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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos trabalhos citados na introdução, consegui transferir muito de minha identidade e de como vejo a vida, mas foi exposto de forma sutil. Neste trabalho encontrei a oportunidade de falar exclusivamente sobre mim. Não foi minha ideia inicial, como sempre, mudei de ideia muitas vezes até tomar a decisão de que usaria, não só minha imagem, mas o que sou no momento.
Em meu projeto de pesquisa, da disciplina de Metodologia Científica, realizado previamente ao Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, eu sabia sobre o que eu gostaria de falar: a construção da identidade na relação entre corpo, tempo e espaço e como isso é retratado pelo cinema.
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Segundo o cineasta Andrei Tarkovisky, em seu livro “Esculpir o Tempo” através da nossa consciência conseguimos avançar e retroceder no tempo e não existe simplesmente presente, passado e futuro, mas “presente das coisas passadas”, “presente das coisas presentes” e “presente das coisas futuras”, pois a ideia de tempo é intrínseca ao nosso consciente e memórias. Ele faz, então, analogia do consciente com o cinema, o qual denomina “a Arte do Tempo”, a única arte capaz de imprimir o tempo. O cineasta é, portanto, o escultor que modela, com sua própria identidade, uma obra cinematográfica. E o espectador, por sua vez, vive uma experiência distinta do seu cotidiano. Ademais, enquanto muitos cineastas relacionam o cinema à arte da pintura ou da dramaturgia, Tarkovisky o relaciona muito mais à Poesia. Ele acredita que através da poesia temos consciência do mundo e de forma específica nos relacionamos com a realidade. “Para ser fiel à vida e verdadeira, uma obra deve ser ao mesmo tempo um relato exato e efetivo de uma verdadeira comunicação de sentimentos” (TARKOVISKY, 1998).
Após o contato com a obra de Tarkovisky, decidi que iria fazer um curta-metragem, mas apesar da intenção em realizar um curta metragem que conseguisse contemplar essas ideias, na primeira conversa com minha orientadora prof. Carolina Kallas, entendi que minha proposta estava mais voltada para uma vídeo performance ou vídeo arte e me apresentou como fazer um plano de direção de arte. Iniciei então as pesquisas para compreender do que se tratava uma vídeo arte.
A Vídeo Arte nasceu do cinema quando foi criada a primeira câmera portátil, mas possui características e intenções distintas do cinema, ela quebra os padrões de roteiro e narrativa, mas não tem uma definição universal. O importante para este trabalho, para além de uma definição, foi compreender a possibilidade em registrar a vida sem um roteiro, em transmitir além do superficial, momento por momento. A experiência durante as gravações foram inicialmente amedrontadoras, até começar a “esculpir o tempo”, ou seja, selecionar e editar todo o material gravado, não tinha como ter uma ideia do todo e qual seria o resultado, porque estava disposta a registrar, como já dito no capitulo “Memoria e Identidade”, a construção do eu em muitos agoras. Ir contra a cabeça programada sempre para seguir um padrão e querer prever o que teria como produto, foi um desafio.
Entretanto, ao final de todo o processo, o produto foi o próprio processo, tanto o processo de elaboração do trabalho em si, quanto o processo da construção de identidade com novas experiências e muito contato com música, pintura, costura, poesia, dança, cinema e tudo que cabe nesse infinito particular de um único espaço que não, não é tudo o que sou, mas tem muito de mim. Vivi cada pôr do Sol para transmitir neste trabalho o que é de dentro.
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DA VIDEO ARTE
“DE DENTRO” https://youtu.be/Zo-jiu9Gpuk
“Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes A vida presente”
(DRUMMOND, 1940)