Manual Severina

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MANUAL DE NORMATIZAÇÃO DA REVISTA E MARCA SEVERINA ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Curso de graduação em Design com habilitação em comunicação visual e ênfase em Marketing. Projeto integrado do 3º semestre: Projeto III - Cultura e informação | Profa. Marise de Chirico Comunicação e linguagem II | Profa. Regina Ferreira da Silva Marketing II | Giancarlo Ricciardi Produção gráfica | Marcos Mello Cor e percepção | Paula Csillag Projeto gráfico: Ana Luisa Camacho Marin Carolina Fraga Iplinsky Izabella Guardeano de Melo Maria Paula Mello Lopes Natalia Zanotti Bichara


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SUMÁRIO 07 09 11 13 14 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 46 48 70 94 98 112 114 117

APRESENTAÇÃO ANÁLISE DE CONCORRÊNCIA PÚBLICO ALVO CONCEITUAÇÃO DA REVISTA UNIVERSO GRÁFICO A MARCA LOGOTIPO PALETA TIPOGRÁFICA PALETA DE CORES ÍCONES ELEMENTOS DE APOIO CAPA FOTOGRAFIA ILUSTRAÇÕES PRODUÇÃO GRÁFICA LAYOUT ELEMENTOS DA MASTER ESTILOS DE PARÁGRAFOS NORMAS GERAIS PARA TEXTOS MANCHAS DIAGRAMAÇÕES TABELA DE CONTEÚDO ROTEIRO DE CONCORRÊNCIA PAINEL DO LEITOR ESPELHO APLICAÇÕES

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APRESENTAÇÃO Com o intuito de padronizar o projeto gráfico da revista e da marca Severina, este manual apresenta todas as regras de marketing, identidade visual, diagramação, conceituação e direção de arte do projeto. Ao longo do manual serão apresentados os conceitos e as diretrizes para seguir o padrão estabelecido pelo projeto, respeitando a marca. Será explicado o mercado em que a nossa revista se encontra, seu público-alvo, concorrência, universo gráfico, layout e diagramação. Para auxiliar, foram selecionadas fotografias ilustrativas demonstrando os conceitos e regras da revista e da marca.

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ANÁLISE DA CONCORRÊNCIA Severina é uma revista que tem como tema a literatura nordestina. Para conseguir identificar os concorrentes, foram pesquisadas revistas tanto físicas quanto digitais e blogs. Após a pesquisa de concorrentes, pudemos chegar a conclusão que, no mercado atual, não há nenhum tipo de mídia, impressa ou digital, que aborde o tema literatura nordestina da maneira proposta pela revista Severina. Foi possível observar que grande parte dos conteúdos presentes na concorrência abordava a literatura brasileira como um todo ao invés de uma região específica, e os conteúdos que possuíam um enfoque maior para a literatura nordestina acabavam por se restringir ao universo do cordel, não abrangendo por tanto, os outros gêneros literários feitos com maestria por muitos escritores da região. Desta forma foi necessário procurar na concorrência outros aspectos que poderiam competir com os encontrados na revista Severina. Dentre eles estão os temas cultura, reflexão, personalidade, estilo de vida, ensaio visual, cinema, religião, culinária, música, arte, poemas, obras, literatura e livros. Há também a concorrência de preço, que foi levada em consideração. Assim foi possível ser estipuladas 3 revistas físicas, Cult, Serrote e Novos Estudos, e 2 revistas digitais, Revista Rosa e Pessoa, sendo que as digitais não competiriam com em relação a preço. A revista Severina tem como intuito retratar a rica literatura nordestina tendo como seu principal diferencial trazer a sinestesia da região para dentro das páginas, abordando o tema literatura nordestina de uma maneira que tenta fazer com que o leitor possa se sentir parte desses universos. Para isso, procurou-se entender a concorrência para conseguir achar os pontos de diferenciação e aproximação entre elas.

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PÚBLICO-ALVO O público alvo é voltado para homens e mulheres que estão cursando ou já cursaram o ensino superior, ou seja, a partir de 18 anos e sem idade limite. Os mesmos pertencem à classe média alta e alta, apreciadores de cultura, principalmente a Brasileira. Gostam de imergir no universo de diferentes locais, entendendo melhor suas tradições e costumes. São amantes de literatura e buscam mais do que ler, querem viver a história contata, como se fossem personagens. Quem lê a revista é alguém culto, sem preconceitos, que tem curiosidade de explorar o ambiente ao seu redor e questioná-lo. Em uma rotina agitada, o leitor quer achar um meio de se entreter e relaxar sem perder o caráter informativo; um momento para pensar em em tudo enquanto não se pensa em nada. O leitor busca sempre se aprimorar e ganhar maior repertório cultural e conhecer novos lugares para posteriormente poder vistá-los, como nativo e não como alguém que apenas busca pontos turísticos. Enquanto lê, fecha os olhos, sai da realidade e tem suas ideias e emoções transbordadas. Seus ouvidos se atraem para qualquer melodia, do rock ao axé, o corpo dança com molejo. Gosta de apreciar os diferentes rítimos de poesias cantadas, da nota dos batuques ao soar da gaita. Vê a dança como expressão e como forma de se expressar, uma arte em constante transformação cheia de sentimentos e significado. Com uma mente tão aberta, seus ideais não pertencem apenas a uma religião, busca saber e conhecer todas mesmo que se identifique com uma mais do que o restante.

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CONCEITUAÇÃO DA REVISTA MISSÃO EDITORIAL Severina é uma revista que mostra que a literatura não é apenas ser lida, e sim para ser vivida. É ser tão regional que acaba sendo universal. Transbordar ideias, sentimentos. Expandir horizontes e mergulhar nessa região extremamente singular e rica. Deixar-se ser invadido por cores, texturas, histórias e sentimentos de uma vida nordestina, arretada, cheia de tradições. Letras em que tudo se cria, tudo se pode. Fechar os olhos e viver outra realidade, uma realidade severina. PROJETO EDITORIAL A revista abrange um público alvo unissex jovem adulto, pessoas intelectuais interessadas em ler e ter uma bagagem cultural imensa. Com isso, a Severina, nome inspirado no poema Morte e Vida Severina do escritor nordestino João Cabral de Melo, tem o objetivo de retratar a essência da rica literatura nordestina. O intuito é ser mais que apenas um produto gráfico de alto padrão, que fornece conteúdo de alta qualidade e informação ao leitor sobre o que ocorre no cenário da literatura do Nordeste. Buscou-se criar, através do universo gráfico, a sensação ao ter a revista em mãos, de estar sendo transportando até a região; uma experiência a ser vivida pelo leitor, fazendo com que esse se sinta um “cidadão” nordestino, com todas suas peculiaridades e tradições (como música, dança, culinária, arte e religiosidade). Para isso, dividimos a revista em seis eixos que abrangem diferentes temas e seções que junto a fotografias, ilustrações e a paleta de cores, o leitor se aproxime da realidade desse estilo de vida.

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UNIVERSO GRÁFICO Todo universo gráfico da revista se apoiou no objetivo de construir um visual realista da região nordeste brasileira que é muito rica em cores, texturas, rítimos e sabores; esse gigantesco universo foi organizado em: objetos (dos bordados típicos as fitas do bonfim); arte gráfica (na icônica xilogravura e estampas); paisagens (da seca as prais paradisíacas); elementos da natureza, contendo a fauna e flora; as festas e tradições desde a culinária até a música e poética nordestina. No momento da pesquisa mantivemos o leitor em foco, pensando no que lhe seria atraente e visualmente agradável para conquistarmos sua atenção em nossas publicação. Para isso, retratamos a rica literatura nordestina tendo como seu principal diferencial trazer a sinestisia da região para dentro das páginas, com ajuda dos imagens e elemnetos gráficos de maneira a atingir a curiosidade e desejo do leitor em imergir nessa cultura; de maneira a se sentir parte desse universo gráfico como se tivesse no nordeste propriamente dito no momento e que lê.

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A MARCA A Severina é uma marca que busca traduzir a rica região nordestina. É dedicada a um público mais culto, interessado em literatura, cultura e viagem. Em nossa revista, a cada edição trazemos uma obra literária nordestina na integra, e relacionamos o conteúdo com o tema central dessa obra, buscando trazer diversos tipos de produções textuais e temas atuais, para criar uma leitura mais fluida ao leitor. Através de nossa marca, buscamos ervir ao nosso público como uma fonte de informação, consulta e inspiração.

O LOGO O logo da revista Severina foi feito através da impressão manual em tipos móveis, realizada na Oficina Tipográfica de São Paulo. Os tipos móveis concordam com o universo gráfico da revista, com forte presença visual, devido aos seus traços únicos e a sua textura, e como resultado, obtivemos um visual vibrante, diferenciado e único, com aspecto rústico, remetendo ao universo de cordéis e xilogravuras. Seus traços apresentam características marcantes, como espessura, falhas e texturas, geometria e ausência de serifas, além de possuirem uma densidade essencial para destacar-se em uma capa. No processo de impressão, foram realizadas várias tentativas usando diversos tipos e pressões,com o objetivo de explorar a variação de texturas e procurar o melhor efeito dentro da proposta. Além disso, porsteriormente foram realizadas edições digitais, como a diminuitção da letra “S” para se encaixar na altura x da caixa baixa da fonte, e o realce das falhas alterando os níveis e curvas no Photoshop, para uniformizar a textura das letras e garantir melhor veracidade e semelhança com a técnica utilizada em xilogravuras. Com isso, acredita-se que o logotipo da Severina possui uma forma sólida e marcante, diferenciando-se da concorrência devido à particularidade da impressão, que mantém a marca na mente do leitor.

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10 mm

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LOGOTIPO ÁREA DE PROTEÇÃO Para que não haja interferência em sua leitura e para garantir que o logo será apresentado com a máxima clareza e impacto visual, deverá sempre haver uma área livre de elementos gráficos ao redor do logo relativo à revista. REDUÇÃO MÁXIMA PERMITIDA A redução máxima permitida para o logo é de 10mm de largura. Quando tão pequeno, é necessária autilização da versão sólida, para que a textura não prejudique a leitura. VERSÃO SÓLIDA O logo apresenta em sua variação a opção da figura em versão sólida, na qual não há a textura do tipo móvel. Essa versão é necessária uma vez que dependendo do fundo ou do tamanho escolhido para o logo, a textura prejudicaria a legibilidade. O logo sólido pode ser aplicado em PB variando a cor de figura e fundo. VERSÃO P/B O logotipo possui apenas variação de preto e branco, em sua versão positiva e negativa, por possuir referência e ligação direta com a linguagem visual de literatura de cordel e xilogravura, que são predominantemente PB. Além disso, preocupou-se em harmonizá-lo com o miolo da revista, que já contém diversos elementos visuais coloridos que podem conflitar e atrapalhar a visibilidade e hierarquia de informação. MONOGRAMA A marca Severina possui em sua variação um monograma, representado por um recorte do “S” do nome, feito em tipos gráficos, formando um símbolo que serve como assinatura/logo da revista. O monograma é utilizado no material promocional da revista.

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PALETA TIPOGRÁFICA As fontes utilizadas na revista são Baskerville e Univers, além da tipografia criada com tipos móveis presente no logotipo. BASKERVILLE Editorial: A fonte Baskerville (TT) Regular é uma tipografia serifada, classificada como transicional, sendo um refinamento dos tipos Old Style. O contraste entre seus traços finos e grossos tornam as serifas afiadas e cônicas. Os traços curvos têm sua forma circular, e os caracteres são mais regulares; seus eixos são verticais. Após testes foi elegida como melhor opção para os textos devido a sua boa legibilidade, e por tornar harmônica a composição com a tipografia de apoio Univers. Os títulos de matérias aparecem em caixa alta e em bold para ressaltar. Nas seções, aparece em bold e em caixa baixa. A Baskerville SemiBold é utilizada no nome do autor e do fotógrafo nos créditos. O Italic é usado para palavras em idiomas estrangeiros e títulos de obras.

Baskerville TT Regular ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Baskerville TT Bold ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Baskerville TT Semibold ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Baskerville TT Italic ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| 22 | manual de normatização


UNIVERS Identidade: A fonte foi escolhida por afinidade e semelhança à do logo da revista, feito com tipos móveis. Apresenta estrutura geometrizada, sem serifa e com leve variação de espessura. Essa similaridade com o logotipo determina uma comunicação concreta entre o conteúdo da revista em si e a sua marca, e une ambos universos: conceitual e gráfico. Editorial: de ido à sua limpeza e legibilidade a longas distâncias, foi escolhida para compor o editorial. A Univers LT 45 Light está presente nas legendas e nos chapéis, enquanto a Univers LT 55 Roman se encontra no olho e nas informações adicionais nos finais de matérias e seções, e em caixa alta nos intertítulos. Para maior destaque, a Univers CE 65 Bold é usada na numeração da página.

Univers LT45 Light ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Univers LT 55 Roman ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Univers CE 65 Bold ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Univers CE 45 Light Oblique ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| Univers CE 55 Medium Oblique ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz 0123456789 &*%$@#()[]{}\/–+=“”:;?!,| severina | 23


CORES PRINCIPAIS

C: 60% Y: 65% M: 10% K: 0%

C: 80% Y: 45% M: 35% K: 10%

C: 80% Y: 30% M: 80% K: 15%

C: 30% Y: 95% M: 75% K: 30%

C: 25% Y: 80% M: 75% K: 15%

C: 50% Y: 60% M: 50% K: 20%

R: 126% G: 101% B: 159%

R: 56% G: 112% B: 136%

R: 53% G: 121% B: 77%

R: 142% G: 35% B: 44%

R: 173% G: 70% B: 58%

R: 129% G: 97% B: 99%

CORES DE APOIO 30% de opacidade

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PALETA DE CORES A revista é composta por uma paleta de sete cores, baseadas no universo gráfico do Nordeste, que conta com paisagens, pratos típicos, elementos da natureza, textura e artesanato. São cores vibrantes que dialogam com as fotos ao longo da edição, sem que haja conflito. O uso das mesmas cores, em opacidade 30%, como elemento de apoio, foi desenvolvido justamente para manter uma harmonia entre os elementos gráficos e tipográficos da revista, e as imagens/ ilustrações. Os tons vão de quente ao frio, com brigthness semelhante entre eles, variando entre 40% e 50%. São seis as cores principais: laranja, verde, azul, cinza, vermelho e roxo, correspondentes aos seis eixos. Serão usadas para os ícones, chápeu, fólio, aspas do olho e boxes. A sétima cor é o preto, que será utilizado para os títulos, textos corridos, créditos, legendas e títulos corrente.

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Irmão das Almas é o eixo abre alas da revista, apresenta o começo da edição e simboliza o início da viagem do personagem Severino. É chamado assim por representar a parte inical do poema, em que os irmãos conversam. O ícone escolhido é um pássaro, mais precisamente um Carcará, por ser uma ave típica da região, representando o bater das asas, o começo da aventura.

Coisas de Não refere-se à fé, tema forte e recorrente no Nordeste, onde há os mais diversos tipos de religião. Optou-se por esse nome pois, nesse trecho do poema, econtram-se senhoras rezando um rosário para um finado que nada levava se não sua própria miséria. A padroeira foi desenhada para respresentar tanto a fé quanto a diversidade, já que existem dezenas de padroeiras, para cada região.

Tua roupa melhor busca retratar o regionalismo, a natureza, e a resitêcia do nordestino. No poema, esse é o momento central, em que o personagem encontra-se na metade do caminho. O nome significa que a tua roupa melhor é a terra onde nasceu e onde será enterrado. O ícone que o caracteriza é um mandacarú, espécie típica de uma região com solo pobre e clima seco, onde resiste e floresce.

Dentro da rede apresenta abordagens de distorções sociais, conflitos e desiluções que os nordestinos vivenciam. É a parte da obra em que se discute as dificuldades da vida do pobre e destaca-se as vantagens dos ricos. O eixo é simbolizado por um chapéu de cangaceiro, elemento clássico no universo visual da região, no intuito de representar as aflições, anseios e sentimentos da população.

De Sua Formosura refere-se ao trecho em que há o nascimento de uma criança, e todos os moradores da região oferecem presentes simples, com enfoque no gesto de presentear. Os presentes eram extremamente característicos, por isso, optou-se por tratar das tradições, comidas típicas e simbologia. O caju, foi escolhido por ser um fruto nativo nordestino, comum na culinária.

Espetáculo da vida celebra o nascimento, a alegria. No fim do poema, perde-se a morbidade e conclui-se que a vida é difícil, mas que ela vale a pena. O último eixo foca em festividades, danças e músicas; na alegria do nordestino, representada por uma sanfona, instrumento característico, com o intuito de abraçar as celebrações e datas festivas tradicionalmente comemoradas na região.

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ÍCONES Para cada eixo da revista foi criado um ícone diferente, relacionado com uma cor da paleta cromática escolhidac. Os eixos foram conceitualmente relacionados ao poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, que inspirou também o nome da revista. A o obra é dividida em pequenos “blocos”, que abrangem temas diferentes, e priorizam a utilização repetida, em sua maioria, de algum termo específico, reforçando a ideia principal do trecho. Sendo assim, pensou-se nos eixos relacionando esse trechos da poesia com situações e sentimentos comuns do nordestino, como fé, resistência, distorções sociais, simbologia e alegria. E os nomes destes remetem às expressões utilizadas pelo autor. O objetivo da divisão da edição em eixos é facilitar a leitura e localização do leitor, guiando-o ao longo da e periência pela cultura nordestina. Os desenhos foram inspirados nos elementos da região, e usou-se como referência a xilogravura; optou-se por peso visual que permite rápida visibilidade, sem que prejudique na hierarquia de informação do resto da mancha, e que permita redução com facilidade, para permitir seu uso no chapéu.

A ARQUITETURA DO VERSO O autor de Morte e Vida Severina e o seu cálculo: a palavra mais exata é a que constrói a melhor poesia

DOCUMENTÁRIO RETRATA SOFRIMENTO DE RETIRANTES Jovens cineastas expõem martírio de retirantes da seca e sua mudança religiosa diante da dor no Ceará

Por Oswaldo Amorim Fotos Maureen Bisilliat

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o longo das duas últimas décadas, o nome do pernambucano João Cabral de Melo Neto acumulou pontos no juízo de críticos e estudantes de literatura. Em 1965, quando Chico Buarque musicou Morte e Vida Severina, os versos de João Cabral chegaram também ao público não especializado e ampliaram uma questão reservada a pequenos grupo: quem é o maior poeta do Brasil? Hoje, João Cabral deve ter tantos defensores quanto Carlos Drummond de Andrade. Os dois, juntos, muito mais do que qualquer outro. Aos 52 anos, com mais da metade deles passada fora do país e sua missão de diplomata (Inglaterra, Espanha, Suíça, Paraguai), este poeta enxuto de carnes e de estilo viaja no mês que vem para mais um exílio profissional, desta vez no Senegal (África), onde será o embaixador do Brasil. Em livro, João Cabral não é amável: é cortante, conciso, incapaz de desperdiçar uma palavra. Em pessoa, é tímido, “muito doce”, como observa um outro poeta, seu amigo Odylo Costa, filho,

Por Alex Pimentel Foto Rafaela Konstantyner

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enador Pompeu. Um episódio sertanejo protagonizado por uma das mais terríveis chagas do Sertão do Ceará, a seca de 1932 ganha, nesse ano, um importante aporte histórico. A calamidade onde milhares de retirantes foram literalmente dizimados pela fome e por doenças – mantidos contra a própria vontade num campo de concentração construído à margem do Rio Patú – e a peregrinação que foi iniciada há 25 anos em sufrágio de sua alma recebem retratação cinematográfica: As Almas do Povo. É o Santo do Povo. O documentário resgata, por meio da ótica popular, a triste memória do Santuário da Seca. O curta-metragem produzido por 21 alunos do projeto Ponto de Cultura Arte Sobre Rodas acaba de ser lançado. A

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VIAGEM PELA MEMÓRIA DE CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ Com as secas, famintos dirigiam-se à capital do Ceará. O governo criou campos cercados para confinar milhares de retirantes; hoje, alguns tentam evitar que a memória desses lugares se apague Por Anna Virginia Balloussier Foto Rafaela Konstantyner

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ma coisa era certa: aquela gente fedida, piolhenta, faminta e desesperada tinha que ser mantida à distância. Era 1932, e Fortaleza não parecia disposta a olhar para trás. Na virada do ano, a capital cearense inaugurava o hotel Excelsior, seu primeiro arranha-céu. Em sua edição de 2 de janeiro, o jornal O Povo destacava o “terraço aprazibilíssimo, de onde se descortinam belíssimos panoramas do mar, das serras e dos sertões vizinhos”.

MUITO ALÉM DE UMA VIDA SEVERINA Não se trata apenas de vida narrativa, é antes de tudo uma vida primária que respira, respira, respira Por Wellington Andrade Fotos Bob Souza

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irigida por Zé Henrique de Paula, a mais recente montagem do Núcleo Experimental – Ao pé do ouvido, em cartaz no auditório do Sesc Pinheiros até o dia 17 de outubro – constitui uma forma cênica bastante singular. Sentados em cadeiras dispostas diante da plateia, os sete atores da companhia, de posse de um fone de ouvido plugado a um aparelho celular, ouvem os depoimentos de migrantes nordestinos em São Paulo, que relatam suas histórias de vida. Enquanto escuta o áudio, ao qual o público não tem acesso, cada intérprete procura recontar fielmente o que está ouvindo, reproduzindo não somente as palavras, mas também a musicalidade, o sotaque e certos recursos expressivos típicos da oralidade, como suspiros, pausas e pigarros, que as acompanham. Os depoimentos – reais – foram colhidos de sete pessoas que saíram da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão e vieram para São Paulo

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RECOSTURANDO PORTINARI Exposição Recosturando Portinari, de Ronaldo Fraga, é sucesso de público em Belo Horizonte Por Mariana Pontual Foto Renato Cobucci

ENCONTRO DO BAIÃO COM O RAP Nascido em Fortaleza, no Ceará, RAPadura mistura ritmos nordestinos ao hip-hop e faz um som inovador e vigoroso Por Laura Maria Foto Fernanda Iara Vater

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onaldo Fraga sabe, como poucos, emocionar uma plateia. E isso vem principalmente do seu talento em contar histórias, habilidade que desenvolveu ao longo dos anos com seus desfiles no Spfw nos quais sempre mistura moda com elementos da cultura nacional. A mais recente empreitada do estilista é a exposição Recosturando Portinari, em cartaz na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, até o dia 26 de outubro. Em passagem pela capital de Minas para o Brasil Fashion, o ffw conferiu de perto a mostra, sendo muito bem acompanhado pelo polivalente designer mineiro em uma espécie de visita guiada, mas que acabou se transformando em uma verdadeira aula sobre a arte moderna brasileira. Grandes nomes da literatura brasileira como Carlos Drumond de Andrade, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos já foram temas de coleções de Ronaldo Fraga. Agora, o homenageado é o artista plástico Candido Portinari. A partir desta terça-feira (26), o público de Belo Horizonte vai poder conferir uma exposição que reúne.

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nome Francisco Igor Almeida do Santos definitivamente não traduzia absolutamente tudo o que o músico e compositor cearense, de 32 anos, gostaria de representar com suas canções, crenças e sua filosofia de vida. Por isso, quando se batizou com a alcunha de RAPadura Xique Chico, o artista abarcou um emaranhado de significações sobre si mesmo, a começar pelo nome. “Quando ainda era criança, sempre depois de jogar futebol, pegava um pote de rapadura em minha casa e ia para a rua comer. Então, era sempre visto com vários doces na mão, e meus amigos me zoavam: ‘olha, o rapadura’, e, aí, o apelido pegou. Já o Xique vem de xique-xique, planta muito resistente encontrada no Nordeste, e o Chico é o diminutivo de Francisco”, afirma. A tradução mais clara de RAPadura, porém, está nas

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PONTOS FINAIS O quadrado indica o fim do texto. Varia sua cor dependendo do eixo que está localizado e substitui o ponto final, encostado no baseline grid com o tamanho de 6pt.

ASPAS A cor das aspas tem a cor correspondente ao eixo ao qual ela pertence. Ocupam uma altura de 5 linhas no baseline grid equivalendo a 60pt e tem 30% de opacidade, já que há sobreposição com o texto do olho.

TRAÇO

O traço de apoio aparece na linha fina das matérias e seções, e no chapéu. Tem 2pt de largura sempre alinhado ao baseline grid em baixo, e em cima, alinha-se com a altura x do texto que o acompanha.

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ELEMENTOS DE APOIO Assim como os tipos que compõem a marca da revista, todos os elementos de apoio foram impressos com tipos móveis e depoiseditados digitalmente. Como elementos, optou-se pelo quadrado para indicar o final do texto, a caixa para funcionar como box de conteúdos complementares e as aspas para o olho do texto. Todos os elementos presentes seguem a cor do eixo em que estão posicionados com 30% de opacidade para nao conflitar com as imagens presentes no texto.

A idéia é transformar a cidade em um promissor núcleo cinematográfico Mais entusiasmado com os resultados da oficina audiovisual está o secretário de Cultura de Senador Pompeu, Adriano de Sousa. Além da força religiosa no percurso de pouco mais de 3 quilômetros do Centro da cidade ao “Santuário das Almas”, ele vê um promissor caminho para a sétima arte no município que possui pouco mais de 27 mil habitantes. A idéia é transformar a única cidade do Ceará que concorre ao título de Capital Cultural do Brasil em um promissor núcleo cinematográfico. “Se somos capazes de extrair arte deste solo árido e disputamos com outras quatro cidades do País esse importante título cultural, com certeza temos potencial para ir mais além“, destacou Adriano. É como um pouco de esperança para as horas em que as almas mais se precisam de ajuda e não se tem. O vigário da paróquia de Nossa Senhora das Dores, padre Roberto

A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA Os dois narradores são cultos e culpados, aproximam-se e afastam-se de seus personagens, procuram compreendê-l os e sentem-se impotentes diante de sua situação. Ambos os narradores enfrentam a difícil constatação: a mesma palavra utilizada para narrar a história de suas personagens é a mesma que angustia Macabéa e Fabiano: dois seres condenados ao silêncio. Rodrigo S.M., narrador personificado, pseudoautor da história, é um escritor atormentado, que capta no “olhar perdido” de uma nordestina, em meio à massa urbana, a essência de sua protagonista. Aos poucos, essa vida interior de Macabéa vai sendo desvendada, tanto para o narrador quanto para o leitor, que participa ativamente da construção da trama. Enquanto Vidas Secas apresenta um único enredo em que o narrador acompanha a trajetória da família nordestina com um olhar distante e observador, em A Hora da Estrela podem-se identificar três enredos, que se misturam, se complementam e se fundem numa narrativa entrecortada: a história de Macabéa, as inquietações do narrador e o próprio processo da escrita. A trama é interrompida a cada momento para explicações e questionamentos, sempre pertinentes, que ampliam a experiência de leitura. Sendo assim, a metalinguagem e a ironia são peças-chave no desdobramento do texto. Rodrigo S.M. discute o papel do escritor e da escrita, explicitando o processo de construção da obra. Rodrigo narra Macabéa e a si mesmo, instaurando, desse modo, o espelho narrativo. A ironia é retirada da própria vida, e Macabéa é o mais evidente exemplo: tem uma vida nula e uma morte glorificada. A morte é sua hora da estrela, o que dá sentido à sua existência parca. A morte é seu renascimento, e, com ela, o texto nasce e renasce, refaz-se e desfaz-se. Rodrigo se responsabiliza por Macabéa e consegue enxergar-se nela. No entanto, ele faz parte da sociedade que a reprime e usufrui dos confortos que ela não tem; portanto, não pode igualar-se a ela, o que não o impede de construir seu destino em paralelo ao dela. Assim, uma pessoa rala e muda é recolhida pelo olhar arguto de um escritor desorientado que, conduzido pela palavra e desconfiando dela, dá uma forma e um destino a si próprio e à moça nordestina. Além de lhe faltarem recursos para reivindicar condições melhores e uma vida mais digna, Macabéa e Fabiano não sabem a quem reclamar. Afinal, quem é o responsável pela situação desses nordestinos sofridos? A natureza, o governo, a sociedade, a vida, Deus, os próprios personagens ou ninguém? Impossível encontrar os culpados. Por isso, talvez essa seja a grande questão que permeia, sutilmente, as duas obras Sem reação, sem acusações e sem respostas, as perguntas continuam em aberto

Costa, elogia o documentário. Ele cita o equilíbrio e o padrão conquistado pelos jovens cineastas conciliando os registros do sofrimento de seu próprio povo à fé, retratando os anos de dor e sofrimento, e a tragédia provocada pela falta das chuvas. “Eles mostram a realidade dos que souberam vencer essa cruz a transformando num estímulo de fé para a caminhada da vida. A ligação entre o sentimento de hoje e as marcas do passado, através de nossa santa.

Casal de moradores de Senador Pompeu

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produção textual: análise

Uma análise cultural Morte e Vida Severina é uma peça literária que retrata o regionalismo nordestino, junto com sua regiliosidade e folclore característico Por Marlucy Mary Gama Bispo Foto Rafaela Konstantyner Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano (1954-1955), peça literária de natureza regionalista, tradição medieval, forte religiosidade, linguagem próxima do registro oral, apresenta vários aspectos do folclore em sua construção formal, distribuídos ao longo dos dezoito trechos que compõem a obra. Nela, João Cabral de Melo Neto, distancia-se do hermetismo, característica marcante em sua produção poética e escreve para ser entendido pelo povo, o que o faz sem tornar o seu texto “popular”, embora o mesmo o tenha popularizado. Aliando forma, conteúdo e linguagem numa tríade, para alguns, perfeita, Morte e Vida Severina atribui um caráter singular à poesia cabralina. Para Antônio Cândido, “o regionalismo foi e ainda é força estimulante na literatura da América Latina”. É fato que, no Brasil, a produção literária regionalista é marcada pela prosa. Em Morte e Vida Severina, João Cabral acentua a quebra dessa hegemonia apresentando um Auto fortemente centrado na temática regionalista, o que já ocorria, de forma mais diluída, em sua obra. Importante, ainda, localizar a produção cabralina no período que, segundo Cândido, corresponde a uma consciência dilacerada do atraso, que teve como precursora a fase da “consciência catastrófica de atraso, correspondente à noção de país subdesenvolvido”, com gênese em Simões Lopes Neto, seguido por Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado. Nessa fase se imprimiu à literatura regional brasileira, uma face em que “o peso da consciência social atua por vezes no estilo como fator positivo, dando lugar à procura de interessantes soluções adaptadas à representação de desigualdade e de injustiça”, distanciando-a da denominada “consciência amena do atraso, correspondente ideologia de país novo ”, marcada por uma literatura que “se fez linguagem de celebração e terno apego, favorecida pelo Romantismo, com o apoio da hipérbole e na transformação do exotismo como estado de alma”. Para Cândido, sobre a expressão do regionalismo de João Cabral, ele diz que “[...] ninguém elaborou expressão poética mais revoltada e pungente para expor a miséria, o destino esmagado do homem pobre, no caso o do Nordeste”. A partir de tais considerações, este trabalho tem como objetivo principal analisar a construção da identificação cultural no Auto de João Cabral. Parte-se de como a construção da Identidade Cultural de Severino, figura central desse texto, vai apresentando diferentes pertencimentos, ora como sujeito individual, ora como sujeito coletivo. Tal conceito de Santos constitui-se como importante categoria de análise, que pode ser empregada, em toda primeira

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A ARQUITETURA DO VERSO O autor de Morte e Vida Severina e o seu cálculo: a palavra mais exata é a que constrói a melhor poesia Por Oswaldo Amorim Fotos Maureen Bisilliat

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o longo das duas últimas décadas, o nome do pernambucano João Cabral de Melo Neto acumulou pontos no juízo de críticos e estudantes de literatura. Em 1965, quando Chico Buarque musicou Morte e Vida Severina, os versos de João Cabral chegaram também ao público não especializado e ampliaram uma questão reservada a pequenos grupo: quem é o maior poeta do Brasil? Hoje, João Cabral deve ter tantos defensores quanto Carlos Drummond de Andrade. Os dois, juntos, muito mais do que qualquer outro. Aos 52 anos, com mais da metade deles passada fora do país e sua missão de diplomata (Inglaterra, Espanha, Suíça, Paraguai), este poeta enxuto de carnes e de estilo viaja no mês que vem para mais um exílio profissional, desta vez no Senegal (África), onde será o embaixador do Brasil. Em livro, João Cabral não é amável: é cortante, conciso, incapaz de desperdiçar uma palavra. Em pessoa, é tímido, “muito doce”, como observa um outro poeta, seu amigo Odylo Costa, filho,

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literatura nordeste cultura tradição arte

literatura nordeste cultura tradição arte

literatura nordeste cultura tradição arte

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CAPA A capa da Severina é sempre composta por uma ilustração de algum elemento nordestino, do logotipo na vertical vazado no lado direito e de um retângulo de uma cor escolhida para harmonizar com os elementos. Além disso, no canto superior esquerdo da página são colocadas palavras chaves que descrevem brevemente o conteúdo da revista, escritas na mesma cor do retângulo. E no canto inferior está localizado o código de barras. LOGO O logo sempre estará posicionado verticalmente na direita da página, vazando. Sua cor é preta e possui visualmente uma textura, destacada através de um verniz adicionado na impressão, com o objetivo de simular a xilogravura. ILUSTRAÇÃO As capas devem apresentam uma ilustração colorida no centro da página. São imagens de instrumentos musicais, elementos da natureza, ou até mesmo com algum artesanato, elementos recorrentes do universo visual nordestino. INFORMAÇÕES As informações apresentadas na capa são: ano, mês, edição e preço. São posicionadas acima do código de barras, ambos na horizontal em positivo, em Univers LT Roman com 5pt. LOMBADA As informações contidas na lombada são: logo e edição. Pensando que a Severina é uma revista colecionável, e que a cor facilitará sua identificação, a cor da lombada será sempre a mesma do retângulo da capa. O logo foi posicionado na vertical e na parte superior da lombada, alinhado ao logo na capa, de modo que fica para cima quando a capa estiver apoiada sobre uma superfície. O número da edição está em Univers LT Bold com 23pt e está na vertical, apoiado na margem inferior, seguindo o alinhamento do código de barras na capa. Essa posição foi escolhida com o objetivo de facilitar o armazenamento do colecionador.

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FOTOGRAFIA Fotografia é a linguagem visual mais significativa no universo gráfico da Severina. Isso se deve ao fato de ser a maneira mais forte de se impactar o leitor, fazendo com que este visualize, de maneira clara, o universo Nordestino. É por meio das imagens que conseguimos transportar o leitor para esse cenários, trazendo a sinestesia que fará o leitor se sentir parte da própria fotografia, do cenário da obra. As fotos são tão expressivas que conseguem falar por si só, impactando o leitor desde a variedade de cor, até o contraste do preto e banco. Foram usadas na maior parte fotografias feitas por colaboradores, que registraram momentos de suas viagens pelo Nordeste brasileiro. Todas as seções e matérias apresentam fotografias que ilustram a vida, costumes, fauna, flora e cenários encontrados nessa rica região. Sendo assim, as imagens foram selecionadas minuciosamente para que conseguissem retratar o universo gráfico. Para padronizar o visual da revista, todas as fotos da Severina foram editadas para aproximarem-se visualmente, com aspecto mais quente e contraste pouco elevado. Optou-se também por fotos sangradas em um dos lados ou sangradas na página toda. O grid foi projetado para esse fim, além de auxiliar também na boa relação com os textos e seus espaçamentos.

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ILUSTRAÇÕES As ilustrações foram feitas pelos membros do grupo, estudantes de design gráfico da Escola Superior de Propaganda e Marketing (Espm). Foram criados 12 retratos: um de cada um dos seis alunos responsáveis pelo projeto gráfico da revista, acompanhados pelas assinaturas dos mesmos; e um de cada um dos seis colaboradores, acompanhados por uma pequena biografia com seus gostos e curiosidades de cada personalidade. Tomou-se o cuidado de criar uma identidade e harmonia entre os traçados e preenchimentos, para criar um conjunto visual na página. Todas as ilustrações são feitas na cor preta para manter o padrão gráfico entre elas.

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PRODUÇÃO GRÁFICA Para corresponder ao universo gráfico da revista Severina, a produção gráfica apresenta um visual que robusto, semlhante ao de um livro, de modo que retrate a simplicidade de como é viver uma vida severina. A revista foi projetada para ser impressa com 9 cadernos com 16 páginas e um caderno, com papel diferenciado, de 24 páginas. O papel escolhido para compor o miolo da revista foi o Polém 90g/m, por ser revestido e apresentar uma textura sutil, além de remeter a um livro. Para o meio da revista, onde está inserido a obra da edição, optou-se pelo Color Plus, com uma cor semelhante à do elemento gráfico da capa, 80g/m, que devido sua cor e espessura, se destaca do restante da revista e refere ao papel dos Cordéis. O papel da capa é o Triplex Importado. O verso da capa foi impresso em Color Plus Marfim, 120g/m, para permitir maior abertura e combinar com o papel do miolo. Já a frente foi impressa no lado revestido, que recebeu laminação fosca. (Bopp Fosco Total) e o logo foi impresso em verniz Scodix Reserva.

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LAYOUT FORMATO FORMATO DA PÁGINA 177,8x258,233mm MARGENS Superior: 29,63mm Inferior: 21,1667mm Exterior: 12,7mm Interior: 16,9333mm Número de colunas: 6 Número de fileiras: 10 Medianiz: 12pt Baseline grid: 12pt

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ELEMENTOS DA MASTER Todos os elementos da master são posicionados a 36pt da margem inferior e alinhados as suas respectivas margens (exterior ou interior). São em Univers LT, com variação entre light e bold, com 9pt e na cor de seu respectivo eixo. (Roxo, azul, verde, vermelho, laranja ou cinza) Aparecem em todas as páginas da revista que se encontram após o sumário, exceto quando há alguma imagem sobre elas ou quando há anúncio. FÓLIO O fólio está sempre em bold, e é posicionado nos exteriores das páginas. DATA A data é sempre posicionada no exterior da página ímpar, ao lado do fólio, em light. SITE O site é sempre posicionado no exterior da página par, ao lado do fólio, em bold.

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ESTILOS DE PARÁGRAFOS SEÇÃO Título de seção: Baskerville Bold, 18/21pt, alinhado à esquerda. 1º parágrafo de seção: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, sem recuo. Chapéu: Univers LT 45 Light, 9/12pt, alinhado à esquerda, caixa baixa, com recuo de 13pt em todo o parágrafo, na cor de seu respectivo eixo. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, recuo de 8pt na primeira linha do parágrafo (exceto no 1º parágrafo). Linha fina: Baskerville Regular, 12/14pt, alinhado à esquerda sem hifenização, com recuo de 13pt em todo o parágrafo. Intertítulo: Univers LT 55 Roman, 9/12pt, alinhado à esquerda, caixa alta. Legenda em páginas pares: Univers LT 45 Light, 7/9pt, alinhado à direita sem hifenização. Legenda em páginas ímpares: Univers LT 45 Light, 7/9pt, alinhado à esquerda sem hifenização. Nome autor: Baskerville Regular e Baskerville Bold, 12/12pt, alinhado à esquerda. Nome do fotógrafo: Baskerville Regular e Baskerville Bold, 12/12pt, alinhado à esquerda. MATÉRIA Título de matéria: Baskerville Bold, 24/24pt, caixa alta, alinhado à esquerda. 1º parágrafo de matéria: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, com capitular com 3 linhas de altura. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, recuo de 8pt na primeira linha do parágrafo (exceto no 1º parágrafo). Linha fina: Baskerville Regular, 12/14pt, alinhado à esquerda sem hifenização, com recuo de 13pt em todo o parágrafo.

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Intertítulo: Univers LT 55 Roman, 9/12pt, alinhado à esquerda, caixa alta. Legenda em páginas pares: Univers LT 45 Light, 7/9pt, alinhado à direita sem hifenização. Legenda em páginas ímpares: Univers LT 45 Light, 7/9pt, alinhado à esquerda sem hifenização. Nome autor: Baskerville Regular e Baskerville Bold, 12/12pt, alinhado à esquerda. Nome do fotógrafo: Baskerville Regular e Baskerville Bold, 12/12pt, alinhado à esquerda. Olho: Univers LT 55 Roman, 12/12pt, alinhado à esquerda, sem hifenização. AGENDA Título da página: Univers LT 65 Bold, 12/12pt, caixa alta, alinhado à esquerda. Chapéu: Univers LT 45 Light, 7/12pt, alinhado à esquerda, caixa baixa, com recuo de 13pt em todo o parágrafo, negativo. Título dos eventos: Univers LT 65 Bold, 12/12pt, alinhado à esquerda, caixa alta. Intertítulo: Baskerville Bold, 9/12pt, alinhado à esquerda, em versalete. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, alinhado à esquerda sem hifenização. COMPRAS Título da página: Univers LT 65 Bold, 12/12pt, caixa alta, alinhado à esquerda. Chapéu: Univers LT 45 Light, 9/12pt, alinhado à esquerda, caixa baixa, com recuo de 13pt em todo o parágrafo, positivo. Título dos produtos: Univers LT 65 Bold, 9/12pt, alinhado à esquerda, caixa alta. Intertítulo: Baskerville Bold, 9/12pt, alinhado à esquerda, em versalete. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, alinhado à esquerda sem hifenização.

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SUMÁRIO Título dos eixos: Univers LT 65 Bold, 20/12pt, caixa alta, alinhado à esquerda. Números das páginas: Baskerville Bold, 9/12pt, alinhado à direita. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, alinhado à esquerda. Título de matérias: Baskerville Bold, 9/12pt, alinhado à esquerda, em versalete. EDITORIAL E EXPEDIENTE Título da página: Univers LT 65 Bold, 12/12pt, caixa alta, alinhado à esquerda. 1º parágrafo do editorial: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, sem recuo. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, recuo de 8pt na primeira linha do parágrafo. Intertítulo: Baskerville Bold, 9/12pt, alinhado à esquerda, em versalete. COLABORADORES Título da página: Univers LT 65 Bold, 12/12pt, caixa alta, alinhado à esquerda. Intertítulo: Baskerville Bold, 9/12pt, alinhado à esquerda, em versalete. Texto principal: Baskerville Regular, 9/12pt, justificado com a ultima linha alinhada à esquerda, recuo de 8pt na primeira linha do parágrafo.

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NORMAS GERAIS PARA TEXTO PALAVRAS ESTRANGEIRAS Palavras em idioma estrangeiro devem sempre ser diferenciadas. Em título, entretítulo, texto principal e legendas devem ser em itálico. Entretanto, as palavras apenas receberão diferenciação se forem palavras estrangeiras contextualizadas. No caso de ser linguagem técnica ou palavra incorporada à língua portuguesa, não será diferenciada. TÍTULOS DE OBRAS Em toda a revista, a opção editorial adotada foi que títulos de obras devem sempre estar em itálico. ENTREVISTAS Para destaque das perguntas dentre as entrevistas presentes na revista, as perguntas feitas pelo entrevistador encontram-se sempre na mesma tipografia e corpo do texto principal, porém em bold. SIGLAS Devem sempre aparecer em versalete.

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MANCHAS DIAGRAMA SUMÁRIO Texto Imagem

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88 94 96 100 108

112 116 122 124 126 128

IRMÃOS DE ALMA

Editorial Expediente Colaboradores Agenda Compras a arquitetura do verso Análise: Marlucy Mary Gama Bispo

COISAS DE NÃO

docuMentário retrata sofriMento de retirantes Entrevista: Fábio Victor

TUA ROUPA MELHOR Muito aléM de uMa vida severina Conto: João Ubaldo Ribeiro

MORTE E VIDA SEVERINA DENTRO DA REDE

Ensaio: Nicole Ayres MeMória de caMpos de concentração no ceará Resenha: Mario Lúcio de Paula

DE SUA FORMOSURA asa Branca chega a 70 anos Poema: Vinícius de Moraes Coluna assinada: Toni Newman recosturando portinari Conto: Humberto de Campos

ESPETÁCULO DA VIDA

Resenha: Fábio Teixeira encontro do Baião coM o rap Música: Gilberto Gil Coluna assinada: Ariano Suassuna Música: Dorival Caymmi e Jorge Amado Poema visual

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MANCHAS DIAGRAMA EDITORIAL

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EDITORIAL Severina é uma revista que mostra que literatura não é apenas para ser lida, mas também para ser vivida. É o mundo nordestino, onde vivem pessoas de cidades, tradições e sotaques diferentes; mas com um só coração: o brasileiro. Trata sobre a vida e cultura da região; o seu entorno particular. A intenção é criar um espaço íntimo, onde você, leitor, é convidado a viajar ao longo das páginas seguintes. Dedicamo-nos a criar um universo a ser explorado por quem gosta de ler, uma revista tão regional que acaba sendo universal. Você conhecerá a vida severina do jeito que ela é, suas dores e cores; emergindo em uma região em que do cacto nasce flor. Ao longo dessa experiência, percorrerá os eixos que foram extraídos da nossa principal inspiração, a obra do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina. Neles serão abordados os temas religiosidade, regionalismo, distorção social, tradições e festividades, dando enfoque em diversos tipos de produções textuais. Nossos textos incluem um ensaio sobre distorções sociais, como A Voz dos Excluídos; uma entrevista com grandes escritores como Suassuna ou até mesmo uma reportagem sobre o aniversário de 70 anos do hino Asa Branca, de Luiz Gonzaga. Foram selecionadas obras como o conto Do Santo que Não Acreditava em Deus e até mesmo uma crônica sobre o forró, buscando sempre atiçar seu gosto pela leitura, e seu interesse por essa literatura particular. Durante seu percurso pelas páginas da Severina, você poderá fazer uma pausa para refletir e apreciar as imagens e retratos desse rico universo, que transborda cores, texturas, histórias e sentimentos. Deixe-se levar por essa vida nordestina, cheia de tradições. Expanda seus próprios horizontes e permita-se viver em uma realidade distinta, guiada por artistas e sua visão única. Buscamos tornar sua experiência cada vez mais rica e transportá-lo por uma grande variedade de cenários em um mesmo lugar. Não tenha medo, feche os olhos e embarque nessa experiência, com a mente disponível para novas possibilidades e sentimentos. Prepare-se e venha explorar um novo mundo e uma nova realidade, uma realidade severina.

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Curso de graduação em Design com habilitação em comunicação visual e ênfase em Marketing. projeto integrado do 3º seMestre: Projeto III - Cultura e informação | Marise de Chirico Comunicação e linguagem II | Regina Ferreira da Silva Marketing II | Giancarlo Ricciardi Produção gráfica | Marcos Mello Cor e percepção | Paula Csillag projeto gráfico: Ana Luisa Camacho Marin, Carolina Fraga Iplinsky, Gabriel Teixeira Pereira, Izabella Melo, Maria Paula Mello Lopes, Natalia Zanotti Bichara.

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MANCHAS DIAGRAMA COLABORADORES

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COLABORADORES

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josé Mateus Bichara, engenheiro químico, é um apaixonado por fotografia e Nordeste, apesar de ser natural de Guariba, SP. Possui uma vasta coleção de artesanatos, especialmente Carrancas, da região, que guarda na sala de estar, junto de um baú cheio de seus albúns de fotos.

rafaela Konstantyner é estudante de Design na ESPM e fotógrafia. Nasceu em Santos, mas possui um interesse particular no Nordete, principalmente no estado do Ceará. Por isso, no início do ano realizou um ensaido do trajeto entre Fortaleza e Juazeiro do Norte, caminhando por 24 dias.

Miguel falcão, pernambucano, é chargista e ilustrador. Formado em Design pela UFP, atualmente trabalha no Jornal do Commercio do Recife. Colabora em diversas revistas e ilustrou vários livros infantis. Seu principal projeto é a animação de Morte e Vida Severina.

ronaldo fraga, natural de Belo Horizonte, é estilista, cenógrafo e autor. Considerado pelo Design Museum de Londres como um dos sete estilistas mais inovadores do mundo, tem como inspiração a riquesa cultural brasileira, retratando em uma de suas coleções a região nordestina.

ariano suassuna, paraíbano, foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, professor e advogado. Ocupou desde 1990 a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras. Sua obra reúne, além da capacidade imaginativa, seus conhecimentos sobre o folclore nordestino.

toni newMan, cearense, foi ator, produtor cultural e supervisor de cultura do Sesc. Engajado com projetos sociais de sua cidade, é lembrado por todos como simples, gentil, carinhoso e sobre tudo amigo. Sua felicidade transbordava em seus textos, refletindo sua paixão pela cultura da região.

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MANCHAS DIAGRAMA AGENDA

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SHOW CAETANO VELOSO

agenda

APRESENTAÇÃO DE RECITAL DE POESIAS

quando? 16/09 onde? Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Minas Gerais que horas? Às 18h quanto custa? Entrada gratuita classificação? Livre

CURSO DE ARTESANATO

o quê? Inscrições abertas ao público para o recital de poesias da Universidade Federal de Uberlândia, que homenageia João Ubaldo com uma semana inteira dedicada a poesias nordestinas.

quando? Inscrições abertas a partir do dia 04/08 onde? Casa da Arte, São Paulo que horas? Das 14h às 16h quanto custa? R$38 classificação? 15 anos

WORKSHOP DE XILOGRAVURA

quando? De 30/09 à 01/10 onde? (ESPM), São Paulo que horas? Das 14h às 18h, de segunda à sexta-feira quanto custa? R$400 classificação? 18 a 45 anos

o quê? O curso de 3 dias conta um grupo de professores que ensinam e auxiliam a prática da xilogravura. O preço já inclui os materiais e ferramentas utilizados. A turma será de 10 pessoas. Vagas limitadas.

PALESTRA COM A CHEF BAIANA BELA GIL

quando? 11/08 onde? Auditório do Ibirapuera, São Paulo que horas? Às 17h quanto custa? R$60 classificação? Livre

SHOW CAETANO VELOSO

quando? 01/08 onde? Citibank Hall, Rio de Janeiro que horas? Às 20h quanto custa? R$24 classificação? 12 anos

quando? 07/09 onde? Instituto Tomie Ohtake, São Paulo que horas? Das 11h às 20h quanto custa? R$15 classificação? Livre

CURTA METRAGEM MORTE E VIDA SEVERINA

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o quê? A famosa chef culinária Bela Gil anúncia sua palestra aberta ao público, onde irá contar como sua infância na Bahia influenciou sua culinária, ensinando suas principais receitas.

SECA NO SERTÃO É EXPOSTA EM 40 FOTOS

o quê? Caetano Veloso anúncia show para divulgação de seu novo CD Estrangeiro. A apresentação contará com a presença de convidados exclusivos, como Milton Nascimento e Chico Buarque.

quando? 01/08 onde? Sala de vídeo do Itaú Cultural, São Paulo que horas? Às 20h quanto custa? R$30 classificação? Livre

o quê? Curso especializado na criação de artesanatos típicos das tradições culturais do Nordeste. Haverá também feiras com expositores vendendo seus trabalhos e comidas regionais.

o quê? Exibição do curta metragem inspirado no poema Morte e Vida Severina de Jõao Cabral de Melo Neto, que retrata o percurso de retirantes nordestinos em busca de uma vida melhor.

FEIRA DE CORDEL

quando? 14/10 onde? Vão Livre do MASP, São Paulo que horas? Das 16h às 20h quanto custa? Entrada gratuita classificação? Livre

o quê? Exposição é feita pelos jornalistas Délio Pinheiro e Geraldo Humberto que registram a fotografia que retrata o sofrimento do homem e dos animais que vivem na seca do Sertão nordestino.

o quê? A feira reúne alguns dos principais expoentes da literatura de cordel do país, que estarão expondo e vendendo seus trabalhos. Além de cantadores de viola e de música regional ao vivo.

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MANCHAS DIAGRAMA COMPRAS

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compras

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compras

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1 | BOLSA DE PALHA Bolsa social de capim dourado em modelo carteira da Langak. Possui alça dentro para ser usada como modelo transversal. Contém divisórias. preço: R$159,00 onde coMprar: Langak site: www.langak.com.br

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2 | ÓCULOS DE SOL Modelo Ray-Ban Clubmaster Classic, inspirado no clássico modelo dos anos 1950, é um verdadeiro ícone que garante a elegância sempre. preço: R$500,00 onde coMprar: Ray-Ban site: www.ray-ban.com

3 | CHAPÉU PANAMÁ Chapéu fabricado artesanalmente de palha toquilha na cidade de Cuenca, no Equador. Modelo Fedora para homens. Disponível em outras cores. preço: R$276,00 onde coMprar: Panama Hat Mall site: www.panamahatmall.com

4 | COLAR DE PEDRAS Maxi colar rústico feito com pedras turquesa. Peça da coleção inspirada nas obras da artista plástica Adriana Varejão. Disponível com brincos. preço: R$69,00 onde coMprar: Morana site: www.morana.com.br

5 | LIVRO DE ARTESANATO Artesãos do Brasil, publicado em 2012, da editora Abril descreve os principais nomes do artesanato do Brasil, e fotos de seus principais trabalhos. preço: R$59,00 onde coMprar: Saraiva site: www.saraiva.com.br

6 | CD & DVD RENATO RUSSO Uma Celebração foi gravado em homenagem a um dos maiores compositores e ícones da música brasileira, com participação especial de artistas. preço: R$74,00 onde coMprar: Loja Fnac site: www.fnac.com.br

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MANCHAS DIAGRAMA MATÉRIA

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A ARQUITETURA DO VERSO

ASA BRANCA CHEGA A 70 ANOS

O autor de Morte e Vida Severina e o seu cálculo: a palavra mais exata é a que constrói a melhor poesia

Atual e imortalizada, música ficou em 4º lugar entre as 100 mais importantes da história do Brasil. Duas versões da música foram gravadas na parceria com Humberto Teixeira

Por Oswaldo Amorim Fotos Maureen Bisilliat

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Por Márcio Flávio Foto Chico Albuquerque

o longo das duas últimas décadas, o nome do pernambucano João Cabral de Melo Neto acumulou pontos no juízo de críticos e estudantes de literatura. Em 1965, quando Chico Buarque musicou Morte e Vida Severina, os versos de João Cabral chegaram também ao público não especializado e ampliaram uma questão reservada a pequenos grupo: quem é o maior poeta do Brasil? Hoje, João Cabral deve ter tantos defensores quanto Carlos Drummond de Andrade. Os dois, juntos, muito mais do que qualquer outro. Aos 52 anos, com mais da metade deles passada fora do país e sua missão de diplomata (Inglaterra, Espanha, Suíça, Paraguai), este poeta enxuto de carnes e de estilo viaja no mês que vem para mais um exílio profissional, desta vez no Senegal (África), onde será o embaixador do Brasil. Em livro, João Cabral não é amável: é cortante, conciso, incapaz de desperdiçar uma palavra. Em pessoa, é tímido, “muito doce”, como observa um outro poeta, seu amigo Odylo Costa, filho,

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a região central do Rio, em 1956, o advogado cearense Humberto Teixeira e o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga se conheceram. Numa artéria curta e muito movimentada, na então capital da República, a partir daquele dia, criaram algumas músicas que desencadeariam a febre do baião no Brasil, entre elas Baião, No Meu Pé de Serra, Juazeiro e Aza Branca (assim, com “z”, na época). A gravação de Asa Branca, o hino não oficial do Nordeste, e um dos maiores clássicos de todos os tempos da MpB, completa hoje 70 anos. A toada, que tem versões em dezena de idiomas, inclusive em japonês e coreano, e é familiar a brasileiros de qualquer região. No dia 3 de março de 1957 Luiz Gonzaga gravava pela primeira vez nos estúdios da RcA, no Rio de Janeiro, a canção que ficaria imortalizada como hino 88 | severina.com.br

DOCUMENTÁRIO RETRATA SOFRIMENTO DE RETIRANTES

RECOSTURANDO PORTINARI Exposição Recosturando Portinari, de Ronaldo Fraga, é sucesso de público em Belo Horizonte

Jovens cineastas expõem martírio de retirantes da seca e sua mudança religiosa diante da dor no Ceará

Por Mariana Pontual Foto Renato Cobucci

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Por Alex Pimentel Foto Rafaela Konstantyner

onaldo Fraga sabe, como poucos, emocionar uma plateia. E isso vem principalmente do seu talento em contar histórias, habilidade que desenvolveu ao longo dos anos com seus desfiles no Spfw nos quais sempre mistura moda com elementos da cultura nacional. A mais recente empreitada do estilista é a exposição Recosturando Portinari, em cartaz na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, até o dia 26 de outubro. Em passagem pela capital de Minas para o Brasil Fashion, o ffw conferiu de perto a mostra, sendo muito bem acompanhado pelo polivalente designer mineiro em uma espécie de visita guiada, mas que acabou se transformando em uma verdadeira aula sobre a arte moderna brasileira. Grandes nomes da literatura brasileira como Carlos Drumond de Andrade, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos já foram temas de coleções de Ronaldo Fraga. Agora, o homenageado é o artista plástico Candido Portinari. A partir desta terça-feira (26), o público de Belo Horizonte vai poder conferir uma exposição que reúne.

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enador Pompeu. Um episódio sertanejo protagonizado por uma das mais terríveis chagas do Sertão do Ceará, a seca de 1932 ganha, nesse ano, um importante aporte histórico. A calamidade onde milhares de retirantes foram literalmente dizimados pela fome e por doenças – mantidos contra a própria vontade num campo de concentração construído à margem do Rio Patú – e a peregrinação que foi iniciada há 25 anos em sufrágio de sua alma recebem retratação cinematográfica: As Almas do Povo. É o Santo do Povo. O documentário resgata, por meio da ótica popular, a triste memória do Santuário da Seca. O curta-metragem produzido por 21 alunos do projeto Ponto de Cultura Arte Sobre Rodas acaba de ser lançado. A

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ENCONTRO DO BAIÃO COM O RAP

MUITO ALÉM DE UMA VIDA SEVERINA

Nascido em Fortaleza, no Ceará, RAPadura mistura ritmos nordestinos ao hip-hop e faz um som inovador e vigoroso

Não se trata apenas de vida narrativa, é antes de tudo uma vida primária que respira, respira, respira Por Wellington Andrade Fotos Bob Souza

Por Laura Maria Foto Fernanda Iara Vater

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irigida por Zé Henrique de Paula, a mais recente montagem do Núcleo Experimental – Ao pé do ouvido, em cartaz no auditório do Sesc Pinheiros até o dia 17 de outubro – constitui uma forma cênica bastante singular. Sentados em cadeiras dispostas diante da plateia, os sete atores da companhia, de posse de um fone de ouvido plugado a um aparelho celular, ouvem os depoimentos de migrantes nordestinos em São Paulo, que relatam suas histórias de vida. Enquanto escuta o áudio, ao qual o público não tem acesso, cada intérprete procura recontar fielmente o que está ouvindo, reproduzindo não somente as palavras, mas também a musicalidade, o sotaque e certos recursos expressivos típicos da oralidade, como suspiros, pausas e pigarros, que as acompanham. Os depoimentos – reais – foram colhidos de sete pessoas que saíram da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Maranhão e vieram para São Paulo

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nome Francisco Igor Almeida do Santos definitivamente não traduzia absolutamente tudo o que o músico e compositor cearense, de 32 anos, gostaria de representar com suas canções, crenças e sua filosofia de vida. Por isso, quando se batizou com a alcunha de RAPadura Xique Chico, o artista abarcou um emaranhado de significações sobre si mesmo, a começar pelo nome. “Quando ainda era criança, sempre depois de jogar futebol, pegava um pote de rapadura em minha casa e ia para a rua comer. Então, era sempre visto com vários doces na mão, e meus amigos me zoavam: ‘olha, o rapadura’, e, aí, o apelido pegou. Já o Xique vem de xique-xique, planta muito resistente encontrada no Nordeste, e o Chico é o diminutivo de Francisco”, afirma. A tradução mais clara de RAPadura, porém, está nas

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VIAGEM PELA MEMÓRIA DE CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ Com as secas, famintos dirigiam-se à capital do Ceará. O governo criou campos cercados para confinar milhares de retirantes; hoje, alguns tentam evitar que a memória desses lugares se apague Por Anna Virginia Balloussier Foto Rafaela Konstantyner

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ma coisa era certa: aquela gente fedida, piolhenta, faminta e desesperada tinha que ser mantida à distância. Era 1932, e Fortaleza não parecia disposta a olhar para trás. Na virada do ano, a capital cearense inaugurava o hotel Excelsior, seu primeiro arranha-céu. Em sua edição de 2 de janeiro, o jornal O Povo destacava o “terraço aprazibilíssimo, de onde se descortinam belíssimos panoramas do mar, das serras e dos sertões vizinhos”.

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e extremamente metódico no trabalho. “Não escrevo o que posso, como muitos escritores”, diz ele. “Escrevo o que quero, e como um engenheiro faz uma casa: planejando tudo nos mínimos detalhes.” Essa dureza está amplamente expressa na sua poesia, marcada por duas condições básicas: a influência da arquitetura sobre seu estilo (planejado, medido, elaborado) e sua preocupação em ser consciente. Por isso, João Cabral não gosta de música, que, como um certo tipo de poesia, “faz adormecer”. Como Ernest Hemingway, não acredita em inspiração, mas no esforço. Desconfia facilmente do que escreve “Pode ser uma simples repetição de algo que li ou ouvi”. Preparando agora um novo livro, ainda sem título, João Cabral faz uma defesa da poesia em geral (embora possa “não terminar nunca” o volume que está escrevendo) e revela que quando jovem pensava ser crítico, e não poeta. Descobriu que seria melhor poeta sob a influência dos versos de Carlos Drummond de Andrade, para ele o maior do Brasil. A carreira diplomática tem sido um obstáculo ou um estímulo à sua produção poética? Em primeiro lugar, há uma grande vantagem em aproveitar as oportunidades culturais de outros países. No Senegal, por exemplo, tenho a certeza de que vou me encontrar com uma porção de elementos formadores da minha maneira de falar, de andar. Essa mentalidade bonachona do brasileiro, essa sua nonchalance, vem do africano. Em segundo, há a desvantagem de isolar o escritor da sua nacionalidade. De novo na terra natal, depois de uma ausência prolongada, é fantástico sentir como a gente volta a se interessar pela nossa literatura. A gente volta a entrar em órbita.

Do livro 100 Anos de Poesia, Vinícius de Moraes e João Cabral, em Paris, 1964

É fantástico sentir como a gente volta a se interessar pela nossa literatura Mas o distanciamento da zona de língua portuguesa durante longos anos no estrangeiro serve para apurar, depurar ou deturpar a linguagem do escritor? Uma língua sempre se enriquece ao contato com outra. Não ligo para esse negócio de pureza da linguagem. Mas não falar a própria língua provoca sempre um certo empobrecimento. Gabriela Mistral tinha uma aguda consciência desse problema. Certa vez, em Los Angeles, ela explicou a Vinicius de Moraes (ambos trabalhavam lá como diplomatas) sua necessidade de voltar ao Chile. Es que se me vá la lengua, disse ela. Na sua extrema concisão, a sua poesia frequentemente usa imagens e metáforas da arquitetura. Há escritores influenciados pela música, pela pintura, pelos filósofos, pela história. Quem mais influência exerceu sobre mim, teoricamente, foi o arquiteto Le Corbusier. Quando ainda rapaz, no Recife, amigos

meus, me deram para ler todas as obras de Le Corbusier. Nenhum poeta, nenhum crítico, nenhum filósofo exerceu sobre mim a influência que teve Le Corbusier. Durante muitos anos, ele significou para mim lucidez, claridade, construtivismo. Digo muitos anos porque na última época de sua vida, na minha opinião, Le Corbusier caprichou para negar todos esses valores que ele pregava anteriormente. Falo sobre ele e sobre isso no poema Fábula de um arquiteto. A ideia desse poema me veio ao visitar, na França, a capela de Ronchamp, por ele construída. Essa capela me provocou uma tal irritação, que me senti obrigado a escrever esse poema, cuja segunda parte é uma descrição da antiarquitetura. Pelo menos em relação ao que o próprio Le Corbusier tinha me ensinado: para sempre considerar arquitetura, e então a partir do que escrevi minha poesia, criar e imaginar. Sua poesia demorou muito a ser reconhecida? Quando me iniciei na literatura, dizia-se que a poesia brasileira estava emparedada entre Augusto Frederico Schmidt e Jorge de Lima. Depois se descobriu Carlos Drummond de Andrade, ao qual se dava pouquíssima importância na época. Só quero

A FÉ ACIMA DE TUDO Padroeiras são projetadas como um crescente estímulo à nossa religiosidade”, ressaltou o religioso. Além do padre, do secretário e dos produtores, alguns dos sobreviventes do “campo de concentração” da barragem do Patú, dentre eles a aposentada Luiza Pereira Lô, uma das personagens do vídeo, ficaram emocionados com o que viram e ouviram diante da televisão. No próprio documento, videográfico ela narra os momentos de horror sob a mira dos fuzis apontados por soldados das Forças Armadas. Eram impedidos de seguir o curso da miséria em busca de alimentos e água. “Somente a nossa fé foi capaz de superar o sofrimento e a agonia dessa época horrível”, recordou.

registrar que acredito que Schmidt foi um grande caráter. Foi ele quem pagou a edição do meu primeiro livro no Rio, O engenheiro, mesmo sabendo que a edição acabaria prejudicando o seu tão bom nome. “Esse livro vai me fazer um grande mal”, me disse ele. “Mas você pode levá-lo a uma tipografia, que eu pagarei a impressão.” De fato, como ele disse, meu livro iniciou uma revisão nos valores poéticos vigentes. Mas e o reconhecimento da sua poesia, tardou ou veio na hora certa? Quando eu estava nos meus vinte anos, meus livros não eram tão vendidos. Hoje em dia são, e muito. Morte e Vida Severina, por exemplo, deve ter aproximadamente umas quinze edições. Como em qualquer

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carreira é preciso que o sujeito crie nome, que seja alguém. E muitas vezes se vende mais pelo nome do que pelo próprio livro, isso até hoje em dia. Atualmente há também muitos estudantes comprando nossos livros por recomendação de seus professores. Daí o porque de Fernando Sabino ter me perguntado se eu não me sentia mais estudado do que lido. Eu me sinto muito orgulhoso pelo fato de a minha obra estar sendo dissecada pela crítica universitária, através de métodos de análises cada vez mais objetivos e profundos. Essa dissecação é lícita. Quando a interpretação não coincide com a minha intenção, eu até que não me irrito: sinto que minha obra está sendo multiplicada, crescendo por si mesma, o que me orgulha.

Cena da peça de teatro Morte e Vida Severina, pelo grupo Tuca da PUC-SP

Essa “multiplicação” já parece ter acontecido com a encenação de Morte e Vida Severina. A seu ver, que elementos dramáticos do seu texto foram ressaltados no palco? Morte e Vida Severina, como foi escrito para teatro, deixa mais evidentes os elementos dramáticos da minha poesia. Sempre me considerei um poeta plástico e intelectualista; portanto, um poeta não polêmico, isto é, não dramático. Depois de Morte e Vida Severina, comecei a ver

que a minha poesia é dramática, não no sentido de ter sido escrita para o teatro e nem no sentido de ser drama, mas porque existe nela um elemento de ironia e sarcasmo, sem haver um interlocutor vivo. Não digo que toda a minha poesia seja dramática. Há nela poemas de simples contemplação e descrição. Mas, pensando bem, há nela também um aspecto crítico que exige ou provoca resposta e interlocução e, portanto, exige dramatismo. O aspecto crítico de que o senhor fala tem sido muito debatido na mídia e no meio acadêmico. Morte e Vida Severina, como exemplo, entre muitos, é um poema de denúncia social das estruturas feudais do nordeste? Ou é mais um poema cristão que termina com uma nota otimista de uma vida melhor entre todos os severinos nordestinos? Minha intenção, escrevendo este e outros poemas que tratam do nordeste brasileiro, não foi denunciar as suas estruturas feudais. Familiarmente, estou ligado aos beneficiários dessas estruturas feudais. Minha sinceridade ao denunciá-las não poderia ser completa. Mas também não creio que seja um

poema cristão. Apenas escrevi a minha experiência, isto é, o que vi e vivi. Quis contar o meu ponto de vista. A solução não é a mim que compete apresentá-la. Eu apenas fiz a minha parte quando o escrevi. A quem competiria, então? Acho que a função principal do escritor na sociedade deve ser, para usar o título de um livro de Paul Éluard, donner à voir, isto é, fazer ver. A solução compete aos administradores e aos políticos. Gostaria que houvesse mais administradores do que políticos, porque o administrador vê o problema objetivamente em si e não, como faz o político, como um elemento para captar prestígio e vantagens pessoais, preocupando-se apenas com interesse próprio. Acredito que os problemas do nordeste estarão sempre melhor e com possibilidades de serem resolvidos nas mãos dos administradores do que dos políticos. Agora, a função do escritor é “dar a ver”, ou seja, apurar o senso crítico, e não mostrar como solucionar. Em contrapartida, o político ou o administrador não têm o direito de dizer ao escritor o que ele deve ver e o que ele deve mostrar. Quer dizer, o escritor não tem o direito de dar soluções. E o político ou o administrador não tem o direito de mostrar-lhe o que ele deve “dar a ver” nem influir.

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Que autores mais lhe interessam hoje, considerando os modernos e os clássicos? É difícil enumerar esses autores. A literatura espanhola anterior aos séculos XVI e XVII foi para mim uma grande revelação. John Donne, contemporâneo de Shakespeare, foi o que mais me marcou. Na literatura brasileira, quem mais me impressionou foi Carlos Drummond de Andrade, muito mais que Manuel Bandeira, o que é engraçado, porque ele é meu primo. Foi através dele, em Alguma poesia, que descobri que podia ser poeta. A influência da primeira fase de Drummond sobre mim foi absurdamente impactante. Revelou-me uma poesia prosaica, não encantatória. Da minha geração, destaco Lêdo Ivo, que considero o maior de todos. Do pessoal mais moço, os grupos do concretismo e da Praxis e os mineiros Afonso Ávila e Afonso Romano de Sant’Anna são os que sinto mais próximos

o fato narrado por uma sobrevivente do campo de concentração, a caminhada em homenagem aos mortos e também a devoção da comunidade às Almas da Barragem. “Muitos acreditam que elas obram milagres e a cada ano o número de peregrinos ao campo sagrado aumenta. Esse fenômeno social religioso preserva uma forte mensagem do holocausto vivido aqui mesmo”, comentou o produtor, satisfeito com o trabalho de sua equipe.

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em busca de melhores condições de vida. As narrativas, apresentadas de forma entrecortada, formam um painel rico e variado disposto a retratar a diversidade das experiências socioculturais a que foram submetidos tais indivíduos, a saber: uma babá, um porteiro, um pedreiro, um pescador, uma costureira, um médico e uma atriz. Usando uma variante da técnica do verbatim (mais conhecida em países europeus, sobretudo na Inglaterra) na qual a dramaturgia surge a partir do cruzamento de entrevistas gravadas, o espetáculo aposta no despojamento formal, embora em momento algum tal característica implique a ideia de simplicidade. O que os espectadores recebem do palco por parte de uma encenação, a bem da verdade, um tanto quanto estática, não soa nada simples:

vê”, desdobrada em “aquele que sabe por ter visto”. Desse modo, afirma o linguista francês, para os gregos “entre quem viu e quem ouviu, é sempre a quem viu que se deve dar fé. É por isso que os deuses são tomados como testemunhas, pedindo-lhes que vejam; o testemunho da visão é irrefutável; ele é único”. Entretanto, no mundo romano, embora os juramentos também venham acompanhados do apelo aos deuses como testemunhas, a fórmula que o anuncia é diferente, adverte Benveniste: “Pede-se a Júpiter, ao pater patratus e ao povo de Alba que ouçam. Deve-se ‘ouvir’ para ser testemunha do juramento em Roma. Para o romano, que dedica tanto apreço ao enunciado das fórmulas solenes, ver é menos importante do que ouvir”. Ao centrar toda sua tensão criativa no ato da escuta, Ao pé do ouvido transforma atores e plateia em testemunhas que “sabem por terem escutado”, embora dois níveis diferentes separem aqueles desta: os intérpretes ouvem em primeiro grau, ainda que de forma mecânica, os depoimentos reais; já os espectadores têm acesso a eles de modo indireto, pela estranha mediação estabelecida em cena. Que abre mão da clássica categoria artística de “personagem”, preferindo antes investigar as potencialidades expressivas da noção antropológica de “pessoa” – cujo único senso de realidade estranhamente para o espectador é uma voz ausente. Que se corporificar em um ator neutro, cuja presença remete ao outro, com quem

CONSIDERAÇÕES DA EXPERIÊNCIA O indivíduo poderia também figurar nesse grupo, mas a ele compete uma especificidade que todos os demais não têm: o pescador volta para o nordeste em busca de uma vida ideal que somente em sua terra natal lhe é possível viver. Ele continua viajando de lá para cá, mas seu discurso não dissimula o local a que de fato pertence. A ideia de compor esse pequeno mosaico está comprometida com a recusa dos clichês e estereótipos que ainda hoje abastecem boa parte da indústria cultural no tocante ao tratamento dos nordestinos. E aqui novamente uma curiosa questão se impõe. Os atores procuram reproduzir com bastante fidelidade os sotaques que estão ouvindo, o que poderia também resvalar no precário recurso da falsa mimese – como aqueles tipicamente usados em novelas de Tv (tema incorporado ironicamente ao discurso da atriz) –, não ficasse claro desde o começo tratar-se de uma reprodução verbatim, e não de uma imitação fantasiosa. A noção de uma realidade que é “evocada” pelo ato teatral – e não “simulada” por ele – evita o arremedo e confere ao projeto seu alcance político. Muito cedo percebemos que as falas desses seres reais dirigidas a nós estão impregnadas de uma performatividade muito própria, que rapidamente desautoriza o clichê e o estereótipo (evidenciados nos risos fora de hora que vão diminuindo paulatinamente durante o espetáculo) para construir com muita potência a noção de alteridade. De repente, somos flagrados pela presença do outro, com suas hesitações, seus fracassos, suas alegrias, seus anseios, seus dramas. Muito além de ser um “nordestino” – fadado a viver sua incontornável vida “severina” –, este outro é tão brasileiro quanto eu. E o empenho da igualdade aqui não nasce da concessão de um altruísmo espúrio (que embase a empatia com o

Casal de moradores de Senador Pompeu

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Espectadora ouvindo atentamente às comoventes histórias

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acabamos por conviver de modo muito íntimo e pessoal. A escolha desses sete indivíduos está orientada por um equilíbrio um tanto quanto esquemático, mas muito eloquente. Três deles transitam pela esfera daqueles nordestinos cujas atividades em São Paulo estão impregnadas de estereotipia: a babá, o pedreiro e o porteiro. Os relatos dos dois primeiros beiram a comoção, dados o abandono e a falta de perspectiva que os cercam, aos quais eles reagem com um otimismo um tanto quanto desolador. Impossível não pensar na Macabéa, de Clarice, ou no Fabiano, de Graciliano. Não por ascendência direta. Que os tempos são outros. Mas sim por herança presuntiva. Uma vez que as coisas não mudam tanto assim. Já o depoimento do terceiro indivíduo priva de uma característica diferente. Embora soe algumas vezes patético, há algo de astucioso e alegre no porteiro que nos desobriga a nos comovermos com ele. Três dos outros indivíduos fogem do senso comum, são diferentes de todos: a costureira, o médico e a atriz. Seja pela situação financeira mais bem equilibrada, seja pelo domínio de um discurso que revela autonomia e criticidade.

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A idéia é transformar a cidade em um promissor núcleo cinematográfico

Costa, elogia o documentário. Ele cita o equilíbrio e o padrão conquistado pelos jovens cineastas conciliando os registros do sofrimento de seu próprio povo à fé, retratando os anos de dor e sofrimento, e a tragédia provocada pela falta das chuvas. “Eles mostram a realidade dos que souberam vencer essa cruz a transformando num estímulo de fé para a caminhada da vida. A ligação entre o sentimento de hoje e as marcas do passado, através de nossa santa.

As narrativas formam um painel rico e variado exerce frente a um elenco de inegável talento integrado por Bruna Thedy, Cy Teixeira, Herbert Bianchi, Hugo Picchi, Laerte Késsimos, Rita Batata e Rodrigo Caetano. Por cerca de 80 minutos, eles ouvem e veiculam os depoimentos de Maria, Renata, Antônio, Francenildo, Francisco, Silvana e José, exercitando uma mediação entre estes e a plateia de dos depoimentos que esteja em jogo, é na forma “vazia” como eles se apresentam que está assentada a dimensão inequívoco e agudo sentido político. Como advérbio, a palavra latina estética da proposta que embasa o espetáculo. O que “verbatim” significa “literalmente”, chega dos testemunhos originais aos ouvidos do espec“exatamente nas mesmas palavras”. tador é somente a voz do ator funcionando como uma Já como adjetivo ela compreende espécie de segunda natureza, processo mimético que não a noção daquilo “que corresponde pode levar o intérprete a querer se sobrepor ao discurso palavra por palavra à fonte ou tex- autêntico, embora o convide a contaminar este discurso to original”, denotando também a com a materialidade vocal e corpórea que lhe é própria ideia de “precisão ao pé da letra”. – o que já garante à empreitada a aura de uma teatraliAssim, ao empregar a técnica do dade das mais instigantes. Um jogo testemunhal bastante verbatim, o espetáculo solicita a ade- sui generis, estabelece-se, então, entre plateia e atores no são do espectador a um depoimento tocante à audição, sentido aqui que adquire um estatuto que ele não viu ser dado, tampouco mais importante do que o da visão. Sobre tal aspecto, vale lembrar a diferença que existe ouve, ali no teatro, ser proferido em sua forma original, mas pressupõe entre ver e ouvir no ambiente jurídico do mundo grecoser verdadeiro, uma vez que é bas- -latino, estudada por Émile Benveniste em O vocabulário tante verossímil. Cumpre notar que, das instituições indo-europeias. A palavra “testemunha” embora não seja a confiabilidade em grego corresponde à forma “ístor” e significa “o que

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Familiar de um dos participantes que contou sua história, durante a apresentação

Mais entusiasmado com os resultados da oficina audiovisual está o secretário de Cultura de Senador Pompeu, Adriano de Sousa. Além da força religiosa no percurso de pouco mais de 3 quilômetros do Centro da cidade ao “Santuário das Almas”, ele vê um promissor caminho para a sétima arte no município que possui pouco mais de 27 mil habitantes. A idéia é transformar a única cidade do Ceará que concorre ao título de Capital Cultural do Brasil em um promissor núcleo cinematográfico. “Se somos capazes de extrair arte deste solo árido e disputamos com outras quatro cidades do País esse importante título cultural, com certeza temos potencial para ir mais além“, destacou Adriano. É como um pouco de esperança para as horas em que as almas mais se precisam de ajuda e não se tem. O vigário da paróquia de Nossa Senhora das Dores, padre Roberto

um jorro da mais bem-vinda autenticidade envolve a plateia, enredando-a em uma atmosfera habilmente construída que alia momentos ora cômicos, ora patéticos, ora dramáticos, ora puramente comoventes. Tal empreitada poderia desregular em arremedo e mistificação, não fossem a inteligência e a sensibilidade demonstradas tanto pelo diretor como pelo elenco no trato de material tão arenoso. Assim, a primeira grande qualidade do projeto reside na firme direção que Zé Henrique de Paula

João e a poetisa Marly de Oliveira, com quem se casou em 1986

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Na literatura brasileira, quem mais me impressionou foi Drummond

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produção digital se concretizou por meio da oficina audiovisual desenvolvida pela Secretaria de Cultura do município de Senador Pompeu com recursos do Ministério da Cultura. Após dois anos de pesquisas, três meses de gravações, captura de imagens e depoimentos, a película, com 20 minutos de duração foi concluída e começou a ser exibida nas escolas, igrejas e distritos deste município interiorano, situado na macrorregião central semi-árida do Ceará, a 273 quilômetros de Fortaleza. Para a edição das imagens foram necessários 60 dias. O valor estimado para a elaboração do curta-metragem foi de R$ 5 mil. O coordenador do projeto e diretor da Uzina Produções, Fram Paulo Ferreira da Silva, explica que o vídeo aborda três aspectos:

Antigo portão de entrada para acessar um dos terrenos dos campos

PROCISSÃO RELEMBRA MORTES Em Senador Pompeu, no início do século passado, em meados de 1919, uma vila de casas foi construída nas margens do Rio Patú, neste município. Era o Campo dos Ingleses, que abrigava engenheiros europeus e operários responsáveis pela construção de uma enorme barragem que hoje abastece a cidade. A obra, concluída somente 68 anos depois, tinha como objetivo represar as águas do manancial e, também, solucionar o problema da seca que assolava a região. Por ironia, o rio vivo, com milhares de famintos, doentes, foi retido naquela represa pela força das ar-

Grupo de espectadores durante a gravação das fitas

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Que papel desempenhou o nordeste na sua sensibilidade e formação? Há alguma afinidade entre ele e a Espanha? O meu primeiro posto no exterior (e meu primeiro contato com o exterior) foi Barcelona, que está na Catalunha. Eu ia muitas vezes a Madri, isto é, atravessava Aragão e a Mancha. Aí encontrei a secura e a essencialidade do sertão nordestino. Vivi na Espanha, sem ter podido conhecer Andaluzia, de 1947 a 1950, quando fui para Londres. Em 1956 voltei para a Espanha e, desta vez, para Sevilha, na Andaluzia. A Andaluzia é, do ponto de vista agrícola, a região mais fértil da Espanha. E foi a região do mundo com a qual mais me identifiquei. Devo lembrar que sou pernambucano da Zona da Mata, zona fértil, e não do sertão, embora me identifique melhor com o sertão seco, assim como tenho mais afinidade com o alagoano Graciliano Ramos do que com meu primo Gilberto Freyre. Os meus sentimentos entre a Andaluzia e a Mancha e Aragão tem a mesma ambiguidade que existe no meu eu pernambucano, entre o homem da Zona da Mata, fértil, e o do sertão, seco, que conheço apenas de passagem, mas que me marcou profundamente. Há uma afinidade entre a Mancha e Aragão e o nordeste seco. Mas nenhuma entre o nordeste da Zona da Mata e a Andaluzia. Mas qual desses lugares o impressiona mais? A Andaluzia, dentre todas, sempre foi a que me fascinou mais, mesmo antes de conhecê-la e viver nela, eu já gostava e já a admirava; não como paisagem, mas pelo seu aspecto cultural e pela sua humanidade, suas pessoas. O clima de lá me agradava. Eu conheci Andaluzia antes mesmo de viver em Sevilha, que é a cidade onde eu gostaria de viver e morrer.

Entrada de um dos antigos campos de concentração em Senador Pompeu

João Cabral de Melo Neto retradado em fotografia

mas. A barragem que estava sendo erguida para saciar a sede e também a fome se transformou, na realidade, em um imenso campo de concentração, em um enorme curral humano, onde centezas de vidas foram confinadas, de maneira impiedosa, durante vários anos. O destino se encarregou do fuzilamento. Registros históricos apontam que dos 17 mil flagelados que permaneceram ali, mais de mil perderam a desumana batalha e, ainda hoje, de acordo com moradores, suas almas vagam pelo vale, assombrando a região. O martírio foi transformado num expressivo ato de fé, que se tornou tradição, e se prolongou por anos. Os moradores de Senador Pompeu mantém frescos em sua memória, as lembranças dessa atrocidade. Todos os anos, na madrugada do segundo domingo do mês de novembro, acontece a Procissão das Almas. O acontecimento, criado pelo padre Albino Donatti, então pároco da Igreja Mãe de Senador Pompeu, se repetirá, em 2008, pela 26ª vez. Em caminhada, centenas de fiéis percorrem os 3,2 quilômetros, da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores ao cemitério da barragem do Açude Patú.

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O Nordeste é uma invenção do Sudeste migrante somente porque ele é alvo do meu riso). Antes, ele surge da consciência de que este outro tem os mesmos direitos que eu. Como seria um espetáculo em que atores nordestinos reproduzissem verbatim os discursos de indivíduos paulistanos, às voltas com suas próprias histórias de vida? Deixando de lado os nossos próprios estereótipos (um discurso bem-pensante que confunde concordância e regência cultas com sinal de inteligência, o apego a valores conservadores travestidos de modernidade…), que a indústria cultural toma por naturais, o que sobraria dessas falas todas seria exatamente aquilo com o qual Ao pé do ouvido quer que entremos em contato: com a experiência radical da alteridade. O Nordeste é uma invenção do Sudeste, precipitando-se rapidamente em uma espécie de epíteto no qual cabem muito bem qualificativos que vão do pitoresco ao inferior, adverte esse projeto do Núcleo Experimental. Parodiando Edward Said em seu colossal Orientalismo: o Oriente como

invenção do Ocidente, ao final do espetáculo, “não tenho um Nordeste ‘real’ a defender. Tenho, contudo, enorme consideração pela fortaleza das pessoas daquela parte do Brasil, bem como por seu esforço de continuar lutando por sua concepção do que são e do que desejam ser”. A mesma oralidade performativa – sagaz, hábil e articulada (vazada em uma norma linguística diferente da nossa, que talvez seja reprovada nas provas de português de concursos públicos, mas que é absolutamente bem-vinda à tessitura cultural do país) – já foi retratada pelo cinema de Eduardo Coutinho e pela literatura de João Guimaraes Rosa. Nos quais se propõe um longo mergulho para se chegar ao conhecimento do outro. Enquanto boa parte da criação artística que se debruça sobre este outro somente como um fetiche acabe por flutuar sem molhar as penas, para ficar na ironia do registro rosiano. Em tempos em que grassa nas mais variadas mídias uma oralidade esquizoide, paranóica e alucinada, que verbaliza o estrangeiro, o diferente sempre como risco e ameaça, Ao pé do ouvido constitui um belíssimo exercício formativo, sem abrir mão da ludicidade inerente ao mundo do teatro. Lúdico e teatral cabem

no espetáculo perfeitamente. Embora não apaguem os contornos da complexidade que o envolve, matriz do misto de admiração e busca por alguma compreensão que orientou boa parte do presente texto. “Aquilo que se perde com os media, e assim necessariamente permanecerá, é a corporeidade, o peso, o volume real do corpo, do qual a voz é apenas expansão”, aponta Paul Zumthor em seu estudo sobre performance e oralidade. Em Ao pé do ouvido, o teatro cumpre uma vez mais seu papel transgressor, convidando os atores a transformarem a escuta de um áudio na emergência de uma energia vocal reprimida duramente pela vida social. E convidando também a plateia a entender a necessidade vital que a voz humana tem de “tomar de fato a palavra”, para que o dito não fique simplesmente, como sói acontecer no mundo tagarela de hoje, pelo não dito. Esperança para as horas em que mais se precisa de ajuda e não se tem. Elas passam a estar à frente de todos os problemas e lhes trazem o alívio da dificuldade resolvida”

Mais um ouvinte, comovido com as histórias

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Detalhes do interior de um dos antigos campos de concentração

O novo prédio anunciava novos tempos e contrastava com a precariedade da multidão imigrante dos “sertões vizinhos”, que fugia de uma das piores secas já vistas no Nordeste. Alguém precisava fazer algo, e rápido, antes que a turba miserável eclipsasse a “loira desposada do sol”, epíteto da capital oxigenada pela síndrome de “belle époque” brasileira. A resposta governamental foi confinar os que vinham de trem em sete currais cercados com varas e arame farpado, próximos à estrada de ferro. Eram homens, mulheres, velhos e crianças, de cabeça raspada contra piolhos, alguns vestidos em sacos de farinha com buracos para enfiar o pescoço. Os mais robustos serviam de mão de obra em fazendas e obras públicas. Milhares morreram de fome, sede ou doenças. Com entrada compulsória e sem data para o “check out”, esses depósitos humanos tinham nome: campos de concentração. Só em 1933 os nazistas criariam seu primeiro campo, numa fábrica de pólvora reestruturada para encarcerar comunistas, sindicalistas e outros desafetos do chanceler Adolf Hitler. A prática de isolar os “molambudos” dos “cidadãos de bem” já era velha conhecida no Brasil de Getúlio Vargas – um país em que a população caminhava para os 40 milhões. Dados oficiais contavam 73.918 aprisionados pouco mais de um mês após a abertura dos campos em seis cidades do Ceará (Crato, Ipu, Quixeramobim, Senador Pompeu, Cariús e Fortaleza), conforme relata a historiadora Kênia Sousa Rios, autora de Campos de

Concentração no Ceará: Isolamento e Poder na Seca de 1932 (Museu do Ceará, 2006). As duas aglomerações da capital viraram até atração turística: visitantes doavam uma certa quantidade de dinheiro aos enjaulados e dali saíam com “a sensação de dever cumprido”. “O risco de ter a cidade invadida pela ‘sombra sinistra da miséria’ parece seguido da compreensão de que a situação é trágica, portanto merece a atenção da burguesia caridosa e civilizada”, escreveu a historiadora no artigo A Cidade Cercada na Seca de 1932 (publicado no volume Seca, Edições Demócrito Rocha, 2002). ESMOLINHA No romance O Quinze, Rachel de Queiroz narra como a heroína Conceição “atravessava muito depressa o campo de concentração”, trêmula ao ouvir a súplica: “Dona, uma esmolinha”. Apertava o passo, “fugindo da promiscuidade e do mau cheiro do acampamento”. Algo de fato cheirava mal no Ceará, e desde a grande estiagem de 1877, a elite local sentia o odor. Sete anos antes, haviam sido estabelecidas normas de conduta “que identificavam a ‘modernidade fortalezense’ com a ‘civilidade europeia’”, fazendo da

As duas aglomerações da capital viraram até atração turística capital “um modelo asséptico para todas as cidades cearenses”, escreveu o historiador Tanísio Vieira no artigo Seca, Disciplina e Urbanização (também coligido em Seca). Uma das proibições fixadas era a de sair às ruas sem “pelo menos camisa e calça, sendo aquela metida por dentro desta”. Imposições dessa tal ordem eram a última coisa a passar pela cabeça dos mais de 100 mil sertanejos que estavam em retirada da seca de 1877. Fortaleza, então com 30 mil habitantes, viu sua população se multiplicar por três. O governo, por sua parte, redobrou os esforços para conter a invasão bárbara, e para que ela jamais se repetisse. Em A Seca de 1915, o escritor Rodolfo Teófilo (1853-1932) descreveu o pioneiro campo do Alagadiço, nos arredores da capital, que serviria de piloto para os sete campos dos anos 1930: “Um quadrilátero de 500 metros onde estavam encurralados cerca de 7.000 retirantes”. Lá, quando havia comida, ganhavam “reses que

morriam de magras ou do mal”, cozidas “em algumas dúzias de latas que haviam sido de querosene”. O jornal O Nordeste anunciava o 17 de fevereiro de 1923 como o Dia da Extinção da Mendicância. Ser mendigo seria, a partir dali, contra a lei. Se ruas e praças continuassem “expostas a graves perigos de ordem moral”, os infratores seriam enviados ao Dispensário dos Pobres, sob os auspícios da Liga das Senhoras Católicas Brasileiras. A ideia, na prática, não foi longe, e as madames continuaram a ouvir: “Dona, uma esmolinha”. Nem toda a caridade cristã seria o bastante para dar conta da diáspora de que aconteceu em1932, quando jornais falavam do “exército sinistro de esfomeados” em marcha até a capital. Ainda hoje, em Senador Pompeu, circula a lenda sobre um ente que surge de supetão para abrir seu bucho e roubar um pedaço do fígado. A fábula do Papa-Figo nasce de fatos reais. Carmélia Gomes, 91, que era uma menina em 1932, lembra do médico que extraía amostras do órgão de quem morria no campo e as mandava à capital para análise clínica.

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Pequeno cemitério próximo a antiga área dedicada a um campo de concentração

O público confere o resultado do restauro da obra Civilização Mineira

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Para José Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat, a escolha por Fraga se deve à sensibilidade do designer. “O olhar sensível de Ronaldo Fraga tem muito do menino que ele foi e sempre será. Gente grande que não tem coragem de pôr pra fora a criança que ainda é não devia ter permissão para visitar esse trabalho”, ressalta Lima. De acordo com Fraga, todo o espaço foi desenhado com a preocupação em levar a arte do pintor modernista brasileiro para as gerações mais novas. “Acredito que é muito importante que essa exposição fale com o público em geral, mas principalmente com o infanto-juvenil. Que, com esse projeto, a gente consiga trazer essas pessoas para dentro do universo de Portinari”, conta o estilista. Das brincadeiras de infância aos retirantes nordestinos. Candido Portinari foi buscar sua inspiração nas mais simples formas e foi capaz de inspirar gerações com sua arte e originalidade. É um pouco desse universo que a exposição apresenta ao público, por meio da curadoria do famoso estilista. De família operária, Portinari ganhou o mundo pintando o que via e o que sentia. Suas pinceladas suaves foram capazes de descrever o sofrimento, a dor e a alegria de um povo da forma mais singela e marcante, assinando seu estilo único na história da arte. Civilização Mineira, maior quadro de Cândido Portinari em Minas Gerais, ganha os holofotes da exposição. Representando a mudança da capital mineira, de Ouro Preto para Belo Horizonte, em 1897, e a evolução

da civilização mineira, o painel, de 2,34m x 8,14m, passou por restauração no último ano, quando foram descobertos uma intensa ocorrência de cupins e o esbranquiçamento de partes da obra – provocado pelo branco feito de titânio. Recosturando Portinari partiu do processo de restauro do quadro Civilização Mineira, pintado por Cândido Portinari em 1959 e que é hoje a maior obra do artista paulista presente em Minas Gerais. “A gente tinha um desafio: atrair o público para a restauração de uma obra, que é um processo caro, demorado, extremamente técnico, mas fundamental”, contou o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira. “Foi então que pensamos no Ronaldo, pois ele é um profissional talentoso e criativo, para fazer uma releitura dessa obra.” Logo na entrada, os visitantes são recebidos pela obra restaurada Civilização Mineira (1959). O quadro retrata, em um painel de dois metros de altura e oito de comprimento, a transição da capital mineira de Ouro Preto para Belo Horizonte e a evolução da sociedade local. Nas quatro salas que compõem a mostra, as etapas da restauração são ilustradas de forma lúdica e interativa. Em uma delas, instalações

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Dona Carmélia, e Milton Pereira, que viviam próximo ao antigo campo cratense

ligada à seca desde antes desse destino infame. No ano de 1919, ingleses ganharam uma concorrência para levantar no local uma barragem para sanar alguns dos efeitos da escassez de chuvas. Devido à falta de verbas, as obras pararam. Em 1932, o governo integrou ao campo o casarão que fora construído para servir como uma morada aos estrangeiros. A carcaça arquitetônica tem paredes amarelas pichadas com dezenas de falos, juras de amor (Stefanny, o Renato te ama) e até um Buda gordinho. Nos anos 1990, o lugar ainda era uma referência para retirantes. Famílias faziam filas quilométricas para obter a parte que lhes cabia nesse latifúndio – porções de farinha, charque, rapadura e café que o governo distribuía.

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Valdecy cruza os braços sobre a camisa polo vermelha e ergue o queixo, um tanto solene. “Kant dizia que não há liberdade enquanto você tiver necessidade. O povo há séculos é vítima de uma seca previsível, cíclica. Então, o Estado é que está falido.” E desmemoriado também: o advogado cobra a preservação das ruínas e reclama de que “documentos gigantescos de uma época que não pode se repetir” estão à míngua. Procurado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional diz que “não há

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Uma das sanfonas da vasta coleção particular do cantor Luiz Gonzaga

Jogavam um em cima do outro quando o pessoal morria proposta de tombamento em nível federal”. No plano municipal, a prefeitura abriu um processo com essa finalidade, ainda não finalizado. CAMINHADA Alves tem companhia no seu esforço de tirar o passado do armário. Enquanto outras cidades ignoram seus campos, em Senador Pompeu um carro de som alterna anúncios do “forrozão” e da “caminhada da seca”. De óculos escuros e celular acoplado a alto-falantes, o padre começa a romaria na madrugada de domingo. Há velhinhos de bengala, mulheres com crucifixos mergulhados em grandes decotes e estudantes que usam “abadá” – regata com a inscrição “32ª caminhada da seca – Eu fui” e a estampa de um polegar que reproduz o botão “curtir” do Facebook. “O povo diz que quem morreu de fome vira santo”, diz Yasmin dos Santos, 11, repetindo o que ouviu numa palestra na escola. Daiana Soraya, 12, é grata às “almas san-

tas”, que a ajudaram com uma briga de escola. “Um menino que já tinha namorada ficou falando comigo. Ela achou que eu estava a fim dele. Queriam me pegar, mas eu fiz uma promessa. Hoje tô pagando”, diz a jovem devota, mostrando os pés descalços.

Ruínas de uma das antigas instalações

RELATOS Já no Crato são poucos os que se lembram do campo projetado para 5.000 pessoas –e que chegou a receber quatro vezes isso, segundo relatos de sobreviventes. “A mãe falava que a comida era tão ruim que não tinha quem comesse. Mas chegou um pessoal e quis as tripas de porco e gado que o vô usava para fazer sabão. Estavam até estragadas”, conta Rita Lobo de Grito, 66, que andava por uma rua de terra próxima ao local do antigo campo cratense. “Jogavam um em cima do outro quando o pessoal morria. No outro dia, de manhã, um pediu: ‘Me tira daqui que eu não tô morto’. Tudo isso meu pai contava”, diz Milton Pereira, 85, que recorda a corrupção no controle dos mantimentos. “Enquanto uns morriam de fome, outros enricavam. O governo mandava trazer o gado e sumia a metade.”

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dos nordestinos. Uma composição dele com o médico Humberto Teixeira, que passou dois anos para ser concretizada. A gravação foi acompanhada pelo grupo de Regional do Canhoto. Ao fim de seu trabalho, Canhoto, líder do grupo, olha para Gonzaga e afirma que a “letra era música para cego pedir esmolas”. Sai dos estúdios e zomba com um chapéu pedindo esmolas ao som da canção. Mal sabia Canhoto que Asa Branca futuramente se transformaria em um dos maiores sucessos da música brasileira. Foram duas versões da música que virou referência e marca de um povo. A primeira foi gravada pelo próprio Gonzaga em forma de toada e logo fez sucesso, levando o artista pela primeira vez ao cinema, tocando a música no filme O Mundo é um Pandeiro. Nesta época, Gonzaga já havia iniciado a transposição dos gêneros musicais nordestinos para a mescla com o choro carioca. Asa Branca foi essencial para preparar o terreno para o Baião, que seria gravado ano seguinte. O sanfoneiro logo percebe que uma repaginação poderia ser a saída para reinventar a toada. Talvez Luiz Gonzaga não imaginasse o tamanho da proporção que Asa Branca ganharia ao gravar um Baião com a mesma letra. Essa nova versão foi lançada três anos mais tarde, em 1950, num compacto que trazia Paraíba do outro lado, o que aumentou ainda mais o sucesso, já que as duas canções ecoa-

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Detalhe de uma das instalações da exposição

Desfile de Ronaldo Fraga no Spfw de 2015.

Nome da exposição e de seu curador na entrada do evento

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último Spfw, repletos de cores, formas e visões desse importante nome do modernismo nacional, como a chegada do circo em uma cidade do interior. “O grande pincel de Portinari é o pincel da memória. Uma das coisas que mais me atrai nele é que ele sempre está dizendo para a gente ‘não deixe de lado a criança que você foi.” Ronaldo Fraga é o curador desta exposição, que teve como mote o restauro da obra Civilização Mineira, de Portinari, que já fazia parte do local quando este era o Palácio dos Despachos do governo mineiro. Paralelamente, será apresentada a obra do artista como fonte de inspiração para a coleção de moda O Caderno Secreto de Portinari. Entra em cena o talento de Ronaldo para transformar a linguagem fashion em artística, explorando cores, formas e traços em peças de moda e cenografias incríveis. O convite aconteceu no ano passado, mesma época em que ele estava criando sua coleção de Verão 2015,

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As ruínas servem como atração turística

Na véspera, Valdecy Alves nos PAPA-FIGO Dentro de sua casinha, semelhante a tantas outras nas levara aos arredores da barragem redondezas, dona Carmélia prende os cabelos brancos onde os retirantes foram enclausurae senta-se numa cadeira de plástico roxo, logo abaixo de dos. Existe ali um cemitério, ponto pôsteres dos papas João Paulo 2º e Bento 16. Ela conta de chegada da romaria. O espaço que, até sofrer um assalto, vivia num terreno mais ermo, é simbólico: foi erguido sobre uma das valas comuns, onde “até 40 deterra onde seu pai trabalhava 82 anos atrás. Antônio Gomes se despedia com um beijo na testa da funtos eram sepultados sem atestado mocinha de nove anos e partia para o ofício: vigiar os de óbito, em covas rasas o bastante concentrados de Senador Pompeu. Voltava para casa para que urubus e cães cavassem e contando sobre “lagartixas entrando na boca dos defun- comessem os restos”, diz Alves. O cemitério, um quadrilátero de tos, tudim inchado por causa da fome”. Alguns guardas eram tão temidos que viravam sinônimo de “coisa ruim”. 1.089 m², tem no centro uma capela. Caso do cabo Félix, que acabou nomeando o feijão servi- À sua frente, visitantes acendem velas e empilham simbólicas garrafas d’água do ali, duro feito pedra da caatinga. Senador Pompeu, à primeira vista, é uma cidade com pro- de 500 ml. Na entrada, alguns santiblemas e hábitos corriqueiros; adolescentes tiram selfies na nhos políticos e latas de cerveja se acusorveteria, e casas metade verde, metade rosa exibem na fa- mulam diante de duas mudas de árvochada propagandas políticas pintadas à mão. Mas ali, como re. Lê-se nos vasos de cimento: “Fale dona Carmélia, muitos se esforçam para lembrar o passado. a Deus o tamanho do seu problema”. Em sua moto preta com o rosEm um blog que leva seu nome, Valdecy Alves, 51, apresenta-se em maiúsculas: ADVOGADO MILITANTE E to de Jesus estampado na buzina, MILITANTE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS, com Francisco de Assis, 48, chega ao serviços prestados à Cáritas e ao Centro de Defesa dos local para pintar de branco os muDireitos Humanos Antonio Conselheiro. Filho pródigo de ros do cemitério. Ele é um dos que Senador Pompeu, hoje em Fortaleza, voltou à cidade natal – garante – foram ouvidos pelos santos. Para quitar seu carnê espara a romaria de 9 de novembro. Com início marcado para as 4h30 daquele domingo, piritual, caminhou por uma hora, em frente à igreja, o cortejo reúne netos, pais e avós, to- descalço, até o cemitério. Valdecy dos de branco, para homenagear “as almas penadas da Alves frisa: “De cada dez pessoas barragem”, mortas no campo de concentração. Hoje, que você encontrar nas ruas, mesegundo a crendice do povo, elas viraram santas que tade deve promessa aqui”. A história do campo de concenatendem a promessas, numa versão, local e diminuta, tração de Senador Pompeu já era do culto ao padre Cícero.

Portinari é para se ver, para se morar, para se comer e para se vestir com elementos do quadro. Em outra, a representação de um ateliê de restauro. Espantalhos – figuras recorrentes nas obras de Portinari – ocupam mais um espaço e ganham forma pela reciclagem de gaiolas e sucatas, enquanto as roupas produzidas por Fraga vestem manequins em um ambiente multissensorial, com chão coberto por grãos de café e teto com balões de São João. O quarto e último ambiente pode ser considerado o mais emocionante deles, pelo menos para quem gosta de moda. Nele, os aromas da infância do artista ganham vida, proporcionando uma experiência multissensorial – “a obra de Portinari tem cheiro do café que era plantado no interior de São Paulo, onde ele nasceu”, lembrou o estilista. Com chão coberto por duas toneladas de grãos de café e sob coloridos balões de São João confeccionados a partir de coadores de papel, Ronaldo apresenta alguns dos seus looks desfilados no

intitulada O Caderno Secreto de Cândido Portinari. “Foi tudo uma feliz coincidência”, disse o estilista. “Eu tenho um verdadeiro fascínio pela geração de artistas brasileiros das décadas de 1930, 40 e 50, porque foram eles que construíram o Brasil moderno. E Portinari sempre esteve ali. Quando fiz a coleção sobre Carlos Drummond de Andrade e Athos Bulcão, por exemplo, eu acabava esbarrando nele. Daí surgiu essa história.” Segundo Fraga, a transmutação de Cândido Portinari em um conjunto de looks é só mais uma das maneiras de viajar pelo extenso mundo do pintor. “Poderia ter sido um chefe de cozinha o responsável pela curadoria dessa mostra. Portinari é para se ver, para se morar, para se comer e para se vestir”. O estilista conta que, desde que a exposição começou a ser colocada no papel,

o objetivo é encantar. “Sempre fui da opinião que, se você faz brilhar os olhos de uma criança ou os olhos de um ancião, então você está alcançando sucesso naquilo que está fazendo. E esse é o desejo desse trabalho”, afirma Fraga. Esse minucioso processo de restauração se aproxima do complexo trabalho de criação de um artista. Por isso, lado a lado ao processo de restauração, será apresentada a obra de Portinari como fonte de inspiração para uma criação de moda, a coleção O Caderno Se-

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três primeiras letras – assinaladas, aliás, em caixa alta – do doce: o rap. Desde os 13 anos, o artista encontrou no elemento mais rico da cultura hip-hop o estilo que permearia suas canções e transformaria-no em uma das grandes referências da música contemporânea nordestina. Na bagagem do artista está o Prêmio Hutúz, de 2007 e 2009, de melhor artista do Norte e do Nordeste do século XXI. Mas como pode um artista do rap ser referência na música típica nordestina, já que, à primeira vista, elas parecem tão distantes uma da outra? “Depois que passei a compor rap, decidi misturar ao estilo ritmos nordestinos, como o repente, o coco, o maracatu e o baião”, comenta RAPadura, respondendo à pergunta. O resultado é um som consistente, vigoroso e carregado de brasilidade. Ao cantar seus versos ritmados, RAPadura escancara o dia a dia nordestino carregado do suor vindouro do trabalho na lavoura e da seca que insiste em assolar plantações inteiras, mas também do orgulho de ser um povo com uma cultura rica e diversificada, marcada pela leitura de cordel e pelo frevo, pelo baião e pelo forró. Em suas canções, ao mesmo tempo em que RAPadura exalta a tradição da cultura popular brasileira, faz também uma crítica ácida a artistas do mainstream. Este é o caso de Norte Nordeste que Me Veste, quando o rapper diz sobre os astros que “trazem um nível baixo, para singles fracos”. Contra isso, RAPadura manda: “Meto meu chapéu de palha, sigo pra batalha/Com força agarro a enxada se crava em minhas mortalhas/Tive que correr mais que vocês pra alcançar minha vez”. RAPadura, a propósito, segue seus versos. Em suas apresentações, o rapper faz questão de estar sempre vestido com roupas características do sertão brasileiro. “Tudo

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Decidi misturar ao estilo ritmos nordestinos, como o repente, o coco, o maracatu e o baião em nós fala muita coisas para quem está vendo. A forma como gesticulo, o sorriso, o visual... Com as minhas roupas, mostro um nordestino guerreiro, uma pessoa que usa chapéu de palha para se proteger do sol, a roupa de couro para andar no meio do mato e não se machucar com os espinhos, o chinelo de pneu para enfrentar o chão duro. Tudo isso, carrego em mim”, diz. Outra tradição nordestina que o rapper faz questão de manter em suas canções é a literatura de cordel. “Essa forma de escrever é muito complexa, pois envolve construções de rimas muito rebuscadas que combinam não somente na sonoridade, mas também no sentido. Ao mesmo tempo, o cordel é simples, pois é uma crítica feita para o povo”, analisa. Influência urbana. Nascido no interior de Fortaleza, cercado pelo mangue e pela areia branca das praias, RAPadura levou um choque cultural ao migrar para Brasília, aos

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A partir de Asa Branca o Brasil viu o drama através da voz do próprio nordestino ram nas rádios e vitrolas do Brasil. O professor e historiador Armando Andrade diz que a identidade do cantor se confunde com a letra de Asa Branca. Para ele a canção é marca registrada de Gonzaga. É nela que se misturam o homem, a música e seu povo. “A partir de Asa Branca o Brasil viu o drama através da voz do próprio nordestino. É dessas coisas que a poesia e a literatura conseguem fazer, transportar através da linguagem as pessoas a vivenciar a dor do outro” diz. Outra característica marcante de Asa Branca é a saudade do amor perdido com o exílio forçado devido a seca. Se os clássicos traziam as guerras como o motivo da partida do homem e a promessa de volta para o grande amor, em Asa Branca, é a seca que expulsa o homem e a ave, numa metáfora que se estende à condição humana. “Talvez aí resida a universalidade e aceitação pelo grande público, além de retratar a real condição das famílias nordestinas. A pro-

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MANCHAS DIAGRAMA SEÇÃO

Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano (1954-1955), peça literária de natureza regionalista, tradição medieval, forte religiosidade, linguagem próxima do registro oral, apresenta vários aspectos do folclore em sua construção formal, distribuídos ao longo dos dezoito trechos que compõem a obra. Nela, João Cabral de Melo Neto, distancia-se do hermetismo, característica marcante em sua produção poética e escreve para ser entendido pelo povo, o que o faz sem tornar o seu texto “popular”, embora o mesmo o tenha popularizado. Aliando forma, conteúdo e linguagem numa tríade, para alguns, perfeita, Morte e Vida Severina atribui um caráter singular à poesia cabralina. Para Antônio Cândido, “o regionalismo foi e ainda é força estimulante na literatura da América Latina”. É fato que, no Brasil, a produção literária regionalista é marcada pela prosa. Em Morte e Vida Severina, João Cabral acentua a quebra dessa hegemonia apresentando um Auto fortemente centrado na temática regionalista, o que já ocorria, de forma mais diluída, em sua obra. Importante, ainda, localizar a produção cabralina no período que, segundo Cândido, corresponde a uma consciência dilacerada do atraso, que teve como precursora a fase da “consciência catastrófica de atraso, correspondente à noção de país subdesenvolvido”, com gênese em Simões Lopes Neto, seguido por Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado. Nessa fase se imprimiu à literatura regional brasileira, uma face em que “o peso da consciência social atua por vezes no estilo como fator positivo, dando lugar à procura de interessantes soluções adaptadas à representação de desigualdade e de injustiça”, distanciando-a da denominada “consciência amena do atraso, correspondente ideologia de país novo ”, marcada por uma literatura que “se fez linguagem de celebração e terno apego, favorecida pelo Romantismo, com o apoio da hipérbole e na transformação do exotismo como estado de alma”. Para Cândido, sobre a expressão do regionalismo de João Cabral, ele diz que “[...] ninguém elaborou expressão poética mais revoltada e pungente para expor a miséria, o destino esmagado do homem pobre, no caso o do Nordeste”. A partir de tais considerações, este trabalho tem como objetivo principal analisar a construção da identificação cultural no Auto de João Cabral. Parte-se de como a construção da Identidade Cultural de Severino, figura central desse texto, vai apresentando diferentes pertencimentos, ora como sujeito individual, ora como sujeito coletivo. Tal conceito de Santos constitui-se como importante categoria de análise, que pode ser empregada, em toda primeira parte do Auto, quando o protagonista, Severino, na tentativa de apresentar-se, apresenta muito mais a sua

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entrevista

produção textual: análise

Uma análise cultural Morte e Vida Severina é uma peça literária que retrata o regionalismo nordestino, junto com sua regiliosidade e folclore característico Por Marlucy Mary Gama Bispo Foto Rafaela Konstantyner Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano (1954-1955), peça literária de natureza regionalista, tradição medieval, forte religiosidade, linguagem próxima do registro oral, apresenta vários aspectos do folclore em sua construção formal, distribuídos ao longo dos dezoito trechos que compõem a obra. Nela, João Cabral de Melo Neto, distancia-se do hermetismo, característica marcante em sua produção poética e escreve para ser entendido pelo povo, o que o faz sem tornar o seu texto “popular”, embora o mesmo o tenha popularizado. Aliando forma, conteúdo e linguagem numa tríade, para alguns, perfeita, Morte e Vida Severina atribui um caráter singular à poesia cabralina. Para Antônio Cândido, “o regionalismo foi e ainda é força estimulante na literatura da América Latina”. É fato que, no Brasil, a produção literária regionalista é marcada pela prosa. Em Morte e Vida Severina, João Cabral acentua a quebra dessa hegemonia apresentando um Auto fortemente centrado na temática regionalista, o que já ocorria, de forma mais diluída, em sua obra. Importante, ainda, localizar a produção cabralina no período que, segundo Cândido, corresponde a uma consciência dilacerada do atraso, que teve como precursora a fase da “consciência catastrófica de atraso, correspondente à noção de país subdesenvolvido”, com gênese em Simões Lopes Neto, seguido por Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado. Nessa fase se imprimiu à literatura regional brasileira, uma face em que “o peso da consciência social atua por vezes no estilo como fator positivo, dando lugar à procura de interessantes soluções adaptadas à representação de desigualdade e de injustiça”, distanciando-a da denominada “consciência amena do atraso, correspondente ideologia de país novo ”, marcada por uma literatura que “se fez linguagem de celebração e terno apego, favorecida pelo Romantismo, com o apoio da hipérbole e na transformação do exotismo como estado de alma”. Para Cândido, sobre a expressão do regionalismo de João Cabral, ele diz que “[...] ninguém elaborou expressão poética mais revoltada e pungente para expor a miséria, o destino esmagado do homem pobre, no caso o do Nordeste”. A partir de tais considerações, este trabalho tem como objetivo principal analisar a construção da identificação cultural no Auto de João Cabral. Parte-se de como a construção da Identidade Cultural de Severino, figura central desse texto, vai apresentando diferentes pertencimentos, ora como sujeito individual, ora como sujeito coletivo. Tal conceito de Santos constitui-se como importante categoria de análise, que pode ser empregada, em toda primeira

é de todo mundo. A gente tem uma tendência a acreditar que não morre. Pensar que vai morrer prejudica um pouco a qualidade de vida, e eu sou um apaixonado pela vida, amo profundamente a vida. Olhe que essa maldita tem me maltratado, mas eu gosto dela. No Romance da Pedra do Reino, Quaderna tem um sonho no qual a Caetana (a morte) como que dita para ele palavras de fogo. O senhor teve algum tipo de sonho ou de alucinação durante o período em que escrevia a obra? Não, ordinariamente eu não tenho... Às vezes eu tenho uns sonhos que se transformam em literatura. Por exemplo, tenho um poema chamado “Sonho” que realmente foi um sonho. E às vezes quando não estou acordado ainda, mas não estou mais dormindo, é o momento em que invento muita coisa, que penso em muitos textos; é muito criativo.

Grupo de jovens reza ao redor de velas, fazendo oferendas a Deus

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produção textual: análise

Essa experiência mudou seu jeito de perceber o mundo e as pessoas? Não. Poucos dias antes de adoecer eu dei uma entrevista em que me perguntaram se eu tinha medo da morte. E eu disse: eu não gosto de contar valentia antecipada, acho que a gente só pode dizer que não tem medo de alguma coisa depois de enfrentá-la. Agora, até onde eu vejo, eu não tenho medo da morte. Eu tenho pena de morrer sem ter realizado certas coisas. Por exemplo: se visse que não dava para terminar o romance que escrevo, aí teria muito pena de morrer. Engraçado, quando eu estava lá no hospital nos primeiros momentos, que descobri que tinha tido um infarto –fui saber disso no hospital– eu me agoniei muito porque tinha deixado o manuscrito aqui em casa. Primeiro eu dividi o livro grande em vários livros. Cada capítulo do livro é escrito em forma de cartas, e toda carta termina do mesmo jeito. Porque eu digo lá que fiz um pacto com Deus, e fiz mesmo: se ele achasse que o romance tinha alguma coisa de sacrílego ou de desrespeitoso, que interrompesse pela morte. Qual é o jeito, quais são as palavras? A gente tem uma tendência a responder a verdade, né? É uma tentação desgraçada. Bom, todas terminam com um verso, um martelo gabinete e um martelo agalopado. O martelo gabinete é um martelo de seis versos de dez sílabas, e o martelo agalopado são dez versos de dez sílabas. O senhor já deu por encerrado o seu trabalho várias vezes, mas sempre o retomou. Os acontecimentos recentes forçaram o sr a finalmente encerrar pra valer? Forçaram. Eu me forcei a dar o ponto. Mas repare bem: mesmo assim, só há poucos dias eu tomei a decisão definitiva. Primeiro, eu, com medo por causa do infarto, decidi que publicaria as duas primeiras cartas. Depois do infarto, já em casa, resolvi que dava para juntar mais duas, quatro. Depois mais duas, seis. O primeiro volume está concluído. Esse primeiro volume já pode ser lançado em breve? Eu terminei meu texto. Mas ele está grande, em folhas de tamanho ofício, precisa ser reduzido. As ilustrações já estão prontas. Porque eu quero pegar a cultura brasileira desde o começo mesmo, mostrar que isso aqui não envelhece não. Uma obra de arte está feita para ser reinterpretada, revista, revisada. E também me baseei muito em desenhos barrocos

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produção textual: conto

O Santo que não acreditava em Deus Por João Ubaldo Ribeiro Foto José Mateus Bichara

Na foto, sr. Raimundo em sua residência, onde nasceu e cresceu

parte do Auto, quando o protagonista, Severino, na tentativa de apresentar-se, apresenta muito mais a sua condição de carência e subordinação, assumindo a “identidade da subclasse” a qual para Bauman “é a ausência de identidade, abolição ou negação da individualidade, ‘do rosto’[...]”. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra. A crise de identidade de Severino, quando se identifica a tantos Severinos iguais em tudo na vida, nos remete à crise do pertencimento em Bauman: tornamo-nos conscientes de que o ‘pertencimento’ e a ‘identidade’não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis [...] a idéia de ‘ter uma identidade’ não vai ocorrer às pessoas enquanto o ‘pertencimento’ continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa. Condição sem alternativa, essa é a voz que ecoa em todo o Auto de Cabral da qual seu protagonista, tenta, inutilmente, desviar-se em sua “peregrinação” rumo ao litoral pernambucano, carregando o seu pertencimento de vida Severina, como destino, o que evidencia o quanto ele é vítima do sistema social, e não, apenas, do geográfico como insistem alguns. Nessa trajetória de Severino, marcada pela certeza da morte e a incerteza da vida cabe-lhe bem o conceito de “A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante”.

Temos várias espécies de peixe neste mundo, havendo o peixe que come lama, o peixe que come baratas do molhado, o peixe que vive tomando sopa fazendo chupações na água, o peixe que, quando vê a fêmea grávida pondo ovos, não pode se conter e com agitações do rabo lava a água de esporras a torto e a direito ficando a água leitosa, temos o peixe que persegue os metais brilhantes, umas cavalas que pulam para fora bem como tainhas, umas corvinas quase que atômicas, temos por exemplo o niquim, conhecido por todas as orlas do Recôncavo, o qual peixe não somente fuma cigarros e cigarrilhas, preferindo a tálvis e o continental sem filtro, hoje em falta, mas também ferreia pior do que uma arraia a pessoa que futuca suas partes, rendendo febre e calafrios, porventura caganeiras, mormente frios e tantas coisas, temos os peixes tiburones e cações, que nunca podem parar de nadar para não morrer afogados. É engraçado que eu entenda tanto de peixe e quase não pegue, mas entendo. Os peixes miúdos de moqueca são: o carapicu, o garapau, o chicharro e a sardinha. Entremeados, podemos ferrar o baiacu e o barrigame-dói, o qual o primeiro é venenoso e o segundo causa bostas soltas e cólicas. De uma ponte igual a essa, que já foi bastante melhor, podemos esperar também peixes de mais de palmo, porém menos de dois, que por aqui passam, dependendo do que diz o rei dos peixes, dependendo de uma coisa e outra. Um budião, um cabeçudo, um frade, um barbeiro. Pode ser um robalo ou uma agulha ou ainda uma moréia, isto dificilmente. O bom da pesca do peixe miúdo é quando estão mordendo verdadeiramente e sentamos na rampa ou então vamos esfriando as virilhas nestas águas de agosto e ficamos satisfeitos com aquela expedição de pescaria e nada mais desejamos da vida. Ou quando estamos como assim nesta canoa, porém nada mordendo, somente carrapatos. Nesses peixes miúdos de moqueca, esquecia eu de mencionar o carrapato, que não aparece muito a não ser em certas épocas, devendo ter recebido o nome de carrapato justamente por ser uma completa infernação, como os carrapatos do ar. Notadamente porque esse peixe carrapato tem a boca mais do que descomunal para o tamanho, de modo que botamos um anzol para peixes mais fundos, digamos um vermelho, um olho-de-boi, um peixe-tapa, uma coisa decente, quando que me vem lá de baixo, parecendo uma borboletinha pendurada na ponta da linha, um carrapato. Revolta a pessoa. E estou eu colocando uma linha de náilon que me veio de Salvador por intermédio de Luiz Cuiúba, que me traz essa linha verde e grossa, com dois chumbos de cunha e anzóis presos por uma espécie de rosca de arame, linha esta que não me dá confiança, agora se vendo que é especializada em carrapatos. Mas temos uma vazante despreocupada, vem aí setembro com

EM BUSCA DE SEU LAR Interessante retomar Santos (2003) à abordagem sobre encontros e desencontros de Severino nos espaços da obra. Tem-se aqui como espaços, o trajeto que ele percorre pelo Sertão, Agreste, Zona da Mata e Litoral pernambucano. Resgate-se, para tanto o conceito dele de zona fronteiriça, como uma zona híbrida, que sugere mobilidade. Nessa lógica, percebe-se que o deslocamento de Severino do sertão – litoral (cidade) ocorre na dialética entre a heterogeneidade externa, (diferenças encontradas nos aspectos físicos/geográficos dos já citados espaços da obra) e a homogeneidade interna caracterizada pela mesmice que frustra as expectativas de Severino em sua trajetória. Outro aspecto que merece enfoque ainda sobre a zona fronteiriça de Santos, parte-se do fato dela ser definida como “uma metáfora que ajuda o pensamento a transmutar-se em relações sociais e políticas. E não esqueçamos que a metáfora é o forte de cultura de fronteira [...]”. Associa-se a tal citação o fato de Severino ser considerado uma metáfora que representa uma realidade político-social do Nordeste brasileiro, numa insistente tentativa de transmutar-se. Saliente-se, ainda, o que pode ser interpretado como a fronteira metafísica da obra, com a qual Severino dialoga em todo transcurso do texto, a morte e a vida. O segundo viés de abordagem deste trabalho apresenta elementos textuais que evidenciam uma grande articulação entre o estético e cultural no poema de João Cabral. É inquestionável a forma como algumas práticas significativas, representativas, majoritariamente, da cultura nordestina, se constituem como elementos importantes que possibilitam diferentes leituras em Morte e Vida Severina. O que não poderia ser diferente considerando que o texto fora produzido “a pedido” para ser encenado, logo, a sua plástica, observada em toda obra, é marcada por fortes imagens visuais e auditivas, carregadas de simbologia que dão ao texto uma beleza enxuta, típica da poesia cabralina, que em Morte e Vida Severina se tornou maravilhosamente árida. Cândido diz sobre a poesia de João Cabral que: “As suas emoções se organizam em torno dos objetos precisos que servem de sinais significativos do poema - cada imagem material tendo de fato, em si, um valor que a torna fonte de poesia, esqueleto que é do poema”. Interessante também observar, em entrevista à Revista Manchete em agosto de 1976, a forma como João Cabral assume a influência que sua obra recebeu de Murilo Mendes: nenhum poeta brasileiro me ensinou como ele a importância

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produção textual: análise

do visual sobre o conceitual, do plástico sobre o musical. Sua poesia ensinou que a palavra concreta, porque sensorial é sempre mais poética do que a palavra abstrata, e que assim a função do poeta é dar a ver (a cheirar, a tocar, a provar, de certa forma a ouvir: enfim, a sentir o que ela quer dizer, isto é, a pensar). Sob forte influência medieval, o poema condensou vários aspectos do folclore, na qual João Cabral deixa claro sua intenção de homenagear a todas as literaturas ibéricas. Como diz o próprio autor, entre outras considerações, deveras pertinentes, a essa proposta abordagem: Esse texto não poderia ser mais denso. Era obra para teatro, encomendada por Maria Clara Machado [...]. Pesquisei num livro sobre o folclore pernambucano, publicado no início do século, de autoria de Pereira da Costa [...]. A cenaem que há o nascimento, por meio de outras palavras, está localiza em Pereira da Costa [...]. “Todo céu e terra lhe cantam louvor” também é literal do antigo pastoril pernambucano. O louvor das belezas do recém-nascido e os presentes que ganha existem no pastoril. As duas ciganas estão em Pereira da Costa [...]. Eu só alterei as belezas e os presentes [...]. Com Morte e Vida Severina, quis prestar uma homenagem a todas as literaturas ibéricas. Os monólogos do retirante provêm do romance castelhano. A cena do enterro na rede é do folclore catalão. O encontro com os cantores de incelências é típico do Nordeste. [...]. Como disse o autor esta passagem existe no pastoril pernambucano e ele só alterou os presentes. Observe-se como a originalidade dessa alteração imprimiu ao texto, sem exotismos, a forte marca da cultura nordestina. Os presentes que a mãe e o recém-nascido recebem são: caranguejos, leite de outra mãe, papel de jornal, água da bica, canário-da-terra, bolacha d’água, boneco de barro, pitu, abacaxi, rolete de cana, tamarindos, ostras, jaca, mangabas, cajus, peixe, siris, carne de boi, mangas e goiamuns. A origem e a natureza desses presentes apresentam e representam a geografia sócio-econômica e cultural de bairros de Recife e cidades pernambucanas, que na realidade, refletem bairros e cidades de qualquer cidade do Nordeste brasileiro. Assim, tal qual Severino, Pernambuco/Recife se constitui numa metáfora que evoca ao texto, mais uma vez, a lógica da cultura de fronteira de Santos, já apresentada neste, ratificada nas palavras de João Cabral “[...] o Recife é o depósito de miséria de todo Nordeste”. Miséria denunciada através de uma linguagem coesa e engajada, sutilmente trabalhada, retomando o medievalismo característico do passado colonial, evidenciado no latifúndio, coronelismo, teocentrismo, temas abordados no texto na interpretação dialética entre obra de arte e meio social de Antonio Cândido.

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produção textual: conto

Retrato de um pescador no pier, em seu trabalho

O forte apelo social do Auto de Cabral expõe os conflitos existentes no texto, partindo das claras dicotomias identidade x identificação, inclusão x exclusão, luta x resistência, morte x vida, no cenário do regionalismo nordestino de meados da década de 50 que vê “na degradação do homem uma consequência da espoliação econômica, não do seu destino individual”. Retome-se, ainda, a questão do espaço da obra que, embora tenha sido claramente delimitado no texto, aparenta ser mais simbólico que real, representa a exclusão social, marcada pela realidade econômica do subdesenvolvimento que “mantém a dimensão do regional como objeto vivo”. Quanto à cronologia, o tempo apresenta-se marcado pela problemática da migração, devido à seca, o que o evidencia como ilimitado. Enfim, o Auto, Morte e Vida Severina é um claro exemplo de como João Cabral articulou o estético e o cultural numa perspectiva estruturalista que, embora escrito na década de 50, se permite a leituras e abordagens que se valem, também, de conceitos e categorias recentes de análises literárias

Sr. Raimundo a caminho do trabalho, em seu principal meio de transporte

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suas arraias no céu e, com esses dois punhados de camarão miúdo que Sete Ratos me deu, eu amarro a canoa nos restos da torre de petróleo e solto a linha pelos bordos, que não vou me dar ao desfrute de rodar essa linha esquisita por cima da cabeça como é o certo, pode ser que alguém me veja. Daqui diviso os fundos da Matriz e uns meninos como formiguinhas escorregando nas areias descarregadas pelos saveiros, mas o barulho deles chega a mim depois da vista e assim os gritos deles parecem uns rabos compridos. Temos uma carteira quase cheia de cigarros; uma moringa, fresca, fresca; meia quartinha de batida de limão; estamos sem cueca, a água, se não fosse a correnteza da vazante, era mesmo um espelho; não falta nada e então botamos o chapéu um pouco em cima do nariz, ajeitamos o corpo na popa, enrolamos a linha no tornozelo e quedamos, pensando na vida. Nisso começa o carrapato, que no princípio tive na conta de baiacus ladrões. Quem está com dois anzóis dos grandes, pegou isca de graça e a mulher já mariscou a comida do meio-dia pode ser imaginado que não vai dar importância a beliscão leve na linha. Nem leve nem pesado. Se quiser ferrar, ferre, se não quiser não ferre. Isso toda vez eu penso, como todo mundo que tem juízo, mas não tem esse santo que consiga ficar com aqueles puxavantes no apeador sem se mexer e tomar uma providência. Estamos sabendo: é um desgraçado de um baiacu. Se for, havendo ele dado todo esse trabalho, procuremos arrancar o anzol que o

miserável engole e estropia e trataremos de coçar a barriga dele e, quando inchar, dar-lhe um pipoco, pisando com o calcanhar. Mas como de fato não é um baiacu, mas um carrapato subdesenvolvido, um carrapatinho de merda, com mais boca do que qualquer outra coisa, boca essa assoberbando um belo anzol preparado pelo menos para um dentão, não se pode fazer nada. Um carrapato desses a pessoa come com uma exclusiva dentada com muito espaço de sobra, se valesse a pena gastar fogo com um infeliz desses. Vai daí, carrapato na poça d’água do fundo da canoa e, dessa hora em diante, um carrapato por segundo mordendo o anzol, uma azucrinarão completa. Foi ficando aquela pilha de carrapatinhos no fundo da canoa e eu pensei que então não era eu quem ia aparecer com eles em casa, porque com certeza iam perguntar se eu tinha catado as costas de um jegue velho e nem gato ia querer comer aquilo. Pode ser que essa linha de Cuiúba tenha especialidade mesmo em carrapato, pode ser qualquer coisa, mas chega a falta de vergonha ficar aqui fisgando esses carrapatos, de maneira que só podemos abrir essa quartinha, retirar o anzol da água, verificar se vale a pena remar até o pesqueiro de Paparrão nesta soalheira, pensar que pressa é essa que o mundo não vai acabar, e ficar mamando na quartinha, viva a fruta limão, que é curativa. Nisto que o silêncio aumenta e, pelo lado, eu sinto que tem alguma coisa em pé pelas biribas da torre velha e eu não tinha visto nada antes, não podendo também ser da aguardente, pois que muito mal tomei dois goles. Ele estava segurando uma biriba coberta de ostras com a mão direita, em pé numa escora, com as calças arregaçadas, um chapéu velho e um suspensório por cima da camisa. Ora, uma manta de azeiteiras vem vindo bendodela, costeando o perau. É conhecida porque quebra a água numa porção de pedacinhos pela flor e aquilo vai igual a muitas lâminas, bordejando e brilhando. Mas dessas azeiteiras, como as peixas chamadas solteiras, não se pode esperar que mordam anzol, nem mesmo morram de bomba. Assim levamos um certo tempo, porque ele se encabulou, me afirmando que não apreciava mentir, razão por que preferia não se apresentar, mas eu disse que não botava na minha canoa aquele de quem não saiba o nome e então ficasse ele ali o resto da manhã, a tarde e a noite pendurado nas biribas, esperando Deus dar bom tempo. Mas que coisa interessante, disse ele dando um suspiro, isso que você falou. Mais ligeiro que o trovão, botou os braços para cima e tome tudo quanto foi tipo de linha saindo pelos dedos dele, parecia um arco-íris. Ele aí ficou todo monarca, olhando para mim com a cara de quem eu não sou nem principiante em peixe e pesca. Mas o que aconteceu? Aconteceu que, na mesma hora, cada um dos anzóis que ele botou foi mordido por um carrapato e, quando ele puxou, foi aquela carrapatada no meio da canoa. Eu fiz: quá-quá-quá, não está vendo tu que temos somente carrapatos?

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entrevista

Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez pacto com Deus para terminar livro “Mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não. Se você quiser, recito todinho o episódio de Inês de Castro, de Os Lusíadas, brincou Ariano Suassuna, 86

Para que eu disse isto, amigo, porque me saiu um mero que não tinha mais medida, saiu esse mero de junto assim da biriba, dando um pulo como somente cavacos dão e me passou uma rabanada na cara que minha cara ficou vermelha dois dias depois disto. Pois não é que ele mandou esse banho, tendo saído uma onda da parte da Ponta de Nossa Senhora, curvando como uma alface aborrecida a ponta da coroa, a qual onda deu tamanha porrada na canoa que fiquemos flutuando no ar vários momentos. Fui caindo de pau no elemento, nisso que ele se vira num verdadeiro azougue e me desce mais que quatrocentos sopapos bem medidos, equivalentemente a um catavento endoidado e, cada vez que eu levantava, nessa cada vez eu tomava uma porrada encaixada. Terminou nós caindo das nuvens, não sei qual com mais poeira em torno da garupa. Ele, no meio da queda, me deu uns dois tabefes e me disse: está convertido, convencido, inteirado, percebido, assimilado, esclarecido, explicado, destrinchado, compreendido, filho de uma puta? E eu disse sim senhor, Deus é mais. Pare de falar em mim, sacaneta, disse ele, senão lhe quebro todo de porrada. Reze aí um padre-nosso antes que eu me aborreça, disse ele. Cale essa matraca, disse ele. Então eu fui me convencendo, mesmo porque ele não estava com essas paciências todas, embora se estivesse vendo que ele era boa pessoa. Esclareceu que, se quisesse, podia andar em cima do mar, mas era por demais escandaloso esse comportamento, podendo chamar a atenção. Que qualquer coisa que ele resolvesse fazer ele fazia e que eu não me fizesse de besta e que, se ele quisesse, transformava aqueles carrapatos todos em lindos robalos frescos. No que eu me queixei que dali para Maragogipe era um bom pedaço e que era mais fácil um boto aparecer para puxar a gente do que a gente conseguir chegar lá antes que a feira acabasse e aí ele mete dois dedos dentro da água e a canoa sai parecendo uma lancha da Marinha, ciscando por cima dos rasos e empinando a proa como se fosse coisa, homem ora. Achei falta de educação não oferecer um pouco do da quartinha, mas ele disse que não estava com vontade de beber. Nisso vamos chegando muito rapidamente a Maragogipe e Deus puxa a poita desparramando muitos carrapatos pelos lados e fazendo a alegria dos siris que por ali pastejam e sai como que nem um peixe-voador. No meio do caminho, ele passa bastante desencalmado e salva duas almas com um toque só, uma coisa de relepada como somente quem tem muita prática consegue fazer, vem com a experiência. Porque ele nem estava olhando para essas duas almas, mas na passagem deu um toque na orelha de cada uma e as duas saíram voando ali mesmo, igual aos martins depois do mergulho. Mas aí ele ficou sem saber para onde ia, na beira da feira, e então eu cheguei perto dele. Nessa hora eu quase ia me aborrecendo, mas uma coisa fez que eu não

Por Fábio Victor Fotos Felipe Rau Na tarde/noite daquele dia, quase quatro meses depois de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e tratar um aneurisma cerebral, o escritor e dramaturgo cedeu sua casa no Recife para uma entrevista exclusiva, a primeira depois de duas internações e do repouso forçado. Para pôr fim ao primeiro livro daquela que considera a obra de sua vida – e que deverá ter sete volumes, mesclando romance, poesia, teatro e gravura –, Ariano afirma ter tido uma ajuda divina. A obra concluída – ainda sem previsão de lançamento – será um romance epistolar, chamado O Jumento Sedutor, homenagem a O Asno de Ouro, do escritor Lucius Apuleio, do século II. A série completa levará o nome de A Ilumiara. Depois de quase quatro meses entre internações e repouso, o sr. retomou as atividades públicas ontem numa aula-espetáculo. Como o senhor se sente? Eu tive dois infartes e um aneurisma estourou no meu cérebro. Eu fazia muita questão de dar essa aula. Eu disse para mim mesmo que só não dava a aula se não tivesse a menor condição. E queria avaliar minhas forças, para saber se podia continuar, dentro desse pequeno prazo que a gente ainda tem no mandato de Eduardo Campos, que deixará o cargo até abril para disputar a Presidência, podia continuar a programação que a gente vinha seguindo de aulas-espetáculos. Combinei que a gente faria essa no Recife e, de acordo com o comportamento do meu corpo, a gente daria outra em Pombos. O senhor já disse em outras entrevistas que se recusava a morrer e que toda morte é como um suicídio. Como essa experiência afetou a maneira com que o senhor lida com ela? Não afetou não. É claro que, objetivamente, eu sei que vou morrer. Não sei se você já notou, mas nenhum de nós acredita que morre, o que é uma bênção. A gente se porta a vida toda como se nunca fosse morrer, o que é muito bom. Porque se a gente for pensar na morte como uma coisa fundamental, inevitável e próxima, a gente vai perder o gosto de viver, vai perder o gosto de tudo. Eu digo isso procurando verbalizar uma inclinação que acho que

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mandasse ele para algum lugar, por falar dessa maneira sem educação. É que, sendo ele Deus, a pessoa tem de respeitar. Minto: três coisas, duas além dessa. A segunda é que pensei que ele, sendo carpina por profissão, não estava acostumado a finuras, o carpina no geral não alimenta muita conversa nem gosta de relambórios. A terceira coisa é que, justamente por essa profissão e acho que pela extração dele mesmo, ele era bastante desenvolvidozinho, aliás, bem dizendo, um pau de homem enormíssimo, e quem era que estava esquecendo aquela chuva de sopapos e de repente ele me amaldiçoa feito a figueira e eu saio por aí de perna peca no mínimo, então vamos tratar ele bem, quem se incomoda com essas bobagens? Indaguei com grande gentileza como é que eu ia ajudar que ele achasse essa bendita dessa criatura que ele estava procurando logo na feira de Maragogipe, no meio dos cajus e das rapaduras, que ele me desculpasse, mas que pelo menos me dissesse o nome do homem e a finalidade da procura. Ele me olhou assim na cara, fez até quase que um sorriso e me explicou que ia contar tudo a mim, porque sentia que eu era um homem direito, embora mais cachaceiro do que pescador. Em outro caso, ele podia pedir segredo, mas em meu caso ele sabia que não adiantava e não queria me obrigar a fazer promessa vã. Que então, se eu quisesse, que contasse a todo mundo, que ninguém ia acreditar de qualquer jeito, de forma que tanto faz como tanto fez. E que escutasse tudo direito e entendesse de

Interior de uma igreja no Ceará

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MANCHAS DIAGRAMA SEÇÃO

Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano (1954-1955), peça literária de natureza regionalista, tradição medieval, forte religiosidade, linguagem próxima do registro oral, apresenta vários aspectos do folclore em sua construção formal, distribuídos ao longo dos dezoito trechos que compõem a obra. Nela, João Cabral de Melo Neto, distancia-se do hermetismo, característica marcante em sua produção poética e escreve para ser entendido pelo povo, o que o faz sem tornar o seu texto “popular”, embora o mesmo o tenha popularizado. Aliando forma, conteúdo e linguagem numa tríade, para alguns, perfeita, Morte e Vida Severina atribui um caráter singular à poesia cabralina. Para Antônio Cândido, “o regionalismo foi e ainda é força estimulante na literatura da América Latina”. É fato que, no Brasil, a produção literária regionalista é marcada pela prosa. Em Morte e Vida Severina, João Cabral acentua a quebra dessa hegemonia apresentando um Auto fortemente centrado na temática regionalista, o que já ocorria, de forma mais diluída, em sua obra. Importante, ainda, localizar a produção cabralina no período que, segundo Cândido, corresponde a uma consciência dilacerada do atraso, que teve como precursora a fase da “consciência catastrófica de atraso, correspondente à noção de país subdesenvolvido”, com gênese em Simões Lopes Neto, seguido por Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado. Nessa fase se imprimiu à literatura regional brasileira, uma face em que “o peso da consciência social atua por vezes no estilo como fator positivo, dando lugar à procura de interessantes soluções adaptadas à representação de desigualdade e de injustiça”, distanciando-a da denominada “consciência amena do atraso, correspondente ideologia de país novo ”, marcada por uma literatura que “se fez linguagem de celebração e terno apego, favorecida pelo Romantismo, com o apoio da hipérbole e na transformação do exotismo como estado de alma”. Para Cândido, sobre a expressão do regionalismo de João Cabral, ele diz que “[...] ninguém elaborou expressão poética mais revoltada e pungente para expor a miséria, o destino esmagado do homem pobre, no caso o do Nordeste”. A partir de tais considerações, este trabalho tem como objetivo principal analisar a construção da identificação cultural no Auto de João Cabral. Parte-se de como a construção da Identidade Cultural de Severino, figura central desse texto, vai apresentando diferentes pertencimentos, ora como sujeito individual, ora como sujeito coletivo. Tal conceito de Santos constitui-se como importante categoria de análise, que pode ser empregada, em toda primeira parte do Auto, quando o protagonista, Severino, na tentativa de apresentar-se, apresenta muito mais a sua

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produção textual: resenha

produção textual: conto

uma vez logo tudo, para ele não ter de repetir e não se aborrecer. Mas Deus, ah, você não sabe de nada, meu amigo, a situação de Deus não está boa. Você imagine como já é difícil ser santo, imagine ser Deus. Depois que eu fiz tudo isto aqui, todo mundo quer que eu resolva os problemas todos, mas a questão é que eu já ensinei como é que resolve e quem tem de resolver é vocês, senão, se fosse para eu resolver, que graça tinha? É homens ou não são? Se fosse para ser anjo, eu tinha feito todo mundo logo anjo, em vez de procurar tanta chateação com vocês, que eu entrego tudo de mão beijada e vocês aprontam a pior melança. Mas, não: fiz homem, fiz mulher, fiz menino, entreguei o destino: está aqui, vão em frente, tudo com liberdade. Aí fica formada por vocês mesmos a pior das situações, com todo mundo passando fome sem necessidade e cada qual mais ordinário do que o outro, e aí o culpado sou eu? Inclusive, toda hora ainda tenho de suportar ouvir conselhos: se eu fosse Deus, eu fazia isto, se eu fosse Deus eu fazia aquilo. Deus não existe porque essa injustiça e essa outra e eu planejava isso tudo muito melhor e por aí vai. Agora, você veja que quem fala assim é um pessoal que não acerta nem a resolver um problema de uma tabela de campeonato, eu sei porque estou cansado de escutar rezas de futebol, costumo mandar desligar o canal, só em certos casos não. Todo dia eu digo: chega, não me meto mais. Mas fico com pena, vou passando a mão pela cabeça, pai é pai, essas coisas. Agora, milagre só em último caso. Tinha graça eu sair fazendo milagres, aliás tem muitos que me arrependo por causa da propaganda besta que fazem, porque senão eu armava logo um milagre grande e todo mundo virava anjo e ia para o céu, mas eu não vou dar essa moleza, está todo mundo querendo moleza. A dar essa moleza, eu vou e descrio logo tudo e pronto e ninguém fica criado, ninguém tem alma, pensamento nem vontade, fico só eu sozinho por aí no meio das estrelas me distraindo, aliás tenho sentido muita falta. É porque eu não posso me aporrinhar assim, tenho que ter paciência. Senão, disse ele, senão… e fez uma menção que ia dar um murro com uma mão na palma da outra e eu aqui só torcendo para que ele não desse, porque, se ele desse, o mínimo que ia suceder era a refinaria de Mataripe pipocar pelos ares, mas felizmente ele não deu, graças a Deus. Então, explicou Deus, eu vivo procurando um santo aquifparticular e, de repente, se desentenderam. Eu, que fiquei sentado longe, só ouvia os gritos, meio dispersados pelo vento. E só quebrando porrada, pelo barulho, e eu achando que, se Deus não ganhasse na conversa, pelo menos ganhava na porrada, eu já conhecia. Mas não era coisa fácil. De volta de meia-noite e meia até umas quatro, só se ouvia aquele cacete: deixe de ser burro, infeliz

Foto da coleção Exôdos, composta em seis anos, por quarenta países

A CAMINHADA Após a morte de Lucas Arvoredo, assumiu o posto de cangaceiro mais perigoso dos sertões. Jão, o primeiro filho de Jucundina a sair de casa. Foi ser soldado de polícia. Decidiram se unir ao Beato Estêvão, que atraía milhares de camponeses com sua pregação, convertendo-se em perigo à ordem do latifúndio. Numa noite enluarada, Jão e um grupo de policiais apertavam o cerco contra Beato e seus seguidores quando um tiro certeiro do fuzil de Zé Trevoada o atingiu. Soltando gritos de guerra, Trevoada seguiu o combate com os “macacos” da polícia sem saber que tirara a vida de seu irmão. Juvêncio, no exército “o cabo juvêncio”, ligou-se ao Partido Comunista do Brasil. Era militante estudioso, simples, respeitado pelos companheiros. A Aliança Nacional Libertadora, conunto de organizações e personalidades revolucionárias e democráticas, realizava intenso trabalho de agitação revolucionária. Mais que o pão e a liberdade era a palavra terra que tocava seu coração sertanejo. Via a alegria no rosto dos colonos, dos meeiros e dos trabalhadores quando aquelas terras que eles lavraram lhes fossem entregues. DIAS DE COMBATE Quirino, quadro responsável do partido, foi o comandante do levantamento no 21º Batalhão de Caçadores. Ele e Juvêncio eram bons companheiros. Juvêncio respeitava sua liderança e, humildemente, percebendo as dificuldades do camarada, o auxiliava politicamente esclarecendo as diretivas do partido. Em 24 de novembro de 1935, atendendo as diretivas da Anl e do partido, o 21º Bc se levantou. Houve resistência e combates. Juvêncio chefiou o assalto que fez calar a metralhadora dos que resistiam ao levantamento. Com he-

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Registro da iniciação de iaôs na Bahia

produção textual: ensaio

roísmo, assumiu a frente do ataque e teve seu corpo varado por balas, abrindo passagem para seus companheiros que saíram vitoriosos. Acordou no hospital inquieto e não houve quem o segurasse. No quartel, reinava a indisciplina com a chegada de notícias da derrota dos levantamentos em outras localidades. Provocadores espalhavam notícias de que tropas federais marchavam para sufocar a revolução. Apesar de gravemente ferido, Juvêncio voltou ao quartel, mandou prender um bêbado e restabeleceu a disciplina apresentando-se ao comando de Quirino. Juvêncio conferenciou com Quirino. Organizariam os homens mais leais e conscientes, aqueles que eram comunistas, aliancistas e guardavam fidelidade à revolução, em colunas de guerrilheiros que se internariam pelo sertão, na caatinga, e ali levantariam os camponeses, à espera do movimento no Sul que eles consideravam inevitável. Voltariam depois sobre a capital. Os dirigentes concordaram e, naquela mesma noite, Juvêncio fez partir colunas de guerrilheiros, dando-lhes o melhor da munição. A COLHEITA Brutal repressão se abateu sobre os revoltosos. Juvêncio foi preso em Ilha Grande (Rj) junto a outros prisioneiros políticos. Novamente demonstrou suas qualidades de firme comunista diante dos torturadores e do tribunal. Assumiu a responsabilidade do movimento e nada mais disse. O seu depoimento ficou reduzido à seguinte frase: “Nada declarou.” Jucundina e Tonho o visitavam na prisão e lá conheceram homens de novo tipo, que trouxeram a alegria e a esperança de volta ao seio de sua mãe e uma chispa à vida do sobrinho. Após sua libertação, Juvêncio cumpria tarefas do partido no Rio de Janeiro quando um dirigente nacional chega entusiasmado de um ativo de camponeses lhe traz a boa nova: “Cada camponês que faz gosto. Conscientes e capazes... E um deles é teu sobrinho… O menino vai longe.” E assim, Tonho, que percorreu os caminhos da fome e viu sua terra ficar para trás, que sobreviveu a travessia de barco e a disenteria, que cruzou as estradas da esperança, ingressa nas fileiras do Partido Comunista do Brasil e se torna um destacado ativista camponês. A direção do partido encarrega Juvêncio de fazer o caminho de volta ao sertão e organizar os camponeses. “E pela madrugada, quando as sombras ainda envolviam os campos úmidos de orvalho, e no ar se elevava aquele cheiro poderoso de terra, Neném partiu para a caatinga pelo mesmo caminho seguido um dia por Jerônimo e sua família. Os brotos de dor e de revolta cresciam naquela seara vermelha de sangue e fome, era chegado o tempo da colheita”

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produção textual: poema

Máscara mortuária de Graciliano Ramos

A voz dos excluídos na literatura A representação dos personagens marginalizados em Vidas Secas e em A Hora da Estrela

Por Vinícius de Moraes Foto Cláudio Maranhão

Por Nicole Ayres Foto José Medeiros

Feito só, sua máscara paterna, Sua máscara tosca, de acre-doce Feição, sua máscara austerizou-se Numa preclara decisão eterna.

A personagem Macabéa, em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, marginalizada pela sociedade, é representada psicologicamente no romance, através da voz do narrador. Semelhante recurso já havia sido utilizado na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em que os membros da família de retirantes nordestinos, quase sem linguagem própria, adquirem a humanidade que lhes falta pelo método narrativo. No entanto, Macabéa, transportada para o meio urbano, evidencia ainda mais o processo de exclusão cultural no Brasil, que muda seus meios, mas não sua essência.

Feito só, feito pó, desencantou-se Nele o íntimo arcanjo, a chama interna Da paixão em que sempre se queimou Seu duro corpo que ora longe inverna. Feito pó, feito pólen, feito fibra Feito pedra, feito o que é morto e vibra Sua máscara enxuta de homem forte.

A TEMÁTICA DO DESAJUSTE Personagens desajustados na sociedade encaixam-se perfeitamente no plano da literatura. Esse é o caso de Fabiano (Vidas Secas) e Macabéa (A Hora da Estrela), que vivem na aridez do sertão nordestino e no anonimato da vida urbana, respectivamente. Segundo a classificação do crítico Antonio Candido, Vidas Secas, de 1938, poderia ser inserido na “fase de pré-consciência do subdesenvolvimento”, enquanto A Hora da Estrela, de 1977, já se encontraria na “fase da consciência catastrófica do atraso”. Fugindo de idealizações românticas ou exotismos regionalistas, as duas obras expõem a situação de miséria e exploração dos migrantes nordestinos no Brasil; uma situação que não muda, apenas se transforma com o tempo, tornando-se cada vez mais sutil e cruel. A família de retirantes de Vidas Secas vivencia o drama da falta: de um lar, de um futuro, de uma linguagem. A constante ameaça da seca lhes impõe uma vida nômade, sem perspectivas, guiada pelo instinto de sobrevivência. Por isso, são eternos peregrinos, em um mundo em que não há lugar para eles. Fabiano, o patriarca, é um vagabundo empurrado pela seca. No entanto, quando a seca chega, devastadora, todos se igualam, todos perdem tudo, diferentemente do que acontece na cidade grande, em que os mais preparados, bem instruídos levarão vantagem na luta pela sobrevivência. No sertão, o inimigo é a natureza; na cidade, o inimigo é o próprio homem. Em A Hora da Estrela, Macabéa, alagoana que se muda já adulta com a tia para o Rio de Janeiro, causa pena, repulsa e revolta nos outros personagens, no narrador e no leitor. Feia e desajeitada, alimenta-se de cachorro-quente com Coca-Cola, por ser barato, ganha menos que um salário mínimo e seus pequenos luxos consistem em pintar as unhas de vermelho e ir ao cinema uma vez por mês. Sua condição de penúria é evidente, menos para si mesma. Macabéa é vítima da manipulação alienante da mídia, pela Rádio Relógio, propagadora de cultura inútil, e pelos anúncios que coleciona, de produtos que não tem

Isto revela em seu silêncio à escuta: Numa severa afirmação da luta, Uma impassível negação da morte

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produção textual: música

produção textual: ensaio

Casinha Feliz Por Gilberto Gil Foto Rafaela Konstantyner

No ensaio, o fotógrafo buscou quebrar preconceitos, valorizando a tradição e a beleza da religião

condições de comprar. No meio urbano, o processo de marginalização é mais nítido e se utiliza de mecanismos mais sofisticados: há uma promessa ilusória de futuro, de melhoria de vida, como a premonição da cartomante. Fabiano e Macabéa, nordestinos, “bichos” da mesma espécie, sofrem, de modos distintos, a violência de uma existência invisível: apesar de viverem em ambientes diferentes, caminham para o mesmo destino: criaturas anônimas, subumanas; condenadas a viver à margem do mundo que as cerca. E são conformados: não contestam nada, por não saber como nem a quem e acham natural a exploração que sofrem. Estagnados no tempo e no espaço, Fabianos e Macabéas permeiam nosso país e nossa literatura. Mas A Hora da Estrela vai além da denúncia social: Macabéa representa, no fundo, a miséria inerente a todo ser humano, que nunca é completo, sempre buscam alguma satisfação pessoal; há uma carência essencial que o define. Macabéa, Fabiano, narrador, leitor, são todos marginalizados, excluídos, desajustados, de uma forma ou de outra; todos compartilham, consciente ou inconscientemente, a mesma miséria. Para expressar a situação equivalente de seus personagens, Graciliano Ramos e Clarice Lispector fazem uso de diferentes recursos expressivos. Primeiramente, se a linguagem de Vidas Secas é seca como as vidas que retrata, econômica e regionalista, em A Hora da Estrela a palavra é pulsante, o discurso, verborrágico e fluido.

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Onde resiste o sertão Toda casinha feliz Ainda é vizinha de um riacho Ainda tem seu pé de caramanchão

A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA Os dois narradores são cultos e culpados, aproximam-se e afastam-se de seus personagens, procuram compreendê-l os e sentem-se impotentes diante de sua situação. Ambos os narradores enfrentam a difícil constatação: a mesma palavra utilizada para narrar a história de suas personagens é a mesma que angustia Macabéa e Fabiano: dois seres condenados ao silêncio. Rodrigo S.M., narrador personificado, pseudoautor da história, é um escritor atormentado, que capta no “olhar perdido” de uma nordestina, em meio à massa urbana, a essência de sua protagonista. Aos poucos, essa vida interior de Macabéa vai sendo desvendada, tanto para o narrador quanto para o leitor, que participa ativamente da construção da trama. Enquanto Vidas Secas apresenta um único enredo em que o narrador acompanha a trajetória da família nordestina com um olhar distante e observador, em A Hora da Estrela podem-se identificar três enredos, que se misturam, se complementam e se fundem numa narrativa entrecortada: a história de Macabéa, as inquietações do narrador e o próprio processo da escrita. A trama é interrompida a cada momento para explicações e questionamentos, sempre pertinentes, que ampliam a experiência de leitura. Sendo assim, a metalinguagem e a ironia são peças-chave no desdobramento do texto. Rodrigo S.M. discute o papel do escritor e da escrita, explicitando o processo de construção da obra. Rodrigo narra Macabéa e a si mesmo, instaurando, desse modo, o espelho narrativo. A ironia é retirada da própria vida, e Macabéa é o mais evidente exemplo: tem uma vida nula e uma morte glorificada. A morte é sua hora da estrela, o que dá sentido à sua existência parca. A morte é seu renascimento, e, com ela, o texto nasce e renasce, refaz-se e desfaz-se. Rodrigo se responsabiliza por Macabéa e consegue enxergar-se nela. No entanto, ele faz parte da sociedade que a reprime e usufrui dos confortos que ela não tem; portanto, não pode igualar-se a ela, o que não o impede de construir seu destino em paralelo ao dela. Assim, uma pessoa rala e muda é recolhida pelo olhar arguto de um escritor desorientado que, conduzido pela palavra e desconfiando dela, dá uma forma e um destino a si próprio e à moça nordestina. Além de lhe faltarem recursos para reivindicar condições melhores e uma vida mais digna, Macabéa e Fabiano não sabem a quem reclamar. Afinal, quem é o responsável pela situação desses nordestinos sofridos? A natureza, o governo, a sociedade, a vida, Deus, os próprios personagens ou ninguém? Impossível encontrar os culpados. Por isso, talvez essa seja a grande questão que permeia, sutilmente, as duas obras Sem reação, sem acusações e sem respostas, as perguntas continuam em aberto

Onde resiste o sertão Toda casinha feliz Ainda cozinha no fogão de lenha Ou fogareiro de carvão De dia, Diadorim De noite, estrela sem fim É o Grande Sertão: Veredas Reino da Jabuticaba As minas de Guimarães Rosa De ouro que não se acaba Onde resiste o sertão Toda casinha é feliz Porque à tardinha tem Ave Maria E o beijo da solidão

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produção textual: resenha

Foto da exposição Luta Camponesa

Resenha de uma saga camponesa

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produção textual: música

Quando Dorival Caymmi e Jorge Amado foram parceiros

O destino era São Paulo, terra prometida das histórias de riqueza, mas que de lá ninguém voltava pra contar

Amigos e companheiros, os dois fizeram várias parcerias juntos

Por Mário Lúcio de Paula Foto Sebastião Salgado

Por Luciana Silva Foto Gerônimo de André Lima

O livro Seara Vermelha, escrito por Jorge Amado em 1946, narra a saga de uma família camponesa expulsa pelo latifúndio no início da década de 1930. É a história de Jucundina, Jerônimo, Zefa, Tonho, Noca, Ernesto, Neném, Jão, Zé, Marta, Agostinho e Gertrudes, João Pedro e Dinah, e tantos outros personagens que percorreram os caminhos da fome, viram as cacimbas e as plantações secarem, as criações emagrecerem e morrerem, a sombra dos urubus pairarem sobre suas cabeças. Viram os seus e muitos outros sucumbirem à fome e à sede e seus ossos branquearem em covas rasas sob o sol escaldante do sertão.

A música Retirantes ficou imortalizada na trilha da novela Escrava Isaura, com sua música negra e seus versos fortes. Os autores? Dois imortais: Dorival Caymmi e Jorge Amado. Retirantes é uma das muitas parcerias entre os dois, lembra o blog Universo Amado, um dos trabalhos de conclusão do curso de Jornalismo deste semestre, no Centro Universitário Jorge Amado-Unijorge. O que pouca gente sabe é que a música, na verdade, foi composta para a trilha da peça Terras do Sem Fim, adaptação da obra homônima do escritor baiano. O fato de a trilha ser de Caymmi para a peça foi uma reivindicação de Jorge, conta Zélia Gattai no livro Um chapéu para viagem. “Jorge tinha uma única reivindicação: que as músicas fossem de Dorival Caymmi, disso não abria mão. Jorge e Caymmi eram e são amigos fraternos; Jorge mesmo entraria em contato com o compositor, para acertar os detalhes”. A composição aconteceu no sítio da família Amado, segundo relatos de Zélia. As músicas oram surgindo, cada qual mais linda do que a outra. Todas elas compostas entre risadas e alegria, muito frango e pato assado, ovos em profusão. As letras eram de Jorge e a música de Caymmi, sempre embaladas pela voz do compositor, visto que o escritor admitia: não sabia cantar. Amigos e companheiros, os dois fizeram outras parcerias como Beijos Pela Noite

SECA E SANGUE Era o tempo dos beatos que pregavam o fim do mundo e prometiam a salvação aos que se penitenciassem. Com eles ficou Zefa. Era o tempo dos cangaceiros. Para seu bando entrou Zé, que passou a ser conhecido como Zé Trevoada. Era o tempo das incertezas, que fizeram com que Agostinho e Gertrudes abandonassem a marcha para o sul e se empregassem em uma fazenda em meio a jornada. Era o tempo da inclemência do sertão, que levou a pequena Noca, após dias marchando com um espinho que lhe arruinou o pé, a perder a vida. Mesmo destino de Dinah, que viuvou João Pedro, deixou este com a dor e as lágrimas secas que não podia mais verter. Nem os bichos foram poupados. A gata Marisca, inseparável amiga de Noca, foi para a panela. E o jumento Jeremias, que carregou com valentia as tralhas durante o percurso, em ato de desespero, comeu uma erva venenosa e serviu de pasto aos urubus enquanto ainda estrebuchava. Era o tempo em que se embarcava na terceira classe de um navio a vapor em Juazeiro, Bahia: destino dos que buscavam Pirapora, no Norte de Minas, de onde partia o trem de ferro para São Paulo. Na travessia, o pequeno Ernesto pereceu a esse terrível mau e teve seu corpinho engolido pelas águas do rio. No porto, era o tempo das papeletas atestando saúde para poder embarcar no trem. Jerônimo, tomado pela tuberculose, não tinha chances. Tonho e João Pedro já tinham as papeletas, mas um médico degenerado, embrutecido pela cena repetida a cada dia da marcha desesperada dos migrantes sertanejos, dizia que não a Jucundina e Jerônimo pois cobiçava Marta. A assediou e a deflorou em troca das papeletas de seus pais. Num acesso de raiva ao saber como a filha conseguira a papeleta, Jerônimo a expulsou. E Jucundina viu sua filha partir para o cabaré, na rua das prostitutas. Eram três irmãos, com três destinos. José, o camponês. Zé Trevoada, o cangaceiro. Agora, homem de confiança de Lucas Arvoredo. Muito sofrera e muitos matara ao saber do destino dos seus.

RETIRANTES Por Dorival Caymmi Vida de negro é difícil É difícil como quê Eu quero morrer de noite Na tocaia me matar Eu quero morrer de açoite Se tu negra me deixar Vida de negro é difícil É difícil como quê Meu amor, eu vou me embora Nessa terra vou morrer O dia não vou mais ver Nunca mais eu vou te ver Vida de negro é difícil É difícil como quê

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MANCHAS DIAGRAMA COLUNA ASSINADA

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coluna assinada

O forró atual Por Ariano Suassuna Foto Bob Souza

Ariano Suassuna é escritor, professor e advogado, além de colaborador

“Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!”. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são ‘gaia’, ‘cabaré’, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade. Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas. Porém o culpado desta ‘desculhambação’ não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de ‘forró’, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shorts começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo. Aqui o que se autodenomina ‘forró estilizado’ continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes.

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coluna assinada

Existe uma música popular nordestina? Por Toni Newman Foto Cláudio Maranhão

Toni newman é escritor e supervisor de cultura do SeSc Sobral

A música popular brasileira – a MpB – ficou conhecida apenas como o samba oriundo do Rio de Janeiro e seus subgêneros. Até São Paulo foi ignorada e ficou conhecida jocosamente como o “túmulo do samba”, numa alusão que ali não se produzia música boa qualidade. A herança de ritmos populares do nordeste é imensa e posso destacar alguns como coco, xaxado, samba de roda, xote, baião, forró, axé, frevo, cirandas, emboladas, maracatu rural e reisados. Porque então que a música produzida no Nordeste não faz parte da chamada MpB? Para o professor de história da música brasileira, Andre Egg, a “música nordestina foi solenemente ignorada nos livros de história da música brasileira devido ao compromisso de alguns autores com certo “bom gosto” duvidoso, certamente movido por preconceito contra os chamados nordestinos “paus de arara”. A música nordestina influenciou até artistas como Villa Lobos, que se inspirou, por exemplo, na Dança do Martelo – alusão ao estão do Cariri – para compor a segunda parte da Bachiana brasileira nº 5. Somente a partir da década de 60 é que houve uma mudança na história com a ascensão do balão como gênero fonográfico de sucesso pelas mãos do grande Luiz Gonzaga, pelo reconhecimento de Marines e Jackson de Pandeiro. Posteriormente na década de 70, o grande reconhecimento do movimento chamado “Pessoal do Ceará”, que em 2013 completa 30 anos, e que naquela época deu uma grande “oxigenada” na MpB; e, atualmente, pelo grande número de bandas de forró fazendo enorme sucesso não só aqui no Nordeste, mas arrastando multidões Brasil afora. É com grande entusiasmo que vemos a banda Cabaçal, dos irmãos Aniceto, emocionando a todos por onde passa. A explosão do axé, vindo da Bahia na década de 80 com Luiz Caldas e que tomou conta do Brasil inteiro. Menos em Pernambuco, onde, ainda resistente, reina o frevo. Mas, sem sombra de dúvidas, a grande revelação da música nordestina dos últimos tempos foi a releitura do Maracatu Rural de Pernambuco, feita pelo genial Chico Science e Nação zumbi.

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DIAGRAMAÇÃO MATÉRIA No abre de matéria, a foto sangra por todos lados, exceto à direita, que invade um módulo da página seguinte Sem legenda na foto de abertura de matéria

Quando a imagem preenche a página toda, o fólio é cego

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O ícone será sempre posicionado do lado direito na página da direita, a 24pt da margem superior e a 36pt à esquerda da margem externa, exceto quando há sangria O título está alinhado à esquerda em caixa alta, e inicia sempre a partir do terceiro módulo

VIAGEM PELA MEMÓRIA DE CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO CEARÁ Com as secas, famintos dirigiam-se à capital do Ceará. O governo criou campos cercados para confinar milhares de retirantes; hoje, alguns tentam evitar que a memória desses lugares se apague Por Anna Virginia Balloussier Foto Rafaela Konstantyner

U

ma coisa era certa: aquela gente fedida, piolhenta, faminta e desesperada tinha que ser mantida à distância. Era 1932, e Fortaleza não parecia disposta a olhar para trás. Na virada do ano, a capital cearense inaugurava o hotel Excelsior, seu primeiro arranha-céu. Em sua edição de 2 de janeiro, o jornal O Povo destacava o “terraço aprazibilíssimo, de onde se descortinam belíssimos panoramas do mar, das serras e dos sertões vizinhos”.

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A foto se estende até a segunda página, ocupando os dois primeiros módulos

O fólio deve ser alinhado de acordo com a margem externa, e a 24pt para baixo da margem inferior

A linha fina está alinhada à esquerda, com recuo de 13pt. Fica a duas linhas de distância do título Os créditos devem estar a uma linha de distância da linha fina. São em caixa baixa com semi bold nos nomes. Não há espaço entre os créditos de texto e os de foto Em abertura de matéria haverá capitular na primeira letra da primeiras palavras O texto principal inicia-se no após duas linhas dos créditos, justificado à esquerda com recuo de 8pt na primeira linha a partir do segundo parágrafo e story 12pt. Todo o texto de matéria se incia a um módulo de distância da imagem, e ocupa sempre 3 módulos no abre severina | 71


Em páginas de matéria, há duas colunas de texto, que ocupam três e dois módulos, e que sempre terminam a três modulos de distância da margem inferior Legenda de matéria sempre deve ir a uma linha de distância das imagens e a 12pt das caixas de texto. A legenda está sempre alinhada ao texto (neste caso a direita)

Detalhes do interior de um dos antigos campos de concentração

As fotos de matéria sempre sangram e se limitam ao gutter que divide as colunas de texto 74 | severina.com.br

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O novo prédio anunciava novos tempos e contrastava com a precariedade da multidão imigrante dos “sertões vizinhos”, que fugia de uma das piores secas já vistas no Nordeste. Alguém precisava fazer algo, e rápido, antes que a turba miserável eclipsasse a “loira desposada do sol”, epíteto da capital oxigenada pela síndrome de “belle époque” brasileira. A resposta governamental foi confinar os que vinham de trem em sete currais cercados com varas e arame farpado, próximos à estrada de ferro. Eram homens, mulheres, velhos e crianças, de cabeça raspada contra piolhos, alguns vestidos em sacos de farinha com buracos para enfiar o pescoço. Os mais robustos serviam de mão de obra em fazendas e obras públicas. Milhares morreram de fome, sede ou doenças. Com entrada compulsória e sem data para o “check out”, esses depósitos humanos tinham nome: campos de concentração. Só em 1933 os nazistas criariam seu primeiro campo, numa fábrica de pólvora reestruturada para encarcerar comunistas, sindicalistas e outros desafetos do chanceler Adolf Hitler. A prática de isolar os “molambudos” dos “cidadãos de bem” já era velha conhecida no Brasil de Getúlio Vargas – um país em que a população caminhava para os 40 milhões. Dados oficiais contavam 73.918 aprisionados pouco mais de um mês após a abertura dos campos em seis cidades do Ceará (Crato, Ipu, Quixeramobim, Senador Pompeu, Cariús e Fortaleza), conforme relata a historiadora Kênia Sousa Rios, autora de Campos de

Concentração no Ceará: Isolamento e Poder na Seca de 1932 (Museu do Ceará, 2006). As duas aglomerações da capital viraram até atração turística: visitantes doavam uma certa quantidade de dinheiro aos enjaulados e dali saíam com “a sensação de dever cumprido”. “O risco de ter a cidade invadida pela ‘sombra sinistra da miséria’ parece seguido da compreensão de que a situação é trágica, portanto merece a atenção da burguesia caridosa e civilizada”, escreveu a historiadora no artigo A Cidade Cercada na Seca de 1932 (publicado no volume Seca, Edições Demócrito Rocha, 2002). ESMOLINHA No romance O Quinze, Rachel de Queiroz narra como a heroína Conceição “atravessava muito depressa o campo de concentração”, trêmula ao ouvir a súplica: “Dona, uma esmolinha”. Apertava o passo, “fugindo da promiscuidade e do mau cheiro do acampamento”. Algo de fato cheirava mal no Ceará, e desde a grande estiagem de 1877, a elite local sentia o odor. Sete anos antes, haviam sido estabelecidas normas de conduta “que identificavam a ‘modernidade fortalezense’ com a ‘civilidade europeia’”, fazendo da


As duas aglomerações da capital viraram até atração turística capital “um modelo asséptico para todas as cidades cearenses”, escreveu o historiador Tanísio Vieira no artigo Seca, Disciplina e Urbanização (também coligido em Seca). Uma das proibições fixadas era a de sair às ruas sem “pelo menos camisa e calça, sendo aquela metida por dentro desta”. Imposições dessa tal ordem eram a última coisa a passar pela cabeça dos mais de 100 mil sertanejos que estavam em retirada da seca de 1877. Fortaleza, então com 30 mil habitantes, viu sua população se multiplicar por três. O governo, por sua parte, redobrou os esforços para conter a invasão bárbara, e para que ela jamais se repetisse. Em A Seca de 1915, o escritor Rodolfo Teófilo (1853-1932) descreveu o pioneiro campo do Alagadiço, nos arredores da capital, que serviria de piloto para os sete campos dos anos 1930: “Um quadrilátero de 500 metros onde estavam encurralados cerca de 7.000 retirantes”. Lá, quando havia comida, ganhavam “reses que

morriam de magras ou do mal”, cozidas “em algumas dúzias de latas que haviam sido de querosene”. O jornal O Nordeste anunciava o 17 de fevereiro de 1923 como o Dia da Extinção da Mendicância. Ser mendigo seria, a partir dali, contra a lei. Se ruas e praças continuassem “expostas a graves perigos de ordem moral”, os infratores seriam enviados ao Dispensário dos Pobres, sob os auspícios da Liga das Senhoras Católicas Brasileiras. A ideia, na prática, não foi longe, e as madames continuaram a ouvir: “Dona, uma esmolinha”. Nem toda a caridade cristã seria o bastante para dar conta da diáspora de que aconteceu em1932, quando jornais falavam do “exército sinistro de esfomeados” em marcha até a capital. Ainda hoje, em Senador Pompeu, circula a lenda sobre um ente que surge de supetão para abrir seu bucho e roubar um pedaço do fígado. A fábula do Papa-Figo nasce de fatos reais. Carmélia Gomes, 91, que era uma menina em 1932, lembra do médico que extraía amostras do órgão de quem morria no campo e as mandava à capital para análise clínica.

Pequeno cemitério próximo a antiga área dedicada a um campo de concentração

O olho deve ter uma linha de distância do texto em cima e embaixo. O texto deve ser em Univers LT 55 Roman e alinhado à esquerda sem hifenização com recuo de 12pt. As aspas ocupam 5 linhas e deve ocupar duas linhas a mais que o texto na parte superior.

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SEÇÃO: PRODUÇÃO TEXTUAL

O chapéu será sempre posicionado do lado esquerdo na página da esquerda, a 24pt da margem superior e a 36pt à direita da margem externa, na cor do eixo em que se encontra O título é em caixa baixa e se inicia no primeiro módulo Quando há linha fina, se inicia a duas linhas de espaço do crédito de fotos

produção textual: ensaio

A voz dos excluídos na literatura A representação dos personagens marginalizados em Vidas Secas e em A Hora da Estrela Por Nicole Ayres Foto José Medeiros A personagem Macabéa, em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, marginalizada pela sociedade, é representada psicologicamente no romance, através da voz do narrador. Semelhante recurso já havia sido utilizado na obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, em que os membros da família de retirantes nordestinos, quase sem linguagem própria, adquirem a humanidade que lhes falta pelo método narrativo. No entanto, Macabéa, transportada para o meio urbano, evidencia ainda mais o processo de exclusão cultural no Brasil, que muda seus meios, mas não sua essência. A TEMÁTICA DO DESAJUSTE Personagens desajustados na sociedade encaixam-se perfeitamente no plano da literatura. Esse é o caso de Fabiano (Vidas Secas) e Macabéa (A Hora da Estrela), que vivem na aridez do sertão nordestino e no anonimato da vida urbana, respectivamente. Segundo a classificação do crítico Antonio Candido, Vidas Secas, de 1938, poderia ser inserido na “fase de pré-consciência do subdesenvolvimento”, enquanto A Hora da Estrela, de 1977, já se encontraria na “fase da consciência catastrófica do atraso”. Fugindo de idealizações românticas ou exotismos regionalistas, as duas obras expõem a situação de miséria e exploração dos migrantes nordestinos no Brasil; uma situação que não muda, apenas se transforma com o tempo, tornando-se cada vez mais sutil e cruel. A família de retirantes de Vidas Secas vivencia o drama da falta: de um lar, de um futuro, de uma linguagem. A constante ameaça da seca lhes impõe uma vida nômade, sem perspectivas, guiada pelo instinto de sobrevivência. Por isso, são eternos peregrinos, em um mundo em que não há lugar para eles. Fabiano, o patriarca, é um vagabundo empurrado pela seca. No entanto, quando a seca chega, devastadora, todos se igualam, todos perdem tudo, diferentemente do que acontece na cidade grande, em que os mais preparados, bem instruídos levarão vantagem na luta pela sobrevivência. No sertão, o inimigo é a natureza; na cidade, o inimigo é o próprio homem. Em A Hora da Estrela, Macabéa, alagoana que se muda já adulta com a tia para o Rio de Janeiro, causa pena, repulsa e revolta nos outros personagens, no narrador e no leitor. Feia e desajeitada, alimenta-se de cachorro-quente com Coca-Cola, por ser barato, ganha menos que um salário mínimo e seus pequenos luxos consistem em pintar as unhas de vermelho e ir ao cinema uma vez por mês. Sua condição de penúria é evidente, menos para si mesma. Macabéa é vítima da manipulação alienante da mídia, pela Rádio Relógio, propagadora de cultura inútil, e pelos anúncios que coleciona, de produtos que não tem

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Registro da iniciação de iaôs na Bahia

A seção deve sempre apresentar uma imagem que ocupa a página inteira da direita Quando há legendas sobre as fotos que sangram, elas devem ser em negativo, sempre a 24pt de distância do limite

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produção textual: ensaio

Nas páginas seguintes ao abre de seção, sempre há apenas uma imagem por dupla Legenda de seção sempre deve ir a uma linha de distância das imagens e a 12pt das caixas de texto. A legenda está sempre alinhada ao texto (neste caso a direita)

No ensaio, o fotógrafo buscou quebrar preconceitos, valorizando a tradição e a beleza da religião

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condições de comprar. No meio urbano, o processo de marginalização é mais nítido e se utiliza de mecanismos mais sofisticados: há uma promessa ilusória de futuro, de melhoria de vida, como a premonição da cartomante. Fabiano e Macabéa, nordestinos, “bichos” da mesma espécie, sofrem, de modos distintos, a violência de uma existência invisível: apesar de viverem em ambientes diferentes, caminham para o mesmo destino: criaturas anônimas, subumanas; condenadas a viver à margem do mundo que as cerca. E são conformados: não contestam nada, por não saber como nem a quem e acham natural a exploração que sofrem. Estagnados no tempo e no espaço, Fabianos e Macabéas permeiam nosso país e nossa literatura. Mas A Hora da Estrela vai além da denúncia social: Macabéa representa, no fundo, a miséria inerente a todo ser humano, que nunca é completo, sempre buscam alguma satisfação pessoal; há uma carência essencial que o define. Macabéa, Fabiano, narrador, leitor, são todos marginalizados, excluídos, desajustados, de uma forma ou de outra; todos compartilham, consciente ou inconscientemente, a mesma miséria. Para expressar a situação equivalente de seus personagens, Graciliano Ramos e Clarice Lispector fazem uso de diferentes recursos expressivos. Primeiramente, se a linguagem de Vidas Secas é seca como as vidas que retrata, econômica e regionalista, em A Hora da Estrela a palavra é pulsante, o discurso, verborrágico e fluido.


O intertítulo é Univers LT 55 Roman

A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA Os dois narradores são cultos e culpados, aproximam-se e afastam-se de seus personagens, procuram compreendê-l os e sentem-se impotentes diante de sua situação. Ambos os narradores enfrentam a difícil constatação: a mesma palavra utilizada para narrar a história de suas personagens é a mesma que angustia Macabéa e Fabiano: dois seres condenados ao silêncio. Rodrigo S.M., narrador personificado, pseudoautor da história, é um escritor atormentado, que capta no “olhar perdido” de uma nordestina, em meio à massa urbana, a essência de sua protagonista. Aos poucos, essa vida interior de Macabéa vai sendo desvendada, tanto para o narrador quanto para o leitor, que participa ativamente da construção da trama. Enquanto Vidas Secas apresenta um único enredo em que o narrador acompanha a trajetória da família nordestina com um olhar distante e observador, em A Hora da Estrela podem-se identificar três enredos, que se misturam, se complementam e se fundem numa narrativa entrecortada: a história de Macabéa, as inquietações do narrador e o próprio processo da escrita. A trama é interrompida a cada momento para explicações e questionamentos, sempre pertinentes, que ampliam a experiência de leitura. Sendo assim, a metalinguagem e a ironia são peças-chave no desdobramento do texto. Rodrigo S.M. discute o papel do escritor e da escrita, explicitando o processo de construção da obra. Rodrigo narra Macabéa e a si mesmo, instaurando, desse modo, o espelho narrativo. A ironia é retirada da própria vida, e Macabéa é o mais evidente exemplo: tem uma vida nula e uma morte glorificada. A morte é sua hora da estrela, o que dá sentido à sua existência parca. A morte é seu renascimento, e, com ela, o texto nasce e renasce, refaz-se e desfaz-se. Rodrigo se responsabiliza por Macabéa e consegue enxergar-se nela. No entanto, ele faz parte da sociedade que a reprime e usufrui dos confortos que ela não tem; portanto, não pode igualar-se a ela, o que não o impede de construir seu destino em paralelo ao dela. Assim, uma pessoa rala e muda é recolhida pelo olhar arguto de um escritor desorientado que, conduzido pela palavra e desconfiando dela, dá uma forma e um destino a si próprio e à moça nordestina. Além de lhe faltarem recursos para reivindicar condições melhores e uma vida mais digna, Macabéa e Fabiano não sabem a quem reclamar. Afinal, quem é o responsável pela situação desses nordestinos sofridos? A natureza, o governo, a sociedade, a vida, Deus, os próprios personagens ou ninguém? Impossível encontrar os culpados. Por isso, talvez essa seja a grande questão que permeia, sutilmente, as duas obras Sem reação, sem acusações e sem respostas, as perguntas continuam em aberto

As colunas de texto das páginas seguintes ao abre, sempre se iniciam alinhadas ao início da primeira coluna de texto da primeira página Em seções, há apenas uma coluna de texto ocupando quatro módulos de largura

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SEÇÃO: COLUNA ASSINADA

O chapéu será sempre posicionado do lado esquerdo na página da esquerda, a 24pt da margem superior e a 36pt à direita da margem externa, na cor do eixo em que se encontra

coluna assinada

Existe uma música popular nordestina? Por Toni Newman Foto Cláudio Maranhão

O texto ocupa uma coluna de quatro módulos A descrição do autor da coluna deve vir alinhada com a ultima linha do texto contendo seu nome (em bold) e ocupação

Toni newman é supervisor de cultura do SeSc Sobral

A música popular brasileira – a Mpb – ficou conhecida apenas como o samba oriundo do Rio de Janeiro e seus subgêneros. Até São Paulo foi ignorada e ficou conhecida jocosamente como o “túmulo do samba”, numa alusão que ali não se produzia música boa qualidade. A herança de ritmos populares do nordeste é imensa e posso destacar alguns como coco, xaxado, samba de roda, xote, baião, forró, axé, frevo, cirandas, emboladas, maracatu rural e reisados. Porque então que a música produzida no Nordeste não faz parte da chamada Mpb? Para o professor de história da música brasileira, Andre Egg, a “música nordestina foi solenemente ignorada nos livros de história da música brasileira devido ao compromisso de alguns autores com certo “bom gosto” duvidoso, certamente movido por preconceito contra os chamados nordestinos “paus de arara”. A música nordestina influenciou até artistas como Villa Lobos, que se inspirou, por exemplo, na Dança do Martelo – alusão ao estão do Cariri – para compor a segunda parte da Bachiana brasileira nº 5. Somente a partir da década de 60 é que houve uma mudança na história com a ascensão do balão como gênero fonográfico de sucesso pelas mãos do grande Luiz Gonzaga, pelo reconhecimento de Marines e Jackson de Pandeiro. Posteriormente na década de 70, o grande reconhecimento do movimento chamado “Pessoal do Ceará”, que em 2013 completa 30 anos, e que naquela época deu uma grande “oxigenada” na Mpb; e, atualmente, pelo grande número de bandas de forró fazendo enorme sucesso não só aqui no Nordeste, mas arrastando multidões Brasil afora. É com grande entusiasmo que vemos a banda Cabaçal, dos irmãos Aniceto, emocionando a todos por onde passa. A explosão do axé, vindo da Bahia na década de 80 com Luiz Caldas e que tomou conta do Brasil inteiro. Menos em Pernambuco, onde, ainda resistente, reina o frevo. Mas, sem sombra de dúvidas, a grande revelação da música nordestina dos últimos tempos foi a releitura do Maracatu Rural de Pernambuco, feita pelo genial Chico Science e Nação zumbi.

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As fotografias ocupam a página da direita inteira, e se extendem até o primeiro módulo da página da esquerda, se separando do texto por pelo gutter.

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SEÇÃO: ENTREVISTA entrevista

Em entrevista exclusiva, Ariano Suassuna diz que fez pacto com Deus para terminar livro “Mexeu com o físico, mas com a cabeça não buliu não. Se você quiser, recito todinho o episódio de Inês de Castro, de Os Lusíadas, brincou Ariano Suassuna, 86 Por Fábio Victor Fotos Felipe Rau

As fotos e colunas seguem o padrão das seções de produção textual

As perguntas de entrevista são justificadas à esquerda e em bold, sem espaços entre as perguntas e respostas, e sem espaços entre os blocos de perguntas

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Na tarde/noite daquele dia, quase quatro meses depois de sofrer um infarto (agora ele revela terem sido dois) e tratar um aneurisma cerebral, o escritor e dramaturgo cedeu sua casa no Recife para uma entrevista exclusiva, a primeira depois de duas internações e do repouso forçado. Para pôr fim ao primeiro livro daquela que considera a obra de sua vida – e que deverá ter sete volumes, mesclando romance, poesia, teatro e gravura –, Ariano afirma ter tido uma ajuda divina. A obra concluída – ainda sem previsão de lançamento – será um romance epistolar, chamado O Jumento Sedutor, homenagem a O Asno de Ouro, do escritor Lucius Apuleio, do século II. A série completa levará o nome de A Ilumiara. Depois de quase quatro meses entre internações e repouso, o sr. retomou as atividades públicas ontem numa aula-espetáculo. Como se sente? Eu tive dois infartes e um aneurisma estourou no meu cérebro. Eu fazia muita questão de dar essa aula. Eu disse para mim mesmo que só não dava a aula se não tivesse a menor condição. E queria avaliar minhas forças, para saber se podia continuar, dentro desse pequeno prazo que a gente ainda tem no mandato de Eduardo Campos, que deixará o cargo até abril para disputar a Presidência, podia continuar a programação que a gente vinha seguindo de aulas-espetáculos. Combinei que a gente faria essa no Recife e, de acordo com o comportamento do meu corpo, a gente daria outra em Pombos. O sr. já disse que se recusava a morrer e que toda morte é como um suicídio. Como essa experiência afetou o modo com que o sr. lida com ela? Não afetou não. É claro que, objetivamente, eu sei que vou morrer. Não sei se você já notou, mas nenhum de nós acredita que morre, o que é uma bênção. A gente se porta a vida toda como se nunca fosse morrer, o que é muito bom. Porque se a gente for pensar na morte como uma coisa fundamental, inevitável e próxima, a gente vai perder o gosto de viver, vai perder o gosto de tudo. Eu digo isso procurando verbalizar uma inclinação que acho que é de todo

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MATÉRIA: ENTREVISTA

e extremamente metódico no trabalho. “Não escrevo o que posso, como muitos escritores”, diz ele. “Escrevo o que quero, e como um engenheiro faz uma casa: planejando tudo nos mínimos detalhes.” Essa dureza está amplamente expressa na sua poesia, marcada por duas condições básicas: a influência da arquitetura sobre seu estilo (planejado, medido, elaborado) e sua preocupação em ser consciente. Por isso, João Cabral não gosta de música, que, como um certo tipo de poesia, “faz adormecer”. Como Ernest Hemingway, não acredita em inspiração, mas no esforço. Desconfia facilmente do que escreve “Pode ser uma simples repetição de algo que li ou ouvi”. Preparando agora um novo livro, ainda sem título, João Cabral faz uma defesa da poesia em geral (embora possa “não terminar nunca” o volume que está escrevendo) e revela que quando jovem pensava ser crítico, e não poeta. Descobriu que seria melhor poeta sob a influência dos versos de Carlos Drummond de Andrade, para ele o maior do Brasil.

As perguntas de entrevista são justificadas à esquerda e em bold, sem espaços entre as perguntas e respostas, e sem espaços entre os blocos de perguntas

Do livro 100 Anos de Poesia, Vinícius de Moraes e João Cabral, em Paris, 1964

A carreira diplomática tem sido um obstáculo ou um estímulo à sua produção poética? Em primeiro lugar, há uma grande vantagem em aproveitar as oportunidades culturais de outros países. No Senegal, por exemplo, tenho a certeza de que vou me encontrar com uma porção de elementos formadores da minha maneira de falar, de andar. Essa mentalidade bonachona do brasileiro, essa sua nonchalance, vem do africano. Em segundo, há a desvantagem de isolar o escritor da sua nacionalidade. De novo na terra natal, depois de uma ausência prolongada, é fantástico sentir como a gente volta a se interessar pela nossa literatura. A gente volta a entrar em órbita.

As fotos e colunas seguem o padrão de matérias

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É fantástico sentir como a gente volta a se interessar pela nossa literatura Mas o distanciamento da zona de língua portuguesa durante longos anos no estrangeiro serve para apurar, depurar ou deturpar a linguagem do escritor? Uma língua sempre se enriquece ao contato com outra. Não ligo para esse negócio de pureza da linguagem. Mas não falar a própria língua provoca sempre um certo empobrecimento. Gabriela Mistral tinha uma aguda consciência desse problema. Certa vez, em Los Angeles, ela explicou a Vinicius de Moraes (ambos trabalhavam lá como diplomatas) sua necessidade de voltar ao Chile. Es que se me vá la lengua, disse ela. Na sua extrema concisão, a sua poesia frequentemente usa imagens e metáforas da arquitetura. Há escritores influenciados pela música, pela pintura, pelos filósofos, pela história. Quem mais influência exerceu sobre mim, teoricamente, foi o arquiteto Le Corbusier. Quando ainda rapaz, no Recife, amigos


meus, me deram para ler todas as obras de Le Corbusier. Nenhum poeta, nenhum crítico, nenhum filósofo exerceu sobre mim a influência que teve Le Corbusier. Durante muitos anos, ele significou para mim lucidez, claridade, construtivismo. Digo muitos anos porque na última época de sua vida, na minha opinião, Le Corbusier caprichou para negar todos esses valores que ele pregava anteriormente. Falo sobre ele e sobre isso no poema Fábula de um arquiteto. A ideia desse poema me veio ao visitar, na França, a capela de Ronchamp, por ele construída. Essa capela me provocou uma tal irritação, que me senti obrigado a escrever esse poema, cuja segunda parte é uma descrição da antiarquitetura. Pelo menos em relação ao que o próprio Le Corbusier tinha me ensinado: para sempre considerar arquitetura, e então a partir do que escrevi minha poesia, criar e imaginar. Sua poesia demorou muito a ser reconhecida? Quando me iniciei na literatura, dizia-se que a poesia brasileira estava emparedada entre Augusto Frederico Schmidt e Jorge de Lima. Depois se descobriu Carlos Drummond de Andrade, ao qual se dava pouquíssima importância na época. Só quero

registrar que acredito que Schmidt foi um grande caráter. Foi ele quem pagou a edição do meu primeiro livro no Rio, O engenheiro, mesmo sabendo que a edição acabaria prejudicando o seu tão bom nome. “Esse livro vai me fazer um grande mal”, me disse ele. “Mas você pode levá-lo a uma tipografia, que eu pagarei a impressão.” De fato, como ele disse, meu livro iniciou uma revisão nos valores poéticos vigentes. Mas e o reconhecimento da sua poesia, tardou ou veio na hora certa? Quando eu estava nos meus vinte anos, meus livros não eram tão vendidos. Hoje em dia são, e muito. Morte e Vida Severina, por exemplo, deve ter aproximadamente umas quinze edições. Como em qualquer

João Cabral de Melo Neto retradado em fotografia

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SUMÁRIO O sumário vem sempre acompanhado de uma foto de uma paisagem natural, condizente com o estilo fotográfico da revista, ocupando a página da esquerda inteira

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5 7 9 10 12 16 26

34 42

46 56

65

66 72 82

88 94 96 100 108

112 116 122 124 126 128

IRMÃOS DE ALMA

Editorial Expediente Colaboradores Agenda Compras a arquitetura do verso Análise: Marlucy Mary Gama Bispo

COISAS DE NÃO

docuMentário retrata sofriMento de retirantes Entrevista: Fábio Victor

TUA ROUPA MELHOR Muito aléM de uMa vida severina Conto: João Ubaldo Ribeiro

MORTE E VIDA SEVERINA DENTRO DA REDE

Ensaio: Nicole Ayres MeMória de caMpos de concentração no ceará Resenha: Mario Lúcio de Paula

DE SUA FORMOSURA asa Branca chega a 70 anos Poema: Vinícius de Moraes Coluna assinada: Toni Newman recosturando portinari Conto: Humberto de Campos

ESPETÁCULO DA VIDA

Resenha: Fábio Teixeira encontro do Baião coM o rap Música: Gilberto Gil Coluna assinada: Ariano Suassuna Música: Dorival Caymmi e Jorge Amado Poema visual

O número das páginas vem sempre em Univers LT 65 Bold, 12/12pt, alinhado a direita, na cor do eixo em que se encontra, e sempre a 12pt de distância da seção ou matéria a qual se refere

Os nomes dos eixos vem sempre em suas cores e acompanhados de seus respectivos ícones a esquerda. Estão em Univers LT 65 Bold, 20/12pt e alinhados a esquerda O nome do livro na íntegra, neste caso Morte e Vida Severina, encontra-se em Univers LT 65 Bold, 20/12pt e alinhado a esquerda, como os eixos, porém em preto Os nomes das matérias vem sempre em Baskerville Bold 9/12, alinhados a esquerda e em versalete

Os nomes das seções vem sempre em Baskerville Regular 9/12, alinhados a esquerda

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EDITORIAL E EXPEDIENTE O editorial vem sempre acompanhado de uma foto de uma paisagem natural, condizente com o estilo fotográfico da revista, ocupando a página da esquerda inteira

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O título da página, tanto do editorial quanto do expediente, é sempre em Univers LT 65 Bold 12/12pt, caixa alta, alinhado a esquerda, em preto O texto do editorial é sempre em Baskerville Regular 9/12pt , justificado a esquerda, com hifenização e story 12pt. Há recuo em todos os parágrafos, exceto no primeiro, de 8pt. Ocupa sempre quatro módulos de largura

EDITORIAL Severina é uma revista que mostra que literatura não é apenas para ser lida, mas também para ser vivida. É o mundo nordestino, onde vivem pessoas de cidades, tradições e sotaques diferentes; mas com um só coração: o brasileiro. Trata sobre a vida e cultura da região; o seu entorno particular. A intenção é criar um espaço íntimo, onde você, leitor, é convidado a viajar ao longo das páginas seguintes. Dedicamo-nos a criar um universo a ser explorado por quem gosta de ler, uma revista tão regional que acaba sendo universal. Você conhecerá a vida severina do jeito que ela é, suas dores e cores; emergindo em uma região em que do cacto nasce flor. Ao longo dessa experiência, percorrerá os eixos que foram extraídos da nossa principal inspiração, a obra do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina. Neles serão abordados os temas religiosidade, regionalismo, distorção social, tradições e festividades, dando enfoque em diversos tipos de produções textuais. Nossos textos incluem um ensaio sobre distorções sociais, como A Voz dos Excluídos; uma entrevista com grandes escritores como Suassuna ou até mesmo uma reportagem sobre o aniversário de 70 anos do hino Asa Branca, de Luiz Gonzaga. Foram selecionadas obras como o conto Do Santo que Não Acreditava em Deus e até mesmo uma crônica sobre o forró, buscando sempre atiçar seu gosto pela leitura, e seu interesse por essa literatura particular. Durante seu percurso pelas páginas da Severina, você poderá fazer uma pausa para refletir e apreciar as imagens e retratos desse rico universo, que transborda cores, texturas, histórias e sentimentos. Deixe-se levar por essa vida nordestina, cheia de tradições. Expanda seus próprios horizontes e permita-se viver em uma realidade distinta, guiada por artistas e sua visão única. Buscamos tornar sua experiência cada vez mais rica e transportá-lo por uma grande variedade de cenários em um mesmo lugar. Não tenha medo, feche os olhos e embarque nessa experiência, com a mente disponível para novas possibilidades e sentimentos. Prepare-se e venha explorar um novo mundo e uma nova realidade, uma realidade severina.

No módulo a direita do bloco de texto do editorial, encontram-se as ilustrações e assinaturas dos responsáves pela revista

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Curso de graduação em Design com habilitação em comunicação visual e ênfase em Marketing. Projeto integrado do 3º semestre: Projeto III - Cultura e informação | Marise de Chirico Comunicação e linguagem II | Regina Ferreira da Silva Marketing II | Giancarlo Ricciardi Produção gráfica | Marcos Mello Cor e percepção | Paula Csillag Projeto gráfico: Ana Luisa Camacho Marin, Carolina Fraga Iplinsky, Gabriel Teixeira Pereira, Izabella Melo, Maria Paula Mello Lopes, Natalia Zanotti Bichara.

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O texto do expediente é dividido entre o projeto integrado e o projeto gráfico. Os títulos são em Baskerville Bold 9/12pt em versalete, alinhado a esquerda, e o conteúdo de projeto, em Baskerville Regular 9/12pt alinhado a esquerda

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COLABORADORES A página dos colaboradores vem sempre acompanhado de uma foto de uma paisagem natural, condizente com o estilo fotográfico da revista, ocupando a página da esquerda inteira

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COLABORADORES

José Mateus Bichara, engenheiro químico, é um apaixonado por fotografia e Nordeste, apesar de ser natural de Guariba, SP. Possui uma vasta coleção de artesanatos, especialmente Carrancas, da região, que guarda na sala de estar, junto de um baú cheio de seus albúns de fotos.

rafaela Konstantyner é estudante de Design na ESPM e fotógrafia. Nasceu em Santos, mas possui um interesse particular no Nordete, principalmente no estado do Ceará. Por isso, no início do ano realizou um ensaido do trajeto entre Fortaleza e Juazeiro do Norte, caminhando por 24 dias.

Miguel falcão, pernambucano, é chargista e ilustrador. Formado em Design pela UFP, atualmente trabalha no Jornal do Commercio do Recife. Colabora em diversas revistas e ilustrou vários livros infantis. Seu principal projeto é a animação de Morte e Vida Severina.

ronaldo fraga, natural de Belo Horizonte, é estilista, cenógrafo e autor. Considerado pelo Design Museum de Londres como um dos sete estilistas mais inovadores do mundo, tem como inspiração a riquesa cultural brasileira, retratando em uma de suas coleções a região nordestina.

ariano suassuna, paraíbano, foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo, professor e advogado. Ocupou desde 1990 a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras. Sua obra reúne, além da capacidade imaginativa, seus conhecimentos sobre o folclore nordestino.

toni newMan, cearense, foi ator, produtor cultural e supervisor de cultura do Sesc. Engajado com projetos sociais de sua cidade, é lembrado por todos como simples, gentil, carinhoso e sobre tudo amigo. Sua felicidade transbordava em seus textos, refletindo sua paixão pela cultura da região.

Todo colaborador possui uma ilustração feita pelo grupo da revista, que virá sempre em cima de sua descrição, ocupando sempre dois módulos de largura e de altura O texto de descrição dos colaboradores é sempre em Baskerville Regular 9/12pt, alinhado a esquerda, sendo os nomes deles em Baskerville Bold 9/12pt, alinhado a esquerda, e em versalete

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O título da página, é sempre em Univers LT 65 Bold 12/12pt, caixa alta, alinhado a esquerda, em preto

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AGENDA

O chapéu será sempre posicionado do lado esquerdo na página da esquerda, a 24pt da margem superior e a 36pt à direita da margem externa, na cor do seu respectivo eixo

agenda

APRESENTAÇÃO DE RECITAL DE POESIAS

Quando? 16/09 onde? Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Minas Gerais Que horas? Às 18h Quanto custa? Entrada gratuita classificação? Livre

O título dos eventos é sempre em Univers LT 65 Bold 12/12pt, caixa alta, alinhado a esquerda O texto de descrição dos eventos é sempre em Baskerville Regular 9/12pt, alinhado a esquerda, sendo seus intertítulos em Baskerville Bold 9/12pt, alinhado a esquerda, e em versalete

o Quê? Inscrições abertas ao público para o recital de poesias da Universidade Federal de Uberlândia, que homenageia João Ubaldo com uma semana inteira dedicada a poesias nordestinas.

WORKSHOP DE XILOGRAVURA

Quando? De 30/09 à 01/10 onde? (ESPM), São Paulo Que horas? Das 14h às 18h, de segunda à sexta-feira Quanto custa? R$400 classificação? 18 a 45 anos

o Quê? O curso de 3 dias conta um grupo de professores que ensinam e auxiliam a prática da xilogravura. O preço já inclui os materiais e ferramentas utilizados. A turma será de 10 pessoas. Vagas limitadas.

SHOW CAETANO VELOSO

Quando? 01/08 onde? Citibank Hall, Rio de Janeiro Que horas? Às 20h Quanto custa? R$24 classificação? 12 anos

o Quê? Caetano Veloso anúncia show para divulgação de seu novo CD Estrangeiro. A apresentação contará com a presença de convidados exclusivos, como Milton Nascimento e Chico Buarque.

CURTA METRAGEM MORTE E VIDA SEVERINA

Quando? 01/08 onde? Sala de vídeo do Itaú Cultural, São Paulo Que horas? Às 20h Quanto custa? R$30 classificação? Livre

o Quê? Exibição do curta metragem inspirado no poema Morte e Vida Severina de Jõao Cabral de Melo Neto, que retrata o percurso de retirantes nordestinos em busca de uma vida melhor.

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Todo evento possui sempre uma imagem de divulgação, de tem módulos de altura e largura iguais ao de uma coluna de texto

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O bloco de texto é dividido sempre em duas colunas, que ocupam dois módulos de largura cada, e um de altura


CURSO DE ARTESANATO

Quando? Inscrições abertas a partir do dia 04/08 onde? Casa da Arte, São Paulo Que horas? Das 14h às 16h Quanto custa? R$38 classificação? 15 anos

o Quê? Curso especializado na criação de artesanatos típicos das tradições culturais do Nordeste. Haverá também feiras com expositores vendendo seus trabalhos e comidas regionais.

PALESTRA COM A CHEF BAIANA BELA GIL

Quando? 11/08 onde? Auditório do Ibirapuera, São Paulo Que horas? Às 17h Quanto custa? R$60 classificação? Livre

o Quê? A famosa chef culinária Bela Gil anúncia sua palestra aberta ao público, onde irá contar como sua infância na Bahia influenciou sua culinária, ensinando suas principais receitas.

SECA NO SERTÃO É EXPOSTA EM 40 FOTOS

Quando? 07/09 onde? Instituto Tomie Ohtake, São Paulo Que horas? Das 11h às 20h Quanto custa? R$15 classificação? Livre

FEIRA DE CORDEL

Quando? 14/10 onde? Vão Livre do MASP, São Paulo Que horas? Das 16h às 20h Quanto custa? Entrada gratuita classificação? Livre

o Quê? Exposição é feita pelos jornalistas Délio Pinheiro e Geraldo Humberto que registram a fotografia que retrata o sofrimento do homem e dos animais que vivem na seca do Sertão nordestino.

o Quê? A feira reúne alguns dos principais expoentes da literatura de cordel do país, que estarão expondo e vendendo seus trabalhos. Além de cantadores de viola e de música regional ao vivo.

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COMPRAS

O chapéu será sempre posicionado do lado esquerdo na página da esquerda, a 24pt da margem superior e a 36pt à direita da margem externa, em negativo

compras

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Possui sempre uma foto que se extende por quase toda a página, deixando apenas os dois últimos módulos de cada coluna, em ambas as páginas O número dos objetos na foto é sempre em Univers LT 65 Bold 15/12pt, em negativo, e alinhado opticamente as suas posições na foto

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5 4

1 | BOLSA DE PALHA Bolsa social de capim dourado em modelo carteira da Langak. Possui alça dentro para ser usada como modelo transversal. Contém divisórias. Preço: R$159,00 onde comPrar: Langak Site: www.langak.com.br

2 | ÓCULOS DE SOL Modelo Ray-Ban Clubmaster Classic, inspirado no clássico modelo dos anos 1950, é um verdadeiro ícone que garante a elegância sempre. Preço: R$500,00 onde comPrar: Ray-Ban Site: www.ray-ban.com

3 | CHAPÉU PANAMÁ Chapéu fabricado artesanalmente de palha toquilha na cidade de Cuenca, no Equador. Modelo Fedora para homens. Disponível em outras cores. Preço: R$276,00 onde comPrar: Panama Hat Mall Site: www.panamahatmall.com

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O título dos produtos é sempre em Univers LT 65 Bold 9/12pt, caixa alta, alinhado a esquerda

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O texto de descrição do produto é sempre em Baskerville Regular 9/12pt, alinhado a esquerda, sendo seus intertítulos em Baskerville Bold 9/12pt, alinhado a esquerda, e em versalete


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6

4 | COLAR DE PEDRAS Maxi colar rústico feito com pedras turquesa. Peça da coleção inspirada nas obras da artista plástica Adriana Varejão. Disponível com brincos. Preço: R$69,00 onde comPrar: Morana Site: www.morana.com.br

5 | LIVRO DE ARTESANATO Artesãos do Brasil, publicado em 2012, da editora Abril descreve os principais nomes do artesanato do Brasil, e fotos de seus principais trabalhos. Preço: R$59,00 onde comPrar: Saraiva Site: www.saraiva.com.br

6 | CD & DVD RENATO RUSSO Uma Celebração foi gravado em homenagem a um dos maiores compositores e ícones da música brasileira, com participação especial de artistas. Preço: R$74,00 onde comPrar: Loja Fnac Site: www.fnac.com.br

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ANEXOS TABELA DE CONTEÚDO - REVISTAS FÍSICAS Cult

Lingua Portuguesa

Há na revista

FORMATO Dossiês Entrevista Ensaio Estante Artigo Livros Cartas leitores Colaboradores Coluna Assinada Ensaio Visual Memoria Capa Retrato Quer seu texto publicado Opinião Calendario Critica Matéria Seção

CONTEUDO Filosoia Religião Feminismo Livros Humanidades Critica literária Atualidades Viagem Politica Cultura Teatro Arte Cinema Literatura Historia em quadrinhos Testemunho Economia Historia da literatura Pratca inclisivas Ensino Gramática Aprendizagem Modernismo Conhecimento Psicanálise Língua Personalidade Sexo Sexualidade Ecologia

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Serrote

Le Magazine Littérarie

Novos Estudos


TABELA DE CONTEÚDO - REVISTAS FÍSICAS E DIGITAIS Revista Germina

Revista Rosa

Pessoa

Revista Prosa Verso e Arte

Há na revista

FORMATO

Seção Autor Reportagem Noticia Artigo Coluna assinada Palavra cruzada Edição anterior Colaboradores Capa Entrevista Estante Conto Crônica Romance Manifesto Matéria Seção

CONTEUDO

Sexo Feminismo Literatura Atualidades Pornô Saúde Livros Arte Queer Cinema Cultura Escritores Poemas Contos Politica Personalidade Língua Ecologia Quadrinhos Música Brasil Corpo Estilo de vida Curtas animados Fotografia Criança Reflexões Sexualidade Tecnologia Manifestações Preconceito Ciência Critica literaria Educação

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TABELA DE CONTEÚDO - SITES Livro & Café

Há na revista

http://livroecafe.com

Da Litaratura

http://daliteratura.com.br/

Mundo Cordel

http://mundocordel.com/galeria/

Cordel

http://vernecicordel.blogspot.com.br/

FORMATO

O autor Obras publicadas Cordéis virtuais Conto Galeria Seção Matéria Sobre Colaboradores Parceiros Club do livro Lista Colunas Estante Links Esquete Matéria Seção

CONTEUDO

Gastronomia Religião Imagens Obras Musicas Dicas Personalidade Cinema Cominidade Queer Literatura HQ Femnismo Livos Opções Culturais Filmes

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ANEXOS FASE II CONCORRÊNCIA (A PARTIR DO TEMA SORTEADO) Quais são os seus concorrentes? para iniciar essa análise, você vai precisar: • definir seus concorrentes do ponto de vista de conteúdo (tema) e público • ter em mãos exemplares das revistas concorrentes, duas edições, pelo menos [checar na internet] Ao analisarmos possíveis concorrentes da revista Severina, conseguimos perceber que não há hoje, no mercado, nenhuma revista que tenha como tema a literatura nordestina. A partir dessa constatação, redirecionamos o leque e chegamos à conclusão que os concorrentes da Severina, seriam revistas de literatura que primam por um bom projeto editorial, trazendo temas que gerem a reflexão dos leitores e voltada para um público intelectualizado, de alto poder aquisitivo e inquieto, estando sempre em busca de conhecimento. A partir disso, destacamos no mercado três concorrentes, que seriam as revistas Cult, Serrote e Novos Estudos.

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SERROTE

1. qual é a missão editorial? E o seu posicionamento? Consolidada no panorama intelectual brasileiro, a revista tem como objetivo apresentar análises aprofundadas de temas das ciências humanas e acompanhar o debate de ideias no país, contribuindo para o adensamento das discussões num amplo leque de temas, das artes plásticas às políticas públicas. 2. quais profissionais fazem a revista Editor Executivo: Ricardo Teperman Projeto gráfico: Carlos Fajardo, Daniel Trench, Edu Marin Kessedjian Edição de arte: Daniel Trench Editoração: Carla Castilho Assistente Editorial: Karen Ferreira Vendas e assinaturas: Karen Ferreira Conselho editorial: Adam Przeworski, Adrián Gurza Lavalle, Alberto Tassinari, Álvaro Comin, Angela Alonso, Flávio Moura, Francisco de Oliveira, Glauco Arbix, Helena Hirata, Ismail Xavier, João de Pina Cabral, Joaquim Toledo Jr., José Arthur Giannotti, Laura de Mello e Souza, Luiz Felipe de Alencastro, Marcos Antonio Macedo Cintra, Marcos Nobre, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Miriam Dolhnikoff, Omar Ribeiro Thomaz, Paula Montero, Paulo Nogueira Batista Jr., Ricardo, Ribeiro Terra, Roberto Schwarz, Samuel Titan Jr., Sérgio Costa, Vilma Arêas 3. quais assuntos são abordados Uma revista de ciências humanas, direito, literatura e artes. 4. quais formatos editoriais usados A revista é composta por memória, opinião, dossiê, artigos, entrevista e crítica.

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5. o que tem na capa, qual formato da revista projeto gráfico A capa da edição, aparece uma foto preto e branco tirada por Daniel Steegmann, que é contínua, com a tipografia branca para dar destaque. O formato se assemelha ao de um livro, com as dimensões de 26 x 18 x 2 cm. 6. análise gráfica da marca A marca é em caixa alta, sem serifa e bold, e acompanhada do numero da edição e mês de um lado e a editora do outro lado da marca na capa da revista. 7. quais tipografias utilizadas e onde A tipografia com serifa,remete a um livro e é utilizada no corpo da revista. Os títulos e subtítulos são feitos com tipos totalmente diferentes do corpo do texto apresenta características sem serifa, bold e são em caixa alta, tipografia parecida com a da marca. 9. quais as cores utilizadas e onde Todos os textos do miolo da revista são em preto e branco, optando-se pelo negrito e diferença de tamanho e tipografia para destaque. A cor das folhas é uniforme em todas as matérias. Além disso, a maiorias das imagens, que são monocromáticas e todas em gray scale, ocupam uma página completa, contrastando com os blocos de texto.

go da edição, também é possível encontrar gráficos e infográficos. Ilustrações, todavia, não são recorrentes. 11. qual grid da revista identidade e diferenciação O grid parece modular, mantendo sempre um bom respiro, de uma coluna, no lado esquerdo das páginas pares, e direito nas páginas ímpares, além disso os textos são justificados com alinhamento à esquerda. 12. preço de capa R$39,00 13. onde é feita a distribuição A revista pode ser encontrada na internet, em livrarias e em feiras específicas. 14. como é feita a comunicação? Redes sociais, boca a boca e matérias em jornais e revistas.

10. quais tipos de imagens usados Na revista, por se assemelhar ao formato de um livro, existe a predominância de textos, sendo frequentes blocos com 4 ou 5 páginas sem imagem. Mas, quando utilizadas, as imagens costumam ocupar uma página completa, contrastando com os textos. Existe uma preferência por fotos, porém, ao lon-

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CULT

1. qual é a missão editorial? E o seu posicionamento? A CULT se orgulha de seu posicionamento à margem dos grandes consensos fabricados pela indústria cultural, dedicando-se a causas pouco debatidas que somente um jornalismo independente e autônomo é capaz de dar sua necessária visibilidade. 2. quais profissionais fazem a revista Editora e diretora: Daysi Bregantini Diretora de arte e capa: Andreia Freire Estagiário de redação: Paulo Henrique Pompermaier Financeiro: Adauto Yamakaya Publicidade São Paulo: Arthur Chagas Editor: Welington Andrade Assistente de edição e editora do site: Amanda Massuela Estagiária de arte: Nathalia Parra Marketing: Isabela Franco Publicidade em Brasília: Pedro Abelha Colunistas: Francisco Bosco e Marcia Tiburi 3. quais formatos editoriais usados Dossiês, entrevistas, perfil, ensaios, teatro, notícias, cinema, fotografia, musicas, reportagens, cartas, livro. 4. o que tem na capa, qual formato da revista projeto gráfico Na capa estão presentes a marca da revista, o número de edição, site, preço, código de barra, logo da editora, além das chamadas para a matéria principal, o dossiê e a entrevista, e o nome dos colaboradores da edição. 5. análise gráfica da marca A revista Cult, faz uso de uma caixa de tex-

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to retangular com o meio transparente, ou seja, há um contraste de figura e fundo a cada diferente capa, alterando também a cor da caixa que dialoga com o restante da diagramação, (exemplo, capa Frida Kahlo, na qual o primeiro nome está em azul assim como o logo; como também os subtítulos à direita). Quanto a tipografia do logotipo, foi escolhida uma fonte sem serifa, portanto com nenhum contraste, e de forma geométrica. A marca passa leveza e clareza quanto a mensagem que transmite, além da ideia de constante mudança, já que logo se submete a cada novo editorial uma nova “cara” de acordo com o seu interior. 6. quais tipografias usadas e onde A tipografia usada no bloco de texto e no olho é serifada, enquanto as utilizadas em títulos, subtítulos e legenda utilizam a mesma tipografia, sem serifa, apoiando-se na diferenciação de tamanho e no uso de bold e light para destaque.

9. qual grid da revista identidade e diferenciação A revista aparenta ser dividida em um grid de 5 colunas, com um grande respiro na margem superior e apoio de vários elementos gráficos para diminuir o peso gráfico da página (como imagens ou olhos). Além disso, são recorrentes anúncios dividindo espaço com as matérias na página, e não ocupando uma página completa. 10. preço de capa R$15.90 11. onde é feita a distribuição A distribuição é feita em bancas, livrarias ou pela internet. 12. como é feita a comunicação? Redes sociais, anúncios, boca a boca e matérias em jornais e revistas.

7. quais as cores utilizadas e onde A revista segue o mesmo padrão cromático da capa, optando por tons marrons e azuis. A cor é utilizada como um recurso de destaque em títulos e elementos gráficos ao longo da revista, além da coloração de algumas páginas para diferenciar os formatos editoriais (dossiê e entrevista, por exemplo). 8. quais tipos de imagens utilizadas Na CULT prevalece o uso de fotografias e elementos gráficos como letras soltas e coloridas, ou de vinhetas. São poucas as ilustrações (na edição analisada, só existe ilustração na capa) e não existem gráficos ou infográficos.

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NOVOS ESTUDOS

1. qual a missão editorial/posicionamento ? Consolidada no panorama intelectual brasileiro, a revista Novos Estudos tem como objetivo apresentar análises aprofundadas de temas das ciências humanas e acompanhar o debate de ideias no país, contribuindo para o adensamento das discussões num amplo leque de temas, das artes plásticas às políticas públicas atuais. 2. quais profissionais fazem a revista Editor Executivo: Ricardo Teperman Projeto gráfico: Carlos Fajardo, Daniel Trench, Edu Marin Kessedjian Edição de arte: Daniel Trench Editoração: Carla Castilho Assistente Editorial: Karen Ferreira Vendas e assinaturas: Karen Ferreira Conselho editorial: Adam Przeworski, Adrián Gurza Lavalle, Alberto Tassinari, Álvaro Comin, Angela Alonso, Flávio Moura, Francisco de Oliveira, Glauco Arbix, Helena Hirata, Ismail Xavier, João de Pina Cabral, Joaquim Toledo Jr., José Arthur Giannotti, Laura de Mello e Souza, Luiz Felipe de Alencastro, Marcos Antonio Macedo Cintra, Marcos Nobre, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Miriam Dolhnikoff, Omar Ribeiro Thomaz, Paula Montero, Paulo Nogueira Batista Jr., Ricardo, Ribeiro Terra, Roberto Schwarz, Samuel Titan Jr., Sérgio Costa, Vilma Arêas 3. quais assuntos são abordados Na revista, são abordados os temas relacionados a ciências humanas, direito, literatura, artes e politica.

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4. quais formatos editoriais usados A revista é composta por memória, opinião, dossiê, artigos, entrevista e crítica. 5. o que tem na capa, qual formato da revista projeto gráfico A capa da edição analisada, tem foto em preto e branco tirada por Daniel Steegmann, que é contínua, com tipografia branca. O formato se assemelha ao de um livro, com as dimensões de 26 x 18 x 2 cm. 6. análise gráfica da marca A marca é em caixa alta, sem serifa e bold, e acompanhada do numero da edição e mês de um lado e a editora do outro lado da marca na capa da revista. 7. quais tipografias utilizadas e onde A tipografia com serifa, que remetando a livro, é utilizada no corpo da revista. Os títulos e subtítulos são feitos com tipos totalmente diferentes do corpo do texto apresenta características sem serifa, bold e em caixa alta, tipografia parecida com a da marca.

ginas sem imagem. Mas, quando utilizadas, as imagens ocupar página completa, contrastando com os textos. Existe uma preferência por fotos. 11. qual grid da revista identidade e diferenciação Grid modular, mantendo sempre respiros grandes, de aproximadamente uma coluna, no lado esquerdo das páginas pares, e direito nas páginas ímpares, além de textos justificados com alinhamento à esquerda. 12. preço de capa R$39,00 13. onde é feita a distribuição A revista pode ser encontrada na internet, em livrarias e em feiras específicas. 14. como é feita a comunicação? Redes sociais e matérias em jornais e revistas.

9. quais as cores utilizadas e onde Todos os textos do miolo são em preto e branco, optando-se pelo negrito e diferença de tamanho e tipografia para destaque. A cor das folhas é uniforme em todas as matérias. Além de a maiorias das imagens, ser monocromáticas e todas em gray scale, ocupam uma página completa, contrastando com os blocos de texto. 10. quais tipos de imagens utilizadas Na revista, por se assemelhar ao formato de um livro, há predominância de textos, sendo frequentes blocos com 4 ou 5 pá-

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IDENTIDADE E DIFERENCIAÇÃO SERROTE A revista Serrote é composta de ensaios, e os temas abordados são as artes visuais e a literatura. A revista possui características que destoam das outras concorrentes, seu formato é semelhante à de um livro, há uma sequência de 4 a 5 páginas sem imagens e uma preferência no uso de ilustrações. Em relação à revista Severina, há semelhanças no uso do papel e no formato, que também se assemelha a de um livro. Porém, a Severina optou pelo uso de fotos, ao invés de ilustrações, por retratar melhor a rica cultura nordestina. CULT A revista Cult tem como projeto editorial trazer temas geralmente negligenciados pela indústria cultural, tendo como formato editorial a utilização de dossiês, entrevistas, perfis, ensaios, teatros, notícias, músicas, cartas e livros. Diferencia-se da concorrência pela amplitude de temas propostos, sempre buscando conteúdos que gerem reflexão do leitor. Em relação à Severina, as semelhanças se encontram na não utilização de infográficos e na preferência por fotos e elementos gráficos coloridos. Porém, se diferencia no uso dos papéis, encadernação e a disposição de elementos gráficos. NOVOS ESTUDOS A revista Novos Estudos é composta por memorias, dossiês, opiniões, artigos, entrevistas e críticas, e tendo como temas arte, literatura, ciências humanas e direito. Diferencia-se das outras concorrentes pela escolha de temas, pelo fato de estar focada no panorama Brasileiro. Em relação à revista Severina, assemelham-se o formato escolhido, os papéis utilizados e a preferência por imagens. Porém, a Novos Estudos optou pelo pouco uso imagens, o uso de infográficos e o fato de ter como panorama o cenário Brasileiro como um todo. Constatou-se, portanto, que as concorrentes da Severina tem como temas norteadores a arte, a literatura e a cultura. Porém, nenhuma possui foco específico em uma região do Brasil, nem enfoque na cultura e costumes de uma região.

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ANÁLISE SWOT CULT Força: Bom custo beneficia, conteúdo relevante pouco abordado pelas grandes media culturais, grande quantidade de pontos de venda e bom projeto gráfico. Fraqueza: As matérias inviabilizam a oportunidade de colecionar os exemplares, não há um padrão de capa. Oportunidades: Suprir a necessidade de conteúdo diferenciado, pouco abordado nas grandes mídias impressas. Ameaças: A presença de conteúdo diferenciado e gratuito nas mídias digitais. SERROTE Força: Utiliza papeis diferenciados que contribuem para o projeto gráfico, formato diferenciado e boa durabilidade. Fraqueza: A revista é formada somente por ensaios e a poucos pontos de venda. Oportunidade: Atender um publica diferenciado que tem como objetivo comprar uma revista que possua conteúdo relevante, projeto de design, bom acabamento e durabilidade elevada que permite colecionar as edições além de ser uma referencia no mercado editorial. Ameaças: Outras revistas que, mesmo com menor qualidade gráfica e de acabamento, são diferenciadas no mercado e mais facilmente encontradas e em alguns casos com preços com preço menos elevado. NOVOS ESTUDOS: Força: Uma revista de atualidade que possui uma produção gráfica diferenciada. Fraqueza: Poucos pontos de venda e pouca tiragem. Oportunidade: A possibilidade de colecionar uma revista que traz conteúdos sobre atualidades. Ameaças: Por possuir conteúdo sobre atualidades dispostos em uma revista com alto grau de projeto gráfico, faz com que haja a necessidade se os conteúdo serem bem selecionados para não se tornarem noticias velas.

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FASE III DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO Qual é o publico alvo? O público alvo estaria voltado para homens e mulheres que estão cursando ou já cursaram o ensino superior, pertencente a classe média alta e alta, apreciadores de cultura (principalmente a Brasileira) que gostam de imergir no universo de diferentes locais, entendendo melhor suas tradições e costumes. Descrição do consumidor O persona consumidor da revista Severina é curioso, questionador, que preza por experiências, procura por conteúdos agregadores que possam acrescentar na sua vida profissional e intelectual, não se contentando com informações e roteiros superficiais, estando sempre disposto a se inserir no cenário cultural onde se encontra. Descreva o conceito do seu produto? A marca Severina tem como intuito retratar a essência da rica literatura nordestina, já que o nome tem como inspiração o poema Morte e Vida Severina do escritor nordestino João Cabral de Melo e também tem o intuito de dar a revista uma personalidade própria, fazendo com que essa vire um “cidadão” nordestino, com suas peculiaridades e jeitos individuais, tornando-se assim, uma espécie de embaixadora nordestina para o resto do país. As possíveis extensões para a marca Severina podem ser outras revistas, ainda voltadas para o universo nordestino, porém, com enfoque em tipos de expressões diferentes, como: música, dança, culinária, arte e roteiro de viagem. Outra possível extensão de marca seria transformá-la em uma editora de livros especializada na publicação de títulos nordestinos. A revista tem como particularidade a sinestesia, isso será expresso através das imagens, do papel utilizado, da tipografia empregada e no grid escolhido, que terão como base de inspiração o universo gráfico pesquisado, transportando o leitor ao nordeste brasileiro e inserindo na cultura local.

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Qual o preço a ser cobrado? Baseado nos concorrentes diretos, no público alvo e no intuito de se criar um produto diferenciado, a proposta é que a revista tenha um preço que gire em torno de R$ 40,00 a R$50,00. Como será feita a distribuição? A distribuição será feita em revistarias de livrarias como Cultura, Fnac, Martins Fontes, Livraria da Vila, Saraiva, revistarias personalizadas, por exemplo, Laselva, Oficina Cultural Revistaria, Bravo! Amauri Revistaria e pela internet com a possibilidade de assinatura. Como será feita comunicação da revista? A revista ganhará visibilidade por ser patrocinadoras de eventos culturais, como shows, peças de teatros, festas, espaços de manifestação cultural (exemplo: Centro de Tradições Nordestina – CTN) entre outros. Haverá também a divulgação do produto por meio das redes sociais, como por exemplo, sites, página no facebook, popups e propagandas que antecedem vídeos no Youtube. Posicionamento do produto? O intuito da revista é ser mais que apenas um produto gráfico de alto padrão, que fornece conteúdo de alta qualidade e informação ao leitor sobre o que está rondando no cenário da literatura nordestina. A ideia real sobre essa peça gráfica é elevá-la ao status de embaixadora da cultura nordestina, exaltando-a em suas mais variadas formas, fazendo com que o leitor tenha uma experiência ao tê-la nas mãos, transportando-o até o cenário nordestino, inserindo-o na cultura local, de maneira que possa ter a ideia de fazer parte da região.

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PAINEL DO LEITOR

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ESPELHO 1° caderno

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Anúncios Páginas fixas Páginas fora do eixo Eixo irmão de alma Eixo coisas de não Eixo tua roupa melhor Eixo dentro da rede Eixo de sua formosura Eixo espetáculo da vida Obra inserida

Matéria entrevista

6° caderno 24

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Seção produção textual entrevista coluna assinada

Paginas fixas: expediente, sumário, editorial, agenda e compras. Páginas fora dos eixos: Poema visual. Total de páginas : 152 Páginas de conteúdo: 97 Páginas de encarte: 24 Páginas de propaganda: 28 (8 duplas e 12 simples)

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APLICAÇÕES MATERIAIS PROMOCIONAIS Os materiais promocionais são considerados uma das peças mais importantes na divulgação de uma marca. Com eles em mãos, o consumidor tem a chance de analisar os produtos da empresa e entender como um convite para conhecer um pouco mais. Com isso em mente, foram criadas possíveis aplicações da identidade visual da Severina em itens promocionais e publicitários, dos mais diversos materiaais, que futuramente podem ser distribuidos como brindes ou atrativos da revista, inclusive um presskit. SLOGAN Para servir como elemento de apoio em campanhas publicitárias e promocionais, criou-se o slogan “Para o leitor arretado”, que define bem o público alvo da revista. Ele brinca com a expressão idiomática nordestina “arretado”, que serve para valorizar positivamente um objeto ou pessoa. Nas peças, deve ser sempre escrito em Univers e ser acompanhado pelo site da revista.

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Manual Básico de Normatização da revista Severina


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