Brasiliense da gema

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Brasiliense da gema Brasília é igual coração de mãe sempre cabe mais um. A cidade dividida por nativos e pessoas de outros estados completa 53 anos. Em comemoração ao seu aniversário, reunimos alguns brasilenses legítimos para saber um pouco mais no íntimo, quais aspectos que nossa capital deveria melhorar e o que falta para ser um lugar ideal Por Carina Lasneaux – Fotos: divulgação

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rasília, como não amá-la? Como não se apaixonar pelos traços do arquiteto Oscar Niemeyer? Como não sentir orgulho do urbanista Lúcio Costa pelo seu talentoso projeto- Plano Piloto? Como não agradecer a Juscelino Kubitschek por essa audaciosa empreitada - a nossa Capital da República. Há 53 anos nasceu Brasília, patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, cinquentona com um jeito peculiar e poderosa nas decisões do país. Há 53 anos os olhos do Brasil estavam voltados no centro do Planalto Central com um chamado de esperança, oportunidade e vida nova, tanto para os daqui, quanto para os candangos, sejam eles, cariocas, mineiros, nordestinos, paulistas, gaúchos, entre muitos e muitos outros.

Os brasilienses por natureza sabem o tanto que é bom morar na cidade brasileira com o maior índice de qualidade de vida, ficando na frente do Rio de Janeiro e São Paulo, de acordo com a última Pesquisa de Qualidade de Vida – América Latina, 2012, realizada pela consultoria Mercer. Pontos para a capital. E como nem tudo são flores, escutamos diariamente uma queixa quase unânime para ser a cidade ideal: a falta de praia. Até precisaríamos mesmo pelo fato de termos uma baixa umidade relativa do ar. Mas ainda bem que ganhamos de presente o Lago Paranoá com 48 quilômetros quadrados de extensão. Nos dias ensolarados podemos admirar um céu mítico acompanhado de um espetaculoso pôr do sol. Temos inúmeras áreas verdes, parques urbanos espalhados pelos quatro cantos da cidade, a terceira maior frota de barcos do Brasil, ciclovias para os inúmeros ciclistas que habitualmente costumamos ver quando


passamos de carro pelas amplas avenidas e também um rico turismo ecológico nos arredores. E como dizia Renato Russo na música Faroeste Caboclo: “Estou indo pra Brasília. Nesse país lugar melhor não há”. Nativos em vantagem Milhares de pessoas de outros estados se deslocam pra cá pelos atraentes cargos públicos anunciados todos os anos. Quem é nascido aqui já se acostumou com essa realidade. Brasília é um mix da cultura brasileira com uma identidade particular de cada canto do país. Até uns anos atrás, ainda tínhamos poucos cidadãos nascidos aqui pelo fato da cidade ser muito jovem, comparada a outras capitais brasileiras que tem anos de histo-

rias à nossa frente. Mas passado cinquenta e três anos depois, esse cenário está mudando. Segundo a última pesquisa nacional por amostra de domicílios, realizada pela Supervisão de Disseminação de Informações- SDI/DF do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, revela que no Distrito Federal, o número de pessoas nascidas aqui, está quase chegando perto do número dos não - nascidos que vieram pra cá. A pesquisa aponta que em 2011 os brasilienses natos chegaram a um milhão e trezentos e vinte três mil pessoas, contra um milhão e trezentos e cinquenta e oito mil pessoas vindas de outros estados. Isso que dizer que os brasilienses estão quase chegando lá. Em números, contabiliza uma diferença de trinta e cinco mil pessoas.

Genuíno brasiliense

Gustavo Mainenti, 32 anos, é filho de pai mineiro e mãe carioca. Morou em várias quadras do Plano- Piloto, Sudoeste e Lago Sul. Cursou Odontologia na Unb, mas foi através do convite de um amigo que resolveu atuar no ramo do empresariado e hoje é um dos sócios do restaurante de comida oriental Sushi Way. Define Brasília como a cidade da qualidade de vida e espera poder criar seu filho Gabriel, 3 anos, da mesma forma que foi criado aqui. “É o local onde me sinto à vontade, onde estão meus amigos e que me deu oportunidade de crescer e evoluir como pessoa e profissionalmente. Aqui fui criado livre, jogando bete embaixo do bloco, enquanto primos do Rio de Janeiro praticamente só conheciam seus condomínios”, recorda. Como grande parte dos que moram aqui, Gustavo, também sente falta de uma praia e reforça que Brasília merece um pouco mais de atenção em eventos culturais, peças de teatro e shows de artistas internacionais. Reforça também a questão do abismo social entre ricos e pobres. “É nesse abismo que gera a não percepção dos problemas enfrentados pelos menos favorecidos por parte dos mais abastados, como o caos na saúde, e a escalada da violência. Em Brasília isso se acentua ainda mais por ser uma cidade setorizada, onde esses problemas são postos longe à população mais rica, apesar de cada vez mais se aproximar das Asas e Lagos”.

Foto: Lincoln Iff

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Querido pela sociedade candanga

Tiago Correia sempre estudou em Brasília. Na época da universidade agarrou uma oportunidade de trabalho que abriu portas para trilhar o seu caminho profissional. Atualmente é um dos mais conhecidos organizadores de eventos sociais e coorporativos da capital. Com apenas 28 anos, o empresário conquistou o seu espaço com um grupo especial de clientes que confiam de olhos fechados na sua forma diferenciada de produzir e executar o seu trabalho. “Sou feliz em ser um profissional acreditado na cidade onde nasci. É gratificante ter a oportunidade de trabalhar com colegas e principalmente amigos de infância”. Tiago ama a arquitetura, o plano urbanístico e o Lago Paranoá e conta que a cidade já abriu espaço para restaurantes consagrados do eixo Rio e São Paulo. “Brasília já é um lugar ideal e precisa manter-se limpa, florida, conservada e de braços abertos ao que tem de bom por ai. É preciso uma reflexão séria sobre o trânsito que vem comprometendo nossos horários”, justifica

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Orgulho de ser daqui

Foi nas 400 da Asa Norte que Pedro Costa subia nas árvores, jogava bola, brincava de corrida de tampinha e bolinha de gude na infância. Estudou nos colégios Carmen Salles e Leonardo da Vinci onde mantém até hoje grandes amigos que são como uma família. Alguns anos depois resolveu morar na Austrália e ficou por lá durante dois anos. Recebeu uma proposta de trabalho irrecusável para nunca mais voltar ao Brasil, mas resolveu ir embora e ficar definitivamente na sua cidade de origem. Hoje com 28 anos, é sócio- proprietário da Basic Collection e sente orgulho de ser dono de uma empresa cem por cento brasiliense. “Sou nascido, criado e apaixonado por Brasília, não pretendo mais sair daqui e mesmo ao expandir a marca para fora da capital, levaremos sempre essa identidade candanga”. O empresário sente falta de praia e de uma infraestrutura eficiente. “Sinto falta principalmente do transporte público e energia de qualidade. A educação precisa de muito apoio, pois considero que para o desenvolvimento de uma cidade, a educação é primordial”, comenta.

Sonho concretizado

A nutricionista, especialista em estética corporal e facial, Priscilla Baracat, 30 anos, saiu apenas uma vez de Brasília para fazer duas especializações e alguns cursos na área de estética em São Paulo. Voltou em 2008 e colocou em prática o sonho de abrir a sua própria empresa, a INTI – Estética, Nutrição e Bem Estar. Seu negócio vem se destacando e Priscilla se considera feliz profissionalmente e também no amor. Em breve irá se casar com uma pessoa especial que almeja os mesmos sonhos que o dela. Para a empresária, a capital significa, amor, tranquilidade, estrutura e visão de futuro profissional e familiar.” O governo deve ficar atento com o trânsito, violência e políticos. Uma praia também não seria nada mal, mas racionalmente falando, acho que a saúde fica muito a desejar e infelizmente a violência está em alta, o dinheiro público deveria ser melhor aproveitado”, avalia.

Foco empreendedor

Marcelo Pandolfi, 38 anos, é considerado um típico brasiliense. Foi criado brincando embaixo dos blocos e nas quadras residenciais com os amigos. Sempre se destacou no esporte e nos fins de semana era presença confirmada em clubes e no parque da cidade. Cursou Engenharia Elétrica na Unb e mesmo antes de se formar, o lado empreendedor falou mais alto. Sua primeira empresa foi a Eventos LM que na época foi uma das principais no ramo de casamento.

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Não satisfeito, cursou Direito no UniCeub com a intenção de se preparar para o que realmente gosta de fazer: empreender. Durante esse tempo realizou dois sonhos: constituir uma família e montar o seu próprio restaurante. “Com a influencia do meu pai que cozinhava pratos elaborados e algumas experiências de eventos, surgiu a oportunidade de fazer o sonho acontecer: um restaurante antigo e com um potencial de sua localização. Optamos por seguir uma linha de trabalho que imprimisse o que Brasília deixou marcado em mim: ousadia, vanguarda, otimismo e planejamento”, descreve. O empresário é proprietário do Restaurante Esquina Gourmet – Peixes e Frutos do Mar, localizado na Vila Planalto.

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Para Marcelo, Brasília já é um lugar ideal e se sente tranquilo para criar suas filhas e desenvolver um trabalho diferenciado. “Como qualquer cidade, não estamos livres de problemas como transporte, saúde e educação. Nos quesitos cultura e esporte ainda temos que evoluir. Acho que o crescimento acelerado e exagerado do DF é um dos grandes problemas que enfrentamos. Se pudermos investir nas cidades satélites para que as pessoas trabalhem com dignidade mais perto de suas casas e diminuirmos o ritmo dessa expansão, criaríamos melhores condições para o empreendedor local”, pondera.


Mestre da guitarra

Nos anos 80 durante a sua adolescência, Kiko Peres, já tocava em bandas e estudava com o guitarrista Nelson Faria na Escola de Música de Brasília. Em 1991 decidiu estudar música no G.I.T – Guitar Institute of Technology em Los Angeles na Califórnia. Formou- se no ano seguinte. Retornou à Brasília, começou a dar aulas e trabalhou como integrante da banda Pravda. Em 1996 foi convidado a tocar na banda de Reggae Nativus, atualmente conhecida em todo o Brasil como Natiruts. Gravou os três primeiros álbuns e permaneceu na banda até 2002. Após sua saída resolveu alçar uma carreira independente. Voltou a dar aulas de guitarra, lançou discos, um DVD solo instrumental e participou de diversos tributos aos magos da música internacional, como Jimi Hendrix, Led Zeppelin e Bob Marley. Desde 2007 trabalha em parceria com o cantor Joe Torquato e neste ano os brasilienses receberam uma boa noticia: Kiko Peres voltou a tocar com o Natiruts Com 41 anos, o músico e produtor musical já morou no Rio de Janeiro por um ano, mas essa experiência só serviu para reafirmar que Brasília é o seu lugar. “A cidade cresceu rápido e sem planejamento, portanto começa a ter os mesmos problemas das grandes cidades, como violência e trânsito. Falta ter um sistema de ciclovia descente sem acostamentos, as pessoas daqui gostam de praticar esportes e tenho certeza que muita gente ia aderir. Certamente iria melhorar o trânsito e a poluição, mas no momento a maioria não quer correr o risco de disputar a rua com carros e ônibus”, adverte.

Precursora da moda

Nascida e criada aqui, Janaína Ortiga Abi-Ackel, 38 anos, é uma das empresárias de moda mais conhecidas da capital federal. Formada em Administração de Empresas pela faculdade AEUDF, já atuou na Caixa Econômica Federal e Xerox do Brasil. Em 1994 abriu a Ortiga que cresceu pelo o bom gosto de suas peças e atualmente é reconhecida pelo público como uma das marcas locais mais lembradas pelo consumidor. “Brasília para mim representa conquista e a comprovação de que sonhos são possíveis de serem realizados. A sua construção é a prova disso”, descreve. Há sete anos, desde que se casou, Janaína divide sua rotina também por Belo Horizonte. A empresária comenta que a nossa cidade infelizmente cresceu mais do que o planejado por Juscelino Kubitschek que a via somente como cidade administrativa. “Este crescimento, inevitável, entretanto, acabou sendo desordenado. E como Brasília acabou se agigantando, os problemas das grandes cidades também estão presentes. A capital necessita de mais segurança e eficiências no transporte, na rede pública de ensino e na rede hospitalar. Desejo hoje uma Brasília de antigamente. Uma cidade que nos enchia de orgulho por nossas ruas limpas e seguras e pela nossa qualidade de vida”, conclui.

Defensora da capital

Atualmente se dedica ao quinto semestre de Direito e está se preparando para atuar como Defensora Pública com intuito de ajudar comunidades e famílias carentes do DF. Karina teve grandes oportunidades de viajar para muitos países e ressalta que não conhece lugar melhor para viver do que Brasília. “A cidade é perfeita, não tem defeito, apesar dos problemas que temos como qualquer outro grande centro no Brasil. A qualidade dos serviços públicos essenciais, tais como, saúde, segurança, educação e transporte precisam ser melhorados. Já está na hora de termos a nossa própria universidade pública Distrital, além da Unb, para que nossos jovens, especialmente aqueles das escolas públicas, possam ter oportunidade de fazer um curso superior nas próprias cidades onde vivem”, aconselha. E quando perguntada o que a cidade representa pra si, Karina não poupa elogios. “Brasília é minha história, minha vida”. Defendo minha cidade com unhas e dentes. Quem mexer com ela mexeu comigo!’. Consultoria Mercer: (11) 3048-1800 (21) 3806-1100 www.mercer.com.br IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SDI- Supervisão de Documentação e Disseminação de Informações - DF (61) 3319-2157 (61) 3319-2149 www.ibge.gov.br

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Filha de pioneiros que chegaram em Brasília antes mesmo de ser inaugurada, Karina Curi Rosso, 42 anos, foi a típica menina brasiliense dos anos 70 que ia com os pais para a esplanada dos ministérios jogar milho para os cisnes do espelho d’água na Câmara dos Deputados. Foi estudante dos colégios Rosário e Objetivo e graduou-se em Administração de Empresas. Começou a trabalhar cedo nas empresas da família como diretora de varejo, Rh e Marketing. Casou em 1995 e morou por um tempo em São Paulo, mas felizmente voltou as suas origens. É mãe de quatro brasilienses: Roberta, Karen, Lorena e Henrique. Casada com o ex - governador de Brasília, Rogerio Rosso, a ex -primeira dama participou em tempo integral de atividades políticas e sociais.

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