Francisco de Assis

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Grandes espíritos

ENQUANTO A IGREJA ROMANA ESTAVA PRESA EM SEUS DOGMAS E AMBIÇÕES, ELE VEIO AO MUNDO PARA RESGATAR A PUREZA DOS ENSINAMENTOS DE JESUS Por Érika Silveira

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rancisco de Assis tornou-se para a humanidade um dos maiores exemplos de fraternidade, bondade e humildade. A grandeza de sua missão ultrapassa todos os limites das palavras, referências escritas ou crenças religiosas. Encarnou junto a outros missionários com o propósito de trazer o equilíbrio e a ponderação às igrejas. Em uma época dominada pelas forças trevosas da inquisição e das cruzadas, a Itália como toda a Europa daquele tempo, vivia uma fase bastante conflituosa. Nasceu em 26 de setembro de 1182, na cidade de Assis, província da Úmbria no centro da Itália, como filho de Pedro Bernardone, um rico comerciante de tecidos da região, homem rústico e impiedoso e de Maria Picalline, uma mulher doce e dedicada ao lar. Apesar do luxo da casa, conta-se que sua mãe, ao enfrentar grandes complicações durante o parto e até perigo de vida, teria recebido uma intuição para que tivesse o filho no estábulo da casa, junto aos animais, seguindo o exemplo do Mestre Jesus, e aproveitando a ausência de seu marido em longas viagens de trabalho, assim procedeu. Chegou ao mundo aquele que se tornaria o missionário da paz.

A conversão de Francisco Francisco cresceu em meio à riqueza e ao incentivo do pai para que desfrutasse dos bens que o dinheiro e o poder poderiam lhe proporcionar. Para não criar maiores problemas com o inflexível Sr. Bernardone, Francisco passou a freqüentar a sociedade e a viver os prazeres terrenos, mas sua alma

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desejava ardentemente vôos maiores, e cada vez mais a força espiritual começou a desabrochar em seu coração. Sem saber que direção seguir, vivenciou diversas situações até encontrar seu verdadeiro caminho. Enfrentou a prisão no período de guerra entre a região de Assis, sua cidade natal e Perugia, onde todos os habitantes foram convocados para a defesa. De volta a liberdade, decidiu ser cavaleiro por acreditar que poderia desta forma defender sua pátria, mas sempre orientado pelo plano espiritual, não prosseguiu na idéia. Novos rumos foram surgindo. Como fora acostumado aos princípios da Igreja de Roma, as manifestações mediúnicas não foram compreendidas prontamente. Resolveu então meditar e orar para tentar desvendar o sentido das “vozes interiores”, que ouvia constantemente. Em uma de suas meditações, pediu com toda sua fé que Deus lhe direcionasse os passos. Logo recebeu uma comunicação dizendo: “Constrói a minha igreja, com o objetivo de restabelecer o sentido dos fundamentos do Evangelho dentro dela, ao invés de guerras e sangue em nome da religião”. A princípio, não entendendo o alcance do chamado e vendo que a igreja de São Damião, que freqüentava, necessitava urgentemente de reforma, regressou para Assis, entrou na loja paterna, e vendeu finos tecidos levando o dinheiro obtido para as mãos do sacerdote da capela, oferecendo-se para ajudá-lo na reconstrução, com suas próprias mãos. Como resultado de sua atitude impetuosa, foi repudiado e deserdado pelo pai, que passou a duvidar de seu estado mental e convencido de


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Grandes espíritos

PEDIU AOS ESPÍRITOS SUPERIORES QUE LHE CONCEDESSEM PROVAR AINDA MAIS O PODER DE SUA FÉ, E QUE PARA ISSO, O DEIXASSEM PASSAR PELAS DORES FÍSICAS; AS MESMAS CHAGAS DE CRAVOS E ESPINHOS ABERTAS NO CORPO DE JESUS que a decisão do filho não teria volta, decidiu recorrer ao Bispo, instaurando-se um julgamento, para que lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco então se desfez de tudo até ficar nu; jogou os trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: “Até agora chamei de pai a Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste”.

A verdadeira construção da igreja Trabalhou durante um longo tempo, achando que deveria reconstruir a igreja no sentido material e ao término da restauração da última igreja do local, a capelinha de Santa Maria, passou a questionar o que faria depois. Certa ocasião, durante uma missa, escutou o padre contando uma das passagens contidas

no Evangelho, dizendo: “Nada leveis para o caminho, nem bordão, nem pão, nem dinheiro, nem deveis ter duas túnicas” (Lucas 9,3). Francisco a partir deste exato momento exclamou cheio de alegria: “É isso precisamente que quero! É isso que desejo de todo o coração!”. Finalmente descobriu que mais do que restaurar o concreto material, deveria restabelecer o verdadeiro sentido da palavra de Jesus. Abandonou a família, os bens terrestres e em sua escolha, recebeu apoio e admiração de uns e de outros o desprezo. Mas com suas palavras doces e sábias, foi conquistando muitos amigos e seguidores, apesar da resistência do clero. Todos que o ouviam se enchiam de novas esperanças e ficavam extasiados diante de um homem aparentemente franzino e frágil, capaz de com o poder da sua fé e de um simples toque de suas mãos amorosas curar chagas de leprosos e doentes da alma. Trabalhou incessantemente sem jamais aceitar nenhum reconhecimento, nem mesmo promoção eclesiástica. O movimento franciscano começou a desenvolver-se como uma ordem religiosa, com um número de membros tão grande que foi necessária a criação de províncias. Grupos de frades foram encaminhados por toda extensão da Itália e fora dela.

A Ordem das Clarissas Ainda durante o período de captação de recursos para as obras da igreja, Francisco pedia ajuda cantando canções tão lindas que chegavam a causar sensação de grande emoção nos expectadores. Em uma dessas ocasiões, durante uma missa dominical, duas belas moças pararam para escutar as músicas do pedinte, quando ele se dirigiu à menina Clara e disse: “ Vinde e ajudai-me na reconstrução da igreja de São Damião, que será no futuro, mosteiro de senhoras cuja vida e fama há de dar glória à igreja e ao nosso Pai Celeste”. Naquele momento, a força do passado unia novamente duas almas afins, que em seu grau de elevação maior escolheram a condição de um amor sem apegos terrenos para vivê-lo de forma pura e verdadeira na caridade.

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NA MESMA SEMANA O PAPA RECEBERA EM SONHO UMA REVELAÇÃO. RECONHECEU QUE ERA O PRÓPRIO DEUS QUEM INSPIRAVA FRANCISCO Clara de Assis que compartilhava dos mesmos ideais de amor e doação ao próximo. Tornou-se a primeira religiosa franciscana, fundou a Ordem das Clarissas e foi responsável pela continuidade do ideal de Francisco.

Reconhecimento da Igreja No ano de 1210, Francisco e seus seguidores viajaram confiantes até Roma para buscar a aprovação do Papa Inocêncio III. Nessa ocasião, o Bispo de Assis, grande admirador de Francisco, ajudou a convencer o papa a recebe-lo. Apesar da resistência inicial, marcaram uma segunda audiência. Na mesma semana o Papa recebera em sonho uma revelação. Reconheceu que era o próprio Deus quem inspirava Francisco a viver os ensinamentos do Cristo tão verdadeiramente, concedendo-lhe autorização para pregar o Evangelho nas igrejas, marcando o nascimento oficial da Ordem Franciscana.

A prova final e seu desencarne Trabalhou durante anos na tarefa de doação e propagação dos ensinamentos de Cristo. Com o tempo suas forças físicas foram-se exaurindo e pressentindo a proximidade de seu desencarne recolheu-se no Monte Alverne para sentir, mais de perto, a presença de Deus. Em sua humildade e resignação, pediu aos espíritos superiores que lhe concedessem provar ainda mais o po-

der de sua fé, e que para isso, o deixassem passar pelas dores físicas; as mesmas chagas de cravos e espinhos abertas no corpo de Jesus. Assim procedeu, direcionando cada passo de penitência sem exitar e reclamar. Após cumprir bravamente as provas do corpo, Francisco de Assis, o doce servo de Jesus, partiu para o plano espiritual em 3 de outubro de 1226, mas permanecerá eternamente vivo no coração daqueles que buscam o aprimoramento espiritual.

Oração de São Francisco de Assis Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz! Onde houver ódio, que eu leve o amor, onde houver ofensa, que eu leve o perdão, onde houver discórdia, que eu leve a união, onde houver dúvida, que eu leve a fé, onde houver erro, que eu leve a verdade, onde houver desespero, que eu leve a esperança, onde houver tristeza, que eu leve a alegria, onde houver trevas, que eu leve a luz! Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna!

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