Revista AGRI 3/14

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revista de agricultura | inverno 2014

ANA LAINS CANTA PORTUGALIDADE NOS JERÓNIMOS Entrevista | Fadoando TEMA CENTRAL

ACOLHIMENTO EM MEIO RURAL

Rede RURBAN desenvolve Programa Piloto na Beira Interior Experiências em Portugal REPORTAGEM

NA APANHA DA PÊRA ROCHA ESTUDO

Formação e educação de adultos impulsionam novas actividades profissionais em meio rural 1


EDITORIAL

ABORDAMOS NESTA REVISTA

O TEMA DO ACOLHIMENTO EM MEIO RURAL. ÍNDICE A REVISTA EM REVISTA 5 | A SALA ESTAVA CHEIA, A ABARROTAR 6 | TEMOS MAR PARA PESCAR, TERRA PARA SEMEAR 8 | FADOANDO 10 | PROGRAMA RURBAN 11 | OLHAR COM ESPERANÇA PARA OS NOVOS PORTADORES DE PROJECTOS 15 | PLANEAMENTO SUSTENTÁVEL DA MIGRAÇÃO 16 | OPORTUNIDADES EM MEIO RURAL 17 | APOIAR A FIXAÇÃO DE JOVENS EM MEIO RURAL ATRAVÉS DO VOLUNTARIADO 18 | EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE ADULTOS ALAVANCA DESENVOLVIMENTO RURAL 19 | REPORTAGEM NA APANHA DA PÊRA ROCHA 22 | VÊEM-SE CADA VEZ MAIS GRANDES GRUPOS DE TRABALHADORES 27 | CANTIGAS POPULARES 28 | PERÂ FEIA 29 | CNJ INTEGRA ACÇÕES DA BOLSA DE TERRAS NO PROGRAMA RURBAN 30 | GREENFEST 2014 NO ESTORIL 32 | EMBARCA NESTA NAU! 33 | FEIRA DE CAÇA & GASTRONOMIAL 34 | I GALA SOLIDÁRIA FADOANDO 35

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NA APANHA DA PÊRA ROCHAL

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FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE CNJ - Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural SEDE: Tapada da Ajuda 1349-018 Lisboa, NIPC 504936832 Inscrição na ERC 126188 DIRECTOR Luís Saldanha Miranda DIRECTOR – ADJUNTO Carlos Alberto Franco COORDENADOR EDITORIAL Carlos Valentim Ribeiro DIRECÇÃO E REDACÇÃO Praça da Alegria n.º 6, 2.º Dto., 1250-004 Lisboa Telefone: 213153137 - 963402242 914630395 - 933531050; Linha Verde: 800100107 Fax: 211550860 Email: geral@cnjap.pt Internet: www.cnjap.pt COLABORAÇÃO NESTA EDIÇÃO Artur Gregório (In Loco, Iniciativa aHorta); co-financiado por:

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REPORTAGEM

Frederico Lucas (Infoex, Novos Povoadores); Alexandre Jacinto (Associação H2O); Isabel Rodrigo (ISA – UL); Carlos Franco (CNJ); Helena Coelho (CNJ). FOTOGRAFIA CNJ, H2O, Nau dos Corvos, In Loco, Novos Povoadores. Colaboração especial de Mário Almeida (Museu Nacional de Arqueologia) fotos de Ana Lains e Fadiando. Reportagem, reuniões e eventos Carlos Ribeiro DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO Sofia Pepe IMPRESSÃO E ACABAMENTO Kronos – Edições e Publicações, Lda Tiragem – 5000 exemplares Todos os artigos assinados são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as opiniões da Direcção da CNJ. É permitida a reprodução dos artigos publicados, para fins não comerciais, desde que indicada a fonte e informada a Revista. Os artigos da Revista AGRI são escritos de acordo com as opções dos seus autores no que ao Acordo Ortográfico diz respeito. A PUBLICAÇÃO DA REVISTA AGRI É APOIADA PELA REDE RURAL NACIONAL E PELO PRODER PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO RURAL

Entendo que esta questão não pode nem deve de ser desligada de uma outra, mais profunda e radicalmente mais importante, a manutenção de um País equilibrado social e regionalmente. E isso só se consegue com duas coisas – pessoas e condições sustentáveis de vida e trabalho. É neste quadro que temos vindo a participar no programa Rurban. Procurando com um conjunto alargado de parceiros e de experiências, delinear estratégias e formas de actuação que potenciem e auxiliem quem queira e se sinta desperto para abarcar um projecto de vida em meio rural. Criando e trabalhando mecanismos e ferramentas que ajudem à fixação/ instalação de jovens em meio rural e em territórios de baixa densidade. Queremos que Portugal não tenha dois terços do território vazio mas sim que seja um território de continuidade, onde as oportunidades se multipliquem e os Portugueses se realizem. Porque só existe Portugal onde haja Portugueses. Carlos Franco Vice-Presidente da CNJ – Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural

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A revista em revista Carlos Ribeiro | Coordenador Editorial Esta edição da AGRI apresenta uma diversidade temática superior às anteriores e certamente que ganha em substância e em interesse para os leitores. Pesquisámos temas actuais como o acolhimento em meio rural, alargámos o espectro temático à cultura e ao espectáculo, iniciámos um ciclo de reportagens com a apanha da pêra rocha e começámos a dialogar com empresas e negócios que apresentam relação indirecta com a agricultura e o desenvolvimento rural, no presente caso o restaurante penichense Nau dos Corvos. Continuámos a cobrir eventos e projectos destacando neste número de Inverno o Programa Rurban que é apresentado de forma muito sumária atendendo ao facto da sua elaboração estar a ser objecto de um processo de co-construção, ainda a decorrer, protagonizado pelos parceiros da Rede Rurban. Na ilustração do tema central relacionado com o acolhimento em meio rural apresentamos várias experiências que vão do Norte a Sul do país., com incidência em Alfandega da Fé, Rio Maior e S. Brás de Alportel. Em matéria de eventos destacamos o Greenfest e a Feira de Caça e Gastronomia realizada nas Termas de Monfortinho.

ANA LAINS ENCANTOU

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TEMA CENTRAL

Uma das linhas de aprofundamento das estratégias de Desenvolvimento Local, como já tivemos oportunidade de afirmar por ocasião da publicação do trabalho criativo da Arquitecta Cristina Rodrigues (Museu Rural Século XXI), situa-se na mobilização do capital cultural e identitário do mundo rural para consignar valor nos produtos e no conjunto da oferta das zonas rurais e consequentemente posicionar estes territórios na competitividade global em pé de igualdade com os

restantes. O espectáculo realizado nos Jerónimos, que aqui destacamos, deu asas a uma portugalidade oculta que a voz de Ana Lains despertou e revelou. Houve magia no Museu Nacional de Arqueologia e Filipe Faria e as Adufeiras de Idanha reforçaram as emoções de todos s que viveram uma noite especial que dificilmente será esquecida.

A PÊRA ROCHA COM SOL A PIQUE

Andar de balde na mão, entre árvores, carreiras e palotes, com tempêraturas nos 30-35 graus, foi o que fizemos para conhecer a realidade dos trabalhadores rurais sazonais que realizam a apanha da pêra rocha na região do Oeste. Para um produto que conta com uma elevada notoriedade e até com uma forte projecção mediática, não deixa de ser estranho o silêncio que se verifica em torno das condições de trabalho de milhares de homens, jovens, mulheres e até idosos que encontram neste curto período de verão uma fonte de rendimento que compensa as dificuldades económicas e sociais do dia-a-dia. Em aspectos básicos e elementares das relações laborais e profissionais, esta incursão e vivência no seio dos grupos de trabalho da zona do Bombarral e Cadaval permitiu aferir da importância decisiva dos laços de camaradagem e de solidariedade entre os trabalhadores e entre as gerações para fazer face a lógicas de organização de trabalho que remontam ao princípio do século XX.

O ACOLHIMENTO E O APOIO À INSTALAÇÃO EM MEIO RURAL

A par do Programa Rurban, os casos apresentados nesta AGRI constituem apenas uma amostra das inúmeras

iniciativas que estão em curso, pelo pais fora, no domínio do regresso à terra e da instalação de jovens, com projecto na agricultura ou noutras áreas do desenvolvimento rural, em meio rural. Os Novos Povoadores em Alfandega da Fé, a Associação H2O na Aldeia de Arrouquelas, Rio Maior e a Iniciativa aHorta em vários concelhos algarvios, com destaque para S. Brás de Alportel, são casos que ilustram abordagens diversificadas ao tema e revelam que vale a pena ir mais longe e aprofundar os diversos campos de reflexão, sobretudo quando se pretende contribuir para um desenvolvimento mais sustentável e agir, de imediato, contra o a destruição do mundo rural.

ESTUDO VALORIZA EDUCAÇÃO DE ADULTOS EM MEIO RURAL

A importância do desenvolvimento de competências específicas e adaptadas às necessidades do meio rural é revelada na vertente Educação e Aprendizagem ao Longo da Vida do estudo recentemente realizado com a coordenação científica de Fernando Oliveira Batista sobre as “Dinâmicas e politicas para o desenvolvimento rural”. Trata-se de uma investigação conduzida por dos subgrupos da equipa de estudo, neste caso liderada por Isabel Rodrigo. A criação de emprego e de actividades económicas de pequena escala em consequência das acções de educação e formação são alguns dos impactos analisados no documento sectorial. Não abordamos nesta edição o Ano Internacional da Agricultura Familiar mas queremos destacar a sua pertinência e oportunidade face à importância que tem nos tempos actuais marcados pela aumento da pobreza TEMA das populações CENTRAL urbanas e rurais no nosso pais.

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A SALA ESTAVA CHEIA,

A ABARROTAR

A promessa de uma música portuguesa retumbante nos Jerónimos tinha chegado aos mais atentos, através da rádio pública, pela noite dentro ou por via da televisão, nos dias anteriores. A exposição da artistaarquitecta Cristina Rodrigues encerrava no Museu Nacional de Arqueologia e o olhar cúmplice de uma fadista “colorida” sobre a portugalidade convidava os presentes a não esquecer, a não fechar os olhos sobre o país. Uma noite de música portuguesa como poucas. Ambiente de catedral, de entronamento e de frenesim. Uma Taverna dos Trovadores em grande escala.

Mafalda Arnauth aguardava pelo início do espectáculo, sentada na segunda fila, discretamente. As celebridades da noite eram muitas. Do cinema, da música, do teatro e claro do fado. A intérprete de Flor de Fado viria a sinalizar mais tarde esses momentos iniciais com uma rara sensibilidade:

Discursantes foram comedidos nas palavras

“O evento teve direito a discursos, pela particularidade de encerrar a exposição de Cristina Rodrigues no Museu Nacional de Arqueologia e por entre muitas coisas pretender simplesmente celebrar a portugalidade, a etnografia, a nossa cultura com verdade e talento. Os discursos, que têm por habitual condão arrepiarem-nos os ponteiros do relógio e as bordas da paciência, foram os primeiros a dar o mote principal: falar o necessário, reconhecer o valor da intenção de fazer algo de valor e, imediatamente, abrir a atmosfera a um momento cuja comoção começou ali. Tudo porque os “discursantes” tiveram o dom de, ao invés de se ofuscarem mutuamente, como já muitas vezes assisti, irem abrindo as portas uns aos outros, com simplicidade, reconhecimento, generosidade e consciência do objectivo que serviam naquele momento. Muito bonito”.

Arrepia assistir

“A sala onde estive era tudo menos uma

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EVENTO

sala de espectáculos tradicional e com cachet. Estava cheia. A abarrotar. Com pessoas de pé e nem uma se queixou. Os fotógrafos que vi seriam com certeza profissionais mais por conta própria do que de revistas sem razão própria. O apoio que pude perceber, da rádio de sempre, para a música portuguesa, (Antena 1 e o seu Edgar Canelas) não serão dos tais que se perdem em perguntas: “mas a menina é mesmo fadista? Ou é o quê?”, ou “fadista colorida” como confessava a própria Ana Lains, que por agora já devem ter percebido ser a artista que fui ver. E que se confessava irremediavelmente demasiado faladora e com o coração na boca. E graças a Deus, ou a ela, assim é. Para quem quisesse aprender a cartilha de como criar uma carreira, um nome, um público, uma Luz própria sem entrar nos meandros do poder, este era o dia. A fidelidade do público a cada nota, a cada arranjo, a cada músico (impecavelmente preparado e entregue), a cada palavra, conquista-se, sem duvida. Mas também nalgum momento o publico teve de ir ao encontro e militantemente acompanhar. Deve ser o que chamam de cumplicidade e arrepia assistir.

A voz transforma-se com os anos, mas a alma pode crescer

E esta lição que recebi e tanto agradeço não serve apenas para reconhecer esta incrível artista que só

agora descubro mais profundamente e por isso me confesso - confio que este reconhecimento não te irá, Ana, tornar alvo de nada que não tenhas já a estrutura para te protegeres e seguires Livre e Feliz, como dizias. Serve para eu própria regressar a uma Verdade que permiti que o cansaço e a contaminação do meio influenciassem – a voz transforma-se com os anos, mas a Alma pode crescer e é essa mistura que fará a Identidade com o publico se identifica. Serve para insistir na visão que tenho do que tenho para dar, do quero fazer e do que é possível fazer, porque é mesmo possível fazer-se tudo – querendo...

Mudar hoje, agora e para sempre

E serve, finalmente e muito mais importante, para nos desafiar a mudarmos HOJE, agora e para sempre a nossa educação cultural, a nossa atitude na nossa sociedade e o nosso dever para com a nossa existência que nos tornará merecedores cada vez mais dos melhores direitos: ASSISTIR A “MÚSICA VIVA” CADA VEZ MAIS (não se iludam, nenhum youtube, arte pirateada ou mesmo comprada ou meio de divulgação alcança a realidade e energia do VIVO); ENCHER OS TEATROS, AUDITÓRIOS E QUALQUER LUGAR QUE TENHA A CORAGEM DE APRESENTAR ARTE AO VIVO; LEVAR A FAMÍLIA, AMIGOS, AMANTES, RECÉM-CONHECIDOS, DESCONHECIDOS, TODOS, A ASSISTIR A EVENTOS CULTURAIS DIVERSOS; ABRIRMO-NOS ÀS NOVIDADES SEM PRECONCEITOS OU MEDOS; SERMOS ACTIVOS NA CRITICA REAL E CONSTRUTIVA PARA QUE A ARTE PORTUGUESA POSSA CRESCER E EVOLUIR; SABER QUE O PODER DE DIVULGAR A ARTE E DELA DESFRUTAR É NOSSO E NÃO DAS ESTRUTURAS; AMAR A ALMA QUE TEMOS E CELEBRA-LA NA SUA DIGNIDADE, RIQUEZA E PLENITUDE. EVENTO

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TEMOS MAR PARA PESCAR, TERRA PARA SEMEAR Transportamos em nós o Lado A e o Lado B da vida. Como se fossemos uma moeda. CR - No início do espectáculo realizado no Museu Nacional de Arqueologia a Ana Lains assumiu a defesa da “portugalidade” tema também enfatizado pela artista-arquitecta Cristina Rodrigues nas palavras de encerramento da sua exposição. Como construíram, as duas, essa cumplicidade em torno de um tema tão complexo e exigente? AL - Não sei se é um tema complexo e exigente. Nem sei se é possível explicar, ou se será tão somente uma questão alquímica. Eu sou apaixonada pelo meu país em todas as suas vertentes. Desde a música à gastronomia, passando pela geografia, fauna, flora e consequente paisagem e cheiro. Acredito no nosso povo e na sua capacidade, no empreendedorismo aliado ao nosso inerente romantismo e emoção. Acho que simplesmente me emocionei quando vi aquela Manta de adufes gigantesca, e com uma proporcional emoção senti nela toda a nossa identidade. A partir daí tudo fluiu com muita naturalidade. CR - A dita “alma portuguesa” é muitas vezes associada ao cepticismo, ao passado e até à desgraça. Mas a Ana em palco é exactamente o inverso dessa representação fatalista. Tem uma mensagem optimista a transmitir ao país? AL - Eu acho que não somos assim tão desgraçados. Nós somos um povo muito interessante do ponto de vista antropológico. Acho que transportamos em nós o Lado A e o Lado B da vida. Há quem defenda que quando nascemos

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ENTREVISTA

trazemos em nós... tudo. Como se fossemos uma moeda. Essa dicotomia, esses extremos opostos, esse sim e não, bem e mal, alegria e desgraça são naturais em nós. E eu também os tenho. Acho que é isso que nos torna tão especiais enquanto povo. Talvez devido à nossa situação geográfica e todas as influências que fomos sofrendo ao longo dos séculos. Acho que somos um povo com grande entendimento sobre a natureza humana. O nosso país tem todas as condições para ser quase auto-suficiente, mas estamos presos aos dogmas que fazem de nós parte da Comunidade Europeia. Estamos completamente castrados devido a todas as dívidas que temos contraído ao longo de muitos anos. Mas nós temos mar para pescar, terra para semear, sol para vender aos turistas. Mas temos de perceber sem medos e de forma frontal que não há mudanças sem batalhas. E não voltaremos a reerguer-nos enquanto nos permitirmos a este Sindroma de Estocolmo que é a base da nossa relação com a Europa. Nós bastamo-nos. Mas para isso temos de voltar a produzir e consumir o que é nosso. Mas acho primordialmente, que em tempo de crise a boa energia tem de prevalecer. Se quando vamos a um estádio, puxamos pela nossa equipa até ao fim, especialmente quando perde, porque não o fazemos quando essa fragilidade diz respeito ao nosso país? Esse é o verdadeiro amor. Não abandonamos um filho por ele não ser perfeito. Puxamos pelas suas maiores

qualidades para o ver vingar e crescer. É isso que faço com o meu país, que não é meu filho, mas eu sou filha dele! CR - Homenageou Zeca Afonso, que é um símbolo de resistência e luta, de forma destacada na sua actuação. Isso significa que a sua voz também canta a insatisfação dos mais desfavorecidos e que a música portuguesa acompanhaos tempos que vivemos de forma atenta? AL - Eu canto Zeca porque encontro nas suas canções muitas das minhas convicções, mas essencialmente, eu

canto porque ele é o maior compositor português e eu amo o trabalho dele. De resto, quer na música, quer na vida, ou em ambas que são só uma, eu vivo de acordo com o meu ideal de “Eu colectivo”, e sei, que nós não existimos individualmente. Nós somos parte de um todo. Se eu for mais longe e puxar quem vem atrás, um dia poderei eu ser puxada por essa mesma pessoa. E também... se não for... há a

questão energética, e eu acredito que boa energia gera boa energia. Se eu tenho mais, como posso não dar a quem tem menos, e assim, permitirlhe meios que o levem a ter mais, a ser mais, e quem sabe um dia ajudar outro alguém. É uma cadeia humanamente natural, mas que infelizmente é ainda pouco praticada porque somos seres inteligentes que estamos subpotenciados emocionalmente.

Ora se a música que eu faço sou eu mesma, as minhas convicções têm de se reflectir lá!!! CR - Podemos imaginar num futuro próximo um reencontro dos protagonistas da noite dos Jerónimos, Filipe Faria, Adufeiras de Idanha e Ana Lains? AL - Sim, muito em breve até! Dia 25 de Abril na comemoração dos 40 anos sobre a nossa revolução!

ENTREVISTA

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O projecto concebido e dinamizado por Ana Laíns, Arnaldo Costeira e Carlos Noivo conta já com o apoio de personalidades como Fernando Alvim, Mafalda Arnauth, Ana Moura, Kátia Guerreiro, Maria da Fé, Maria Ana Bobone, Rodrigo Costa Félix, Pedro Moutinho, Ricardo Ribeiro, José Gonçalez, José Carlos Malato, Tânia Ribas de Oliveira, Rui Pragal da Cunha, Fernando Pereira e Ricardo Carriço. Para lhe dar corpo foi criada a Fadoando - Associação Cultural de Intervenção Cívica e Apoio Social. A Diariamente somos confrontados com uma miríade de apelos, quando não gritos de súplica, por ajuda urgente. Causas cuja solução, em particular pela crise que atravessamos, é de resolução complicada quando as vias institucionais não conseguem responder eficazmente, e em muitos casos, em tempo útil. São casos de necessidade de apoio à massificação de apelos, por exemplo, de dádiva de sangue ou de medula, são casos mais complicados como os que necessitam de elevados investimentos para um tratamento para os quais não há financiamento possível, são os casos de pessoas com necessidades especiais que não encontram solução financeira para suportar os custos da solução para o seu problema… Enfim, existe um manancial de situações cuja resposta eficiente só pode ser dada pela conjugação de esforços numa união solidária. Foi desta necessidade permanente, e das muitas situações que vão sendo conhecidas, nomeadamente nas redes sociais, que um grupo de pessoas das mais variadas áreas profissionais decidiram unir numa plataforma solidária.

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PROJETO

O movimento nasce da conjugação de esforços de Ana Laíns e Arnaldo Costeira como forma de viabilizar uma ‘Noite de Fados’ para ajudar o Rodrigo. O Rodrigo era uma criança de 3 anos de idade que desde 2012 lutava contra uma leucemia mielóide aguda e cujo tratamento em Portugal já não seria possível, o caso ganhou contornos mediáticos excepcionais e originou uma onda de solidariedade de proporções bastante evidentes. Da ideia à acção foi um passo, e esta vontade de angariar apoios em favor de uma causa, neste caso o Rodrigo, ganhou adeptos e amigos… Nasceu assim o FADOANDO! Rapidamente a sua estruturação e ambição ganhou contornos que extravazavam a concretização de um evento apenas, passando a um patamar de intervenção social e cívica de âmbito nacional. A acção solidária passaria a ser para todos as causas que necessitem de apoio urgente. FADOANDO iriamos ajudar este e outros Rodrigos! Infelizmente não conseguimos responder a tempo ao Rodrigo, que perdeu a batalha contra a doença a 5 de Junho. Poderíamos ter desanimado, e de facto foi como se nos arrancassem parte de nós, colectivamente, mas decidimos que o FADOANDO continuaria, em sua memória, a apoiar todas as causas cuja nossa ajuda possa fazer a diferença, seja o apoio financeiro para uma opêração urgente, uma campanha de recolha de sangue ou medula ou mesmo aquela cadeira de rodas para uma criança com paralisia cerebral. No passado dia 17 de Janeiro, o Fadoando materializou-se finalmente, nascendo a

FADOANDO – ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE INTERVENÇÃO CÍVICA E APOIO SOCIAL. O fucionamento é simples. Anualmente será organizada uma Gala Solidária Fadoando, e esporadicamente serão realizados eventos solidários (que pretendemos tenha uma abrangência nacional e intervalos de 2 meses) para os quais são convidados artistas de relevo e figuras conhecidas de todos nós. Cada evento será promovido mediaticamente quer em televisão, contando já com o apoio da RTP, quer em rádio nacional e imprensa escrita. Serão ainda produzidos cartazes e folhetos, um site e já inaugurámos a comunicação digital via facebook. Um ponto de honra que nos une a todos! Cada evento será objecto de uma prestação de contas rigorosa e publicitada na plataforma digital por forma a que todos os interessados saibam exactamente quanto dinheiro foi angariado, como e onde foi aplicado. A receita da bilheteira será sempre totalmente aplicada às causas identificadas antes do evento e para as quais o evento será realizado. A materialização de cada evento contará com apoio de parceiros, nomeadamente por meio da produção de materiais de promoção, de cedência de espaços e equipamentos para a realização dos espetáculos, apoio ao suporte de custos de realização, custeamento de taxas, licenças e demais requisitos legais. A união faz a força, e juntos conseguimos muito mais! Ajude-nos a ajudar… FADOANDO vamos ajudar os que mais precisam! Ser SOLIDÁRIO é o nosso FADO. fadoando@gmail.com

INICIATIVA RURBAN Desde Novembro de 2013 que várias organizações interessadas pelo acolhimento e pelo apoio à instalação de jovens no meio rural têm trabalhado em conjunto para desenhar um Programa que venha a servir de plataforma de intervenção no território – piloto constituído pela Beira Interior. A iniciativa dinamizada pela CNJ – Confederação Nacional de Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural foi abraçada por autarquias, associações de desenvolvimento local e estabelecimentos de ensino secundário e superior da região que abarca vários concelhos situados entre a Guarda e Castelo Branco. Os problemas aos quais importava dar resposta foram rapidamente identificados: despovoamento, fuga dos jovens para zonas do litoral ou para países estrangeiros, fraca dinâmica económica e redução do emprego, redução da produção agrícola de base familiar, projectos isolados de investimento e de relançamento de actividades agrícolas desenvolvidos por jovens oriundos de meios urbanos com muita dificuldade na respectiva consolidação, redução dos serviços de apoio à educação, à saúde, à justiça, entre outros, nas zonas rurais, ausência de concertação de

entidades públicas e privadas nos territórios para intervir nestes vários domínios problemáticos. Com uma abordagem diagnóstica razoavelmente consolidada e consensualizada os diversos parceiros da iniciativa avançaram para a realização de encontros cuja finalidade radicou principalmente na definição de estratégias de actuação e dos modos de funcionamento das redes territoriais potencialmente dinamizadoras das acções a implementar. Trata-se de um processo de co-construção, de partilha e de coopêração que dará lugar a um Programa desenhado pelo colectivo dos parceiros de forma plenamente participada. Esta metodologia pretende garantir que a Rede colocará o Programa no terreno em plena identificação com as suas orientações e que a definição das linhas de acção incorpora as diversas sensibilidades e olhares sobre o desenvolvimento do território. Foram realizadas 3 reuniões que permitiram desde já a clarificação de alguns domínios temáticos e que lançaram as bases programáticas que serão finalizadas durante o mês de Março 2014.

TEMA CENTRAL

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REUNIÃO

valências do Programa;

de intervenções.

DA COVILHÃ Novembro 2013 - Instalações da Coolabora, CRL Na sessão realizada na Covilhã foram estabelecidos alguns pontos de partida para a actividade do Grupo de Trabalho do Programa RURBAN: - a insuficiência manifesta da Bolsa de Terras, nos moldes como ficou estabelecido o seu funcionamento, para se constituir como uma alavanca para projectos de jovens residentes ou de novos residentes que se queiram instalar em meio rural, ; - a importância da actuação ser a montante (por exemplo, nas áreas urbanas) , nos territórios de acolhimento no apoio aos projectos e a jusante (na fase de desenvolvimento pós-arranque da actividade); - a intenção de não duplicar estruturas técnicas nos territórios de acolhimento, caso se entenda que o apoio a projectos seja uma das

em serviços que entretanto se têm acentuado com a eliminação, nos territórios rurais, de infra-estruturas básicas nos campos da educação, da saúde, da justiça e de outros domínios indispensáveis para jovens casais que se queiram instalar em meio rural; - algumas dificuldades legais, sobretudo no plano dos licenciamentos, da formalização da actividade e das

REUNIÃO

- a necessidade de organizar as principais ideias num documento aberto para facilitar a progressão da reflexão colectiva: - a interacção com o Collectif Ville Campagne de França como uma mais-valia muito significativa, atendendo á experiência daquele organismo parceiro da CNJ neste tipo

REUNIÃO

DE IDANHA –A-NOVA Janeiro 2014 - Câmara Municipal de Idanha-a-Nova A reunião de Idanha-a-Nova foi organizada em duas fases: uma primeira centrada nas experiências de referência que se encontram em desenvolvimento no concelho (Incubadora de Empresas de Base Rural, Plataforma Logística Agroalimentar, Casa Sustentável de Idanha-aNova) e uma segunda fase de debate e de reflexão sobre o Programa Rurban e as estratégias a serem desenvolvidas. Neste plano destacaram-se as seguintes ideias-força: - o futuro programa devera assumir a defesa do mundo rural, numa abordagem positiva e valorizadora dos concelhos rurais, procurando captar e gerir apoios para o seu desenvolvimento sabendo-se que estes apoios geralmente lhes escapam em favor das áreas urbanas mais povoadas; - a atractividade dos territórios surge como central nas estratégias de apoio à instalação de jovens nas zonas rurais. Neste plano terão que ser supêradas as carências

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TEMA CENTRAL

condições para a comercialização de diversos produtos, terão que ser adaptadas à necessária progressão dos projectos a serem desenvolvidos, não sendo razoável que sejam impostas regras impossíveis de serem cumpridas, numa fase inicial e de arranque de microempresas de base familiar; - deverão ser criadas condições para que mentores locais com a missão de apoiar a instalação de jovens possam desempenhar essa função fundamental de forma voluntária. Para tal necessitarão de alguma retaguarda técnica que alivie a sua participação experimentada; - a ideia- força do Programa deverá estará associada à existência de uma Bolsa de Oportunidades que permitirá aos candidatos a processos de migração, equacionarem de forma mais positiva uma decisão de instalação em meio rural.

DO FUNDÃO

Janeiro 2014 – A Moagem – Instalações cedidas pela Câmara Municipal do Fundão A reunião do Fundão também foi organizada em dois períodos distintos. Um período inicial preenchido pelas reflexões e comunicações dos Presidentes de Câmara do Fundão e de Idanha-a-Nova. Nesta fase foram sobretudo abordadas matérias de desenvolvimento regional, local e de incentivo à inovação, com a preocupação de estabelecer um enquadramento do futuro programa nas estratégias do território. Na segunda fase foi debatida a estratégia geral do Programa e foi assumida pelos parceiros a Rede RURBAN como suporte organizativo das acções futuras. Da reunião também resultaram algumas ideias centrais, tais como: - o Programa deve incidir em funções de Interface entre o potencial e as oportunidades do território e as intenções de investir e de dinamizar projectos por parte de actuais ou novos residentes; - as actividades de acolhimento devem ter diversas componentes, devendo todas elas, no entanto, ser orientadas para criar condições às pessoas a apoiar para que estas decidam instalarse com motivação e perspectivas

favoráveis. As tarefas neste domínio poderão abarcar desde os jovens em contexto urbano até aos apoios na habitação, ao aluguer low cost de espaços e equipamentos nos locais de acolhimento. Poderão ser organizadas visitas ao meio rural e admite-se que possam ser dinamizadas iniciativas de sedução, captação e apoio a projectos emergentes; - a Rede Rurban deve assumir uma configuração informal devendo no entanto assentar em compromissos escritos que estabeleçam um consórcio coeso e opêrativo; - o apoio à instalação deve basearse nas boas práticas existentes, nomeadamente nas incubadoras e nas centrais de comercialização, sendo a vertente comercial central no apoio aos projectos (redes de comercialização na base de circuitos curtos).

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PARCEIROS DA REDE RURBAN Câmara Municipal de Idanha-a-Nova Câmara Municipal do Fundão Câmara Municipal da Covilhã Coolabora – Consultoria e Intervenção Social, CRL Associação Ecogerminar Escola Profissional Agrícola da Quinta da Lageosa ESGIN – Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova Investigadores da UBI – Universidade da Beira Interior CNJ- Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural

O RURBAN e a Bolsa de Terras A CNJ e um conjunto de parceiros (ADLML, CLAP, Coolabora, Associação Lendário, Associações associadas da CNJ) constituem uma Rede de GEOP – Gestores Opêracionais da Bolsa de Terras. O seu lançamento pelo Ministério da Agricultura, há cerca de um ano, colocou de forma ainda mais premente a necessidade de serem implementadas estratégias de acolhimento e de apoio à instalação em meio rural, porque entre os potenciais beneficiários deste novo dispositivo estariam, os sectores jovens da população, das zonas rurais e urbanas. A aquisição ou o arrendamento de terras para projectos agrícolas por parte de futuros jovens agricultores poderia constituir uma excelente oportunidade para as próprias regiões rurais. No entanto as expectativas em torno da eficácia da Bolsa de Terras são muito tímidas. Um conjunto de factores determinantes para o seu sucesso não estão presentes no actual modelo, que peca por ser demasiado mercantilista. Falta-lhe uma relação forte com o desenvolvimento local dos territórios e com estratégias colectivas orientadas para a coopêração e para o desenvolvimento sustentável da economia local. Ou seja, as dificuldades dos promotores de novos projectos em meio rural carecem de respostas

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TEMA CENTRAL

muito mais integradas e sobretudo mais apoiadas por redes locais de instituições com uma visão estratégica para o território. É neste âmbito da organização e dinamização de redes locais que surge o Programa RURBAN que se encontra em processo de co-construção numa região – piloto, a Beira Interior.

Olhar com esperança para os novos portadores de projectos Artur Gregório | artur.gregorio@in-loco.pt Novos desafios colocam-se todos os dias aos jovens que serão os portadores da mudança no meio rural. Uma mudança que deverá ter as raízes na tradição dos seus antepassados, que partilha a alma deles e o seu espírito de equilíbrio com o território, mas uma mudança que se preocupa com a sustentabilidade, com a equidade, com a felicidade e a beleza, coisa que nem sempre no passado motivou os nossos pais. É para estes novos portadores de projectos na área rural que temos que olhar com espêrança, que temos que apoiar e incentivar. Os mega projectos agro-industriais tendem a ser insustentáveis a longo prazo, mas as redes de iniciativas de pequena e média escala optimizam recursos, são muito inovadoras, adaptam-se às dinâmicas socioeconómicas com maior flexibilidade e produzem sinergias pela simples característica de que se baseiam na comunicação aberta e na troca. Redes como a da Iniciativa aHorta podem ajudar um pouco a criar esse pensamento colectivo e essa comunidade de práticas que serão boas bases de trabalho para a utopia de um mundo rural vivo e dinâmico, em perfeita simbiose com o mundo urbano.

“Existirá verdadeiramente alguma outra alternativa a esta visão?”

Iniciativa aHorta Artur Filipe Gregório Coordenador de Projectos Project Manager Associação IN LOCO Avenida da Liberdade, 101, 8150-101 São Brás de Alportel, Portugal, NIF: 502091835 Tel. (+351) 289 840 860 Fax. (+351) 289 840 879 Móvel (+351) 969986469 | 968055480 | Skype: arturfilipe

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Planeamento

Oportunidades em meio rural

sustentável da migração

Em territórios com procura turística, Listagem de negócios que já foram Restauração: o equilíbrio entre a autenticidade e o requinte encontra instalados em territórios rurais com o espaço para se desenvolver. No entanto, nem sempre estes investimentos são desejados pela população local, apoio do Programa Novos Povoadores pela concorrência que podem representar sobre as

Upcycling: Atribuir um novo uso a materiais

reciclados. Esta nova função pretende ser mais “nobre” que a utilidade inicial. Exemplos: Pitica de Dius; Tricortando; K3yboard Montante mínimo de investimento: ZERO

Programa Novos Povoadores apoia a transferência de famílias e empresas para zonas rurais

Frederico Lucas

Infoex | Coordenador do Programa

A atractividade do mundo rural vive os melhores dias. O período de maior instabilidade económica que assola o país provocou o despertar de interesse com as oportunidades nos territórios de baixa densidade. O Programa Novos Povoadores surge para potenciar essas oportunidades e apoiar a migração de famílias e negócios para o interior. O processo de migração, necessariamente lento, implica mudanças substanciais nos hábitos familiares e coloca novos desafios na esfera profissional. A metodologia desenvolvida visa assegurar um planeamento sustentável da migração nas dimensões social, familiar e profissional. O sucesso do projecto migratório depende da motivação e do planeamento dos candidatos. Se é verdade que a economia de base digital veio transformar a ruralidade, as oportunidades que daí nascem carecem todavia de uma matriz para a sua descodificação. Neste capítulo, o Programa identifica alguns aspectos chave que ajudam a definir o projecto migratório: não adianta duplicar investimentos existentes; o mercado local é residual e resistente à entrada de novos actores.

Subir na cadeia de valor

Existe uma multiplicidade de estruturas subaproveitadas que urgem

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TEMA CENTRAL

aproveitar, em nome da sustentabilidade das regiões. O desafio que lançamos aos nossos candidatos consiste em subir na cadeia de valor dos recursos existentes, numa lógica de complementaridade. Em Alfândega da Fé, por exemplo, a cereja é vendida a 1/kg e os bombons artesanais de cereja são vendidos a 30/kg. Uma valorização de 3700% sobre um produto endógeno, a que acresce o licor, o chocolate e a mão-de-obra local. Para isto, é necessário transformar uma cozinha municipal em “cozinha partilhada”. Cada munícipe que a pretende usar paga uma taxa e pode comercializar os seus produtos certificados. Todos beneficiam do licenciamento da cozinha.

Sectores de referência

Para outros sectores profissionais, como os serviços remotos às empresas, as bibliotecas municipais dispõem de diversas áreas que podem ser exploradas

para apoio aos novos empreendedores. Principais sectores de actividade em territórios de baixa densidade: transformação alimentar; agricultura; apicultura; upcycling; serviços remotos às empresas; residências de artistas; glamping. Prevenir a sustentabilidade de todos os intervenientes é a missão subjacente à implementação do Programa Novos Povoadores. O cenário de contenção em que vivemos obriga a maior prudência na hora de investir e acreditamos que o meio rural pode ganhar outro estatuto no contexto de uma economia responsável. Importa aplicar princípios de sustentabilidade e eficácia aos recursos públicos, para ampliar o número de beneficiários com esta nova oportunidade de vida em meio rural. Informação complementar e exemplos em http://novospovoadores.pt/oportunidades/

Consultadoria: Prestação de serviços a empresas, como arquitectura, design, ilustração, assessoria de imprensa ou traduções. Um negócio com especial sucesso entre profissionais liberais e pequenos empresários, já com carteira de clientes, antes de migrarem para um território rural. Exemplos: Contaldeia; infoex.pt; AlémTudo; Horustrad Montante mínimo de investimento: 5.000 euros Transformação Alimentar: Os territórios rurais são produtores de frutos de elevada qualidade. A azeitona, a castanha, a cereja e a amêndoa são alguns exemplos de matéria prima em que vale a pena investir para produção de bombons ou pastas. Exemplos: Lagar de Azeite; Sabores em Desalinho Montante mínimo de investimento: 20.000 euros Apicultura (Mel): Um produto muito apreciado quer pela essência natural, quer para fins medicinais. Montante mínimo de investimento: 30.000 euros Comércio: Os territórios rurais são parcos em espaços comerciais para produtos locais, uma vez que as pessoas comercializam-nos porta-a-porta. Por este motivo, o turista tem dificuldade em adquirir estes produtos, em particular ao fim de semana. Exemplo: Só Sabão; Monsabores Montante mínimo de investimento: 50.000 euros

unidades existentes. Exemplos: Chá com Água Salgada; Adega do Maneca Montante mínimo de investimento: 100.000 euros

Exploração Agrícola: Projectos bastante exigentes quer em termos físicos quer em termos de investimento. Afastam-se da imagem idílica da “paz e sossego” que é vendida na comunicação social. Apesar de tudo, um negócio a ter em conta por aqueles que têm experiência no sector, e encontram na migração a possibilidade de escalar a sua actividade. Exemplos: Freixo de Cima; Ervas da Zoe Montante mínimo de investimento: 150.000 euros

Glamping: A crise económica está a lançar desafios aos turistas nacionais. Procuram soluções mais económicas que as quatro estrelas hoteleiras, e com experiências emocionantes. O Glamping tem sido uma resposta a este desafio. O periodo para obtenção de licenças não deverá ser desprezado. Exemplos: Azenhas da Seda; Ecopark Azibo; Pena Aventura Park; Vale do Rossim Montante mínimo de investimento: 250.000 euros Turismo Rural: Apontado como a solução para

o desenvolvimento rural, tem demonstrado algumas fragilidades em muitas unidades, em particular devido às baixas taxas de ocupação. Um projecto que exige investimentos elevados e com um retorno lento. Exemplos: Refúgio da Vila; Aldeia de Pedralva; Casa da Cisterna; Monte da Lua; Casa de Fontes Montante mínimo de investimento: 400.000 euros

Serviços à Comunidade: Fisioterapia, Yoga,

Transporte Colectivo, Gabinete Estética Exemplos: BUS da Aldeia; Delux Estética, Clínica Médica Dr. Bruno Raposo Montante mínimo de investimento: 50.000 euros

Residências de Artistas: Exemplos: Cultivamos Cultura; Temos Tempo; Montante mínimo de investimento: 100.000 euros TEMA CENTRAL

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Apoiar a fixação de jovens em meio rural através do voluntariado

Trabalho em equipa, participação e comunicação no centro das actividades da associação.

Alexandre Jacinto | H2O - Associação de Jovens de Arrouquelas - www.h2o.pt

Educação e formação de adultos alavanca desenvolvimento rural Para muitos decisores políticos o papel da educação e da formação de adultos na concretização de objectivos estruturais associados à sustentabilidade dos territórios é tido por secundário e de influência diminuta. Nesta linha, muitos actores do desenvolvimento rural separam as intervenções em favor do emprego e do crescimento económico das iniciativas que visam o aumento da literacia ou das competências dos recursos humanos locais. Nada de mais errado. O estudo coordenado pela Prof. Isabel Rodrigo no âmbito do projecto Dinâmicas e Politicas para o Desenvolvimento Rural confirma o importante contributo que os sistemas de Educação e Formação de Adultos dão ao emprego local e até à requalificação dos produtos locais trabalhados de forma artesanal.

A chave desta relação de sucesso encontra-se na combinação entre politicas públicas de educação e formação com politicas de diversificação da actividade económica local, concretizada a nível local com o apoio directo das Associações de Desenvolvimento Local. O alerta que os autores do estudo deixam sobre a nova realidade organizativa e metodológica representada pelos CQEP – Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional deve ser tido em conta se atendermos às prioridades no meio rural de ser valorizada a pequena iniciativa local de base comunitária em detrimento de processos orientados para a empregabilidade de cunho principal e meramente individualista.

ESTUDO E AS SUAS CONCLUSÕES A “H2O” é uma associação de jovens, sem fins lucrativos com sede numa pequena aldeia de seu nome Arrouquelas, no concelho de Rio Maior, distrito de Santarém. Foi fundada em 1996 e hoje em dia tem mais de 100 sócios com idades entre os 12 e os 35 anos de idade. Uma das suas preocupações é a permanência dos jovens em meio rural. A associação desenvolve diversas actividades, que promovem uma consciencialização ambiental. O seu trabalho tem sido desenvolvido a nível local, nacional e europeu. Gradualmente, tem conseguido incentivar os jovens que apesar de viverem numa zona perto de Lisboa continuam a ter sérios problemas sociais e económicos.

Participação e comunicação

Relativamente à missão da “H2O”, esta tem por objectivos criar formas de

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TEMA CENTRAL

participação e de comunicação entre os jovens, através da dinamização de projetos pedagógicos de âmbito local, regional e internacional. A base das iniciativas dinamizadas tem por alicerces a educação não formal, a criatividade, a inovação e a irreverência característica da juventude. Nestes termos são promovidos hábitos de cidadania que devem acompanhar o desenvolvimento sociopedagógico dos jovens.

Trabalho voluntário é central

Por fim, a estratégia da associação assenta no trabalho voluntário e empenhado dos seus jovens, utilizando dinâmicas de grupo para promover a comunicação entre pares e aquisição de competências, em prol do desenvolvimento social da sua comunidade e formação pessoal de cada um. o O trabalho em equipa é muito valorizado e associado a uma atitude de responsabilização e de abertura para a inovação,

sem dogmas ou ideias preconcebidas. Os jovens são chamados a respeitar a diversidade cultural e a fomentar uma consciência europeia. A meta final consiste em desenvolver iniciativas de âmbito local, regional e Internacional com a participação ativa dos jovens.

Incentivo aos Jovens a permanecerem no meio Rural

Desde o ano de 2011 que a H2O, tem proporcionado aos jovens, estágios profissionais, através da sua ligação ao Instituto de Emprego e Formação Profissional. Desta forma os jovens têm a oportunidade de permanecer no meio rural, tendo liberdade para dinamizar projectos relacionados com as suas áreas de estudo e ou de interesse e simultaneamente desenvolver competências de teor prático, o que também favorece desenvolvimento social e intelectual do público-alvo, inserido nas actividades da “H2O”.

Diversificação da Actividade Económica e Educação e Formação de Adultos Isabel Rodrigo1 Apresentação genérica do estudo global

O presente estudo inscreve-se nos trabalhos desenvolvidos no âmbito do Projecto Dinâmicas e Políticas para o Desenvolvimento Rural que decorreu entre Abril de 2012 e Junho de 2013. Teve como entidades promotoras a ANIMAR, o Instituto Superior de Agronomia (ISA), o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e a Rota do Guadiana, e foi financiado pelo Programa da Rede Rural Nacional. Subjacente ao referido Projecto estiveram os objectivos de observar as dinâmicas em curso no mundo rural avaliando o desenho e implementação das actuais políticas de desenvolvimento rural no Continente, a fim de contribuir para a definição da futura estratégia de desenvolvimento rural e dos consequentes instrumentos de política.

ESTUDO

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O tema específico

Os objectivos do Projecto foram concretizados com base em vários estudos temáticos. Entre estes figurou o da “Diversificação da Actividade Económica e a Educação e Formação de Adultos” que, de seguida, passamos a desenvolver. Este tema teve por finalidade analisar, à escala local rural, os impactes da Educação e Formação de Adultos (EFA) nos percursos individuais, profissionais e pessoais, dos agentes sociais envolvidos, directa ou indirectamente, na diversificação da actividade económica em meio rural, e no próprio processo desta diversificação. Procurou ainda reflectir sobre o impacte da articulação das políticas públicas, convocadas para referencial analítico, no processo de desenvolvimento rural. Para tal foram eleitos instrumentos de duas políticas públicas nacionais. Concretamente, os três principais dispositivos subordinados ao conceito Aprendizagem ao Longo da Vida (ALV), a saber: o Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (Processo de RVCC), os Cursos de Educação e Formação de Adultos (Cursos EFA) e as Formações Modulares Certificadas (FMC), no que respeita à política pública da EFA, e as Medidas e Acções do Subprograma 3 do EIXO 3 “Dinamização das Zonas Rurais”, do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente – 2007/2013 (ProDeR)2, para a análise da “Diversificação da Actividade Económica” em meio rural. De seguida dá-se conta, de forma breve, dos procedimentos metodológicos adoptados e as principais conclusões deste estudo.

Conclusões

Os impactes da certificação proporcionada pela EFA nas trajectórias, pessoais e profissionais, das 18 mulheres e 13 homens inquiridos, foram diversificados. Reflectiram-se nas respectivas vidas pessoais e profissionais, mas também nas dinâmicas

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ESTUDO

socioeconómicas das comunidades rurais de residência e na sociedade portuguesa. De seguida sintetizamse com base no ponto anterior, os principais impactes em cada uma destas escalas. As alterações registadas na situação na profissão dos inquiridos, antes e após a certificação obtida, permitem concluir sobre o contributo directo e positivo da mesma para as trajectórias, sociais e profissionais, ascendentes, melhoria ou reforço da estabilidade e das condições de empregabilidade, para a conquista de dimensões cruciais que compõem o estatuto individual de cidadania, para escapar à pobreza e exclusão social e, ainda, para a emancipação social das mulheres. A certificação de saberes e competências adquiridas ao longo da vida assegurou ainda outros tipos de funções que se reflectem no funcionamento das empresas dos 15 inquiridos que, no momento de realização do inquérito eram trabalhadores por contra própria e, em consequência, no das comunidades rurais onde aquelas se localizam. A confirmar o referido estão, por um lado, os benefícios daquela certificação para a reorientação do tecido rural para novas abordagens de actividades tradicionais e, deste modo, para estimular e reforçar as dinâmicas socioeconómicas e as economias dos territórios rurais. O estímulo e reforço destas dinâmicas e economias concretizaram-se através da criação de emprego à escala local rural e, consequentemente, de riqueza no e para o local, e da construção/concretização de projectos individuais feitos pelos e para os residentes rurais. De sublinhar que, nos casos estudados, as dinâmicas socioeconómicas descritas não se circunscreveram às sedes de concelho ou vilas, onde regra geral as mesmas tendem a concentrar-se, mas também foram (re) criadas nas aldeias gerando emprego onde este mais escasseia. A realidade factual evidencia ainda

que os vários tipos de impactes positivos enumerados foram possíveis porque as duas políticas públicas aqui subjacentes (Educação e Formação de Adultos e Diversificação da Actividade Económica em meio rural) “desceram” aos territórios, foram aplicadas de forma articulada e orientadas para as necessidades dos mesmos e ainda opêracionalizadas com base em modelos flexíveis que, imbuídos na crença da importância do papel dos agentes locais e das (múltiplas) atractividades e identidades dos territórios rurais, mobilizaram as comunidades. Para a concretização do referido, o papel e funções das ADL foram cruciais. Foram estas que asseguraram a ligação do local à “envolvente” nacional, quebrando a dicotomia “local versus nacional” e, consequentemente, a natureza “insular” que ainda caracterizam algumas acções de desenvolvimento rural, e converteram os destinatários/beneficiários daquelas políticas em (co)produtores das mesmas. Estes processos de descentralização permitiram concretizar experiências de autonomia, individual e colectiva, e ainda desenvolver e alargar as bases de desenvolvimento sustentável das comunidades rurais. Em suma, as ADL contribuíram para a concretização do ideário socioeconómico e político subjacente ao desenvolvimento rural sustentável. Este supõe, nomeadamente, facilitar quer a proximidade espacial das populações rurais com a governação das respectivas comunidades, com reflexos positivos no inter-relacionamento das mesmas com os poderes regional e nacional, quer o acesso daquelas à informação e outros recursos, tendo em vista o desenvolvimento das áreas rurais através de iniciativas baseadas nas e pelas comunidades locais. Supõe ainda não só promover e concretizar formas de governança mais inclusivas e transparentes, mas também o desenvolvimento participativo, retirando esta prática da marginalidade.

Supõe, por fim, reforçar a cidadania, a inclusão social, a “capacitação” e a resiliência, individual e das comunidades rurais, através da melhoria da representação (e da representatividade) de grupos e categorias sociais que, regra geral, tendem a ser mar-

ginalizadas e a estar sub-representadas nas e pelas políticas. Desafiando-nos a fazer o exercício de projectar as consequências positivas dos “ensinamentos” da aplicação, no passado próximo, das duas políticas públicas analisadas, com base na informação empírica recolhida e aqui comentada, não é possível deixar de ponderar o conteúdo de normativos recentes que moldarão, de forma relevante, o futuro da política de EFA. Referimo-nos à Portaria n.º 135-A/2013, publicada em Março, que substitui os CNO por Centros para a

Qualificação e Ensino Profissional (CQEP). Esta substituição leva-nos a questionar até que ponto subjacente à mesma, e ao arrepio das orientações europeias, não está o propósito de voltar a negar o reconhecimento e valorização social de saberes e competências adquiridas pelas vias não-formal e informal. Estas preocupações também encontram eco na Recomendação n.º 3/2013 do Conselho Nacional de Educação, sobre Políticas Públicas de Educação e Formação de Adultos. A leitura da realidade estudada permite afirmar que se tal possibilidade vier a concretizar-se, a mesma acarreta, seguramente, um empobrecimento não só das dinâmicas económicas, sociais e políticas à escala dos territórios rurais locais, mas também do país.

1 Instituto Superior de Agronomia/Universidade de Lisboa; Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrâneas (ICAAM) da Universidade de Évora. 2 Mais concretamente, o estudo centrou-se na Medida 3.1 “Diversificação da Economia e Criação de Emprego” (Acções 3.1.1 “Diversificação das actividades na Exploração Agrícola”, 3.1.2 “Criação e Desenvolvimento de Microempresas” e 3.1.3 “Desenvolvimento de Actividades Turísticas e de Lazer”), e na Medida 3.2 “Melhoria da Qualidade de Vida” (Acção 3.2.2 “Serviços Básicos para a População Rural”).

Procedimentos metodológicos A evidência empírica que sustenta este trabalho foi recolhida por inquéritos por questionário aplicados nos territórios de influência das ADL Rota do Guadiana, ESDIME e ADICES. Ou seja, áreas onde se localizavam entidades responsáveis, simultaneamente, por Centros Novas Oportunidades e pela elaboração/submissão de candidaturas de projectos de investimento às Acções das Medidas 3.1 e 3.2 do ProDeR. Para além do referido foi ainda necessário, dados os objectivos do estudo, assegurar que os indivíduos a inquirir tivessem obtido certificação num dos três dispositivos da política de EFA, acima enumerados, e estado envolvidos, directa e/ou indirectamente, em projectos de investimento aprovados no âmbito das Acções das Medidas 3.1 e 3.2 do ProDeR. Neste âmbito, foram identificados três universos sociais a inquirir. Um deveria abarcar indivíduos que, tendo obtido certificação num daqueles dispositivos e convertido em trabalhadores independentes, submeteram uma candidatura/projecto de investimento às referidas Acções do ProDeR, outro indivíduos que, na sequência daquela certificação, se empregaram em unidades produtivas que sujeitaram uma candidatura/projecto de investimento àquelas Acções, por fim, o terceiro universo social deveria ser constituído por indivíduos incentivados a ingressar num dos dispositivos de certificação por parte das empresas onde trabalhavam

que, na sequência da candidatura/projecto de investimento submetido às mesmas Acções, visavam dispor de força de trabalho com melhores habilitações/competências escolares e/ou profissionais. A selecção dos inquiridos foi feita com base nas listas, obtidas por cada uma das três ADL, disponíveis na base de dados do Sistema de Informação e Gestão da Oferta Educativa e Formativa (SIGO), do Ministério da Educação e Ciência, relativa aos adultos que frequentaram os dispositivos referidos. Depois de testado, o inquérito por questionário foi ministrado presencialmente a 32 indivíduos. Inutilizado um dos inquéritos, porque muito incompleto, a distribuição dos inquiridos pelos territórios de intervenção das ADL foi a seguinte: Rota do Guadiana: 11, ESDIME: 13 e ADICES: 7 inquiridos. O trabalho de campo decorreu em Outubro de 2012, nos territórios da ADL Rota do Guadiana, e em Janeiro e Março de 2013 nos territórios de intervenção da ESDIME e ADICES, respectivamente. Uma breve nota para sublinhar que o universo dos 31 inquiridos não constitui uma amostra estatisticamente representativa, pelo que as evidências empíricas deste estudo não podem ser extrapoladas para a escala nacional. No entanto é de salientar que muitas das conclusões que as mesmas sugerem estão em sintonia com as de estudos com incidência à referida escala.

ESTUDO

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REPORTAGEM NA APANHA DA PÊRA ROCHA

Carlos Ribeiro

GAFANHOTOS DOS PEREIRAIS Carrinhas de caixa aberta, tractores, camiões de pequeno porte, viaturas comerciais de todo o tipo, com ou sem toldos improvisados, carregam grupos de mulheres e de homens semi-adormecidos. São sete da manhã. As estradas da região ganham uma vida pouco habitual. Apesar do Verão bater o seu pico de calor, a frescura da madrugada tolhe os corpos dos viajantes que se encaixam como sardinhas em latas de conserva. A colheita da pêra rocha invade a paisagem da Região Oeste e recruta milhares de trabalhadores rurais que se transformam em gafanhotos dos pereirais.

A partir de meados de Agosto, nas pracetas das aldeias e das vilas principalmente dos concelhos do Bombarral e do Cadaval, os cafés abrem cedo. Vão acolhendo aos poucos quem chega de motorizada, de bicicleta, de carro ou a pé. A concentração vai ganhando forma até à chegada da camioneta do ajuntador ou do patrão. Depois é preciso subir nas traseiras, ocupar posição no fundo e ajustar a mochila debaixo dos assentos, para dar espaço aos outros. Os mais jovens refugiam-se nos seus capuzes que embrulham cabeças fisicamente presentes no veículo mas em viagem por outros lugares. Os mais experientes ocupam a nave central da camioneta, no banco corrido. Aqui é mais seguro, não vá acontecer qualquer coisa. Alguns telemóveis dão as últimas apitadelas, antes de se calarem até à hora de almoço. A chegada directa à quinta ou à porta da casa do patrão está para breve. A partir do momento que é marcado o destino da jornada, organizam-se espontaneamente pequenos cortejos com tractores, viaturas particulares, carrinhas de caixa aberta e fechada, liderados pelo jeep do empregador que arrasta a comitiva até ao pomar programado. Antes da hora contratualizada, a força de trabalho está a postos: a jornada de apanha de pêra vai começar!

Azáfama matinal

O tractor vem a passo de caracol. Transporta uma carga amarrada por cordéis. Trás escadotes, baldes e garrafões de plástico que são rapidamente distribuídos pelos trabalhadores rurais presentes. Esmagam-se as últimas beatas de cigarro e ajustam-se as palas dos bonés ao nível do sol nascente. Antes de avançar para as carreiras é preciso clarificar se o almoço ocorre naquele ponto de partida ou noutro, com alguma sombra, no fundo da propriedade. Os farnéis, preparados na véspêra com uma refeição preferencialmente energética, são encaminhados em função das ordens ou das previsões. Mas

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TEMA CENTRAL

não há tempo a perder. É preciso atacar as carreiras e pendurar o balde no tronco da primeira pereira da manhã. Uma espécie de marcação de território dos que ficam nas zonas mais baixas enquanto que outros subirão aos topos das árvores empoleirados nos escadotes de qualidade e segurança duvidosa.

Deixar a árvore limpa

Formam-se grupos de três. Atacam a pereira nos seus diversos ângulos. O impacto simultâneo das primeiras pêras no fundo balde de plástico fornece um tímido trovejar inaugural das hostilidades. A rotação dos pulsos, com a pêra bem segura na palma da mão, constitui a base da técnica elementar de colheita. No fundo separar o fruto da árvore progenitora, sem ferir qualquer das partes. Nas áreas mais altas e fora de alcance do esticar dos braços a solução passa por entrar na zona densa da árvore e sujeitando-se aos inevitáveis arranhões nos braços e no tronco. O escadote serve para as mais acessíveis em altura. Para as outras é preciso ser acrobata e arriscar uma queda para deixar a árvore limpa.

Ambiente de contenção

O silêncio que rodeia a azáfama na fase de arranque e de auto-organização dos grupos, dá lugar pouco a pouco às primeiras interpelações e desafios em voz alta entre os elementos mais bem dispostos das equipas. Fala-se de futebol, das noites de verão, das festas, de tudo e de mais alguma coisa. No vai e vem entre árvore e palote , recipiente no qual se despeja cautelosamente o resultado de cada colheita, bebe-se água e comenta-se o tamanho da empreitada. Até que a aproximação do tractor, com o seu barulho de motor característico, atenua o tom das conversas mais entusiásticas. Se não se sabe quem é o tractorista que aí vem, é melhor acautelar para evitar observações ou ser alvo de gritos vindos dos topos das carreiras como

REPORTAGEM

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“Eh pá! Mais depressa! Isto não é para andar a pastar! Mais depressa!”. Quem tem mais experiência conhece o modus opêrandi de encarregados e patrões. Surgem repentinamente por detrás das árvores e chamam à atenção, por tudo e por nada, para intimidar o grupo de trabalhadores e forçar o ritmo de trabalho.

Almoço! Parar, comer e descansar

Os minutos passam com maior dificuldade a partir das onze. Chegar à hora de almoço e parar, comer e descansar, passa a ser um objectivo colectivo. Quando se ouve o grito “Almoço!”, vindo de uma carreira mais ou menos longínqua, logo de seguida a palavra mágica é repetida como um eco de montanha. A movimentação em direcção aos farnéis é rápida. Não se perde tempo, é preciso comer e aproveitar para descansar. Não há água limpa para lavar as mãos. Um balde com água suja, de muitos o terem usado, está disponível no meio da poeira levantada pelos tractores. Os grupos organizam-se na base das origens territoriais e da composição familiar. Durante a distribuição do farnel, de mulher para marido, de mãe para filhos, ou entre amigos e

colegas, ainda se comenta este ou aquele acontecimento da manhã. Mas rapidamente, enquanto se mastiga, lentamente, cai um silêncio que todos associam à tranquilidade, ao repouso. Aqueles momentos são de afirmação de identidade, de individualidade. Lina, que anda há muito nestas lides e transporta o grupo das Alcobertas, afirma quase de forma descarada ”Aqui estamos todos camuflados. Precisamos todos de ganhar uns dinheiros e pouco importa o que somos e o que fazemos. Neste momento o que interessa é acabar o dia.”. A hora de almoço serve também para juntar uma pêras perdidas nas carreiras já trabalhadas, deitadas ao chão por terem defeito ou não cumprirem as normas do calibre instituído. O desperdício que ali acontece, com toda aquela fruta a apodrecer na terra, sensibiliza alguns dos mais jovens que sugerem uma maior preocupação da parte dos proprietários com os mais pobres e necessitados “poderiam deixar vir algumas IPSS da região apanhar as pêras que se encontram em melhor estado para fazerem compotas para as pessoas mais idosas que não as podem comprar nos supermercados”. Mas a sugestão é pronunciada entre dentes. Ninguém quer problemas com

Há javali!

os patrões. Afinal de contas a grande maioria quer regressar no próximo ano e já se sabe que eles só chamam quem querem.

José Carlos regressou sozinho do almoço. Aproximou do grupo que tinha ido beber café a A–dos-Ruivos e declarou com os olhos em chamas “Fui atacado por um javali na entrada da quinta. Surgiu do mato e fixou-se em mim durante alguns segundos. Corri e subi a uma árvore e a ali aguenteime até ele se afastar. Ainda não descontraí da aflição que me apanhou a garganta. Ponham-se a pau, ele anda por aí”. A reacção não se fez espêrar. Ninguém quis acreditar que um javali estivesse à porta da Quinta. Certamente era mais uma das anedotas do José Carlos que queria colocar-nos em maus lençóis. Mas José Carlos insistia e foi-se tornando progressivamente mais convincente. O que é certo é que passou a ouvir-se ocasionalmente, vindo do topo das pereiras, como se de uma torre de vigia se tratasse, um alerta gritado a plenos pulmões, “Há javali no horizonte!”.

Estudantes e famílias locais

Maria estuda Medicina em Coimbra. Este ano trouxe consigo uma colega de turma e amiga do dia-a-dia. Ambas precisam de ajudar os pais no esforço financeiro do pagamento dos estudos. Lidam com as pêras com à vontade e não fazem banda à parte. Conversam sobre acontecimentos do ano lectivo anterior que só elas entendem mas de vez em quando associam-se aos cânticos que nascem dos topos das árvores e lançam timidamente para o ar baladas de Zeca Afonso. Na carreira oposta Manuel, pintor de profissão, e habitué da apanha de Agosto pronuncia afirmações cheias de subentendidos e de brejeirice, enquanto que alguma mulheres, à volta da mesma árvore, avaliam as competências pedagógicas dos professores dos seus filhos, que no seu entendimento muito radical deveriam ser mais castigados e obrigados a estudar quando estão nas aulas. O tema é polémico e Fábio, estudante de Belas Artes, não resiste a encolher os ombros e a acenar com a cabeça, numa atitude de reprovação.

Pêras para o Brasil

As pêras caiem nos baldes, os palotes enchem até aos limites, os tractores retiram-nos empilhando-os uns em cima dos outros. Os camiões TIR estão à espreita na Estrada Nacional para rapidamente fazerem chegar a famosa Pêra Rocha aos quatro cantos do pais e do mundo. “Alguma desta pêra, que está agora a ser apanhada, antes do final da semana está nos supermercados do Brasil” informa José Carlos que conhece o negócio da fruta como

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REPORTAGEM

ninguém. Habituado às jornadas duras da apanha em dias de 35º de tempêratura, conta anedotas e lança adivinhas, para alimentar o dialogo entre os grupos quando o cansaço começa a impor a sua lei. Apesar de estarem concentrados nas tarefas todos sentem a necessidade de relaxar e de ganhar força para ultrapassar os momentos mais difíceis da jornada e chegar até ao fim. Neste sentido o ambiente e o espírito de grupo tornam-se decisivos para a realização dos objectivos.

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A paga no quintal

No final da semana houve lugar ao pagamento dos honorários. Ao todo seria uma meia centena de homens e mulheres que no quintal frente à casa do patrão espêrava pelo dinheiro que tanto almejava. A modalidade e a forma de organizar a opêração obedecia a um ritual profundamente feudal. Sentados, em bancos improvisados ou em pequenos muros, os grupos espêravam no quintal poeirento pela chamada. Um de cada vez e em ordem, assim mandava a regra. No interior da casota, junto ao poço, uma mesa antiga, umas cadeiras e uns sofás davam ar de escritório ao que aparentava ser uma simples arrecadação. No topo da mesa amontoavamse notas de valores diversos, dinheiro fresco vindo do banco que deslizava na perfeição. O procedimento era igual para todos. O encarregado ou responsável pelo grupo gritava da porta da casota um nome, ou no caso de famílias, os nomes do agregado. Pergunta do patrão: “Quantos dias trabalhaste?”. A resposta do interpelado não se fazia espêrar e a patroa tentava agir na mesma velocidade, percorrendo com os olhos a lista do caderno de contas, para confirmar logo se seguida, o número adiantado. Entregue o dinheiro e ultrapassada a porta de saída, as mães recolhiam discretamente os rolos de notas que os filhos e os maridos cediam com convicção. Agora era preciso regressar a casa e fazer contas à vida.

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REPORTAGEM

Vêem-se cada vez mais grandes grupos de trabalhadores

Lénia é uma trabalhadora com experiência. No seu grupo o ritmo está garantido e nada fica para trás. Sobe às árvores até aos limites e combina o silêncio, a concentração no trabalho, com a boa disposição e o companheirismo. Entrevista Carlos Ribeiro

1. Há quanto tempo realiza este trabalho de apanha da pêra? Há três anos consecutivos, aproveito as minhas férias para a prática da apanha da fruta. Assim junto algum dinheiro extra. 2. Ao longo desses anos o que é que mudou na maneira de organizar e fazer a colheita? Inicialmente este trabalho era mais complicado porque hoje em dia são utilizados os palotes e antigamente eram as caixas de madeira. Logo era mais difícil o seu transporte. Foram surgindo alfaias mais sofisticadas, o que facilita o retirar da fruta para o armazém. Com o aumento dos pomares na nossa região vêem-se, cada vez mais, grandes grupos de trabalhadores. 3. Lembra-se de alguma história ou acontecimento especial que terá vivido quando estava a trabalhar? Sim, aconteceu na última campanha da apanha da pêra

quando um individuo disse ter visto um javali ao vivo e a cores. Resultado: três semanas sempre a falar do mesmo! Ficou conhecido como Zé do javali. 4. O que é que mais aprecia quando está na apanha da pêra e o que é que mais detesta nesta actividade? O que mais gosto é o convívio e as amizades que se vão criando com as pessoas. Sempre se vão dizendo umas piadas e ouvindo outras e o tempo passa mais depressa. O que mais detesto são os dias de muito calor e esticar-me até ao cimo da árvore e a pêra ...estar estragada. 5. Para o ano pensa voltar? Qual é a importância no orçamento familiar destes dias de trabalho?. Sim, é pena não ser já amanhã! O resultado destes dias de trabalho resulta no orçamento familiar pagando umas contitas e antecipa o mês de Setembro, com o regresso das aulas, os livros...

REPORTAGEM

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Cantigas populares

cantadas pelas mulheres que integravam os grupos de trabalhadores da apanha da pêra oriundos das Alcobertas, concelho de Rio Maior

PÊRA FEIA

Recolha Lina Nogueira e Carlos Ribeiro Pêra verde Você deu-me uma pêra verde para eu amadurar (2x)
Pêra verde oh verde pêra você veio para me enganar (2x) Você veio para me enganar você não me engana não (2x) Pêra verde oh verde pêra, pêra do meu coração (2x) Já te dei o meu coração coisa que eu dar-te não podia (2x) Já te dei a melhor prenda que no meu peito trazia (2x) O meu peito tem rendinha o teu peito renda tem (2x) De baixo dessa rendinha só eu mexo e mais ninguém. (2x)
 Despedida Adeus, adeus, adeus, adeus que me vou embora Adeus ao Barrocalvo e a quem cá mora Adeus, adeus, adeus, adeus dos corações Adeus a toda a gente e aos patrões Rancho Viva ao nosso rancho, rancho De uma ponta até ao meio Viva ao nosso capataz que é uma flor do enleio Viva ao nosso rancho, rancho De uma ponta até ao fim Viva ao nosso tractorista Que é uma flor de jardim Nosso rancho é pequenino entre todos o maior Freguesia de Alcobertas concelho de Rio Maior Vou-me embora estou a andar Daqui para o lugar de Chãos quem me quer acompanhar?

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REPORTAGEM

Manuel Adriano 30 anos de experiência como ajuntador

Quando nos encontrámos com Manuel Adriano na várzea, a noite estava a cair. Caixas de madeira repletas de batatas recentemente arrancadas à terra surgiam empilhadas de forma desordenada à espêra de serem carregadas para o tractor. O vulto do ancião confundia-se com arbustos mais crescidos que cercavam os caniçais. Com 80 anos Manuel Adriano nunca foi de férias e começou, aos sete, a vida no campo, ainda como pastor. Alimentado durante anos por uma cabra que dormia perto do berço da sua infância, recorda com sorriso malicioso as migalhas de pão de milho com azeite que comia para se alimentar nos duros tempos em que pouca coisa havia para aconchegar o estômago. Alega que na altura até os leitões se alimentavam de terra e sobreviviam. Do que se recorda, foi até aos quatro anos de idade que utilizou a teta da cabra como chupeta e como base para seu alimento. Foi rápido nas suas declarações. Há 30 anos que organiza grupos de trabalhadores da região para a apanha da pêra e para as vindimas. Já tem as coisas organizadas de ano para ano. Fala com este e com aquele, principalmente com as mulheres e no final arranja-se sempre um grupo como deve ser. Com um forte respeito pelos outros Manuel Adriano é também respeitado na terra. Recordo-me, uns dias antes, de o ouvir numa carreira de pereiras recomendar um apoio firme para o escado-te. Na altura afirmou “O homem é mais importante que o escadote”.

Grupo das Alcobertas

A Maria, o Joaquim, a Lina e outros presentes numa conversa de fim de tarde revelam o mesmo sentido nostálgico. “Trabalhar na apanha da pêra é duro, sobretudo nos dias de muito calor ou de chuva, mas fica-se sempre com a sensação de perda quando já não estamos em grupo. Há sempre uma grande camaradagem. No passado existia uma forte rivalidade entre os grupos de cada terra e ganhava-se mais em algumas posições como no escadote. Agora é tudo igual e já não é preciso carregar com as caixas de madeira às costas” recordam com a maior naturalidade. Os mais velhos valorizam a presença dos mais novos, estudantes na sua totalidade, que trabalham para ajudar a pagar as propinas e para compensar as despesas com a escola. “Antes este movimento era só para as vindimas, mas agora generalizou-se com a pêra. Os patrões nem sempre fazem o que lhes compete para acolher e respeitar os trabalhadores. Por exemplo alguns alugam casas de banho móveis mas proíbem a sua utilização. É só para tapar os olhos aos inspectores que aliás raramente aparecem”.

REPORTAGEM

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CNJ integra acções da

Bolsa de Terras no Programa RURBAN Carlos Franco | Vice - Presidente da CNJ A Direcção Geral de Agricultura e do Desenvolvimento Rural promoveu uma reunião de informação e de formação sobre os procedimentos associados à Bolsa de Terras e ao sistema de informação (SiBT). A CNJ, entidade líder de uma parceria gestora opêracional da Bolsa de Terras, participou na sessão e confirmou a necessidade de ser realizado um trabalho de fundo de sensibilização e de proximidade com os agricultores e proprietários.

No encontro realizado em Lisboa foram abordados vários temas relacionados com aspectos práticos do funcionamento da Bolsa, designadamente os procedimentos, a documentação e a informação necessária para inscrever prédios rústicos na Bolsa por parte dos técnicos das Geop (Gestoras Opêracionais). A Bolsa de Terras, tal como disposto pela Lei nº 62/2012 de 10 de Dezembro, é regulada pela Portaria nº 197/2013, de 28 de Maio e tem a Direcção Geral de Agricultura e do Desenvolvimento Rural como entidade gestora pelo Ministério da Agricultura e do Mar. A iniciativa

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ACTIVIDADE EM REDE

foi lançada com o suposto objectivo de facilitar o acesso à terra através da disponibilização de informação por parte dos seus proprietários e de proporcionar uma melhor identificação e promoção da sua oferta.

Gestão opêracional

Na sua opêracionalização foi pensada uma estrutura descentralizada, assente no conceito de acreditação de entidades gestoras opêracionais que podem (e devem, na medida do possível) ser externas aos organismos do Estado. Às Geop foram cometidas funções relevantes para o sucesso da opêração

Durante todo o processo, desde o primeiro contacto, as Geop estão obrigadas ao dever de sigilo sobre todas as matérias de natureza pessoal decorrentes do seu funcionamento.

Um site na Internet

Paralelamente as Geop são responsáveis pela ajuda à inserção dos dados referentes às terras que são uns obrigatórios (os de referenciação e caracterização básicos) e outros facultativos (fotografias dos terrenos e das suas confrontações) a disponibilizar no sitio internet da Bolsa de Terras (http://www.bolsanacionaldeterras.pt/). O sitio internet, pelo que nos pudemos aperceber durante a sessão de formação, funciona de forma simples, garantindo a informação suficiente para uma primeira caracterização dos terrenos, até pela sua integração com o sistema de parcelário agrícola, através da inserção de um P3 modificado (o BT) com dados truncados para garantir o anonimato e outros acrescentados para aumentar a informação e referenciação do terreno em causa. É de salientar que, de forma sucinta, o que é necessário para se poder colocar os terrenos na Bolsa de Terras, é primeiro ter essa vontade, segundo, dirigir-se a uma Geop, terceiro, munir-se da documentação que demonstre a titularidade da terra bem como a sua própria identificação civil e fiscal, para que os técnicos da Geop possam dar inicio ao processo de disponibilização das terras.

Convencer os potenciais destinatários

dentro dos parâmetros em que e como foi concebida, nomeadamente a divulgação e dinamização da bolsa de terras, a prestação de informação sobre a bolsa de terras, a promoção da interacção entre as partes interessadas, a verificação da validade da informação relativa à caracterização dos terrenos prestada pelos proprietários que disponibilizem os seus prédios na bolsa de terras, o envio de dados à DGADR, para disponibilização na bolsa de terras e após execução dos trâmites necessários por parte dos proprietários e a celebração dos contratos de disponibilização de terras.

Tendo em conta a delicadeza do assunto, pelo facto de mexer com questões de propriedade, não só pecuniária, mas acima de tudo fundiária, para que todo este processo possa ser coroado de algum êxito ficou o entendimento, amplamente partilhado pela CNJ, de que seria necessário um trabalho de fundo de sensibilização e de proximidade com os agricultores/proprietários, indo aos locais mais recônditos se necessário for, para de uma forma aberta e transparente convencer todos os potenciais destinatários da bondade da Bolsa de Terras e de que pode ser benéfico para todos a cedência de terras que podem muitas das vezes estar sem utilização ou estarem a ser subutilizadas. Pelo lado da CNJ e da parceria que integra com diversas entidades espalhadas pelo território, fica a intenção e o comprometimento de integrar esta temática da Bolsa de Terras no seu programa mais amplo e estruturado de fixação, acolhimento e instalação em meio rural, que designamos de Programa Rurban.

ACTIVIDADE EM REDE

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Greenfest 2014 no Estoril

Foi uma quinta portuguesa, com certeza! Helena Coelho |

CNJ

A primeira quinta pedagógica biológica do país marcou presença na 6ª edição do Greenfest com uma mini quinta instalada na Greenfair. Naquele espaço ao ar livre, as crianças tiveram oportunidade de participar em várias actividades pedagógicas que simulam o dia a dia de uma quinta tradicional. Sementeira, rega, hortas pedagógicas, vulcão de água, entre outros, foram os motivos de atracção da mini quinta que contou ainda com a presença de animais de pequeno porte, residentes habituais da Quinta do Villar. “Mostrar aos mais novos como é o quotidiano no meio rural e alertá-los para a importância da preservação do planeta, em especial da água, é um dos objectivo deste projecto” assim foram sintetizados os objectivos da iniciativa pelos responsáveis da entidade dinamizadora.

A CNJ no festival

A CNJ – Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural esteve presente neste evento centrado no tema da sustentabilidade, manifestando assim o seu interesse por esta temática que está bem presentes nas atividades e nos projetos que a confederação dinamiza, contribuindo desta forma para a construção de um Mundo cada vez mais sustentável. O Programa RURBAN, que é um desses projectos, visa despertar o interesse e aliciar os urbanos para o mundo rural enfatizando a dimensão sustentável que os projectos devem incorporar. O principal objetivo deste ambicioso Programa é promover o desenvolvimento sustentável, estimulando a fixação dos jovens nas zonas rurais, favorecendo assim o aparecimento de novas e criativas atividades profissionais.

Actividade criativas

Diversas entidades, projetos, conferências, workshops, debates, palestras, oficinas e ateliers, repletos de inovação e criatividade marcaram presença no Festival, transmitindo um espírito desafiador para todos os participantes. No decorrer da visita da CNJ, teve lugar uma Conferência sobre a Economia de Partilha, na qual se destacou a apresentação do projeto do CDI (Comité para a

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EVENTO

Democratização Informática), relatado na 1.ª pessoa pelo seu criador Roberto Baggio. Este é um projeto de sucesso que visa estimular o empreendedorismo e a cidadania ativa, esbatendo as desigualdades sociais no acesso à tecnologia. Projectos como este são motores de transformação da nossa sociedade tornando-a mais justa e mais igualitária, ao mesmo tempo que favorecem o “empowerment “ dos participantes nas acções e promovem o desenvolvimento social e económico. O Greenfestival é sem dúvida um festival cheio de inspiração e inovação e uma mostra autêntica e genuína de partilha de boas práticas. É ainda a prova de que todos podemos contribuir para transformar o mundo num espaço mais aprazível para se viver sustentavelmente.

Embarca nesta nau! Nau dos Corvos promove produtos e tradições gastronómicas locais O restaurante ancorado na falésia, no seu exterior, adopta um ar rude e parece transfigurar-se em miradouro para poder escapar à vigilância severa do farol que se ergue do lado oposto. Gaivotas e famílias ziguezagueiam nas rochas. O famoso rochedo, afastado da costa, acolhe generosamente corvos e outras aves marinhas. As águas da maré castigam a muralha rochosa e desaparecem sem deixar rasto. O exterior anuncia frescura e movimento. O interior oferece um ambiente de refúgio e de aconchego reforçado pela luz directamente importada do horizonte. O conceito gourmet que domina toda a estratégia do Nau dos Corvos estrutura-se na gastronomia de fusão e numa clara opção pelos produtos e pela gastronomia locais. A inovação e a criação de novas soluções gastronómicas coabitam de forma coerente com a produção local nomeadamente hortícolas, frutícolas, peixe e carne. O peixe é adquirido na sua quase totalidade na lota de Peniche e a carne comprada a fornecedores locais.

Os legumes e a fruta são da região e quando surgem algumas falhas no fornecimento local é a horta do próprio gerente que responde em sua substituição. Outra área marcante desta relação com a produção de proximidade é a dos vinhos sendo de notar que 90% da garrafeira do restaurante é composta por vinhos nacionais. No que concerne a base gastronómica, a caldeirada e a massada constituem referências obrigatórias atendendo à relação com o mar e a pesca que fazem de Peniche uma referência nacional. “Desde o início do projecto que a noção de responsabilidade social regula muitos dos passos da gestão do restaurante que assume a promoção da cidade e da região como objectivo fundamental. Honrar o local onde estamos, onde fomos acolhidos é um impêrativo” afirma Pedro Viola. Os produtos locais também têm presença de honra na ementa. A pêra rocha apresenta-se nas vieiras e nas sobremesas com distinção. Autênticos embaixadores dos sabores da região

os dinamizadores do projecto Nau dos Corvos são categóricos “É preciso manter uma base tradicional para dar consistência aos processo de inovação”.

Cabo Carvoeiro | Peniche
PORTUGAL
 
 t. 262 783 168 | 91 88 16 515 naudoscorvos.pt facebook.com/restaurante.naudoscorvos

TRADIÇÕES E SABERES

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Feira de caça & gastronomia

Pequena produção local tem que ser apoiada A segunda edição da feira de caça & gastronomia que teve lugar nas Termas de Monfortinho, Idanha-a-Nova, serviu mais uma vez para valorizar os produtos locais e para reforçar a fileira da caça como quadro de económico, social e cultural para o desenvolvimento da região. Para além da área de exposição e de eventos festivos outros espaços, como o Hotel Fonte Santa, serviram para acolher técnicos, peritos e decisores políticos que debateram temas profissionais relevantes como foi o caso do licenciamento de unidades de produção local e a comercialização de produtos regionais e caça. Com a presença do Presidente da Câmara de Idanha-aNova, Armindo Jacinto, do consultor Augusto Mateus e de representantes da DGAV de Coimbra, Eugénia Lemos e Jorge Branco, realizou-se uma sessão de esclarecimento sobre a pequena produção local e as condições necessárias para o crescimento do sector da caça no concelho e na região.

Legítima indignação

A denúncia de situações inconcebíveis criadas pelas exigências de declaração de actividade e de registo de produtos e serviços surgiu através de intervenções mais ou menos inflamadas de vários participantes no encontro, dando voz à indignação por um lado e ao desejo de alterar o actual estado das regras de jogo, por outro. Falou-se de uma senhora que vendeu dez borregos dentro das regras impostas pelos legisladores fundamentalistas e “mais papistas que o Papa” como alguém afirmou, e ilustrou-se em pormenor o inferno no qual ela se meteu em termos de finanças e segurança social como fundamento para a declaração categórica de alguns “assim não vale a pena, é melhor desistir”. Um participante na sessão perguntava “Nestas condições posso estar e ficar na feira?”. A desorientação e desmotivação que resulta das imposições legais estabelecidas por “vassalos de Bruxelas e sacadores de impostos a todo o custo” traduz-se numa perda de perspectivas e no abandono progressivo da produção baseada nas tradições locais.

Apoiar com acções

A Câmara Municipal encontrou uma solução para enquadrar muitas destas actividades em estratégias de promoção regional, mas mesmo esta disponibilidade dos poderes públicos locais, tem limites. “são 100 produtores que dinamizam esta microeconomia que não podem ser hostilizados, antes pelo contrário devemos fazer tudo

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EVENTO

I Gala Solidária Fadoando I Gala Solidária Fadoando no Cinema S.Jorge em Lisboa apoiou a Ajuda de Berço e Vitor Coelho, portador de doença rara. Associaram-se formalmente ao projecto: Joaquim de Almeida, Ricardo Carriço, Rui Pragal da CUnha (Heróis do Mar), Fernando Pereira, Ana Moura, Kátia Guerreiro, Maria da Fé, Mafalda Arnauth, Pedro Moutinho, Maria Ana Bobone, Rodrigo Costa Felix, Ana Sofia Varela, D. Vicente da Câmara, José Gonçalez e a anfitriã, Ana Laís. Trio Sandro Costa, António Neto e Jorge Carreiro. A apresentação da gala esteve a cargo de Tânia Ribas de Oliveira e de José Carlos Malato. Contou com o apoio da RTP e da Antena 1 e foi patrocinado pela Seaside e pela EGEAC | Cinema São Jorge, que aceitaram ser sócios honorários fundadores do projecto.

o que está ao nosso alcance para defender e promover estes produtos de excelência. As Terras de Idanha, marca concelhia ao serviço dos produtores locais, serve exactamente para isso, ajudar a comercializar os produtos e apoiar a penetração em novos mercados. Colocamos produtos locais em 250 pontos de venda no pais todo, mas queremos ir mais longe e melhorar os segmentos como os produtos de caça, para além do mel, dos enchidos, do queijo, do azeite e tantos outros”.

O potencial do mundo rural

Augusto Mateus, consultor experiente e ex-governante, deu nota de um estudo que está a ser lançado sobre o Mundo Rural e referiu que esta matéria da clarificação das condições de exercício de actividade no meio rural como essencial. Por sua vez os representantes de Coimbra da DGAV – Direcção Geral da Alimentação e Veterinária reafirmaram que o trabalho que realizam no terreno junto dos produtores os coloca numa posição um pouco contraditória. Defendem a preservação do património, do saber fazer e das tradições que ajudam a fixar pessoas na agricultura e no meio rural e ao mesmo tempo, fiscalizam e recomendam melhorias nas questões de higiene e nos processo de produção que salvaguardem a saúde pública e o bem-estar das populações de um modo geral. “O pior que pode acontecer é o despovoamento e o desaparecimento das pequenas unidade de produção local. No queijo da serra passámos de 2000 produtores para os actuais 120. Não ficámos necessariamente a ganhar em qualidade do produto nem no emprego local”. Depois da sessão no hotel o Chefe António Sequeira dinamizou uma sessão de Cozinha ao Vivo com os “Produtos do Monte”, sinalizando que neste tipo de iniciativas, o comer e o beber, para além dos produtos locais, também mantêm vivas as tradições da população local.

EVENTO

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