Canguru | SP | Julho de 2017 | Número 03

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www.canguruonline.com.br | jul 2017 | nº 3

Criando filhos em sp

ESPECIAL FÉRIAS • EXEMPLAR GRATUITO PARA PARCEIROS

ESPECIAL FÉRIAS

Uma seleção de

programas na cidade PARA FILHO NENHUM FICAR ENTEDIADO

Criança zen Meditação e ioga

PARA OS PEQUENOS

Família de artistas Jair Oliveira e Tania Khalill TRABALHAM COM AS FILHOTAS

IGUAIS,

MAS DIFERENTES O que a ciência diz sobre os gêmeos, as respostas para as curiosidades que todos têm e as experiências de quem já lida com as duplinhas dentro de casa




4nesta edição

seções Primeiras palavras Nossos leitores www.canguruonline.com.br Missão Instagram Eles dizem cada coisa Comprinhas Moda Mundo Kids Canguru viu e curtiu Corrente do bem Padecendo no Paraíso, por Bebel Soares Viagens, modo de usar, por Luís Giffoni

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Passeios Kids, por Cá e Tatê Para ler com seu filho, por Leo Cunha Artigo, por Ekaterine Karageorgiadis Artigo, por André Trindade Crônica, por Cris Guerra

Reportagens

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Iguais, mas diferentes: gêmeos carregam inúmeras peculiaridades e a ciência já desvendou várias delas

Diversão | Crianças ganham muito quando são apresentadas a brincadeiras e brinquedos de antigamente Entretenimento | Jair Oliveira e Tania Khalill falam do projeto Grandes Pequeninos, que tocam junto com as filhas

Arte em família: projeto de Jair Oliveira e Tania Khalill já rendeu dois CDs, livro, site, canal no YouTube, programa de TV e espetáculo musical

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Capa | Curiosidades sobre os gêmeos e trocas de experiências de quem já aprendeu com as dificuldades de criar dois (ou mais) simultaneamente Bem-estar | Práticas de meditação e ioga também podem trazer benefícios às crianças Roteiro | Sete atividades para animar as férias de julho da garotada em São Paulo Saúde | Conheça os sinais da depressão na infância Nutrição | Conheça os segredos dos enigmáticos rótulos dos alimentos

Especial férias: o que não faltam são programas divertidos para as crianças que ficarem na cidade durante a folga da escola

Nossa capa Vitória e Laura, de 5 anos, filhas de Marina Vasconcelos e Fábio Trindade Paes. FOTO: MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA

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FOTOS: [1] GUSTAVO ANDRADE; [2] JGUSTAVO ARRAIS; [3] MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA

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apresenta

FOTO: MORROWIND/SHUTTERSTOCK

O que nossos filhos estão vendo? Qualidade dos conteúdos disponibilizados para crianças preocupa mães e pais NO MUNDO CONECTADO em que vivemos, onde o acesso à informação está a um clique, somos bombardeados diariamente por uma infinidade de conteúdos. É tanta informação que, às vezes, ficamos perdidos e confusos. Ainda mais quando se trata de papais e mamães responsáveis por cuidar dos seus filhos, crianças com potenciais gigantescos pela frente. Será que os livros, os jogos e os filmes que eles consomem estão adequados? O que oferecemos para as crianças repercute em seu desenvolvimento mental e sensível durante toda a vida. E essa máxima não é diferente quando se trata do consumo de conteúdos. Teoricamente, cabe aos pais a tarefa de filtrar aquilo a que os filhos assistem. Mas até mesmo os adultos encontram dificuldades diante do excesso de oferta. Contudo, isso não nos impede de pensar sobre o assunto.

Missão para papais e mamães Encontrar respostas para esses questionamentos não é simples. É importante que a hora da leitura, dos filmes e das brincadeiras seja um momento feliz, prazeroso e cheio de aprendizado. Que os conteúdos, além de divertir, incentivem a busca pelo conhecimento e inspirem atitudes que favoreçam o bem da criança e daqueles que convivem com ela. Esse tema é tão importante e atual que não deve sair de pauta. Precisa ser pensado e tratado também em nossas rodas de conversas com amigos e familiares. Vamos falar mais sobre isso?

Para mais informações, acesse o site:

www.educore.org.br


FOTO: GUSTAVO ANDRADE

4primeiras palavras

Iguais #sqn QUEM TEM DOIS (ou mais) filhos sabe: um nunca é igual ao outro. Não importa se eles são filhos do mesmo pai e da mesma mãe ou se foram criados sob o mesmo teto e com os mesmos valores. São sempre diferentes. Na minha casa, um é dengoso, sempre pronto para distribuir beijos e abraços; já o outro... preciso pegar no laço se quero ganhar um chamego. Personalidades diferentes, gostos diferentes. E é assim até mesmo entre gêmeos univitelinos. Eles são iguais, só que não. É isso que mostra nossa reportagem de capa. Eles podem ser idênticos fisicamente – e até curtem valorizar essa semelhança –, mas, geralmente, têm comportamentos muito distintos. Desde que a Canguru foi lançada, em outubro de 2015, mês sim, mês também, algum repórter sugere uma capa sobre gêmeos. "São tão fofos!" é o argumento recorrente. E são mesmo, não são? As capas de Belo Horizonte, Rio e São Paulo comprovam. São três versões fofas de meninas idênticas que ilustram essa reportagem sobre mitos e verdades em relação aos filhos gêmeos, sob o ponto de vista dos especialistas e dos pais que vivem uma rotina de emoções em dose dupla. Mesmo que os filhos de um casal tenham estilos muito diferentes, sempre dá para uni-los em torno das semelhanças, das características comuns, para construir algo que faça sentido para toda a família e fortaleça os laços de união. Foi o que fizeram o cantor Jairzinho e a atriz Tania Khalill. Nesta edição, eles falam sobre a experiência de trabalhar com as filhotas no Grandes Pequeninos, projeto que está completando uma década, desde que começou a ser gestado. Outro destaque do mês é o Especial Férias, uma seleção de programas para entreter a meninada. Não tem desculpa para deixar as crianças de molho dentro de casa, passando o recesso escolar em frente à televisão ou ao computador. Dá para se divertir a valer sem sair da cidade onde mora – e sem precisar gastar muito. Se você não está de folga no trabalho, aproveite os fins de semana. Inspire-se nas dicas dos jornalistas da revista e faça deste mês um tempo mágico em família.

Ivana Moreira, DIRETORA DE CONTEÚDO ivana@canguruonline.com.br

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Ivana e os filhos Pedro e Gabriel


Expansão da Canguru Sou uma pessoa apaixonada pela missão de estimular crianças para que desenvolvam a autoconfiança, expandindo seus talentos para a construção de um mundo melhor e, quando recebi o convite para enviar a revista às famílias, eu não acreditei!!! A revista é simplesmente mágica, porque propõe o engajamento familiar e a conexão entre escola/pais e filhos. Fortalece os vínculos com matérias tão importantes para o grande desafio de educar as crianças, de maneira significativa e leve. A cada matéria que leio, meu coração transborda de alegria porque são poucos aqueles que acreditam que podemos transformar gerações e a Canguru é essa luz que ilumina nossos dias com o encantamento na arte de educar, demonstrando que, de tudo, nem tudo está perdido. — Vilma Farias, diretora do Colégio Bela Vista, em São Paulo

Adorei a revista!!! Excelente, superindico! As reportagens são muito interessantes. Parabéns! — Else Maya Suzuki, de São Paulo

Eu recebi o meu primeiro exemplar da revista Canguru pela escola do meu filho, Anglo-Americano. Devorei tudo e gostei, principalmente, das crônicas da Cris Guerra, de quem virei fã imediatamente, bem como da plataforma Canguru. — Cintia Santos Nishio, do Rio de Janeiro

Minha filha recebeu a revista Canguru na escola onde estuda, e fiquei encantada com o conteúdo. — Keli Pereira dos Anjos, de São Paulo

Padecendo no Paraíso Muito pertinente o artigo “Criança namora?” (publicado na edição de junho). As pessoas confundem as coisas e algumas vezes transformam algo normal e sadio em problema! O “namorar” das crianças nada tem a ver com sexualizar ou adultizar, faz

parte do desenvolvimento da criança, que imita a realidade da vida adulta. É necessário separar a pedofilia e a sexualização de crianças daquilo que é próprio da infância! — Kellen de Castro, de Belo Horizonte

Acredito que a revista não foi feliz na escolha do texto “Criança namora?” para tratar esse tipo de assunto polêmico. Vivencio diariamente essa polêmica do namoro de criança aqui na escola, e somos adeptos da campanha #CriançaNãoNamora. Trabalhamos muito junto com as famílias nesse sentido. Posso afirmar que hoje em dia não é assim “tão inocente” o namoro de criança. As crianças de hoje estão muito despertas para a sexualidade. Os pais de alunos da escola adoram a revista, mas relataram que esse texto foi “fraco e desnecessário”. — Júnia Resende, coordenadora pedagógica do Jardim de Infância Padre Eustáquio, em Belo Horizonte

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Resultado da enquete O que você pensa sobre furar a orelhinha do bebê?

9,7% 12,9% 77,4

%

Acho supernatural! Com toda a minha família foi assim e não causou mal a ninguém que eu conheça. É um absurdo! Uma violação do corpo da criança e uma imposição que infringe os seus direitos. Não tenho opinião formada sobre isso.

Fique de olho em nossas novas enquetes! Elas são sempre divulgadas em nossa página de Facebook: www.facebook.com/canguruonline

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DIRETOR EDITORIAL: Eduardo Ferrari DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS: Ivana Moreira

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A Canguru é uma publicação mensal da Scrittore Comunicação e Editora Ltda. CNPJ 12243254/0001-10 (Rua Alberto Bressane, 223. Belo Horizonte/MG. CEP 30240-470)

CONSELHO EDITORIAL Eduardo Ferrari, Guilherme Sucena, Ivana Moreira, Márcio Patrus e Suellen Moura DIRETORA DE CONTEÚDO Ivana Moreira (ivana@canguruonline.com.br) EDITORA-CHEFE Cristina Moreno de Castro (cristina@canguruonline.com.br) EDITORAS Luciana Ackermann (luciana@canguruonline.com.br) e Sabrina Abreu (sabrina@canguruonline.com.br) REPÓRTERES Rafaela Matias (rafaela@canguruonline.com.br) e Verônica Fraidenraich (veronica@canguruonline.com.br) ESTAGIÁRIAS Catarina Ferreira (catarina@canguruonline.com.br) e Gabriela Willer (gabrielawiller@canguruonline.com.br) EDITORA DE ARTE Aline Usagi (aline@canguruonline.com.br) PROJETO GRÁFICO Chris Castilho (Mondana:IB) (www.mondana.net) EDITORA DA TV CANGURU Juliana Sodré (juliana@canguruonline.com.br) REVISORA Thalita Braga Martins COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Cris Guerra, Leo Cunha, Luís Giffoni e Daniele Franco FOTÓGRAFOS Gustavo Andrade, Moacyr Lopes Junior/Malagueta e Ricardo Borges GERENTE DE COMUNICAÇÃO E MARKETING Camila Capone (camila@canguruonline.com.br) ESTAGIÁRIO DE MARKETING Filipe Cerezo (filipe@canguruonline.com.br) GERENTE ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO Roberto Ferrari (roberto@canguruonline.com.br) DIRETORA COMERCIAL Suellen Moura (suellen@canguruonline.com.br) EQUIPE COMERCIAL Janna Souza (janna@canguruonline.com.br), Laura Ramos (laura@canguruonline.com.br), Norma Gabá (norma@canguruonline.com.br), Simone Dianni (simone@canguruonline.com.br), Luiz Póvoa (steve@canguruonline.com.br) e Vera Belini (vera@canguruonline.com.br) DIRETOR DE NOVOS NEGÓCIOS Guilherme Sucena (guilhermesucena@canguruonline.com.br) ATENDIMENTO A LEITORES E ESCOLAS PARCEIRAS Gabriela Linhares (gabriela@canguruonline.com.br)

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TIRAGEM TOTAL: 100.000 exemplares (BH: 25.000 exemplares, Rio: 25.000 exemplares, SP: 50.000 exemplares) IMPRESSÃO: O Lutador DISTRIBUIÇÃO: SM LOG*

ESPECIAL FÉRIAS: DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PARA PARCEIROS E COLÔNIAS DE FÉRIAS * Distribuição gratuita para as escolas parceiras Canguru, uma rede de instituições particulares de educação infantil que se comprometem a enviar a revista aos pais de seus alunos na mochila dos estudantes. A relação das escolas parceiras em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo pode ser consultada por anunciantes.

Artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da revista e de seus responsáveis.

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Lançamento

Curso ‘Vou ser pai’ vira livro! O BLOGUEIRO DA Canguru Fernando Dias é um administrador de empresas que criou o curso, sucesso de audiência, "Vou ser pai. E agora?!", voltado para o pai de primeira viagem. Já foram dezenas de palestras em empresas país afora, abordando os principais aspectos que envolvem a vida do pai e o relacionamento com a mulher, desde a gravidez até os primeiros meses de vida do bebê. Ainda assim, Fernando gosta mesmo é de ser chamado de pai da Duda, 5, e da Gabi, de 3 anos. No livro, Fernando fala sobre como um pai pode enfrentar o desafio masculino da troca das fraldas, o suporte aos filhos durante os intermináveis choros da madrugada, o que fazer quando chegar estressado do trabalho, quanto custa um filho e a nova lei da licença-paternidade. “Sou um pai compartilhando experiências, e esta é minha visão. Não há certo ou errado”, afirma. A obra será publicada pela editora Scrittore, que também edita a Canguru, com recursos de financiamento coletivo. Além de garantir exemplares do livro Vou Ser Pai, os apoiadores da campanha podem ganhar recompensas como palestras de Fernando Dias e kits família com publicações da editora sobre educação infantil e entretenimento. A obra será lançada em agosto. Para colaborar com a campanha e garantir seu livro, acesse www.catarse.me/vouserpai.

Promoções e eventos

FOTO: RARQUIVO PESSOAL

Fique de olho nas palestras e sorteios da Canguru! Confira sempre em www. canguruonline.com.br e facebook.com/ canguruonline. Nosso app para Android e iOS também terá promoções exclusivas em breve. Baixe em bit.ly/appCanguruiOS e bit. ly/appCanguruGoogle.

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Que gracinhas que ficam as crianças em época de quermesse! Veja quantos caipirinhas prontos para a festa junina chegaram até nós pela hashtag #canguruonline:

Os jequinhas favoritos de @limaana foram clicados juntinhos! Palmas para Maria Eduarda, de 8 anos, e João Pedro, de apenas 10 meses!

Alice, de 5 anos, ficou muitíssimo à vontade na festa “Forró dos 30”! O clique foi de @vanessa_homem.

Próxima missão: Queridos vovós O Dia dos Avós é celebrado em 26 de julho. Fotografe seu filhote abraçadinho com o vovô ou a vovó e poste em sua conta no Instagram com a hashtag #canguruonline. A foto pode sair na próxima revista Canguru e em nossas redes sociais!

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FOTOS: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

Olha que charme ficou o Lucas, de 8 anos, pronto para dançar quadrilha! Clique postado no perfil @lucas_diniz09.


POR Cristina

Moreno de Castro

Eu joga nasci p ra r ch uteb ol!

JOÃO PEDRO, 5 anos, filho de Tatiane Braga e Sérgio Assis. MATIAS, 5 anos, filho de Luemara Cristina Machado de Piazza e Claudio Andrés Piazza, depois de abrir todos os presentes de aniversário que ganhou na festa feita na escola.

r de tudo O melho abraços foram os hei! que gan

Quando eu crescer, quero ser aposentada que nem a vovó!

Cerv e refrig ja é o eran te do a dulto !

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

CLARICE, 8 anos. BERNARDO, 5 anos. Os dois são filhos de Maria Luiza Vieira Pedrosa e Jonathan Bruno Fialho.

Até qu em é m uito tr é obrig iste ado a sorris dar um o qua ndo e scova os den tes.

YAN, 6 anos, filho de Christina Alves S. Bueno e Nívio Henriques Bueno.

Se seu filho também diz pérolas, envie a frase para o e-mail redacao@canguruonline.com.br.

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EDIÇÃO Cristina

Diversão na papelaria

Um passeio pela papelaria é festa para qualquer criança. Que tal unir o útil ao agradável antes da volta às aulas? Confira a seleção de itens divertidos que a Canguru preparou.

ADESIVOS DE CARRINHOS R$

Moreno de Castro

ESTOJO DUPLO PATATI PATATÁ

10,90

Saraiva

R$

www.saraiva.com.br

29,99

Lojas Americanas

www.americanas.com.br

CANETA DE URSINHO R$

17,90

Imaginarium

FOTOS: DIVULGAÇÃO

loja.imaginarium.com.br

MALETA DE PINTURA R$

42,90

Extra

www.extra.com.br

BORRACHA COM VESTIDINHOS PARA TROCAR

MASSINHA

R$

R$

7,70

Kalunga

www.kalunga.com.br

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3,99 Staples

www.staples.com.br Preços pesquisados em junho de 2017. A Canguru não se responsabiliza pela alteração de preços ou pela falta de produtos. Imagens ilustrativas.



4moda

Com os pés quentinhos

[1]

Na última edição, demos dicas de peças para aquecer os pequenos neste inverno. Agora, é a vez de compor o look deixando os pés bem quentinhos. E a peça escolhida tem a cara do frio: a bota. A nossa modelo, Isadora Gualberto Santos, de 4 anos, foi escolhida por meio de um sorteio realizado em parceria com o Minas Fashion Kids, evento de moda que aconteceu nos dias 20 e 21 de maio, em Belo Horizonte. A sortuda concorreu com mais de 200 crianças que subiram na passarela no primeiro dia de evento. Ela desfilou usando look da loja Joli et Jolie (na foto). Neste clique, Isadora ainda calça um par de botas da loja Bibi. Não ficou a coisa mais linda? Matias

FRANJA R$ 119,90 Marisol www.marisol.com.br

MONTARIA R$ 229,90 Bibi www.bibi.com.br

BRILHO R$ 129,90 Molekinha www.molekinha.com.br

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Preços pesquisados em junho de 2017. A Canguru não se responsabiliza pela alteração de preços ou pela falta de produtos. Imagens ilustrativas.

FOTOS: DIVULGAÇÃO; [1] GUSTAVO ANDRADE.

POR Rafaela


CANO ALTO R$ 199,90 Lilica Ripilica www.lilicaetigor.com

COUNTRY R$ 79,90 Clube do Sapato de Franca www.clubedosapatodefranca.com.br

JEANS R$ 49,90 Tricae www.tricae.com.br

VELCRO R$ 99,90 Klin www.klin.com.br

GALOCHA DO BATMAN R$ 69,99 C&A www.cea.com.br

ESPORTIVA R$ 79,90 Dafiti www.dafiti.com.br

GALOCHA DE POĂ R$ 140 Pampili www.pampili.com.br

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POR Rafaela

Matias, Daniele Franco, Cristina Moreno de Castro e Sabrina Abreu

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crianças e adolescentes FORAM ADOTADOS em todo o país por meio do Cadastro Nacional de Adoção.

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A mais nova febre Guardando para o próximo filho

COM O PRIMOGÊNITO não tem jeito. É preciso comprar tudo, começar do zero. Provavelmente desembolsar uma quantia alta em dinheiro para montar o enxoval, mobiliar o quartinho, encher o guarda-roupa e comprar os brinquedos que vão ajudar o seu pequeno a se desenvolver. É claro que os chás de bebês e os presentes ajudam um pouco com a tarefa, mas é improvável que eles supram os maiores gastos, como o berço e o carrinho. A partir do segundo filho, contudo, a realidade pode ser um pouco mais econômica. Basta fazer um planejamento e identificar o que vale a pena ser guardado assim que o mais velho começar a crescer. Confira as dicas das personal organizers Drica de Castro, Fernanda Bento, Ana Amorim e Tatiana Melo para manter os itens impecáveis até a chegada do caçula:

» Guardar as peças de roupa limpas e passadas; » Colocar produto antimofo e, se quiser, sachê de cheirinho; » Manter em caixas ou sacos a vácuo*; » Limpar as peças de ano em ano para conservar. No caso das roupas, lavar, passar e deixar descansando por 24 horas;

»

Guardar roupas por no máximo cinco anos e móveis por no máximo dez. * Podem ser comprados em lojas de produtos de organização, por um preço médio de R$ 60 o pacote com cinco sacos. Outra opção é guardar em sacos comuns e extrair o ar com aspirador de pó.

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Depois de Pokémon GO e tênis de rodinha, a febre da vez é o fidget spinner. Trata-se de um brinquedo pequeno, que cabe na palma da mão e não precisa de pilha nem de bateria. Depois de virar moda nos Estados Unidos e na Europa, ele agora é o mais desejado entre as crianças brasileiras e pode ser encontrado a partir de R$ 12*. A graça do brinquedo é passar para as mãos dos amigos sem deixar que ele pare de rodar ou caia no chão. Tem até adulto usando o acessório como objeto antiestresse. No YouTube, é possível encontrar vários vídeos – alguns com mais de 20 milhões de visualizações! – mostrando “truques” com o spinner, assim como sempre aconteceu com os ioiôs. [3]

Já criaram até aplicativos grátis, para Android e iOS, simulando o brinquedo. Fique ligado porque, se seu filho ainda não te perguntou pela novidade, logo, logo ele fará isso! Mas, atenção: o Inmetro não recomenda o spinner para crianças menores de 6 anos. *Preço consultado pela Canguru em junho.

FOTOS: [1][2][3][4] PIXABAY

[1]


eu já fui

criança [4]

Um prato cheio de cores é mais bonito e permite soltar a criatividade, mas a pigmentação dos alimentos não existe apenas para enfeitar. Cada cor está relacionada a um nutriente, ou seja, quanto mais colorido o prato, maior a variedade de vitaminas, de substâncias bioativas e antioxidantes e de minerais consumidos naquela refeição, de acordo com o Departamento de Nutrição da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Saiba o que cada cor de alimento representa e monte um prato completo para o seu pequeno: VERMELHO E ALARANJADO: indicam alimentos com carotenoides, que possuem ação antioxidante e estão relacionados à saúde ocular e ao sistema imunológico. Auxiliam na cicatrização. Exemplos: tomate, cenoura, abóbora e mamão. ROXO: encontrado em alimentos que contêm as antocianinas, outro tipo de antioxidantes com função anti-inflamatória, e são ricos em magnésio. Exemplos: berinjela, repolho roxo e uva. VERDE-ESCURO E BRANCO: são alimentos que contêm glucosinolatos; possuem ação antioxidante e são ricos em substâncias que agem na prevenção do câncer. Exemplos: brócolis, couve-de-bruxelas, repolho e couve. MARROM: próprio de alimentos ricos em fibras alimentares e vitaminas do complexo B. Exemplos: cereais integrais e sementes, como nozes e castanhas.

Ronaldo Fraga AOS 50 ANOS, Ronaldo Fraga é um dos estilistas mais famosos do Brasil, com trabalhos expostos em países como Japão, Inglaterra e México. É também o mais surpreendente designer da moda nacional. Foi dele a ideia de misturar crianças e idosos na passarela da São Paulo Fashion Week, em 2009, de pintar a pele das modelos de vermelho, em 2014, e de optar por um cast 100% transgênero, no ano passado. Nascido em Belo Horizonte e criado no bairro Sagrada Família junto aos quatro irmãos, Ronaldo tem uma carreira criativa com grande influência dos pais, com quem conviveu tão pouco. Aos 6 anos, perdeu a mãe, Luzia, e, aos 11, ficou também órfão de pai. Mesmo assim, os casos que José Fraga gostava de contar ao voltar das pescarias no Rio São Francisco e as músicas brasileiras que Luzia amava cantar marcaram para sempre a mente do garoto. Ele encontrou a paixão pelo desenho em meio a uma infância de privação econômica. E foi a junção desses dois fatores que o levou, já adolescente, a fazer o primeiro curso de desenho de moda, no Senai. “Fiz porque amava desenhar e porque era de graça, não ligava para as roupas”, conta. Do encontro ao acaso com a profissão seguiu-se uma formação que passou pela graduação na UFMG e pela especialização na Parson’s School, de Nova York, e na Saint Martin, de Londres. Como criador, Ronaldo ficou famoso por se dedicar à cultura e à história brasileiras, que se fundem, em muitos momentos, aos sons e aos casos que ouvia na infância passada em BH.

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FOTOS: REPRODUÇÃO / INSTAGRAM.

Bom, bonito e saudável

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EDIÇÃO Camila

Capone

O QUE ESTÁ ROLANDO DE ÚTIL, DIVERTIDO OU CURIOSO NA WEB E NAS REDES SOCIAIS

Ah, nãããão! Chás de revelação são sempre uma surpresa boa! Bem, nem sempre. Veja essas reações hilárias quando os pequenos descobrem o sexo do bebê. Use nosso QR Code Canguru ou acesse pelo link bit.ly/ahnaaaao. [1]

Amor incondicional Decidir o nome do bebê é sempre uma tarefa difícil para o casal. E quando, depois de tantas listas, achamos aquele que mexe conosco... Ah, é só felicidade. Foi assim com Clare e seu marido quando decidiram pelo nome da pequena Lanesra, sugestão do papai. Mas o que a mamãe não esperava é que o nome exótico e único escondia o amor dele por seu time de futebol. Se essa moda pega... Aposto que vai ter muita mamãe lendo o nome dos pequenos de trás para frente só para garantir (risos)!

[2]

[3]

Um jornalista, em uma coletiva do time de basquete lituânio BC Žalgiris, questionou a ausência de um dos jogadores da equipe na semifinal do campeonato, alegando que ele estava desfalcando o grupo para acompanhar o nascimento do filho. Veja a resposta do treinador, que dá uma lição (e tanto) de vida. Afinal, ser pai é o céu! Assista usando nosso QR Code Canguru ou pelo link bit.ly/ serpaieoceu.

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IMAGENS: [1] REPRODUÇÃO / FACEBOOK: REDBOOK; [2] REPRODUÇÃO / FACEBOOK; [3] REPRODUÇÃO/ INSPIRINGLIF.PT

Ser pai é o céu


POR Catarina

Ferreira e Rafaela Matias

Para ver um mundo melhor Duas iniciativas têm como foco a saúde dos olhos

Crianças de escola pública ganham promoção ÓCULOS DE GRAU não são baratos. Por isso, uma ação realizada pelas Óticas Carol pode salvar a visão – e o aprendizado – de muitos pequenos que precisam de uma ajudinha extra para enxergar o mundo. No projeto Pequenos Olhares, os óculos são vendidos por 10x de R$ 4,90. O total, R$ 49, fica quatro vezes mais barato que o custo médio de um óculos infantil, em torno de R$ 200. Para adquirir os óculos, as crianças precisam ter entre 4 e 11 anos de idade, estudar em escola pública e comprovar a matrícula com um dos seguintes documentos: declaração de matrícula do ano, declaração de frequência com carimbo da escola ou RG escolar com foto e carimbo do ano atual. É necessário ainda levar receita médica para que os óculos sejam feitos, pois nas lojas não são realizados exames. São seis opções de cores, e a criança pode escolher aquela que mais combina com o seu estilo. Veja em www.canguruonline.com.br os endereços da ótica que fazem parte do projeto em São Paulo.

Óculos resistentes a baixo custo

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A ONG Renovatio tem o objetivo de tornar o atendimento oftalmológico mais acessível e doar óculos a pessoas que necessitem e não possam pagar. Desde 2015, ano de sua fundação, já foram entregues 12 mil óculos. As ações da instituição são realizadas tanto em São Paulo quanto em outros Estados, como Paraná e Amazonas. Hoje, a ONG atua com um ônibus equipado com dois consultórios oftalmológicos e é mantida por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas. A organização utiliza uma técnica para produção de óculos resistentes e de baixo custo trazida da Alemanha e atende cerca de 200 pessoas em cada um de seus mutirões. Para ajudar a Renovatio, é possível fazer doações pelo site e também a partir de depósito bancário. Mais informações na Rua Haddock Lobo, 595, 5º andar, Bairro Cerqueira César, pelo telefone 96373-4004 ou pelo site www.renovatio.org.br.

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4Diversão

Como nossos pais

Apresentar passatempos e brinquedos de antigamente às crianças é uma chance de estreitar vínculos entre diferentes gerações POR Sabrina

Abreu

“A BRINCADEIRA COMEÇA riscando o chão com um caco de tijolo, um pedaço de giz ou mesmo com um graveto sobre a terra, desenhando as casas (geralmente quadradas) e numerando-as de acordo com o formato e a quantidade. Joga-se pulando com um pé só, exceto quando há casas grudadas, que permitem os dois ao mesmo tempo. No fim das casas numeradas geralmente é desenhada uma área de descanso, chamada de ‘Céu’.” Para adultos acima de 30 anos, não restam dúvidas: essa é a descrição do bom e velho jogo de amarelinha. Mas, para muitas crianças de hoje, a brincadeira tão

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comum da infância da maioria dos brasileiros pode ser um completo mistério. O texto que ensina as regras da amarelinha é parte do Movimento Brincadeira, iniciativa da Maurício de Sousa Produções que explica, num site, detalhes de como se divertir à moda antiga. Recentemente, foi lançado pelo mesmo grupo o livro Brincando com a Turma da Mônica (Senac São Paulo e Mauricio de Sousa Editora, 144 páginas), com ilustrações e descrições de brincadeiras tradicionais. Os dois projetos usam o carisma de Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e companhia para ajudar a resgatar o hábito de brincar como outras gerações. Cabra-cega, estátua, pega-pega e esconde-esconde são algumas das brincadeiras revisitadas e que podem incentivar os pequenos a deixarem um pouco de lado as telas de tablets, telefones e computadores para se lançarem em atividades que desafiam seu senso espacial e sua coordenação motora.

[2]


FOTOS: [1] MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA; [2] DIVULGAÇÃO; [3] PIXABAY

Felicidade de criança: a pequena Manuela se esbaldou com brinquedos que são do tempo de seus avós

Muitos são os benefícios de brinquedos e passatempos tradicionais. Eles estimulam a imaginação e a socialização entre os pequenos, favorecem a criação de vínculos entre a criança e a cidade, seus pares e seus pais. Mostrar como se monta uma pipa ou o modo certo de brincar de passa-anel é a chance para responsáveis e educadores compartilharem conhecimento e fazerem uma ponte entre gerações, dividindo experiências de sua infância. Segundo Denise Dantas, professora da disciplina de design de brincadeiras e brinquedos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o resgate de brincadeiras tradicionais é também uma forma de valorizar a cultura local. “Acho triste crianças crescerem sem conhecer brincadeiras de seu próprio país”, avalia. Ela também enxerga como ponto positivo a apropriação do espaço público. Vivendo em residências sem quintais ou áreas de lazer e sem liberdade para brincar nas ruas, os pequenos acabam passando muito tempo divertindo-se sozinhos. “Em geral, os centros urbanos não são espaços convidativos para as crianças brincarem entre si. Vemos em praças que os pais interagem apenas com seus filhos ou que a criança brinca num escorregador ou balanço, equipamentos que excluem a necessidade de companhia”, pontua. “Estimular a organização de brincadeiras coletivas em espaços públicos enriquece a relação da criança com a cidade”, explica. Desde 2015, a Kombi dos Jogos circula por São Paulo com o objetivo de estimular brincadeiras em parques, avenidas, escolas e clubes. “Queremos proporcionar um ambiente acolhedor para crianças e adultos, uma alternativa às brincadeiras individualizadas e enclausuradas”, conta um dos idealizadores do projeto, o pedagogo Gabriel Douek. O veículo estaciona em locais como a Avenida Paulista e o Parque VillaLobos e atrai o público para descobrir jogos de tabuleiro e opções de brincadeiras de diferentes épocas e países, ao lado de brinquedos tradicionais como pião, corda, peteca, bola, bolinha de gude, que atraem participantes de diversas faixas etárias. Apesar de contar com seis educadores para auxiliar nas brincadeiras, quando o assunto são os brinquedos de antigamente, os próprios pais costumam fazer questão de explicar como se faz. “Um senhor certa vez mostrou tanta habilidade no pião que todos pararam

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De pai pra filho: entre as brincadeiras passadas de uma geração a outra, a arte de empinar pipas

para olhar. Acontece muito de os adultos brincarem, ensinarem e se divertirem tanto quanto as crianças”, conta Douek. O mesmo presencia a artista de rua Larissa Lima, membro da Cia. Bamboleística. Junto a cinco amigas, ela quer tornar o bambolê popular entre as crianças. Para isso, organizam atividades, como aulas que ensinam a bambolear. Na Avenida Paulista fechada para os carros aos domingos, o grupo empresta e vende esses brinquedos. “Mães e avós ficam meio tímidas no começo, mas depois entram na brincadeira. Os meninos e as meninas ficam surpresos com a desenvoltura delas”, descreve. Brincadeiras como bambolê e bolinhas de gude e partidas de queimada e rouba-bandeira fazem parte das atividades propostas pelo Festa de Rei, formado há sete anos pela dupla de artistas e educadores Juarez Ferreira e Beatriz Zurueta. O casal anima festas infantis e promove oficinas para pais, filhos e educadores, tendo brincadeiras e brinquedos tradicionais como foco. “A criança sabe brincar sem a ajuda de ninguém, nós só mostramos o brinquedo ou as regras de um jogo e as deixamos à vontade para se divertirem”, explica. “Um menino de 2 anos talvez não consiga empinar a pipa, mas já se diverte correndo com a rabiola na mão, um brinquedo que, provavelmente, fez parte da infância dos seus pais e dos seus avós”, conclui. 

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4Entretenimento

Há dez anos à frente do Grandes Pequeninos, Jair Oliveira e Tania Khalill falam do amor por esse trabalho feito junto com as filhas e dos planos para 2018 POR Verônica

Fraidenraich

IMAGINE ALGO QUE é longe, mas é perto, exige conexão com a internet e o uso da imaginação e interessa a adultos e crianças. É mais ou menos assim que a atriz Tania Khalill, 39 anos, e o compositor Jair Oliveira, 42 anos, descrevem o Grandes Pequeninos, um projeto multiplataforma que trata do cotidiano de uma família com filhos e já rendeu dois CDs, livro, site, canal no YouTube, um programa de gastronomia na TV fechada e um espetáculo musical. Em 2017, o trabalho completa dez anos desde que começou a ser elaborado, quando nasceu a primeira filha do casal, Isabela, hoje com 9 anos, inspirando o pai a compor músicas sobre o universo dos bebês. O CD, que também virou livro, foi lançado em 2009. Dois anos

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depois, a chegada da segunda filha, Laura, hoje com 6 anos, motivou ainda mais o casal a trabalhar conteúdos relacionados à criação de filhos. O segundo CD do projeto, de 2015, aborda temas como diversidade, amizade e relação com os irmãos. “As crianças são pequeninas, mas grandes na alma, nos ensinamentos, na capacidade de compaixão e aceitação do outro. Ao amadurecer, às vezes, a gente perde essa pureza e essa forma de ampliar o amor. O projeto fala de continuar crescendo até o fim dos dias com essa alminha de criança. Senão, a vida perde a graça”, diz Tania. O marido, Jair, complementa: “A chegada de um filho acaba transformando a vida toda, não só em relação à família e à vida pessoal, mas também à profissional”. No canal de vídeos on-line, que conta com quase 45 mil inscritos e 14 milhões de visualizações, Jair e Tania têm dois quadros fixos. O Grandes Pequeninos Babies é uma série de vídeos curtos animados, com novos episódios toda primeira terça-feira do mês. Já o Canta e Conta vai ao ar toda quinta-feira, às 20h, ao vivo, com entrevistas com especialistas para falar de saúde, educação e outros temas de interesse dos pais. Na televisão, no canal Discovery Kids, as filhas Isabela

FOTOS: [1] DIVULGAÇÃO; [2] ERICA VERGINELLI

Um projeto em família


e Laura comandam o Grandes Pequeninos Chefs, em que preparam receitas com a ajuda de um chef convidado e dão para os pais experimentar. O programa está na fase de reprise, sendo exibido em horários alternativos, mas deve ganhar novos episódios – ainda sem data para irem ao ar. “A gente está se organizando para gravar a segunda temporada do programa ainda neste ano”, revela a mãe das meninas, que por ora optou por se dedicar apenas ao projeto. Para 2018, a família planeja passar um tempo em Nova York para estudar e, lá mesmo, fazer conteúdos para o canal no YouTube. Antes disso, porém, a trupe pretende tirar alguns dias de férias, aproveitando para festejar os 40 anos da atriz e os 10 anos de Isabela, ambos comemorados em julho. Bom descanso! [2]

Entrevista com Jair Oliveira O cantor e compositor Jair Oliveira estreou como músico nos anos 1980, quando era conhecido como Jairzinho, integrante do grupo infantil Balão Mágico. Hoje, ele atua em várias frentes, sendo o projeto Grandes Pequeninos apenas uma delas. A seguir, ele fala da carreira, da família e da importância de seu pai, o cantor Jair Rodrigues, falecido em 2014, na vida das filhas. Canguru – O Grandes Pequeninos rendeu uma série de produtos. A família é a maior inspiração desse projeto? Jair Oliveira - Sem dúvida. O projeto vem do amor que a gente tem por nossas filhas. Quando Isabela nasceu, e, depois, a Laura, a gente sentiu o que é o amor de pai e mãe, e isso transformou a nossa vida familiar, pessoal e profissional. Vocês recebem algum patrocínio para a produção de conteúdo on-line? Boa parte do conteúdo foi viabilizado com parcerias, mas estamos atrás de patrocínio. Internet é complicado, demanda tempo e dinheiro. Não somos como os youtubers, que se dedicam 100% a essa função. Além das gravações, eu tenho uma produtora e minha carreira como músico, e Tania tem a dela como atriz. Fora nosso papel de pai e mãe. Além do Grandes Pequeninos, em que outros projetos você está envolvido? Tenho a produtora S de Samba, em que faço produção musical e muita publicidade – aliás, esse é o nosso principal negócio. Tenho também projetos como o NoisenaLive, com os músicos Pedro Mariano e Daniel Carlomagno, exibido toda terça-feira, às 18h, no Facebook e no YouTube, além de meus shows solo ou com minha irmã, Luciana Mello, com Simoninha e Léo Maia. Como era a relação do avô, Jair Rodrigues, com as netas? Meu pai as adorava. Até hoje elas sentem muito a presença dele, com as histórias e os discos que ele deixou. Laurinha tem uma ligação com ele muito especial, vira e mexe fala dele, é bem bonito. E os outros avós têm uma relação próxima também? Sim, os pais da Tania sempre nos visitam, e minha mãe mora perto da gente em Cotia (SP). Além do mais, ela tem um restaurante que serve feijoada, o Casa Cor, prato que as meninas adoram, então vamos sempre lá. 

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4capa

EM DOSE

DUPLA Além de fofos, os irmãos gêmeos carregam uma série de curiosidades; conheça algumas POR Juliana

Sodré e Rafaela Matias Ackermann e Sabrina Abreu

COLABORARAM Luciana

'Rainbow babies': Vitória e Laura, de São Paulo, vieram para iluminar a família após um evento trágico

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RECEBER A NOTÍCIA de que existe um bebê a caminho já é maravilhoso. Imagine só a emoção dos papais e das mamães que descobrem que haverá não um, mas dois deles (ou três, quatro, cinco...). Passada a alegria inicial, é provável que surja uma avalanche de questionamentos sobre o que virá pela frente. Ainda há muitas incertezas e especulações sobre os gêmeos. Será que um sente o que o outro sente? As digitais são iguais? Eles podem desenvolver linguagens secretas? Fomos atrás de especialistas para ajudar a esclarecer essas e outras dúvidas. Ouvimos a neuropediatra Cláudia Machado, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG; a fonoaudióloga da Unicamp Naraí Lopez Barbetta, que teve o desenvolvimento gemelar como objeto de estudo no mestrado e no doutorado; a psicóloga Edna Lúcia Tinoco Ponciano, especializada em família e professora do Instituto de Psicologia da UERJ; o médico Ricardo Halpern, membro do Departamento Científico e de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o médico Salmo Raskin, secretário do Departamento Científico de Genética da SBP; e a médica Cláudia Ramos, professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG. Afinal, entender uma criança já não é fácil, que dirá duas. Os papais e as mamães que recebem a missão em dose dupla merecem uma forcinha, não é mesmo?

AINDA NO ÚTERO

FOTO: MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA

Eles não são passivos lá dentro. Existem provas de interação dos gêmeos já no útero e eles são conscientes da existência um do outro. “Algumas gravações feitas dentro do útero mostram gêmeos tocando-se, e parece haver evidência de que existe uma diferença na forma de um tocar o outro e na forma com que cada um toca as partes do próprio corpo”, afirma Cláudia Ramos.

DONS INDIVIDUAIS É possível que um dos gêmeos tenha uma voz celestial e o outro, digamos, não cante tão bem assim? Sim. Os talentos são individuais e dependem de fatores que extrapolam a genética. Dom, interesse, gosto, aptidão. Tudo isso está em jogo quando se trata de talento.

Por isso, não se assuste se irmãos gêmeos desenvolverem talentos diferentes, pois é normal se, por exemplo, um quiser ser cantor e o outro mostrar mais interesse para a engenharia química – ou se um for um atleta notável e o outro preferir desenhar. Eles são únicos. E os seus dons também serão. Por outro lado, pode ser que as suas preferências sejam parecidas por causa da convivência muito próxima. “A gente não sabe se as preferências são fruto do meio ou da personalidade, ou as duas coisas”, diz Naraí Barbetta.

TUDO AO CONTRÁRIO Um quarto dos gêmeos idênticos (univitelinos) é de “espelhados”. Isso significa que eles são reflexos exatos um do outro, com traços invertidos. Um pode ser destro, e o outro, canhoto. Os dois podem ter sinais de nascimento iguais, como uma manchinha, mas em lados opostos do corpo. O mesmo vale para redemoinhos de cabelo, que podem ficar no mesmo lugar, mas voltados para direções contrárias.

PARECIDOS, MAS NÃO IGUAIS No caso dos gêmeos univitelinos, como eles têm DNA e traços idênticos, algumas pessoas imaginam que as impressões digitais deles também possam ser iguais. Mas não são. Eles até têm as digitais iguais a princípio, mas, logo que começam a se movimentar dentro do útero, encostando na bolsa amniótica, no cordão e em outras superfícies, as estrias nas mãos vão tomando formas únicas. E é por isso que muitos peritos policiais consideram o método de identificação pelas digitais mais preciso até do que o exame de DNA. Mesmo gêmeos idênticos podem sofrer mutação genética específica em um tecido, como a pele. Especificamente naquele tecido pode haver diferenças genéticas, resultando, por exemplo, na formação de manchas de nascença em apenas um deles.

LINGUAGEM SECRETA Cerca de 40% dos gêmeos inventam uma linguagem própria. Isso acontece quando, enquanto bebês, eles usam um ao outro como modelo no desenvolvimento da linguagem e passam a brincar e se 

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CADA UM É CADA UM Vesti-los de forma igual, cortar o cabelo do mesmo jeito, colocar nomes muito parecidos. Isso tudo pode até ser fofo, já que reforça a semelhança física existente, mas pode ser prejudicial na formação da personalidade. É importante que os gêmeos (e seus pais) entendam que eles são seres independentes, com seus próprios gostos, sonhos, desejos, vontades e medos. Para Edna Lúcia Tinoco Ponciano, é preciso que os pais reconheçam as peculiaridades dos filhos para ajudá-los no desenvolvimento da autonomia. Nesse aspecto, é essencial ter tempo para conversar e ouvir as crianças, dando espaço para elas manifestarem os seus gostos e preferências. “Não se trata de proibir as roupas iguais, mas é melhor não naturalizar isso como se não houvesse diferença entre eles. Pode ser que um queira usar bermuda, e o outro, calça. Não é porque eles pos[1]

suem semelhança física que, necessariamente, também possuam semelhança de gostos e opiniões”.

CONEXÃO QUE TRANSCENDE Os relatos de familiares de gêmeos e também de estudiosos sobre o assunto mostram que a conexão entre esse tipo de irmãos chama atenção. Alguns acreditam até que um seja capaz de sentir o que o outro sente, mesmo estando distantes. Para a médica Cláudia Ramos, a crença tem fundamento. “Não acredito que seja mito. O fato de serem gerados ao mesmo tempo, de conviverem estreitamente e de se desenvolverem juntos leva a um envolvimento transcendente, e existem relatos de vários casos que nos levam a crer que, sim, um sente o que o outro sente.” A neuropediatra Cláudia Machado faz uma ressalva: “Pessoas com grande afinidade e percepção do outro podem pressentir algumas situações, independente de serem gemelares ou não”.

BRIGAS SÃO NORMAIS, MAS ATENÇÃO Embora as produções cinematográficas explorem um ambiente de rivalidade entre os gêmeos, o médico Ricardo Halpern garante que a rivalidade é a mesma que existe entre outros tipos de irmãos. “Assim como as brigas, os laços afetivos não são diferentes do que qualquer dupla de irmãos, mas o fato de que compartilham as datas, o colégio e a mesma série, por exemplo, pode deixá-los mais intensos positiva ou negativamente”. Se a competição estiver muito grande, cabe aos pais intervir, dando espaço para que eles tenham momentos separados. Uma boa opção é colocar em salas ou colégios diferentes.

SE UM ADOECER, O OUTRO VAI TAMBÉM? Segundo o médico Salmo Raskin, a resposta é não. Eles podem até compartilhar a mesma predisposição para determinadas patologias que tenham forte componente genético, mas, quanto maior a influência do ambiente na doença, menor a chance de ambos estarem predispostos a desenvolvê-la juntos. Além disso, mesmo tendo a mesma doença genética, dificilmente vão desenvolver os sintomas ao mesmo tempo.

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Mesma numeração: Paula e Júlia, de Beagá, compartilham as mesmas roupas e sapatos

FOTOS: [1] GUSTAVO ANDRADE; [2] RICARDO BORGES; [3] REPRODUÇÃO / PINTEREST; [4] REPRODUÇÃO / REPRODUÇÃO / FACEBOOK; [5] DIVULGAÇÃO

comunicar utilizando sons e silabações próprias. Embora seja mais comum entre gêmeos, esse fenômeno pode ocorrer em bebês que tenham um convívio intenso um com o outro e um ritmo de crescimento parecido. Além disso, a fonoaudióloga Naraí Barbetta concluiu em seus estudos que, por causa dessa linguagem própria, eles, em muitos casos, têm um atraso na fala se comparados a outros bebês da mesma idade.


Personalidades diferentes: a carioca Eduarda é brava, enquanto a irmã Nicole é mansinha

SAIBA MAIS SOBRE

NOSSAS CAPAS

Júlia e Paula, de 4 anos, filhas da administradora Andrezza Alencar e do educador físico Vicente Marcos de Faria, de Belo Horizonte Quando engravidou das meninas, a administradora tinha muito medo de não saber diferenciá-las, mas logo descobriu que até no escuro a sua intuição diria exatamente quem é quem. “Uma vez, o meu marido colocou as meninas em berços trocados, e eu percebi pela respiração”, conta. Mas as semelhanças também já pregaram peças: a mãe já deu um remédio duas vezes para uma delas, enquanto a outra ficou sem o medicamento. “Às vezes, acontece”, diverte-se. Vitória e Laura, de 5 anos, filhas da pedagoga Marina Vasconcelos e do empresário Fábio Trindade Paes, de São Paulo Com menos de uma semana em casa, elas tiveram um problema de saúde e precisaram voltar ao hospital para receberem cuidados. “Quando voltaram, estavam as duas com pulseirinhas com o nome ‘Laura’, foi uma confusão”, lembra-se a mãe. Antes de engravidar das meninas, Marina fazia orações pedindo para ter filhos gêmeos. Ela, que também é mãe de Sofia, de 12 anos,

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tinha tido outro bebê, que morreu com apenas um dia de vida. “Como já tinha feito duas cesárias, o médico disse que eu só tinha mais uma chance, e, por isso, queria muito ter dois filhos de uma vez.” Como vieram duas meninas, gêmeas idênticas, Marina viu suas preces serem atendidas. “Elas são ‘rainbow babies’, como são chamadas as crianças que nascem para iluminar a família depois de um evento trágico”. Nicole e Eduarda, de 4 anos, filhas da vendedora e manicure Amanda Maciel Amorim e do vendedor Bruno Luiz Canoza da Silva, do Rio de Janeiro As meninas trocam de personalidade de tempos em tempos, segundo a mãe. “Desde a barriga, percebia a Eduarda mais agitada e a Nicole calminha. Mas não sei o que acontece que, do nada, invertem. Nunca tinha ouvido falar disso. Agora, nós já nos acostumamos”.

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Gêmeos nas telas

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Não faltam filmes e novelas de gêmeos separados na maternidade e até com superpoderes: » Manoela e Isabela, interpretadas por Larissa Manoela, em Cúmplices de um Resgate (2015) » Hallie e Annie, interpretadas por Lindsay Lohan, em Operação Cupido (1988) » As Trigêmeas, desenho que estreou no Brasil em 1998 » As gêmeas Mary-Kate e Ashley Olsen estrelaram vários filmes, como As Namoradas do Papai (1995), O

Feitiço das Gêmeas (1993) e Ataque ou Defesa (1999), além do clássico programa de TV Full House (Três É Demais, no Brasil) » Os Supergêmeos, da animação Super Amigos (desenho criado em 1973) » Fred e Jorge Weasley, interpretados pelos irmãos James e Oliver Phelps, em todos os filmes da franquia Harry Potter 

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ANOTE NA AGENDA

Entre os dias 28 e 31 de julho acontece na USP o 2º Encontro de Gêmeos, aberto para pesquisadores, familiares e qualquer interessado no assunto. O evento é gratuito, com vagas limitadas. Mais informações no site portal.if.usp.br.

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De mãe para mãe Pedimos aos leitores com filhos gêmeos para compartilharem suas experiências e aprendizados. Recebemos depoimentos lindos e muitas dicas práticas também! Confira:

“Uma coisa muito importante aqui em casa foi colocar rotina desde sempre! Assim, o dia a dia fica mais fácil.” – Ana Carolina Mendonça

“Não dá tanto trabalho quanto as pessoas imaginam. Assim que um bebê acabava de mamar, eu oferecia para o outro, assim eles sempre tinham a hora da mamada bem próxima, facilitando o meu sono durante a noite. Um conselho valioso: não cometa o erro de ficar comparando os dois! Mesmo sendo gêmeos, cada criança tem o seu tempo e se desenvolve de maneiras diferentes.” – Cintia Duarte

“Ser mãe de gêmeas é acalmar uma que está chorando e fazer a outra dormir. É dar mamadeira para uma enquanto brinca com a outra. É saber dar atenção para dois bebês que têm necessidades diferentes. É saber lidar com a casa bagunçada, noites sem dormir, dentes sem escovar. É desafiante, mas é a melhor coisa do mundo.” – Loren Santos

“Minhas comidas ficam prontas para a semana toda. Arroz, feijão, legumes já picados e carnes. Tudo feito por mim e congelado. Vou tirando diariamente para almoço e janta. Sou um general no horário do sono, pois, quando dormem, é o horário que tenho para tomar minha cerveja, lavar vasilhas, cuidar de mim e das demais tarefas da casa. Quando vejo que estou para explodir, peço ajuda mesmo, sem medo de ser feliz...” – Aline Miranda Felix, mãe de trigêmeos e de uma criança mais velha

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“Minha dica é não vestir de forma igual para não confundir na hora da alimentação!” – Rivane da Silva

“Desde a gestação, os palpiteiros colocam um monte de obstáculos na vida da gente sem nunca terem tido gêmeos. ‘Um já dá trabalho, imagina dois!’, a gente ouve isso o tempo todo e coisas bem piores. Mas não é um inferno como muitos imaginam. É muito gratificante, porque a gente vê o quanto Deus nos capacita.” – Jordana Lima

“Eles têm personalidades totalmente diferentes, e procuramos respeitar e valorizar isso, tratando cada um como um indivíduo único!” – Ana Cristina Ferreira, mãe de trigêmeos

“O puerpério foi a fase mais difícil para mim, mais longa que a gravidez, inclusive. Sobre a amamentação: é possível amamentar os dois juntos e sem sofrimento.” – Tiê Porã

"Nunca faça um elogio só para uma. E tenha muita calma e paciência, porque tudo muda o tempo todo." - Patricia Alvarenga 

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“Minha dica é ter rotina, disciplina, encarar tudo da forma mais tranquila possível e contar com ajuda sempre que puder!” – Sâmara Merrighi


4Bem-estar

zen

POR Luciana

Ackermann COLABORARAM Catarina Ferreira e Daniele Franco

POUCO A POUCO, atividades que buscam maior concentração e tranquilidade, respiração mais consciente, persistência e paciência ganham espaço dentro e fora das escolas. A meditação e a ioga vêm firmando-se entre as opções voltadas para as crianças, especialmente em tempos em que os pequenos são cada vez mais afetados pela tecnologia e pela avalanche de novidades. De forma leve e lúdica, os exercícios e as técnicas prometem maior consciência corporal, diminuição da ansiedade e aumento da atenção. Diversas são as origens, as correntes e os métodos na meditação, mas todas visam ampliar o estado de consciência e o controle da mente. Algumas delas têm trabalho específico para os pequenos. Desde o início de 2016, Roberta Maia, que é budista há cerca de dez anos, leva o filho Miguel, de 4 anos, à aula de meditação do Turminha Kadampa, do Centro de Meditação Kadampa (CMK), no Rio de Janeiro. Roberta conta que tem um altar em sua casa, onde segue a prática, e que, de um jeito muito natural, surgiu a curiosidade do menino. Ele experimenta prece, canto, meditação e contação de histórias relacionadas a ensinamentos sobre a compaixão e a importância de se fazer o bem para o outro. “Ele gosta muito. Percebo que tem ficado mais calmo, inclusive quando passa por crises de laringite, em que temos de correr para o hospital para fazer nebulização”, relata Roberta, que afirma não ter a pretensão de tornar o filho budista, mas de mostrar uma filosofia que ensina a importância do controle da mente, para, a partir daí, coordenar as emoções. 

De mãe pra filho: Miguel, de 4 anos, ficou curioso sobre a meditação ao ver a prática da mãe, Roberta Maia, que é budista J U L H O 2 01 7 .

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FOTO: RICARDO BORGES;

Momento

Crianças também encontram espaços para praticar meditação e ioga, que prometem aumentar a atenção e diminuir a ansiedade


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“A técnica é muito simples e fácil. Dois a três minutos, duas vezes por dia, permitem mergulhar dentro de si, acalmando a mente”, explica.

Ioga e mantras Antonio Tigre, professor e autor do livro As Aventuras do Menino Iogue, sucesso de vendas que deu origem a um premiado musical infantil, conta que, após 13 anos de pesquisa e trabalho, desenvolveu um método que mistura jogos teatrais e os ensinamentos da ioga, que conheceu aos 17 anos em Nova York. Formado em artes cênicas, ele criou uma técnica repleta de ludicidade. “O ganho é enorme. Aprimora a coordenação motora, trabalha o equilíbrio, amplia a capacidade respiratória e melhora, inclusive, a constituição física da criança, reorganizando corpo e mente”, afirma Tigre, que, atualmente, dedica-se a formar professores de ioga para pequenos. Muitos artistas e filhos de artistas for a m alunos de Tigre, entre elas a pequena Manuela, de 8 anos, filha de Eduardo Moscovis e Cynthia Howlett. “Ela adorava as aulas do Antonio e fala que gostaria de voltar a praticar. À noite, em casa, e sempre que fica meio nervosa, Manu pede para ouvir mantras”, conta Cynthia. Na carioca Atchim Creche Escola, cuja proposta é privilegiar a questão afetiva, as aulas de ioga fazem parte das atividades da grade curricular há cerca de três décadas. Susana Ribeiro, mãe de Daniel, de 4 anos, que estuda na Atchim, diz que a atividade é um sucesso. “Desde que meu filho começou a fazer aulas de ioga, percebo que melhorou muito o equilíbrio corporal.

FOTOS: DIVULGAÇÃO; ILUSTRAÇÕES: FREEPIK

“A essência da meditação é estar presente no agora, no que está fazendo naquele momento. Isso nos dá mais serenidade e tranquilidade”. diz. Lucas Leão, professor da Turminha Kadampa, afirma que a meditação é uma fonte de paz mental e felicidade para todas as pessoas, independentemente da idade ou de serem ou não budistas. “Não há idade mínima. Costumo dizer aos pais que o mais importante é a criança gostar de ouvir histórias e de brincar. Já houve aulas em que os pais levaram bebês com menos de 1 ano – apesar de não entenderem o que estava acontecendo, desfrutaram de um ambiente em paz com outras crianças”, explica Leão, complementando: “Normalmente, crianças menores de 4 ou 5 anos ainda têm dificuldade de focar uma única atividade, costumam ficar mais agitadas. Por isso, ficam livres para entrar e sair quando quiserem, inclusive durante o tempo da meditação, permitindo a elas que interajam quando têm vontade. Essas são ‘conquistadas’ pela história e pela brincadeira e, com o tempo, vão acostumando-se com a sensação de paz mental”. A aula é interativa, com o professor, as crianças e os pais, se quiserem. Todos sentados no chão. A meditação para as crianças é a mesma dos adultos, a diferença está na linguagem e no tempo, que é menor: cinco minutos. “Usamos meditações que estimulam a imaginação associada à respiração ou com visualizações. Nosso maior interesse é que as crianças desenvolvam uma mente positiva em relação à prática de meditação em geral, entendendo que meditar pode (e deve!) ser algo divertido”, esclarece o professor. Segundo Klebér Tani, um dos diretores da Sociedade Internacional da Meditação, que difunde a Meditação Transcendental (MT), trata-se de uma técnica milenar oriunda da Índia, que permite que a mente se aquiete, alcançando um estado calmo, integrado e alerta em que o corpo repousa profundamente. A cada dois meses, há curso para crianças de 5 a 10 anos. As orientações são apresentadas em dois dias, com uma hora de duração, de forma lúdica e com muita brincadeira.


Hoje, faz determinados movimentos com as pernas e já não se desequilibra como antes. Também notei uma melhora na atenção e na capacidade de concentração dele”, conta Susana ,complementado: “Ele adora fazer as posturas dos animais, principalmente a do sapo”, diverte-se a mamãe. No Espaço Ananda Yoga Marcello Gama, que funciona dentro da Casa Espanha, no Rio, há ioga kids, para os pequenos de 3 a 9 anos, e baby ioga, em que mães praticam junto com seus bebês. Entre as posições que as

crianças mais curtem estão a vela, o gato e o guerreiro. “Os pequenos adoram e nos surpreendem, nem sempre são tão dispersas quanto imaginamos. Algumas parecem prontas e disciplinadas para a prática”, diz o próprio Gama, concluindo: “Em tempos de excesso de informação, é essencial baixar a ansiedade, exercitar a paciência e a aceitação”, conclui.

Onde praticar Confira alguns endereços em São Paulo onde as crianças podem praticar meditação e ioga ESPAÇO NATIVIDADE Rua Natividade, 72A – Vila Nova Conceição As aulas são semanais e têm duração de uma hora. Informações: www.espaconatividade.com.br Preço: Aula avulsa, R$ 70; planos a partir de R$ 120 A partir de 5 anos INSTITUTO DE MEDITAÇÃO Rua do Rocio, 423 – Vila Olímpia Informações: 3073-0872 ou 98373-8511

www.institutodemeditacao.com.br Preço: R$ 300 para crianças até 10 anos Após o aprendizado, a criança e os pais são orientados a continuar praticando em casa. A partir de 4 anos. CENTRO DE MEDITAÇÃO KADAMPA (CMK) Rua Artur de Azevedo, 1.360 – Pinheiros Informações: 3476-2328

www.meditadoresurbanos.org.br Preço: R$ 10, pais e acompanhantes não pagam O CMK é uma organização sem fins lucrativos que oferece meditação guiada para pais e crianças de 3 a 12 anos. FUNDAMENTAL YOGA Rua Perdões, 57 – Aclimação Informações: 3209-9670 ou 99261-1072

www.fundamentalyoga.com.br Preço: R$ 150 Aulas semanais A partir de 4 anos ESTÚDIO NAMASKARA Rua Guararapes, 1.322 – Brooklin Informações: 5543-0016

www.namaskara.com.br Preço: R$ 85, aula avulsa; planos a partir de R$ 235 A partir de 3 anos 

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4Roteiro

As boas das

fĂŠrias Sete atividades para agradar em cheio aos pequenos durante os dias de folga em julho POR Sabrina

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Abreu e VerĂ´nica Fraidenraich

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FICAR NA CIDADE durante as férias não precisa ser sinônimo de tédio para as crianças. Em julho, as mais diversas programações convidam os pequenos para o contato com a natureza, com a arte e com o próprio corpo. Além da recreação, cursos de música, circo e plantio possibilitam novos aprendizados e amizades. Veja nossa lista com opções para manter a turminha ocupada nos dias de folga da escola.

À moda antiga A aula de tear manual é boa pedida na programação oferecida especialmente nestas férias. Crianças aprenderão a produzir peças usando a técnica milenar. Passatempo. Rua Otávio Tarquínio de Souza, 1.269, Campo Belo, tel.: 5042-2720. Dia 6 de julho, das 10h às 12h ou das 15h às 17h. Inscrições: R$ 78 (com material e lanche). Turmas a partir de 4 anos. Informações:

Confira no site da Canguru todos os detalhes sobre estes programas e muitas outras sugestões de atividades para as férias de julho atualizadas diariamente! www.canguruonline.com.br.

Para mexer o corpo Inspirado nas formas da natureza e nos movimentos dos animais, o kempo indiano é uma arte marcial que tem tudo a ver com as crianças. Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, tel.: 5080-3000. De 1º a 29 de julho, aos sábados, das 16h às 18h. Grátis. Para crianças a partir de 4 anos.

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FOTOS: MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA

opassatempo.com.br


Entre e brinque à vontade

Imagine um sobrado de dois andares, com quintal, tanque de areia, ateliê de artes e parede de azulejo pronta para a pintura. Sem falar nas salas com cabanas, pneus, casinhas de boneca e muitos outros atrativos para as crianças. Assim é o espaço de brincar da Casa Lila. O lanche e a participação em uma oficina, como a de ioga, são inclusos no serviço. Casa Lila. Rua Safira, 276, Aclimação, tel.: 2738-0632. De segunda a sexta, das 9h às 18h. Valor: de R$ 100 (por quatro horas) a R$ 2.100 (integral mensal com almoço). Sem restrição de idade.

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Com a mão na argila

FOTOS: [1] SYNARA ROCHA; [2][3][4] DIVULGAÇÃO;

Circo, sim, senhor! Narração de histórias, teatro e arte se mesclam às técnicas circenses neste curso de quatro dias do Galpão do Circo. De um velho baú surge o conto fio condutor da aula. Os professores se transformam em personagens, e os alunos fazem das cordas e do trapézio o cenário da narrativa. O trabalho segue com vivências artísticas que levam ao desfecho da aventura. Galpão do Circo. Rua Girassol, 323, Vila Madalena, tel.: 3815-6147. De 3 a 6 e de 24 a 27 de julho, das 9h30 às 12h ou das 14h às 16h30. Valor: R$ 395. Para crianças de 4 a 7 anos.

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Nesta oficina, os pequenos aprendem fundamentos teóricos e práticos de explicações sobre a história da cerâmica até uma visita aos fornos (quando esses estão desligados). Mas o ponto alto promete mesmo ser a hora de colocar a mão na massa e criar potinhos, bonecos, monstrinhos e o que mais a imaginação mandar. Atelier de Cerâmica Alessandra Dantas. Rua João Elías Saada, 56, Pinheiros, tel.: 3815-0935. Dias 12 e 14 (quarta e sexta-feira), das 14h30 às 17h. Valor: R$ 200 (material e lanche inclusos). As peças são entregues aos pais, após a queima, numa data a combinar. Para crianças de 5 a 8 anos. Informações:

aleceramica.com.br [3]


Dia de rock, bebê Músicas de Beatles e Raul Seixas, cantigas populares e brincadeiras são usadas para introduzir as crianças ao universo musical nos cursos infantis da franquia americana School of Rock. Enquanto as mais novas, de três a cinco anos, usam instrumentos de percussão, como pandeiro e tamborim, as de cinco e seis anos podem explorar um teclado, um violão ou uma bateria.

School of Rock – Unidade Jardins. Rua Batataes, 187, Jardins, tel.: 5096-2018. Curso Little Wing – para crianças de 3 a 5 anos. R$ 340. Segunda-feira, das 10h às 11h e das 18h às 19h. Quinta-feira, das 9h às 10h e das 17h às 18h. Curso Rookies – para crianças de 5 e 6 anos. Segunda-feira, das 18h às 19h, sábado, das 9h às 10h. Valor mensal: R$ 390. [4]

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FOTOS: [5][6] ZÉ GABRIEL

Dedinho verde Contato com a natureza e mão na terra é o que espera por crianças inscritas nesta atividade. Além de conhecer plantas em diferentes estágios do desenvolvimento e de ver centopeias, tatus-bola e outros bichinhos de jardim, cada participante transpõe uma mudinha para o vaso, que pode levar para casa. Sabor de Fazenda. Avenida Nadir Dias de Figueiredo, 395, Vila Maria, tel.: 2631-4915. Dia 5 de julho (quarta-feira), de 9h30 às 12h. Valor: R$ 60 (crianças) e R$ 24 (adulto acompanhante). Para crianças a partir de 2 anos. Informações: sabordefazenda@

sabordefazenda.com

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4saúde

E SE NÃO FOR SÓ

tristeza?

Os sintomas da depressão, principalmente na infância, podem ser confusos; mais um motivo para os pais redobrarem a atenção aos sinais POR Daniele

A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL da Saúde estima que 350 milhões de pessoas sofram de depressão em todo o mundo hoje. Mas a partir de qual idade essa doença se manifesta? Embora seja rara entre crianças, a literatura médica estima que de 1% a 2% delas tenham depressão, que pode atingir inclusive algumas com apenas 3 anos (veja no quadro).

Depressão por faixa etária Estimativa de pessoas atingidas pela doença, segundo estudo feito nos EUA em 2011: » 3 a 5 anos: 0,5% » 6 a 11 anos: 1,4% » 12 a 17 anos: 3,5%

*Fonte: Professor de psiquiatria da infância e da adolescência da Unicamp Amilton dos Santos Junior

O percentual vai aumentando depois da fase de alfabetização, à medida que as crianças passam a lidar com maiores responsabilidades, de acordo com Ana Maria

Franco

Lopes, psiquiatra da infância e da adolescência e membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria. Antes disso, os motivos são muito diversos e vão desde predisposição genética, quando alguém na família tem histórico de depressão, até a relação com o ambiente, conforme diz o professor de psiquiatria da infância e da adolescência da Unicamp Amilton dos Santos Junior. De acordo com o psiquiatra, o ambiente é o maior responsável pela formação da criança, sendo ele o ditador das situações de felicidade ou tristeza durante a infância. “Crianças são como esponjas, elas absorvem o clima do ambiente em que vivem, e esse fator é determinante no comportamento dela tanto na infância quanto na vida adulta”, esclarece. Ana Maria, que também é professora na Universidade Federal de Minas Gerais, acrescenta os fatores de proteção como essenciais para uma vivência saudável na infância. Para a médica, proporcionar um ambiente favorável ao crescimento das crianças é um dever da sociedade. “As famílias devem, mesmo em situações mais complicadas, trabalhar para a proteção da criança em todos os sentidos, protegendo seu emocional 

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Hora de ficar atento A tristeza, sintoma mais comum da depressão, é normalmente associada a outros sinais nos mais jovens, e o principal deles é a perda de interesse em atividades que antes representavam prazer para a criança. “Se o seu filho para de gostar de fazer alguma atividade com a qual ele antes se divertia muito, é hora de procurar um médico”, afirma Santos Junior. Mesmo sendo rara, a depressão infantil merece cuidados, pois pode ter repercussões muitos anos depois. De acordo com o professor, muitos casos de depressão na fase adulta, quando investigados, levam a raízes em situações de depressão vividas na infância.

Um quadro extremo Caio* sempre foi um menino introvertido, mas foi por volta dos 5 anos que começou a reclamar da falta de amigos e a se fechar em seu mundinho. Aos 6, teve de lidar com a separação dos pais, o que, para a mãe, Joana*, pareceu, na época, um processo tranquilo. Ela conta que, como esperado, o menino sentia falta do pai,

FOTO: PIXABAY

contra consequências que situações traumáticas possam trazer”, afirma, acrescentando que atividades como a prática esportiva e o incentivo à socialização são fundamentais para o desenvolvimento saudável da psique do indivíduo: “O que se vê hoje são muitas crianças em situação de isolamento, sozinhas no quarto com seus aparelhos eletrônicos”. Doenças crônicas, como alergias de moderadas a graves, asma, diabetes, epilepsia, fibrose cística e câncer, que atingem 4% das crianças, de acordo com Santos Junior, também são responsáveis por algumas situações de depressão infantil. “Com o mecanismo de adaptação da doença e percepção da diferença das outras crianças, as vítimas dessas enfermidades podem desenvolver transtornos depressivos”, afirma o médico. Apesar de ser uma situação mais rara, Ana Maria aponta como essencial a atenção dos médicos às causas orgânicas que podem levar aos sintomas apresentados, como doenças da tireoide e neurológicas, que muitas vezes manifestam os mesmos sinais da depressão, mas não são a doença propriamente dita.


mas não era algo que despertava sua preocupação. Três anos depois, quando Joana apresentou seu namorado ao filho, ele teve uma reação mais exacerbada. “Ele surtou. Rasgou e quebrou várias coisas, gritou, esperneou e disse que não aceitava outra pessoa comigo, mas eu entendi aquilo como uma pirraça mesmo”, conta. Não era pirraça. Algum tempo depois, em um dia que o namorado estava com ela em casa, Joana escutou barulho de faca na cozinha e, quando viu o que estava acontecendo, perdeu o chão. Caio tentava se machucar e dizia que não queria viver em um mundo onde os pais não estivessem juntos. Foi aí que a luz de alerta se acendeu. De acordo com o psiquiatra Amilton Santos Junior, a ideação suicida nas crianças não é algo comum, uma vez que elas, tão pequenas, ainda não têm noção de que a morte é um quadro irreversível e, muitas vezes, não sabem como ela acontece. O caso de Caio foi, de acordo com Joana, um quadro evolutivo típico das vítimas de depressão. Ela, que afirma nunca ter desconfiado de que o filho poderia sofrer da doença, encarava sua introversão como algo normal, como sendo o jeito dele. Depois do ocorrido, o menino foi ao médico e passou a fazer um tratamento multidisciplinar, com uso de medicamentos. Santos Junior afirma que o uso de fármacos no tratamento da depressão infantil não é a saída mais comum e só é usado em casos mais graves, como o de Caio. “Nossa estratégia é observar se o motivo do quadro é o ambiente, e, se for, tratamos a partir daí. É um tratamento de causas. Há uma conversa com os pais e com a escola e uma tentativa de melhoria nas condições de vivência para a criança”, explica. Antes de se preocupar com a depressão pela qual a criança possa, eventualmente, estar passando, é preciso considerar a manutenção de um ambiente propício à felicidade, e esse é um consenso entre os especialistas ouvidos pela Canguru. Se a formação da personalidade acontece na infância, como uma criança que passou por essa fase deprimida pode transformar-se num adulto feliz e produtivo? =

Sinais de alerta Se a criança apresenta persistência destes sintomas, fique atento e procure um médico para acompanhá-la e fazer o diagnóstico correto: » Alterações comportamentais, especialmente se a criança fica mais agressiva; » Mudança no desempenho escolar; » Mudança no apetite, perda ou excesso; » Alterações no padrão do sono; » Isolamento. *Fonte: Ana Maria Lopes, psiquiatra da infância e da adolescência e membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria, e Amilton dos Santos Junior, professor de psiquiatria da infância e da adolescência da Unicamp

*Os nomes citados na reportagem são fictícios para preservar a imagem e a privacidade da criança.

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4Nutrição

Desvendando os rótulos POR Juliana

Sodré

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ntender o rótulo de um alimento pode ser uma verdadeira missão. Mas ele não está lá à toa. As informações nutricionais são exigidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, para ajudar os consumidores a fazer escolhas mais adequadas daquilo que pretendem

consumir. Mas nem sempre as informações são claras ou de fácil entendimento. Por isso, a reportagem de Canguru foi atrás desses esclarecimentos. A diretora da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), Daniela Cierro, nos ajudou a desvendar esses segredos.

O VALOR ENERGÉTICO, por exemplo, é a energia produzida pelo corpo proveniente de carboidratos, proteínas e gorduras totais. Nos rótulos, esse valor é expresso em forma de quilocalorias (kcal) ou quilojoules (kj) – 1 kcal equivale a 4,2 kj – e é informado segundo uma dieta diária de 2.000 kcal. Mas esse valor varia de indivíduo para indivíduo (crianças, adolescentes ou doentes específicos têm necessidades diferentes, por exemplo), e os cálculos não são voltados para esse público.

Os CARBOIDRATOS são alimentos cuja principal função é fornecer a energia para todas as células do corpo, principalmente as do cérebro. São encontrados em maior quantidade em massas, arroz, açúcar, mel, pães, farinhas, tubérculos (como batata e mandioca) e doces em geral. São considerados vilões, muitas vezes, porque o excesso de consumo deles é armazenado em forma de gordura.

As PROTEÍNAS são componentes necessários para a construção e a manutenção dos nossos órgãos, tecidos e células e são encontradas em carnes, ovos, leites e derivados, além das leguminosas, como feijão, soja e ervilha. Assim, os que não comem carne conseguem se abastecer de proteína de outras formas. Um alimento rico em proteína é aquele que possui mais de 10 g do nutriente por 100 g de produto.

As GORDURAS TOTAIS referem-se à soma de todos os tipos de gorduras encontradas em um alimento, tanto de origem animal quanto vegetal. São as principais fontes de energia do corpo e ajudam na absorção de algumas vitaminas.

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Já as GORDURAS SATURADAS são as gorduras presentes em alimentos de origem animal. Assim como os outros itens, não devem ser consumidas em excesso, mas eliminá-las completamente não é a melhor solução, uma vez que algumas vitaminas vêm dessas gorduras.

As temidas GORDURAS TRANS são aquelas produzidas pelas indústrias. Seu consumo deve ser reduzido, já que nosso organismo não precisa delas. Aqui está o maior desafio para os pais, pois estão exatamente nos alimentos que as crianças mais gostam: biscoitos, sorvetes, snacks, produtos de panificação, alimentos fritos e lanches salgados. “Quando uma embalagem diz que o produto não possui gordura trans, deve-se ficar atento, pois pode conter outra gordura que faz tanto mal em excesso quanto aquela”, alerta Daniela.

A FIBRA ALIMENTAR está presente nos alimentos de origem vegetal, como cereais, frutas, hortaliças, legumes e alimentos integrais. Contribuem para o bom funcionamento do intestino em geral e para diminuir as placas de gorduras no sangue.

O SÓDIO está presente no sal de cozinha e em alimentos industrializados e deve ser consumido com moderação, pois, em excesso, contribui com a elevação da pressão arterial. “O alto consumo de produtos industrializados fez com que tivéssemos uma geração de adolescentes mais hipertensos”, diz Daniela.

Diet, light ou zero? DIET: alimento sem açúcar e/ou proteína e/ou gorduras. Normalmente é indicado para quem tem doenças metabólicas, como diabetes. “Alimentos diet podem ter valor calórico maior que aqueles que contêm açúcar e nem sempre são úteis para a perda de peso. O alimento diet isento de açúcar pode ser ao mesmo tempo rico em gorduras”, diz Daniela.

ILUSTRAÇÃO: FREEPIK

LIGHT: tem quantidade de calorias (ou açúcares ou gorduras ou sódio ou outro nutriente) reduzidas em pelo menos 25% em relação ao produto original. Nem todo alimento light é próprio para perda de peso, e a redução calórica em certos alimentos é muito pequena.

ZERO: promete isenção total de algum nutriente ou ingrediente, como sódio, açúcar ou gordura. A expressão “zero”, de acordo com Daniela Cierro, surgiu de forma mais comercial que o “diet”, pois este remetia mais a doenças. “No caso de ‘zero lactose’ e ‘zero glúten’, são indicações para aqueles que não podem consumir determinada substância. Nada tem a ver com dietas menos calóricas ou mais saudáveis”, diz Daniela. 4 J U L H O 2 01 7 .

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Além da tabela nutricional, os rótulos trazem também a lista de ingredientes, o prazo de validade, o conteúdo líquido, a origem e o lote do produto. Como o próprio nome já indica, na lista de ingredientes virá a informação dos produtos que compõem o alimento, mas o que quase ninguém sabe é que eles estão na ordem decrescente em relação à quantidade, ou seja, o primeiro ingrediente listado é o que existe em maior quantidade no produto, e o último, em menor. O lote é um número que faz parte do controle de produção. Em caso de algum problema, o produto pode ser recolhido e analisado pelo lote a que pertence. Fica mais fácil também encontrar onde eles estão. Alimentos com data de validade vencida podem causar distúrbios alimentares e mal-estar. Se mesmo após vencidos não apresentam aspecto diferente, é porque provavelmente contêm alto índice de conservantes. Além dessas informações, que normalmente ficam no verso da embalagem, os produtos também trazem alertas às pessoas que possuem restrições alimentares por alergia ou por doença. É o caso dos alertas de glúten e lactose, por exemplo, ou da presença de gordura e açúcar. Traduzidos os termos utilizados nas embalagens, ainda restam nomes como espessantes, goma jataí, carboximeticelulose sódica, emulsificante e outros que encontramos na lista de ingredientes. Quanto a esses termos, a nutricionista e diretora da Associação Brasileira de Nutrição explica que eles são obrigados a estar ali mesmo que as pessoas não entendam do que se trata. “Ao identificar esses ‘palavrões’ nos produtos, tendo três ou mais, oriento que a pessoa faça uma segunda escolha ou crie alternativas de consumo, como valorizar os produtos feitos em casa”, sugere. Para exemplificar, é muito mais saudável para a criança consumir um “picolé” feito em casa de leite batido com fruta do que um industrializado. Pensamento igual tem a gastrônoma especialista em alimentação infantil Luiza Fiorini: “É preciso diminuir o acesso de nossos filhos aos industrializados, e, para fazer isso, é necessário informar e educar a criança. Ensinar a ela sobre todos as atratividades das embalagens de alimentos que nem sempre são os mais saudáveis”, diz. As duas recomendam a valorização da comida caseira e o consumo reduzido de industrializados.

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Valores de referência PORÇÃO: é a quantidade média de alimento que deve ser usualmente consumida por pessoas sadias por refeição. %VD (PERCENTUAL DE VALORES DIÁRIOS): é um número em percentual que indica o quanto o produto em questão apresenta de energia e nutrientes em relação a uma dieta média de 2.000 kcal ou 8.400 kj. Entretanto, os valores diários podem ser maiores ou menores dependendo da necessidade energética de cada um. Os valores médios de referência são: VALOR ENERGÉTICO – 2.000 kcal / 8.400 kJ CARBOIDRATOS - 300 g PROTEÍNAS – 75 g GORDURAS TOTAIS – 55 g GORDURAS SATURADAS – 22 g FIBRA ALIMENTAR – 25 g SÓDIO – 2.400 mg Não há valor diário para as GORDURAS TRANS. É obrigatória a apresentação da medida caseira no rótulo, ou seja, aquela que informa quantas fatias, unidades, xícaras ou colheres, por exemplo, equivalem à porção.  Fonte: Ministério da Saúde / Anvisa

FOTO: FREEPIK

Ingredientes e validade


4padecendo no paraíso

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SOU CASADA HÁ quase 14 anos, só no cartório, sem gracinha nenhuma. Nunca me importei com festa, cerimônia e vestido de noiva. Saio em defesa das noivas, na polêmica das crianças proibidas nas festas, porque entendo o sonho do dia perfeito que muitas têm, mesmo que nunca tenha sido o meu. O “felizes para sempre” é aquele dia, um único dia, um dia que vale para a vida toda e para toda a realidade que virá depois desse sonho. Rotina, supermercado, contas a pagar, rabugices e afins. E depois vêm os filhos, que faziam parte do pacote do sonho, mas que vêm junto com vários pequenos pesadelos diários também. A noiva pensa na cerimônia perfeita e, no dia do casamento, ela só pensa no que os filhos dos outros podem fazer para atrapalhar tudo. Chorar, atropelar garçons, puxar o forro da mesa, derrubar arranjos. Casamento é um momento egoísta, a noiva pensa nela e no que ela sonhou para aquele dia, e pronto. Talvez seja um dos poucos momentos egoístas na vida de uma mulher. Talvez, quando ela tiver seus próprios filhos, quando ela vir como eles podem comportar-se numa festa ou como é difícil conseguir alguém para ficar com eles para que

ela possa ir ao casamento de outra noiva, ela entenda que a escolha poderia ter sido diferente. Hoje ela é a noiva. Hoje o universo gira em torno do seu umbigo, e ela não se importa com o umbigo de mais ninguém. Se ela escolheu um evento sem crianças, respeite a escolha, aceite. Se você não conseguir ninguém para ficar com seus

Bebel Soares e o filho Felipe

filhos, paciência, não vá e explique. Pode ser que hoje ela não te entenda, mas um dia ela vai entender. =

Bebel Soares é fundadora da plataforma de apoio a mães Padecendo no Paraíso. Na Canguru ela fala sobre educação, saúde, alimentação, sexo, inclusão e viagens. www.padecendo.com.br

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FOTOS: [1] MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA [2] PIXABAY

Em defesa das noivas


4viagens, modo de usar

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A beleza do fim do mundo

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arredores, existem várias colônias de pinguins. A poucas horas de carro ou ônibus, rumo ao Norte, chega-se a Puerto Natales e ao Parque Nacional Torres del Paine. Torres del Paine apresenta uma das mais altas concentrações de beleza no mundo. Se você quiser fazer apenas uma excursão visual, leve seus filhos para um dos muitos hotéis existentes, luxuosos ou não, curta a natureza no calorzinho do quarto e saia apenas para conhecer as principais atrações, como a vista de Los Cuernos, um passeio pelo Lago Nordenskjold ou o Glaciar Grey. Talvez vocês até tentem pescar uma truta. Ou acariciar filhotes de nhandu (parecido com a ema) ou de guanaco (que lembra a lhama). Ou acompanhar o voo dos condores. No entanto, a grande pedida para pais e filhos adolescentes é o Circuito W. O trekking dura quatro dias e visita os principais pontos do parque, com direito a cachoeiras, matas, lagos, avalanchas e bichos. Para quem não quer acampar, empresas ofere-

cem refúgios para dormir, em quartos com até 13 camas, onde refeições são servidas em meio a interação de gente do mundo inteiro, de todas as idades. A cada tarde, nos quatro refúgios, ouve-se uma babel de línguas. Do lado de fora, adolescentes curtem o vento, que pode carregá-los e ruge entre as montanhas como locomotiva antiga. As noites de muitas estrelas mostram o Cruzeiro do Sul de ponta-cabeça. O barulho das cachoeiras embala o sono. O pio do torreón, nosso tico-tico, desperta a manhã. A Patagônia chilena pode ter sido o fim do mundo, mas hoje está integrada. Ainda bem, para pais e filhos de todos os continentes. O fim do mundo é lindo.

Luís Giffoni é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos. giffoni@canguruonline.com.br

FOTOS: [1] GUSTAVO ANDRADE [2] PIXABAY

HÁ UM LUGAR na ponta da América do Sul, no Chile, junto ao Estreito de Magalhães, que se chama Fim do Mundo. É um forte abandonado à beira-mar, cercado por troncos de pinheiros. Casas e depósitos cobertos com grama resistem à passagem do tempo. Ali perto, no século XVI, as primeiras tentativas de colonização pelos espanhóis fracassaram. O clima não ajudou. No verão, neva, chove, venta forte, faz sol, volta a chover, gela, esquenta... Por que ir lá, então? A resposta é simples: a região possui algumas das mais belas paisagens do planeta. Encantam, hipnotizam, seduzem, dão vontade de voltar. São montanhas de muitas cores sobrepostas, picos esculpidos pelas eras geológicas, lagos cristalinos, geleiras azuis, florestas de lengas e ñires, às vezes apenas vegetação rasteira com flores vermelhas e amarelas, colunas de orvalho no céu, córregos para matar a sede, pássaros estranhos como o nhandu, manadas de guanacos selvagens, caminhadas em glaciares onde a Idade do Gelo ainda não acabou... Na Patagônia chilena, a história humana se funde à história da Terra. É boa para os olhos e para o espírito. A América do Sul termina num paraíso. Se você e seus filhos gostam de aventura, de vida ao ar livre, de caminhadas, de descobertas, Punta Arenas é a porta ideal de entrada para tudo isso. A cidade possui vários voos por dia para Santiago. Atende a quem exige conforto ou viaja com orçamento apertado. Dali se vê a Terra do Fogo, do outro lado do oceano. Nos

Luís Giffoni


4passeios kids

Itu: diversão tamanho família

abe quando bate aquela vontade de sair do agito de São Paulo para fazer um bate e volta, mas ficamos sem ideia de aonde ir ou do que fazer? Estamos explorando os arredores da capital paulista para ajudar quem quiser dar aquela fugidinha com a família. Um dos lugares que estamos co­ nhecendo é Itu, a cerca de uma hora e meia de São Paulo e é conhecida como a cidade do exagero, por conta dos objetos gigantes que existem lá. A região possui vários atrativos para famílias com filhos, entre eles a Cidade da Criança, o Parque Maeda e a Fazenda do Chocolate. Há ainda uma praça onde estão expostos alguns dos famosos e gigantescos objetos, como violão e pente. Nosso destaque vai para a Cidade da Criança. O espaço abriga um grande parque gratuito com escorregadores, balanços, uma minicidade, gira-gira,

entre outros. E nada, nada de eletrônicos. Aliás, ali os pais revivem um pouco da sua infância, quando o que importava mesmo era se divertir em brinquedos com pé na areia. Há ainda banheiros, trocador (é preciso pedir a chave na recepção) e lanchonete. Algumas pessoas vão dizer que dá para passar o dia no local, e será ótimo (gasta-se pouco, principalmente quem levar o próprio alimento e bebida). Ou­ tras vão dizer que preferem passar mais tempo no local, e, para essas, a cidade de Itu oferece ótimos restaurantes, hotéis e campings para quem quiser passar o fim de semana. A escolha é sua. O que vimos como uma grande vantagem da Cidade da Criança é que o passeio promove a conexão entre pais e filhos, a socialização e o resgate de brincadeiras sem aparelhos eletrônicos, tão importante hoje em dia, além de um passeio diferente fora de São Paulo.=

CIDADE DA CRIANÇA: Rua França, 102, Bairro Vila Roma, Itu – SP Funcionamento: segundafeira, das 10h às 17h, e de terça a domingo, de 8h às 17h Entrada: gratuita Classificação: livre, mas os brinquedos são para crianças de até 10 anos Telefone: 4013-0366

Cá é fisioterapeuta apaixonada por leitura e escrita. É mãe da Júlia, de 3 anos. Tatê é jornalista de formação e blogueira por paixão. É mãe da Luiza, de 3 anos.

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FOTO: DIVULGAÇÃO

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FOTO: GUSTAVO ANDRADE

4para ler com seu filho

Para criar e recriar passarinhos ALGUNS ANOS ATRÁS, o mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, um dos grandes nomes da nossa literatura infantil, escreveu um lindo livro chamado Para Criar Passarinho, publicado inicialmente pela editora Miguilim e atualmente no catálogo da Global. Foi essa leitura que me sugeriu a conexão entre os dois livros da coluna deste mês: duas obras sobre criar e recriar (metaforicamente ou não) os pássaros e seus voos.

leo cunha e os filhos, Sofia e André

“Para criar passarinho, é essencial possuir um arco-íris...”, escreveu o Bartolomeu. Esse trecho me veio à lembrança ao ler o livro As Cores dos Pássaros, de Lúcia Hiratsuka. Inspirada em uma fábula japonesa, a autora nos conta de um tempo em que os pássaros eram todos brancos. Até que um dia a coruja – que possuía o arco-íris em forma de aquarela – decide tingir suas penas, o que deixa os outros pássaros fascinados. O texto poético e surpreendente é acompanhado de pinceladas rápidas, sem retoques, feitas a partir da técnica do sumiê. SOBRE A AUTORA: Lúcia Hiratsuka, paulista, é escritora e ilustradora, com diversos prêmios, como o Jabuti e o FNLIJ.

A ALMA SECRETA DOS PASSARINHOS. Texto de Paulo Venturelli, ilustração de Elisabeth Teixeira. Editora Olho de Vidro, 2017.

AS CORES DOS PÁSSAROS. Texto e imagens de Lúcia Hiratsuka. Editora Rovelle, 2016.

A Alma Secreta dos Passarinhos, de Paulo Venturelli, também nos remete aos versos do poeta mineiro, como: “Para bem criar passarinho, é urgente apenas contentar-se com o desejo de tê-los na palma da mão”. O protagonista de Venturelli é um menino decidido a apanhar nas mãos um passarinho, pois disseram a ele que os pássaros são a alma de Deus voando pela Terra. Porém, quando finalmente segura o bichinho, o menino o aproxima do peito e sente o pequenino coração aflito da ave. Então o menino intui que mais vale um pássaro voando – com seu inalcançável mistério – do que tê-lo na mão, assim como alertava Bartô, a quem a ilustradora Elisabeth Teixeira dedica o livro.

Leo Cunha O escritor Leo Cunha publicou mais de 50 livros para crianças e jovens, como Um Dia, um Rio (Ed. Pulo do Gato) e Cachinhos de Prata (Ed. Paulinas). Recebeu os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como Jabuti, Nestlé e João-de-Barro. leocunha@canguruonline.com.br

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IMAGENS: REPRODUÇÃO

SOBRE O AUTOR: Paulo Venturelli, catarinense radicado no Paraná, é escritor e professor universitário. Elisabeth Teixeira, carioca, já ilustrou dezenas de livros e exibiu seu trabalho no Brasil e no exterior.


FOTO: ALANA / DIVULGAÇÃO

4artigo | Ekaterine Karageorgiadis

Consumismo infantil: problema coletivo e social S

e olharmos ao nosso redor, perceberemos que o consumismo na infância é uma realidade em nossa sociedade. As crianças, mesmo as muito novas, são inseridas em uma lógica de consumo inconsequente e irrefletido que enaltece status, fama e posse de bens materiais em detrimento da construção de valores sociais. Estratégias publicitárias diretamente dirigidas a crianças são importantes vetores dessa ideologia consumista. Por meio de anúncios que trazem elementos cativantes para elas, como celebridades, embalagens chamativas, animações e prêmios, veiculados em televisão, jogos, redes sociais, pontos de venda, espaços públicos e até mesmo em escolas, crianças que vivem em distintas realidades socioeconômicas são seduzidas pelas marcas a querer consumir sempre e a cada vez mais. São valorizadas pelo mercado por sua condição de potenciais consumidoras e influenciadoras dos processos de escolhas daqueles que com elas convivem, sobretudo amigos e familiares. As crianças vivenciam uma fase de peculiar desenvolvimento do ponto de vista biológico, psicológico e social e são mais vulneráveis que os adultos. Não nascem sabendo o que é uma publicidade e qual é a sua finalidade. Com o tempo, vão adquirindo ferramentas cognitivas que lhes permitem diferenciar um conteúdo de programação de uma campanha publicitária e também ajudam a identificar o caráter comercial de um anúncio publicitário. Nesse processo, a mediação de adultos, especialmente familiares e educadores, é fundamental. Mas a questão, certamente, não é só relacionada à esfera familiar ou escolar, pois se trata de um proble-

É fundamental que anunciantes e publicitários deixem de colocar a criança como público-alvo de seus anúncios. ma amplo, de ordem ética, econômica e social. Na prática, é um problema de todos. E é fundamental que anunciantes e publicitários deixem de colocar a criança como público-alvo de seus anúncios e respeitem a prioridade absoluta dos direitos das crianças garantida pela legislação brasileira, inclusive nas relações de consumo. Se a realidade não mudar, continuaremos observando as consequências negativas que afetam as crianças, como obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, agressividade e violência, apontadas em pesquisas e estudos de diferentes campos do conhecimento. Além disso, a lógica consumista está diretamente associada à exploração irresponsável do meio ambiente, que é evidenciada em tantas notícias de desastres ambientais. O programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, desde 2006, olha para esse tema complexo e fala com toda a sociedade para promover uma reflexão sobre a importância de se proteger a infância da lógica consumista, para, assim, ser possível preservar nossa própria humanidade.=

Ekaterine Karageorgiadis é coordenadora do projeto Criança e Consumo, do Alana, advogada, especialista em direito do consumidor e em infância, educação e desenvolvimento social e mestranda em saúde pública. É conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea)

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A relação entre a postura corporal e o comportamento

ILUSTRAÇÃO DO MÉTODO G.D.S., DA BELGA GODELIEVE DENYS-STRUYF

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As crianças de 1 ou 2 anos podem ter dificuldade para parar de brincar, e cabe ao adulto ajudá-las nessas finalizações.

mãe de um garoto de 1 ano e meio me pede ajuda. Relata que seu filho vive correndo, bate nas coisas e cai com frequência. É um menino alegre, que quer participar de tudo, mas que, em grupo, incomoda outras crianças. A mãe diz que o filho parece nunca relaxar e que ela se encontra exausta – o menino resiste ao colo e ao sono. Ela me pergunta: O que fazer? Partindo dessas informações e sem ter observado a criança diretamente, parece que ela mantém um padrão de comportamento no qual o centro de seu interesse está voltado para fora, para o ambiente ao redor. Curioso, irrequieto e, possivelmente, impaciente, esse menino desloca sua atenção de um polo a outro, sem deter-se na observação, nos detalhes ou na manipulação dos objetos – práticas comuns a crianças de até 3 anos. A agitação e a movimentação ininterrupta dificultam que a criança escute os comandos dos adultos e observe suas próprias ações. Trata-se de um desequilíbrio comportamental que pode estar relacionado com a atitude corporal. O corpo e os sentidos voltados para fora de si, fixados no mundo exterior, numa postura de extensão do tronco, são habituais a comportamentos extrovertidos – a postura em flexão, enrolada em torno do próprio centro, pode ter a ver com atitudes introvertidas.

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No caso da extroversão, é preciso orientar os pais a evitar o excesso de estímulos externos e proporcionar situações de concentração, escuta e observação. O quarto deve ter poucos brinquedos, para que a criança possa repetir os jogos com os mesmos objetos. Para dar vazão ao desejo de se movimentar, a piscina quentinha ou o mar no colo dos pais são boas opções. A visita ao parquinho propicia o contato com a natureza, desafios motores e a observação de outras crianças. Shoppings têm muitos estímulos, devem ser evitados. Em seguida, será preciso acompanhar a criança no retorno dessas atividades. Deixar o tablet – da criança e dos pais – de lado. Focar na relação e, assim, ir construindo o final de uma situação e a passagem para outra. Do parque para o banho, do banho para a alimentação e de lá para o soninho, por exemplo. As crianças de 1 ou 2 anos podem ter dificuldade para parar de brincar, e cabe ao adulto ajudá-las nessas finalizações. Falar com a criança com doçura e firmeza e, ao mesmo tempo, tocar seu corpo; sustentar a posição do adulto nos momentos de birras. Colo, abraço, mãos dadas, olho no olho, toque e massagem, sempre que possível. O contorno físico, o agrupamento corporal e a posição de enrolamento são fundamentais para recuperar a alternância de atitudes e o equilíbrio. Para tanto, sugiro a leitura de meus livros Gestos de Cuidado, Gestos de Amor e Mapas do Corpo. =

André Trindade é psicólogo formado pela PUC-SP e psicomotricista com formação em cadeias musculares e articulares no método G.D.S. da Bélgica. Atua em consultório particular e tem implantado seu método de educação corporal em escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro. É autor do livro Mapas do Corpo: Educação Postural de Crianças e Adolescentes (Editora Summus). Canguru

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Disciplinas essenciais PAPAI NOEL, COELHINHO da Páscoa, Fada do Dente. Cedo ou tarde, toda criança empreende sua “Operação Lava Jato” para desmascarar, um a um, os personagens em que acreditou por algum tempo. Já os príncipes seguem ilesos, acordando as princesas com a velha promessa de viverem felizes para sempre. Incrível como ninguém pega os caras. Enquanto isso, seguimos dormindo até a idade adulta, acreditando no impossível. Fazer do amor um ensino fundamental. Já pensou? Não seria tão ou mais importante que aprender logaritmo, decorar a tabela periódica ou saber quantos corações tem um minhocuçu? Aprender que um coração disparado é só o começo. Que a vida a dois é feita mais de cumplicidade que de sorte, mais de decisão que de estrelas. Que tal atividades com bloquinhos de encaixar, ensinando que a construção de pontes pede o desmonte de egos? Lições que alertem desde cedo para o perigo de enxergar no outro apenas o reflexo dos seus desejos. Que ensinem que o amor começa justamente quando o espelho quebra e você é capaz de aceitar o outro assim, do jeitinho que ele é, tão diferente das suas expectativas. E por falar em expectativa, está aí uma boa disciplina para ser extinta. Educar não para a obrigatoriedade da vida a dois, mas para todas as possibilidades, sem roteiros prontos. Ensinar que a felicidade não é um lugar para onde nos mudamos um dia, para sempre. Que a vida é feita de instantes – alguns mágicos, que não nos visitam com tanta frequência; outros banais, como o recheio de pão de ló daquela torta de morango com chantilly. Plantar adultos capazes de tecer almofadas de afeto, preenchidas de espuma boba e inútil – prontas para amaciar a vida mesmo nos momentos em que ela parece soprar a falta de sentido.

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cris guerra e o filho, francisco Treinar o estar presente no momento presente. Exercitar o crescer sem parar de brincar. Amassar os problemas com doçura e força, como quem prepara uma pizza.

Ensinar que a felicidade não é um lugar para onde nos mudamos um dia, para sempre. Que a vida é feita de instantes. Jogos que proponham trocar o feliz pelo contente, palavra cheia de si, capaz de fazer tudo com instantes de nada – mais esperta que alegre, mais sábia que feliz. Desenhar cartazes com caveiras, alertando para os perigos de se formatar a vida para um final feliz. Escrever repetidas vezes que não é permitido fazer o início pensando no final. Aulas sobre a beleza de se permitir mudar de opinião. Lições sobre ouvir mais do que falar. Longos textos sobre a permanência da mudança. Musiquinhas sobre o motor e o alento de acreditar em dúvidas. Provas orais sobre não se levar tão a sério. Noites do pijama domesticando monstros. Talvez seja a memória que me esteja falhando – faz tanto tempo que saí da escola. Pode ser que tudo isso seja mesmo praticado ali, entre as crianças. E o erro esteja em pensar que saímos de lá sabendo tudo. Quanto mais adultos ficamos, mais precisamos voltar a aprender. 

Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna na rádio BandNews FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. crisguerra@canguruonline.com.br




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