Relato da Mesa: Copa 2014 - Violações do direito à moradia.

Page 1

O primeiro relato feito pela Talita nos dá uma dimensão de quão longa e resistente tem sido a luta das Comunidades, que enfrentam há 3 anos a possibilidade de remoção para as obras de mobilidade que serão [e estão sendo] realizadas. Ela conta pra gente sobre o Direito à Cidade, que de tão etéreo em nossa cidade, é preciso que recontemos sempre sobre ele para não esquecer o que significa: o direito de viver com dignidade e justiça social na cidade. Fala que, na legislação brasileira, ele representa uma vitória das lutas sociais da década de 1980. O teórico David Harvey o define como o direito de transformar a cidade. Direito esse que, hoje, poucos tem o privilégio de dizer que possuem na quinta cidade mais desigual do mundo. O direito à cidade, dialético, percebemos, só é possível para todos: se uns não tem, toda a cidade dói. E Fortaleza tem doído muito na última década.

relato | canto-ufc Ciclo de seminários promovidos pelo Observatório de Políticas Públicas - UFC Mesa: Copa 2014 - Violações do direito à moradia. Quarta, 10 de junho de 2013. Convidados: André Luiz - Observatório de Políticas Públicas | Comitê Popular da Copa Talita Furtado - Coletivo Flor de Urucum Maria das Graças - Moradora da comunidade do Mucuripe Alisson - Morador da comunidade dos Jangadeiros Nete - Moradora da comunidade Dom Oscar Romero Penha - Moradora da comunidade Pio XII Lúcia - Moradora da comunidade João XXIII Cássia - Moradora da comunidade Trilhos do Senhor João Batista - Morador da comunidade Rio Pardo Samuel - Morador da comunidade Lauro Vieira Chaves Tiago - Morador da comunidade Caminho das Flores Ribamar - Morador da comunidade Raízes da Praia Ivoneide - Moradora da comunidade Poço da Draga

>> Lembramos dos urbanistas modernos ao citar quatro funções da cidade: morar, trabalhar, circular e lazer. Perguntamos: quantas hoje são possíveis aqui? A violência que nos oprime e enclausura é parte do mesmo pensamento que entende que pessoas são removíveis, que espaços são matéria antes de identidade, construção social e humana. Que o privado de uns deve ser comutado na conta de todos. E, assim, já não moramos, circulamos, divertimos; apenas trabalhamos: para que os uns morem, circulem, divirtam-se. << As remoções forçadas representam violações de direitos não só para a população diretamente afetada, mas para toda a sociedade, pois violam, dentre outros, o direito à participação, uma vez que os projetos que envolvem remoções normalmente são divulgados somente quando já estão concluídos ou em fases bem avançadas e a população não é consultada em nenhuma instância; e o direito à informação, quando estas são omitidas e negadas à população e entidades que as venham a requerir junto aos órgãos públicos. Há, inclusive uma série de imprecisões nos dados que o próprio governo divulga, como é o caso do número de remoções devido às obras do VLT, que flutua entre 1.700 a 5.000 famílias afetadas.

Essa mesa foi a segunda promovida pelo Seminário Copa 2014 e Políticas Públicas. E como a primeira, extremamente rica. Nosso relato é longo, mas tanto mais é a luta de todas as comunidades que ouvimos com atenção dedicada nesta noite.

>> Em Fortaleza, mas no Brasil também, vive-se uma política urbana feita por publicitários, em que projetos viram imagens ultrarrealistas [ou seriam ultraimaginárias?]. E nós, arquitetos urbanistas, que tivemos a ilusão de achar que cidade se faz com planejamento, participação, informação e, só depois, com proposição embasada… << 01


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.