Caderno do Projeto para o Centro Educacional Unificado Campos Elísios, SP

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Centro Universitário Belas Artes de São Paulo Arquitetura e Urbanismo

P R O J E T O PA R A O C E N T R O EDUCACIONAL UNIFICADO

CAMPOS ELÍSEOS, SP

Carolina Poma Rossi São Paulo, 2020.



D E D I C AT Ó R I A

Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha primeira professora, que foi minha mãe. E a todos os professores que contribuíram para minha formação, da infância à graduação.



AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Professor Dr. Ademir Pereira dos Santos, pela paciência e disponibilidade durante todo este processo de pesquisa relacionado à arquitetura escolar, que se iniciou em 2019. À equipe da Escola Estadual João Kopke, que me recebeu e apresentou ao espaço escolar mesmo em tempos de pandemia, assegurando todas as atitudes preventivas contra a infecção viral enquanto estive por lá. Às minhas amigas e colegas de curso, Erica Bortoletto, Daniela Glinglani, Flávia Sampaio, Karina Hammond, Isadora Toledo, Anna Amélia Ribeiro, Priscila Rachel, Isabela Sequeira e Giovanna Pirovani, que trocaram ideias, deram apoio e me inspiraram durante este processo de 5 anos de graduação. Aos meus pais, Danilo Anibal Rogerio Rossi e Rosângela Maria Poma Rossi, responsáveis por tudo que me tornei. Às minhas primas, Sarah e Samantha Poma, que são também minhas irmãs. À minha família, que compartilhou dos bons e maus momentos vividos nos ùltimos anos. Ao corpo docente da Belas Artes e aos demais educadores com quem estive em contato no decorrer da minha formação.


RESUMO

O estudo a seguir visa elaborar um projeto de edificação para o Centro Educacional Unificado destinado à população de baixa renda que reside na área central da cidade de São Paulo através do embasamento científico e biográfico quanto à arquitetura escolar e história do bairro do Campos Elíseos. Para isso, se fez necessário levantar discussões sobre os espaços de ensino dentro da cidade; buscar formas de elaborar um projeto que estimule a utilização do centro para fins além do comercial; estudar a possibilidade de melhorias na região a ser trabalhada e entender as singularidades da população à qual o projeto é destinado. Para a concepção da pesquisa, foi utilizado o método qualitativo através da consulta em livros, revistas e artigos acadêmicos voltados à arquitetura, urbanismo e educação. Além do plano diretor da cidade, dados do IBGE, Geosampa e Gestão Urbana. Também foi necessário analisar os manuais de construção de escolas do modelo CEU disponibilizados pela prefeitura de São Paulo para correlacionar com as necessidades de uma edificação escolar no centro da cidade.

Palavras-chave: Arquitetura Escolar. Centro Educacional Unificado. Bairro Campos Elíseos.


ABSTRACT

The following study aims to provide a scientific basis about school architecture and the history of the Campos Elíseos neighbourhood with the purpose of developing a building project for the Unified Educational Center intended for the low-income population who lives in downtown of São Paulo. Therefore, it was necessary to raise discussions about the teaching spaces within the city; seek ways to develop a project that encourages the use of the downtown for non-commercial purposes; study the possibility of improvements in the region to be worked on and understand the singularities of the population to which the project is deliberate. For the design of the research, the qualitative method was used through consultation in books, magazines and academic articles focused on architecture, urbanism and education. In addition to the city master plan, data from IBGE, Geosampa and the urban management of São Paulo. It was also necessary to analyse the construction manuals for schools of the CEU model made available by the city of São Paulo to correlate with the needs of a school building in the city centre.

Keywords: School Architecture. Educational Center. Campos Neighborhood.

Unified Elíseos


RELAÇÃO DE FIGURAS 16

Mapa dos CEUs existentes e planejados. Elaborado e atualizado por Carolina Poma Rossi (SMDU, 2014).

23

Mapa de localização e entorno do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

24

Mapa de transporte na região do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

25

Mapa de zoneamento do entorno e do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

27

Mapa de uso e ocupação do solo da região do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

28

Mapa de patrimônio cultural tombado na região e terreno do CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

24

Mapa de transporte na região do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

25

Mapa de zoneamento do entorno e do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

29

Hotel Cícero na esquina da Alameda Dino Bueno com a Rua Helvétia (GOOGLE MAPS, 2014).

29

Alameda Dino Bueno nº118, preservação da fachada (GOOGLE MAPS, 2014).

29

Alameda Dino Bueno nº118, preservação do volume (GOOGLE MAPS, 2014).

35

CENTRO DE ARTES E EDUCAÇÃO DOS PIMENTAS. Fotos de Nelson Kon.

36

ESCOLA COMUNITÁRIA LORETO. Fotos de Ros Kavanagh.

37

MORADIAS INFANTIS FUNDAÇÃO BRADESCO. Fotos de Leonardo Finotti.

41

Diagrama de distribuição do programa

42

Escola Estadual João Kopke. Fotos de Carolina Poma Rossi

43

Levantamento em planta da Escola Estadual Jõao Kopke. Elaboração: Carolina Poma Rossi.

44

Esquema isométrico do projeto.

45

Implantação do projeto

46

Planta baixa

50

Cortes


RELAÇÃO D E TA B E L A S 26

Tabela 01 – Coeficiente de aproveitamento para Zonas Predominantemente Residenciais. (SÃO PAULO, 2014).

32

Tabela 02 – População residente dos setores censitários das Quadras 37 e 38, por população total e por sexo, 2010. (SÃO PAULO, 2014 Apud IBGE, 2010).

32

Tabela 03 – Distribuição da população de Santa Cecília e dos setores censitários das Quadras 37 e 38, segundo faixa etária, 2010. (SÃO PAULO, 2014 Apud IBGE, 2010).

32

Tabela 04 – População com 15 anos ou mais que não sabe ler e escrever, Santa Cecília e setores censitários das Quadras 37 e 38, 2010. (SÃO PAULO, 2014 Apud IBGE, 2010).

32

Tabela 05 – Freqüência de crianças e adolescentes à escola com base na população entre 1 e 14 anos. (SÃO PAULO, 2014 Apud IBGE, 2010).

40

Tabela 06 – Distribuição do programa de necessidades do projeto com base no dimensionamento de CEUs disponibilizado pela Gestão Urbana da cidade de São Paulo.


SUMÁRIO

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I NTRODUÇÃO

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0 1. CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO

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1. A ) S U RG I M E NTO D O M O D E LO CEU

15

1. B) AS FASES DO CEU

17

1. C ) TE RRITÓ RI O C E U 02. BAI RRO CAMPOS ELÍSEOS

18 19

2 . A ) H I STÓ R I CO D O B A I R R O

21

2 . B ) O N A S C I M E NTO DA B O CA DO LIXO

22

2 . C ) C E N Á R I O ATU A L

23

2. D) DADOS DA REGIÃO

30

03. A POPULAÇÃO DO CENTRO

31

3. A) AS QUADRAS 37 E 38

33

3. B) A FAVELA DO MO I N HO

34

04. ESTUDOS DE CASO

35

4 . A ) C E NTR O D E A RTE S E E D U C A Ç Ã O D O S P I M E N TA S

36

4 . B ) E S C O L A C O M U N I TÁ R I A LO RETO

37

4. C) MO RAD IAS I N FANTIS FUN DAÇÃO B RADESCO


38

0 5. PRO J ETO

39

5. A) PROGRAMA DE NECESSIDADES

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5 . B ) E S C O L A E STA D U A L JOÃO KOPKE

45

5 . C ) P RO J ETO E E NTO R N O

55

CONSI DERAÇÕES FI NAIS

57

REFERÊNCIAS

60

ANEXOS

62

APÊNDICES


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PRO J ETO PARA O CE NTRO E DU CACI O NAL U N I FI CADO

INTRODUÇÃO

De acordo com o Quadro Analítico Regional da Subprefeitura da Sé (2016), após duas décadas apresentado decréscimo no número de moradores, a região central da cidade de São Paulo apresentou, em 2010, um crescimento populacional de 57.192 habitantes em relação ao Censo de 2000. O Caderno de Propostas ainda aponta que 70% da população que reside na subprefeitura é de idade ativa, ou seja, dos 15 aos 59 anos (SÃO PAULO, 2016). O centro possui, em cada um de seus distritos, suas peculiaridades. Um bairro, em particular, chama atenção por ser bastante desvalorizado apesar de sua localização privilegiada, próximo às estações Júlio Prestes e Luz do metrô. O Campos Elíseos, pertencente ao distrito de Santa Cecília, é onde vive grande parte das famílias de baixa renda que habitam o centro. De acordo com o levantamento elaborado em 2014 por Débora Sanches, há 102 imóveis ociosos que são ocupados na área central por famílias de baixa renda, sendo que aproximadamente 20% deles se localizam na região do Campos Elíseos e Bom Retiro (SANCHES, 2015). Além disso, é neste bairro em que está a única favela do centro de São Paulo. Localizada entre os trilhos, próximo à estação Júlio Prestes, na Favela do Moinho moram cerca de 500 famílias que resistem às tentativas de remoção e ataques de governos higienistas. Apesar da região ter recebido diversas intervenções


CAMPOS ELÍSEOS, SP

imobiliárias a partir dos anos 2000, como a construção do Teatro Porto Seguro em 2015, a população residente não é contemplada ou beneficiada pelas mesmas (INSTITUTO PÓLIS, 2017). Uma outra questão relacionada ao bairro é a da população dependente de substâncias químicas, a concentração conhecida como “cracolândia”. Com um histórico de degradação da região que se iniciou na década de 1930, tendo ficado conhecida durante a década de 1960 como “boca do lixo” devido ao tráfico de drogas e prostituição, o local ainda hoje enfrenta os seus estigmas. É pensando neste contexto que pretende-se elaborar o projeto arquitetônico do Centro Educacional Unificado do Campos Elíseos. O objetivo deste projeto é conceber de um espaço de educação, lazer, cultura e esporte que seja acolhedor à população que têm sofrido, ao longo dos anos, com tentativas higienistas de expulsão do centro. Para isso, foi necessário pesquisar o processo histórico da região e também do projeto educacional de um CEU, visando compreender seu desenvolvimento e suas cicatrizes. A pesquisa foi realizada através da leitura de livros, artigos acadêmicos e reportagens da imprensa. Também foi necessário conhecer o local pessoalmente, conversar com as pessoas que o frequentam diariamente e considerar propostas urbanísticas alternativas que foram

elaboradas em conjunto com a comunidade. Por fim, os resultados alcançados são apresentados do seguinte modo: No capítulo 1, Centro Educacional Unificado, apresenta-se o estudo do conceito de Centro Educacional Unificado, sua origem e repercussão. No capítulo 2, O Campos Elíseos, apresentase a história do bairro, as questões sociais da região e os dados do local da proposta. No capítulo 3, A População do Centro, apresenta-se um estudo a respeito da população à quem o CEU se destina, suas particularidades, lutas e demandas. No capítulo 4, Estudos de Caso, apresentase projetos arquitetônicos que serviram de referência para a elaboração deste. No capítulo 5, Programa de Necessidades, apresenta-se uma relação de espaços que devem constar no projeto bem como as suas dimensões. No capítulo 6, Projeto do Território CEU Campos Elíseos, apresenta-se a proposta projetual bem como o material que foi desenvolvido para a sua representação, como a implantação, plantas, cortes, elevações e perspectivas. No capítulo 7, Considerações Finais, apresentase os pensamentos conclusivos que o estudo gerou.

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CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO

Para compreender o modelo educacional dos CEUs, este capítulo foi subdividido em: 1.A) Surgimento do modelo CEU; 1.B) As fases do CEU e, por fim, 1.C) Território CEU.


1.A)

SURGIMENTO DO MODELO CEU

Ao ler o artigo de Renato Anelli “Centros Educacionais Unificados: arquitetura e educação em São Paulo”, nota-se de imediato que é praticamente impossível falar sobre os CEUs sem falar do educador Anísio Teixeira. Isso porque talvez a própria ideia de CEU não existiria sem que antes existisse o trabalho que por ele foi desenvolvido.

década de 1920, passou a abrigar cerca de dois milhões de habitantes até o início da década de 1950. Sendo assim, a Comissão Executiva estabeleceu como meta construir escolas o suficiente para que, até 1954 (ano do quarto centenário da cidade), esse déficit fosse equacionado e nenhuma criança paulistana ficasse sem escola (FERREIRA et al. 1998).

Um personagem chave para entendermos essa interação é o educador Anísio Teixeira. Após sua pós-graduação com o norte-americano John Dewey entre 1927 e 1929, Teixeira desenvolveu e aplicou políticas educacionais onde a escola pública deveria ser estendida a todas as classes sociais e ser capaz de cumprir um papel formador do cidadão (ANELLI,

Os novos modelos pedagógicos e as experiências europeias na área da educação são refletidos durante o planejamento dessa alta demanda escolar. Dessa forma, os edifícios escolares passam a considerar a escala da criança, a incidência de luz e circulação de ar, e a integração da criança com a natureza (FERREIRA et al. 1998).

2003).

Em 1947, Anísio Teixeira uniu-se aos arquitetos Hélio Duarte e Diógenes Rebouças para executar, na cidade de Salvador, na Bahia, o projeto de uma Escola Parque. O momento político, no entanto, não era o mais apropriado e comprometeu a continuidade da experiência na cidade baiana (ANELLI, 2003). No ano seguinte, em São Paulo, Hélio Duarte assumiu a direção de planejamento da Comissão Executiva do Convênio Escolar e teve em mente as ideias e experiências vividas junto de Teixeira quando, na década de 1950, a cidade o desafiaria. Devido ao boom populacional pós-guerra e aos movimentos migratórios da população do campo, a capital paulista que abrigava 500 mil habitantes até a

Baseando-se nas propostas inovadoras de Anísio Teixeira, Hélio Duarte adaptou o projeto à demanda de construção e introduziu a concepção de escola como equipamento urbano, de forma a gerar o sentimento de pertencimento entre comunidade e escola pública. Com uma equipe que contava com Eduardo Corona (1921), Roberto Tibau (19242003), Oswaldo Corrêa Gonçalves (19172005) e Ernest Mange (1922-2005), foram os responsáveis pelas primeiras manifestações do modernismo paulista em obras públicas da cidade (FERREIRA et al. 1998). Este pequeno grupo de arquitetos é autor de uma produção espantosa sem recorrer a padronização. São pouquíssimos os edifícios


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PRO J ETO PARA O CE NTRO E DU CACI O NAL U N I FI CADO

concebidos dessa forma. O ritmo era intenso. No período entre 1949 e 1950 já haviam sido elaborados trinta projetos para escolas além de outros equipamentos públicos (FERREIRA et al. 1998, p.28).

Com o fim do Convênio Escolar, a concepção de escola que dali nasceu continuou influenciando a construção escolar no Brasil. Foi com base nisso que o Departamento de Edificações da Prefeitura de São Paulo (EDIF) agrupou em três volumes um programa que reuniria salas de aula, refeitórios, biblioteca, programa de inclusão digital, áreas para exposições e para a convivência, creche, teatro, ginásio esportivo e sala de ensaios musicais. Este é o programa básico do Centro Educacional Unificado. De acordo com Figliolino (2014), desde o primeiro projeto, em 2003, o CEU é uma proposta de educação integral que vai além do ambiente escolar. Interliga-se à comunidade, levando uma perspectiva de cidadania inédita no cenário educacional brasileiro. Para Anelli (2003), o atual projeto dos CEUs constitui mais um passo em uma longa história de interação entre arquitetos e educadores no desenvolvimento de propostas para enfrentar o processo de urbanização das nossas cidades. Isso porque, como explicado em nota do próprio autor no artigo, a população urbana no Brasil cresceu rápida e abruptamente no final do século XX. O CEU representou, ainda, uma intervenção

urbanística na cidade. Figliolino (2014) comenta que o projeto dos CEUs foi além do equipamento, pois qualificava os espaços urbanos envoltórios que anteriormente eram ignorados pelo poder público. Esse movimento levava à periferia parte da infraestrutura que carecia. A autora também destaca a importância arquitetônica do projeto, visto que o programa inclui elementos, como teatro e piscinas, que dificilmente seriam acessados pela população periférica de outra maneira. A possibilidade de acessar estes espaços é um símbolo do respeito (FIGLIOLINO, 2014).


CAMPOS ELÍSEOS, SP

1.B)

AS FASES DO CEU

É possível dividir, atualmente, a história dos CEUs em quatro fases. A primeira fase ocorreu quando, em 2002, os primeiros equipamentos foram implantados em São Paulo. O objetivo deste novo modelo era, segundo consta no site oficial da Secretaria Municipal de Educação, o de oferecer à todos uma educação democrática, emancipatória, humanizadora e com qualidade social (SÃO PAULO, 2014).

O projeto foi retomado durante a gestão de Gilberto Kassab, do DEM, com projeto arquitetonico elaborado pelo escritório de Walter Mahkrol. Nesse período foram entregues novos 24 CEUs, com custo médio de 25 milhões de reais.

A terceira fase ocorreu entre 2013 e 2017, durante a gestão de Fernando Haddad, do PT. Neste período, apenas o CEU Heliópolis Os CEUs foram construídos com o objetivo foi entregue, com o custo médio de 33 de promover uma educação à população de milhões de reais. A proposta desta fase era a maneira integral, democrática, emancipatória, de elaborar projetos de CEUs com base em humanizadora e com qualidade social. Juntando não somente educação, mas escolas municipais já existentes, aprimorando também, a cultura, o esporte, lazer e a infraestrutura presente e o contato com a recreação, possibilitando o desenvolvimento comunidade. O projeto do CEU Heliópolis do ser humano como um todo, como pessoa foi assinada pelo arquiteto Ruy Ohtake e de direitos e deveres e dono de sua história está conectado à Escola Municipal de Ensino (SÃO PAULO, 2014). Fundamental Campos Salles.

O projeto dos CEUs começou a ser Ao fim da gestão de Haddad, havia um estruturado na gestão de Marta Suplicy, do PT, CEU entregue e 12 em obras. Durante a em 2001. Inicialmente, a equipe responsável administração seguinte, de João Dória pelos projetos arquitetônicos era coordenada do PSDB, estas obras foram paralisadas e pelos arquitetos Alexandre Delijaicov, André retomadas em 2019, com a entrada de Bruno Takyia e Wanderley Ariza. O Departamento Covas, também do PSDB. A quarta fase dos de Edificações (EDIF) era o responsável pela CEUs compreende a esta retomada. Este elaboração. Esta primeira fase compreende aos período também contempla a execução dos CEUs que foram entregues até o ano de 2004, projetos de Território CEU, que consiste na 21 escolas ao todo, que tiveram o custo médio implantação de novos equipamentos e na de 13 milhões de reais cada. reutilização e revitalização de equipamentos A segunda fase compreende o período de 2007 de esporte, cultura e educação do seu entorno, a 2012. Durante a gestão de José Serra (2005 incorporando estas estruturas umas às outras a 2006), do PSDB, o projeto foi paralisado. (SÃO PAULO, 2015). Ao todo, 24 construções foram canceladas.

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Fig. 01 – Mapa dos CEUs existentes e planejados. Elaborado e atualizado por Carolina Poma Rossi (SMDU, 2014).


CAMPOS ELÍSEOS, SP

1.C)

TERRITÓRIO CEU

Segundo consta no site Gestão Urbana, da cidade de São Paulo: A Secretaria Municipal do Desenvolvimento Urbano (SMDU) é responsável por implementar políticas públicas que dêem concretude às premissas de redução das desigualdades socioambientais e maior equidade na oferta de serviços públicos do governo municipal. Estas políticas, expressas de forma global no Plano Diretor Estratégico, partem do princípio fundamental de articulação das políticas e intervenções setoriais no território da cidade. O Programa Rede Integrada de Equipamentos Sociais, coordenado pela SMDU e desenvolvido em parceria com as Secretarias Municipais da Educação, Cultura, Esportes e Lazer, Assistência e Desenvolvimento Social e Direitos Humanos e Cidadania, visa reequilibrar a oferta desses serviços públicos através da integração física e de gestão dos diversos equipamentos municipais existentes, bem como de um planejamento integrado na implantação de novos equipamentos municipais, dentre eles os novos Centros Educacionais Unificados (CEUs) (SÃO PAULO, 2014).

Com isso, o projeto de Território CEU busca articular equipamentos próximos de modo à responder às especificidades de cada centro. Desta forma, os novos CEUs que forem propostos levantam diálogo com o entorno, estabelecendo uma rede de utilização de locais já existentes promovendo a manutenção destes. Além disso, pode-se ver este projeto

como uma forma de expandir os conceitos de educação, cultura e lazer à escala da cidade. De acordo com o site Gestão Urbana, existem 21 Territórios CEU na cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2014).

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02

BAIRRO CAMPOS ELÍSEOS

Para compreender o local onde o projeto será desenvolvido, este capítulo foi subdividido em: 2.A) Histórico do Bairro; 2.B) O Nascimento da Boca do Lixo; 2.C) Cenário Atual e, por fim, 2.D) Dados da Região.


2. A)

HISTÓRICO DO BAIRRO

A história do bairro do Campos Elíseos faz parte fundamental da história da cidade de São Paulo. No século XIX, a região na época conhecida como Campo Redondo era formada por chácaras que posteriormente pertenceram ao Visconde de Mauá, por tanto também já foi chamada de Campos de Mauá (INSTITUTO CULTURAL ITAÚ, 1997, p.11).

ITAÚ, 1997, p.16). A história do Bairro dos Campos Elíseos está ligada também às áreas educacional e administrativa. O Liceu Coração de Jesus, no largo de mesmo nome, se destaca como um dos mais antigos e conceituados centros educacionais da cidade. O Palacete Elias Chaves, posteriormente Palácio dos Campos Elíseos, sediou o governo estadual em 1912 até sua transferência para o Palácio Bandeirantes,

Em 1875, com a inauguração da Estrada de Ferro Sorocabana, na atual Estação Pinacoteca da Rua Mauá, a região passa a chamar atenção dos fazendeiros paulistas para o bairro. Em 1878 esta área foi comprada e loteada por Frederico Glette e Victor Nothmann, que hoje dão nome à duas Alamedas do bairro. O loteamento, primeiro da cidade, foi projetado por Hermann Von Puttkamer. Este deu origem às ruas largas e ortogonais, onde a elite construiria seus palacetes e fruiria até meados da década de 1930 (INSTITUTO CULTURAL ITAÚ, 1997, p.13).

Em 1914, a Estrada de Ferro Sorocabana construiu, no Largo General Osório, um novo edifício para a estação projetada por Ramos de Azevedo. Este local abrigou, do Estado Novo ao Regime Militar, o Departamento de Ordem Política e Social - DOPS e em 1983 passou a ser sede da Delegacia de Defesa do Consumidor (INSTITUTO CULTURAL ITAÚ, 1997, p.16). Atualmente, pertence à Pinacoteca do Estado e abriga o Museu Memorial da Resistência de São Paulo.

Com a passagem do tempo, o uso de alguns palacetes foi alterado. Exemplo disso é o Palácio dos Campos Elíseos situado na Avenida Rio Branco. Projetado pelo alemão Matheus Haussler em 1890, foi residência de Elias Antonio Pacheco Chaves até 1911, quando o palacete, adquirido pelo Estado, tornou-se residência oficial dos prefeitos de São Paulo e foi sede do governo do Estado até 1965, ano em que a sede foi transferida para o Palácio dos Bandeirantes (INSTITUTO CULTURAL

Perto dali, também construída pela Estrada de Ferro Sorocabana entre 1926 e 1938, está a Estação Ferroviária Júlio Prestes. Projetada por Samuel das Neves e Christiano Stockler das Neves, a estação foi inaugurada em 1930, ainda inacabada. Na década de 1950, o edifício era referência no bairro, que passava por um processo de verticalização (INSTITUTO CULTURAL ITAÚ, 1997, p.17). Atualmente, a Estação Júlio Prestes abriga o Centro Cultural Júlio Prestes, que é muito conhecido por

na década de 1960 (KATO, 1997, p.9).


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conta da Sala São Paulo inaugurada em 1999, p. 9). a primeira sala de concertos do país (SÃO PAULO, 2017). A partir da construção da Estação Júlio Prestes, o aumento do fluxo de pessoas, automóveis e cargas fez com que a elite “escapasse” para outras áreas da cidade, como a região do bairro Higienópolis. Assim, cresceu o número de hotéis e pensões, além de comércios que visavam o alto movimento de pessoas. Isso se intensifica quando, em 1961, é inaugurada a primeira Estação Rodoviária da cidade, localizada na Praça Júlio Prestes (INSTITUTO CULTURAL ITAÚ, 1997, p.21). O espaço público foi sendo tomado pela rodoviária para carga e descarga de passageiros e estacionamento de ônibus e táxis. A proximidade das duas estações, rodoviária e ferroviária, acentuou a concentração de pequenos hotéis e serviços, aumentando também o comércio regional. Em 1982, a Estação Rodoviária foi transferida para o Terminal Rodoviário Tietê e o prédio adaptado para receber o Shopping Fashion Center Luz, inaugurado em 1988 (INSTITUTO CULTURAL ITAÚ, 1997, p.21).

Segundo Ariaki Kato (1997), as intervenções urbanísticas mais marcantes no bairro foram o alargamento das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco do projeto das grandes avenidas de Prestes Maia, na década de 1940. Além da ampliação do Largo Princesa Isabel, em 1975, que integrou três quadras da Avenida Duque de Caxias até a Alameda Glete (KATO, 1991,


CAMPOS ELÍSEOS, SP

2. B) O NASCIMENTO DA BOCA DO LIXO Pode-se dizer que o processo que levou a região ao que é hoje se inicia na década de 1940 e se intensificou a partir da inauguração da Rodoviária, na década de 1960. Entretanto a região já era, na década de 1950, marcada pelo comércio de alcool e drogas, além da prostituição. Em agosto de 1953 Jânio Quadros, prefeito de São Paulo na época, assina decreto que poria fim às atividades de meretrício, até então confinadas na “zona”, no bairro do Bom Retiro (FOGAÇA, 2019, p. 44). Essa atitude levou à dispersão dessa população já estigmatizada em direção às regiões próximas, além do aumento da repressão policial com o objetivo de higienizar aquele cenário (FOGAÇA, 2019, p. 45). Embutidos de padrões morais, as intervenções na atividade do meretrício nas regiões de perímetro central sempre se apresentaram pela via da coerção e dominação, em que o espaço urbano fora utilizado como justificativa para a retirada das prostitutas de determinadas localidades. As medidas adotadas visavam normatizar, controlar e ocultar a prostituição visível na paisagem, em bares e esquinas compostas por mulheres e homens pobres (FOGAÇA, 2019, p. 46).

Fogaça (2019) destaca, ainda, a crise econômica da indústria cafeeira como um dos fatores de arrendamento da elite da região, “dando espaço a novos e heterogêneos grupos populacionais advindos de variados lugares do país e do mundo” (FOGAÇA, 2019, p. 47).

A soma entre as ações de repressão voltada ao meretrício nas localidades em que se concentrava antes do Decreto de 1953, o abandono do poder público após a transição da elite para as regiões do Higienópolis e Avenida Paulista e as transformações no padrão socioeconômico dos moradores, todos esses eventos colocaram o Campos Elíseos Paulistano em outro patamar - é o nascedouro da famosa “Boca do Lixo”, “Submundo do Crime”, “Baixo Mundo”, situado no coração da maior cidade do país (FOGAÇA, 2019, p. 47).

Com a desvalorização do espaço urbano, o bairro passa a ser estigmatizado. O Campos Elíseos também foi, neste mesmo período, um polo do subgênero cinematográfico conhecido como “pornochanchada”, que teve seu auge na década de 1970, e se relacionava com a prostituição existente no bairro. A virada da década de 1980 para 1990 trouxe tensionamentos em escalas inimagináveis ao Campos Elíseos Paulistano, em que a desvalorização do território passa a ser subjugada à concentração de usuários de substâncias psicoativas na denominada “cracolândia”, localizada nos arredores das Estações da Luz e Praça Júlio Prestes, impulsionando a emergência de intervenções públicas nas problemáticas que perpassam o uso de substâncias psicoativas e adentram o debate do eixo da questão urbanohabitacional, traduzido pela perspectiva do não acesso à moradia e ao direito à cidade (FOGAÇA, 2019, p. 51).

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2. C)

CENÁRIO ATUAL

O cenário atual do bairro é, ainda, repleto de Em 2018, o Instituto Pólis publicou uma questões sociais e conflitos entre a população “Carta Aberta Contra as Ações de Remoção na marginalizada e as políticas e ações higienistas. Cracolândia”. Esta carta descrevia a violenta Em 2005, sob a administração de José Serra do ação de remoção das famílias que viviam e PSDB, algumas medidas de desapropriação trabalhavam na quadra 36 do bairro, onde está de imóveis e aumento do policiamento foram prevista a construção do novo Hospital Pérola tomadas para a expulsão da população pobre Byington, por meio de uma parceria públicodo bairro, com o objetivo de tornar o local privada (INSTITUTO PÓLIS, 2018). atrativo para a iniciativa privada. Em 2007, o A publicação também divulgou o plano incentivo à investimentos privados no bairro alternativo Campos Elíseos Vivo, um projeto aumentou com a política de Gilberto Kassab urbanístico social em desenvolvimento com do DEM, chamada de Programa Nova Luz, para base na escuta das necessidades e desejos da incentivar reformas de fachadas locais, mas o população local, que será considerado para a plano era de um embelezamento superficial, elaboração deste trabalho. sem propor melhorias sociais à população (SANTIAGO, 2017). No governo seguinte, gerido por Fernando Haddad do PT, foi lançado o programa social “Recomeço”, para atender aos dependentes químicos que ocupam a região do centro de forma nômade. O programa durou apenas um ano, entre 2013 e 2014. Já de 2014 a 2017, com a mesma gestão, surge o programa “Braços Abertos”, que propunha a redução de danos e reinserção do morador de rua e do usuário de drogas nas atividades da sociedade, empregando-os em funções como varrer as ruas. Estes também podiam morar nos hotéis e cortiços da região com o aluguel custeado pelo programa. No entanto, o programa foi acusado de falta de fiscalização e controle do destino do dinheiro público investido.


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2. D)

DADOS DA REGIÃO

O local escolhido para o projeto fica localizado na quadra 38, em frente à Estação Júlio Prestes (2) conhecida por conta da Sala São Paulo, espaço onde ocorrem concertos de música clássica. Inspirada no Convênio Escolar que, a

partir da década de 1930, unia as gestões do Estado de São Paulo e a do Município para viabilizar projetos de edifícios educacionais, a proposta deve conectar-se à Escola Estadual João Kopke (1), que foi fundada em 1900.

Fig. 02– Mapa de localização e entorno do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

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A área é de fácil acesso à estação de trem e ao ponto de ônibus. De acordo com os dados do site Geosampa (2020), o terreno também tem fácil acesso à ciclovia. O local também é de fácil acesso às avenidas Duque de Caxias e Rio Branco.

Fig. 03 – Mapa de transporte na região do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).


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A quadra em que fica localizada é caracterizada

do território, que foi disponibilizada pela Secretaria

como uma Zona Predominantemente Residencial

de Habitação em 2018, envolve a manutenção da

(ZPR), segundo o zoneamento da cidade de São

população moradora e a produção de Habitação

Paulo disponibilizado no site Geosampa. De

de Interesse Social (HIS) e Habitação de Mercado

acordo com o Plano Diretor Estratégico de 2014,

Popular (HMP) (SEHAB, 2018. P. 11).

as Quadras 37 e 38 estão compreendidas na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana e na Macroárea de Estruturação Metropolitana. Isso significa que a área em questão passa por um processo de mudança nos padrões de uso e

Para a viabilização do projeto educacional na região, portanto, seria necessário prover Habitações de Interesse Social que realocariam as famílias que residem nos lotes que darão espaço ao CEU.

ocupação. A proposta de intervenção nesta porção

Fig. 04 – Mapa de zoneamento do entorno e do terreno do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

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Tabela 01 – Coeficiente de aproveitamento para Zonas Predominantemente Residenciais. (SÃO PAULO, 2014). Tabela 01 – Coeficiente de aproveitamento para Zonas Predominantemente Residenciais. (SÃO PAULO, 2014).


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Atualmente, a quadra é ocupada de 2018, os imóveis - listados em duas tabelas principalmente por estacionamentos, galpões que diferencia o tipo de preservação, seja abandonados, hotéis e imóveis subutilizados integral ou apenas de fachada e volumetria e ocupados como cortiços. A quadra 38 “conservam-se como testemunhos inestimáveis também possui quatro lotes tombados, sendo do período de formação e desenvolvimento” três destes parte do local de intervenção. do bairro (CONPRESP, 2018. p.13). Segundo a Resolução nº 03 da CONPRESP

Fig. 05 – Mapa de uso e ocupação do solo da região do projeto CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).

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Os imóveis tombados pelo CONPRESP localizam-se nos endereços Rua Helvétia nº96 (Hotel Cícero) e Alameda Dino Bueno nº118 e são tombamentos de “preservação das fachadas, dos componentes arquitetônicos externos, cobertura e volumetria, sem restrições a alterações internas das edificações” (CONPRESP, 2018. P.13). Sendo o lote 32 (Hotel Cícero) e o lote 30 de preservação parcial e o lote 31 de preservação de fachada.

Fig. 06 – Mapa de patrimônio cultural tombado na região e terreno do CEU Campos Elíseos. Elaboração própria. (GEOSAMPA, 2020).


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