Les Solitaires de La Navigation Immobile - traduzido

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Os Solitários da Navegação Imóvel Eles navegam a muitas dezenas de metros acima da água e, às vezes, a muitas centenas de metros das costas. Sob os tetos com lambris, rodeados de opalinas, de marchetaria e cobre, em algumas horas - e durante muitas semanas - esta decoração cinematográfica pode se inclinar em direção ao inferno. Isolamento, frio, umidade. A embarcação oscila com o choque repetido das bagas, geme sob as incansáveis lufadas de vento, durante as terríveis tempestades de inverno. De prontidão na Mancha, no Atlântico e no Mediterrâneo, estes homens nos narraram suas aventuras, suas angústias, suas alegrias. Suas vidas, a dos guardadores de faróis... Por Carine Renié, fotos de Jean Guichard/GLMR. //////////////////////////

Há 14 anos Jean Malgorne toma conta do farol da ilha Virgem, tendo a

companhia da sua cadela Wuckie. Somente as horas de quarto, imutáveis, obstinadas, ritmam a solidão e a navegação imóvel que ele deliberadamente escolheu... À mercê das intempéries e do esquecimento dos homens, os magníficos ornamentos dos faróis degradam-se pouco a pouco: Corduan (acima), a ilha Vierge (no centro) – onde mais de 1.250 placas de opalinas cobrem a gaiola da escada -,e Eckmühl (à direita). “Eu me lembro, narra Jean Malgorne, o mais antigo dos guardiões de faróis do mar, de uma noite inteira passada em vigília, me perguntando se o farol iria resistir. Nós rodopiávamos, eu e meu colega. Isso durou vinte e seis dias. Fomos embora, barbudos e exaustos, por termos ficado imersos na umidade e no frio”. Isso ocorreu durante o invernode 1970, no farol de La Jumente (A Jumenta), ao largo de Ouessant. Michel Le Rhu tem apenas 26 anos, mas já teve a sua dose de tempestades e de dias de sufoco. “Em 1986, na altura de Armen, colocamos as barras de bronze ao chegar. Nós as retiramos dezenove dias depois, quando a turma do novo plantão finalmente conseguiu chegar. Dezenove dias durante os quais as ondas se sucederam golpeando violentamente a estrutura do farol, que estremecia tudo que podia. Aliás, ainda bem que a construção tremia, senão ela teria se partido”! Sentado à sua frente, na cozinha do farolde Kereon, com os cotovelos apoiados na mesa e uma tigela de café fervendo nas mãos, Michel Le Coq escuta seu companheiro e balança a cabeça. Ele se lembrará sempre de uma certa noite, ali em Kereon, quando a porta foi arrombada e as barras de bronze arrancadas pelas vagas. “O mar irrompia pelo interior da torre sem que pudéssemos interferir. A água não parava de subir e de nos invadir. A tempestade durou quase uma semana, O mar


se esfumaçava e as águas passavam sobre o farol que tem quarenta metros de altura! A seguir as duplas vidraças do meu quarto, que fica no segundo andar, explodiram sob o peso de um vagalhão que submergiu tudo ao passar, inundando o piso; e molhando, até o teto,as espessas madeiras de carvalho que recobrem os espessos muros de granito”. Trezentos e sessenta e cinco noites por ano, o farol deve estar imperativamente aceso. Não existe a possibilidade de encarar a menor pane: seria o pânico total para os navegantes. Pontos de referência de todos os perigos – costumase dizer “Quem vê Ouessant vê seu sangue; quem vê Sein, vê seu fim” – os faróis alertam os marinheiros pescadores, os marinheiros comerciantes ou os apreciadores de riscos que se aventuram nestas paragens: recifes isolados, costas estraçalhadas, bancos de areia... Embora não seja encarregado de acender a lâmpada assim que passa uma embarcação, como muitos pensam, o guardião do farol - personagem lírico, mítico e romanesco - evita muitos acidentes zelando pelo bom funcionamento da sua lanterna. Do total de 1.400 faróis e fogos que marcam a costa francesa, somente 116 são vigiados. São obviamente pontos estratégicos e, portanto, frequentemente os mais perigosos; mesmo se alguns guardiões do Finistère distinguem o inferno (Armen), o paraíso (ilha Virgem)e o purgatório (Kereon). Construídos em sua maioria no século XIX ou no início do século XX –com exceção de Cordouan, situado na entrada da Gironde e aceso pela primeira vez em 28 de abril de 1661 – os faróis franceses estão repletos de riquezas. O cobre é onipresente: ao redor das lentes óticas, ao longo das rampas das escadas, sobre as esquadrias das portas e das janelas. Podemos nos perguntar como os vitrais que ornamentam a capela do farol de Cordouan, ou as opalinas que recobrem as paredes da ilha Virgem resistiram às borrascas do tempo. Lambris de carvalho, móveis de época, autênticas camas bretãs fechadas como em Kérouan: os faróis encerram tesouros insuspeitáveis, mas permanecem sendo o inferno. Oito meses por ano, a umidade se infiltra e se instala no interior dos faróis marítimos. As paredes ressumem e gotejam. Os homens, de tamancos, esgotam várias vezes por dia a água que escorre das escadas. A insalubridade é uma ameaça constante e rápida. O guardião de farol não fica à toa: ele mantém os aparelhos óticos, luta contra panes irremediáveis, dá polimento aos cobres, faz brilhar o piso, e fica encarregado da cozinha e da louça um dia sobre dois. Regularmente ele enverniza os tetos com lambris. Uma vez, a cada dois meses, ele limpa toda a ótica – tarefa que ocupa dois homens durante uma semana. E, a cada dois anos, ele refaz a pintura onde ela descascou. “Nem temos mais tempo para colocar, em obra, as embarcações dentro de garrafas – lamenta o atual guardião de Eckmühl. Ele conhece, praticamente, todos os faróis de mar. Foi guardião de Penfret, nos Glénan. E Le Four (O Forno), La Jument (A Jumenta) e Les Pierres Noires (As Pedras Negras), três faróis com péssima reputação na região de Ouessant, em uma época quando os homens ficavam, no melhor dos


casos, vinte dias no mar contra dez dias em terra, sem serem recuperados quando a substituição não podia ser efetuada. “Agora, fazemos três-quintos no mar, ou seja, quatorze dias de serviço: sete em terra e sete no mar”.Atualmente, quase todos os fogos são elétricos, tungstênio ou alógeno. Nostálgico, o homem de Eckmühl relembra o tempo das lâmpadas em arco. “Iniciávamos a vigíliano alto do farol, sob a lanterna. A cada cinco horas, era preciso trocar os carvões. Agora, ficamos aqui em baixo. E, no pior dos casos, acionamos um botão e o farol se acende”. Para os cerca de 300 guardiões ainda na ativa, a automatização em curso representa o fim de uma profissão, um desastre para as edificações e, sobretudo, “uma vasta quimera que está longe de ser funcional”. Um antigo zelador de La Jument relata uma terrível noite de inverno quando os 350 quilos de mercúrio que suportam a ótica transbordaram da cuba de rotação sob o impacto de uma vaga que abalou completamente a torre. Naquela noite foi preciso fazer girar o farol, manualmente, durante doze horas. “Se a mesma avaria tivesse ocorrido em um farol automático, o que teria acontecido?”. Fontes de energia da ótica e frequência das substituições à parte, a vida de um guardião de farol praticamente não mudou desde o início do século (passado). Em 1989, continua não havendo nem banheiro e nem chuveiro nos faróis marítimos. “Pelo menos, nas prisões, eles têm sanitários decentes”, comenta um dos guardiões.A televisão em preto e branco e um aquecimento sumário permitem um conforto muito relativo. Os efetivos são insuficientes: três guardiões titulares em cada farol, mais um agente de trabalhos – entre os quais alguns circulam no mar para substituições durante mais de cem dias seguidos. E, no entanto, candidatos não faltam. Eles se apresentam muito jovens para os concursos de eletromecânico, como se denomina hoje os guardiões dos perigos do litoral. Aos 22 anos, Christian Dubet, independente e solitário, ouviu dizer que estavam contratando para Faróis e Balizas. Hoje ele tem 50 anos e termina a sua carreira no farol de Creach, na ilha de Ouessant... mas não deseja transmitir sua profissão ao filho: “Depois de 15 anos nomar, tenho a impressão de não ter tido juventude. É muito duro. Estamos sempre sós, mesmo quando somos dois. Quando nos entendemos, tudo vai bem, mas podemos chegar às vias de fato por qualquer ninharia ou por problemas na cozinha”. Há os apaixonados pelo mar, como Jacques Riou, há dez anos titular de Pedras Negras, ex-pescador onze meses por ano. Asmático, ele teve que abandonar a sua traineira – consolando-se com esse trabalho de navegante imóvel. Para Jean Malgorne, antigo marinheiro comercial, a serviço de Faróis e Balizas há um quarto de século, e ocupando seu posto na ilha Virgem há 14 anos, trata-se de uma história de família, de uma verdadeira vocação: seu irmão está no cabo Fréhel, seu sobrinho na Giraglia, na Córsega, e sua esposa também foi guardadora. “Antigamente, observa ele com certa amargura, os caras tinham realmente orgulho em guardar um farol.Eles tinham uma verdadeira filosofia sobre a sua profissão. Eles sentiam um real prazer em ficar totalmente afastados da terra e sentiam-se responsáveis pelo seu fogo, Hoje...”.


Hoje, a história desses navegadores imóveis chega ao seu fim. E o progresso devolve, aos seus lares, estes guardiões da noite.

Legendas Piso em ‘parquet’ trabalhado com ébano e mogno, paredes com lambris de carvalho: a decoração dofarol de Kereon contrasta estranhamente com o entorno infernal dos faróis de mar, como o de La Jument (A Jumenta, página anterior) onde pedras negras aparecem na total elevação das marés (à direita). Mesmo se o farol da Vieille (a Velha) funciona ainda com gás de petróleo, a lâmpada alógena se impôs em toda parte, como na ilha Virgem, simplificando o trabalho dos guardiões. Lâmpadas a óleo, a carvão, a vela; ou uma simples lareira a madeira estão decididamente bem longe. Escolher morar perto de uma lâmpada, é escolher a cor da sua vida. Esta citação, de Abraham, extraída de “Armon”, tanto pode se aplicar ao guardião do farol La Jumente, perdido entre o céu e o mar, como àquele da ponta Saint Mathieu, mais “civilizado”...

Tradução: Sylvia Maria Jeanne Pauline Ribeiro |2013


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