Canguru | BH | Fevereiro de 2016 | Número 05

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Criando filhos em BH

www.cangurubh.com.br | fev 2016 | nº 5

E XE M P LAR G RAT U I TO PARA E SCO LAS PARCE I RAS

COMO EXPLICAR OS REFLEXOS DA crise

econômica aos filhos

O QUE FAZER (E O QUE NÃO FAZER)

na hora da disciplina

AS CRIANÇAS E

os benefícios

da ioga

PEQUENOS

campeões

A trajetória do tenista Pedro Martins Rodrigues e de outros seis atletas mirins que já treinam e competem como gente grande



nesta edição3

26

seções

A amazona Elisa Resende, de 9 anos: sonho de representar o Brasil nas Olimpíadas

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4 6 10 12 14 15 16 18 20 42 43 44 45 46

Os irmãos João e Olívia Guerra: os exercícios de ioga ajudaram a dupla a melhorar nos estudos

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Primeiras palavras Nossos leitores www.cangurubh.com.br Missão Instagram Eles dizem cada coisa Canguru viu e curtiu Mundo Kids Moda Comprinhas Viagens, modo de usar, por Luís Giffoni História de mãe, por Fádwa Andrade Para ler com seu filho, por Leo Cunha Na Pracinha, por Flávia Pellegrini e Miriam Barreto Padecendo no Paraíso, por Bebel Soares e Tetê Carneiro Artigo, por Carla Marques Nagem de Abreu Chagas Artigo, por Léa Machado Crônica, por Cris Guerra

Reportagens

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A artesã Marcela Bastos, com Miguel Tito, de 3 anos: mercadorias vendidas em sites de bazar desde 2013

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Nossa capa

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Pedro, de 9 anos, é filho de Cinara Martins e Frederico Bastos Rodrigues. FOTO: Gustavo Andrade

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Economia | Franqueza e calma são essenciais na hora de falar da crise financeira Bem-estar | A ioga promete ajudar na concentração, disciplina e socialização Esporte | Sete atletas mirins que já fazem sucesso nas quadras, ringues, pistas, piscinas... Comportamento | O mal que as pequenas mentiras podem fazer às crianças Família | Especialistas explicam como tratar o momento da disciplina Negócios | Mães vendem roupas e acessórios usados em sites de bazar Saúde | Saiba como se proteger do zika vírus, causador do surto de microcefalia no país


FOTO: GUSTAVO ANDRADE

4primeiras palavras

Dois temas que vão dar o que falar em 2016 Ivana e os filhos Gabriel e Pedro CHEGAMOS AO ANO da Olimpíada do Rio, a primeira a ser realizada no país. A competição mundial que reunirá, em agosto, atletas de 42 modalidades esportivas — do golfe ao rúgbi — certamente ocupará cada vez mais espaço nos veículos de comunicação impressos e eletrônicos. E não são só os adultos que estão interessados nessa cobertura, de olho nas últimas notícias sobre os atletas que lideram os rankings de performance. O tema interessa também aos pequenos, principalmente aqueles aficionados dos esportes. Para a reportagem de capa desta edição, a repórter Isabella Grossi ouviu as histórias de sete atletas mirins, meninos e meninas que levam os treinos muito a sério e sonham, no futuro, chegar às olimpíadas. São crianças como o tenista Pedro Martins Rodrigues, que desde os 4 anos frequenta as quadras, dando suas raquetadas. O que pretendem esses pequenos? Eles respondem sem titubear: querem conquistar medalhas e subir ao pódio, como seus ídolos. E enquanto vão somando competições ao currículo, garotinhos como Pedro ganham também em senso de disciplina, de responsabilidade e em habilidade no convívio social. É possível que alguns deles desistam da vida de atleta na adolescência ou na juventude, mas provavelmente não se esquecerão das lições aprendidas com o esporte. Esta edição da Canguru contempla ainda outro tema que está em todos os noticiários: a crise econômica do Brasil. Para a maior parte das famílias, o cenário atual é de contenção nos gastos. Está sobrando menos dinheiro para viagens, idas ao shopping. Como explicar aos filhos os reflexos dessa retração financeira e a necessária mudança de hábitos em casa? Especialistas ouvidos pela repórter Sabrina Abreu recomendam franqueza e calma por parte dos pais na hora de falar sobre o assunto. Olimpíada e crise econômica. Os dois temas que certamente vão dar o que falar em 2016 não poderiam ser ignorados pela redação da Canguru. Mas há muitos outros debates relevantes nas próximas páginas, como as consequências das pequenas mentiras que contamos às crianças. Eu adorei o cardápio de matérias, espero que você também aprecie. Boa leitura!

Ivana Moreira, DIRETORA DE REDAÇÃO ivana@cangurubh.com.br

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DIRETOR EXECUTIVO: Eduardo Ferrari DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS: Ivana Moreira

Aprender a ler é descobrir um mundo novo a cada dia.

www.cangurubh.com.br DIRETORA DE REDAÇÃO: Ivana Moreira EDITORES EXECUTIVOS: Alessandro Duarte e Paola

Carvalho

EDITORA DE ARTE: Christina Castilho PROJETO GRÁFICO: Christina Castilho (Mondana:IB) REPÓRTER: Rafaela Matias COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Cris Guerra, Cristiane

Miranda, Isabella Grossi, Leo Cunha, Luís Giffoni, Naiara Patrícia, Nara Montezano, Sabrina Abreu FOTÓGRAFOS: Gustavo Andrade e Victor Schwaner REVISORA: Shirley Souza Sodré

COORDENADORA DE MARKETING E PLANEJAMENTO DIGITAL: Camila Capone ANALISTA DE MARKETING E PLANEJAMENTO DIGITAL:

Juliane Ferreira

GERENTE COMERCIAL E ADMINISTRATIVA: Suellen Moura ASSISTENTE ADMINISTRATIVA: Laura Ramos

A Canguru é uma publicação mensal da Scrittore Comunicação e Editora Ltda. CNPJ 12243254/0001-10, Rua Alberto Bressane, 223, Belo Horizonte/MG, CEP 30240-470 TIRAGEM: 25 000 exemplares IMPRESSÃO: Artes Gráficas Formato Ltda. DISTRIBUIÇÃO: Gratuita na rede de escolas parceiras*

e vendida em bancas de BH.

* Instituições particulares de educação infantil que se encarregam de enviar a revista aos pais de seus alunos na mochila dos estudantes. A relação das escolas parceiras pode ser consultada por anunciantes.

PARA ANUNCIAR Suellen Moura: (31) 3546-7818 . (31) 98651-2047 suellen@cangurubh.com.br Fabiana Paiva: (31) 3546-7818 . (31) 99105-6994 fabiana@cangurubh.com.br

QuNd cMeça aCoStUi oFuUr d sUIlO Assim como os pais da Elisa, muitos outros começaram a construir o futuro dos filhos ainda na primeira infância. Hoje, a pequena tem 4 anos e adora ler livros! No Kumon, os alunos pré-escolares contam com um material de Português exclusivo para a sua idade, por meio do qual aprendem a ler, ampliam seu vocabulário e despertam o gosto pela leitura.

PARA FALAR COM A REDAÇÃO: mande e-mail para redacao@cangurubh.com.br ENDEREÇO: Rua Paul Bouthilier, 207, Mangabeiras, Belo Horizonte – MG – CEP 30315-010. (31) 4109-0825 . 3546-7818 Artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da revista e de seus responsáveis.

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Tel.: (31) 3222-9171 Acompanhe-nos nas redes sociais Facebook cangurubh Google+ +Cangurubhbr2015 Twitter @cangurubh Instagram cangurubh YouTube Cangurubhbr2015

Matemática . Português . Inglês . Japonês

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Assim nasceu a Curumin Pouch Slings. — Bruna Veloso Quando engravidei, sempre pen­ sava em como gostaria de poder ver de perto o crescimento da minha filha. Fui demitida um ano após a licença-maternidade e comecei a fazer brownies por encomenda. Assim nasceu a Brownielover, há quase três anos espalhando delícias pela cidade. — Raquel Ladeira

Comportamento Amei participar da matéria sobre animais de estimação, escrita para pessoinhas tão especiais (“Bons companheiros”, jan. 2016). Obrigada pelo convite, Canguru. — Giselle Elediê Tenho uma cadelinha da raça poodle e, desde o nascimento da minha filha, elas convivem bem de perto. Nunca tivemos problemas. — Júlia Caires

Negócios Assim como a Carol, do Ateliê Materno (“Empreendedorismo materno”, jan. 2016), eu juntei um sonho antigo e a paixão pela costura à vontade de estar perto da cria. Fui demitida, como tantas outras mulheres que voltam da licença-maternidade, e estou começando a empreender no mundo dos slings.

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Saúde Lembro que sentia muita, mas muita dor na fase de crescimento (“Crescer dói?”, jan. 2016). Com 13 anos de idade eu já media 1,75m de altura. Minha menina está com 3 anos e nunca reclamou. Espero que ela não passe pelas dores que passei. Na época, fiz várias radiografias e exames até chegarem à conclusão de que as dores eram de crescimento mesmo. — Pollyanne Marroques

Mundo kids Sensacional a ideia da Koralle de produzir uma caixa de giz de cera com opções de “cor de pele” (“Cor de pele de verdade”, jan. 2016). Agora será possível fazer um desenho com pessoas de vários tons. Nunca curti esse papo de chamar o bege de “cor de pele”. Cor da pele de quem, né? — Marina Bonfatti

História de mãe Não sei explicar, mas a história contada por Marina Vasconcellos no texto “O pior dos pesadelos e o sonho mais doce” (jan. 2016) me envolveu como se as pessoas descritas fossem muito próximas a mim. Parabéns por não desistir do seu sonho de família no mais intenso momento de tristeza. Marina, sua família é linda. O anjo Henrique e suas meninas devem ter muito orgulho pela mãe que você é. — Arícia Bueno Linda família, belíssima história de superação e uma grande lição: o nosso amor de mãe sobrevive a tudo. Mesmo que sejam três princesas na terra e um príncipe no céu, sempre serão quatro filhos muito amados! — Andrezza Alencar Linda a sua história, Marina. Imagino a sua dor, mas Deus te retribuiu em dobro. Suas meninas são lindas. Parabéns. — Luciana Nunes Deus abençoe sua família cada dia mais. Linda história. Superação e fé acima de tudo. — Aline de Paula Marina, além de uma mãe exemplar, você é uma guerreira. Sinto orgulho de ser avó “postiça” dessas netas lindas e educadas. Parabéns. — Lilian Neves


Transcendendo Que lindo o texto “Onde está o seu tesouro?”, de Luciene Duar­ te (jan. 2016). Adorei a leitura. Às vezes, nos esquecemos das palavras sagradas. — Sonia Beatriz Diniz

Papo de menino É, Eduardo Ferrari. Muito lamentável o que aconteceu com Chico Buarque, assunto que você abordou no texto “Pau que dá em Chico dá em Francisco? ou “O que é mais importante?” (jan. 2016). O artista

continua defendendo um PT que não existe mais. Ele pode não ter mudado, mas o PT... — Paulo e Alice Lisboa

dias. Agora entendi que o lado B está presente em qualquer lugar ondes eles estejam. Nada foi diferente do seu relato. — Divina Marcia Santos

Ciranda

Identifiquei-me bastante com o texto. Aqui em casa não é muito diferente. — Ilkeline de Paula

Os meus filhos já estão criados e posso garantir que aceitarmos o lado B é o primeiro passo para uma criação mais assertiva. Muito bom o texto “Lado B”, de Fernanda Agostinho (jan. 2016). — Mari Lúcia Cardoso De Lucena Capelari Recebi os meus sobrinhos-netos aqui em casa por poucos

FALE COM A CANGURU Entre em contato por e-mail: redacao@cangurubh.com.br ou deixe um comentário em nossas redes sociais.

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DATA: 4 de junho, no Ouro Minas Palace Hotel

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AS PALESTRANTES

LÍGIA GABRIELA LAURA KAPIM GUTMAN GUERRA

Nutricionista, apresentadora do programa “Socorro, Meu Filho Come Mal”, do canal pago GNT

Psicopedagoga argentina, autora dos best sellers “A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra” e “O Poder do Discurso Materno”

ASHLEY

FILOMENA

CAMILA DO VALE (DRA. FILÓ)

MERRYMAN

Escritora americana, autora do livro “Os 10 Erros Mais Comuns na Educação de Crianças”, colunista das revistas Time e New York

Pediatra especialista em cardiologia, médica do CTI Infantil da Santa Casa de Belo Horizonte

APOIO:

Psicóloga, autora do livro “Mulheres às Avessas” e apresentadora do programa de mesmo nome, na RPCTV, afiliada da Rede Globo, no Paraná

A MEDIADORA

CRIS

GUERRA

Publicitária, escritora, palestrante e colunista da rádio BandNews FM e das revistas Canguru e Pais&Filhos


www.cangurubh.com.br Todos os meses, a Canguru promove seminários gratuitos sobre temas relacionados à educação dos filhos. Fique atento à programação dos próximos eventos.

evento

Dinheiro + filhos = ? O Encontro Canguru de fevereiro será com a jornalista Mara Luquet COMO E QUANDO começar a falar sobre grana com as crianças? E como se planejar financeiramente para as despesas com os filhos desde o nascimento até a idade adulta? Especialista em finanças pessoais, Mara Luquet é a convidada do Encontro Canguru do mês de fevereiro e falará sobre essas questões aos nossos leitores. O evento com a colunista da Rede Globo e da rádio CBN será no dia 27, sábado, às 10h30, no Cineart Boulevard. Após a palestra da jornalista, que é autora de livros como Tristezas Não Pagam Dívidas e O Assunto É Dinheiro, haverá sessão de autógrafos de sua obra mais recente, Muito Além do Voo, escrita em parceria com o neurocientista e instrutor de voo livre Ruy Marra. A sessão contará também com a presença do coautor. As inscrições para o Encontro Canguru são gratuitas, mas as vagas são limitadas. Faça a sua no cangurubh.com.br.

Promoção

Um ano de delícias na sua casa

QUER RECEBER, TODOS os meses, na sua casa, essas delícias da marca Forno de Minas? Participe da promoção “2016 com a Forno de Minas”. A Canguru e a indústria de alimentos vão sortear dez kits de produtos (um a cada mês do ano, de março até dezembro) para um leitor. Quem for sorteado só precisará pôr o forno para aquecer e aguardar a entrega. Entre no www.cangurubh.com.br, confira as regras e participe dessa promoção de dar água na boca. O prazo para as inscrições é até 26 de fevereiro, às 12 horas.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

Ganhe todo mês um kit de pães de queijo, waffles, folhados, tortinhas, empanadas...


EDIÇÃO Alessandro

Teatro para baixinhos Está aberta a temporada teatral de 2016. Neste ano, a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança chega a sua 42ª edição, reunindo mais de 100 espetáculos adultos, infantis e de dança. Com ingressos que vão de 5 a 15 reais nos postos oficiais do evento, as atrações são apresentadas em vários teatros e espaços culturais da capital. Para os pequenos, as opções vão dos clássicos Três Porquinhos, Chapeuzinho Vermelho e Cinderela a comédias contemporâneas como Meu Malvado Predileto (foto) e Seven — Circo dos Números Capitais. Mais informações sobre o evento e as peças infantis em cartaz você confere em cangurubh.com.br.

Duarte

NA CBN Às terças e quintas, às 10h40, acompanhe ao vivo o boletim Canguru: criando filhos em BH. Todos os áudios estão disponíveis no portal cangurubh.com.br.


Ter um bichinho é uma alegria. Para comprovar isso, pedimos aos pais de BH que fotografassem seus filhos com os pets da família e compartilhassem os cliques usando a marcação #cangurubh. Confira algumas das imagens

As pequenas Paula e Julia curtiram a chegada do peixinho “Nemo”. O flagra foi da mãe @andrezzalencar.

C

M

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CM

MY

CY

CMY

K

O pequeno Gael apertou com força a gata “Sophia” e @dolardathata registrou a fofura.

Próxima missão: no ziriguidum Levou seu filhote para se divertir nos blocos de Carnaval ou nos bailes dos clubes de BH? Então compartilhe a imagem usando a marcação #cangurubh. Os melhores registros serão publicados na edição de março da revista.

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FOTOS: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

@regina_saravia clicou a filha Fernanda se divertindo de montão com a calopsita “Nino”.



POR Rafaela

Matias

Mãe, por fa vá à reun vor, ião da escola ve stida de mãe!

LIS, 10 anos, filha de Leonardo Silveira Damasceno e Luciana de Castro Terra PAULO ANDRÉ, 5 anos, filho de Rodrigo Parreiras Passos e Paula Adriana de Freitas, e irmão Vitor, de 1 ano

Meu irmãozinho é tão bagunceiro que eu acho que Deus deu ele para a gente porque ele estava fazendo muita bagunça lá no céu.

Por que o Brasil é assim, esquisito? Eu queria ter nascido na Disney!

Eu vi um marciano lá de Mercúrio! MARIA, 4 anos, filha de Leonardo Hermont Good God e Paula Zawadzki Ribeiro

A gent e alegria suga a ec a trist ospe eza

MARIA EULÁLIA, 6 anos, filha de Geraldo Arcanjo de Sousa e Maria Eliana Pereira

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Se seu filho também diz pérolas, envie a frase para o e-mail redacao@cangurubh.com.br.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

RAPHAEL, 5 anos, filho de Ricardo Wagner Figueiredo Pereira e Renata Santos Amaral


EDIÇÃO Camila

Capone

O QUE ESTÁ ROLANDO DE ÚTIL, DIVERTIDO OU CURIOSO NA WEB E NAS REDES SOCIAIS

Cadê todo mundo? Seu filho está na escola? Seu marido chegou em casa? Sua esposa já saiu para ir ao dentista? Através do aplicativo FAMILO, você sempre vai saber exatamente onde cada membro de sua família se encontra e em tempo real. O aplicativo possui recursos de bate-papo somente para os membros do grupo, notificações automáticas de “check in” e “check out” de locais predeterminados e ainda conta com a função “pedido de ajuda”, que permite que familiares sejam informados por e-mail e por sinal sonoro no celular caso alguém da família esteja correndo perigo ou precisando de ajuda, com apenas um clique. O aplicativo é gratuito e está disponível nas versões para iOS e Android. Use nosso QR Code para fazer o download. Lembre-se: ele precisa ser instalado em todos os aparelhos celulares dos familiares.

IMAGENS: REPRODUÇÃO

Android bit.ly/familoandroid

iOS bit.ly/FamiloIOS

Bonecas em prol da diversidade De pele negra em vários tons, cabelos cacheados e lindíssimas — assim são as BONECAS DA LINHA MALAVILLE, criadas pela modelo caribenha Mala Bryan, que estava cansada de procurar e não encontrar bonecas que se parecessem com ela. Mala, Maisha, Malina e Mhina arrasam no visual e também no preço — cada boneca custa 20 dólares (esse valor não inclui frete e taxas). Esperamos que as bonecas sirvam de inspiração para outras empresas. Acesse bit.ly/MalavilleDolls ou use nosso QR Code

Uma câmera na mão, uma estrada abandonada... Imagine uma estrada deserta, um pai fotógrafo e muita imaginação. Essa é a essência da série de fotografias MAGIC ROAD (estrada mágica, em português). Com elementos simples, no mesmo cenário, ele fotografou sua filha em várias cenas divertidas. Acesse bit.ly/MagicRoad ou use nosso QR Code FEVEREIRO 2016 .

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O melhor amigo das crianças NA EDIÇÃO DE dezembro, a matéria de capa da Canguru abordou os benefícios de ter um animal de estimação na infância. Um estudo feito por pesquisadores americanos comprovou o que nós já sabíamos: crianças com cachorro em casa têm menos chances de desenvolver stress e ansiedade. A pesquisa analisou 643 guris, com idades entre 4 e 10 anos, dos quais 58% tinham cachorro e 42%, não. Foram considerados fatores como índice de massa corporal, prática de atividades físicas, tempo em frente ao computador/TV e saúde mental. O resultado: apenas 12% das crianças com cachorros foram diagnosticadas com stress e ansiedade, enquanto 21% das que não tinham o animal de estimação apresentavam os problemas. O cão também é o melhor amigo das crianças.

Livre, leve e solto Quem nasceu com o cabelo enroladinho, cheio de cachinhos na cachola, está convidada a dar um grito: “ALISA NÃO, MÃE!”. O chamado é feito por um projeto criado pela fotógrafa mineira Carolina Castro, que busca reforçar a autoestima de meninas que têm os cabelos crespos e incentivá-las a se assumirem como são. Encantada com a nova geração de mulheres que estão se libertando da ditadura do liso, Carolina decidiu, em dezembro do ano passado, dar uma forcinha para a criançada já começar a entrar na onda. Ela passou a fazer ensaios fotográficos com meninas negras de 9 meses a 16 anos, enfatizando o poder de seus cabelos. Uma chuva de apoiadores e pessoas interessadas se formou e o projeto já conta com mais de 4 000 curtidas em sua página no Facebook, na qual os ensaios são divulgados. Basta acessar facebook.com/carolinacastrofoto e se encantar com a beleza das pequenas divas cacheadas.

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Não basta ser pai,... ...TEM QUE PARTICIPAR! Já dizia aquela velha propaganda. E não é que eles estão participando mesmo? Mas, assim como as mamães, os genitores não nascem sabendo trocar fralda, dar mamadeira e colocar os filhos para dormir. Por isso, o curso “VOU SER PAI. E AGORA?”, desenvolvido pelo administrador Fernando Dias, mostra aos papais de primeira viagem como se portar quando o neném nasce. “Percebi que em Beagá só existiam cursos voltados para mães, mas os pais também precisam aprender”, explica Dias, na foto com suas filhas Eduarda, de 4 anos, e Gabriela, de 2. A aula, com duração de três horas, ensina a realizar tarefas como trocar fraldas, dar banho e curar o umbigo, incluindo uma parte prática que conta com o auxílio de bonecos. Também são abordados aspectos do relacionamento com a mulher, desde a gravidez até os primeiros meses de vida do bebê. “Ressaltamos a importância de participar, junto com a mãe, desse processo e das rotinas que envolvem a criação de um filho”, diz. O curso pode ser feito em grupo, por 160 reais, ou individualmente, por 190 reais. Matrículas pelo telefone (31) 999661520 ou pela página facebook.com/ vouserpaieagora.

FOTOS: DIVULGAÇÃO; [1] ARQUIVO PESSOAL.

22%

dos ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS DO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL FORAM CLASSIFICADOS NO “NÍVEL 1”, o mais baixo de uma escala que vai até 4, segundo a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) de 2014, divulgada no fim do ano passado.


POR Rafaela

eu já fui

Matias

criança Mariana Rios

Débora Falabella Moradora da Rua da Bahia, a pequena Débora tinha dois “quintais” invejáveis em casa: o Minas Tênis Clube e a Praça da Liberdade. Ao lado das duas irmãs mais velhas, era nesses dois lugares que ela gostava de descansar e brincar nos fins de semana. Muitas vezes, a diversão era na companhia do pai, o ator, diretor e dramaturgo Rogério Falabella, de quem Débora parece ter herdado o talento para os palcos.

Thiago Pereira Ele não é mineiro, mas representa o esporte da capital desde pequeno. Hoje um dos maiores nomes da natação brasileira, o fluminense Thiago Pereira iniciou sua carreira no Minas Tênis Clube, sob o comando do técnico Fernando Vanzella. Naquela época, a mãe do craque já assistia assiduamente às competições, sempre soltando o bordão que a deixou famosa: “Vai, Thiago!”. Em 2015, ele voltou a integrar a equipe do clube mineiro e recebe ajuda dos técnicos daqui para se preparar para a Olimpíada deste ano.

Aos 6 anos de idade, a atriz e cantora Mariana Rios soltava a voz na cidade de Araxá, no Triân­gulo Mineiro, onde nasceu. Com a mesma carinha de hoje, a morena já era vaidosa e não dispensava um batom vermelho em suas apresentações. Mariana aprendeu com o pai a apreciar um complemento alimentar comum na região: o óleo de fígado de bacalhau.=


4moda

Para o que der e vier Se há um clássico fashion, é o JEANS. O tecido cai bem em calças, jaquetas, biquínis, camisas, shorts... Não dá para errar. É só vestir uma peça para ficar na estica, como Marcos Henrique de Paiva Ferreira, de 12 anos, com uma bermuda da Alphabeto. POR Nara

Montezano BIQUÍNI BORDADO, R$ 253,00, da Monnalisa. Avenida Olégario Maciel, 1755, Lourdes.

SHORTS, R$ 159,50, da Le Lis Petit. BH Shopping; Pátio Savassi.

CALÇA BIGODE DE GATO, R$ 45,99, da Hering Kids. BH Shopping; Pátio Savassi; DiamondMall; Shopping Del Rey.

BERMUDA, R$ 99,95, da Alphabeto. Pátio Savassi; BH Shopping.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

CAMISA ESTONADA, R$ 119,90, da PUC. Pátio Savassi.


apresenta

FOTO: VICTOR SCHWANER

Pequenos pacientes, grandes cuidados Levar o filho para fazer exames laboratoriais não é uma tarefa fácil. E não adianta falar que não vai doer nada. Todos sabemos que dói um pouco, sim. Alguns cuidados, no entanto, são capazes de tornar a experiência dos pequenos menos traumática. “Sempre falamos para os pais que a preparação deve começar em casa”, afirma a diretora médica e técnica do laboratório São Marcos, Mariana Cerqueira, com especialização em pediatria e hematologia. “É importante explicar que passar pelos procedimentos não é agradável, mas vai ajudar a criança ficar mais forte.” Veja a seguir algumas atitudes seguidas pelo São Marcos para ajudar as crianças e também pais e mães: ›› Assim que chegam ao laboratório, crianças e responsáveis são recepcionados e tranquilizados por profissionais preparados para cuidar dos menorzinhos. Em todas as suas unidades, o São Marcos conta com o Espaço Kids, área de espera infantil com brinquedos coloridos e um visual lúdico. ›› Todos os profissionais envolvidos no processo têm experiência em coleta pediátrica tanto de bebês (com até 1 ano de idade) quanto de crianças até 12 anos. Nada mais tranquilizador, nesse momento de apreensão, do que saber que o filho está em boas mãos, já que a coleta infantil exige maior habilidade, perícia e carinho. ›› Os instrumentos de coleta são próprios para os pequenos. A coleta pode ser feita com scalp, que tem agulha mais fina, e os tubos à vácuo são de volume menor, o que diminui o incômodo, agiliza o processo e reduz o números de picadas. ›› Há a opção de coleta em sala especial, em que a criança pode ficar deitada. A sala de vacinas também é toda preparada e decorada para aplicação em crianças. ›› Após o lanchinho, o menino ou menina ganham um ** Unidades vacinadoras: Buritis, Floresta, Lourdes, Prudente e Savassi. Veja os endereços em nosso site.

2104.0100

O Espaço Kids da unidade Savassi e o “Certificado de Coragem” (no detalhe)

“Certificado de Coragem”. Essa ideia surgiu no São Marcos há dez anos. “Algumas crianças que precisam fazer exames rotineiramente colecionam o diploma”, conta a doutora Mariana. ›› Não quer passar pelo stress de ir até o laboratório? O São Marcos tem a opção de atendimento domiciliar, tanto para coletas, quanto para aplicação de vacinas, com hora marcada. Esse serviço é bastante procurado para recém-nascidos e lactentes até 1 ano de idade. ›› Todos os exames infantis já saem com valores de referência adequados ao sexo e à idade da criança. Isso auxilia os médicos a darem um diagnóstico mais preciso. ›› Mesmo em suas ações de marketing, o São Marcos busca sempre levar alguma diversão para os pequenos. “No Natal, por exemplo, colocamos papais-noéis em algumas unidades”, conta a doutora Mariana. “Nossa ideia é que a criança veja o laboratório como um local amigável, sem aquela velha cara de hospital.”

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Na volta às aulas, a primeira tarefa é a vacinação dos filhos. ARCOS NO SÃO M EM AGORA T VACINA! Responsável técnico: Dr. Cláudio M. M. Cerqueira - CRM MG 6888

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4economia

Precisamos falar sobre a crise Com franqueza e calma, os dias de dificuldade financeira podem servir de aprendizado para as crianças — e para toda a família Abreu

INFLAÇÃO EM DOIS dígitos, moeda desvalorizada, desemprego em alta, otimismo em baixa. A crise econômica de 2015 e seus efeitos em 2016 deixam o brasileiro com a impressão de que já viu esse filme — ou assistiu a esse telejornal, com uma má notícia atrás da outra. Enquanto muitas famílias se veem obrigadas a enxugar o orçamento doméstico, pais e responsáveis de crianças não podem deixar de dar atenção especial à adaptação dos pequenos à nova realidade. “É preciso falar a verdade, numa linguagem adequada e sem cobrança”, alerta a psicóloga e pedagoga Renata Miranda. Uma conversa sincera é necessária, até mesmo porque os pequenos são capazes de perceber, pelo comportamento dos adultos ao seu redor, quando há algo de errado acontecendo. E a desinformação pode ser angustiante. “As crianças são esponjinhas que observam e captam tudo ao seu redor. Elas absorverão muito mais o que sentirem do que o que escutarem”, explica a educadora e coach

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em finanças pessoais Ana Paula Hornos. No livro infantil Pai sem Terno e Gravata, obra de ficção baseada em histórias (muito) reais, Andreia, uma menina de 10 anos, vê sua vida mudar após seus pais perderem o emprego, numa época de crise no país. A família de classe média se muda para um apartamento menor, transfere os filhos do colégio particular para uma escola pública e cancela a festinha de aniversário da caçula. Mais do que o esforço para economizar, o estado psicológico do pai chama atenção. Numa passagem, a menina o vê chorando. Em outra, diz que ele passou a gritar com ela e seus irmãos, coisa que nunca fazia antes. “Em fases de stress, surge a tendência de culpar os outros”, explica a psicóloga Renata. “Adultos precisam ter discernimento para não agirem assim.” É consenso entre os especialistas que a atitude dos responsáveis vai afetar as crianças, de modo a deixá-las

FOTO: ISTOCKIMAGE

POR Sabrina


tranquilas ou ansiosas. Viver num clima de stress e desesperança pode até ser traumático e comprometer o desenvolvimento nas fases seguintes do crescimento. O educador financeiro Phillip Souza afirma que é corriqueiro atender adultos que sabotam a própria carreira ou não aceitam cargos de chefia, por associações nocivas feitas na infância. “Em vez de ensinar que o dinheiro é algo ruim, é melhor mostrar aos filhos que estamos no controle e podemos resolver nossos problemas, inclusive os financeiros.” Mas como os adultos podem evitar a angústia? “Antes de tudo, é preciso entender que na economia sempre haverá altos e baixos. Que o dinheiro é um recurso limitado e, portanto, sujeito a ciclos”, diz Ana Paula. “O importante é desenvolver flexibilidade para se adaptar aos diferentes cenários.” A especialista também acredita que o mau momento financeiro tem seu lado positivo. “A atual geração de crianças nasceu e cresceu em uma economia aquecida e com o consumo em alta no Brasil. A crise pode ser vista como uma excelente oportunidade de ensinar aos pequenos sobre esses altos e baixos.” Renata ressalta que, mesmo um cenário extremo, como a mudança da rede particular para rede pública de ensino, pode levar a criança a perceber qualidades, caso seja estimulada corretamente. “Os pais podem chamar a atenção dos filhos para a chance que eles têm de fazer novas amizades e conviver com crianças de realidades diferentes da velha escola”, aponta. “Claro que se o responsável disser ‘agradeça ao governo por você estar nessa porcaria de sala de aula’, o aluno terá menos facilidade de assimilar a mudança”, compara a psicóloga. Ela também esclarece que, embora lutem para resolver os problemas financeiros e não afetar negativamente a família, alguns adultos apresentam mais dificuldade para conseguir isso. Pode ser o caso, por exemplo, de compra-

“Antes de tudo, é preciso entender que na economia sempre haverá altos e baixos. Que o dinheiro é um recurso limitado e, portanto, sujeito a ciclos.” Ana Paula Hornos, educadora e coach em finanças pessoais

“Em vez de ensinar que o dinheiro é algo ruim, é melhor mostrar aos filhos que estamos no controle e podemos resolver nossos problemas, inclusive os financeiros.” Phillip Souza, educador financeiro dores compulsivos que não deixam de fazer dívidas, mesmo sem ter como quitá-las. Esses devem procurar ajuda especializada, para seu próprio bem e para o bem dos filhos. Autora de Pai sem Terno e Gravata, Cristina Agostinho teve a ideia de escrever o livro depois da empresa de siderurgia em que trabalhava pedir concordata. Os relatos dos colegas demitidos deram origem ao título, que já vendeu mais de 100 000 cópias, desde que foi lançado, em 1992. Apesar de tantos problemas, o final da história da família de Andreia é feliz, uma superação que Cristina também viu na vida de alguns de seus ex-companheiros de trabalho. “É triste pensar que o tema continua atual, porque, no Brasil, as crises vêm e vão, mas fico feliz por ter recebido cartas de pais e filhos de todo o Brasil, com depoimentos de como superaram os obstáculos”, conta ela. Cristina recebeu centenas de cartas de leitores, para os quais os personagens tornaram mais fácil a tarefa de lidar com os reveses da vida real. Na ficção, a família permaneceu unida e usou a criatividade para suprir a falta de recursos. Eles combinaram, no Natal das vacas magras, fazer um amigo oculto diferente, em que cada um confeccionou a mão o presente que daria. Apesar de o peru da ceia ter sido substituído por um frango, foi uma noite feliz. E esse é outro legado que a crise pode deixar. “A sociedade tem valorizado o ter e o ostentar mais do que o ser, mas podemos voltar a dar valor às pessoas acima das coisas”, indica Renata. Para estimular essa atitude, a educadora Ana Paula Hornos recomenda uma rotina de gratidão em família. “No jantar, por exemplo, todos podem compartilhar e agradecer por coisas boas que aconteceram durante o dia. É um exercício que leva à percepção de felicidade, independentemente das circunstâncias.” Independentemente das notícias do telejornal. =

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4bem-estar

Iogues mirins Segundo especialistas, a atividade milenar ajuda na respiração, concentração, sono, postura e socialização dos pequenos Patrícia

QUANDO OS ADULTOS procuram os centros de ioga, estão atrás de aumento da concentração, flexibilidade e controle da ansiedade, entre outros benefícios. O que muitos pais estão descobrindo é que os pequenos também podem se beneficiar da técnica que, estima-se, surgiu na Índia há mais de 5 000 anos. “A ioga traz para as crianças uma maior consciência do corpo, facilita sua forma de se relacionar, ensina a relaxar e melhora a autoestima, a respiração, a postura e o sono”, afirma a pedagoga, psicóloga e especialista em formação de professores em ioga Gangadhara Saraswati. “Faz ainda com que elas resgatem o contato com seu mundo interior, distanciando-se do mundo tecnológico em que vivem.” Para cativar esse público tão cheio de energia, são necessárias, é claro, abordagens mais lúdicas. A professora de ioga infantil do instituto Satyananda, Beatriz Gomes Silveira, traz elementos como o trabalho em grupo, que facilita a integração e o relacionamento com os colegas, e jogos cooperativos de atenção, que estimulam a sociabilidade e a criatividade dos iogues mirins. “A música é um excelente instrumento auxiliador, uma maneira de conduzir um momento mágico, trazendo para dentro das crianças a essência da ioga”, diz.

Coordenação motora As aulas são adaptadas de acordo com a idade dos alunos. Para os menores, de 4 a 7 anos, que se encontram na fase do mito, são usadas brincadeiras, jogos, fantasias e desafios. As posições realizadas são inspiradas em animais ou elementos da natureza. “A posição do leão é muito legal, adoro fazer porque me traz

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felicidade”, conta Olivia, de 7 anos, que pratica ioga há mais de um ano, com seu irmão, João, de 9. “Eles ficaram mais concentrados e, consequentemente, melhoraram nos estudos”, comemora a historiadora Isabela Guerra, mãe da dupla. Com 4 anos, Júlia, filha da artista plástica Flávia Carvalho, garante que não perde as aulas de ioga por nada. “Eu fico sempre muito empolgada”, afirma. Ela começou a praticar os movimentos há seis meses e sua mãe já notou uma evolução. “Sua coordenação motora mudou muito”, comemora Flávia. “A ioga passou a ser uma atividade essencial na vida dela.” Todos os especialistas concordam que o importante é criar uma atmosfera acolhedora que encoraje os pequenos a relaxar e se divertir. “Assim eles desenvolvem não apenas força, coordenação, flexibilidade e equilíbrio, mas consciência, foco e autoconfiança”, resume a professora de ioga e terapeuta ocupacional da Casa Ideia, Nara Reis de Meneses. =

onde praticar e saber mais ›› CASA IDEIA. Rua. Outono, 535 , Carmo. Tel.: 3281-2434. ›› INSTITUTO ARAVINDA MIRIAM AMORIM E EMÍLIO REZENDE. Rua João Edmundo Caldeira Brant, 139, Itapoã. Tel.: 3441-2003. ›› SATYANANDA YOGA CENTER. Rua Quintiliano Silva, 368, Santo Antônio. Tel.: 3296-2869.

FOTO: VICTOR SCHWANER

POR Naiara


Olivia faz a postura da árvore e João, a posição de lótus: melhora na concentração da dupla ajudou nos estudos


4esporte

Talento precoce Conheça a história de sete crianças prodígios que apesar da pouca idade já fazem carreira nas quadras, campos, pistas, ringues e piscinas POR Isabella

Grossi

NÃO É SEGREDO nenhum que a prática regular de esportes traz uma série de benefícios à saúde dos pequenos. Além de ocupar a mente e desenvolver o corpo — aumentando a flexibilidade, a coordenação e a capacidade cognitiva e motora —, também desperta as noções de responsabilidade, disciplina e respeito pelo outro. Praticar uma atividade física é, acima de tudo, uma forma de socialização. Para algumas crianças, no entanto, o treinamento vai muito além da farra. “Em certas modalidades, para ser um

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atleta de alta performance é preciso começar cedo e ter uma rotina intensa de treinamento”, afirma a educadora física da Cia Athletica Tatiana Yotsumoto. É o caso da natação e das lutas, por exemplo, que exigem adaptações do próprio corpo para alcançar um bom rendimento. Na hora de escolher investir ou não na carreira do filho, uma dúvida paira no ar: o treinamento especializado precoce pode causar prejuízos? “É questão de bom senso”, responde o professor do Centro


Luca Simões Saraiva Neuenschwander na pista de kart: o garoto sonha chegar à Fórmula 1

FOTO: GUSTAVO ANDRADE

de Treinamento Esportivo da UFMG, o polonês Leszek Antoni Szmuchowski, responsável por encontrar e desenvolver jovens para o atletismo. Segundo ele, muito mais do que física, a sobrecarga mental pode realmente ser prejudicial. “Quando a criança não tem motivação, ela não consegue um bom rendimento inicial”, diz. “Com a cobrança, passa a se empenhar mais e o exagero causa um stress tanto físico quanto psicológico.” O problema é conhecido como síndrome de overtraining. De acordo com

Tatiana, 20% dos atletas passam por isso. E poucos superam. “É importante destacar a parte lúdica do esporte”, explica. “Dessa forma, a criança continua tendo prazer no que faz e, provavelmente, vai querer levar para a vida inteira.” A seguir, veja a rotina de sete crianças que já treinam e competem como gente grande. Em comum, o fato de terem começado bem cedo, colecionarem pódios, medalhas e troféus, sonharem grande e, o melhor, levarem tudo na brincadeira. 4

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“Serei igual ao Ayrton Senna.” Luca Simões Saraiva Neuenschwander, 8 anos, kart Aficionados de corrida, o engenheiro, empresário e piloto Mauro Eduardo Neuenschwander, de 37 anos, e a advogada Tatiana Simões Saraiva, de 34, batizaram o filho em homenagem ao ex-pre­ sidente da Ferrari Luca di Montezemolo. O futuro do garoto, hoje com 8 anos, parecia traçado. Aos 6, conseguiu ser aceito numa escolinha de kart, embora a idade mínima para começar fosse 7. “Todo mundo via que ele tinha talento”, lembra Tatiana. No início de 2015, o garoto correu o Campeonato Mineiro de Kart, na categoria mirim, e ficou em segundo lugar. Participou ainda do Campeonato Brasileiro — e foi parabenizado por ninguém menos que Emerson Fittipaldi, depois de chegar na frente de seu filho, Emmo Fittipaldi. Para alcançar seu objetivo, que é a Fórmula 1, Luca treina toda sexta e sábado por, no mínimo, três horas. “Serei igual ao Ayrton Senna”, sonha. Apesar de ter alguns patrocínios de apoio, a família aguarda, neste ano, uma proposta integral. Um alívio, já que só o kart custa em torno de 15 000 reais, enquanto a manutenção mensal não sai por menos de 5 000.

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Enquanto a maioria dos garotos brinca de jogar futebol, Pedro Henrique, de 9 anos, dribla como um craque. Desde que começou no esporte, aos 5 anos, o jovem atleta se diferenciava. Entrou para o time de salão do Minas Tênis Clube e de campo do Beagá Futebol Clube. Sua performance acabou chamando a atenção do Cruzeiro, que, no ano passado, o colocou como volante — e capitão — da equipe Sub-9, pela qual faturou o Campeonato Mineiro IMEF 2015 e a Copa Alterosa de Futebol. A rotina do pequeno é basicamente dividida entre escola e futebol. Treina de segunda a segunda, no mínimo duas horas por dia, com exceção de sexta, que é quando descansa e brinca, como toda criança. No sábado e domingo, joga. Uma vez por semana, também, tem treinamento funcional para atletas kids na academia. “O nível de exigência é muito alto, eles realmente estão investindo em sua formação profissional”, afirma o pai, o advogado Davidson Ferreira, de 38 anos. Embora seja titular no Cruzeiro, Pedro Henrique é enfático. “Meu sonho é jogar no Atlético, e eu nunca vou desistir de tentar.”

FOTOS: GUSTAVO ANDRADE

“Eu nunca vou desistir.” Pedro Henrique Lima Ferreira, 9 anos, futebol


Boa parte das crianças fica alucinada com cachorros. Elisa, não. Desde pequena, gostava mesmo era de cavalos. Quando tinha 4 anos, fez uma aula experimental de hipismo, mas a mãe, a arquiteta e empresária Iaiá Resende, de 41 anos, achou prudente esperar. “Ficamos inseguros, ela era muito pequena e tínhamos medo de que se machucasse”, conta. Hoje, aos 9 anos, Elisa faz parte do Top Team e já tem até o próprio cavalo, o brasileiro de hipismo Thor. Equipada de culote, bota, camisa e casaca, ela monta de quatro a cinco vezes por semana, treina salto, equilíbrio, adestramento e postura. Em 2015, passou a disputar o Campeonato Mineiro, na categoria escola intermediária, com saltos de 80 centímetros. “A Elisa tem um talento natural e nós queremos investir nela, para que mais à frente represente o Brasil”, ressalta o cavaleiro e treinador Felipe Morgan. Apesar dos custos — no mínimo 2 500 reais mensais de manutenção e mais as trocas de cavalo, que podem chegar a custar 200 000 euros —, a família aposta no sonho da garotinha. “Não penso em parar, quero muito chegar às Olimpíadas”, fala, com seu jeito tímido. 4

“Quero muito chegar às Olimpíadas.” Elisa Resende, 9 anos, hipismo FEVEREIRO 2016 .

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Juan tinha 3 anos quando pisou pela primeira vez numa academia. Sob a influência do pai, o lutador Isaías dos Santos Silva, de 40 anos, começou a colocar as luvas e a dar socos e chutes no saco de pancada. A brincadeira foi ficando séria e, todos os dias, depois de largar a escola, o pequeno passou a treinar. Quando completou 7 anos, não via a hora de disputar. Amparado pela equipe Ely Kickboxing MMA — dentro da categoria point fight —, ele ficou em primeiro lugar na Copa Divinópolis, no Campeo­ nato Mineiro e no Brasileiro. “É emocionante quando eu estou ganhando, mas o que importa não é só ganhar, perder também faz parte”, considera Juan, que, em breve, passa da faixa laranja para a verde. O treinamento, apesar de puxado, respeita os limites do atleta mirim. “Ele faz uma hora de treino todo dia, não há necessidade de mais do que isso. Cansou, tudo bem, relaxa”, enfatiza Silva. “Importante mesmo é cuidar do corpo, se alimentar bem, trabalhar a técnica e alongar.” O objetivo, daqui a alguns anos, é lutar no Glory, principal organização do kickboxing profissional. A julgar pela sua trajetória, o garoto tem tudo para chegar lá.

“Perder também faz parte.” Juan Camargo dos Santos, 8 anos, kickboxing

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FOTOS: GUSTAVO ANDRADE; [1] VICTOR SCHWANER.

“É preciso ter cabeça boa.” Pedro Martins Rodrigues, 9 anos, tênis Fã de carteirinha do tenista espanhol Rafael Nadal, o pequeno Pedro, de 9 anos, se inspira no ídolo quando pisa nas quadras. Jogador desde os 4 anos, o garoto começou a competir com 5. “Como não tinha categoria para a idade, eles abriram uma exceção e o colocaram para jogar com os atletas de 9 anos”, conta o pai, o engenheiro de produção Frederico Bastos Rodrigues, de 34 anos. Pedro não se intimidou e levou para a casa não só o vicecampeo­nato na Copa Arlindo, ex-Copa Integração, mas o troféu revelação. De lá para cá, disputou, ainda, um dos principais torneios de tênis do país, a Copa Guga Kuerten. No total, o atleta mirim tem onze títulos de simples e oito finais, além de quatro títulos de duplas e duas finais. O segredo, segundo ele? “É preciso ter uma cabeça boa, ter consciência do que está fazendo e respeitar o adversário.” No início deste ano, Pedro começa a treinar pela equipe do Pampulha Iate Clube, onde quer se profissionalizar. A rotina, lá, será mais intensa, superando o treinamento atual, de três vezes por semana e duas horas diárias. “Só não dá para exagerar, para não sobrecarregar”, pontua o pai.

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“Quero ganhar o mundial.” Bernardo Eto Tibúrcio, 8 anos, motocross Para quem pergunta quando surgiu o interesse de Bernardo pelas motocicletas, a família Tibúrcio conta uma história orgulhosa: aos seis meses de idade, o bebê não podia ouvir o ronco de um motor que já arregalava os olhinhos, fascinado. Estimulado pelo pai, o comerciante Geison, de 43 anos, Bernardo ganhou, aos 2 anos, sua primeira moto elétrica. “Era muito pesada para ele, precisamos colocar rodinha”, conta a mãe, a administradora Lucília, de 40 anos. A paixão do garoto pelo esporte só crescia. Fez curso com os pilotos mineiros Jorge Balbi Jr. e Alexandre Teles, o Dino, e começou a treinar pesado. Pratica o motocross todo fim de semana e, no dia a dia, condiciona o físico com voltas de bike. No ano passado, participou, pela primeira vez, da Copa Minas Gerais de Motocross, na categoria 50cc. Não levou o troféu para casa, mas, no Campeonato Mineiro, abocanhou o primeiríssimo lugar. “Quero ser campeão brasileiro e, depois, ganhar o mundial”, revela o menino, que corre com uma moto de 19 800 reais. Enquanto não arruma patrocínio, conta com o apoio dos pais. “É o sonho dele, então vamos incentivar”, arremata Lucília. 4

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“Eu não sabia que ia gostar tanto.” Ariana Martins Gomes, 10 anos, natação 32

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FOTO: GUSTAVO ANDRADE

Como quase toda menininha, Ariana pensou em fazer balé. Por causa de uma forte crise de bronquite, aos 5 anos, acabou orientada pelos médicos a praticar natação. Assim começou a trajetória da pequena atleta, que, estimulada pelo professor da escolinha, entrou, aos 8 anos, para a equipe do Olympico Club. “Foi uma surpresa, eu não sabia que ia gostar tanto. Queria mesmo só nadar nas piscinas”, revela Ariana, fã número 1 do ganhador da medalha de ouro olímpica e ex-campeão mundial Cesar Cielo. Hoje, aos 10 anos, a garota treina cinco vezes por semana, no mínimo duas horas por dia. Recebe acompanhamento médico e nutricional. Entre as suas quase setenta medalhas, estão as de ouro na Copa Mackenzie, no Campeonato Mineiro de Natação e no Metropolitano Mirim. Conquistou, também, o primeiro lugar no ranking da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) na modalidade 100 metros livre feminino mirim. Seu rendimento a colocou na mira do Minas Tênis Clube. “Minha esperança é de, em breve, termos mais uma nadadora representando o nosso país”, empolga-se o pai, o taxista Wilson Martins de Almeida, de 43 anos.=


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4comportamento

Verdade seja dita Relembre algumas mentiras que os pais contam aos filhos e por que, afinal, elas devem ser evitadas POR Rafaela

Matias

Todo mundo já ouviu Com a ajuda das três especialistas citadas nesta reportagem, Canguru enumerou algumas mentiras que os pais contam aos filhos e explica a melhor maneira de lidar com as situações sem deixar a honestidade de lado FOTO: ISTOCKIMAGE

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VOCÊ CONTA MENTIRAS? Nem de vez em quando? Se a resposta foi não, essa provavelmente é uma mentira. E das grandes. De acordo com uma pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, o hábito de mentir está embutido na psique humana. Os testes, feitos com 242 pessoas, mostraram que 60% delas mentem pelo menos uma vez durante uma conversa de dez minutos. Além de ludibriar o chefe, o parceiro e os amigos, os adultos também costumam contar lorotas para os filhos. Quem não se lembra de ouvir histórias sobre o bicho-papão que pegaria crianças desobedientes? E sobre aquele ente querido que virou uma estrelinha? São inverdades contadas com a melhor das intenções pelos pais, mas que podem ter consequências negativas. “Quando os pais mentem, seja por pequenos ou grandes motivos, os filhos acabam aprendendo que as mentiras são permitidas”, afirma Tatiana Jezini, psicóloga clínica pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em desenvolvimento infantil. Muitas dessas mentirinhas são uma tentativa de educar ou poupar a criança de algum sofrimento. Segundo a psicóloga e psicoterapeuta Maria Luíza Rocha de Andrade, mestre em educação e com uma experiência de 22 anos em atendimento a crianças, a melhor opção para contar verdades difíceis aos filhos é adotar uma linguagem que se adeque à idade de cada um. “E ajudá-las a compreender o que está sendo dito”, explica. Engana-se quem pensa que os pequenos não conseguem perceber quando estão sendo ludibriados. “Na maioria das vezes, os adultos pensam que as crianças são pequenas demais para entenderem o que é dito, mas elas entendem tudo e acabam perdendo a confiança”, alerta Beatriz Neves Braga, psicóloga clínica pela PUC Minas, especialista em diagnóstico infantil, ludoterapia, aconselhamento de pais e neuroeducação.

“A CEGONHA TE TROUXE”

Sexualidade não é um assunto fácil para a maioria dos pais. Mas, nem por isso, eles estão liberados para contar mentirinhas. A dica é seguir a linha de raciocínio da criança e não ultrapassar aquilo que ela está preparada para ouvir. Perguntar o que ela acha antes de responder pode dar uma boa ideia de como conduzir o assunto. Sobre a clássica “De onde vêm os bebês?”, uma boa opção é dizer que o papai plantou uma sementinha na barriga da mamãe. É lúdico, mas não deixa de ser verdade.

“É SÓ UMA PICADINHA”

Não, não é. Vacina dói e a criança vai descobrir isso assim que tomar a primeira dose. O ideal é que os pais expliquem a importância daquele procedimento doloroso e deixem claro que ele é necessário. Não tem problema explicar de uma maneira criativa, dizendo que lá dentro existem super-heróis (anticorpos) capazes de proteger o nosso organismo. O mesmo vale para os remédios de gosto ruim.

“O BICHO-PAPÃO VAI TE PEGAR”

Além de não deixar ninguém mais obediente, esse tipo de história ameaçadora cria fobias e gera ansiedade. A cuca, o bicho-papão e o homem do saco não serão capazes de assumir uma responsabilidade que é dos pais: a de educar. Se o seu filho fez algo errado, deve-se ter uma boa conversa e — se necessário — aplicar um castigo plausível (sem punições físicas, é claro).

“O VOVÔ VIROU ESTRELINHA”

Até se pode dizer que o ente querido virou uma estrelinha, para amenizar as incertezas da morte. Mas é importante explicar o que levou a isso, como uma doença ou um acidente. Dizer que ele viajou para bem longe ou caiu em um sono profundo está proibido. A primeira frase por gerar na criança a expectativa de que aquela pessoa volte e a segunda por associar o sono com algo negativo. Você também ficaria com medo de dormir, não?

“VOU ALI E JÁ VOLTO”

Não diga isso se não for verdade. A criança leva esse tipo de promessa ao pé da letra e fica na expectativa de que a volta seja rápida. Se ela acontecer várias horas depois, o pequeno ficará ansioso e com medo de que a pessoa não volte mais. É importante dar uma referência como “depois do almoço” ou “ao anoitecer”. Dizer que vai trabalhar e sair arrumado para um jantar ou uma festa também não cola. =

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4família

Na hora da bronca Cantinho do pensamento, restrição de privilégios ou uma simples conversa? O método de correção depende, acima de tudo, dos valores dos pais POR Cristiane

Miranda

HÁ ALGUM TEMPO, psicólogos e educadores lutam para riscar do dicionário de pais e filhos o verbo castigar. Preferem usar corrigir. “A palavra castigo dá uma falsa conotação de que o processo de aprendizado está centrado na punição”, explica o psicólogo Jânio Carlos, diretor do Instituto Brasileiro de Referência da Família, no Santo Agostinho. “O que devemos buscar é o desenvolvimento de uma consciência saudável, de modo que a criança tenha de lidar com os efeitos de seus acertos e erros.” Mas na busca dessa “consciência saudável”, qual é a melhor forma de disciplinar os pequenos? Não há apenas uma resposta correta. Para Jânio Carlos, até os 5 anos, o método do cantinho do pensamento funciona. “Se a criança é colocada ali depois de, conscientemente, não obedecer às ordens estabelecidas, essa foi uma escolha sua e não dos pais”, afirma. Isso não quer dizer que a garotada vai realmente ficar matutando sobre o que fez. “Antes de pensar criticamente, a criança pequena é coordenada pela ação”, explica o psicólogo. “Por isso as repetições são importantes. As menorzinhas marcam território, fazem birra e, no cantinho, entendem que o mundo delas é limitado”. A partir dos 6, no entanto, Carlos acredita na privação de privilégios: restringir o uso do computador, de brinquedos, do smartphone ou proibir os pequenos de assistir ao programa predileto na TV. Para ele, esse processo possibilitará à garotada correlacionar os efeitos de sua atitude com o seu comportamento.

A palavra castigo dá uma falsa conotação de que o processo de aprendizado está centrado na punição 36

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A terapeuta comportamental Erica Carvalho, que há quinze anos auxilia pais e mães a lidar com a meninada, concorda. Ela segue os ensinamentos do especialista americano Gary Ezzo, que serviram de inspiração para a criação do programa de televisão Supernanny, na Inglaterra, com versões em vários paí­ ses, inclusive no Brasil. Erica garante que a disciplina deve começar desde os primeiros anos. Para cada ano de idade, um minuto para “pensar”. “Mas essa relação serve, principalmente, como orientação aos pais, para não dimensionarem errado o tempo da correção”, pondera Erica. É preciso deixar claro o que está ocorrendo, conversar olho no olho.

Sem diálogo, não Mas o “adestramento” não é consenso entre os especialistas. A psicóloga e psicopedagoga Débora Galvani defende a tese de que antes dos 4 anos esse tipo de correção não produz resultados. “Até essa idade o ideal é repreender com firmeza e ensinar a atitude correta”, pondera. “A disciplina não pode ser uma forma de os pais exercerem um autoritarismo injustificado. O filho precisa aprender a respeitar limites e não simplesmente passar por uma privação como forma de punição, sem que haja uma conversa.” Para ela, a correção precisa fazer parte de um processo de aprendizagem e de aquisição de valores. Encontrar a melhor forma de ensinar limites aos filhos é, quase sempre, um grande desafio para os pais. A dona de casa Flávia Silveira Ricardo Diniz, mãe do pequeno Estevão, de 1 ano e 10 meses, e de Melody, de 4 anos, recorreu a especialistas para pôr ordem em casa. “A Melody nunca me deu trabalho


FOTO: GUSTAVO ANDRADE

A psicóloga Isis Prisco, com Sofia e Julia: se elas fazem birra, não podem brincar

e eu considerava que era mérito meu, mas percebi que era por causa do temperamento dela”, conta. “O Estevão é completamente diferente, mais nervoso e mais birrento.” Até alguns meses atrás, Flávia tentou, junto com o marido, Mário Junior, impor regras ao pequeno. Em vão. Com as birras e os gritos em altíssimos decibéis, mãe e filho não conseguiam se entender. “Percebi que precisava de ajuda e voltei para a sala de aula”, lembra Flávia. Ela se matriculou no curso Primeiros Passos, voltado para pais de crianças de 0 a 3 anos, do Instituto Brasileiro da Família. Agora, a paz está aos poucos voltando. Estevão se mostra menos nervoso e reconhece que, se fizer birra, vai para o canto da disciplina. Já a psicóloga Isis Prisco, mãe de Sofia, de 6 anos, e de Julia, de 4, é adepta da restrição de privilégios desde cedo. Para ela, o melhor é a negociação. “Eu

sempre respeito os combinados. Não cumpriu ou fez birra, não vai à aula de balé ou não pode brincar”, explica. “Acredito que dessa maneira, contribuo para a formação delas.” O mais importante é que a forma de correção seja condizente com a realidade familiar. “Sempre digo que o diálogo é essencial”, afirma a psicóloga Isabel Christina do Carmo Gonçalves, com mestrado em psicologia do desenvolvimento. “Deve-se fazer com que o filho entenda por que certas atitudes não podem ser repetidas.” De acordo com Jânio Carlos, a correção é um processo pedagógico no qual a criança tem a oportunidade de livrar-se da culpa por comportamentos inadequados. “Funciona como um remédio que ajuda a curar e amadurecer e, assim, prepara a criança para uma vida adulta saudável”, diz. Um remédio muitas vezes amargo, mas necessário. =

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4negócios

Não serve mais? Que tal vender na internet? Sites de bazar são uma boa opção tanto para mães que buscam economizar quanto para as que querem ganhar um dinheiro extra Miranda

AQUELE BODY NOVINHO que o bebê ganhou logo ao nascer mas nunca usou, ou o sapato que só entrou no pé do garotinho duas vezes. Qual mãe nunca se viu em alguma dessas situações? A dúvida que fica é: doar, deixar para o irmãozinho planejado (quando a família deseja mais um rebento) ou ver o guarda-roupa cheio de lindas roupinhas, sem nenhuma utilidade? Uma boa opção para resolver esse dilema são os sites de bazar, nos quais mães e pais podem vender e comprar produtos em bom estado. “Quem vende recupera parte do que gastou e libera espaço em casa. Quem compra economiza adquirindo com desconto produtos quase novos ou nunca usados”, explica o publicitário Alexandre Fischer, fundador do site Ficou Pequeno, um dos endereços especializados nesse comércio (veja algumas opções no quadro). A ideia de criar uma plataforma que reunisse diversas lojas de pais nasceu quando Alexandre visitou sua irmã Eduarda. Mãe das gêmeas Clara e Julia, de 5 anos, ela tinha um armário cheio de roupas que não serviam mais nas meninas. Eram apenas as peças das sobrinhas que estavam à venda quando o Ficou Pequeno foi lançado, em 2013. Mas não demorou para receber mais adesões. “Na primeira seA artesã Marcela Bastos e o pequeno Miguel Tito, de 3 anos: mercadorias embaladas e com um sabonete em forma de pato

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FOTO: MARCELO TITO

POR Cristiane


mana já havia mais de vinte lojinhas e, em um mês, eram mais de 100”, lembra Alexandre. Hoje são 2800 lojinhas de todo o Brasil e mais de 50 000 produtos disponíveis. Moradora do bairro Anchieta, a artesã Marcela Bastos descobriu o Ficou Pequeno quando estava à procura de uma ocupação, logo após o nascimento de seu filho Miguel Tito, atualmente com 3 anos. “Assim que o Miguel nasceu, queria voltar a mexer com artesanato e numa dessas buscas na web conheci o site”, conta. Em dezembro de 2013, Marcela criou a Lá Vem o Pato, sua lojinha virtual dentro do Ficou Pequeno. “Além de vender, já comprei várias coisas para o meu filho, pois creio que essa é uma maneira de consumirmos com consciência, de forma sustentável.” A artesã já se desfez de dois carrinhos de bebê e uma cadeirinha de alimentação. Todas as mercadorias da Lá Vem o Pato são entregues embaladas, cheirando a novinho e com um mimo: sabonetinhos em forma de pato.

Como funciona? O fundador do Ficou Pequeno explica que mamães, papais, vovós e titios podem cadastrar os produtos que desejam vender, pelo preço que bem entenderem, sem nenhum custo. “Quando alguém compra uma mercadoria, o vendedor é responsável pelo seu envio e o Ficou Pequeno recebe uma comissão”, diz Alexandre. Todo mês, pelo menos 5 000 produtos encontram um novo lar no Ficou Pequeno. A administradora de empresas Marta Soares, do bairro Santa Amélia, também tem optado por comprar e vender as roupas do filho Enzo Gabriel, de 1 ano e 5 meses, pelas plataformas virtuais. “Fiz um teste para

ver como seria, se a roupa estaria em bom estado”, afirma. “Depois disso, não parei mais.” A sua lojinha virtual é a Ficou Pequeno no Enzo, mas Marta confessa que é mais consumidora do que vendedora. Outro site que também faz sucesso é o Retroca. Quem tem interesse em colocar as roupinhas dos filhos à venda precisa primeiro selecionar no mínimo vinte peças em bom estado e enviá-las para o Retroca, que paga o frete. É a plataforma que faz a triagem do que será colocado à venda e precifica os produtos. De acordo com Andréia Cha, diretora de marketing e cofundadora do site juntamente com Caio Sagae e Pedro Roni, a ideia é servir de curadoria para facilitar a vida das mães. “O que for reprovado pode ser doado ou retirado”, explica. O Retroca coloca à venda produtos para recém-nascidos e crianças até 12 anos. Recebe peças das regiões Sul e Sudeste do Brasil e vendeu, apenas em 2015, 30 000 unidades. Desde o início das operações, em julho de 2013, cerca de 4,5 toneladas de roupas foram comercializadas e mais de 15 000 peças tiveram como destino a doação para instituições parceiras.=

Onde comprar e vender ›› FICOU PEQUENO: www.ficoupequeno.com.br. ›› RETROCA: www.retroca.com.br. ›› ENJOEI: www.enjoei.com.br (vende para crianças e adultos). ›› SANTO BAÚ — BRECHÓ E OUTLET INFANTIL: www.santobau.com.br.

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Encomendas


4saúde

Para se defender do zika Entenda como age o vírus que preocupa gestantes e médicos Matias

IDENTIFICADO PELA PRIMEIRA vez no Brasil em abril do ano passado, o zika vírus não seria, a princípio, um grande problema para a saúde pública. Isso porque a doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti — o mesmo causador da dengue e da febre chikungunya —, costuma evoluir de forma benigna, apresentando sintomas como coceira, febre e dores musculares. As constatações que se seguiram desde então, no entanto, transformaram o zika em um dos mais temidos vírus do momento. A preocupação se deve à sua associação com outras doenças, especialmente a microcefalia, detectada em bebês que tiveram contato com o vírus na barriga da mãe. “Ainda não sabemos com exatidão como o vírus age no organismo, mas descobrimos que ele provoca uma alteração no sistema imunológico que o permite atravessar a placenta e chegar até o bebê, causando má-formação cerebral em alguns casos”, explica a médica Juliana Cordeiro de Melo Franco, coordenadora do Pronto Atendimento Pediátrico do Hospital Felício Rocho. Ela relata ainda que o período de maior vulnerabilidade é durante a fase embrionária, que vai da terceira à nona semana de gestação. Especialmente nessa fase, a mulher deve redobrar os cuidados, utili-

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zando repelentes próprios para grávidas e evitando locais e horários em que há maior número de mosquitos (veja mais medidas no quadro). O Brasil não é o único país que sofre com a epidemia do vírus. De acordo com Juliana, foram detectados casos em vários países da América do Sul e Central, Ásia, África e Oceania. A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um alerta epidemiológico para que os países membros fiquem vigilantes a fim de detectar e confirmar casos de infecção pelo vírus. A pesquisa para a produção de uma possível vacina contra o zika foi iniciada em janeiro pela Fundação Oswaldo Cruz, mas não há previsão de quando ela será lançada. =

Enquanto a vacina não chega.. O Ministério da Saúde elaborou uma cartilha de prevenção para ajudar a população a se manter longe do mosquito. Veja alguns cuidados:

›› Colocar telas em janelas e portas e usar preferencialmente roupas compridas — calças e blusas. ›› Nas áreas do corpo expostas, aplicar repelente. ›› Observar o aparecimento de sinais e sintomas de infecção por vírus zika (manchas vermelhas na pele, olhos avermelhados e febre) e buscar um serviço de saúde para atendimento. ›› Para febre e dor, usar acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona. ›› Não tomar qualquer outra medicação sem orientação médica.

FOTO: ISTOCKIMAGE

POR Rafaela



4viagens, modo de usar

Londres para baixinhos

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relevos dos assírios. Eta povo bravo! Eram de arrepiar. Ao ar livre, a grande pedida são as caminhadas pelos parques reais. As crianças adoram. Podem correr à vontade, pisar na grama, jogar comida para os bichos, tentar pegar os esquilos. Meu favorito é o REGENT´S PARK, com seu gramado sempre verde, o lago com milhares de aves, além do Teatro ao Ar Livre e as roseiras do Jardim da Rainha. No SAINT JAMES´S PARK, podem alimentar os pelicanos e, depois de um rolezinho, esticar até o Palácio Buckingham para ver a troca da guarda. No GOLDERS HILL PARK ZOO, sem gastar um tostão, a garotada se diverte nos bosques e conhece bichos estranhos, como as risonhas kookaburras. Londres tem muitas outras atrações gratuitas para crianças. A maior, no entanto, é a própria cidade, verdadeiro museu a céu aberto, em que os séculos se misturam, com ostentação, inovação e simplicidade. Tudo isso faz da capital um paraíso para a infância. E leva os adultos a grandes curtições ao lado dos filhos. É pagar para ver. Aliás, pagar não precisa.=

Luís Giffoni é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos. giffoni@cangurubh.com.br

FOTO: GUSTAVO ANDRADE; ILUSTRAÇÃO: KILI/ISTOCKIMAGE

QUER OFERECER AOS filhos um gostinho de paraíso? Leve-os para Londres. A cidade tem atrações para todas as exigências e orçamentos. Inclusive orçamento zero. Se você não quiser gastar um centavo enquanto as crianças se divertem muito na capital inglesa, aqui vão algumas dicas. Apenas algumas. Londres possui mais de 2  000 anos de história. E milhões de anos de história universal guardados em seus museus, que estão entre mais completos da Terra. Um deles, o de HISTÓRIA NATURAL, tem 75 milhões de objetos no acervo e a maior coleção de dinossauros, inclusive um tiranossauro em tamanho natural, com direito a garras, urros e olhar amedrontador. De graça, é claro. No BRITISH MUSEUM, a grande atração é a Pedra de Roseta, que ajudou decifrar os hieroglifos egípcios. Depois de vê-la, a garotada visita as múmias e os sarcófagos nas salas adjacentes. Obviamente as lendas sobre múmias desfilando à noite pelo museu fazem parte do roteiro. Numa outra ala, ficam muitas das belas esculturas que adornavam o Parthenon de Atenas, com os sinais dos maus-tratos recebidos ao longo dos séculos. Minha sala preferida é a do Iluminismo (Enlightenment Room), onde um rei louco juntou tudo que podia da Terra inteira. Sua coleção virou um salão de raridades. Desde fósseis até vasos etruscos e livros antigos, entre eles o relato de uma viagem ao Brasil do qual eu nunca tinha ouvido falar. Ah, sim, não perca o andar da Mesopotâmia, com os

luís giffoni


4História de mãe

Quando Érica me escolheu

FOTO: VICTOR SCHWANER

POR Fádwa

Andrade

COMO TODA HISTÓRIA de criança começa com um “Era uma vez” e quase sempre termina com “E viveram felizes para sempre...”, a nossa não poderia ser de outra forma. Nós já havíamos realizado o sonho de sermos pais e não imaginávamos a surpresa que a vida nos traria, a chegada de nossa Érica. No momento do encontro, que ocorreu na instituição acolhedora onde ela vivia, tive a certeza de que minha missão não era mais gerar e sim acolher, me tornar mais uma vez mãe, mas agora pelo coração e não pelo ventre. A partir daí, tomados por um sentimento impossível de ser explicado, começou a saga da habilitação para adoção. Fórum, documentos, entrevistas, visitas da assistente social, lágrimas que não nos fizeram desistir e gargalhadas a cada pequena conquista. Durante um tempo passamos os fins de semana juntos e suportamos com esperança e união as despedidas aos domingos. Ouvi que éramos loucos, que estava na hora de aproveitarmos a vida, de curtirmos a maturidade, pois já tínhamos vivenciado a delícia da maternidade e da paternidade. Diante dessas falas eu só pensava: “Vou abandonar uma filha? É isso mesmo?” Para mim, era como se eu fosse a mãe dessa criança desde o primeiro momento que a vi. Ouvi até que não conseguiria conciliar o papel de executiva com o de mãe de um bebê de 1 ano, mas isso é conversa para um novo encontro. Nesse intervalo preparamos o quartinho, a casa e também nossa família e amigos, já prevendo que o amor falaria mais alto em algum momento. Minha gestação emocional e o amor que eu sentia não cabiam dentro do tem-

po e dos parâmetros jurídicos (sorte que tenho uma filha advogada que sempre intercedia com sua leveza e carinho quando a situação ficava quase insustentável, contribuindo com o fortalecimento da minha luta). Hoje olho para trás e vejo que todo esse caminho foi extremamente necessário para que pudéssemos estar com nossa filha em nossos braços. Tudo isso durou quase um ano e, faltando apenas uma semana para o aniversário de 1 aninho da nossa princesa, recebemos a tão sonhada e esperada ligação do fórum. A vontade era sair correndo para buscar nossa menina, mas tivemos que esperar um dia a mais por causa dos documentos necessários. O que é mais um dia para quem esperou um ano vivido com a intensidade de dez, vinte, trinta anos, uma vida inteira? Hoje, cinco meses depois do dia mais importante de nossas vidas, temos a guarda provisória e não mais sofremos pela guarda definitiva. Nossa pequena nos acalenta a cada sentimento de ansiedade e nos faz ter a certeza de que nada disso teria acontecido se não estivesse escrito em algum lugar que seríamos seus pais de alma. Rezo e sonho cada dia mais alto. Descobri que posso esperar coisas grandes desse Deus tão grande. Hoje me sinto muito mais forte do que pensava e a cada dia mais feliz por ter sido escolhida pela Érica para ser sua mãe. =

Fádwa Andrade é relações-públicas e mãe de Taciana, de 27 anos, e Érica, de 1 ano e 5 meses. Gosta de ir ao cinema e receber os amigos em casa, mas nenhum programa é mais saboroso do que passar um tempo com suas filhas.

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FOTO: LUÍZA VILLARROEL

4para ler com seu filho

Viva os monstros PLUFT, O FANTASMINHA é a peça teatral que mais marcou minha infância. Foi a primeira vez que me dei conta de como o medo era algo relativo. A peça sugeria que os fantasmas não eram tão assustadores assim. Aliás, quem diria, eles podiam até mesmo ter medo... de gente! Escrita por Maria Clara Machado em 1955, Pluft antecipava em várias décadas a ideia que sustentou um filme tão bacana como Monstros S.A., da Pixar. O fato é que, desde que conheci a história do Pluft, eu curto muito as peças, livros e filmes infantis que desconstroem os fantasmas, monstros e outras criaturas horripilantes. Na coluna deste mês, indico dois livros sobre monstros, ambos com abordagens bem inusitadas.

leo cunha e os filhos André e Sofia

Em Como Reconhecer um Monstro, o autor Gustavo Roldán conversa diretamente com o leitor (e também com o personagem, como vamos perceber), listando uma série de dicas de como ter certeza de que uma criatura estranha é realmente um monstro. Por exemplo: “observe se suas patas são enormes e peludas”, “se de suas orelhas saem longos pelos”, “se seu nariz é uma gigante berinjela”. A cada página, o leitor fica mais intrigado, assim como o personagem principal, que (quanta ironia!) traz em si algumas semelhanças com o tal do monstro. Será que todos nós somos um pouquinho monstros, afinal? . SOBRE OS AUTORES: Gustavo Roldán é um escritor e ilustrador argentino. Já publicou mais de oitenta livros e recebeu vários prêmios importantes da literatura infantil.

CONDOMÍNIO DOS MONSTROS. Texto de Alexandre de Castro Gomes. Ilustrações de Cris Alhadeff. Editora RHJ, 2010.

COMO RECONHECER UM MONSTRO. Texto e imagens de Gustavo Roldán. Tradução de Daniela Padilha. Editora Jujuba, 2011.

Em 2012, no filme Hotel Transilvânia, conhecemos o local comandado pelo Conde Drácula e frequentado por todos os tipos de monstro. Mas dois anos antes, em 2010, o escritor Alexandre de Castro Gomes nos trazia o Condomínio dos Monstros, uma ideia tão bacana quanto a do hotel. Aqui, temos um prédio de cinco andares situado na Rua Mortinho da Silva, número 13, onde vão se cruzar várias histórias e personagens estranhos. Tudo acontece a partir de uma reunião de condôminos, convocada para a meia-noite. O leitor se diverte ao notar que os monstros mais assustadores também sofrem com o convívio cotidiano. Os condôminos não suportam mais a mania do Saci de apertar todos os botões do elevador, nem as pulgas que o Lobisomem espalhou pelo prédio. A Múmia, coitada, precisa completar seu sono de 1 000 anos, mas não consegue dormir com a barulheira dos vizinhos. Será que os monstros vão ter sangue frio para resolver tantos problemas? SOBRE OS AUTORES: Alexandre de Castro Gomes, carioca, advogado de formação,

vem publicando livros infantis desde 2008. É o atual presidente da AEILIJ (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil). Cris Alhadeff, também carioca, é ilustradora e webdesigner. Já publicou diversos livros para crianças e jovens.

Leo Cunha é escritor e publicou mais de cinquenta livros, como Vira-lata (Ed. FTD) e ABCenário (Ed. Autêntica). Já recebeu os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como Jabuti, Nestlé e João-de-Barro. Na Canguru, dá dicas de livros para crianças. leocunha@cangurubh.com.br

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4na pracinha

Parque Jacques Cousteau

FOTOS: [1] DIVULGAÇÃO; [2] DUORAMA FOTOGRAFIAS.

O PARQUE JACQUES Cousteau é um dos espaços mais indicados nas pesquisas realizadas pelo blog Na Pracinha quando o assunto é local ideal para passear ao ar livre com as crianças. O parque, considerado como o “quintal” de muitas famílias que moram na região do bairro Betânia, tem muito verde, bastante espaço para correr, um parquinho com brinquedos diversos, além de um projeto que incentiva as crianças aniversariantes a plantarem, no parque, uma muda de árvore levando o seu nome. Pense em jabuticabeiras — o Jacques Cousteau tem vários pés! A criançada, no meio das brincadeiras, aproveita para se deliciar. Além disso, o parque conta com um lindo paisagismo e é possível fazer trilha ecológica — basta informar-se na administração. O espaço, que um dia já foi um “lixão”, chegou a produzir as mudas de árvores para toda a cidade e hoje é responsável pelas plantas ornamentais usadas na maioria dos parques de BH. Como em outros parques da capital, há brinquedos de madeira. Mais recentemente, foi instalado um brinquedão da arquiteta Suza-

[1]

[2]

na Cadaval, para a meninada de 2 a 6 anos, que também faz muito sucesso. A estrutura é boa: bebedouro, banheiros, muito espaço para contemplação, academia da cidade, um ótimo campo para soltar pipa ou bater uma bolinha. Por tudo isso, o Na Pracinha já realizou dois Encontros no Parque Jacques Cousteau, e incentivamos todas as famílias a programarem um passeio por lá — reserve uma bela manhã para curtir, garantimos que será inesquecível. =

Rua Augusto José dos Santos, 366, Betânia.

Fique por dentro das regras NO PARQUE É PERMITIDO: ›› Brincar de bola: desde que seja leve, de plástico e que as brincadeiras não perturbem o bom funcionamento do espaço; ›› Andar de bicicleta de aro 12, 14 ou 16 nas áreas delimitadas para o exercício da atividade; ›› O uso de patins, patinetes ou similares para crianças de até 12 anos de idade; ›› Soltar pipas de papel nas áreas autorizadas, desde que não se utilizem fios cortantes (cerol ou similares), longe da rede elétrica e sem perturbar os demais usuários.

Criado em 2011 pelas mães Flávia Pellegrini e Miriam Barreto, o blog tem o objetivo de incentivar brincadeiras ao ar livre em família. Na Canguru, as fundadoras do Na Pracinha dão dicas de passeios divertidos para a meninada. www.napracinha.com.br

Fonte: Fundação de Parques Municipais FEVEREIRO 2016 .

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4padecendo no paraíso

Crimes de pedofilia: como prevenir Esse é um tema tabu, mas acontece muito perto de nós, independentemente da classe social, da cor ou do credo

Como agem os pedófilos? Entram na vida da criança, ganham sua confiança e diminuem suas chances de defesa em situações de abuso. Se apresentam como um adulto alegre e participativo, condições que passam despercebidas pelos pais. Os abusos sexuais podem acontecer com QUALQUER um. Não existe padrão de perfil de abusador. Na maioria das vezes, o abusador é uma pessoa do círculo de confiança da família. Familiares, vizinhos, colegas, amigos ou até seus responsáveis. Fique atento a QUALQUER mudança comportamental da criança. Se era agitada e passou a ficar retraída. Se era conversadora e parou de conversar. Se ficou mais violenta ou arredia. Se ficou mais quieta ou assustada. Acredite no que as crianças falam. Crianças vivem num mundo de

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fantasia. Entretanto, caso ela procure um adulto para mencionar algo que a incomoda, investigue a fundo. Em geral, a criança tende a não dizer nada. O que o adulto diz é lei. Logo ela tende a acreditar no que o abusador diz, o que torna mais difícil descobrir o abuso. Dialogue com as crianças. Você não conseguirá evitar que o abusador chegue perto do seu filho. Se ele tiver o conhecimento do que é possível e do que é perigoso, poderá não permitir o abuso, ou, caso ocorra, terá condições de informar. Ao postar imagens nas mídias sociais, não publique fotos dos seus filhos, sobrinhos ou filhos de amigos nus ou mesmo com roupas de banho. Observe a pose das crianças nas fotos evitando aquelas que poderão ser consideradas sensuais por pedófilos. Não ensine músicas ou danças sen­ suais. Você pode achar bonitinho, mas uma pessoa com desvio de comportamento vai dizer que a

criança o provocou e usar isso como justificativa para um abuso. A posse, produção e divulgação de material de pornografia infantil é crime. Caso você o receba ou veja em redes sociais, DEVE denunciar. Compartilhar imagens e vídeos também é crime. Apague todo e qualquer conteúdo que receber e denuncie. ›› www.pf.gov.br (copie o link e cole na página da PF, na janela de denúncia) ›› www.denunciar.org.br ›› www.safernet.org.br ›› www.todoscontraapedofilia.ning.com ›› Disque 100 (Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República — denúncia anônima).=

Coordenado pela arquiteta Bebel Soares e pela designer Tetê Carneiro, o grupo Padecendo no Paraíso nasceu em março de 2011, no Facebook, e é formado atualmente por mais de 6 000 mães. Na Canguru, as fundadoras do Padecendo discutem assuntos como saúde, alimentação, sexo, viagens, educação, estética e beleza. www.padecendo.com.br

FOTO: ISTOCKIMAGE

O que é pedofilia? É um desvio da preferência sexual. Geralmente o pedófilo (aquele que tem atração sexual por crianças) tem plena consciência do que faz.


FOTO: ARQUIVO PESSOAL

4artigo | Carla Marques Nagem de Abreu Chagas

A criança e o medo NA RECEPÇÃO DE uma clínica médica espero o horário de meu exame observando, enquanto folheio uma revista, uma menina. Tinha no máximo 3 anos e, como toda criança, estava se divertindo ao explorar as possibilidades daquele ambiente diferente: subia nas poltronas, corria até a porta para espiar, dava pulinhos de entusiasmo. A mãe, por duas vezes, pediu que ficasse quieta, sem sucesso, como era de esperar. Em determinado momento, o movimento exploratório da menina foi interrompido por uma frase que teve o poder de freá-la: “Aquela moça está vendo, e se continuar assim ela vai te dar uma injeção!” A pequena se deteve, olhou a mãe nos olhos, como se tivesse sentido o impacto de tais palavras e voltou para perto dela, com receio de que a ameaça se concretizasse. Não houve tentativa de explicar à criança os porquês do que lhe era pedido, muito menos se tentou oferecer a ela algo mais interessante a fazer. Essas poucas palavras, que não correspondiam à verdade, cumpriram o papel de freá-la, mas o impacto continuava em mim. Quantas vezes já vi essa cena se repetir em diferentes termos: o “homem do saco vai te pegar”, “ali tem bicho-papão, monstro, bruxa” etc. São muitas as formas, mas sempre o mesmo resultado: onde antes havia interesse passa a existir o medo, a inibição. Olhando aquela criança, pensei: para que mentir? Ameaçar com fatos irreais? Por que não explicar a verdade, estimular pelo bem? O medo altera a conduta, consegue o resultado aparente, sem que haja a compreensão do motivo pelo qual se deve mudar o comportamento. Como educadora perguntei-me por que a cultura, que espera jovens valentes e interessados por aprender, estimula que desde pequenos sua liberdade seja limitada por nós, adultos, com mentiras que colocam medo. Será para nos poupar o trabalho de

O medo altera a conduta, consegue o resultado aparente, sem que haja a compreensão do motivo pelo qual se deve mudar o comportamento

explicar, explicar..., quantas vezes for preciso, até que a criança compreenda a verdade? Revendo a história da humanidade, pude identificar, ao longo de séculos, diversos episódios em que o medo e a ameaça foram utilizados como recurso para conseguir o que se queria dos demais. O que passou despercebido é que a mente da criança, treinada a frear-se pelo medo, será a mesma mente que, no adulto, precisará de liberdade para pensar. Sou chamada para ser atendida e continuo pensando no assunto... Perguntei-me: e você, professora? Como faz com seus pequenos alunos? Com essas reflexões saio apressada do consultório, afinal, dentro de pouco tempo meus alunos chegariam à escola, cheios de vontade de aprender. Trato então de fazer o que posso com os meus 31 alunos, afastando a tendência a querer o fácil, alimentando o gosto por explicar os porquês. Crio formas para que façam ou não as coisas por compreender sua essência e não por medo ou ameaça. Não tenho dúvida de que atuar dessa forma dá mais trabalho ao educador, exige paciência e tempo, mas não conheço maior emoção do que ver seres tão pequenos começar a usar a própria inteligência com liberdade para compreender o mundo e reger a própria conduta, fazendo escolhas no sentido do bem.=

Carla Marques Nagem de Abreu Chagas é educadora e professora da Fundação Logosófica de Belo Horizonte

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

4artigo | Léa Machado

A formação da nossa psique COMECEI MINHA PRÁTICA clínica atendendo apenas crianças por dez anos. Ao longo dessa trajetória, fui descobrindo que o resultado terapêutico acontecia em curto tempo quando os atendimentos se estendiam aos pais e, se necessário, à família. Com a evolução clínica e acadêmica, passei a atender também adolescentes e adultos. As crianças vêm encaminhadas principalmente pela escola, que, muitas vezes, percebe sintomas associados ao aprendizado e à dificuldade com a disciplina e/ou relacionamento. Uma das maneiras de ajudá-las é compreendendo a formação da nossa psique através da psicanálise. Temos a predisposição inata, a experiência de vida e o fator desencadeante. O fantástico é que a experiência de vida permite desenvolver ou inibir as predisposições inatas, direcionando o desenvolvimento através de estimulações necessárias, desde o nascimento. Devemos respeitar a maturidade natural da faixa etária, evitando expor a criança a situações para as quais ela ainda não está pronta neurologicamente. Um exemplo de estimulação auditiva: certa vez, recebi uma criança de 6 anos com a queixa escolar de introspecção. A professora falava e a criança parecia não perceber, ficava absorvida com algum brinquedo, ou apenas atraída com seu material escolar. Logo na entrevista, percebi que sempre que o assunto interessava, a criança olhava atentamente. A avaliação psicológica demonstrou resultados adequados para a idade. Então, usei um treinamento para aumentar sua atenção auditiva. Jogávamos uma bolinha de ping-pong na parede e ela, de olhos fechados, teria de indicar onde a bolinha havia parado. Quando já estava acertando, jogamos duas e depois três bolas simultaneamente para que ela indicasse onde haviam parado. Junto com as sessões de orientação com os pais, dei-lhe uma bola com um guizo

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Quando falamos, principalmente com crianças, que são naturalmente literais, temos mais sucesso na nossa comunicação se falamos exatamente o que queremos comunicar

dentro para que ela brincasse com o seu cachorro. O objetivo era tornar o treinamento intensivo. Assim, a atenção auditiva ficaria automática e inconsciente. Em três meses essa habilidade de atenção auditiva tinha influenciado positivamente sua dinâmica e seu resultado escolar. As palavras produzem imagens que são próximas do inconsciente, de onde vem nosso comportamento automático. Quando falamos, principalmente com crianças, que são naturalmente literais, temos mais sucesso na nossa comunicação se dizemos exatamente o que queremos comunicar. Pensamos por imagens. Quando os pais falam “Não atravesse a rua”, para entender a frase, a imagem que a criança vai fazer é justamente de atravessar a rua. E vai se comportar a partir do que ouviu. A palavra “não” é um conceito, não tem imagem. Podemos fazer uma experiência, pontuando para nosso filho todos os comportamentos adequados que ele produzir. Também podemos informar exatamente o comportamento que deve ter, ou o comportamento que queremos que ele tenha. Essa repetição vai para o inconsciente, contribuindo com a formação da sua psique.=

Léa Machado é psicóloga clínica, especializada em psicoterapia breve e hipnoanálise.


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Admiráveis mães imperfeitas FRANCISCO TINHA UNS 4 anos. Cheguei do trabalho mais tarde e deparei com o bilhete da professora: “Amanhã é dia de colocar o coelhinho na toca. Traga seu coelhinho de pelúcia.” Meia-noite, Francisco dormindo. Na cômoda ao lado, vários bichos felpudos: nenhum deles era um coelho. Fui dormir apreensiva: de que cartola eu tiraria esse coelho? Dia claro, voei para o quarto dele. Foi então que reparei que eram compridas as orelhas daquele cachorrinho branco bem peludo. Pronto, decidi. Naquele dia, ele seria um coelho. “Toma, filho. Leva seu coelhinho para colocar na toca lá da escola.” Ele agarrou o bicho, me deu um beijo e correu para pegar o escolar. Mães sempre dão um jeito. Mas nem por isso precisam dar conta de tudo sozinhas. Eu não sei quanto a você, mas eu preferi ter ajuda em casa quando o Fran nasceu. Pude contratar uma enfermeira experiente para os primeiros meses. Ela me acordava na hora das mamadas, colocava Francisco no meu colo, punha para arrotar e depois para dormir. Para uma mãe sozinha de primeira viagem, contar com alguém dentro de casa para dar segurança (e afeto) não tinha preço. E assim o nosso início foi leve, sem maiores tensões e com tempo para me recuperar do parto (normal, com anestesia). Retornei da licença-maternidade disposta e, para ser sincera, feliz por voltar a trabalhar. Ter meu próprio tempo sempre foi importante. Não inflo o peito para dizer que vi o Francisco dar seus primeiros passos — eu estava no trabalho quando isso aconteceu. Vi os passos seguintes, que para os meus olhos foram os primeiros, e me alegro com todos eles. Sou a mãe possível: a melhor mãe que posso ser. Nem sempre ajudo no para casa, porque mal dou conta do meu. Por diversas vezes liguei a TV no Cartoon para que ele me desse mais meia hora de sono. A avó já me representou em reuniões da escola quando eu tinha outra no mesmo horário. E, confes-

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FOTO: MÁRCIO RODRIGUES

4crônica

cris guerra e o filho francisco

Mães precisam de ajuda. E talvez essa seja a parte mais divertida. Ter um filho é passar a integrar uma irmandade em que sempre haverá uma mão estendida na hora do aperto

so, prefiro festas infantis para as quais só as crianças são convidadas. Para mim, maternidade não é um posto heroico de quem cultiva o sacrifício como sinônimo de felicidade. Tenho uma concunhada que cria três filhos com a maior naturalidade, sem empregada e sem babá, morando longe da família. Tem toda a minha admiração. Mas cada um conhece seus limites. Respeito todas as escolhas, mas o tom de alguns discursos me leva e enxergar, nas entrelinhas, uma cartilha rezando autossuficiência. Mães precisam de ajuda. E talvez essa seja a parte mais divertida. Ter um filho é passar a integrar uma irmandade em que sempre haverá uma mão estendida na hora do aperto. É disso que precisamos. De amigas que nos digam “Não é um mar de rosas, mas vale a pena”. E não seremos mães piores por admiti-lo — pelo contrário, é educativo mostrar aos filhos a nossa humanidade. Meses atrás, Francisco foi brincar na casa do amigo e voltou com as unhas cortadas. Das mãos e dos pés. Pensei duas vezes antes de me sentir menor como mãe. Preferi ser grata. Quero mais é que as mães de seus colegas o tratem como filho. Você não?=

Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna diária na rádio Band News FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. crisguerra@cangurubh.com.br



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