2014 Carissimi, João
Capa Fotografia: Ângelus – João Carissimi Homenagem ao Amigo Ângelo Demutti de Oliveira (In Memorian) Local: Parque/Balneário de Thermas/Termas de Ibirá, Ibirá, São Paulo, Fev/2014
Editoração João Carissimi
Revisão João Carissimi Smirna Cavalheiro [O Paraíso de Alfredo] – Crônicas - 2014 / João Carissimi. Capa: Ângelus / Parque Termas de Ibirá, São Paulo, Fotografo João Carissimi. Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 17 de dezembro de 2014.
João Carissimi relações-públicas, conrerprs n. 969 E-mail jocaribr@yahoo.com.br
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Bom dia! Esta edição de crônicas O Paraíso de Alfredo é resultado primeiro da “esperança” de publicar um dia um livro a partir da uma reflexão sobre o título “O Paraíso de Alfredo”. Os textos aqui apresentados, a partir do primeiro, suscitaram o desejo por escrever também outras crônicas vivenciadas e experimentadas no dia a dia, seja com objetivo de divulgar uma atividade, partilhar informações e manter relacionamento com os públicos de interesse. Assim, tudo isso permite talvez refletir sobre a proposta do que seja, esse tal de Paraíso de Alfredo? Estes textos representam uma diversidade sobre “olhar” de Alfredo, o que de certa forma reflete o interesse do autor por uma formação que possa permitir um “reolhar” sobre o mundo-vida, e quão é importante a construção do cotidiano, o espaço e tempo permeado pela vida – a vida que pulsa desde o primeiro instante, e que, também morre com passar do segundo momento, para renascer no dia seguinte. A proposta de reunir e organizar os textos pode dar suporte “quem sabe ao livro “O Paraíso de Alfredo”, por hora temos uma reunião de textos, uma nova produção literária. Com isso, pode-se despertar o interesse por parte de alguns leitores, bem como do mercado, para a uma futura demanda, expressa em diferentes dispositivos de divulgação – agora no Blog Aida Comunicação e Marketing, >http://aidacomkt-carissimi.blogspot.com.br> portfólio no ISSUU, >http://issuu.com/carissimi>, além disso, fotos no sitio Olhares, por exemplo, a foto da capa >http://olhares.uol.com.br/angelusfoto5855662.html> , entre outras que, o autor divulga o seu hobby, ah é só conferir! Apresento os textos. 4 - O Paraíso de Alfredo 7 – Por um fio, Cecília Meireles 8 - Meus livros roubados comprei em livraria de Sebo 12 – “Tio”, tem um real aí? 13 - Eu tenho uma namorada 16 - Salve as minhas cinzas. 19 - Manchas vermelhas pequenas 20 – O jogo do Eu 24 – Tri atucanado 25- A mãe já estava morta havia quase 18 anos Boa leitura! João Carissimi
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O Paraíso de Alfredo Porto Alegre. Madrugada agradável. Hoje, dia 7 de janeiro de 2014, acordei às 5 horas com uma simples frase “O Paraíso de Alfredo”. Como explicar isso? Não sei. Acordei com essa mensagem na cabeça: “O Paraíso de Alfredo”. Pronto! Sei que essa alusão foi repetida por várias vezes: “O Paraíso de Alfredo”. “O Paraíso de Alfredo”. “O Paraíso...”. “...de Alfredo”. Comecei a pronunciar baixinho: “O Paraíso de Alfredo”. Estava certo que esse tal de “Alfredo” não poderia me ouvir. Quem é Alfredo? Não sei. Não me lembro de ter conhecido alguém com esse nome. Rápido pulei da cama. Sim! É um pulo já que é cama com baú. Além disso, escrevo a frase em rascunho. “O Paraíso de Alfredo”. Está registrado. E após lavar bem o rosto, comecei a pensar no que tinha escrito, ilustrado e pensado. Inicio a fazer algumas relações. Alfredo? Será um vizinho, amigo, colega da escola, da faculdade, do trabalho, celebridade, político “corrupto”, professor, jogador do Inter, escritor do livro “A Agenda”? Não! Acabo de ler o livro de João Varella. Aconselho, boa leitura! João, onde quer chegar? Em seguida pensei em nomes que iniciam com letra “A”, tenho admiração, amizade e um carinho especial. Admito que exista uma afinidade com nomes que iniciem com “A”. Carinho e uma ótima boa impressão. Aqui listo alguns nomes que lembrei o primeiro nome e ordem alfabética – nomes repetidos – uma única citação – de todos lembro muito bem, o tempo o espaço, o registro, o bate-papo, o mundo-vida, atividades, os gestos, os sinais, o discurso, o abraço, o beijo... Caso tenha esquecido alguém, perdão. Adelaide, Adelino, Ademir, Adriana, Adriano, Adriene, Aida, Airton, Alan, Alba, Alcedir, Alcina, Alex, Alexandra, Alexandre, Alexandro, Alice, Aline, Altair, Álvaro, Amábile, Amanda, Amilton, Ana, Ananda, Anastácia, André, Andréa, Andressa, Ane, Ângela, Ângelo, Anilton, Antônio, Arcângelo, Ariana, Ariel, Arlindo, Arquimedes, Artur, Arturo, Asuerio, Augusto, Avelino, Ayenne, e Aylén. Hoje, mais um nome: Alfredo. Não em carne e osso. De onde surgiu o nome do Alfredo? Mais uma tentativa. Nome de filme, música, rua, cidade e/ou pessoa que eu tenha conversado, atendido, trocado mensagens nos últimos dias. Não! “O Paraíso de Alfredo”. Abandonei a frase por algumas horas... dias. Deixo sempre repousar frases, ideias, palavras, textos, fotografias, números e desenhos. Deste modo, me sossego. Portanto, fico mais pensativo e novamente retorno a escrever. Agora com mais detalhes. Desta forma, tento entender a mensagem – a qual foi motivo da minha preocupação. Revelo que fiquei curioso com a frase “O Paraíso de Alfredo”. Perturbei-me. Por isso, hoje, dia 22 de janeiro, terça-feira, faço mais uma tentativa para detalhar o assunto. Com o passar do tempo, deixei a minha mente livre – com direito de ir e vir – busquei mais informações – madurou, ganhou mais corpo – esta mais viva a frase “O Paraíso de Alfredo”. Assim, apago, escrevo, pesquiso,
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penso, troco informações com amigos e desconhecido sobre a frase “mal” e “bem” dita: O Paraíso de Alfredo. Além disso, me ocupo com o desconhecido, o inesperado, o desafiador – curto muito tudo isso. Trafego, procuro, imagino, navego na busca de uma solução. Às vezes, pode-se ter uma solução. E sobre o paraíso? Sei que nunca estive por lá. Se é que existe, mesmo? Também, não saberia e não gostaria de descrevê-lo, pois acredito que quem tenha feito isso, tive como base apenas as suas sensações – o seu lugar de fala, ou seja, o seu paraíso, o que imagina ou que viveu. Quanto ao “inferno” esse sim poderia detalhar e descrevê-lo. O inferno está presente 24 horas. E, todos o conhecem de uma forma ou de outra – presente no cotidiano e no mundo da vida – o inferno é aqui. Aqui é o purgatório. Agora, o título “O paraíso de Alfredo” provocou uma visita à Livraria Cultura. Estava eu e o sobrinho com um atendente a indagar a possibilidade de haver “O Paraíso de Alfredo” como título de livro. A surpresa foi ótima. Até o momento não existe nenhum livro com esse título. Em seguida pensei na possibilidade do título “O Paraíso de Alfredo” ser o meu primeiro livro – a definir o contexto, mas publicado e impresso. Pois, é – logo disse o meu sobrinho. Enquanto isso o atendente sorriu e confirmou – com um leve movimento da cabeça. – Gostei da possibilidade do título “O Segredo de Alfredo”. Escrever é preciso, mas quem sabe antes registrá-lo de alguma forma. Como? Aqui. Depressa, registro “O Paraíso de Alfredo”, às 22h42min, terça-feira, 22 de janeiro. Depois de assimilar bem o título e sem entender bem o seu significado por completo, fiz algumas tentativas para mudar o referido título. Primeiro, “O Paraíso de João Alfredo”. Explico. Percebi ser muito autobiográfico “O Paraíso de João Alfredo”. Segunda opção “O Inferno de Alfredo”. Já que o mundo-vida está mais para inferno e vende mais com esse apelo. Não gostei. No terceiro momento, começo a compreender o processo, o cenário, o tempo e espaço, o personagem, a narrativa – e por esse caminho fico por mais de duas horas a fazer rabiscos, anotações e esquemas, por exemplo: o personagem Alfredo, pode ser no formato de um monólogo. Até pode ser. Quanto ao cenário, primeira opção o paraíso. Mas é sempre difícil falar do que não conhecemos. Também nunca experimentei, provei, testei, peguei, ensaiei ou compreendi esse tal de paraíso, muitas vezes descrito por tanta gente presente ou de passagem. E, qual será o tempo? Horas, dias, meses, anos, décadas? E, novamente, por falar do espaço? O lugar de Alfredo? O Mundo-vida? O cotidiano, De onde? A sala de aula? O espaço público, por exemplo, a praça e seu correto. A avenida, a rua, a viela? O bairro? A cidade? O Estado? A Casa? O quarto, a sala, a cozinha, o banheiro? E ou do Local de trabalho? Isso tudo me faz percorrer mais e mais o imaginário e todas as possibilidades que requer um bom romance, uma crônica – qualquer gênero. As minhas primeiras anotações podem dar conta de tudo ou nada: o título – “O Paraíso de Alfredo”. – Legal!
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Também tenho o primeiro personagem: Alfredo. Um nome já é certo: Alfredo. O significado? Quem sabe comento no livro. Retorno ao espaço, o lugar de fala do Alfredo. Onde será o seu chão? Paraíso. Fica bem. Mas, pensei em chamá-lo de Osíarap. Sim! O lugar da narrativa – batizei de Osíarap. O Significado? Não sei. Fica para depois. O tempo, ainda é incerto... A infância, adolescência, trintão, quarentão, cinquentão, e no pior dos mundos – a tal melhor idade. Fui à busca de mais elementos. Lembrei que me contaram, bem como já fiz leituras a respeito do Paraíso da Bíblia: onde neste lugar Deus colocou um casal a viver a plena felicidade: Adão e Eva. Opa! Já posso ter mais dois personagens. Lógico que vou mudar o nome. Qual será? Não sei. Aceito sugestões. Como se chamava o paraíso? Éden ou éden? O cenário se chamará Osíarap. Sim! Osíarap. Agora deixo tudo a dormir. Eu também quero me sossegar. Preciso amadurecer tudo isso, e melhor entender a mensagem recebida. E, quem sabe um dia eu possa contar o fenômeno vivenciado, praticado, escolhido, por Alfredo. Assim, construir um cenário, dar vida aos personagens, contar uma identidade, narrar um discurso repleto de paixão, ódio, razão, inveja, amor, responsabilidade, a ético, tecnológico ou não, impregnado de paixão, fantasias, mentiras e verdade, questão do público e do privado, a vida e passagem, a transformação, o silêncio... Onde parar? Eu não quero empacar.
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Por um fio, Cecília Meireles
Sem que se mova um pé. Por um fio, o retrovisor da Kombi no meio fio, obriga a dar uma ré.
A revista da cultura sustenta Cecília de bolso e, na sacola plástica duas bergamotas.
É, segunda-feira, esquina João Pessoa - Venâncio Aires. Por um fio, Cecília Meireles, no meio fio, quase vai ao chão.
Por um fio, - Cecília! Não iria dar os ares agora à tarde, na Redenção.
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Meus livros roubados comprei em livrarias de Sebo os livros estavam identificados e rabiscados pelo seu ex-dono Em 1989, estava em Porto Alegre e cursava especialização Administração em Publicidade/Propaganda e Relações Públicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Nesse ano, fiz uma busca nos classificados da Zero Hora para conseguir um quarto de aluguel. Várias tentativas, telefonemas, visitas a vários lugares, e acabei por encontrar um na Rua General Vitorino, centro de Porto Alegre. A dona Zoila me recebeu e se tornou, durante o ano que passei a residir no seu apartamento, uma grande amiga. Foram muitos momentos de música, ela cantava e dançava Flamenco. Vez que outra, um bate-papo sobre o curso, o mercado de trabalho, a vida, a família e, em especial, sobre quem chegava e saía do apartamento, pois com frequência a Zoila alugava outros quartos. Acredito que eu tenha ficado mais de seis meses pagando o aluguel de um quarto, que tinha frente para a rua e podia assim ver alguns ensaios de alunos da escola de dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Como não tinha bolsa de estudos, custeava os meus estudos, comida, aluguel com as minhas próprias economias, poupança, e FGTS, resultado de dois anos de trabalho como assessor de relações públicas no Grupo São Luiz, em Caxias do Sul. Para suprir algumas necessidades e poder continuar o curso eu tinha que, às vezes, fazer trabalho de free lancer como guia turístico para a empresa Porto Seguro Agência de Viagens. Foram muitas viagens rodoviárias pelo Brasil. Na ocasião, fui fazer uma viagem para o Rio de Janeiro, com passagem por Curitiba, antes, e na volta do Rio fomos para Ilha Bela/SP, e, antes de chegar a Porto Alegre, dia e noite – Paranaguá e Caioba, no Paraná, e a travessia para Caraguatatuba, no Estado de Santa Catarina, e finalmente Porto Alegre. Faço esse momento de localização, pois dias antes recebi um novo colega que iria dividir comigo o quarto. Na ocasião, Zoila veio me apresentar o rapaz que iria morar no apartamento e dividir comigo o quarto. Ele chegou com uma mala e vestia uma calça jeans com uma camisa listrada vermelho e branco. Disso eu me lembro muito bem, pois por vários dias ele vestiu a mesma roupa e nunca abria a mala colocada debaixo da cama beliche, sendo que no quarto tinha um roupeiro, onde ele poderia ter guardado as suas roupas. No primeiro dia, ele já me convidou para ser padrinho de casamento, isso me pareceu muito estranho. Estranho foi que todos os dias, durante aquela semana, ele me convidava para ser padrinho do seu casamento. Mostrava a sua aliança de noivo e queria a minha confirmação. Confesso que fiquei confuso. E não tinha por que confirmar. Não! Não, eu pensava e respondia. Não deveria aceitar – é claro que seria uma honra o convite, mas quando se tem
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uma história de vida com o noivo/a e família. Nem da família ele era. Muito menos eu conhecia a noiva. Não tínhamos sido amigos de infância, colegas de sala de aula e ou de trabalho. Durante o convite ele – manifestou que estava encantado, apaixonado pela guria, e que foi amor à primeira vista. Namorava há uns três meses. E que a futura esposa era filha de um proprietário de posto de gasolina, que ficava na Av. João Pessoa, próximo de um clube de dança. Não sei se hoje ainda existe. Será que ele conheceu a moça no Clube de Dança? Percebi que o rapaz era muito rápido em tudo, recém tinha chegado de Pelotas e já tinha noivado. Tinha um bom discurso. A sua oratória era convincente. Nesses dias, é claro que ele ficou bem à vontade em casa, pois retornava das minhas aulas de inglês e o encontrava no quarto. E novamente ele me convidada para ser padrinho de casamento. Tornou-se um chato. Com isso, eu comecei a respeitar os sinais: convite para casamento, horário comercial ele estava sempre em casa, vestia sempre a mesma camisa vermelha listrada, nunca tinha aberto sua mala, não guardou nada no roupeiro, e tinha uma pasta – a qual dizia ser seu instrumento de trabalho, pois era representante comercial. Procurei a dona Zoila e tentei argumentar algumas questões, após relatar o que eu achava sobre o novo colega de quarto, entre elas: – Você fez uma pesquisa sobre o rapaz? Emprego? Família? Consultou referências? Confirmou o emprego do rapaz? Confirmou a questão do namoro e do casamento? Ela, taxativa, respondeu: – Fiz tudo isso. Ele é um bom rapaz. Por que, João? Você está duvidando de mim e dele? Só porque ele usa sempre a mesma camisa, ou porque ele é “negro”? João, você é preconceituoso? João, você é racista? – Não, claro que não!!! Nesse momento pensei que meus argumentos não iriam levar a nada, e fui trabalhar. Então, surgiu a viagem de 15 dias para Rio de Janeiro. No roupeiro tinhas minhas roupas, e em uma caixa, alguns dólares (sei que não deveriam estar aí), mas como fiquei por vários meses sozinho no quarto até me esqueci deles, bem como vários livros de comunicação social, em especial de Relações Públicas, entre outros pertences pessoais. A viagem foi ótima, o grupo de turistas muito bom, o Rio de Janeiro, que pela décima vez tinha estado lá, continuava a Cidade Maravilhosa. Antes do Rio, Curitiba, encantador foi jantar no bairro da culinária italiana e a viagem até chegar a Ilha Bela, os dias em Ilha Bela, o retorno para o continente e a viagem para Caraguatatuba, foi tudo belíssimoooooo... Encantador, inesquecível, como é toda viagem. Ao chegar em casa, fui para o quarto, rapidamente, abro a mala, e começo a guardar minhas coisas, separar roupas para lavar, etc. Ao abrir o roupeiro, surpresa!!!! Surpresa! Rapidamente percebo a falta de alguns livros, já no primeiro olhar vou para a caixinha e verifico a falta do talão de
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cheque, dos dólares e então também algumas camisas não estão mais aqui. Fui roubado. Expresso em tom bem alto fui roubado... Roubado... Olho para o beliche e me abaixo, a mala do rapaz ainda continua por aqui. Perplexo, pois preferi que ele tivesse ido embora. Vou para cozinha e encontro a Dona Zoila. Conto o que aconteceu, e lhe digo que tenho que ir rápido ao Banco do Brasil, sustar os cheques, antes que o banco encerre as suas atividades e registrar ocorrência em alguma delegacia de polícia mais próxima. Ela ficou assustada: “João, o que eu faço?”. “Te tranca.” “Mas ele tem a chave.” “Grita que a polícia está chegando. Sei lá, vai até a portaria e comunica o fato.” “Pra quem?” “Não temos portaria 24 horas? Então, fica quieta e te tranca aqui na cozinha, enquanto eu vou resolver a questão.” Ele não poderia roubar mais na no meu quarto senão roupas. Fui ao banco e constatei que alguns cheques já tinham sido compensados, ele falsificou a minha assinatura. De onde ele poderia ter copiado a minha assinatura? Fiz o registro na delegacia, e retornei para casa, creio que era próximo das 18 horas... Bato, bato, toco a campainha, toco a campainha – Cadê Zoila? Demorou, mas ela espiou e abriu a porta, rapidamente, entro, conversamos e mostro todos os registros. Bom, vamos tomar um café e falamos sobre tudo, o roubo, a minha viagem, a semana de trabalho da Zoila, entre outras conversas e gargalhas. Como diz o ditado, depois do “leite derramado” não há o que se fazer. Ficamos na cozinha. Pensamos como poderíamos agir quando ele retornasse, mas confesso que ambos pensamos que ele não voltaria. Fechamos a porta, a Zoila já tinha trocado uma das chaves, o que nos daria uma garantia. Pois, é ele voltou. Voltou, ouvimos as suas tentativas de abrir a porta, colocar a chave e aí Zoila gritou: “Já chamamos a polícia. Vai embora, a polícia está chegando.” E deixamos o ladrão do lado de fora – foi a maneira que encontramos de nos proteger. Na verdade não chamamos a polícia. Ficamos em silêncio e percebemos que ele foi embora. Foi embora, sim – nunca mais retornou. E nunca mais telefonou. Nunca mais o encontrei. Então resolvemos verificar a mala, que lembrei que tinha ficado no quarto. “Temos que devolver a mala dele e tentar localizá-lo”, foi o que pensei. Estávamos curiosos. O que encontraríamos na mala? Aquela mala que nunca foi aberta, o que continha? Fomos para o quarto e abrimos a mala. Mais surpresa – o fedor era horrível, roupas sujas, sujas – todas sujas. E entre elas, uma carta. Uma carta que lemos. Em prantos ficamos os dois abraçados. Pois, a mãe do rapaz na carta pedia para ele não mais se envolver com crimes, que estava providenciando o histórico escolar do ginásio para ele retornar a estudar. Que rezava muito por ele – e que ele tinha que encontrar um novo caminho, mudar de vida e ser muito feliz. E que ela se preocupava com ele, rezava todo dia para ele. Lamento, hoje por não ter guardado esse registro, que considero entre tudo o que aconteceu o fato mais marcante dessa história.
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Fui novamente olhar minhas coisas no roupeiro para ver o que tinha sido levado: algumas camisas, o talão de cheques, os dólares, calça, meias, cuecas e calçados – creio que ele levou em outra mala tudo isso. Bom, os cheques foram compensados – quis saber onde? Motel. Será que ele foi com a futura esposa ou fez a sua despedida de solteiro? E cheques compensados em lojas, talvez lojas de roupas. Quem sabe nessa noite eu não o encontraria mais com aquela camisa de listra vermelha, ou, ainda, vestindo uma camisa minha, o que era mais provável. Já no dia seguinte, não sei como, acho que foi por instinto, um sinal, passei nas livrarias de sebo da Rua Riachuelo, onde se concentra o maior número de livrarias de sebo de Porto Alegre, e fui diretamente para área reservada aos livros de comunicação. Surpresa!!! Fico muito feliz! Encontrei vários livros meus em no mínimo três livrarias. Peguei com a maior felicidade os livros e identificar com alegria a minha assinatura, dia, mês, ano e cidade – tudo registrado nas primeiras folhas. Faço ainda hoje esses registros, e ainda rabisco os meus livros, riscos palavras, coloco pontos de exclamação, de interrogação, escrevo alguns comentários, esquemas e assim identifico os meus livros. Diante da minha perplexidade e felicidade por ter encontrado todos os meus livros, com muito prazer pela segunda vez compro os livros. Retorno para casa muito feliz. Coloco os livros no roupeiro e posso dormir. Então, afirmo o ditado, “vão-se os anéis – roupas, dólares, dinheiro, cheques”, mas ficam os livros. Melhor, recupero os livros. Os livros são imortais, e alguns são clássicos de relações públicas, publicados antes, durante ou alguns anos depois do ano em que nasci (1962). Isso, não tem preço!!!
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“Tio”, tem um real aí? Uma senhora que trafega pela Rua Uruguai (Itajaí/SC) de bicicleta me aborda
Agora não são mais as crianças que pedem esmolas. Cada dia mais os adultos, tanto homens como mulheres, pedem dinheiro, e não importa o local. Pode ser na sinaleira, na rua, na calçada, na praça, no estacionamento, no shopping, na igreja... Em vários locais da cidade, cidadãos me pedem dinheiro. São homens e mulheres – todos adultos –, que podem ser solteiros, casados, viúvos, avós, e todos sem nenhum constrangimento: “Tio, me ajuda para completar a passagem, me falta 50 centavos”. Hoje temos certeza de que muitas crianças são “usadas” pelos seus pais para pedir esmola, entretanto, agora os adultos pedem esmola para si próprios. E, aí fica a pergunta: Será que adultos também devem ter políticas públicas que favoreçam a sua volta ao mercado, ao ambiente da família, à escola? Pois muitos, pelo que podemos constatar ao falar com eles, são moradores de rua e quase sempre usuários de alguma droga: cigarro, álcool – drogas lícitas, que pagam impostos, e ilícitas, como maconha, cocaína, crack, entre outras. Vou ao banco e na porta uma senhora com uma criança no colo me pergunta se sobrou alguma moeda – fiz pagamento no banco 24 horas. Hoje cada vez menos temos troco sobrando e fazemos tudo com cheque, transferência, débito, crédito, e daí não sobram moedas. Hoje eles e elas, às vezes até de certa forma bem-vestidos, com um olhar e um jeito um tanto estranho, nos fazem pensar que, pela fisionomia, sua aparência, pela voz, pela abordagem – faz com que questionemos: Será que ele (a) faz uso de drogas? Ontem até uma grávida me parou próximo da padaria e me pediu um trocado, ela tinha acabado de tomar café na padaria, que todo dia a alimenta. E confirmo com a proprietária da padaria, que ela está de seis meses e é usuária de crack e moradora de rua. Muitas vezes já ofereci, no lugar do dinheiro, comida, um lanche, almoço, pão, e de uma forma irônica ele me olha estranho e acaba me ofendendo. E aí passa a me ofender por não ter dado dinheiro, e percebo que o homem está alterado – bêbado. Em voz alta me chama de branco, de preconceituoso. Hoje são muitos e muitas que pedem esmola, um troco. Como respondemos muitos nãos, alguns até entendem e dizem obrigado. Não raras vezes sou abordado por um adolescente, um senhor ou senhora, com idades entre 35 a 45 anos, ou, ainda, com 60 anos ou mais, que pedem dinheiro. Talvez para um futuro bem próximo devêssemos não mais pensar somente em políticas públicas tipo creche, mas sim casas de abrigo para idosos. Teremos cada vez mais moradores de rua, adolescentes – com filhos, ou idosos, com filhos e netos pelas esquinas, ruas, abrigados em sua nova casa, o contêiner de lixo, até porque todos os prédios com espaço, marquises, foram cercados. Seria isso uma política pública/privada de exclusão social?
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Eu tenho uma namorada – Pai, eu tenho uma namorada. – Madrasta, eu tenho uma namorada. Pai e madrasta que ouvem isso da filha, pela primeira vez, o que poderão sentir? Ela só tem 17 primaveras. Uma dor? Uma revolta? Um aperto grande no peito? Falta de ar? A falta de chão? O tremer mais forte do coração? Um olhar estranho e desconcertante? O silêncio, um vazio? Ou até colocar as duas mãos na cabeça e dizer um palavrão: “Filha da Puta”! Opa! Opa! Perdão! Ele sempre sonhava e pensava o melhor dos mundos para a sua filha. E que levaria muito, mas muito tempo, para conhecer o namorado da caçula. E que somente após concluir a sua faculdade de Engenharia Química, ouviria a filha pedir licença para apresentar o seu namorado. Depois, casar e um dia ter filhos. O neto colorado. Pelo que seu pai tanto esperou. Elas são todas torcedoras do maior rival. Ele não conseguiu convencer que pelo menos uma fosse torcedora do seu amado Internacional. Fazer o quê? Elas escolhem. Nem sempre pelo melhor, é verdade. Mas agora ela me disse que tá namorando outra menina. Ele já tinha percebido que ultimamente ela estava mais vaidosa, perfumada e muito mais fêmea. Passava muito mais tempo na janela, e quase todo dia no portão. Noites em claro no FB, a postar, curtir e compartilhar. Agora, posso imaginar com quem – ele. Imaginava que seria com ele. Quem será esse guri que tá ficando com a minha filha? Ele trabalha? Estuda? Qual sua idade? Será torcedor do Inter? Será que já está ficando, pegando a minha menina? Sim! Hoje eles ficam cada vez mais cedo, mas sempre foi assim, no passado os casamentos arranjados eram também cedo demais, pois se precisava de mão de obra para cuidar das lidas da fazenda, da roça, ou até da fábrica. Hoje eles estão ficando mais cedo, ninguém duvide que isso acontece na vida real e na vida virtual. Ah! Cam? Mas quem será ela? De quem ela está falando? Namorada? Ela será filha de um amigo, vizinho, colega de trabalho, conhecido? Será filha do amante da minha ex-esposa? Até pode ser. – Pai, eu tenho uma namorada.
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Pai que ouve isso da filha caçula pela segunda vez sente uma vontade de conhecer logo essa “tal de namorada”. De colocar logo os pingos nos is. E deixar claro o que pensa sobre tudo isso, já no primeiro encontro. Ele pensava, até então, que só a filha dos outros tinha namorada. A sua tem também. Quem será ela? O que ela faz na vida? Estuda o quê? Trabalha? Mora com o pai e mãe também? Idade? Ah! Se ela for maior de idade? Não posso permitir se ela tiver muito, mas muito mais do que 27 primaveras. Até aceito uma diferença entre elas de uns cinco anos. Mas, pra que pensar no futuro, se agora me passa o seguinte: como uma música do Luan Santana, sucesso de poucos meses, esse namoro também passará. Mas, caso contrário, se ele for um sucesso do Ney Matogrosso, The Doors, Adriana Calcanhotto, Cranberries, Cazuza, ABBA, Legião Urbana, Djavan, Fredie Mercury, Titãs, Laura Pausini, Renato Russo, Nenhum de Nós, Madonna, Queen, Enya, Pet Shop Boys, Tim Maia, Kleiton e Kledir, Cher, Raul Seixas, Pink Floyd, U2, Enigma, – minhas preferidas – será outra história, mais longa e duradoura. Esse namoro vai longe, vai dar em casamento. Quando vou conhecê-la? Será que já a conheço? O que vou dizer no primeiro encontro? Olha! Tens que cuidar muito bem da minha menina. Se maltratar ela, já sabe, te mato! – Pai, eu tenho uma namorada. Pai que ouve isso da filha preferida, por um bom tempo fica calado. Sim! Eles preferem sempre um filho do outro – não adianta negar, e dizer que não é verdade. Mesmo, quando são gêmeos, o pai escolhe um e a mãe outro – nunca será o mesmo. Eterna disputa. – Pai, eu tenho uma namorada, ela quer conhecer vocês. Pai que ouve isso da filha pela quarta vez disfarça e faz nunca ouviu e não sabe do que a filha esta tentando dizer. Ele sente o corpo tremer, falta de ar, fica cada vez mais cego e mudo. Mudo, principalmente. Pensativo, não consegue disfarçar. E tudo lhe vem à mente. Como vou cumprimentála, com um quebra costela, três beijinhos, um apertão de mão? Simplesmente, um Oi! Olá! Só sei que não posso lhe dizer “prazer em te conhecer”. Isso não! – Pai, ela quer te conhecer.
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Tenho a primeira pista. Ela não nos conhece. Então, não é filha de nenhum vizinho, amigo, muito menos conhecido. Ela é uma estranha. Vibrei por dentro. Ela é uma estranha. Desculpa, isso é preconceito e politicamente incorreto. Melhor dizer ela é uma forasteira. Uma estrangeira. Isso, ela é uma estrangeira. Mas, como não a conheço. Sempre estive por perto da minha menina. De lá pra cá sempre vou com a minha guria para escola, academia, supermercado, shopping, e nunca percebi nada diferente. Ah! Deve ser um devaneio, um amor de verão. É um amor de verão, mas estamos na primavera. A guria quer me provocar, me impressionar, tentar pedir algo, uma recompensa, é isso. Também, diz logo o presente que você quer ganhar, ou qual bar ou show eu tenho que te levar e te buscar. Ela achou um jeito estranho de comunicar. Eu tenho certeza de que ouvi muito bem. – Pai, eu tenho um namorado. Sim! Foi isso que eu escutei. Em silêncio repito por mais três vezes – Milha filha está namorando um cara legal. Confesso que preocupado fiquei, e pensei é muito cedo, preciso verificar tudo sobre esse rapaz. – Filha conversaremos. – Pai, eu tenho uma namorada. Pela quinta vez ela diz agora com mais força. Pai, que ouve um grito, acorda. Recompõe-se no sofá, estica as pernas, abre os olhos, e fica mais sério. A cachorra ladra. Temos visita. Será ela? A campainha toca. Em um salto a minha caçula sai da elegância e corre em direção à porta da cozinha. – Pai, eis aqui a minha namorada. – Pai, essa é a Maria Eduarda. – Filha, ela é a tua professora de matemática. – Sim! Também de química e física. É por isso que ela se esforçava e muito nas provas de matemática, física e química, e sempre tirava notas excelentes. Minha filha não queria decepcionar o pai – melhor a sua namorada e professora, professora e namorada. E, agora o que dizer? – Entra. Sente-se. Aceita um café? Quem sabe um uísque? Ou prefere uma cerveja Polar?
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Salve as minhas cinzas E proteja a natureza Porto Alegre, 2 de junho de 2013, segunda-feira, são 4h da manhã. Fui tentar dormir. Não conseguir, estou com a mente muito agitada, após escrever mais de 10 laudas sobre o Memorial do Theatro São Pedro, atividade para uma disciplina que faço no doutorado do PPGCOM-UFRGS. O Corpo também está agitado, então impossível dormir. Nesse caso como faço, levanto imediatamente, pego caneta, e várias folhas de rascunho e começo a escrever. Nesse momento não faço revisão de nada e não reescrevo absolutamente nada. Quando se está agitado e com o processo para pensar e escrever, tudo fica muito mais fácil. As palavras fluem. Onde você que chegar João? Então, faço um pedido aos amigos, familiares, conhecidos que quando o meu corpo não estiver mais quente e por aqui – neste tempo 36 horas, nesta terra Brasil, que não tem donos, e que minha´lma possa estar já com meu irmão Arcângelo Luis e mãe e pai: Maria e Laurindo. Agora posso ser cremado. Por favor, somente o corpo, tirem roupas, calçados, relógio, óculos, anéis... como não encontraram nenhum pircing ou tatuagem. Como saber que já estou com eles? Tenho certeza de ter percorrido várias dimensões, até definitivamente ter afastado toda matéria, todos os objetos, todos os apegos, e desejos. Irmãos, por favor, juntos peguem um pouco das minhas cinzas, guardadas em uma urna, que pode ser de barro puro, sem estampas ou bobagens escritas. Simplifiquem. Economizem os símbolos. Acompanhados de vários anjos e santos. Podem escolher os seus preferidos. Caso não possam ou não tenham coragem, ou mesmo digam isso não tem a menor importância, contrate uma pessoa, um prestador de serviço – surge uma nova profissão. Não pode ser um agente funerário, acompanhante de velório, muito menos o coveiro, pois não terá cova e, muito menos um corpo e uma embalagem. Simples! Um distribuidor de cinzas. Por isso deixo um breve roteiro para que a família o faça, ou então esse sujeito chamado “distribuidor de cinzas e protetor da natureza” Então, vamos lá. Sim, vamos juntos. Um pouco de cinza, mas nunca tudo, viu! Pois o caminho e longo, e custará algumas horas, dias, quem sabe uma semana. Primeiro, distribua um pouco das minhas cinzas nas terras onde meu pai Laurindo Carissimi nasceu – que fica na colônia Santana de Antônio Prado. Talvez, hoje esteja tudo com mato, não importa é melhor. Passei alguns dias nestes morros a minha infância, como também onde a minha mãe Maria Regina Barison nasceu, colônia Burgo Forte. Se possível no potreiro, próximo o rio pequeno, onde pesquei algumas vezes, ou se ainda tiver o parreiral, onde tinha a uva especial para nona Giustina, aqui estamos no município de Antônio Prado, onde deverá retornar no final, por isso guardo bem as minhas cinzas.
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Parte, hoje por uma estrada asfaltada, no passado terra e muita poeira e progresso que nunca chegava em Antônio Prado, por isso fui estudar na Universidade de Caxias do Sul. Lá no campus, próximo das paradas, Bloco H (onde tive aulas), existe uma casa, e um pátio, hoje ocupado por estacionamento e ruas, mas tinha muito verde naquela época.. Jogue um pouco mais das minhas cinzas por aí... em seguida no bairro Desvio Rizzo, Caxias do Sul, a minha irmã escolherá o dia, horário e um lugar certo para fazer isso, ou faça você mesmo. Mais um pouco deverá ser jogado na cidade de Itajaí, que fica no Estado de Santa Catarina, por onde trabalhei mais de 12 anos, mas não jogue na Universidade, lá não tem nada para crescer. Aproveite e conheça as praias de Cabeçudas, Atalaia, Jeremias, o Rio Itajaí-Açu, e o seu farol, por esses caminhos eu percorri muito vezes, pensativo, cantando, alegre, às vezes triste. Escolha um desses locais e jogue as minhas cinzas no mar. Veja como roteiro não tem uma lógica de mercado. Retorne para Porto Alegre, cidade onde trabalhei por oito anos antes de ir para Itajaí e, que em 2012 retornei. Alguns pontos: Parque da Redenção, naquela árvore “Ninho”, próximo do gigante da Beira-Rio, pois sou campeão de tudo. Você sabe qual e o meu time, não? – Internacional. Depois, o que sobrar, não precisa ser muito. Tem que sobrar algo. Retorne para cidade de Antônio Prado. Na Av. Valdomiro Bochese, 285, ex-Av. Rio Branco, eu nasci, e passei a minha infância e adolescência na casa Azul, patrimônio histórico da cultura italiana, e jogue um pouco, ou melhor, cave e deposite aí – no pé de cinamomo, no pinheiro, na laranjeira, no pé de figo da índia, e na árvore de castanha, de onde muito comia castanha com uma colherinha e açúcar – tudo isso fica em Antônio Prado, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Neste lugar até os 35 anos a vida me proporcionou dividir com meus pais os melhores dias da minha vida, e pude partilhar da sabedoria, paciência, alegrias, fé, coragem e a esperança, essa última é a palavra mais bonita do nosso dicionário – ESPERANÇA, pois os dias foram difíceis. Então, como parti e sobrou a urna de barro, por favor, coloque junto com meu pai, mãe e irmãozinho. Eles estão na entrada lateral, à esquerda, do cemitério de Antônio Prado, logo que você entrar pelo corredor principal, a sua direita. Não precisa estar com nenhuma cinza, já estou presente na urna de barro. Espero ter purificado a minha vida. E com você ter vivenciado os momentos finais da minha partida, e tudo que fiz de bom relembrado, e tenha pedido perdão a todos que magoei. Adeus! Adeus!
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Mas um dia volto. Quando? Não sei. Ainda bem que a vida não tem respostas para tudo. E a morte não pode nos calar. Porto Alegre, 4h18min. Se não for muito difícil e custoso, por favor, apague meus e-mails, face book, blog Aida Comunicação e Marketing, ainda todos os meus registros na internet. Não se preocupe se nada fizer. Nenhuma praga eu joguei caso nada seja apagado por você. Entendo. Se for outra decisão. Estarei livre para percorrer um novo tempo e no espaço já mais habitado por mim. Dito tudo isso, gostaria de dizer que quero partir antes dos meus quatro irmãos, explico: sou o caçula. Eu não suportaria acompanhar a partida de cada irmão – não suportaria. Não tenho medo da despedida, nada disso, quanto a morte entendo que uma passagem, só isso. E que cada partida também eu estaria morrendo um pouco. Então, seria como o conta gotas, e cada gota, a dor, o sofrimento, a despedida. Depois, eu sei que essa história de que os mais velhos devem partir antes – eu nunca concordei, eu sei sou caçula, e não existe nenhuma prioridade, a não ser a certeza de que todos “bem ou mal”, de forma natural, violenta, sem querer, ou até quando provocamos – as trevas, a morte e depois a luz. Ainda, a idade não conta para uma decisão – a morte, nos persegue desde quando o espermatozóide vence, é vida.
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Manchas vermelhas pequenas
A primeira no lado direito da perna, depois nos cotovelos. Em seguida nos joelhos. Belo dia de praia em Arroio do Sal. Uma faixa vermelha atravessou minhas costas. Não sou vascaíno, muito menos torcedor da macaca. Sou Colorado – gosto do vermelho. E agora na minha pele o vermelho está mais evidente. As manchas avermelhadas ou esbranquiçadas. Percebo que minhas unhas nas pontas têm manchas brancas. Minha pele grita – a dor do silêncio. Estou em carne viva. Esse vermelho é profundo. Gritos, gemidos, lágrimas. Revela a todos a dor do mundo. “De um corpo, esse brilho de um olhar”. Tecido na sombra dos quarenta anos “esse granulado de uma brancura”. Sobre manchas vermelhas “apareceu no entreabrir-se de uma vida encrespadura”. Que expurga de minh’alma todos os meus pecados. Como um corpo caiado revelo na minha pele – eu tenho psoríase. Em dia de chuva minhas juntas doem. Ficar ajoelhado não posso. Muito menos carregar peso. A psoríase não tem cura. Manchas vermelhas. Tecidas na minha pele. O preconceito escrito nos olhares, nos comentários... A pele escama. E dilacera a vida. E cada minuto sinto a dor da morte. Mais, próxima, mais morte.
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O Jogo do EU É uma experiência que você leva para a sua vida cotidiana O Jogo do EU foi criado por R. D. Silva que é um “livro diferente”, onde suas “páginas soltas permitem criar dinâmicas” onde o leitor pode “interagir com seus textos de forma envolvente e divertida”. Além disso, é um jogo de cartas (baralho) e muito diferente. Onde você pode jogar sozinho ou acompanhado. No caso de estar sozinho deixo uma sugestão: primeiro embaralhe muito bem todas as cartas, segundo não leia o conteúdo da carta, terceiro escolha aleatoriamente a até 5 cartas, por último com muita atenção, separe cada carta e, leia uma por uma. Tenho certeza que cada mensagem será um desafio, um objetivo e uma meta para o dia, a semana, o mês ou para todo o ano de 2014. “Ler O Jogo do Eu é uma experiência que você levará para sua vida cotidiana, proporcionando vivências de autoconhecimento onde o seu objetivo é vencer as suas próprias barreiras” Durante as minhas férias (fevereiro) de saúde e bem-estar nas Termas de Ibirá, no Estado de São Paulo, eu joguei sozinho “O Jogo do Eu”, pois naquela noite choveu muito, e com intensidade choveu. Além disso, mantive todos os aparelhos eletrônicos desligados, inclusive o celular. Joguei “O Jogo do Eu” com total concentração e silêncio, é certo que a chuva fazia um barulho ao cair sobre as calha e calçada, onde se espatifava toda, lamento por ela não ter uma queda sua visada e bem acolhida que seria por uma grama e terra úmida. Tudo isso deixa prá lá! Eu agora estou otimista e meditativo. Eu faço o ritual que já mencionei. Eu não leio nenhuma carta e imediatamente embaralho todas muito bem. Bem embaralhadas as cartas retiro um de cada vez. No total serão 5 cartas, somente 5. Eu acredito que seja o suficiente. Eu, primeiro leio o título. Medito sobre o que me diz o título. Eu tento entendê-lo e pensar no sinal que virá após na mensagem da carta. Anoto o primeiro título da carta: Conte Piadas. Em seguida, por completo passo a ler a mensagem “Escolha criteriosamente duas ou três piadas e conte para seus amigos ou colegas do trabalho. Caso seja tímido ou se ache sem graça, crie coragem e conte assim mesmo”. Eu, tento lembrar e fazer uma seleção de piadas. Não ta nada fácil! É o primeiro objetivo. Como a meta pode ser cumprida durante o dia, semana, mês ou tenho todo o tempo do mundo, melhor o espaço de um ano. O resultado da segunda carta me diz: Plante “Compre um vaso, terra, adubo e sementes. Plante qualquer coisa, mas não a partir de uma muda e sim de sementes. Lide com a terra, regue-a e acompanhe o crescimento da planta”. Sei que fiz uma parte de tudo isso antes de sair de férias, mas eu tenho que refazer, pois em um vaso plantei duas espadas de São Jorge, e depois de assistir um jogo do Internacional pelo campeonato gaúcho,
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quarta feira, aquela noite estava muito quente, Porto Alegre, estava mais para forno alegre, resolvi me lambuzar com uma fatia de melancia, bem geladinha e que tinha sementes, eu não gosto de frutas sem sementes, seria como um mundo sem crianças. Então, resolvi no dia seguinte colocar todas as sementes no vaso da Espada de São Jorge – surpresa! Muitos pés de semente, ficou linda a minha soleira da janela.... Vale até destacar que divulguei a foto, e tu pode ver no endereço <http://olhares.uol.com.br/o-poder-das-sementes-foto5810104.html> Segue o jogo. A terceira carta diz “Observe a Natureza”, o que eu tenho feito todos os dias enquanto estou no Santuário da Flora e Fauna do Balneário de Thermas e/ou Termas de Ibirá, ruas, praças e na cidade de Ibirá, também. Tenho feito alguns registros fotográficos, também, mas muito me atenho cada detalhe, barulho, forma, cheiro, movimento e todo dia bebo muita água alcalina e venádica, sim faço imersão de banhos individuais e procuro tomar muita água. Para melhorar de saúde e ter a sensação de um bem-estar, sem dúvida, é necessário fazer dois banhos de imersão por dia lá se vão (900 litros de águas minerais venádicas, alcalinas e bicarbonatadas) para o rio. Também é bem-estar a ingestão de mais de três litros de água minerais alcalinas e venádicas por dia. Eu, procuro retornar a mensagem da carta, a qual diz: “Procure sinais de uma inteligência maior por trás das maravilhas da natureza. Procure se conscientizar do absurdo que seria a existência se não houvesse uma interação secreta que justificasse tanta perfeição. Procure semelhanças entre os diversos processos naturais, procurando leis básicas que se repitam em todos os casos e que tenham similaridade com processos artificiais humanos. Deixe que a natureza seja sua professora e permita-se deslumbrar-se com seus métodos e sabedorias”. Aqui selecionei algumas fotos, mas tu podes navegar no site e verificar outras maravilhas que natureza nos oferece para serem contempladas, admiradas e preservadas. <http://olhares.uol.com.br/ecologicamente-correto-salgueiro-foto5844568.html> <http://olhares.uol.com.br/tejo-foto5842323.html> <http://olhares.uol.com.br/52-anos-foto5850432.html> <http://olhares.uol.com.br/arcangelus-foto5855668.html> Há também uma supremacia de pássaros no Santuário de Termas de Ibirá em relação à flora, mas percebe-se que muitas árvores foram plantadas, isso no futuro demonstrará um tempo e espaço mais amplo para todos os pássaros, bem como muito mais alimentos, sombra, verde – o verde poderá atrair mais olhares, bem como mais animais para esse recanto. Quanto ao “O Jogo do EU” retiro a quarta carta. Opa!”O título traz um grande desafio, quem sabe uma utopia. Sim! Com certeza às utopias são desafios, metas e objetivos. O título traz: Melhore o Mundo. Opa! Fiz pouco nesse sentido, eu confesso. E, muito tenho para fazer, talvez me falte o espaço e o tempo necessário?
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Então, vamos lá! Como diz a mensagem “Comece hoje a trabalhar para melhorar o mundo. Seja voluntário em alguma associação sem fins lucrativos que trabalhe por uma causa que você acredite. Se preferir, comece você mesmo um novo trabalho nesse sentido. Esta tarefa estará completa assim que você der o primeiro passo”. Eu acredito que essa mudança na minha vida pessoal e profissional já tenha iniciado lá em 2011, quando provoquei a minha demissão de uma Instituição de Ensino Superior, dita comunitária, mas que visa “um certo lucro”, ou melhor manter o status que do seu corpo diretivo, por meio de bolsas, e muitas bolsas de estudos financiadas pela esfera pública, municipal, estadual e federal. Talvez o fato de retornar para Porto Alegre esteja diretamente relacionado com algumas mudanças de atitudes, ações e um comportamento, assim eu possa contribuir para melhorar o mundo-vida, nesse caso, o meu Eu, a minha casa, o local de trabalho, o local de vivência no cotidiano, bem como a cidade de Porto Alegre, o Estado do Rio Grande do Sul e pátria-mãe Brasil. Em relação à mudança de paradigma, estou curioso em relação a quinta, e última carta. Passo a embaralhar novamente todas cartas, como eu sempre fiz, após retirar cada uma das cartas. Eu retiro quinta carta que faz uma relação com todas anteriores, ou seja uma complementação, um fechar o ciclo, ou pode ser o primeiro objetivo antes dos outros quatros sorteados: “Descubra os Seus Pontos Fortes” pois permite quem sabe realizar todos os demais objetivos e metas. Essa mudança resulta, na verdade, na busca do Self, um reolhar sobre a essência do meu EU que permitiu um formação pessoal e profissional. Tanto que Eu sempre procurei nortear a minha vida por alguns valores recebido e compartilhados na família, no trabalho, nas amizades, e na sociedade. Eu, acredito que nem todos atendem as necessidades e demandas pessoais ou cívicas. De outra parte, acredito que tenha pelo menos tentando dar o melhor de mim, mas nem sempre pude atuar, prever, interpretar, controlar fenômenos pessoais e na sociedade. Eu hoje tenho uma vida próativa e uma postura ética. Cometo erros? Sim! Eu não sou fácil de lidar? Sim! Eu não sou um cara político que faz acertos de convivência ou relativizar tudo no seu dia-a-dia, por isso eu sou constantemente incompreendido, e talvez um grande “bobinho”. Silêncio! Eu fico completamente bobo com a chuva que cai e beija a calcada lá fora! Retomo o texto da última carta do Jogo do Eu: “Seja honesto com você mesmo. Não seja vaidoso nem falso-modesto. Descubra o que você tem de melhor em várias áreas de sua vida. O que você faz melhor? Por que outras pessoas gostam de você? Qual a “arma” de sedução mais forte que você possui? Enumere-as em um papel”. Eu estou pronto para esse desafio? É claro que não. Eu vou tentar responder cada pergunta nos próximos dias. Isso me fará muito bem. Se busco um bem-estar, reconhecer cada ponto forte, fraco ou neutro é uma forma de reconhecer oportunidades para conquistar uma vida com saúde e bem-estar. Então, eu esfrio a minha cabeça, deixo as ideias descansar e vou dormir. Aguarde-me!
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Se tu ficaste curioso sobre o “Jogo do Eu” quanto o trazem a mensagem as outras cartas, então retiro mais 5 cartas do baralho e apresento somente os títulos. Vamos lá! – Seja jovem, - Doe, Cumprimente as pessoas de forma diferente, - Evite carne, açúcar ou sal no dia de hoje, - Olhe-se atentamente em um espelho. “O Jogo do Eu” como diz na embalagem do baralho “é um livro leve e divertido que pode demorar meses para ser lido até o final! E, sempre que terminar de lê-lo, você será uma pessoa mais completa”. Escolha uma forma de ler e jogar “O Jogo do Eu”. Tenha uma excelente jornada no seu dia a dia!
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Tri Atucanado
Por caminhos circulo por extensas viagens Abraço amigos e os parentes Contemplo o pôr do sol do Guaíba – Tu ta louco, tchê! O silêncio e o aconchego no final da tarde o Beira-Rio por todos amado – Lógico! Por onde chego Oi! Olá! Tchau! Eba! Bonfim e Vila Jardim A paisagem Acaricia a vida e, ainda, Ipanema de passagem, Bah! Boa leitura!
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A mãe já estava morta havia quase 18 anos. O pai já estava morto havia quase 17 anos. Desde 1950, estiveram juntos em Antônio Prado/Rio Grande do Sul. Na terra semearam seis sementes. Olimpio, Natalino, Isolda, Orlando e João (irmão gêmeo de Arcângelo Luis – falecido em 1962). Muito depois, ficaram em espaço e tempo distintos. E durante esse ano o pai adoeceu. A solidão, a perda, o vazio – tudo suportado. Hoje, eles ocupam o mesmo tempo, mas continuam em espaços diversos. Com certeza, todo santo dia consumam o ato sexual “papai e mamãe”. Ainda esse amor é cada vez mais visível. Assim, não existe mais aquele insuportável Silêncio, frio e a presença invisível. Nas atuais residências, bem como no passado Uma só carne, uma só alma. Ela está lá embaixo. Maria Regina Barison Carissimi fez a passagem por primeiro Ele está lá em cima. Laurindo Carissimi não aguentou ficar viúvo. Ele e Ela, às vezes, cantam oratórios de “Giacomo Carissimi”, além disso, Dormem agarrados. Sede? Fome? Não tem mais importância. É tudo inútil. Por que ambos jazem. A mãe está viva há mais de 88 anos. O pai está vivo há mais de 91 anos. Laurindo Carissimi (01.04.1923-03.12.1997). Maria Regina Barison Carissimi (28.06.1926-10.01.1996).