NA ZONA OESTE CARIOCA: A PRODUÇÃO CULTURAL E SUA INSTÂNCIA POLÍTICA Gisele Motta Isabella Leal
Introdução A Zona Oeste do Rio de Janeiro é uma periferia heterogênea, sendo duplamente estigmatizada: além de situar-se longe do Centro, é marcada por problemas estruturais, comuns à boa parte das áreas urbanas empobrecidas, gerados pela “ineficiência” do poder público nesses territórios – ou pior: sua presença necropolítica (2015, MBEMBE). Essa narrativa hegemônica, embora não seja inverídica, não faz jus à complexidade de identidades, territórios, tecnologias e saberes presentes nas periferias. Queremos definir a Zona Oeste a partir de uma abordagem que rompa com os pressupostos sóciocêntricos (DAS FAVELAS, 2017, p. 1) que, de forma hegemônica, são usados para caracterizar as periferias, gerando frequentemente narrativas estereotipadas. Por isso, seguimos as pistas da Carta da Maré - Manifesto das Periferias,1 elaborada de forma coletiva por ativistas populares reunidos em 2017 no I Seminário internacional “O que é a periferia afinal e qual o seu lugar na cidade?”. Como é sugerido no texto, buscamos descrever a Zona Oeste a partir das suas potências e desafios, numa perspectiva de estímulo à autorrepresentação. Para tanto, relatamos experiências pessoais de produção cultural na Zona Oeste, realizadas entre 2017 e 2018. Dois projetos, diferentes em sua forma, conteúdo e organização, são analisados, de dentro para fora, sendo eles: as sessões de cinema brasileiro do Zona de Cinema e as rodas de conversa e festas do coletivo Zona Oeste Ativa (ZOA). O que eles têm em comum é que são experiências de cooperação (DE CLEYRE, 1912, p. 2), caracterizando-se, na qualidade de ações 1
Disponível em 15 idiomas: http://revistaperiferias.org/carta-da-mare/. Acesso em: 18/9/2021. NA ZONA OESTE CARIOCA: A PRODUÇÃO CULTURAL E SUA INSTÂNCIA POLÍTICA
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