Quantificação Preliminar do Aporte de Sedimentos no Baixo São Francisco e Seus Principais Impactos

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QUANTIFICAÇÃO PRELIMINAR DO APORTE DE SEDIMENTOS NO BAIXO SÃO FRANCISCO E SEUS PRINCIPAIS IMPACTOS Wilson Francisco da Silva1 Paulo Ricardo Petter Medeiros2 & Fernanda Godoy Baracho Viana3 RESUMO - Os rios constituem os agentes mais importantes no transporte dos materiais intemperizados do continente para o mar. A construção de barragens em rios modifica as condições naturais do curso d’água, pois regularizam as vazões provocando erosão e assoreamento. O presente trabalho tem como objetivo calcular a carga de sedimentos em suspensão no Baixo São Francisco (período 2007 - 2008), após a regularização da vazão pela Usina Hidroelétrica de Xingó. As vazões e o aporte fluvial encontrados foram comparados com dados pretéritos, para a melhor interpretação dos resultados encontrados. O aporte fluvial atual reduziu-se drasticamente, produzindo um transporte para o oceano de 2,62 x 105 T/ano. Essa carga quando comparada com outros rios do mundo de porte similar é considerada baixa. Dessa forma o rio São Francisco perdeu a variabilidade sazonal e interanual das vazões após a construção das barragens, e com ela, à diminuição do aporte de material em suspensão, além do aumento da erosão marginal, do assoreamento da calha do rio formando bancos de areia e dos impactos na biota aquática. ABSTRACT - Rivers are the most important agents in the transportation of eroded material to the sea. Dams alter the natural course of rivers and stabilize river discharge which in turn leads to erosion and deposition in the river bed. This work aims at estimating the load of suspension material in the lower course of river São Francisco (year 2007 - 2008), after the stabilization of the river discharge following the construction of the Xingó hydroelectric. Discharge and the load carried by the river were compared with historic data base. The current material that is carried by the river is drastically smaller, with a transportation to the sea of only 2,62 x 10 5 T/year. This way, river São Francisco has lost its seasonal and inter-annual variation in its discharge after the construction of the dams which in turn has led to a reduction in the volume of suspension material. The change has also led to an increase in the river-side erosion and it has also increased deposition in the river bed, leading to the development of sand banks as well as to impacts on the aquatic biota. Palavras-Chave: Rio São Francisco – Aporte Fluvial – Vazão Regularizada.

1) Mestrando do PPGRHS do CTEC / UFAL. Campus A. C. Simões, Cidade Universitária - Maceió (AL). E-mail wilsonfs@hotmail.com 2) Professor Adjunto do IGDEMA / UFAL. Campus A. C. Simões, Cidade Universitária - Maceió (AL). E-mail: prpm@fapeal.br 3) Mestranda do PPGRHS do CTEC / UFAL. Campus A. C. Simões, Cidade Universitária - Maceió (AL). E-mail fernandabviana@hotmail.com


QUANTIFICAÇÃO PRELIMINAR DO APORTE FRANCISCO E SEUS PRINCIPAIS IMPACTOS

DE

SEDIMENTOS

NO

BAIXO

SÃO

Introdução O São Francisco é conhecido como rio da Integração Nacional, por fazer a ligação da região Sudeste, a partir de Minas Gerais, com a região Nordeste brasileira, desaguando no oceano Atlântico, entre os estados de Alagoas e Sergipe, ou seja, une duas das principais regiões do país, além de subsidiar a vida econômica dessas regiões com o fornecimento de energia gerado em sua bacia. O rio nasce no Chapadão da Zangaia, a 1.428 metros de altitude, no município de São Roque (MG) onde foi criado o Parque Nacional da Serra da Canastra, em 1972, para proteção de sua nascente. Nessa região não há mais vegetação, sendo praticamente uma planície varrida por fortes ventos, quase desértica. O rio corta cinco estados, já sua bacia hidrográfica abrange sete Estados da Federação, Minas Gerais, Bahia, Goiás e o Destrito Federal, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Percorrendo regiões com as mais diversas condições sócio-ambientais, ou seja, o rio se modifica em seu percurso, com volume hídrico e usos diferenciados da água: energia; consumo; lazer; turismo; e piscicultura. Segundo Medeiros (2003), o rio São Francisco atravessa uma longa depressão encravada entre o Planalto Atlântico e as Chapadas do Brasil Central, seguindo a orientação sul-norte até aproximadamente a Cidade de Barra, quando dirige-se para nordeste até atingir a cidade de Cabrobó, quando inflete para sudeste para desembocar no Oceano Atlântico. O rio São Francisco é o terceiro maior rio do Brasil, com uma extensão aproximada de 2.700 km e descarrega uma média de 2.810m3/s no Oceano Atlântico, além de sua bacia hidrográfica possuir uma área de 639.219 km2, onde habitam cerca de 13 milhões de pessoas, que correspondem a 8% da população do país. Segundo Medeiros (2003) a área da bacia corresponde a 7,5% do território nacional, sendo cerca de 83% dessa área pertencente aos estados de Minas Gerais e Bahia, 16% de Pernambuco, Alagoas e Sergipe e 1% de Goiás e Destrito Federal, além de sua bacia está localizada entre 7º e 21° de latitude S, e 35º a 47° de longitude W. A tabela 2 resume os dados de Área, população e número de municípios, por unidade da federação, na bacia do São Francisco. Segundo Ramos (2003), cerca de 85% da água do São Francisco tem origem nos cerrados e 72% de sua vazão advém do Estado de Minas Gerais. Apesar de atravessar, em sua maior extensão, uma região sujeita ao fenômeno de seca, o Rio São Francisco é perene, pois suas nascentes, bem como as de seus principais afluentes, estão situadas em regiões de chuvas regulares, segundo Godoy (2003). X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

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Bernardes (1951), utilizando a classificação de Köppen, adaptada ao Brasil, demonstrou que o clima do Baixo São Francisco é o AS’ (quente e úmido, com chuvas de inverno). Algumas características geográficas da bacia do Rio São Francisco, com sua subdivisão, encontram-se na tabela 1. Tabela 1 - Médias de altitude, precipitação, temperatura, período chuvoso e extensão, da BSF.

Fonte - Sato & Godinho (1999), apud Costa (2003). O rio São Francisco possui 168 afluentes, entre rios, riachos, ribeirões, córregos, e veredas, dos quais 99 são perenes e 69 intermitentes. O rio possui 36 tributários principais dos quais 19 são perenes. No Baixo São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, quase que não há ligação com rios de médio e pequeno porte, que possa aumentar significantemente sua vazão. Com uma disponibilidade de 64,4 bilhões de m3ano-1, o São Francisco responde por 69% das águas superficiais do Nordeste. A partir de 1950 foram construídas várias barragens ao longo do rio São Francisco (Tabela 2), com a finalidade de geração de energia hidroelétrica. Segundo Oliveira (2003), o rio São Francisco tem uma vazão média anual de 2.850 m3/s, apresentando uma das maiores descargas liquidas do Brasil, porém o rendimento de sedimento por área é um dos menores, devido à construção de barragens em cascata. Tabela 2 - Caracterização das usinas nas regiões fisiográficas do rio São Francisco.

Fonte: Medeiros (2003). X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

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O volume de água acumulado nos reservatórios do rio São Francisco é de aproximadamente 68 bilhões de m3, sendo Sobradinho responsável por cerca de 50% do volume total dos reservatórios do rio São Francisco e Xingó apresenta apenas 6% do volume total, segundo Costa (2003). A Figura 1 mostra a seqüência das barragens e o aproveitamento hidrelétrico do rio São Francisco.

Figura 1 - Seqüência das barragens e aproveitamento hidrelétrico da Bacia do Rio São Francisco. Fonte: Boletim de Monitoramento dos reservatórios do São Francisco. ANA (2008). Os rios são cursos naturais de água doce, com canais definidos e fluxo permanente ou sazonal para um oceano, lago ou outro rio Teixeira (2000). Os rios nascem nas regiões mais elevadas do relevo e despejam suas águas em outro rio, num lago ou mesmo no oceano, e tem como uma das principais funções, o transporte de material erodido do continente para o oceano. Os rios constituem os agentes mais importantes no transporte dos materiais intemperizados das áreas elevadas para as mais baixas e dos continentes para o mar, ou seja, os rios funcionam como canais de escoamento, dentro dos processos aluviais, como: erosão; transporte; e sedimentação, Christofoletti (1980). Os processos de erosão, desgaste mecânico ou químico provocado pela água ou pelo material transportado, transporte, deslocamento do material intemperizado pelo escoamento superficial, e a deposição do sedimento, devido à redução da velocidade e do grau de turbulência da corrente, ocorrem nos rios, em condições naturais a fim de se manter-se em equilíbrio no ambiente. Nas condições de equilíbrio, o rio é capaz de transportar todo material fornecido pelas vertentes, ou seja, aquelas formadas provenientes da erosão fluvial e aquelas providas das enxurradas nos processos pluviais, Bigarella (2003). X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

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Segundo Milliman (1991), os rios contribuem com aproximadamente 70% do aporte total mundial de sedimentos para o oceano. Segundo Medeiros (2003), os rios, além de sedimentos, transportam elementos biogênicos como nitrogênio, fósforo e silicato, tanto na forma orgânica quanto na inorgânica, que são essenciais para a manutenção da produtividade biológica marinha. A construção de barragens em rios implica consequentemente em mudança nas condições naturais do curso d’água. De forma geral, uma barragem reduz a velocidade da corrente e a quantidade de sedimentos transportados, desenvolvendo uma biota lêntica na barragem com perda de espécies e solos agrícolas e empobrecimento da fauna a jusante, com alterações nos pulsos de inundações que alteram o transporte de nutrientes e a turbidez da água, além de provocar o deslocamento de um grande contingente populacional gerando impactos sócio-ambientais. Obras de engenharia em canais fluviais afetam não só a área de influência direta, mas toda a bacia. O rio São Francisco, um dos principais rios brasileiros e o principal rio da região Nordeste, tanto pela sua importância hídrica como pelo desenvolvimento gerado nessa região é exemplo disso, pois sofre a alteração no regime hidrossedimentológico, com a construção, operação e manutenção das hidroelétricas e hidrovias impactando a qualidade de vida da população ribeirinha e da biota da região. Um rio natural possui uma dinâmica hidrológica própria que resulta em uma morfologia peculiar. Qualquer modificação sofrida por este rio, a exemplo da construção de uma barragem, resulta em uma mudança significativa no seu regime hidrológico, sobretudo, em seu segmento a jusante Coelho (2008). As barragens alteram a forma do canal e a capacidade de transporte, causando aumento no fornecimento de sedimentos para o reservatório e conseqüente assoreamento, em virtude da mudança da água corrente pára água parada (lótica - lêntica) e a jusante, erosão marginal, vazão regularizada e deposição de sedimentos (assoreamento). Ao acumular água durante a estação chuvosa, estas represas alteram, expressivamente, a vazão normal do rio e de seus tributários Lima et al. (2001). Ocorrendo a liberação em grande escala da água represada, (aumento da vazão), esta lavará a calha do rio e transportará o material já depositado. Entretanto, o aumento da vazão associado à retirada da mata ciliar e atividades agrícolas na bacia, levará a modificação da descarga sólida, ou seja, atividades ligadas ao uso da terra, práticas agrícolas indevidas e urbanização colaboram com o assoreamento e a erosão marginal. A região do Baixo São Francisco tem sofrido drasticamente com a redução do aporte de sedimentos proveniente das construções das barragens para geração de energia, entre outras coisas. Antes acreditava-se que a falta de sedimentos gerava apenas um problema visual, entretanto foi

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observado que estes sedimentos em excesso pode assorear, provocar inundações, erosão marginal, além de desestabilizar os corpos d’água e a vida ali presente. Muitos impactos podem ser observados no Baixo São Francisco, para verificar basta verificar a quantidade e a qualidade da água ao longo dos anos. Os projetos de irrigação e de geração de energia são os mais impactantes de águas superficiais no baixo curso do rio. As pesquisas, cujos resultados são apresentados, tiveram por objetivo principal quantificar o aporte de sedimentos no Baixo São Francisco e verificar seus principais impactos em seu canal principal. Para alcançar tais objetivos a pesquisa foi dividida em três etapas: revisão de literatura; coleta de dados em campo; e análise e interpretação dos dados adquiridos para a obtenção dos resultados. Metodologia Foi realizada revisão bibliográfica e pesquisa na internet sobre concentração e carga de material em suspensão, características fisiográficas da bacia do rio São Francisco e impactos na construção de barragens, além dos trabalhos publicados pela ANA/GEF/PNUMA/OEA, teses e publicações de terceiros sobre o tema. A área escolhida para a aquisição de amostras no ambiente fluvial, com o objetivo de calcular a concentração e consequentemente a carga de sedimentos em suspensão, foi à região a montante da cidade de Piaçabuçu (AL). Foram realizadas dose expedições para a aquisição das amostras de água, entre agosto de 2007 e julho de 2008, com um barco tipo traineira. As amostras foram coletadas a uma profundidade de sub-superfície, ou seja, em torno de 40 cm abaixo da linha da água com garrafa tipo Van Dorn. O método de Strickland e Parsons (1972) foi utilizado para a quantificação e análise das concentrações de material em suspensão. Esse método foi escolhido em função da analise a ser feita, da quantidade dos sedimentos presentes na amostra e da qualidade do sedimento, Carvalho (1994), e consiste na filtração da amostra com volume de água e peso do filtro conhecidos, sendo este lavado para a retirada dos sais e pesado novamente. Os pontos de coleta, das doze expedições, foram georreferenciados com um GPS do tipo GARMIN e-trex modelo 75. Foram dois pontos de coletas, os resultados de concentração de material em suspensão encontrados foram divididos para chegar a uma média. Todos os resultados apresentados são uma média a partir desses pontos (780500E - 8848375N e 779334E – 8847584N), como indica a figura 2.

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Figura 2 – Localização dos pontos de coleta.

Para a realização do estudo de gabinete, foram analisados os dados hidrológicos (Vazão) consistidos e brutos da estação fluviométrica Traipú (49660000), pertencente à rede hidrometeorológica da Agência Nacional de Águas (ANA). Esta estação situa-se no Rio São Francisco, apresentando uma área de drenagem de 622.600 km2, a qual representa 97,3% da bacia do Rio São Francisco e reflete, portanto, o próprio comportamento da bacia. Além da estação pluviométrica de Traipú (936076). Foram analisados dados de vazões mínimas, máximas e médias. No ano de 2007 os dados analisado foram consistidos, já os dados brutos foram os de vazões de 2008. Para efeito de cálculo da carga de sedimento utilizou-se apenas a vazão média dessa estação, no período de estudo, portanto utilizando dados brutos e consistidos. Obteve-se uma resposta satisfatória quanto ao tipo e qualidade dos dados nas estações analisadas. Com os resultados de concentrações definidos, através de amostragem mensal, quantificou-se a carga de material em suspensão multiplicando a concentração encontrada com a vazão do rio fornecida pela CHESF. CTm = Cm X Q, onde: CTm = carga de sedimentos em suspensão (T/ano) Q = vazão do rio (m3/s) Cm = Concentração individual de cada média de sedimento em suspensão (mg/l). X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

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Com a concentração de sedimentos em suspensão calculada, através de amostragem mensal, esta é assumida como média mensal, por não se ter mais coletas referentes há esse mês, e assim estimada as cargas diárias do material m (toneladas/dia), segundo a expressão a seguir: Qm = 0,0864 * Cm * Q Onde Qm é a carga diária em toneladas, e a constante a seguir é o fator de conversão para toneladas. A carga total mensal é obtida pela multiplicação da carga diária Qm pelo número de dias do mês em questão. Já a carga anual é o somatório das cargas mensais. A distribuição pluviométrica na bacia do São Francisco é diversificada. As regiões do Alto e parte do Médio produz cerca de 75% do escoamento do rio. Já o Sub-Médio e o Baixo São Francisco é muito seco, possuindo distribuição sazonal das chuvas diferentes do alto curso. A figura 3 apresenta a precipitação total mensal da região de estudo.

G rá fico d e D istrib u içã o M e nsa l d e C huva s 50,0 48,0 46,0 44,0 42,0 40,0 38,0 36,0 34,0 32,0 30,0

Chuva (mm)

28,0 26,0 24,0 22,0 20,0 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 06/08/07

05/09 /07

0 5/10/07

04/11/07

0 4/12/07

03/01/08

02/02/08

0 3/03/08

02/04/08

02/05/08

01/06/08

01/07/08

31/07/08

M e se s

Figura 3 – Distribuição da precipitação nos meses de estudo. As vazões máxima e mínima (no período entre 2007 - 2008), observadas em TRAIPÚ (AL), situaram-se, respectivamente, entre 3075,40 m³/s e 1146,69 m³/s, respectivamente, como mostra a tabela abaixo.

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Tabela 3 – Dados de vazões e respectivas cargas no Baixo são Francisco Meses de Concentração Coleta Média mg/l ago/07 set/07 out/07 nov/07 dez/07 jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08

2,55 2,82 2,82 2,79 2,87 1,50 5,65 9,10 7,60 9,63 4,44 8,32

Posto de Vazões Coleta Máximas TRAIPÚ 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000 49660000

2285,00 2884,40 3003,20

3075,40 2711,60 1722,74 1365,99 1517,94 2378,52 1532,15 1662,92 1814,41

Vazões Mínimas

Vazões Médias

Carga Diária (T/dia)

Carga Mensal (T/Mês)

1736,00 2246,20 2324,60 2324,60 1822,00 1260,44 1159,07

2060,30 2629,11 2768,32 2781,35 2252,96 1416,58 1195,77 1197,81 1522,99 1398,75 1491,65 1567,72

453,93 640,58 674,50 670,46 558,66 183,59 583,73 941,77 1000,06 1163,80 572,22 1126,95

14071,68 19217,32 20909,36 20113,83 17318,52 5691,25 16928,09 29194,75 30001,68 36077,95 17166,62 34935,52

1146,69 1171,51 1247,54 1393,03 1379,48

Aporte Total de Sedimentos em T/Ano

261626,59

A figura 4 indica as vazões médias, mínimas e máximas mensais encontradas no ano de 2007 2008, se apresentando de forma heterogênea, com grandes variações entre meses de janeiro a abril.

Gráfico das Vazões em Traipú 49660000

3500

Vazões em m3/s

3000 2500 2000

Vazão Máxima Vazão Mínima

1500

Vazão Média

1000 500 0 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

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Vazões de Agosto de 2007 a Julho de 2008

Figura 4 - Vazões máximas, mínimas e médias mensais fornecidas no HIDROWEB - ANA. As usinas hidroelétricas têm como características comuns, a redução das descargas de águas a jusante em parte do ano, buscando garantir reservatórios cheios nos períodos de estiagens para o fornecimento de energia elétrica. Brandt (2000) aponta que além da descarga da água, o fluxo do sedimento também é afetado com essa regularização da vazão. Dependendo do porte do reservatório, quantidades substanciais de sedimentos de fundo são barrados, passando somente uma pequena proporção.

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Segundo Medeiros (2007), o aumento da vazão intensifica a velocidade do escoamento fluvial, a capacidade de transporte do rio e a lavagem das margens, incrementando o material particulado e dissolvido transportado. Cunha (1995) chama a atenção para os efeitos na linha de costa, em função da diminuição da carga de sedimentos, provocada pela barragem que altera o perfil longitudinal do rio e dos seus afluentes. Se a redução da vazão e da concentração de sedimentos no encontro do rio com o mar for significativa, poderá causar alterações na dinâmica do litoral, podendo desencadear, ao longo dos anos, processos de erosão praial pela redução de aporte sedimentar do rio retido na barragem. Estudos pretéritos mostraram variações na concentração de material em suspensão no rio São Francisco, entretanto, essa variação está relacionada a fatores como vazão, da Usina Hidroelétrica de Xingó, chuvas na região e a erosão das margens do rio. Para Oliveira (2003), o transporte de sedimentos do Baixo São Francisco, fica restrito ao material produzido localmente pela erosão de suas barrancas e a pequeníssima contribuição dos afluentes intermitentes. Dessa forma a variação da concentração encontrada deve está relacionada principalmente a precipitação na bacia e a vazão das usinas hidroelétricas. A figura 5 evidencia o gráfico de dispersão de material em suspensão (MS) contra a vazão, em todo o período estudado.

3000

Gráfico da Distribuição das Cargas Mensais de Sedimentos

Vazão em m3/s

2500 2000 1500 1000 500 0 0,00

5000,00

10000,00

15000,00 20000,00

25000,00 30000,00

35000,00 40000,00

Carga Mensal

A figura 5 - Relação entre Carga de Sedimentos e Vazão As médias da concentração do material em suspensão resultante das doze etapas de amostragem mensal, situados nas proximidades da cidade de Piaçabuçu (AL), variando de 1,5 mg/l em janeiro para 9,63 mg/l em maio, figura 6.

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Gráfico da Concentração de Sedimentos 10

Concentrações em mg/l

9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

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Meses

Figura 6 - Médias das concentrações em mg/l em cada mês de coleta. Todo curso d`água normalmente apresenta um equilíbrio em relação ao transporte de sedimento, seja por arrasto e saltitação junto ao leito, seja em suspensão na corrente, e existe uma tendência natural para que este seja depositado quando o fluxo natural de sedimentos ao encontrar água com menor velocidade (alteração do fluxo) começa a se depositar, conforme a maior ou menor granulação das partículas e a menor ou maior turbulência do escoamento, CARVALHO (2000). A figura 7 faz uma relação da carga de sedimentos com a precipitação e a vazão. Relação entre Vazão, Precipitação e carga de Sedimentos Carga de Sedimentos Vazões 50

Precipitação

45

35000,00

40

30000,00

35

25000,00

30

20000,00

25 20

15000,00

15

10000,00

Precipitação em mm

Carga de Sedimentos T/mês

40000,00

10

5000,00

5

0,00

0 1

2

3

4

5 6 7 Meses do Ano

8

9

10

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Figura 7 – Relação das componentes vazão, precipitação e carga de sedimentos.

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Conclusão Os fluxos (cargas) mensais de material em suspensão não apresentaram uma relação direta com a vazão observada na estação fluviométrica de Traipú. Pode ser observados indícios de correlação com a precipitação da região. O valor mínimo de fluxo ocorreu no mês de janeiro, ficando em torno de 5691,25 toneladas/mês. E o valor máximo ocorreu em fevereiro, sendo verificado um fluxo de 36077,95 toneladas/mês. O São Francisco tem apresentado ao longo dos anos uma diminuição da concentração de material em suspensão entre suas regiões fisiográficas. Comparando a carga (Aporte) de material em suspensão do trabalho atual com dados pretéritos disponíveis temos: Tabela 4 - Dados pretéritos e atuais de aporte fluvial no Baixo São Francisco. Fonte Fluxo de MS

Presente estudo (2007)

Medeiros

Santos

Milliman

T/ano (2003) T/ano (1993) T/ano (1975) T/ano 2,62 x 105 2,28 x 105 21 x 105 69 x 105 Fonte: Medeiros (2003), e dados do presente trabalho.

Em relação aos dados apresentados por Medeiros, o presente estudo apresentou um pequeno aumento. Sabendo-se que o estudo citado foi realizado sob condições atípicas de precipitação e atuação da vazão das usinas hidroelétricas, fica evidenciada a redução drástica da carga de sedimentos ao longo dos anos. Naturalmente, as concentrações e fluxos de material em suspensão de rios, possuem relação com a vazão, Restrepo e Kjerfve (2001), apud Medeiros (2007). O aumento da vazão intensifica a velocidade do escoamento fluvial, a capacidade de transporte do rio e a lavagem das margens, incrementando o material transportado. Os principais impactos sentidos e sofridos pelo rio São Francisco a jusante da barragem de Xingó estão apresentados a seguir: Redução drástica da carga de sedimentos; Controle e redução das vazões; Salinização da água e aumento da temperatura, já que o espelho de água diminuiu; Alteração nas taxas de infiltração e menor disponibilidade d água no subsolo; Entalhe do leito do rio e assoreamento; Processo de erosão marginal e desbarrancamentos; Modificações na dinâmica da foz, além da redução da biodiversidade na região; Impacto na navegação de embarcações abaixo da cidade de Pão de Açúcar (AL); Redução de alimento para animais aquáticos, já que há uma redução de sedimento que adsorve alimento. O rio São Francisco sofreu uma drástica redução na concentração e carga de sedimentos abaixo da Usina Hidroelétrica de Xingó ao longo dos anos. É necessário manter o monitoramento das variáveis descritas e aumentar sazonalmente as vazões, relembrando os antigos períodos de cheia, para lavar a calha do rio e aumentar a produtividade biológica da região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS X Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste

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