instituto paulo andre´ Ano 2 Edição nº 3
Um bate-papo com Maurren Maggi, estrela do atletismo brasileiro
Foto: 123rf/Valeriy Lebedev
Novo projeto do IPA desperta o lado lúdico de crianças e adolescentes Especialistas citam a importância do voluntariado e do esporte na educação
Nunca foi tão fácil estar presente em qualquer lugar do Brasil e do mundo.
Salvador
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Instituto Paulo AndrĂŠ - 3
DIRETORIA
Diretor Presidente Paulo André Benini
JB Pátria Editora Presidente
Diretora de Esportes Daniela Raddi
Jaime Benutte
Diretora de Educação Sueli Cren
Diretor
Diretora Financeira Mirella Havir CONSELHO DELIBERATIVO E FISCAL Arnaldo Benini Mirian Cren Benini Rafael Monteiro Alves da Silva Marcel Kesselring Ferreira da Costa COORDENADOR DE OPERAÇÕES E LOGÍSTICA João Flávio Cren Chiminazzo *** COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Angelo Pastorelli Daniela Torres Eduardo Tega Gustavo Barbosa dos Santos Josmari Cren José Miguel Garcia Medina Nicole Jonnel Ricardo Campanini Roberta Gabardo *** Os artigos aqui publicados não representam, necessariamente, a opinião desta revista e são de total responsabilidade de seus autores. *** INSTITUTO PAULO ANDRÉ faleconosco@institutopauloandre.org.br Rua Place Des Vosges, 88. Bl. 03, Sala 04. Centreville. Bairro Ville Sainte Hélène Campinas-SP. CEP: 13105-825
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*** REVISTA IPA Publisher Paulo André Benini Conselho Editorial Paulo André Benini Jaime Benutte Daniela Torres Kelly Souza
institutopauloandre.org.br Empresa Filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações, Anatec.
Editorial Esta edição tem a intenção de compartilhar um pouco da realidade vivida pelas famílias auxiliadas pelo Instituto Paulo André nos anos de 2011 e 2012, evidenciando a dificuldade e a falta de dignidade a que são expostos esses seres humanos que lutam diariamente para sobreviver. Uma vez em contato com eles, tem-se a clara noção de que estão excluídos da sociedade, sob condições desumanas, abandonados ao acaso e entregues à ajuda não governamental que, na maioria das vezes, não possui corpo ou envergadura suficientes para abraçar, envolver ou atender um número tão grande de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria. Além disso, falaremos sobre o Esporte como tema gerador de cidadania e educação, pedra angular do nosso instituto e sobre a qual apoiamos toda a nossa pedagogia e metodologia de ensino, além dos sonhos de representar eficientemente o papel de agente transformador como uma opção, um elo entre a desilusão e a esperança de crianças que ainda não possuem nenhuma perspectiva de um futuro melhor. Temos um bate-papo com duas mulheres incríveis, exemplos de vida e de superação para todos os brasileiros. Maurren Maggi, campeã olímpica em 2008, e Mirian Cren Benini, o coração do IPA. Elas contam suas histórias e revelam inspirações, aspirações e a paixão que dedicam às suas atividades diárias que motivam tantas pessoas a seguirem em busca de seus objetivos. Destacamos nesta edição o projeto Brincando e Aprendendo, que teve como objetivo inicial estabelecer contato e empatia para desenvolver uma relação de confiança com as famílias atendidas, visando o objetivo maior de resgatar a autoestima. Além disso, mostraremos também a importância e a vocação dos nossos voluntários, fundamentais para a manutenção e aplicação de cada uma das nossas ações. Imbuídos do propósito de educar e formar crianças e adolescentes, temos a humildade de reconhecer que aprendemos muito mais do que ensinamos, e percebemos, por incrível que pareça, que a cada dia que nos reunimos para doar nosso tempo, nosso conhecimento e nosso amor, voltamos para casa repletos de gratidão por nossos sentimentos terem sido tão bem aceitos. Por fim, convido você a mergulhar nas páginas a seguir e experimentar um pouco do que temos vivenciado nos últimos 18 meses. Venha fazer parte desta empreitada! Um Abraço, Paulo André Benini
realidade
A Super Mãe
A história de Dona Maria, mãe solteira que se desdobra para criar seus filhos e é uma das beneficiadas do Instituto Paulo André por Ricardo Campanini | Foto: Angelo Pastorelli Em 2003, o marido de Maria José Fernandes decidiu abando-
não era aquilo que eu queria para meus filhos. Eles não me-
nar o cultivo do cacau no distrito de Ubatan, cidade de Itabuna
reciam ser criados sem o exemplo de uma família abençoa-
(Bahia), para se aventurar no estado de São Paulo. Além da roça,
da por Deus”, explicou.
ele também deixou para trás sua esposa e seis crianças pequenas, sendo que a mais nova tinha apenas alguns meses de vida.
Começava a batalha diária de Dona Maria José, que se viu em uma terra estranha, sem conhecer ninguém, com seus
Anos mais tarde, esse homem, cujo nome Dona Maria
seis filhos famintos e, o que é pior, sem dinheiro no bolso para
prefere não revelar, mandou uma pequena quantia em di-
alimentá-los. “Nos primeiros dias cheguei a pegar comida no
nheiro para que sua mulher embarcasse em um ônibus clan-
lixo para dar às minhas crianças. Revirava o que os outros
destino com destino a São Paulo. Com os filhos “debaixo das
jogavam fora, pegava restos de arroz, de feijão e sobras das
asas”, ela enfrentou dias de uma difícil viagem e chegou a
feiras para que eles tivessem algo para comer. Não aguentava
Campinas, onde teve uma surpresa desagradável: o pai de
olhar aqueles pequenos com fome”, contou.
suas crianças havia arranjado uma nova esposa. “Cheguei
Mesmo com diversas dificuldades, ela não se abateu e
em Campinas e meu então marido já estava morando com
partiu em busca de condições para criar seus filhos. Chegou a
outra mulher. Ele pediu para que eu morasse com eles, mas
conseguir alguns trabalhos como faxineira, mas um problema
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de saúde interrompeu precocemente os novos planos. “Tive
Dona Maria José se diz grata pelo que o Instituto Paulo
um problema na vesícula e precisei fazer uma cirurgia, mas
André tem feito por ela e, principalmente, pelos seus filhos
fiquei com uma hérnia enorme e por isso não consigo nem es-
mais novos, que participam de todas as atividades do ins-
tender uma roupa no varal”, explicou Dona Maria, ao mostrar
tituto, sempre que realizadas na região onde moram. “Não
um corte de cerca de 30 centímetros no abdômen.
tenho como falar o que o IPA tem feito por mim e pelas mi-
Atualmente, a baiana vive com seis filhos em um barraco
nhas crianças. A única coisa que posso fazer é pedir a Deus,
com menos de 30 metros quadrados no Parque Oziel, em
todos os dias, que continue iluminando o caminho dessas
Campinas, onde paga R$100 de aluguel. O local possui três
pessoas que vêm até aqui para nos ajudar”, diz, enquanto
camas e foi montado com pedaços de madeira prensada, te-
observa a filha Andréia, de 13 anos, fazer uma tiara flori-
lhas e tecidos, o que favorece a presença de insetos, animais
da em uma atividade do Brincando e Aprendendo, projeto
peçonhentos e roedores, além das constantes enxurradas
que ocorre mensalmente no Parque Oziel.
por não haver saneamento básico.
Perguntada sobre algum possível sonho, ela se mostra
Para criar suas crianças, Dona Maria recebe R$230 do
com o coração dividido. Ao mesmo tempo em que pensa
Bolsa Escola, por mantê-los estudando, mais os R$100
em voltar à Bahia, para rever sua mãe, irmãos, parentes
de aluguel de um programa habitacional da Prefeitura de
e amigos, ela não quer deixar de lado a oportunidade de
Campinas, de quem também recebe uma cesta básica, e a
estudo e de acesso à saúde que tem em São Paulo. “Meu
Cesta do Bem, cedida pelo Instituto Paulo André. “Como
filho mais velho se alimentou de chá de erva cidreira e
não consigo trabalhar, por conta dessa hérnia, vivo com
banana verde durante os primeiros anos de vida. Era o
a ajuda dos Programas Sociais do Governo e do Instituto
que tinha. Ainda é difícil, mas aqui é diferente e com essa
Paulo André, que além da cesta básica que me dá, faz coi-
ajuda a gente vai lutando”, garantiu. Inscrita no Programa
sas muito legais para meus filhos. Eles adoram os dias que
Habitacional, a super mãe vive na expectativa de receber
o pessoal vem aqui no bairro para brincar, e também tem
uma moradia digna, que, segundo ela mesma, ainda não
o lanche que eles ganham”.
tem uma data prevista para acontecer.
Instituto Paulo André - 7
Artigo
João Paulo S. Medina Professor de Educação Física, especializado em Ensino Universitário e Treinamento Esportivo e Mestre em Filosofia da Educação. Exerceu diferentes funções técnicas e gerenciais em vários dos principais clubes brasileiros e também no exterior, com passagens pela Seleção Brasileira e Seleção da Arábia Saudita de Futebol Profissional. Especialista em Planejamento, Organização e Treinamento de Futebol. Atualmente dirige o projeto da Universidade do Futebol® e presta serviços de consultoria.
Esporte, Educação e Cidadania: Uma reflexão política A proximidade de grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíada, a serem realizados no Brasil em 2014 e 2016, respectivamente, traz uma boa oportunidade para debatermos sobre as relações entre esporte, educação e cidadania. E para iniciar esta reflexão, gostaria de destacar que ainda existe muita confusão entre as diferentes dimensões que o esporte pode assumir em nossa sociedade. É muito comum, quando se fala em esporte, associá-lo ao alto rendimento. Quando essa confusão se dá no âmbito do senso comum é até compreensível. Imperdoável, porém, é quando ela ocorre entre profissionais que trabalham com o esporte e que deveriam obrigatoriamente distinguir claramente sua dimensão com objetivos de alta performance ou desempenho, das dimensões de participação, entretenimento, lazer, saúde e, sobretudo, com propósitos educacionais. Aqueles que lidam mais diretamente com as distintas manifestações da prática esportiva deveriam estudar mais profundamente suas aplicações e entendê-las, não apenas dentro dos seus limites técnicos mas também históricos, políticos, culturais, sociológicos e filosóficos. Sem dúvida ter este suporte das ciências humanas e sociais pode dar mais sustentação às práticas desportivas em todas as suas dimensões. Há, por outro lado, os que criticam o esporte por considerá-lo fonte de alienação, ou “ópio do povo”, como chegam a afirmar alguns pensadores mais radicais de esquerda, com a justificativa de que ele é sistematicamente utilizado para manipular ou desviar as nossas consciências dos verdadeiros problemas sociais que nos afligem e que deveriam prioritariamente ser superados. De fato, há uma série de argumentos que poderiam fortalecer esta visão ideológica. Há, contudo, contrapontos a serem feitos, da prática esportiva, sem se perder de vista os objetivos maiores de emancipação dos povos. Poderíamos, por exemplo, dizer que não só o esporte, mas a própria educação também pode ser fonte de alienação, dependendo de seus contextos e objetivos políticos ou ideológicos. Afinal, não podemos nos esquecer de que há vários tipos ou modelos de educação. Há “educação” para o autoritarismo, para o fascismo e para o nazismo; para a produção capitalista e para a produção socialista ou comu8 - Instituto Paulo André
nista. Como há ainda modelos de educação com inspiração religiosa cristã, espírita, muçulmana e assim por diante. E, talvez, no final das contas, tenhamos de concordar que praticamente todos eles foram ou poderiam ser considerados legítimos em seu devido momento histórico ou ambiente político e cultural. Assim é que este paralelo entre esporte e educação nos permite afirmar que tanto um quanto outro podem ser identificados – dependendo dos óculos ideológicos que usamos para enxergá-los – como fatores de dominação, libertação ou emancipação. O que queremos concluir com estas reflexões críticas é que o esporte, a educação e tantas outras manifestações humanas e sociais são aquilo que fazemos delas nos diferentes ambientes culturais e períodos históricos. Da mesma forma que o esporte não pode ser considerado, a priori, sinônimo de alienação ou dominação, não é também, por si só – como entende o senso comum –, sinônimo de saúde, cultura ou educação. Neste sentido, reafirmamos que qualquer modalidade esportiva não é boa ou má, em si mesma, mas seus benefícios e malefícios são frutos dos valores e ações que fundamentam suas práticas. Portanto, pode sim ser tanto agente de manipulação, violência, estímulo ao uso de drogas etc., como também pode ser instrumento de educação e de construção de cidadania, dependendo de como o abordamos. Por isso, para que o esporte possa verdadeiramente ser considerado elemento construtor de uma educação emancipadora e promotor da cidadania é preciso que seus agentes – professores, treinadores, agentes sociais e pais – entendam as contradições sociais em que vivemos e estejam preparados para utilizá-lo como tal, ou seja, como tema gerador de transformação. Pelo menos é isso que nos ensina o eminente pedagogo brasileiro Paulo Freire, através de um dos princípios que ele chamou de “tema gerador”. E não é muito difícil concluirmos que o esporte, dentro de nossa cultura, pode ser um excelente tema para gerar motivação e estimular jovens a pensarem e melhorarem não só as suas práticas esportivas, mas também suas próprias vidas, em busca de autonomia e emancipação.
destaques
Dia de cinema!
Graças ao auxílio de colaboradores do Instituto Paulo André, 220 jovens participaram da campanha “Leve uma criança ao
cinema”. Para a maioria, esta foi a primeira vez que eles puderam curtir a telona. O filme Operação Presente foi uma doação da Sony Pictures Brasil e a sala foi emprestada pelo Cinemark do shopping Iguatemi Campinas. Agradecemos ao voluntário Marcos de Oliveira, pela iniciativa de conseguir o uniforme para as crianças, e à empresa JFRM e CSC Camisetas Profissionais, que nos cedeu as camisetas. Estendemos esses agradecimentos à Empresa Rolcamp e a todos os amigos doadores que ajudaram com parte do transporte e do combo (refrigerante + pipoca). E, por fim, aos voluntários, pois sem eles não conseguiríamos realizar o sonho dessas 220 crianças!
Dos pés para as mãos Nosso presidente Paulo André adora se aventurar como pintor e resolveu fazer uma arte bem diferente. Com a ajuda de seus colegas do Corinthians, o zagueiro fez o Quadro dos Campeões. A tela retrata marcas de bola nas cores branca, preta e roxa e os pés e mãos dos campeões brasileiros de 2011. O resultado foi uma obra de 3m x 2,9m que será leiloada em prol do IPA e que está exposta no restaurante Paris 6, em São Paulo.
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Moda Voluntária O Instituto Paulo André realizou seu primeiro bazar beneficente. O evento foi um sucesso, com direito a coquetel e roupas da Mandi, Bob Store, Ralph Loren, D´Annalú e semi-joias da Zarifah. Nossos agradecimentos ao Tico Sahyoun, ao Nabil Khaznadar, à Juliana Caracciolo e à Ana Lúcia Giati da Costa Carvalho, que cedeu o espaço da loja D´Annalú para nossas convidadas.
Sorriso Bonito e Saudável
A Dra. Ecinele Francisca Rosa fez uma série de palestras sobre higiene bucal nos núcleos Vida Nova, Campo Belo e Gleba B,
em Campinas, para ensinar as crianças a escovarem corretamente os dentes. Para cada uma delas foi dado um kit com escova, creme dental, fio dental e toalha de rosto. As escovas foram doadas pela empresa Bitufo e os cremes pelo Banco do Brasil agência Costa Aguiar, de Campinas. No mês de março, os voluntários Dr. Eugênio Scannavino e o Dr. Fernando José Jammal iniciaram um tratamento gratuito com as crianças do IPA em seus próprios consultórios. O Dr Fernando Jamal tratou os dentes da pequena Kayane Vitória, do Campo Belo, que, apesar de ter apenas 6 anos de idade, já estava com todos os dentes comprometidos. Agora ela já pode se alimentar e mastigar direito, além de ter tido reforço nas lições de como manter a saúde bucal. Como o instituto cuida de 254 crianças, se você é dentista e tem disponibilidade de nos ajudar, envie um email para faleconosco@institutopauloandre.org.br. Para doar escovas, creme e fio dental, entre em contato conosco e faça a sua doação. Queremos fazer desta campanha uma ação permanente, afinal, sorriso saudável é sorriso bonito!
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Exposição interativa Toda criança deveria conhecer a impressionante história criada pelo escritor Antoine de Saint-Exupéry. 220 jovens atendidos pelo IPA tiveram a oportunidade de visitar a exposição “O Pequeno Príncipe”, onde puderam brincar e conhecer um pouco do terceiro livro mais vendido do mundo. Instalada em uma área de 400 metros quadrados, a exposição foi composta por nove cenários, onde os participantes puderam desenhar e aprender sobre o carinho que devemos ter com o nosso planeta. Nosso muito obrigado à Rosângela e toda equipe da exposição pela atenção, delicadeza e carinho com as nossas crianças. Muitas fizeram desenhos ilustrando a passagem pela exposição, para mostrar a importância dessa experiência em suas vidas.
Depoimentos “Gostei muito de ter conhecido o shopping, o banheiro é
“Foi minha primeira vez no cinema. O filme era bonito,
grande, bonito e a escada rolante deu medo! O que eu mais
servia para todas as idades e a TV muito grande! Eu es-
gosto no IPA é o Paulo André e o nosso time. Eu e minha fa-
pero que o Instituto Paulo André traga a gente no cinema
mília recebemos ajuda de um corintiano, isso é muito legal”
mais vezes, mas eu nunca mais vou esquecer esse dia” -
- Jean Lucas Vieira
Letícia Varella
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Entrevista
Bate-papo com Maurren Maggi por Paulo André Benini Única mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro olímpica em um esporte individual, Maurren Maggi, 35 anos, encanta pela simplicidade e simpatia com que me recebe em sua casa para este bate-papo. Ela me oferece um copo de água e pede para que eu sente no sofá. Fico entretido com a quantidade de fotos espalhadas pela sala, que mostram inúmeros momentos marcantes de sua vida como atleta. Troféus e medalhas também têm seus lugares de destaque, e são, um a um, orgulhosamente explicados pela anfitriã. Dou uma olhada geral no apartamento enquanto preparo mentalmente as palavras seguintes para dizer que, apesar de todo aquele acervo recheado de recordes e títulos, gostaria de ver sua maior conquista, o ouro de Pequim. Ao perguntá-la sobre tal tesouro, ela nem tenta esconder um sorriso maroto, como se todos que ali estiveram nos últimos anos tivessem feito a mesma pergunta. Cheia de satisfação, ela vai até o quarto e volta com aquele brilho dourado nas mãos, que, sem dúvida, reluzia em seus olhos como se estivesse admirando a medalha pela primeira vez. “Isso daqui fica no cofre lá em cima, nem no banco eu deixo”, brinca Maurren, antes de se desmanchar em risos.
Fabio Rubinato/AGF/divulgação São Carlos, minha cidade natal. As atividades eram em for-
Recentemente esta super atleta conquistou mais um tí-
ma de recreação e eu sempre frequentava o ginásio depois
tulo no meeting brasileiro disputado em Belém, no Pará, e
da escola para me divertir com a criançada. Na maioria das
logo em seguida obteve a terceira melhor marca do ano na
vezes era a minha avó que me levava até o local. Eu adorava
modalidade, saltando 6,85m. Todas essas competições es-
ginástica olímpica e vôlei”, conta.
tão sendo encaradas como treinamento, já que suas aten-
Mesmo não tendo sido paixão à primeira vista, ela já
ções estão voltadas para os Jogos Olímpicos de Londres. “Es-
surpreendia todos os meninos da turma que nunca con-
tou me sentindo bem e quero conquistar mais uma medalha
seguiam batê-la nas provas de corrida. “Era engraçado
olímpica”, garante.
porque até os 13 anos de idade, mesmo sem treinar, eu
Mas quem a vê hoje não imagina que o atletismo nem
sempre ganhava deles”. (risos) E foi assim, vencendo os
era seu esporte preferido na infância. “Comecei a praticar
meninos e se destacando nas atividades físicas que acabou
esporte aos 7 anos de idade numa escolinha da prefeitura de
despertando a atenção dos professores que a indicaram
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Rafael Zito/divulgação para fazer parte do Projeto Futuro, uma iniciativa do Esta-
Ainda bem que o atletismo não viu essas “escapadas”
do de São Paulo que reunia os mais promissores talentos
como traição e continuou acolhendo-a de braços abertos.
do interior para treinar atletismo em um local apropriado e
Mesmo sem querer, Maurren não imaginava que esse vas-
com treinadores qualificados.
to vocabulário motor adquirido com inúmeras praticas des-
Maurren e o atletismo começavam, então, uma relação
portivas diferentes ajudaria no seu desenvolvimento como
de amor. Ela aceitou o desafio de, aos 16 anos, deixar São
atleta, tornando-a mais completa e preparada para o que
Carlos para trás e desembarcar sozinha em São Paulo. Car-
estava por vir. Ela seguiu firme em sua rotina de treinos e
regando nas malas o sonho de construir, à custa de muito
sacrifícios e conseguiu, aos 23 anos de idade, seu primeiro
trabalho, dedicação e disciplina, um futuro melhor. Para
resultado expressivo, o ouro nos Jogos Pan-Americanos de
tanto, foi morar em um alojamento com outras quinze me-
1999, em Winnipeg, Canadá. Nessa época e com o dinheiro
ninas, treinava todos os dias e estudava à noite. “O projeto
dos patrocinadores e da premiação, conseguiu comprar seu
ainda oferecia alimentação e obrigava o pessoal a estudar.
primeiro apartamento em São Paulo. “Eu fui morar sozinha
No começo foi difícil mas eu sabia exatamente aonde eu
mas almoçava e jantava todos os dias no refeitório do Proje-
queria chegar”.
to Futuro com minhas colegas de equipe, era uma forma de
Como em qualquer relação de amor, nem tudo são flo-
retribuir tudo o que tinham feito por mim”.
res. Desencontros e desentendimentos normalmente ser-
No ano seguinte ela disputaria sua primeira Olimpíada,
vem para fortalecer a união de casais, e com Maurren e o
em Sidney (Austrália), chegando como a grande favorita e
Atletismo isso não poderia ser diferente. “Às vezes fugia da
tendo obtido a melhor marca do ano da modalidade até en-
pista e ia escondida para o ginásio assistir aos treinos da gi-
tão. “Era mais que um sonho disputar as Olimpíadas e eu
nástica olímpica. Assim que o pessoal terminava, eu passava
tinha chances de medalha, estava muito feliz e confiante”.
de aparelho em aparelho para tentar fazer igual. Eu era boa
Mas na terceira tentativa de salto, sentiu a musculatura an-
naquilo!”, lembra.
terior da coxa direita arrebentar como um elástico, sendo Instituto Paulo André - 13
obrigada a abandonar a prova e o sonho. “A dor física era insuportável, a lesão havia sido gravíssima e eu estava desolada por não ter conseguido competir”. A volta ao Brasil foi triste e as coisas por aqui não apresentavam perspectiva de melhora. “Pouca gente acreditava que eu pudesse voltar a saltar em alto nível. Meu músculo havia se descolado do osso e rompido. Alguns diziam que só com o procedimento cirúrgico aquilo poderia ser reparado”. Por esses motivos e com o fim do ciclo olímpico, Maurren perdeu todos os patrocinadores e teve que se sustentar com as reservas que havia juntado nos últimos anos. Com o auxílio do Dr. Moises Cohen, conseguiu se reabilitar e, surpreendendo a todos, voltou para as atividades físicas
Rafael Zito/divulgação Sophia. “Eu queria construir uma família, e depois do nascimento da Sophia, tudo ficou mais gostoso e prazeroso”, conta.
três meses depois do ocorrido. No início de 2001, na sua pri-
Só que, por mais que tentasse, Maurren não conseguiu
meira competição após a lesão, saltou 6,80m e conquistou a
esquecer o atletismo. Ela o amava, ela adorava competir,
medalha de ouro em São Caetano. No mesmo ano foi para a
treinar e se superar. Por isso, tempos depois, numa manhã
China e se sagrou campeã mundial universitária do salto em
de janeiro de 2006, ela resolveu, timidamente, aparecer
distância e ainda levou a prata nos 100m com barreira e nos
na pista onde havia passado toda a sua adolescência trei-
4 x 100m feminino, provas que nem eram sua especialidade.
nando. “O pessoal estava trabalhando e ninguém percebeu
Sua carreira voltou a decolar e ela conquistou medalhas
a minha presença. Fui ao lado do meu ex (e atual) técnico,
em Madri e ao redor de todo o mundo. A de maior desta-
Nélio Moura, o cumprimentei e perguntei se poderia trotar
que foi a medalha de ouro no Golden League em Paris, a
em volta da pista. Ele disse que não teria nenhum problema.
liga de ouro que reunia os melhores atletas do ano. Os dois
Corri uns 30 minutos e fui embora para casa. Voltei no dia
anos seguintes foram repletos de glórias, vencendo provas,
seguinte e fiz a mesma coisa. Isso deve ter se repetido por
superando seus próprios limites e batendo suas próprias
15 dias até que o Nélio finalmente veio me oferecer um pro-
marcas. Tudo estava perfeito e a preparação para os Jogos
grama de trabalho para eu voltar a treinar.”
Olímpicos de Atenas, em 2004, caminhava tranquilamente.
Como motivação e inspiração, Maurren sabia que só o
Até que uma pomada cicatrizante, usada para o tratamento
atletismo poderia dar a ela e à pequena Sophia um futuro
de depilação definitiva a fez ser pega no exame antidoping.
melhor. “Eu precisava sustentar a minha filha. Tinha saído de
“Peguei dois anos de suspensão. Estava desiludida e con-
um relacionamento e a Sophia estava crescendo. Me lembro
trariada e por isso resolvi abandonar a carreira e cuidar da
que passei mais de um mês com dores musculares, treinan-
minha vida pessoal, pois o atletismo e tudo aquilo que eu
do e me readaptando à vida de atleta. Mas eu estava feliz e
havia devotado a minha vida estava sendo retirado de mim”.
disposta a tudo para voltar a competir”.
Dessa vez, quem a deixava de lado era o Atletismo, que tra-
Mal sabia ela que essa tríade, mãe, filha e o atletismo es-
tava de escrever o capítulo mais triste dessa relação. E ao se
tariam comemorando, dois anos depois, a vitória nos Jogos
separarem, cada um seguiu seu destino, sem olhar para trás.
Olímpicos de Pequim. E mesmo que Sophia, com quase qua-
Fora do esporte, Maurren teve tempo para realizar um outro
tro anos de idade, preferisse a medalha de prata, Maurren
sonho e não tem dúvidas de que esse sim, foi o maior prêmio
e o Atletismo finalmente haviam concordado em se oferecer
que recebeu na vida. Em dezembro de 2004 deu a luz à sua filha
a medalha de ouro e celebrar o sucesso dessa linda relação.
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Rapidinhas:
Me contaram que você adora cantar, inclusive possui um karaokê dentro de casa. Quais são suas músicas preferidas? Whitney Houston, mas os vizinhos odeiam. Adoro Bea-
O que podemos esperar de você em Londres?
tles, Queen, Roupa Nova e Zezé di Camargo.
O melhor possível. Conheço as adversárias e sei que, se Você quer que a Sophia [filha de Maurren] siga uma
encaixar meu salto, conquisto uma medalha.
carreira dentro do esporte? O que deseja fazer quando se aposentar das pistas?
Adoraria, mas ela é muito boa aluna e meu papel é ofere-
Trabalhar junto ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro), para melhorar o futuro do esporte no país.
cer oportunidades para que ela possa escolher o que quiser. Só quero que ela seja feliz.
O que acha do atletismo brasileiro? Da estrutura, reno-
Quais as influências do esporte na sua vida adulta e
vação e formação de novos atletas? Falta talento ou opor-
quais os valores mais importantes que aprendeu no dia a
tunidade? Como mudar essa realidade?
dia dos treinos?
O atletismo brasileiro melhora a cada dia, mas a melhora é
Educação, disciplina, respeitar outras pessoas por ter mora-
lenta. Não falta talento, falta estrutura para a base, para come-
do no alojamento. Engolir sapo, cair, e, principalmente, levantar.
çar o trabalho cedo e formar atletas , oferecendo a iniciação e prática esportiva nas escolas. A educação física nas escolas é
Um sonho?
obrigatória mas não é estruturada, e nesse ponto eu acho que
Realizei muito mais do que sonhei. O que vier daqui pra
está a nossa oportunidade.
frente é lucro.
Medalhas Campeonatos Mundiais - Indoor
Valência 2008 Salto em distância
Birmingham 2003 Salto em distância
Campeonatos Mundiais - Indoor
Pequim 2001 Pequim 2001 Salto em distância 100 m com barreiras
Jogos Pan-Americanos
Winnerpeg 1999 Salto em distância
Rio 2007 Salto em distância
Palma de Mallorca 1999 Salto em distância
Jogos Olímpicos
Guadalajara Salto em distância
Winnipeg 1999 100 m com barreiras
Pequim 2008 Salto em distância
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Entrevista
Brincadeira de criança (e adultos) Conheça o novo projeto do Instituto Paulo André, o Brincando e Aprendendo por Daniela Torres | Fotos: Angelo Pastorelli Iniciado em 17 de março de 2012, o Brincando e Aprendendo é um projeto criado pelo Instituto Paulo André para atender as famílias que frequentam o núcleo Gleba B, do bairro Parque Oziel, em Campinas. As atividades são realizadas uma vez por mês, aos sábados, no período matutino. De acordo com Mirian Cren Benini, o Brincando e Aprendendo foi criado com o objetivo inicial de aprofundar o relacionamento com as famílias, principalmente as crianças, que vão de 3 meses a 15 anos. “Através de jogos, histórias e resgate de brincadeiras infantis vamos desenvolvendo noções de sociabilidade, respeito, partilha e raciocínio. É uma grande oportunidade para interagir e captar as maiores necessidades que eles apresentam”, explica. A proposta do projeto permite que cada criança se inscreva em um curso ou brincadeira de sua preferência. Entre as atividades estão pular corda, elástico, jogar pião, confeccionar e empinar pipas e outros jogos lúdicos, como dama, xadrez, quebra-cabeça e memória. Também são feitas oficinas de desenho artístico, que tiveram grande aceitação por parte dos adolescentes, abrindo possibilidades para uma carreira na área. Para as mães, o IPA oferece oficinas de artesanato, com objetos feitos com
fuxico e outros trabalhos com jornal, o que podem se tornar uma pequena fonte de renda. Antes do início das oficinas são ministradas palestras educativas ligadas à saúde, como higiene bucal, higiene das mãos, alimentação saudável e cuidados com o corpo. “Esse contato maior permite que identifiquemos necessidades físicas e psicológicas dos participantes, e vamos tentando atendê-los à medida do possível. Foi assim que começamos o trabalho com dentistas voluntários e oftalmologistas, por exemplo, quando em uma atividade identificamos uma criança com estrabismo. Agora buscamos um psicopedagogo voluntário para atender os casos de dislexia e déficit de atenção. Com isso, esperamos proporcionar a cada indivíduo um lugar na sociedade, independente da posição socioeconômica”, conta Mirian.
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A força dos voluntários Além da doação de materiais e brinquedos, em cada sábado de projeto são necessários mais de 30 voluntários para realizarem as oficinas ou workshops. Segundo o presidente do IPA, Paulo André Benini, os bons resultados do Brincando e Aprendendo podem ser atribuídos ao auxílio das dezenas de pessoas dispostas a ajudar. “Seria tudo muito bonito no papel, mas tenho absoluta certeza de que o projeto só está funcionando porque é baseado na colaboração mútua e vocação dos voluntários. O que as crianças mais querem é carinho, serem aceitas em uma sociedade. São horas de alegria para eles, e o mais incrível é que nós aprendemos muito mais do que ensinamos. Ao mesmo tempo que as crianças saem acreditando em uma vida mais feliz, todo voluntário sai preenchido. É uma troca benéfica a todos, vale a pena participar”, aponta o zagueiro. A psicóloga Bete Dalto, voluntária do IPA há quase um ano, também garante que vale a pena. Para ela, além de auxiliar no resgate da autoestima das crianças e adolescentes assistidos, o Brincando e Aprendendo possibilita o exercício da doação de amor de ambas as partes.
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”Para ser um voluntário do Brincando e Aprendendo
Vale lembrar que o projeto Brincando e Aprendendo se man-
basta se munir de amor e tempo para passar uma ma-
tém por meio de doações e trabalho voluntário. Que tal fazer
nhã trocando experiências e recordando de sua própria
aquela limpeza no seu armário? O Instituto Paulo André precisa
infância. Tem algo melhor do que relembrar seus jogos
de materiais escolares, jogos, brinquedos e qualquer objeto que
e brincadeiras prediletos que ficaram para trás? Expe-
seja importante para uma criança. Para se tornar um voluntário,
rimente fazer isso com uma criança que só quer doar e
basta preencher o cadastro no site do IPA: www.institutopau-
receber amor. É um aprendizado maravilhoso toda vez
loandre.org.br/site/paginas/trabalho-voluntario.php ou enviar
que participo”, afirma.
um email para faleconosco@institutopauloandre.org.br.
18 - Instituto Paulo André
ATIVIDADES DO PROJETO BRINCANDO E APRENDENDO Corda
Peão
Dama
Pipa
Elástico
Quebra-Cabeça
Jogo da Memória
Xadrez
Oficina de Desenho
Bambolê
Oficina de Fuxico
Reciclagem com aproveitamento de jornal
Instituto Paulo André - 19
Artigo
Eduardo Tega Eduardo Conde Tega é executivo da Universidade do Futebol e acredita que o futebol pode contribuir para uma mudança significativa a favor da educação, da cultura e da cidadania em nosso país.
Minha emocionante visita ao IPA Já passava das 8 da manhã e dezenas de crianças se amontoavam na porta do ginásio da comunidade Gleba B
lorido pendurado ao pescoço por um barbante. Cada voluntário era identificado da mesma maneira.
do Parque Oziel, em Campinas, São Paulo, onde aconteceria
Depois de um alegre despertar em forma de alongamento,
mais um Brincando e Aprendendo, projeto promovido pelo
as crianças já estavam divididas por estações e eu tinha o desa-
Instituto Paulo André, o IPA.
fio de ensinar a “jogar pião” a cinco meninos e duas meninas.
Algumas crianças de colo – trazidas pelos pais – contrasta-
Olhos desconfiados que foram conquistados com carinho e
vam com a grande maioria de meninos e meninas que varia-
um diálogo sincero, que permitiram alinhar nossas realidades.
vam a idade entre 5 e 15 anos e se organizavam para o cre-
Como andar de bicicleta, recordei instantaneamente das téc-
denciamento às brincadeiras. O sorriso tímido, o receio de um
nicas de enrolar o brinquedo na cordinha e ajustá-la à pegada
rosto estranho, a busca por um olhar de carinho… eram alguns
correta. O movimento para soltá-lo me fez ter certeza de que
dos sentimentos que gritavam do lado de fora do ginásio.
aquele era mesmo o jeito, já que o pião zuniu forte no ar e
Os voluntários começavam a chegar em maior número,
rasgou o chão de cimento da quadra no primeiro lançamento.
vestidos com a vontade de fazer o bem, com o sorriso do
Cada pião rodado era uma conquista devidamente comemo-
bom dia e com a camisa símbolo do projeto. Um número
rada e cada tentativa frustrada servia de metáfora para superar
expressivo de gente que não protesta do sofá e sai da zona
qualquer desafio – do próprio brinquedo ao monte Everest. Trans-
de conforto pra ajudar alguém desconhecido.
formar o “Eu nunca vou conseguir” em “Eu posso, eu consigo.”
Depois da calorosa recepção e das orientações e divisões
Como voluntários e educadores devemos ter a sensibilidade
das tarefas, seguimos ao ginásio para a montagem da “sala
de que, se não entendermos a realidade de mundo em que vive
de aula”, com as estações de jogos e brincadeiras. Cada vo-
a criança que está à sua frente, toda a criatividade e boa vontade
luntário se encarregaria de ensinar uma atividade e as crian-
pode render aquém do esperado. Também é necessário enxergar
ças poderiam circular por todas as estações.
no jogo e na brincadeira um potencial educativo, que gera apren-
Como transformar em brincadeira giz de cera, cordas,
dizagens e experiências em vários sentidos (sócio-afetivo, moral,
panos, bolas de meia, bambolês, garrafas, além de brinque-
motor e cognitivo), permitindo que as crianças aprendam, brin-
dos considerados “antigos” para um mundo tomado por
quem, pratiquem esporte e que os voluntários ensinem e desper-
gadgets, falta de tempo e intolerância? E como fazer dessas
tem noções de ética, cidadania e solidariedade, por exemplo.
atividades algo desafiador, estimulante, educativo, prazero-
Dessa forma, seremos ao mesmo tempo educandos de
so, colaborativo e que desperte curiosidade e imaginação
um mesmo processo, legítimo e inspirador, como a letra da
em quem joga? Que brote um sorriso em quem brinca?
música de despedida das crianças da comunidade:
As crianças entravam no ginásio uma a uma, devidamen-
“Como existe gente com atitude… como existe gente
te identificadas com o nome num retângulo de cartolina co-
com amor. Como existe gente que tem fé… agradecemos ao Instituto Paulo André!”
20 - Instituto Paulo André
Artigo
Gustavo Barbosa dos Santos Doutorando em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP, Mestre em Biologia Funcional e Molecular (Depto. Fisiologia) pela UNICAMP, Especialista em Bioquímica, Fisiologia, Treinamento e Nutrição Esportiva pela UNICAMP, Bacharel em Treinamento Esportivo pela UNICAMP
Esporte e Educação. Por que não juntos? Há muito se fala sobre a educação através do esporte
É este paradigma que nos deixa perplexos quando nos de-
e sobre a importância deste na formação dos princípios do
paramos com jogadores como Sócrates, Raí, Leonardo, Paulo
cidadão. O esporte (inclui-se aqui a educação física escolar)
André, entre outros (não muitos), que nos mostram ser possí-
influencia o desenvolvimento humano não apenas pelo de-
vel ser bem-sucedido no esporte sem abandonar o desenvolvi-
senvolvimento motor, mas também por meio da interação
mento intelectual. Estes sim são os exemplos a serem seguidos.
com os elementos dinâmicos de seus contextos de vida, co-
Porém, a dicotomia corpo e mente se perpetua através de
locando em harmonia e de forma indissociável seus atribu-
politicas públicas que valorizam o desenvolvimento intelectual
tos cognitivos, emocionais e sociais.
em detrimento do desenvolvimento motor. O mesmo se aplica
Além disso, as adaptações fisiológicas trazidas pelo es-
no âmbito esportivo, porém de forma contrária. Não poderíamos
porte advogam quase sem questionamentos (exceto no caso
fazer do esporte algo mais democrático e não apenas o único ca-
do esporte de rendimento) a importância do engajamento
minho para ascensão social de comunidades desfavorecidas?
esportivo para a saúde. Estudos recentes mostram melhor
São muitos os exemplos bem-sucedidos de união en-
desempenho cognitivo (além da geração de novos neurô-
tre esporte e educação. Nos Estados Unidos, o esporte es-
nios e da melhora na comunicação entre eles) em pesso-
timula a educação através do incentivo à educação física
as que praticam atividade física, quando comparadas com
escolar e bolsas de estudos universitárias que possibilitam
pessoas sedentárias. Assim, parece óbvio que a associação
o acesso à universidade mesmo para pessoas financeira-
entre o desenvolvimento motor e intelectual influencia po-
mente desfavorecidas. Isso faz dos Estados Unidos uma das
sitivamente a formação do cidadão.
duas maiores potências do esporte mundial e uma “fábrica
Dentro desta perspectiva questiono o por que, em nosso país, o caminho do esporte é, quase sempre, oposto ao cami-
de atletas”, sendo, muitos deles, formados nas melhores universidades americanas.
nho da educação. Admito que as histórias de muitos jogadores
Se continuarmos a olhar o esporte e a educação como
de futebol - que saíram da periferia e conseguem através do es-
caminhos diferentes e/ou opostos, nunca atingiremos o de-
porte proporcionar uma vida digna para sua família - são inspi-
senvolvimento pleno de nossos cidadãos. A união destes
radoras, muitas vezes heróicas. Mas será que precisa ser assim?
dois aspectos inerentes ao desenvolvimento humano é, sem
Será que a história de sucesso no esporte deve, necessariamen-
dúvida, a melhor maneira para a formação de cidadãos me-
te, ser precedida por uma história de fracasso intelectual?
lhores e mais capacitados. Instituto Paulo André - 21
entrevista
O coração do IPA
No campeonato da vida, o time do IPA é campeão de solidariedade, e a titular absoluta do instituto, Mirian Cren Benini, é craque em dedicação, carinho e energia por Roberta Gabardo Realizar projetos nas áreas de Esporte e Cultura escalando craques como educadores, pedagogos, dentistas e assistentes sociais
mãe mantém o sonho em pé e carrega cada ação e cada criança no colo, como se fossem um filho”, resume Paulo André.
é o esquema tático criado pelo Instituto Paulo André para colocar
Assim, como na disputa de um importante campeonato de
em campo a inclusão social e devolver a centenas de crianças e
futebol, o instituto enfrenta desafios e dificuldades para manter
adolescentes a possibilidade de sonhar e serem campeões na vida.
os atendimentos e ações que desenvolve. O principal adversário
E para transformar em realidade a vontade e o desejo de
é a busca de parceiros que contribuam na viabilização dos proje-
contribuir para o futuro destes jovens, Paulo André conta com o
tos de esportes como tênis e badminton, além das oficinas de
apoio e o trabalho incansável da mãe, Mirian Cren Benini, que,
pipa, fuxico, leitura e jogos de tabuleiro. Em pouco mais de um
junto com ele, criou o IPA. “Quando o Paulo André voltou da
ano de trabalho, o IPA beneficia mais de 250 crianças por mês,
França decidimos colocar o projeto em prática, mostrar que as
embora a iniciativa conte com apenas cinco doadores fixos. “Te-
crianças podem ter oportunidade. Queremos que elas tenham
mos dificuldades com verbas, afinal, vivemos de doação. Pre-
escolhas”, explica. Mais do que treinadora desse time vitorio-
cisamos fazer diversos eventos para arrecadar donativos, desde
so, Mirian assume o papel de motivadora, ouvinte, amiga e até
bazar, jantares e tudo o que precisar”, orgulha-se Mirian.
mãe no convívio com as crianças que participam dos projetos.
Embora seja imprescindível, não é só de verba financeira que
“Ela faz o IPA e todas as pessoas aqui dentro pulsarem. Minha
o IPA é movido. Superação, energia, força e dedicação são ingre-
22 - Instituto Paulo André
dientes fundamentais para fazer com que o instituto funcione e contribua de forma positiva com o desenvolvimento da sociedade. E, nestes quesitos, Mirian é titular absoluta. “Percebemos que dinheiro não quer dizer nada, eles precisam de aconchego. Eu arrumo o cabelo das crianças e elas ficam do meu lado, é pelo carinho mesmo. E isso não tem preço”, revela emocionada. E não são só as crianças que ficam encantadas com ela. A admiração vem também de outra família, a de sangue. “A motivação dela não tem explicação. É comunicativa, ativa, verdadeira guerreira e, às vezes, até severa e rígida. Ao mesmo tempo, não deixa de ser divertida, super dedicada e lutadora”, define o sobrinho mais velho, João Flávio Cren Chiminazzo. E para quem pensa que é difícil fazer a diferença, Mirian ensina como dar o primeiro passo. A receita parece simples. “Todos perguntam como ajudar. Eu digo: ‘traga seu amor’”. Instituto Paulo André - 23
Artigo
Josmari Aparecida Cren Enfermeira formada pela UNICAMP, especialista em Pediatria de Alto Risco pela USP e voluntária do Instituto Paulo André há seis meses.
O poder do voluntariado Quando fui convidada pelo Paulo André para escrever sobre
mental), as atividades voluntárias que estão relacionadas neste âmbito
voluntariado fiquei muito feliz e aceitei sem pestanejar. Alguns dias
são para desenvolver tecnologia social capaz de propor soluções inova-
após comecei a pensar no assunto e percebi o tamanho do desafio
doras e criativas de caráter local, maximizando o uso de recursos e mini-
que estava à minha frente, então fui pesquisar e estudar a questão
mizando custos operacionais, intervir na realidade concreta e legitimar e
quando percebi que o voluntariado já fazia parte da minha vida há
promover os direitos de inclusão nos diversos segmentos comunitários.
muito tempo, sendo, portanto, um assunto bem familiar.
As atividades do voluntariado do IPA estão balizadas pelo lema
Mas, afinal, o que é o voluntariado? Como podemos defini-lo
da organização: “Realizando sonhos, construindo futuros”. E para
de uma forma simples para que todos entendam? E como o Institu-
isso temos trabalhado com os conceitos de educação do futuro:
to Paulo André está inserido nesta questão?
compromisso com a ética, solidariedade e responsabilidade. O
Comecemos pelas definições:
trabalho é voltado para o despertar da consciência coletiva, assu-
Segundo as Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou adulto
mindo uma postura de comprometimento com as gerações futuras
que, devido seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica
(responsabilidade social), organizar grupos assumindo um papel
parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas
além de uma simples ação de ajuda emergencial (solidariedade) e
de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros
entender as regras e limites da sociedade (ética).
campos [...]”. Para fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, o vo-
O trabalho voluntário é tão sério que é delimitado por legis-
luntário é definido como ator social e agente de transformação,
lação nacional (Lei do Voluntariado, n° 9.608, de 18/02/98 e Lei
que presta serviços não remunerados em benefício da comuni-
do Terceiro Setor, n° 9.790 de 23/03/99). Dentre as citações legais
dade; doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho
temos que o voluntariado é o conjunto de ações de interesse social
gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às
e comunitário em que toda a atividade desempenhada reverte a
necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como
favor do serviço e do trabalho. É feito sem recebimento de qual-
às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter reli-
quer remuneração ou lucro. O voluntário ajuda quem precisa con-
gioso, cultural, filosófico, político ou emocional.
tribuindo para um mundo mais justo e mais solidário.
Mediante tais conceitos entendemos que qualquer pessoa
As ações voluntárias exigem o mesmo grau de profissionalismo
pode ser voluntária, independente do grau de escolaridade ou ida-
que em uma empresa, se não maior. O fato de estar ajudando os
de, o importante é ter boa vontade e responsabilidade.
outros não significa que você será paparicado e que seu trabalho não
A atividade voluntária oferece ao indivíduo um potencial trans-
possa ser criticado. A humildade é uma característica primordial para
formador relacionado ao altruísmo e à solidariedade que são va-
o voluntário. As críticas devem ser vistas como processos de melho-
lores morais constituídos como virtudes natas do ser humano. A
ria das ações, como uma avaliação do trabalho voluntário, e precisa-
prática de atividades voluntárias zelará pela manutenção da ordem
mos deste retorno para desenvolvimento e crescimento do grupo.
social e pelo progresso do homem, numa perspectiva política. Para
Sobre as estatísticas do setor, temos que 54% dos jovens brasi-
o foco religioso, o voluntariado é entendido como caridade, geral-
leiros querem ser voluntários, mas não sabem por onde começar.
mente reforçada pelo ideal, crenças, sistemas de valores e compro-
Somente 7% dos jovens brasileiros são voluntários, contra 62% nos
missos com determinadas causas vitais.
EUA. Isto representa uma ameaça a toda uma geração que está
No caso do IPA o trabalho voluntário está direcionado para causa
sendo educada sem consciência social.
social. A causa social é definida como um problema social que está
É importante sabermos que os voluntários vivem mais e com
delimitado à identificação das necessidades básicas não satisfeitas de
maior saúde! De acordo com uma pesquisa publicada no The He-
uma determinada comunidade. As necessidades básicas são todas
aling Power of Doing Good por Allan Luks, as pessoas que ajudam
funções humanas que preservam a vida, desde a alimentação, educa-
os outros têm consistentemente melhor saúde. Oito entre dez dos
ção, trabalho, saúde, moradia, lazer, até consciência política e social.
entrevistados afirmaram que os benefícios para a saúde retorna-
Sendo o Instituto Paulo André uma organização civil e comunitária,
vam quando eles se lembravam da ação feita em anos anteriores.
sem finalidade lucrativa, ou seja, uma ONG (Organização Não Governa-
Sendo assim, vamos praticar o voluntariado! Junte-se ao IPA!
24 - Instituto Paulo André
Instituto Paulo AndrĂŠ - 25
Entrevista
O nosso presidente Paulo André
As diretrizes do IPA para o ano de 2012; carreira, cotidiano e planos para o futuro por Daniela Torres | Foto: Angelo Pastorello O que é, exatamente, o Instituto Paulo André?
De onde surgiu a ideia e por que você decidiu criá-lo?
O Instituto Paulo André é uma organização não gover-
Eu tenho uma família maravilhosa que me permitiu, com
namental, sem fins lucrativos, criada para proporcionar a
educação e amor, correr atrás dos meus sonhos desde muito
crianças e adolescentes carentes de Campinas projetos de
cedo. Ao longo dessa caminhada, distante dos entes queri-
esporte e cultura, utilizando o ensino não formal para ofe-
dos e sozinho nessa selva de pedras, percebi que as minhas
recer oportunidades de crescimento pessoal e profissional
escolhas e experiências vividas foram os pilares da minha
às crianças que vivem em situação de vulnerabilidade social,
sustentação como homem. Mesmo não tendo tido a opor-
sem perspectivas de um futuro melhor.
tunidade de seguir o ensino formal, como meus irmãos e
26 - Instituto Paulo André
primos, adquiri conhecimento por meio da leitura, curiosi-
oftalmológico gratuitos e campanhas culturais, como levar
dade e observação, e acredito que outras pessoas possam se
as crianças ao cinema, ao circo etc. Também temos um pro-
desenvolver da mesma maneira. Creio no poder do esporte
jeto chamado Brincando e Aprendendo, que consiste em
como ferramenta de educação e formação do indivíduo e
atividades lúdicas para as crianças e suas mães, onde temos
por isso resolvi contribuir, ou melhor, retribuir, oferecendo
brincadeiras e workshops que podem resultar em um apren-
a uma pequena parcela de pessoas carentes um futuro me-
dizado que gere renda a essas famílias, como a oficina de
lhor através desses meios. Espero que daqui a alguns anos
fuxico por exemplo. Na outra mão temos um projeto de in-
eles estejam aptos a fazer suas próprias escolhas mas, para
centivo fiscal, de tênis, aprovado pelo Ministério dos Espor-
isso, é preciso oferecer-lhes oportunidades de experimentar
tes e que está em fase de captação, e outro projeto de tênis
uma nova realidade.
e badminton para 120 crianças carentes que está em apro-
Quem são as pessoas ou comunidades atendidas pelo instituto? Hoje o IPA atende 254 jovens de três bairros pobres de Campinas: Vida Nova, Campo Belo e Gleba B. As famílias, especialmente as mães, também estão sendo beneficiadas. O que essas pessoas recebem do Instituto Paulo André e quais os planos para 2012? Mensalmente fazemos a distribuição de cem cestas básicas para as famílias e ao todo já se foram mais de mil cestas entregues. Além disso, estamos realizando palestras nas áreas de saúde, campanhas de tratamento odontológico e
Instituto Paulo André - 27
vação no ministério. Os planos para 2012 são de solidificar a estrutura, com cada vez mais conteúdo pedagógico e maior
Quem pode auxiliar o Instituto Paulo André e de que forma podem fazê-lo?
tempo de contato com essas crianças e suas famílias. Para
Qualquer pessoa pode ajudar o IPA, doando tempo, di-
isso, precisamos de parceiros e empresas que nos ajudem a
nheiro, conhecimento e amor. No site do IPA tem uma página
pagar professores e assistentes sociais capacitados.
chamada “Como Ajudar” que explica com detalhes. A pessoa pode fazer uma doação única, ou doar mensalmente via boleto
Quais são os planos para o Instituto Paulo André nos próximos cinco anos?
ou via débito automático, e também pode se cadastrar como voluntário e será chamado para todas as nossas atividades. Os
Estamos trabalhando para que o IPA consiga uma
voluntários podem trabalhar em suas áreas de atuação, como
sede. Hoje trabalhamos em parceria com o Grupo Sa-
profissionais da área de saúde e professores de diversas áreas,
lesianos e usamos sua estrutura para aplicar nossos
ou podem oferecer um tempo com as crianças, dando-lhes ca-
projetos. Queremos um espaço para realizar nossas ati-
rinho e atenção, que são extremamente importantes.
vidades e que seja um local onde as crianças possam frequentar diariamente, no contrafluxo do período escolar. Nossos objetivos são de oferecer cursos de português,
Cite três exemplos em que o Instituto Paulo André impactou uma ou mais pessoas.
matemática, desenho, pintura, xadrez, atletismo, judô,
Com a cesta básica, muitas mães deixaram de recolher
tênis e futebol. É um sonho e, mesmo sabendo que é um
comida do lixo para seus filhos. Apesar de ser uma ação as-
investimento caro, tenho certeza de que valerá a pena.
sistencialista, esse é um projeto que deu mais dignidade a
Só assim poderemos atuar profundamente na formação
essas famílias. Na campanha Leve Uma Criança ao Cinema
de indivíduos.
tivemos 220 participantes, sendo que a maioria nunca havia ido ao cinema, nem mesmo ao shopping. Tivemos de-
Qual é a estrutura atual do Instituto Paulo André, o custo fixo mensal e onde esse valor é investido?
poimentos emocionantes dos participantes. Na campanha Sorriso Bonito e Saudável as crianças estão recebendo trata-
O IPA hoje tem uma sala comercial onde trabalham um
mento odontológico gratuito, de forma que não teriam essa
funcionário com registro CLT, membros do conselho e vo-
oportunidade pelo sistema público de saúde. Além disso,
luntários. O custo fixo gira em torno de R$8.000,00 entre a
com a distribuição de kits de higiene bucal, a maioria das
estrutura, a realização de campanhas e dos nossos projetos.
crianças ganhou sua primeira escova de dente, objeto que
Estamos engatinhando e aprendendo muito a cada dia.
antes era dividido entre todos os membros da família.
28 - Instituto Paulo André
Como é seu dia a dia fora do Instituto Paulo André?
coisas que vi, vivi e senti, já que elas não diferem muito dos
Muitos treinos, viagens e compromissos profissionais, in-
outros jogadores. Existe um padrão e, exatamente por esse mo-
clusive coisas do instituto. Mas sempre dá tempo de tomar
tivo, quis mostrar a nossa realidade e contestá-la. É um mundo
um vinhozinho e me divertir, porque ninguém é de ferro.
paralelo, cheio de dificuldades e sofrimentos até que se chegue ao estrelato. Poucos conseguem atingir o alto nível e por isso
Você tem inúmeros hobbies fora de campo, fale um pouco sobre eles.
retratei sentimentos, bastidores e fatos curiosos de um garoto que sai de casa em busca de um sonho. Utilizei a minha pró-
Tenho um blog que fala dos bastidores do futebol e políticas do
pria história como pano de fundo, e pude contar com detalhes
esporte, então sempre que posso escrevo sobre a minha paixão, o
como é o processo de se tornar jogador de futebol profissional.
esporte. Também gosto de ler, assistir filmes e, de vez em quando,
No final, conto com detalhes minhas experiências na Europa e
me arrisco na pintura. Mas o que me diverte mesmo é sair para
a festa do título brasileiro de 2011, jogando pelo Corinthians.
jantar e jogar pôquer com os amigos. Essas são as coisas que me dão prazer e que me tiram da correria do dia a dia. E no meio disso tudo ainda consegui um tempinho para escrever e lançar meu primeiro livro, o que foi, de fato, uma grande aventura.
Você teve participações interessantes no livro, com atletas, jornalistas e ídolos. Fale sobre isso. Me sinto honrado pelas participações e depoimentos. Para não ser injusto com ninguém, vou citar todos. A apresentação
Fale sobre seu livro, O Jogo da Minha Vida. Qual a sua inspiração e que mensagem você quis passar?
foi feita pelo Ronaldo Fenômeno e o prefácio por Luis Paulo Rosenberg (na época diretor de marketing do Corinthians).
Minha inspiração foi a vida que levei dentro do futebol, as
Instituto Paulo André - 29
Antes de cada unidade e capítulo, escreveram Juca Kfouri;
Você conquistou inúmeras coisas na vida pessoal e pro-
minha mãe, Dona Mirian; Kaká; William Capita; meu pai, Sr.
fissional. Podemos dizer que é uma pessoa bem sucedida.
Arnaldo; Zetti; Ruddy Machado (meu técnico em Águas de
Ainda tem algo que te falta ou que sonha conquistar?
Lindoia); Bruninho do vôlei; Sócrates; meu empresário, Hugo
Depois que me aposentar, vou estar envolvido com o
Garcia Martorell; Vanessa Menga; Antonio Lopes; Evaristo
esporte, seja em um cargo diretivo ou político. Já na vida
de Macedo; Gustavo Borges; Grafite; Michel Bastos; Túlio de
pessoal, quero que o IPA cresça e possa ajudar cada vez mais
Melo; Roberto Carlos; Hortência; Bruno Laurence; Milton Lei-
pessoas. Quem sabe um dia não nos tornemos uma universi-
te; Tiago Leifert; Edu Gaspar; Maurren Maggi; Maurício do vô-
dade do esporte, dando oportunidades para os menos favo-
lei, Oscar Schmidt e Mauro Beting. Com uma equipe de peso
recidos. Um dia sonhei ser jogador de futebol e cá estou eu.
dessas, eu nem precisaria escrever mais nada (risos). Como você está sempre nos surpreendendo, poderia anQual foi a reação do público ao saber que você havia escrito um livro e como está o retorno atualmente? Quando contei para algumas pessoas que lançaria meu livro teve gente que se surpreendeu e perguntou quem o havia escrito de verdade. Isso me fez sentir ainda mais orgulho desse “feito”, porque são exatamente esses paradigmas e preconceitos com relação à classe de jogador de futebol que tento quebrar. Passei quase um ano escrevendo e me deu muito trabalho, mas nada comparado ao dia do lançamento (risos). Foi em São Paulo, com mais de mil pessoas, e... acabou a energia! Blackout total. Apesar dos problemas de logística, foi um sucesso. O retorno das pessoas não poderia ser melhor. Recebi muitas críticas positivas, elogios de escritores e jornalistas, mas o melhor para mim foi a opinião do público em geral. Jogadores que estão no início, pessoas que nunca leram nada sobre futebol e jovens que nunca haviam lido um livro. O retorno foi muito melhor do que eu esperava.
30 - Instituto Paulo André
tecipar alguma novidade para os nossos leitores? Não sei ainda. Quem sabe tocar violão, aprender a surfar (risos)... Não consigo ficar na mesmice, então com certeza alguma novidade surgirá.
Instituto Paulo AndrĂŠ - 31
Artigo
Você conhece a “Cesta do Bem”? Projeto do Instituto Paulo André entrega cestas básicas em Campinas por Daniela Torres
Desde setembro de 2011, o Instituto Paulo André tem entregado cem cestas básicas para famílias de Campinas que se
cacional, esportivo ou de qualquer outra natureza pode ir pra frente se a barriga estiver vazia”, explica.
encontram em vulnerabilidade econômica e social. Os beneficia-
A Cesta do Bem ocorre sempre no último sábado do
dos são escolhidos em parceria com a Obra Social Dom Bosco, e
mês. Além das cestas básicas, são distribuídos doces para
fazem parte dos bairros Vida Nova, Campo Limpo e Gleba B.
as crianças e ocorrem palestras educacionais feitas por vo-
De acordo com a coordenadora do projeto, Mirian Cren
luntários de diversas áreas. Já foram doadas cerca de 900
Benini, esta foi a primeira ação efetiva do instituto. “Quando
cestas e centenas de kits de higiene com sabonete, escova
demos início às entregas, o IPA estava praticamente come-
e pasta de dente e toalha de mão. Em dezembro de 2011,
çando. Até aí, toda verba recebida em doação estava sen-
o presidente do IPA, Paulo André, participou da entrega e
do usada para acertar as questões fiscais necessárias para
pôde acompanhar a reação das famílias. “Era fim de ano,
o funcionamento de uma ONG. Essas exigências, tanto do
então tivemos as cestas, os doces, o Papai Noel, panetones e
governo como da prefeitura, custam caro, e nos sentíamos
presentes para cada criança. Nessa hora você percebe como
amarrados por não ter verba para iniciar efetivamente um
uma ação simples faz a diferença na vida das pessoas. Você
trabalho que fosse benéfico à comunidade. Então, como de-
devolve a elas a dignidade e a esperança de um futuro me-
safio, prometemos à Obra Social arrumar cem cestas até o
lhor. O carinho que eu e todos os voluntários recebemos, a
final do mês. Conseguimos e assim começamos o projeto.
gratidão e emoção das famílias fez tudo valer a pena e foi o
Sabemos que é assistencialismo, mas nenhum projeto edu-
impulso para continuarmos o projeto em 2012”, conta.
32 - Instituto Paulo André
A CESTA DO IPA
Arroz, feijão, café, achocolatado, açúcar , farinha de mandioca, farinha de trigo, fubá, leite em pó, macarrão, óleo, polpa de tomate, sal
Por que ajudar? Por conta de uma parceria com a empresa Joati, cada cesta
que achamos que não vamos conseguir, porque o dinheiro é
básica custa R$30. Para participar do projeto, basta fazer uma
muito curto, mas sempre acabamos dando um jeito, porque o
doação para uma das contas no Instituto Paulo André, doar
projeto mudou a vida dessas famílias”, afirma a mãe de Paulo
alimentos não perecíveis ou ainda ser voluntário no dia da en-
André, que já acumula algumas histórias felizes. “A avó de uma
trega. “Se você observar o brilho nos olhos de quem recebe a
voluntária do IPA pediu que no seu aniversário fossem dadas
cesta básica e ouvir uma criança de 9 anos dizer que prefere
cestas básicas ao invés de presentes. Ela nos doou as cestas
a cesta do que os doces, vai entender que todos nós que te-
e foi maravilhoso! No último mês, a Sra. Cynthia Ricci Ghizzi
mos onde morar e o que comer podemos dar um pouco do
pediu leite em pó ao invés de presentes para os convidados, e
nosso para quem precisa. Nessas comunidades que atende-
nos doou toda a arrecadação. Depois que a Cesta do Bem co-
mos existem crianças com dislexia, déficit de atenção e outras
meçou, ficamos sabendo que algumas mães deixaram de reco-
doenças causadas pelo meio em que vivem e pela desnutrição
lher comida do lixo porque podem contar com esse projeto do
(segundo a opinião de médicos voluntários), então, como não
IPA. Por isso o dia da entrega é uma festa. Enquanto alguns dis-
continuar com o projeto? Agora, o nosso objetivo é melhorar
tribuem os bens materiais, outros distribuem carinho e amor
o conteúdo das cestas. No último mês, tivemos doação de sa-
para as crianças. Quem nunca foi, vá e depois conte-nos o que
bões e sabonetes que foram inclusos na cesta. Há meses em
sentiu. Será um momento inesquecível”, garante.
PARTICIPE Banco do Brasil Agência: 2857-6 CC: 200883-1 CNPJ: 11.218.750/0001-50 Instituto Paulo André
Bradesco Agência: 0046-9 CC: 605550-8 CNPJ: 11.218.750/0001-50 Instituto Paulo André
Itaú Agência: 7643 CC: 11380-1 CNPJ: 11.218.750/0001-50 Instituto Paulo André
Para mais informações sobre como doar ou participar da entrega, entre em contato pelo faleconosco@institutopauloandre.org.br
Instituto Paulo André - 33
Vamos Brincar?
Encontre as palavras sublinhadas no quadro das caça-palavras Você sabia que: O IPA atende hoje 254 crianças de três bairros de Campinas? O Projeto Cesta do Bem Já entregou mais de mil cestas básicas? São necessários mais de 30 voluntários para realizar o projeto ‘Escola do Fazer’?
Q O O T N G W X A Z H J C D
OB G C OH O C A WM L W Ã I I J V P I D V R S S C R I O R J E A M B L Í T J B M K U S PNW T Q NV CR E A L T Z S L F M P A J D Z B A G R Y B L E T W I B ED A V N OAMC C N L SH T Y H F L
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P N A PWG QN I N Ç A N E H W I C F Y H Z A R O J B M S A AN A N L D C I V T O J
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34 - Instituto Paulo André
G K O S T G T N T H E N J V
B D I J K Z O I Y H O K L W G A OU K P H C X Z Q T WC
F G Z V F I Ç J K N Z A S P
R A Z I Ã A B A G D N F F I
HE U S YC TO O L U A HD I O L F C A L Z E E H R D F
Instituto Paulo AndrĂŠ - 35
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