebi que era o momento certo”.

Oliveira não se preocupou muito naquela primeira vez. “Passei protetor solar e o alimentei antes de irmos. Lá, comprei suco e um salgadinho. 4

saiba mais Lei municipal estabelece gratuidade a menores de 12 anos ›› Publicada em 30 de junho deste ano, a lei municipal 10 942/2016 confere entrada gratuita a menores de 12 anos em eventos esportivos realizados em estádios e ginásios de Belo Horizonte.

De acordo com a prefeitura, a lei ainda está em processo de regulamentação. ›› Com o fim dos Jogos Olímpicos no Mineirão, a Minas Arena estreou a lei na partida Atlético X Ponte Preta, no dia 24 de agosto, quando foram reservados 620 lugares para as crianças, no setor roxo inferior. Para retirar os ingressos, pais ou responsáveis devem ir com documento próprio e da criança à bilheteria norte do estádio, com até 24 horas de antecedência. Mais informações: estadiomineirao.com.br.

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FOTOS: [1] ARQUIVO PESSOAL; [2] BRUNO CANTINI / ATLÉTICO.

bem a realidade do estádio, evito locais com concentração de torcidas organizadas e carrego na bolsa vários conjuntos de roupa, caso o clima mude. Ela fica o tempo todo com abafador de ruídos no ouvido, para evitar problemas com a audição e stress”, relata.

Chegar ao início das partidas com no mínimo uma hora de antecedência, parar o carro no estacionamento do estádio e evitar clássicos, que envolvem times de muita rivalidade, são outros cuidados tomados para preservar a tranquilidade de Laura.

Foi também aos 5 meses que Otto acompanhou seus pais, os atores Daniel de Oliveira e Sophie Charlotte, ao jogo do Atlético contra a Chapecoense na Arena Independência, no último dia 8 de agosto.

Detalhe: o jogo foi à noite, às 20 horas. Na ocasião, eles posaram para os fotógrafos com o bebê e também com os filhos mais velhos de Daniel, Raul, de 7 anos, e Moisés, de 5.

O pastor evangélico Sergio Ricardo Carvalho de Oliveira, 42, achou melhor esperar seu filho João Pedro completar 3 anos antes de assistir com ele ao espetáculo de seu time do coração, o Atlético. Seus

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A única coisa que levei de casa foi uma garrafa de água que, com a correria, acabei esquecendo no carro”, lembra.

Já o guitarrista da banda Jota Quest, Marco Túlio Lara, 45, esperou seu filho Marcos completar 8 anos antes de levá-lo ao estádio pela primeira vez. “Ele estava querendo ir e já aguentava o pique de uma partida inteira. Eu prometi que o levaria e ele ficou cobrando. Quando veio a oportunidade de eu estar em casa e ter um jogo do Cruzeiro, a gente foi.”

A psicóloga especialista em psicologia do esporte Renata Victor Silva concorda que não existe uma idade específica para que a criança comece a ir ao estádio. O que deve ser considerado é o conforto. “A iniciação da presença de crianças nos estádios deve ser feita a partir do cuidado dos pais com a segurança e bem-estar delas.”

Outros fatores, segundo Renata, estão ligados ao próprio time e à autonomia da criança. “Deve-se levar em conta a partida do dia, o momento vivido pelo time no torneio e a disponibilidade dos pais em relação ao tempo da criança, caso esta não consiga concentrar-se durante o jogo inteiro, ou tenha necessidade de ir ao banheiro ou alimentar-se no decorrer do tempo de jogo.”

Cuidados extras Para o pediatra e médico do esporte Carlos Eduardo Reis da Silva, os pais devem ter cuidado redobrado caso queiram levar seus filhos ainda pequenos a um estádio. “O bom senso deve prevalecer. As arenas são locais onde há possibilidade de tumulto, barulho e, por se tratar de locais abertos, estão sujeitas a mudanças climáticas, como variações na temperatura, sol e chuva”, alerta.

O especialista aconselha que os fatores de risco à criança sejam amenizados. “O uso de protetores auriculares, roupas adequadas e protetor solar são essenciais. O que os pais devem ter em mente é que o bem-estar da criança é o objetivo a ser alcançado.”

Já o capitão Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar de Minas Gerais, destaca a importância de os pais buscarem locais seguros dentro dos estádios para assistir aos jogos. “É importante buscar espaços comuns às famílias e evitar ficar próximo a torcidas organizadas.”

A violência de alguns torcedores mais fanáticos é justamente o maior receio do pastor Oliveira quando vai ao estádio com seu filho mais velho.

“Sou muito rigoroso quanto à prudência necessária”, diz ele, que elenca suas precauções: não portar

FOTOS: [3] ARQUIVO PESSOAL; [4] REPRODUÇÃO INSTAGRAM.

O pastor Sergio Ricardo Oliveira com os filhos para ver o Atlético, time do coração

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Marco Túlio aprendeu com o pai a curtir os jogos do Cruzeiro no Mineirão e hoje leva os filhos sempre que pode

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objetos de valor, chegar com antecedência ao local da partida para evitar aglomerações de torcida e não discutir sobre futebol.

Benefícios Para a psicóloga Renata Victor Silva, torcer por um time é algo que colabora para o desenvolvimento emocional da criança. “Sentir-se participante e representante de um grupo é um processo essencial para sua constituição como indivíduo. A experiência de ‘fazer parte’ de uma equipe como torcedor é, para além do ciclo familiar, a base dos processos de identificação e diferenciação que ocorrerão ao longo da vida”, destaca.

Para os pais que fazem questão de levar seus filhos às partidas, o maior benefício da experiência é o momento familiar e as memórias que as crianças vão guardar para sempre.

“Tenho muitas lembranças de quando ia ao estádio com meu pai. Faço questão de manter a tradição porque acredito que o ambiente do estádio permite a confraternização entre a família. Sempre é um tempo muito agradável”, conta o guitarrista Marco Túlio, que também é acompanhado pelo pai, João Lara, de 77 anos, sempre que vai torcer pelo time azul-celeste.

dicas de segurança Elaboramos uma lista de ações que você pode adotar para fazer da ida ao estádio um programa seguro e garantir o bem-estar da criança: ›› Por haver grande aglomeração de pessoas, a criança pode se perder. Por isso, coloque no braço dela uma fita ou pulseira com o nome do pequeno e o telefone de contato de um adulto; ›› Combine um local para reencontro em caso de separação; ›› Ao final da partida, aguarde um pouco para sair do estádio com as crianças; ›› Procure ficar nos setores mais seguros do estádio, de preferência nas cadeiras marcadas, e onde houver cobertura para proteção do sol ou da chuva. Nas arquibancadas há maior risco de quedas, traumas físicos e brigas; ›› Quanto menos idade tem a criança, mais atenção ela exigirá; ›› Chegue com um período de antecedência mínimo que permita acessar o estádio sem pressa e escolher o local adequado para assistir à partida; ›› Preserve a criança dos efeitos do ambiente (como barulho e clima), utilizando protetores auriculares, roupas adequadas à temperatura e protetor solar; ›› Mantenha a criança bem hidratada e alimentada; ›› Cheque junto ao estádio o que pode ser levado na bolsa, para não correr o risco de ser barrado.

Contatos: Mineirão (3449-4300) / Arena Independência (3654-6731). ›› Peça ajuda a um policial em qualquer situação de perigo. = Fonte: Polícia Militar de Minas Gerais, Minas Arena e Carlos Reis da Silva, pediatra e médico do esporte

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4viagens, modo de usar

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Viagem à história da Terra

luís giffoni

O SERTÃO VIRA mar, o mar vira sertão, as águas voltam, o gelo entra em cena, terremotos destroem montanhas e erguem outras, vulcões criam novas paisagens, o vento e a chuva aplainam o relevo. A Terra nunca para. Entretanto, deixa as marcas de sua evolução.

Encontrá-las é um trabalho de detetive. O Sherlock Holmes do planeta se chama geólogo. A geologia — ciência que encanta jovens e adultos — desvenda o passado e prevê futuros plausíveis.

O Brasil possui vários pontos em que a história da Terra desponta com testemunhos de um passado muito antigo e variado. Um dos mais interessantes é a CHAPADA DIAMANTINA, no sertão baiano, extensão da nossa Serra do Espinhaço.

Ali se veem as digitais de geleiras pré-históricas, encontram-se pedras que viajaram centenas de quilômetros na fúria das enchentes, morros trabalhados pelo vento e pelas

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tempestades, serras erguidas pelos terremotos, cavernas escavadas pelo mar que já não existe, rochas com sedimentos de mais de um bilhão de anos. Trata-se de um livro aberto sobre nosso mundo. As crianças adoram fazer a primeira leitura dessa magnífica obra da natureza.

Há, ainda, as belezas locais. Um poço Azul, outro tão bonito que recebeu o nome de Encantado, muitas trilhas e encostas verdes, matas fechadas, cerrado a sumir de vista, morros que lembram bichos, a segunda maior cachoeira do Brasil, animais selvagens e exóticos, como um bagre sem olhos.

Os humanos também fizeram sua parte. Tornaram a região um patrimônio natural da humanidade. Criaram um parque nacional para proteger essa riqueza. Empreendedores construíram hotéis, pousadas e restaurantes, montaram passeios e atrações como tirolesas e trilhas com acampamentos prontos para receber gente de

todas as idades, incentivaram eventos culturais para todos os gostos.

O centro da Chapada é a cidade de Lençóis, que surgiu da busca por diamantes. Ela também tem muita história para revelar, como a dos coronéis que mantiveram a escravidão até as primeiras décadas do século 20. Possui, ainda, bom artesanato e boa comida. E, de sobra, voo direto de Belo Horizonte.

Que tal apresentar o livro aberto do planeta às crianças, despertando sua curiosidade e sua consciência ecológica? E, além disso, se divertir ao lado delas? A Chapada Diamantina é, então, seu próximo destino.

Boa viagem.=

Luís Giffoni é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões.

Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos. giffoni@cangurubh.com.br

FOTOS: [1] GUSTAVO ANDRADE; [2] KENNEDY SILVA (CREATIVE COMMONS).

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4História de mãe

Oito dias no Chile sem meu filho

FOTO: FJPHOTOS / ARQUIVO PESSOAL

POR Mariana

Isabel

POR QUE NÓS mães nos obrigamos a ficar longe dos filhos devido ao trabalho ou outras obrigações e não nos permitimos o mesmo distanciamento se o motivo for lazer? Nunca tinha parado para pensar sobre isso, até marcar minha viagem.

Conhecer o Chile era um desejo antigo, mas levar o Felipe não estava nos planos, então essa seria uma viagem só para adultos.

Serão oito dias longe dele. Nunca fiquei tanto tempo nem tão distante assim — ele só tem 2 aninhos. Pensar nisso me traz muita ansiedade e conflitos pessoais e, para ajudar a resolver esses anseios, conversei com várias amigas, pesquisei o assunto em alguns blogs de que gosto, e me surpreendi muito com o resultado.

Descobri que a grande maioria das mães diz que nunca faria uma viagem a lazer sem os filhos. A trabalho, com certeza, mas a lazer, não. Algumas dizem não ter essa vontade, outras dizem faltar coragem. Poucas concordam que, apesar de difícil, viajar sem os filhos é muito importante, é necessário para a saúde do casamento. Que o casal precisa de um momento só deles, afinal, além de mães, somos também esposas, ou namoradas, ou estamos tentando fazer algum relacionamento funcionar.

Eu teria me juntado a esse coro, encontraria ali a compreensão de que precisava, não fosse por um detalhe: meu marido também não vai comigo. Iremos apenas eu e minhas duas melhores amigas. Passaremos oito dias no Chile passeando e conhecendo paisagens incríveis.

Quase todas as mães com quem compartilho esse plano se surpreendem. “Nossa, mas você terá coragem de deixá-lo para trás?”, dizem em tom de surpresa, e até mesmo de

repreensão, e eu não entendo o motivo. Por que conseguimos passar um período longe dos filhos e do marido, mas não podemos aproveitar esse mesmo tempo sem estar atreladas a obrigações com o trabalho ou com o casamento? Por que será que assumimos com certa facilidade compromissos por obrigação, mas não nos permitimos o mesmo distanciamento por prazer? Será que é tão difícil e assustador assim, seria preciso tanta coragem?

Ainda não sei essas respostas. Enquanto escrevo este texto, estou a apenas 48 horas de embarcar e com o coração apertado, com um medo danado de querer voltar no meio do caminho.

Felipe ficará aos cuidados do pai dele, que apoiou minha ideia desde o início e está me passando muita segurança. Nesses oito dias, ele fará sozinho tudo que nós dois fazemos juntos desde que Felipe nasceu. Não vai ser fácil, ele sabe disso, mas será que ele imagina quão difícil será?

Ainda não posso prever o que me espera no final dessa jornada. A única garantia que tenho é que aprenderei muito, e dividirei essa experiência com todas as mães que agora me leem. Quando retornar, contarei como foi a temporada longe do meu marido e filho no site da Canguru, ainda no mês de setembro.

E então, quer embarcar comigo nessa viagem?=

Mariana Isabel é fisioterapeuta, casada com o William há seis anos e mãe do Felipe, de 2 aninhos. Além de profissional, mãe e esposa, há menos de um ano criou o instablog @felipeporai com a ideia de compartilhar experiências maternas e programas bacanas para ir com — ou sem — os filhos pequenos.

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FOTO: GUSTAVO ANDRADE

4para ler com seu filho

Amigos inesperados Um dos temas mais caros à literatura infantil universal é a amizade entre uma criança e alguém que não devia, não podia, não parecia ser tão amistoso assim.

Pensemos na amizade entre um menino e uma árvore, em A Árvore Generosa, de Shel Silverstein. Ou Dorothy com seus companheiros de jornada: o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Pensemos no BGA, o Bom Gigante Amigo, livro de Roald Dahl que acabou de ganhar uma impressionante versão de Steven Spielberg. Lembremos a amizade do garoto Soluço com o dragão Banguela, no livro Como Treinar Seu Dragão, de Cressida Cowell, que também foi para a telona. Aliás, esse último livro tem paralelos com as duas histórias que destaco na coluna deste mês.

leo cunha e os filhos Sofia e André

O grifo é uma ave imensa, ameaçadora e ranzinza. Não gosta muito de papo e, ainda por cima, perdeu o gosto de voar. Mesmo assim, ele é o único amigo do menino. Até porque o menino mora numa caverna e não conhece nada fora dali. O menino, por sua vez, é curioso, quer saber o que está lá fora, mas está confortável (ou acomodado?) em sua caverna. Esse é o mote de O menino e o Grifo, de Luiz Antonio Aguiar. Como vamos perceber na história, nada como um amigo para ajudar a encarar o mundo.

SOBRE OS AUTORES: Luiz Antonio Aguiar, carioca, é escritor, tradutor, editor e professor. Escreveu mais de 100 livros para crianças e jovens, alguns traduzidos com sucesso no exterior. Sandro Dinarte, paraibano, é ilustrador, designer e editor, com dezenas de obras publicadas.

DAGOBERTO. Texto de Nara Vidal. Ilustrações de Flávio Fargas.

Editora Rona, 2016.

O MENINO E O GRIFO. Texto de Luiz Antonio Aguiar. Imagens de Sandro Dinarte. Editora Gaivota, 2012.

Dagoberto também é um amigo alado, como o grifo. Imaginário, talvez? Inusitado, com certeza! É ele quem surge para substituir a fada do dente, afinal de contas a menina Ana detesta fadas, especialmente aquelas fofinhas e cor-de-rosa! Ela gosta mesmo é de carrinhos, piratas e dinossauros. Por isso Dagoberto (que nome genial para um dragão!) cai como uma luva para Ana. O único problema é que os colegas da menina podem até acreditar em fada do dente, mas em dragão? A amizade entre Ana e Dagoberto, trançada em cartas e bilhetes, é diversão garantida para a meninada.

Leo Cunha é escritor e publicou mais de cinquenta livros, como O sabiá e a girafa (Ed. FTD) e As fantásticas aventuras da Vovó Moderna (Ed. Cia das Letrinhas). Recebeu os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como Jabuti, Nestlé e João-de-Barro. Na Canguru, dá dicas de livros para crianças. leocunha@cangurubh.com.br

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IMAGENS: REPRODUÇÃO

SOBRE OS AUTORES: Nara Vidal, mineira, é escritora de livros para crianças, jovens e adultos. Mora em Londres, onde também atua como produtora cultural. Flávio Fargas, mineiro, é artista plástico, ilustrador e designer. Já publicou dezenas de livros para crianças e jovens.

4na pracinha

FOTO: JULIA BAETA

Casa Kubitschek UMA “CASA-MUSEU”, com um telhado que tem a forma de asa de borboleta e planos inclinados, projetada por Oscar Niemeyer. Jardins assinados por Burle Marx e um amplo quintal, localizada às margens da Lagoa da Pampulha — tem cenário mais convidativo para um passeio em família?

A casa de fim de semana de Juscelino Kubitschek, quando ainda era prefeito de Belo Horizonte, foi restaurada e transformada em um museu. Móveis, adornos, objetos, espaços e fotografias da época foram preservados. Durante o passeio, vivenciamos como era habitar entre os anos 40 e 60.

No passeio, conhecemos a casa grande, incomum para os tempos de hoje, com lareira, sala de estar, sala de jantar, sala de TV, quarto de hóspedes, sala de jogos, piscina, varanda, casa anexa, mezanino, tijolos de vidro no corredor e muitas sacadas. As curvas e os jardins do fundo da casa contam com espécies características da flora da região de Diamantina, como as famosas sempre-vivas, típicas da região. Também chamam atenção os cincos pés de jabuticaba, fruta preferida do Juscelino. Nos períodos de chuva, é possível ver os pés carregados!

Passear pela casa acompanhado por crianças é uma experiência muito interessante, pois os olhares curiosos instigam perguntas divertidas sobre costumes de antigamente. Durante nosso passeio, em uma agradável tarde de inverno, as crianças ficaram intrigadas com a presença de banheira em todos os banheiros, com as características dos móveis e objetos. A imaginação é a condutora do passeio.

A “casa-museu” hoje recebe a exposição Pampulha: território da modernidade, que retrata a evolução da região. A gente vê registros de uma Pampulha com bonde, cassino, e ruas, hoje tão urbanizadas, que antes não passavam de um acesso.

O espaço também abriga a exposição permanente Casa Kubitschek: uma invenção modernista do morar.

Recentemente, a Casa Kubitschek inaugurou o Espaço Multiúso e a Reserva Técnica, além da área externa dos jardins e do espelhod’água da antiga piscina, com o projeto de Roberto Burle Marx revitalizado. Neste ano, o Na pracinha promoveu uma das edições do Piquenique Literário por lá e foi muito legal. Você também pode programar um piquenique neste espaço cultural superlegal, sabia?

QUER CONHECER?

Avenida Otacílio Negrão de Lima, 4188, Pampulha Telefone: 3277-1586 E-mail: ck.fmc@pbh.gov.br Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9h às 18h

IMPORTANTE:

›› Entrada gratuita. ›› O espaço possui acessibilidade com rampas e elevador. ›› Possui sanitários. ›› Não é permitido estacionar na Orla da Pampulha. O visitante deve parar na área de estacionamento da Av. Fleming (Praça Nova da Pampulha) e ir caminhando. É um passeio agradável :) ›› É possível realizar piqueniques e ensaios nos jardins; basta agendar em ck.fmc@pbh.gov.br. =

O Na pracinha é um movimento que incentiva o tempo livre para o brincar na infância e o resgate da relação criança/cidade com a ocupação dos espaços públicos pelas famílias.

O brincar e o contato com a natureza são fundamentais para saúde física e mental da criança. Criado pelas mães Flávia Pellegrini e Miriam Barreto, o projeto promove eventos brincantes gratuitos e compartilha dicas de passeios pela capital mineira. www.napracinha.com.br

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4padecendo no paraíso

Nasce uma mãe Soares

QUANDO UM BEBÊ nasce, nasce uma mãe e uma mulher desaparece. Esse fenômeno se repete com várias mulheres todos os dias. A gestante, que tinha toda a atenção da família, ao ter seu filho nos braços, fica invisível. Na função de mãe, esquece que é mulher.

Liga-se ao filho de tal forma que acaba se anulando.

Deixamos de comprar coisas para nós, a criança está sempre em primeiro lugar. Deixamos de sair com os amigos. Um dia nos damos conta de que somos meras figurantes até nas fotos. Nossa cabeça é cortada, saímos desfocadas — se quiser uma foto linda com o seu filho tem que fazer selfie ou contratar fotógrafo profissional.

Nasce uma mãe, o pai não vê mais você com os mesmos olhos, sente-se deixado de lado. A relação do casal muda.

A mãe não pode esquecer que a mulher continua ali, que ela estava ali antes da mãe e precisa permanecer. Se cada uma de nós não fizer isso por si mesma, quem fará?

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Uma mãe pode ser bonita e sexy, a mulher pode curtir o marido, o casal pode manter a chama acesa.

Desafie-se! Olhe-se no espelho todos os dias, escolha uma roupa bonita todos os dias. Você merece estar de bem com sua imagem e isso vai se refletir em todos os aspectos da sua vida. Nasce uma mãe, nasce um amor infinito por um filho, nasce uma nova mulher!=

Coordenado pela arquiteta Bebel Soares e pela designer Tetê Carneiro, o grupo Padecendo no Paraíso nasceu em março de 2011, no Facebook, e é formado atualmente por mais de 6 000 mães. Na Canguru, as fundadoras do Padecendo discutem assuntos como saúde, alimentação, sexo, viagens, educação, estética e beleza. www.padecendo.com.br

FOTO: PIXABAY

POR Bebel

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

4artigo | Cláudia Aparecida Borges Magalhães

Síndrome de Irlen afeta desempenho escolar A VISÃO CONTRIBUI para 80% do nosso aprendizado. E cerca de 12% das crianças em idade escolar têm uma síndrome hereditária que gera um distúrbio visual e pode afetar diretamente seu aprendizado: a síndrome de Irlen.

Seus principais sintomas são: fotofobia, coceira nos olhos, lacrimejamento, irritabilidade, inquietude, cansaço, desconforto, dor nos olhos, dor de cabeça, enjoo, baixa estima, desinteresse pelo estudo e dificuldade para acompanhar objetos em movimento. Mesmo a pessoa que tem acuidade visual normal (sem grau algum) pode ter a síndrome.

Ler se torna difícil para quem tem essa síndrome, mesmo sem nenhuma questão patológica na visão. A escrita cursiva dificulta ainda mais a leitura e a cópia do quadro. A criança na escola pode ficar desatenta, hiperativa e até mesmo ser considerada portadora de outros transtornos que ela não tem, como o déficit de atenção, TDAH, dislexia e disgrafia.

Outros fatores podem ajudar a detectar o problema: ›› Quando a criança estiver no parque ou playground, observe se ela erra os degraus ao subir a escada do escorregador, por exemplo. ›› Ao abrir a janela do quarto, a luminosidade incomoda seus olhos a ponto de doer? A criança prefere locais mais escuros? ›› Ao fazer atividades que exijam maior concentração ou tempo de estudos, veja se a criança fica irritada, coça ou lacrimeja os olhos. ›› Ao ler um texto, veja se ela pula letras, linhas, omite palavras ou as inventa. ›› Se anda “tombando” para um lado, sem conseguir andar em linha reta. ›› Se sempre deixa as coisas cair das mãos ou se sempre as coloca na borda da mesa e caem. ›› Se a criança se queixa constantemente de dor de cabeça.

A criança na escola pode ficar desatenta, hiperativa e até mesmo ser considerada portadora de outros transtornos que ela não tem, como TDAH ou dislexia

›› Se ela nunca consegue pegar os objetos em movimento. ›› Se tem sono constante, mesmo após uma boa noite de sono.

Caso os sintomas não tenham nenhum motivo neurológico ou de coordenação motora, pode ser que a criança tenha a síndrome de Irlen.

Nos últimos sete anos, a Fundação HOLHOS, do Hospital dos Olhos, representada pelos médicos Ricardo Guimarães e Márcia Reis Guimarães, dedica-se a promover o conhecimento para identificação e tratamento dos distúrbios de aprendizagem relacionados à visão e oferece o curso sobre a síndrome de Irlen, para formação do screener, o profissional habilitado para fazer o teste e identificar o problema. O Espaço Psicopedagógico BH é um dos locais que fazem esse teste na capital mineira.

Uma vez identificada a síndrome, basta encontrar a solução adequada para cada caso, como o uso de overlay — placa do tamanho de uma folha A4, que é colocada sobre as páginas de livros, cadernos ou na tela do computador — ou óculos, quando o grau de distorção é mais acentuado.=

Cláudia Aparecida Borges Magalhães é proprietária do Espaço Psicopedagógico BH. Mãe, pedagoga, psicopedagoga, pós-graduada em neurociências e psicanálise aplicadas à educação, palestrante e screener.

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Aprendendo a lidar com a chegada dos filhos É FATO QUE a família vem se transformando em decorrência das mudanças que se apresentam no contexto socioeconômico. Apesar disso, o imaginário que pesa sobre a família idealizada ainda é forte e se apoia na tradição. Quando refletimos sobre as responsabilidades advindas da formação de uma família e da educação do ser humano, reforçamos que é a partir da construção dos vínculos entre familiares (um casal e, posteriormente, seus filhos) que acontecem as vivências e trocas sociais mais fundamentais. É nesse contexto que nos moldamos e recebemos valores e sentido pessoal para, então, ganharmos sentido social.

Um dos momentos mais importantes na história de uma família é a chegada dos filhos. Porém, o investimento nas funções materna e paterna pode contribuir para dar uma esfriada na relação do casal, pois a rotina fica completamente alterada e as prioridades mudam. Assim, aprendendo a incluir mais um membro à sua família e lidando com uma nova configuração de sua vida conjugal, o casal se inquietará com medos e incertezas enquanto tentará se adaptar frente ao novo cenário de tarefas e desafios, inclusive quanto à sua vida afetiva e sexual.

Ter filhos é uma tarefa difícil! As mudanças no cotidiano do casal depois da chegada do bebê são inevitáveis. O lazer, o descanso e a vida a dois ficam em segundo, terceiro plano. Em muitos casos se extinguem. As tarefas domésticas se multiplicam, as pressões financeiras aumentam e os momentos de intimidade com o parceiro diminuem.

Por maior que tenha sido o tempo de convivência e conhecimento do casal, tudo muda quando chega a criança, que trará uma nova dinâmica entre os pais. Quanto mais resistência houver às mudanças necessárias diante da nova realidade, maiores

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Um dos momentos mais importantes na história de uma família é a chegada dos filhos. Porém, o investimento nas funções materna e paterna pode contribuir para dar uma esfriada na relação do casal, pois a rotina fica completamente alterada e as prioridades mudam. serão as interferências negativas no seu cotidiano, ameaçando a sua estrutura familiar. Sentimentos como frustração e insatisfação poderão levar ao desgaste na relação, o que demandará apoio profissional de um psicólogo que faça a mediação entre o casal, criando condições favoráveis para o reencontro de ambos e a harmonia conjugal.

Entretanto, sendo capazes de se dividir entre múltiplas funções — individuais, sociais e profissionais —, homens e mulheres poderão (re)negociar com mais criatividade e flexibilidade as exigências diárias. Mesmo vivenciando um novo ritmo de vida, em meio a uma sociedade plural, mais complexa e diversa, desencadeando profundas mudanças e exigindo redefinições dos papéis que ambos precisam assumir, eles conseguirão.

Assim, esse novo contexto, de tantos conflitos, poderá ser, também, uma oportunidade para o amadurecimento da relação do casal que, com diálogo, tolerância, amor e companheirismo, vivenciará, de forma emocionante e transformadora, a missão de ser pai e mãe.=

Daniela Silveira é psicóloga clínica com formação em terapia sexual sistêmica e terapia de casal.

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

4artigo | Daniela Silveira

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4crônica

O menino, a mãe e o laço O BEBÊ DE 1 ano e pouco surge correndo à minha frente, ganhando o mall com a melhor cara do mundo. Segundos depois, um pai exausto aparece seguindo o bebê, padecendo de alegria. Como é bom saber que seu filho já é capaz de caminhar com as próprias pernas. Mesmo que isso custe a saúde das suas.

Olho para a cena — corriqueira, sim, mas única e emocionante para quem a protagoniza — e me surpreendo. Faz tanto tempo que vivi isso que já nem me lembrava mais. Mas bastam os passos daquele bebê para que eu reviva a emoção da primeira vez, solidária ao brilho nos olhos daquele pai de primeira viagem.

O Facebook me traz uma foto de lembrança e quase não me reconheço: eu canguru, deitada no sofá, fazendo o papel de cama para uma tripinha de gente profundamente adormecida. É incrível como esquecemos rápido. O desespero por não saber aliviar as malditas cólicas. O complexo de péssima mãe por não conseguir tirar a chupeta da criança prestes a completar 3 anos. Olho para outro pai feliz cujo bebê me atravessa o caminho, e não sei se sinto compaixão ou inveja.

Faz alguns anos que meu bebê dorme a noite toda. E só acorda cedo porque tem escola, pois adoraria dormir mais um pouquinho. Não usa fralda, nem lembra que um dia teve chupeta, não sabe o que são cólicas. Faz sozinho o dever de casa, coleciona opiniões próprias. E agora oferece a testa para eu beijar — não mais a bochecha. É bom aluno, dócil, cheio de amigos. Parece gostar mais do videogame do que de mim. Criou um canal de jogos no YouTube, para o qual já conquistou dez seguidores. Narra os vídeos com uma desenvoltura assustadora, usando expres-

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cris guerra e o filho francisco

— Meu menino já tem 9 anos. Mas ainda não sabe amarrar o tênis. Onde foi que errei? — eu me faço a pergunta.

sões como “literalmente” e “sem mais delongas”. Meu menino já tem 9 anos.

Mas ainda não sabe amarrar o tênis. Onde foi que errei? — eu me faço a pergunta. A resposta é simples: sempre houve alguém que o fizesse por ele. Amarrar o tênis nunca foi prioridade. Pegar um pokémon é bem mais importante e urgente. E é assim, desprovida de poesia, a lógica dos pré-adolescentes. Aproveito para aprender: despoetizo o problema e arranjo para ele solução mais prática. “Francisco, você tem dez dias pra aprender a amarrar o tênis. Ou não tem mais joguinho. É amarrar ou largar”. Junto com a ameaça, envio dois ou três links do YouTube — é preciso aprender a falar a língua da nova geração.

Dois dias se passam e o laço ainda não está firme: se desfaz várias vezes por dia. “Não sei apertar o nó, Mamy”. Questão de tempo, filho. Você vai fazendo e fazendo de novo, até aprender. Ser sua mãe também é assim. Faço uma vez, tento outra, nunca deixo de tentar. Quem sabe um dia eu aprendo.=

Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna na rádio BandNews FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. crisguerra@cangurubh.com.br

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