Expediente
De casa para o quintal e do quintal para o mundo
ORGANIZAÇÃO Liliane Carvalho, Alessandro Nunes e Raquel Dantas.
Apresentação
PRODUÇÃO TEXTUAL Liliane Carvalho
Parte I
FOTOGRAFIAS Acervo Rede Cáritas Ceará DIREÇÃO DE ARTE Mandalla Comunicação - Projeto Gráfico, Diagramação e Ilustrações: Sâmila Braga TIRAGEM 1.000 exemplares REALIZAÇÃO Cáritas Regional Ceará e Cáritas Diocesana de Tianguá PARCERIAS Escola Família Agrícola Chico Antônio Bié e Universidade Federal do Ceará APOIO Fundação Banco do Brasil
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A experiência dos Quintais de Maria
Essa história começa em casa
Parte 2
De casa para o quintal e do quintal para o mundo
Parte 3
Agroecologia e Economia Solidária nascendo nos Quintais de Maria
Parte 4
Cuidar para garantir direitos
Reflexões
Sementes plantadas, frutos colhidos!
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Sumário
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De casa para o quintal e do quintal para o mundo
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A experiência dos Quintais de Maria
Pra começo de conversa O Semiárido pulsa vida, resistência e sabedoria popular. O lugar e seu povo foram - e sempre serão - as nossas primeiras e maiores inspirações em cada ação que desenvolvemos. O Projeto Água de Reuso para os Quintais de Maria foi idealizado pela Cáritas Regional Ceará e pela Cáritas Diocesana de Tianguá para compartilhar conhecimento e ajudar na implementação da tecnologia social bioágua como uma estratégia a mais de convivência com o Semiárido para comunidades rurais do Ceará. Através desta tecnologia conseguimos reaproveitar água utilizando os elementos do próprio ecossistema e promover segurança alimentar e nutricional com a irrigação de quintais produtivos ao redor de casa. Esse sistema é utilizado para o tratamento das águas cinzas, aquelas do uso em pias, tanques e chuveiros domésticos. Elas são cinzas porque ficam com impurezas, tais como sabão e outros resíduos. Através de um filtro com camadas de material orgânico e inorgânico, o bioágua consegue retirar os principais poluentes da água, deixando-a própria para irrigar as produções de frutas, verduras, hortaliças e plantas medicinais nos quintais ao redor de casa e para criar pequenos animais. Nossa ação se deu com o trabalho de implementação do sistema de reuso e de organização de quintais produtivos com 42 famílias, de 7 comunidades diferentes do território cearense da Ibiapaba: Albino e Lagoa da Moitinga, no município de Ubajara; Areia Branca, Tetéus, Papagaio e São João, em Tianguá; e Volta dos Almeidas, em Granja. As comunidades foram indicadas por afinidade com o trabalho agroecológico e pela relação direta com a Cáritas. As famílias foram selecionadas pelas próprias comunidades pelo seguinte critério: já terem sido beneficiadas com pelo menos uma tecnologia de Convivência com o Semiárido. Depois das primeiras construções e de seus resultados, a procura pelo bioágua por outras famílias tem sido crescente. A ampliação dessa iniciativa no Ceará e em todo o Semiárido dependerá de políticas públicas que possam assegurar a implementação da tecnologia – o que pede o envolvimento da sociedade civil junto aos poderes públicos;
Depois do bioágua, aumentou o trabalho. (...) Eu adoro trabalhar porque eu sou da roça. Toda vida eu fui da roça, trabalhei na roça. Sempre cultivei meus quintalzim, com minhas verduras. Sempre era pouquim, mas através do bioágua a gente ainda ficou cultivando mais, de tudo lá eu plantei e de tudo deu. O alface, se você vê o tamanho como era, a coisa mais linda! Chamei a vizinha, que disse: ‘mulher, eu não acreditei que esse pé de alface aqui ficasse desse jeito!”
JOANA MARIA
Antes a gente usava veneno pra formiga e pra matar o mato. Só que aquilo ali acaba com a terra. E outra, onde a gente planta sabiá, ele mata todo sabiá novo. Mata todinho, a terra fica até dura.”
FRANCISCO EDUARDO
Já fomos em Itapipoca. Me senti feliz, satisfeito, voltei animado. Fomos pra Crateús e Fortaleza. Todos se divertiram, acharam ótimo.“
MÁRCIA SALES
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De casa para o quintal e do quintal para o mundo
No começo muita gente não queria. Muita gente achava que era uma coisa do outro mundo, mas a gente não desistiu. (...) Porque a gente tinha vontade de cultivar as coisas, mas não sabia como era que fazia. Com medo de fazer e não dar certo, né? Porque num sertão quente como esse nosso aqui, a gente tem um pouquinho de água, né? Mas a gente não tinha aquele interesse de cultivar. Esse projeto aí incentivou muitas coisas, a gente cultivar. (...) E, aliás, o que a gente produz aqui não tem veneno, não tem química nenhuma. O tomate dá natural. O cheiro verde é natural. A banana. Tudo! A vantagem da gente comer alimentos sem veneno é a saúde.”
Raimundo de Aguiar
Uma vizinha da gente que vê e diz: ‘vixe, Maria, mas isso aqui é muito bonito.’ A gente diz: ‘mulher, pois se interessa e faz, porque a gente, até um pouco que a gente tem, a gente pode repartir contigo (...). Eu me interesso demais. Toda vida. Eu botava era água na minha cabeça pra aguar uns canterim atrepado em quatro forquilha. O Antônio dizia assim: ‘mulher, que caduquice essa sua, de você ir trazer água do rio longe’. Eu digo: ‘Antônio, é porque eu adoro a minha panela cheirando.’”
Joana Maria
ou mesmo de novas parcerias e apoios com organizações interessadas em potencializar o alcance dessa experiência. Este projeto que desenvolvemos foi viabilizado pela Fundação Banco do Brasil. Esse sistema de reuso tem relação direta com a preservação do meio ambiente, uma vez que evita a poluição do ar e do solo e dos possíveis vetores de doenças, já que a água poluída não fica mais exposta. Como uma tecnologia de convivência com o Semiárido, o bioágua também está em sintonia com a agroecologia. A sua implementação só acontece através do compromisso com uma produção agroecológica, livre de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. Sem perder de vista que as revoluções se dão no âmbito comunitário, definimos que as mulheres seriam os sujeitos prioritários do projeto, pela importância na mobilização de outros sujeitos e na adesão cotidiana à convivência com o Semiárido. É especialmente pela ação delas que a agroecologia se difunde, e, por isso, nossa ação quis potencializar a autonomia e o empoderamento das Marias do Semiárido, contribuindo com o conhecimento e reflexão crítica sobre alimentação, saúde, trabalho e relações de gênero. Socialmente o bioágua também gera estímulo à discussão sobre a produção e a comercialização, envolvendo especialmente as mulheres, que em grande maioria estão à frente da produção dos quintais ao redor de casa. A melhoria da qualidade de vida passa pelo trabalho, pelo envolvimento de toda a família e pela renda extra alcançada com a venda do que sobra do consumo familiar. As formações sobre o bioágua foram fundamentais para as mudanças de entendimento e de práticas que estão acontecendo dentro de casa, ao seu redor, no quintal e em muitos outros espaços. As relações entre homens e mulheres na família foram analisadas a partir de como o trabalho doméstico é desenvolvido e distribuído entre seus membros e quais as consequências disso para a vida das mulheres e dos homens. Como manejar o sistema e cultivar as plantas foi também motivo de estudo e troca de saberes. O conhecimento que as famílias do campo já trazem consigo foi o ponto de partida para buscar a melhoria da produção. As reflexões e práticas sobre agroecologia foram prioridade nessa formação. A construção da tecnologia também passou por um processo
A experiência dos Quintais de Maria
de formação, orientado por pedreiros experientes de outras regiões. Uma das atividades do projeto que mais despertaram o interesse e o desejo pelo bioágua foram os intercâmbios. Eles foram realizados em comunidades de Crateús e de Itapipoca, onde famílias já faziam uso da tecnologia. Puderam constatar pessoalmente os impactos positivos proporcionados pela implementação, além de perceberem que, com a observação e a utilização, surgiam muitas ideias de adaptações da tecnologia para melhorar a sua eficácia. Processo rico de apropriação que percebemos em vários momentos ao longo do projeto. Envolver Universidades, Institutos Federais, Escolas Famílias Agrícolas, Sindicatos das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais, Escolas Profissionalizantes e os governos nessa prática, discutindo parcerias e pesquisas, é muito importante. Isso pode fortalecer o aperfeiçoamento do sistema, trazer a melhoria da produção, gerar novas oportunidades de formação, criar mais condições para a comercialização dos produtos e aperfeiçoar os indicadores de resultados, despertando o interesse de educadoras e educadores, das juventudes e de trabalhadoras e trabalhadores rurais pela iniciativa. Ao longo do projeto fizemos parcerias nesse sentido com a Universidade Federal do Ceará e a Escola Família Agrícola da Ibiapaba - Chico Antônio Bié. Esta publicação foi elaborada para registrar os aprendizados e os desafios vivenciados através do Projeto Água de Reuso para os Quintais de Maria. Ela foi escrita através dos depoimentos de agricultoras e agricultores que participaram do projeto nas sete comunidades escolhidas. Esperamos que as constatações e reflexões compartilhadas aqui possam estimular diversas experiências com o bioágua e contribuir para que as transformações sociais e ambientais que almejamos e ajudamos a construir no Semiárido sejam semente permanente em nosso território. Boa leitura!
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A experiência dos Quintais de Maria
Essa história começa em casa odo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã...”. Essa música, chamada Cotidiano, escrita por Chico Buarque, nos faz lembrar a rotina de muitas mulheres no Semiárido Nordestino: cuidar dos serviços de casa - cozinhar, lavar louça, lavar roupa, limpar e arrumar a casa, cuidar dos filhos, do marido, dos idosos, das pessoas doentes, do quintal, das plantas, das galinhas, dos porcos, dos cabritos... Ufa! Todo dia fazem as mesmas coisas. E no dia seguinte precisam fazer tudo de novo. Essas tarefas poderiam ser compartilhadas por todas as pessoas que moram na casa e formam a família, mas existe uma tradição sustentada num preconceito que diz que essas tarefas são “coisas de mulher”, e que seria humilhação para os homens fazê-las. Porém, é exatamente por não fazê-las que os homens da casa têm tempo para jogar bola, tomar umas no bar, ficar deitado na rede depois do almoço, fazer outros trabalhos fora de casa, participar das reuniões no sindicato, e tantas outras coisas... Isso a gente chama de privilégio! Você acha justo? Esse trabalho realizado pelas mulheres, “desde cedo e por toda a vida”, muitas vezes não é visto como importante, mas, na verdade, ele “sustenta o mundo”, porque garante a vida e reproduz a força de trabalho para que todas as sociedades possam existir. Gera renda familiar, apesar de não movimentar dinheiro. Tudo o que é produzido na cozinha, no quintal, ao redor de casa - resultado de um trabalho que, na maioria das vezes, é feito pelas mulheres -, alimenta a família. E, mesmo não sendo pago, representa uma economia, como se fosse um “dinheiro invisível” que sai do suor e das mãos das mulheres. É como se as mulheres carregassem a casa na cabeça, alegoria que deu vida à identidade visual do Projeto Água de Reuso para os Quintais de Maria, adotada no intuito de explicitar esta condição e promover o olhar crítico e propositivo para transformá-la.
Quintal de Ivonete Gonçalves produzido com a ajuda do bioágua - Comunidade Volta dos Almeidas, Granja
Não podemos esquecer que o trabalho doméstico, tão necessário ao desenvolvimento de todas as sociedades, quando realizado apenas pelas mulheres, tira delas as oportunidades de estudos, de outras formações profissionais, de participação na política, na cultura, no esporte e mesmo o direito ao lazer. Mas tem uma coisa importante aí, nem todas as
Quem trabalha mais em casa é a mulher. Faz almoço, varre, limpa a casa, cuida das meninas, cuida da cozinha. Tem as plantas também. Cuida do bioágua.”
FRANCISCO EDUARDO
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Durante a semana, em média 01 mulher brasileira dedica mais que 18 horas do seu tempo às tarefas domésticas ou cuidados com outras pessoas, como crianças e idosos. Já os homens dispensam pouco mais de 10 horas do seu tempo para esses afazeres. Isso significa que elas passam 73% mais horas envolvidas com tais tarefas do que eles. (IBGE/2018)
mulheres viveram ou vivem assim. Na história do nosso país, as mulheres negras sempre estiveram ligadas ao trabalho doméstico, servindo aos patrões brancos em regime de escravidão, e até hoje a maioria delas continua garantindo as condições de vida de suas famílias através desse trabalho, tão desvalorizado. Vale ressaltar que, mesmo quando caracterizado como emprego, muita gente não que assinar carteira, pagar um salário justo e nem reconhecer seus direitos como em qualquer outra categoria. No emprego doméstico a maioria das trabalhadoras são mulheres negras. Essa injustiça vem de longe e persiste nos dias atuais. Quando alguém é tratado de forma desigual por causa da sua cor, a gente chama isso de Discriminação Racial. As mulheres negras são as que mais sofrem esse tipo de violência. Uma pesquisa feita no Brasil entre 2011 e 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que enquanto uma mulher branca recebia R$ 1.496,00, as negras ganhavam apenas R$ 800,00, e os homens brancos R$ 1.559,00. Nesse caso a pesquisa revelou que as mulheres negras são discriminadas de duas maneiras: por serem mulheres e por serem negras. É certo que muita coisa já mudou, mas enquanto o racismo existir, não teremos uma sociedade justa. Se a gente olhar para o nosso passado, vamos ver que, embora os trabalhos de casa venham sendo feitos por nossas avós e mães, muitas mudanças foram sendo construídas por essas gerações para que hoje seja possível constatar que estamos mudando esta realidade, e para melhor! Filhos, maridos e irmãos aos poucos estão varrendo a casa, o terreiro, lavando louça, roupa, cozinhando... E não é só quando a mulher adoece ou viaja, não. É como parte das suas obrigações familiares! Afinal, se todas as pessoas que moram juntas fizerem uma parte do trabalho doméstico, ninguém ficará sobrecarregado, não haverá dependência, nem exploração da força de trabalho das mulheres. Teremos mais união e solidariedade na família e a justiça começará em casa. Você concorda? As mulheres que participaram das formações do Projeto Água de Reuso para os Quintais de Maria, promovido pela Cáritas Regional Ceará e pela Cáritas Diocesana de Tianguá, puderam pensar mais sobre esse assunto. Aos poucos as coisas começam a mudar dentro e fora de casa. Afinal de contas, o Bioágua fez aumentar as oportunidades para a produção de alimentos saudáveis pela família, mas também aumentou o trabalho doméstico. Se antes ele era só das mulheres, agora precisa ser partilhado por todo mundo.
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A experiência dos Quintais de Maria
Formação sobre protagonismo da mulher
Quando isso acontece, as mulheres podem participar de outros espaços na sociedade, aperfeiçoando suas capacidades e contribuindo mais ainda com o desenvolvimento do país. Podem atuar no sindicato, nas associações, nos grupos de mulheres, fazer intercâmbios, participar de encontros, formações. Podem, inclusive, participar da política representativa, tornando-se vereadoras, prefeitas, governadoras e presidentas, cuidando de nossas comunidades, municípios, estados e do nosso país. Quem ainda diz que o lugar da mulher é em casa e na cozinha, é porque não sabe o quanto elas poderiam melhorar nosso mundo se participassem dos espaços públicos em condições de igualdade com os homens! Agindo assim em outros espaços, as mulheres vão construindo novas relações de poder na sociedade. Quanto mais desigualdade existir em um país, mais violento, injusto e menos desenvolvido ele será. Todos esses pensamentos são para nos fazer entender que o trabalho doméstico não é de pouco valor, mesmo quando ninguém dá a importância que ele merece. Sem ele outros trabalhos não seriam realizados e nenhum país se desenvolveria. Se queremos viver num mundo melhor - de igualdade, justiça e desenvolvimento das nossas capacidades, precisamos melhorar as relações entre homens e mulheres, e isso começa dentro de casa. Quando uma mulher é explorada e violentada na família, todos perdem. Quando um homem age para dominar e oprimir uma mulher, aí nasce o machismo, e o machismo impede que nossa sociedade seja justa, humana e feliz.
Trabalho dentro de casa e ajunto fava, feijão. Eu participo do sindicato, da Casa de Semente e da reunião do bioágua. A dificuldade pra participar desses espaços é porque eu não sei ler, e quem não sabe ler, né, é ruim, mas eu participo. Quando tem eu participo em tudo, nas reuniões que acontece.”
NICE
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De casa para o quintal e do quintal para o mundo
De casa para o quintal e do quintal para o mundo ao redor de casa tem espaços onde o trabalho das mulheres parece que continua como se fosse uma outra cozinha. Cuidar das flores que enfeitam a casa, das plantas medicinais, das hortaliças, das fruteiras, dos pequenos animais. É muito trabalho para as mulheres que se desdobram para dar conta de tantas tarefas ao mesmo tempo! Enquanto ferve a água para o café, ela lava as vasilhas dos bichos beberem. Enquanto o feijão cozinha bota água nos canteiros, colhe frutos e temperos para deixar o almoço delicioso. E segue varrendo o terreiro, a casa e deixando tudo pronto para a família. Todo esse trabalho é realizado em contato direto com a água. A distribuição da água dentro de casa e ao redor dela passa pela capacidade das mulheres em fazer uma boa repartição para os seus diversos usos: cozinhar alimentos, limpar a casa, higiene pessoal, lavar as roupas, a louça, aguar as plantas, dar de beber às pessoas e aos animais e garantir que ela não vá faltar. Quem vive no Semiárido sabe que todo cadim d’água é importante. Por isso, nenhuma gota deve ser desperdiçada. Com os Programas de Formação e Mobilização para a Convivência com o Semiárido desenvolvidos pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) - Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) e Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) - essas lições foram aprendidas e a água da chuva que antes batia no telhado e escorria para o chão sem uso, agora é guardada nas cisternas e usada para beber, cozinhar, matar a sede dos bichos e produzir alimentos.
Formação sobre protagonismo da mulher
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A experiência dos Quintais de Maria
Com o Bioágua, uma nova fonte é aproveitada para a produção de alimentos saudáveis. Aquela água da lavagem de roupa, da louça e do banho que antes escorria pelo quintal, acumulava, virava lama e lançava mau cheiro no ambiente, agora pode ser tratada, filtrada e aproveitada para aguar hortaliças, fruteiras e todo tipo de planta que nasce e cresce no quintal e ao redor de casa. É um tipo de saneamento básico realizado pelas famílias.
Numa época dessa, a gente tem um olho d’água que se chama ‘água azul’, que fica no pé da serra. Quando chega setembro, no rio aqui acaba a água. Até janeiro fica só um pouquim nesse olho d’água. Ontem mesmo fui lá ispiá. Tem só um buraquinho desse tamanho (juntas as mãos em círculo). De lá até aqui é uns dois mil e quinhentos metros. Só que agora, esse inverno muito fraco, quando chega novembro a água acaba. Como minha casa é nova, nesse ano eu ganhei a cisterna. Tem que encher ela. De agora pra frente, vou ter que consumir da cisterna. O meu consumo de beber é todo dela. E o consumo do bioágua já vai pras plantas.”
FRANCISCO EDUARDO
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O Brasil tem uma Política Pública Federal de Saneamento Básico (Lei 11.445/2007) de responsabilidade do Ministério da Saúde, e que através da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) prevê ações integradas de saneamento levando em conta a saúde, os recursos hídricos, a habitação, a igualdade racial e o meio ambiente. Entende-se por Saneamento Básico os serviços que garantem abastecimento d’água potável às residências, coleta e tratamento de esgoto sanitário, coleta e destinação final do lixo doméstico e outros, drenagem e manejo das águas que vêm das chuvas. Aonde o Saneamento Básico não chega, o que se vê é o aumento de doenças como diarreia, vômito, além de internações hospitalares, em que mais da metade são registradas na região Nordeste. A falta de saneamento gera consequências graves na saúde, na educação e na economia. De acordo com o Instituto Trata Brasil, em 2013 o país teve mais de 14 milhões de casos de afastamento do trabalho por diarreia ou vômito. A entidade aponta que, se 100% da população tivesse acesso à coleta de esgoto, haveria uma redução, em termos absolutos, de 74,6 mil internações. 56% dessa redução ocorreria no Nordeste.
Na zona rural, a qualidade da água ainda é um desafio. O uso indiscriminado e sem controle de agrotóxicos usados na agricultura convencional e no agronegócio está contaminando nossas cacimbas, olhos d’água, açudes, barragens, rios e riachos causando uma enorme quantidade de doenças respiratórias, do coração, depressão e muitos tipos de câncer na população. Trabalhadores e trabalhadoras em contato direto com os agrotóxicos são os mais vulneráveis. Muitos casos de invalidez e mesmo de morte tem sido registrados no país. Tudo em nome do aumento da produção e do dinheiro. Pouca ou nenhuma preocupação com a saúde das pessoas. Os grandes proprietários de terra, a indústria que fabrica esses venenos e os governos que apoiam esses setores criam as condições para que os agrotóxicos sejam usados em larga escala na nossa agricultura, prejudicando a vida de quem trabalha no campo e de quem come os alimentos.
Sistema de reuso de água construído na comunidade Albino, Ubajara
Construção do sistema bioágua - Comunidade Albino, Ubajara.
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Curso de formação para pedreiros - Comunidade Areia Branca, Tianguá.
“Antes do Bioágua eu não tinha as frutas e verduras que eu tenho hoje.”
ROSA
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Antes havia muito desperdício de água, e aquela água gerava lama no quintal, ali pode gerar mosquito. E agora não, né? Tudo tá enxutim. No interior, no terreiro, no quintal, né? Aquela água fica exposta. Uma galinha lá vai e cisca, vem um bicho, faz aquela lameira. Agora acabou esse negócio de lama, né? Porque o meu quintal lá é todo cercado de tela. O setor que eu cultivo é todo cercado de tela. Do meu quintal pra cá eu crio galinha, porco, mas tudo é separado. Aí, o cano vem das pia, passa pro bioágua. Tem as telas, então os bichos não tem contato com a água que vem. E é tudo cercadinho.”
RAIMUNDO
A água é importante e necessária a todas as formas de vida, mas ela precisa chegar com qualidade e quantidade suficiente para todos os seres. A falta d’água em muitas regiões do mundo tende a piorar nas próximas décadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) já alertaram sobre a possibilidade da falta d’água para o consumo humano na maioria dos países. Daí a importância da reutilização das águas cinzas, essas que vêm da lavagem de roupa, da cozinha e do banho, e que tratadas, servem para a irrigação na agricultura e para outras utilidades domésticas. Por outro lado, a distribuição e gestão da água no planeta têm servido mais aos grandes negócios do que às necessidades humanas e da agricultura familiar, essa que abastece mais de 70% do mercado interno, garantindo alimento diário nas nossas mesas. No Semiárido, a tendência de falta d’água é muito grande. O crescente desmatamento na região tem contribuído com o esgotamento das nossas fontes. Animais morrem e queimadas aumentam. E o racionamento de água tem sido forçado de forma crescente, mas não de maneira igualitária entre territórios, populações e setores econômicos. De acordo com o Fórum Ceará no Clima, enquanto cidades inteiras não têm água, até 211 milhões de litros d’água são fornecidos por dia para as indústrias do Pecém. Este é um exemplo de como os governos direcionam a
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água para os grandes negócios, deixando boa parte da população em situação de insegurança hídrica. O Projeto Água de Reuso para os Quintais de Maria, com a implementação de uma tecnologia social simples, tenta garantir uma alternativa de abastecimento de água para as pessoas mais prejudicadas no acesso a esse direito humano tão básico e fundamental. O bioágua tem proporcionado um excelente desempenho das famílias na produção de alimentos e garantido a qualidade do que é produzido pela forma agroecológica, sem o uso de venenos, sem degradar a terra e sem poluir a água. Nos momentos de formação, as famílias aprenderam a produzir e usar as caldas naturais do alho, do fumo e do nim para controlar os insetos; a organizar a horta candeeiro, feita de garrafas PET que aproveitam ainda mais a água, sem desperdiçar nadica de nada; a produzir também o húmus e as minhocas para reforçar a adubação da terra, aumentando a produção dos alimentos. Coisas simples que estão mudando a vida de quem mora na zona rural. A convivência com o meio ambiente ensina cotidianamente. Acolher os pássaros e pequenos seres vivos, fazer as pazes com a natureza e recuperar a capacidade produtiva da mãe terra é o único caminho que a humanidade tem a trilhar caso queira garantir a própria existência.
Família participante do projeto Comunidade Areia Branca, Tianguá.
Oficina de produção agroecológica - Areia Branca, Tianguá
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Agroecologia e Economia Solidária nascendo nos Quintais de Maria ntes do bioágua, as mulheres que hoje fazem parte do Projeto disseram que desejavam muito produzir nos seus quintais, no ao redor de casa, mas a água não chegava. E mesmo reaproveitando a que saía da pia ou da lavagem de roupa, muitas vezes ela chagavam a matar as plantas. Faltava aí o tratamento correto. Agora a mesma água está fazendo crescer as hortaliças, as fruteiras e os legumes.
A variedade de plantas cultivadas só cresce e melhora a segurança alimentar e nutricional de quem participa do Projeto. Na hora de decidir o que deve ser plantado, os homens costumam escolher as fruteiras e as mulheres ficam com as hortaliças, leguminosas, plantas medicinais e ornamentais. A diversidade de plantas é impressionante. Tem de quase tudo nesses pequenos quintais: cheiro-verde, coentro, cebola, tomate, couve-flor, brócolis, maxixe, abobrinha, pimentão, pimentinha, pimenta malagueta, urucum, pepino, jerimum, macaxeira, fava, feijão, quiabo, cenoura, beterraba, rabanete, alface, couve, malva, hortelã, cidreira, arruda, capim-santo, goiaba, acerola, caju, amora, maracujá, laranja, mamão, cajá, manga, limão, pitanga, tangerina, banana, graviola, pau-d’arco, jucá, sabiá, mulungu.
Rosa Cruz, agricultora da Comunidade Areia Branca, Tianguá.
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A experiência dos Quintais de Maria
Agora os quintais estão mais coloridos, os pássaros voltaram a compor a fauna, as mesas estão mais enriquecidas e a saúde preventiva tem melhorado a qualidade de vida das pessoas, graças a uma alimentação de boa qualidade. Agora não há dependência de dinheiro para temperar bem o feijão, para saborear uma boa fruta. Tudo
Ele (técnico agrícola) explicou pra gente, ele fez visita no nosso quintal, a gente cultivou. A gente chegou a vender as verduras da gente (...) Foi muita coisa que sobrou pra casa, o que sobrou a gente vendeu. Pra mim foi uma rendazinha. Porque a gente botava uma caixa de verdura em casa, eu ajeitava, o homem pegava a moto, vendia, quando ele chegava ali na Chapada, era vinte reais que ele trazia. (...) Toda vida eu gostei dessas coisas. Era o alface, era o coentro, era o cheiro verde, muitas coisinhas eu plantei e muitas coisinhas deu. E o tomate também; respeite o tamanho! E sempre tô cultivando. A água tá pouquinha, mas eu não tô deixando acabar; eu tô conservando pra quando chegar o inverno. Os estrume tá no ponto, o bioágua tá cheio de estrume, aguadim pras minhoca, cheio de minhoca. (...) Eu tô muito feliz! Pra mim é um divertimento.”
JOANA MARIA
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Toda vida eu usei a água da pia pra aguar minhas plantas, mas com isso matei um bocado (delas)!”
LÚCIA
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vem do quintal. Isso é segurança e soberania alimentar.
contaminação por gorduras e outros produtos de limpeza.
Nos quintais acompanhados pelo Projeto na comunidade Areia Branca, no município de Tianguá, região de carrasco, a produção pelo Sistema Bioágua sofreu menos com o clima quente. Já na comunidade Volta dos Almeidas, no município de Granja, o calor tem maltratado muitas hortaliças e fruteiras pequenas. Além do mais, nas casas onde não existem banheiros, a coleta de água diminui e não é possível aproveitar toda a capacidade doméstica. Na comunidade Albino, município de Ubajara, apesar de estar localizada no pé da serra, a produção tem sido bem satisfatória. Apenas onde o solo é mais pedregoso as famílias têm encontrado mais dificuldades.
Essa produção está alimentando bem as famílias e já tem rendido até uma sobra que tem sido repartida com os vizinhos, amigos e outros membros da família. É bonito ver que o Projeto tem favorecido a prática da repartição, gerando mais solidariedade, amizade e aproximação entre as pessoas. Já tem gente levando parte desses produtos para comercializar na vendinha da comunidade, melhorando a renda familiar e se organizando para participar das Feiras na sede dos municípios ou distritos. Que beleza!
Como se sabe, no semiárido o sol brilha ardentemente na maior parte do ano. Considerando que as chuvas são escassas, a evaporação tanto em açudes, rios e represas, como no solo, provoca grandes perdas de água, o que dificulta o desenvolvimento das plantas e dos animais. Antes da implantação do sistema de reuso, muitas famílias usavam a água doméstica nas plantas, mas muitas acabavam morrendo. Agora, com o bioágua, faz-se o tratamento e filtragem antes de usá-la na irrigação, garantindo que não haja
O Sistema de Reuso de Água em pouco tempo está provocando muitas transformações nas famílias, nas comunidades, no meio ambiente e na vida das mulheres. Uma dessas mudanças tem sido o desenvolvimento da fala pública, tão espontânea entre os homens e tão difícil para elas. Durante as formações, ou quando a família recebe visitas de intercâmbio em seus quintais, muitas vezes são elas que, superando o medo de falar em público, estão apresentando os benefícios que o sistema tem trazido; vencendo uma timidez que antes existia por pura falta de oportunidade. Agora estão desenvolvendo mais esse talento que poderá lhes trazer novas conquistas.
Formação sobre protagonismo da mulher.
Lançamento do projeto, em Tianguá.
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Cuidar para garantir direitos ara que o Projeto alcance o máximo da sua capacidade, é preciso que as famílias façam o manejo e a manutenção dos equipamentos. Cuidar para que a água de reuso não tenha a presença de alvejantes e de outros produtos químicos, porque eles prejudicam as plantas. Tirar o húmus produzido pelas minhocas no tempo certo, abastecer o tanque com esterco e cuidar para que o minhocário não fique com uma quantidade exagerada de minhocas. Lavar os canos que recebem a água que sai da caixa de gordura para evitar que seus furos fiquem entupidos e manter a caixa d’água sempre limpa. A caixa de gordura também precisa de limpeza, por isso é importante sempre observar como ela está.
Rosilene da Costa Cardoso, jovem participante do projeto - Comunidade Volta dos Almeidas, Granja
A mangueira que faz a irrigação por gotejamento também precisa daquele acompanhamento para ver se os furinhos estão permitindo a saída da água. Caso você tenha a Horta Candeeiro, feita com garrafa PET, precisa abastecê-la cada vez que faltar água. O bom é saber que a planta vai beber somente o que ela necessitar, sem que haja qualquer desperdício. Água é um Direito Humano, não é mercadoria. Porque se fosse assim, só teria acesso a ela quem pudesse pagar. No entanto, a distribuição e o uso da água estão muito ligados aos interesses comerciais das grandes empresas, do agronegócio, e, consequentemente, à ameaça de privatização das fontes de água no Brasil é uma sombra que nos persegue. Ela traz prejuízo para todos, principalmente para as mulheres que ficariam mais sobrecarregadas com o aumento do trabalho na busca pela água, enfrentando longas caminhadas, carregando peso, tendo que ficar horas em grandes filas aguardando os carros-pipa. Essa realidade que faz parte do passado da vida de muitas mulheres ainda existe. Além do mais, com a privatização da água, muitas famílias podem ficar sem acesso. A qualidade e a quantidade de alimentos produzidos e consumidos podem diminuir muito, gerando insegurança alimentar, agravamento da saúde e, consequentemente, aumento da pobreza.
Esse bioágua, a água que você vai usar você já sabe o destino dela.”
JOSÉ MARIA
Acho que todos nós temos direito. Água é vida! Que se não tiver água, não tem nada, né? Tem que ir atrás dela.”
FRANCISCO EDUARDO
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É exatamente porque as mulheres assumem grandes responsabilidades na busca e no gerenciamento da água no espaço da casa, para a família, e na pequena produção agropecuária, que elas precisam tomar parte nas decisões ligadas à gestão e à distribuição da água. A participação das mulheres nos Comitês de Bacia Hidrográficas, nos Conselhos Municipais, nas Associações Comunitárias, Sindicatos, nos partidos políticos, nos governos é fundamental para que sua voz seja ouvida e a situação doméstica e da pequena produção rural seja considerada. Mas se elas estiverem sobrecarregadas com o trabalho doméstico, como poderão sair de casa e ocupar esses espaços? Só com essa participação política das mulheres, as decisões serão mais democráticas e justas. Para que isso aconteça, as mulheres precisam estar empoderadas, organizadas e apoiadas umas nas outras. As organizações de mulheres e os Movimentos Feministas são espaços que elas têm ocupado, sendo lugar oportuno para compreenderem melhor as raízes e as consequências das desigualdades, da opressão, da violência, da dominação e da exploração que sofrem. É assim que vão enfrentando os desafios para transformar as relações entre homens e mulheres, tornando a sociedade mais justa e igualitária. Além da formação central a respeito da realidade das mulheres e do tema do direito à água, o Projeto trouxe para as comunidades muitos outros assuntos que fazem parte do cotidiano das pessoas, como a questão da terra e das sementes. Nas três comunidades já existem Casas de Sementes que agora podem se desenvolver ainda mais com a produção que virá dos quintais. Quanto ao direito à terra, esse assunto ainda precisa ser mais debatido para fortalecer e organizar melhor as famílias nessa luta.
A experiência dos Quintais de Maria
PLANTAR E COLHER De tantos frutos colhidos nos quintais através do Projeto, é bonito ver o entusiasmo e o interesse das famílias, em especial o das mulheres, com o Sistema de Reuso.
Maria das Graças, agricultora da comunidade Areia Branca, Tianguá
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Sementes plantadas, frutos colhidos! s Quintais de Maria, construídos nas comunidades de Volta dos Almeidas, em Granja; Albino e Lagoa da Moitinga, em Ubajara; Areia Branca, Tetéus, Papagaio e São João, em Tianguá, transformaram a rotina e os hábitos das 42 famílias que participaram do projeto, em especial, das mulheres. Além da implantação das estruturas da tecnologia e dos quintais, a iniciativa trouxe conhecimento técnico de produção, envolvimento social na comunidade, reconhecimento da agricultura familiar, e, principalmente, protagonismo das mulheres e valorização dos trabalhos por elas desenvolvidos, para além do cuidado com a casa e os filhos. O projeto possibilitou, em curto prazo de implementação do sistema de reuso, a diversificação na alimentação, além de ter gerado complemento significativo na renda das famílias – o que tem impacto direto na qualidade de vida. Testemunhamos a FELICIDADE presente nos olhares e nos depoimentos de quem participou do projeto, no prazer de oferecer para os vizinhos algo produzido no próprio quintal. É claro que não poderia ficar de fora dessa lista de frutos positivos a inclusão de novos produtos na alimentação familiar - o que antes era comprado na feira, hoje é produzido no próprio quintal e totalmente livre de agrotóxicos. Vale lembrar que, o cuidado com a lavoura de forma equilibrada com o ambiente, sem uso de insumos químicos (como adubos e venenos) foi aprendido no processo de formação. As famílias se apropriaram da agroecologia, tanto no que diz respeito à natureza, quanto a tudo o que ela também ensina sobre o respeito, a igualdade e a justiça nas relações humanas. Importante ressaltar que essas famílias vieram de um processo anterior de sensibilização e formação para a agroecologia e para
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Fotos da coleta de dados para a sistematização do projeto - Comunidade Volta dos Almeidas, Granja.
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a convivência com o Semiárido a partir dos programas realizados pela Articulação do Semiárido Brasileiro, como citado ao longo desta publicação. Esse envolvimento favoreceu significativamente para a rápida evolução desses pequenos agroecossistemas nas comunidades. Os Quintais de Maria, para além de tudo o que conseguimos relatar a partir de entrevistas e rodas de conversa, despertou para muitas famílias e comunidades o desejo de participação social para a conquista de mais direitos em relação à agricultura familiar. Uma das comprovações do exercício da convivência com o Semiárido é de que não é preciso grandes extensões de terra para alcançar uma vida digna, mas é preciso sim, e de direito, ter acesso a incentivos, conhecimento e reconhecimento social e político da importância da agricultura familiar e da agricultura agroecológica. Organizações, movimentos e entidades, como a Rede Cáritas Ceará, têm promovido inúmeras ações nesse sentido ao longo das últimas duas décadas, buscando construir junto com as famílias, comunidades e grupos a promoção da natureza, da vida, e - como não poderia estar desvinculada, da própria cidadania.
Cáritas Diocesana de Tianguá e Cáritas Regional Ceará
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