COLÉGIO BRAS ILEIRO DE ES TUDOS S IS TÊMICOS – CBES CENTRO ES P ECIALIS TA EM S AÚDE ES P ECIALIZAÇÃO P ROFIS S IONAL EM ALIMENTAÇÃO ES COLAR
MONOGRAFIA ALEITAMENTO MATERNO ATRAVÉS DOS TEMPOS
PAULA VERGOTTI KUTXFARA
SÃO PAULO - 2007
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS): - Aleitamento materno - Processo pelo qual o lactente recebe leite materno independentemente de consumir outros alimentos, - Aleitamento materno exclusivo - Processo em que o bebê recebe leite materno, sem receber nenhum outro líquido ou sólido, exceto vitaminas, complementos minerais ou medicamentos. - Interrupção precoce do aleitamento materno - foi definida como a interrupção da amamentação antes dos quatro meses de vida do lactente.
O leite materno é sem dúvidas o melhor alimento para a criança, por todas as suas características: Fatores Nutricionais – Quantidades suficientes de calorias e nutrientes para preencher as necessidades das crianças. Fatores Psicológicos – As mães tem satisfação ao sentir que são fonte de nutrição de seus filhos, promovendo o estreitamento mãefilho. Fatores Imunológicos – Efeito bactericida, contém anticorpos importantes que imunizam a criança contra certas doenças infecciosas, sendo também menos provável que provoque reações alérgicas.
Além desses benefícios para a criança, podemos enumerar vantagens: Para as mães: Recuperação pós parto, mais rápida e com efeito contraceptivo, diminuição do risco de câncer de mama e ovário e melhora a saúde óssea materna, assegurando disponibilidade de cálcio para a produção de leite. (EUCLIDES, 2005). Para a família, instituição e sociedade: economia com a alimentação, consultas médicas, medicamentos, hospitalização da criança; redução dos gastos institucionais com aquisição de fórmulas, frascos, bicos ; otimização das equipe de profissionais de saúde com a promoção do alojamento conjunto e eliminação do berçário; redução da poluição ambiental: menos lixo inorgânico resultante do consumo de bicos artificiais e mamadeiras e menos (NETO, 2006).
OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Relatar a prática do aleitamento materno da Antiguidade até o século XXI. OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Apresentar a importância da amamentação; - Observar a evolução das práticas de amamentação adotadas na nutriz e em amas de leite desde a Antiguidade até o Século XXI; - Resgatar os programas de promoção, proteção e incentivo ao aleitamento materno; - Analisar a situação atual do aleitamento materno no Brasil.
METODOLOGIA - Revisão da literatura - Bases de dados BVS, Medline e Lilacs, - Unitermos: “aleitamento materno”, “amamentação” e “história”. Foram incluídos para análise textos que continham dados históricos, sociais e culturais relacionados ao aleitamento materno no período representado pela Idade Média até o Século XXI. Os critérios de exclusão foram relacionados ao tipo de publicação, sendo excluídos os não relacionados à amamentação, sua história e benefícios; artigos publicados em línguas que não portuguesa; Foram selecionados: 11 artigos, 12 livros, 1 manual de orientação de aleitamento materno da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 1 matéria do site da Universidade Federal de Fortaleza e 5 publicações do Ministério da Saúde, compondo um total de 30 referências usadas na realização deste
REVISÃO DA LITERATURA
ANTIGUIDADE (Séculos V a X) - Séculos V e VI : os gregos recebiam alimentos de outras fontes além do leite materno, por meio de vasilhas de barro encontradas em tumbas de recém-nascidos àquela época - Prática de desmame, significando amamentar a criança de outra mulher, sempre na forma de aluguel, ou seja, as amas de leite. Hipócrates escrevendo sobre o objetivo da amamentação, declara que: “somente leite materno é benéfico, sendo de outras perigoso”
IDADE MÉDIA (Séculos X a XV) Século XII: Havia uma atitude de indiferença em relação à criança nessa época, elas eram representadas por homens de tamanho reduzido, expressando que a criança se diferenciava do adulto apenas no seu tamanho e na sua força. Essa concepção predominou até o fim do século XIII, quando passaram a ser reconhecidas por sua proximidade com os anjos e o menino Jesus cujas formas aproximavam-se da morfologia infantil. Século XV: A mortalidade dos bebês é considerável alta no momento das pestes, assim como os abandonos tornam-se suficientemente numerosos para levar a criação de asilos, gerando por sua vez novos abandonos
IDADE MODERNA ( Séculos XV a XVIII) Século XV: A descoberta da infância começa expandir, caracterizando um período de grande avanço na discussão de temas da primeira infância Séculos XVI e XVII: No Brasil, a mulherTupinambá carregava o seu bebê 24 horas por dia atado ao seu corpo, praticando a amamentação sob livre demanda. Os descobridores europeus trouxeram o hábito do desmame. - Conhecimentos Médicos e Religiosos: * Proibiam a relação sexual durante o período de amamentação (18 a 24 meses), por entenderem-se que tornaria o leite humano mais fraco e com risco de envenenamento em caso de nova gravidez. * Consideravam que o colostro era um leite ruim e que não deveria ser oferecido à criança. A alimentação das crianças era a base de leite de animais e de um alimento chamado “ panado” , feito à base de farinha e água Início do séc. XVII: crianças eram consideradas como ”símbolo da força do mal”. Os teólogos viam a amamentação como “relação amorosa e física entre a mãe e o filho, fonte de má educação”.
IDADE MODERNA ( Séculos XV a XVIII) - O envio das crianças para a casa das amas de leite se estende por todas as camadas da sociedade urbana. Ocorre um aumento crescente de mortes infantis, associadas às doenças adquiridas pelas amas. Muitas dessas amas, com receio de que estivessem “repassando afeto” aos bebês, passaram a oferecer o leite de vaca em pequenos chifres furados (precursores das mamadeiras) acarretando assim importantes riscos à saúde das crianças, pois além da oferta em recipiente não estéril, havia o risco de contaminação da água que era adicionada ao leite Século XVII: Na Inglaterra, um índice menor de mortes infantis se deveu ao trabalho do médico inglês William Cadogan que defendia o aleitamento natural, mas que recomendava somente quatro mamadas e intervalos regulares nas 24 horas, além de proibir mamadas noturnas – isso porque ele acreditava que alimentar um bebê nesse período poderia passar-lhe infecção
IDADE CONTEMPORÂNEA (Séculos XIX a XXI) Século XIX: Os índices de mortalidade infantil era alarmante, porém a morte de crianças não era vivenciada com muito sofrimento, devido a identificação da criança morta como um “anjinho, puro e intocado pelo pecado” As faculdades e academias de medicina foram implantadas, surgindo vários projetos destinados a combater as altas taxas de mortalidade em lactentes. As mulheres que não podiam amamentar e que tinham recursos eram orientadas a contratar uma ama de leite em domicílio, fiscalizando todos os cuidados proporcionados ao bebê. Século XX: Com a descoberta da pasteurização e do leite em pó teve início a era do aleitamento artificial. O desenvolvimento científico avançado, permitiu que as indústrias oferecessem fórmulas lácteas para as crianças, procurando oferecer para o mercado um produto substituto do leite materno que tornasse dispensável a presença da mãe junto ao filho Principais responsáveis pela diminuição do aleitamento materno: - A industrialização, a urbanização, o trabalho externo da mulher, a redução da importância social da maternidade
PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E APOIO AO INCENTIVO MATERNO. Preocupados com o desmame precoce e suas graves conseqüências para saúde das crianças, particularmente nos grupos sociais menos favorecidos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) organizaram uma reunião internacional em 1979 para tratar da alimentação de lactentes e crianças de primeira infância, da qual participaram representantes do governo, cientistas, profissionais de saúde, representantes de indústrias de alimentação e a sociedade, nessa reunião, ficou estabelecido a implementação de políticas e ações voltadas para a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno
1979 – código de conduta e ética quanto à propaganda de produtos que interferiram na amamentação Brasil – elaboração “ Código Internacional de Comercialização de Substituto do leite materno” 1980 – Rede Internacional em Defesa do Direito de amamentar (IBFAN) 1981 – Aprovada na Assembléia Mundial de saúde o “ Código Internacional de Comercialização de Substituto do leite materno Brasil cria Programa nacional De Incentivo ao Aleitamento materno (PNIAM) coordenado pelo Instituto nacional de Alimentação e Nutrição (INAN) e Ministério da saúde.
1986 – Assembléia Mundial de Saúde = Resolução que diz sobre as doações de substitutos de leite materno como sendo desnecessária às maternidades. 1988 – Aprovam os códigos : - Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para lactantes - Normas sobre funcionamento de bancos de leite Humano E na nova constituição brasileira, foi incluída: - Direito da trabalhadora a 4 meses de licença maternidade Direito ao pai a 5 dias de licença paternidade. 1989 – A OMS e UNICEF lançam “ Declaração Conjunta sobre papel dos serviços de saúde e maternidade”, sendo 10 ações para o Incentivo ao aleitamento materno, chamado “ 10 passos para o Sucesso do Aleitamento materno”
1990 – Cúpula Mundial da Infância estabelece metas: - Garantira a duração da amamentação de 6 meses e continuar amamentar até o segundo ano de vida ou mais. - 50% dos hospitais ou mais que atendam a partir de 1.000 partos sejam credenciados como “ Hospital Amigo da Criança” - Acabar com a distribuição de substitutos do leite materno nos serviços de saúde 1991 – lançada “ Iniciativa Hospital Amigo da Criança” (IHAC), tendo 2 objetivos principais: - mudar a rotina hospital de acordo com os 10 passos para o sucesso da amamentação - Não aceitar doações de substitutos do leite materno 1992 - Começa a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM) 1993 – Normas para Alojamento Conjunto Objetivo – Fortalecer o vínculo mãe-filho e estimular a prática do aleitamento materno
1998 – Rede nacional de banco de leite Humano. Iniciativa conjunta do Ministério da saúde e Fundação Oswaldo Cruz. Muitas mães descobrem o excesso de leite e tornam-se doadoras. 2001 – Durante a 54º Assembléia Mundial da Saúde fica estabelecido a duração ótima para o aleitamento materno exclusivo para 6 meses, não mais de 4 a 6 meses, como antes. 2002 – Estratégia Global sobre Alimentação Infantil e da Criança Pequena. Reafirmam a necessidade de incentivar a amamentação exclusiva por 6 meses e promover a alimentação complementar sem interromper a amamentação até pelo menos 2 anos. 2003 – Dia nacional de Doações de leite Humano, para estimular as doações
2004 – Ministério da saúde lança “ Prêmio Bibi Vogel” , tendo como objetivo reconhecimento de ações inovadoras na proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno 2005- Foi publicada Portaria GM1449, que institui o Grupo de Trabalho com objetivo de estabelecer critérios para o Primeiro Monitoramento Oficial da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para lactentes e crianças de primeira Infância, bicos, chupetas e mamadeiras.
SITUAÇÃO ATUAL DO ALEITAMENTO MATERNO NO BRASIL O Ministério da saúde, em 2006 afirma que apesar das vantagens do aleitamento materno, o número de bebês que só mamam no peito é muito baixo: 53% dos recém nascidos mamam até o 1º mês 23% mamam até os 3 meses 9% mamam até os 6 meses A alimentação complementar, muitas vezes se inicia muito cedo ou muito tarde, e os alimentos são nutricionalmente inadequados
CONSIDERAÇÕES FINAIS - O ato de amamentar é cultural, influenciado pela família e pela sociedade. - Ao longo dos séculos, a mulher vem, gradativamente, afastando-se da função de amamentar seus filhos, principalmente pelo seu novo papel na sociedade, pelo cuidado com o corpo e pelo progresso da industrialização. - O aleitamento materno não deve ser visto como responsabilidade exclusiva da mulher, mas como responsabilidade dos pais e profissionais da saúde. - As informações e a tomada de consciência sobre os benefícios e práticas do aleitamento materno, são de fundamental importância. O ato de amamentar deve ser cultivado de geração para geração.
OBRIGADA !!!
Mãe amamentando, Renoir,1886
“Para amamentar uma criança não é necessário que se a ame, como também, para amar uma criança, não é necessário amamentá-la”