A contribuição de atividades em espaços não formais para a aprendizagem de botânica

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A contribuição de atividades em espaços não formais para a aprendizagem de botânica de alunos do Ensino Básico.

da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto – que

André Perticarrari

projetos investigativos propicia a construção de

buscou investigar aspectos da vida das plantas através de experimentos e discussão em grupo. Os resultados mostram que a inserção de alunos em

Fernando Rossi Trigo

conceitos articulados e profundos.

Marisa Ramos Barbieri

Palavras-chave:

de

botânica;

difusão

científica; ensino não-formal.

Resumo

No ensino básico, a biologia é apresentada ao aluno de forma fragmentada e descontextualizada. No caso específico de Botânica, o ensino se reduz à descrição de estruturas. Pesquisas mostram que atividades experimentais investigativas podem levar os alunos a relacionar conteúdos em biologia, colocando-os na situação

Ensino

de

construtores

de

seu

próprio

conhecimento, sendo a experimentação importante para a aprendizagem de conceitos científicos e também uma ferramenta para estabelecer a relação

Introdução O ensino de Biologia é fragmentado e baseado nos livros didáticos,

com

os

alunos

decorando

os

conteúdos

sem

relacionar com a realidade (BEVILACQUA e COUTINHO-SILVA, 2007). No caso da Botânica, o ensino é voltado para a descrição de estruturas e de termos, pouco se falando sobre estratégias de adaptação dos vegetais ao ambiente e raramente considera a terceira dimensão (SILVA, 2008), ou seja, é distante do objeto de estudo – as plantas.

Questões práticas como a

aplicação da fisiologia vegetal ou o processo de reflorestamento

entre teoria e prática. No presente artigo, relatamos

em áreas degradadas, compreendendo os conceitos de plantas

e

nativas, pioneiras e de clímax no contexto, também não são

avaliamos,

com

base

nas

concepções

da

Epistemologia das Ciências e suas aplicações no ensino de Biologia, uma atividade com alunos do ensino básico – participantes de programas da Casa

abordadas no ensino de Botânica ou o são de forma superficial. Estudos revelam que, seguindo o que já é tradição em escolas públicas, os estudantes não participam de aulas

1


laboratoriais

e

sequer

realizam

atividades

experimentais

básico, aproximando-os de pesquisadores e do conhecimento

(BARBIERI, 1988; FRANCISCO Jr, et al., 2008; SUART e

produzido na universidade e Hemocentro e promovendo a

MARCONDES 2008). As aulas de laboratório, quando presentes,

difusão e divulgação científica.

são apenas demonstrações do que foi visto em sala, havendo distanciamento entre teoria e prática. Por ser a Biologia uma ciência que necessita dos objetos da natureza na elaboração de

Metodologia O trabalho foi realizado entre julho e novembro de 2006

suas teorias, Bellini afirma: “Na situação de ensino esta conduta empírica de observação

e

experimentação

não

pode

ser

abandonada. O ensino de ciências e sua iniciação não podem prescindir de atividades de campo, de laboratório

ou

de

atividades

lúdicas

científicas.

(2007, p.44)” Acreditamos

que

atividades

investigativas

que

aproximem os jovens do objeto de estudo, podem ajudá-los a aprender conceitos como os vistos em Botânica, colocando-os na

situação

de

construtores

do

conhecimento.

A

experimentação que relaciona teoria e prática é importante para a aprendizagem. Considerando a forma retórica como são trabalhados os conteúdos de Botânica nas escolas, este artigo relata e avalia uma atividade com alunos realizada na Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP, que teve como objetivo

com 40 alunos dos ensinos fundamental e médio das cidades de Luis Antônio-SP e Ribeirão Preto-SP. As atividades relatadas fizeram parte do programa “Terças da Ciência”, no qual os jovens participaram de palestras e atividades práticas, que ocorriam semanalmente nos anfiteatros do Hemocentro e nas dependências do MuLEC 1. Durante

o

programa

foram

propostas

algumas

investigações relacionadas ao tema Botânica: 1) Desenvolvimento vegetal: da semente à planta adulta; 2)

Germinação

de

sementes:

efeitos

da

temperatura

e

comprimentos

de

onda

o

disponibilidade de água; 3)

Efeito

de

diferentes

sobre

crescimento vegetal; 4) Efeito da luz no crescimento do alpiste (Phalaris sp) e aveia (Avena sp): mecanismos reguladores das plantas; 5) Transpiração vegetal e condução de seiva bruta;

explorar aspectos da vida das plantas através de experimentos investigativos. A Casa da Ciência desenvolve, desde 2001, vários programas educacionais com alunos e professores do ensino

1

MuLEC : Museu e Laboratório de Ensino de Ciências. Espaço destinado às atividades da Casa da Ciência, localizado no campus da USP/Ribeirão.

2


6) Estudo das estruturas da flor de Hibisco: da fecundação ao

questões (MOREIRA e OSTERMANN, 1993). Consideraram-se

aparecimento do fruto;

conhecimentos

7) Ação de poluentes sobre a germinação de sementes.

confrontando-os com os conceitos aceitos pela ciência, isto é, as

Para a realização dos trabalhos práticos, os estudantes

prévios

dos

alunos

e

sua

realidade,

teorias da Botânica.

foram divididos em sete grupos, cada um estudando um

Considerando-se que não existe um método científico

aspecto específico dos vegetais. A proposta era que os

único que conduz a um conhecimento, o erro, a intuição, a

experimentos fossem realizados na escola ou em casa e, os

criatividade, o trabalho em grupo, a troca de experiências são

resultados obtidos, discutidos em grupo. Os alunos da escola

importantes e fazem parte do processo, pois fazer ciência é

municipal de Luis Antônio-SP foram orientados pela professora

uma atividade humana e o conhecimento gerado não é

de ciências responsável por acompanhá-los no programa e os

definitivo, mas uma tentativa de explicar a realidade, podendo

de Ribeirão Preto pela equipe da Casa da Ciência.

sofrer mudanças (GIL-PÉREZ et al., 2001; PRAIA et al.,

Acompanhávamos

os

encontros

registrando

os

2002a,b). No

ensino de ciências, ao contrário de aulas

momentos e as manifestações dos alunos para avaliação do

indutivistas de laboratório, as quais são utilizadas apenas para

processo, além do registro em fotos e vídeo. Segundo Barbieri

demonstrar um fenômeno ou lei científica, as atividades

(2001) o registro, ou seja, a memória escrita é uma ferramenta

deveriam ter um caráter investigativo, nas quais os alunos

importante

pudessem testar hipóteses, resolver problemas, sendo agentes

na

avaliação

da

aula

e

da

aprendizagem,

especialmente no ensino investigativo em que o professor tem hipóteses de aprendizagem, embora nem sempre explicitadas. Posteriormente,

os

documentos

foram

analisados

qualitativamente com base nas concepções da Epistemologia das

ciências

e

suas

aplicações

no

processo

ensino-

aprendizagem de Biologia. Baseado nas concepções sobre a natureza do trabalho científico discutidas por vários autores, este trabalho parte do

ativos na construção do conhecimento. Como afirma Cachapuz: “A Ciência é sempre sobre qualquer coisa. O que significa

que

é

tão

discutível

usar

o

trabalho

experimental simplesmente para ilustrar conceitos (que provavelmente podem ser aprendidos mais vantajosamente de outro modo) como usá-lo para desenvolver competências em abstrato. Qualquer alternativa deve, pois envolver de um modo ou de

princípio que o conhecimento científico é precedido e depende

outro o diálogo complexo e nunca acabado entre

de teorias que direcionam a observação (e não o inverso),

saberes conceituais e metodológicos; o trabalho

fundamentam em quais aspectos focar, gerando questões e

experimental, nos seus vários formatos, é um

guiando o planejamento de experimentos que respondam a tais

instrumento privilegiado. (2004, p. 374)”

3


Portanto, somente a aquisição de conteúdos não leva

Essa

atividade

começou

em

julho.

Nos

primeiros

necessariamente ao entendimento do funcionamento da ciência

encontros

(CACHAPUZ et al., 2004).

fisiologia e taxonomia foram apresentados, procurando provocar

do

mês,

conceitos

relacionados

à

morfologia,

inquietações sobre o tema e diagnosticar os conhecimentos prévios. Os alunos foram instigados a pensar sobre questões

Resultados e discussão

que consideravam complexas como ciclos de vida, germinação,

No início do programa “Terças da Ciência” (2005-6), o

desenvolvimento, crescimento e histologia.

tema célula era o foco das discussões dos encontros com

No início, a partir dos temas citados não fornecemos

pesquisadores da USP e Hemocentro. Contudo, outros assuntos,

protocolos prontos, orientamos os grupos a pesquisar sobre o

como os relacionados à Botânica começaram a ser trabalhados,

assunto

mas de forma pontual. Uma primeira atividade com as plantas

fenômenos a serem discutidos posteriormente. A intenção era

ocorreu no final de janeiro, na qual os alunos discutiram, com

que os estudantes apresentassem perguntas e, juntos com os

uma

outra

orientadores, levantassem hipóteses sobre os aspectos da vida

atividade, no final de fevereiro, conversaram sobre mecanismos

de uma planta, propondo métodos de estudo como em uma

intracelulares da fotossíntese.

investigação.

pesquisadora,

a

interação

inseto-planta.

Em

e sugerir situações práticas para

o

estudo dos

O interesse pelo assunto foi notado e, no começo de

Entretanto, muitos não conseguiram trazer propostas,

abril, passamos a trabalhar experimentos de Botânica com

algo compreensível visto a pouca familiaridade com os assuntos

maior recorrência. Temas como transpiração e condução de

e trabalhos práticos. Contudo, o grupo que trabalhou com o

seiva

pouco

tema 7, elaborou uma estratégia metodológica semelhante a

conhecimento dos jovens sobre o conteúdo, evidenciando

proposta pela equipe da Casa da Ciência, propôs uma hipótese

também falta de conceitos básicos e pouca familiarização com

(em destaque) e formas de testá-la (figura 1).

eram

apresentados,

e

foi

diagnosticado

os vegetais. A partir desta avaliação, montamos uma atividade regular sobre Botânica com experimentos investigativos. O objetivo era desenvolver trabalhos experimentais abordando aspectos da vida das plantas, considerando o ambiente em que vivem.

4


resultados para discussão no Hemocentro (figura 2). No final, previa-se a apresentação oral dos trabalhos e produções escritas.

a

c

b

Figura 2. Montagem do experimento Efeito de diferentes comprimentos de onda sobre o crescimento vegetal. O trabalho foi realizado em casa com apoio da professora. A

parceria

com

a

professora

foi

essencial

no

acompanhamento do trabalho dos estudantes do município de Luis Antônio. Toda quinta-feira, as reuniões na escola eram para auxiliá-los nos registros, interpretação dos resultados e esclarecimento de questões teóricas. Durante o andamento dos experimentos, os resultados começaram Figura 1. Proposta de experimento apresentada pelos alunos para estudar a ação de poluentes sobre a germinação. Diagnosticada a dificuldade dos grupos, reorganizamos os experimentos, conforme planos definidos pela equipe, e iniciamos os projetos. A proposta, como dito anteriormente, era

que os

mesmos fossem realizados em casa ou na escola, trazendo os

discussão

a

aparecer,

relacionado

desencadeando aos

conteúdos

um e

ambiente também

de aos

procedimentos práticos. Nas falhas experimentais e quebra das expectativas dos resultados esperados, começaram a vivenciar as dificuldades de uma pesquisa – tiveram contato com erro e incertezas que fazem parte do trabalho científico (figura 3) – e a entenderem a importância da teoria, hipóteses e controle na condução

de

um

experimento.

Perceberam

também

a

5


necessidade de rigor na seleção das variáveis a serem testadas,

um

além do uso da criatividade para solucionar os problemas

comprimentos

encontrados.

investigando a ação da luz verde, azul, vermelha, amarela,

Nosso experimento foi feito para respondermos a seguinte questão: o que promove a curvatura do alpiste? Para isso, tivemos que estudar o movimento de curvatura envolvido e também a ação de hormônios que promovem essa curvatura, no caso o hormônio específico seria a auxina. Escolhemos então as sementes de alpiste e aveia como primeiro passo. O segundo passo foi a escolha dos materiais (...). Pretendíamos fazer o alpiste se curvar em direção a luz que colocamos perto do orifício do balde com o alpiste dentro. Ocorreram vários problemas no decorrer do experimento, pois não conseguimos encontrar nenhuma luminária, então, tivemos que improvisar uma, o que foi muito complicado. Depois foi o orifício, pois o que tínhamos feito ficou muito grande, tivemos então que tapar o que fizemos e fazer outro, só que menor. O outro problema foi o alpiste, pois quando plantamos demorou muito para crescer, o que atrasou a realização dos experimentos. Figura 3. Trecho retirado do relatório do grupo Efeito da luz no crescimento do alpiste (Phalaris sp) e aveia (Avena sp), evidenciando dúvidas e dificuldades em relação a montagem e interpretação dos resultados.

dos

grupos, de

que

trabalhava

onda

sobre

o o

Efeito

de

diferentes

crescimento

vegetal,

branca e natural no crescimento de sementes de feijão. Estavam com dificuldades para interpretar os resultados, pois as plantas cresciam normalmente na luz verde, diferente ao descrito nos livros-texto. Neste momento, discutimos soluções como troca da fonte luminosa e espectro eletromagnético. Outro grupo

(Desenvolvimento

vegetal)

era

mais

sistemático,

conseguindo elaborar uma técnica na qual descreveram com detalhes o processo de desenvolvimento da planta, fotografando e desenhando as etapas da germinação até a planta adulta (figura 4). Os encontros, além de discutir conceitos científicos, eram também usados na orientação e solução dos problemas práticos.

A

B

C

D

E

F

Perceberam que em ciência não existe “o método científico”, mas um

pluralismo metodológico. Cada grupo

desenvolveu, em conjunto com os orientadores, uma estratégia para pesquisar os temas. Isso pode ser melhor evidenciado em

6


Figura 4. Fotos do trabalho Desenvolvimento vegetal. Registros dos alunos das etapas de desenvolvimento da semente de feijão (A-F). Observamos avanços conceituais e comportamentais, indo além do proposto. Um aluno, após discussão sobre estiolamento, ficou intrigado ao verificar que os resultados não estavam de acordo como o livro didático:

o assunto para explicar seus resultados, cujo objetivo era estudar os efeitos da luz no crescimento e fototropismo. A capacidade de relacionar conceitos ficou evidente em outro momento. Em um encontro foi discutido histologia vegetal e

relacionou-se

células-tronco

e

meristemas

(protoderme,

procâmbio e fundamental). Uma aluna perguntou:

“As plantas que se encontram na caixa com luz verde deveriam ter obtido coloração quase albina, porém ficaram com coloração verde claro” (trecho do relatório do grupo Efeito de diferentes comprimentos de onda sobre o crescimento vegetal). A partir desta constatação, o aluno estudou mais o

“Isso é como os três folhetos embrionários do embrião dos animais que também originam células específicas? Ao término dos trabalhos, cada grupo apresentou os resultados no Mural 2 (figura 5), um exercício de exposição dos achados, seguido de perguntas e articulações com outros projetos. Além de aprender novos conceitos, a prática de

processo. Verificamos que passaram a fazer articulações com conceitos

A ideia de usar o PCL partiu dos alunos, que pesquisaram

não

abordados

nos

encontros

semanais

no

articulá-los para compreensão de um fenômeno, leva o aluno à construção ativa do conhecimento.

Hemocentro, mas que pesquisaram para explicar um fenômeno.

A

O trecho abaixo ilustra isso: “Para entendermos o que estava ocorrendo tomamos por base o ponto de compensação luminoso (PCL), ou seja, achamos que o alpiste que ficava no sol realizava mais fotossíntese do que respiração pela intensidade de luz e o alpiste que ficava na sombra, ao contrário, fazia mais respiração pela carência de luz. Mas também achamos que tanto o crescimento como a curvatura também tem a ver com a ação das auxinas... (retirado do relatório do grupo que estudou o tema 4)”

B

Figura 5. Estudantes durante o Mural. A) Apresentando resultados das pesquisas para outros alunos. B) Explicando a reprodução das plantas. 2

Mural: evento de apresentação dos resultados obtidos nos projetos de investigação. Importante momento de avaliação para a Casa da Ciência.

7


Para complementar este encerramento, o técnico agrícola responsável pelo banco de sementes e reflorestamento do campus da USP, foi convidado a desenvolver uma atividade de campo com os alunos. A partir da coleta de sementes e montagem de sementeiras, os alunos puderam aprender sobre a flora brasileira e compreender o processo de reflorestamento e sucessão ecológica, baseado no estudo do comportamento de plantas pioneiras, secundárias e de clímax. Durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que ocorreu de 16 a 23 de outubro, a Casa da Ciência realizou um evento em Luis Antônio, no qual os alunos apresentaram seus trabalhos para aproximadamente 300 visitantes. A partir do Mural e da análise dos relatórios, percebeu-se que os jovens conseguiam argumentar oralmente sobre os conceitos aprendidos,

porém

apresentavam

dificuldades

na

escrita.

Diagnosticado esse problema, decidiu-se realizar uma oficina de redação, visando trabalhar esta habilidade. A jornalista da Casa da Ciência orientou os alunos no desenvolvimento de um jornal, valorizando a forma de expressão dos alunos, em que deveriam escrever três reportagens, sendo uma delas, referente ao projeto (figura 6).

Figura 6. Jornal confeccionado pelos alunos durante a oficina de redação.

8


No ensino de Botânica a realização de atividades práticas

grupo, na qual cada um dispunha de habilidades diferentes,

é importante. A observação de uma estrutura vegetal articulada

mas que se complementavam na resolução dos problemas.

com

de

Além disso, como relatado pela professora, alguns alunos que

aprendizagem. Verificamos isso com o grupo que trabalhou o

apresentavam dificuldade em usar PowerPoint, passaram a

tema Estudo das estruturas da flor de Hibisco. Ao dissecar o

noite aprendendo para preparar a apresentação do Mural:

ovário, o espanto foi geral quando se associou as estruturas da

“Para

flor com a reprodução, apesar de já terem visto na escola e

preparação das apresentações, dos relatórios e oficina de

livros.

redação, foram estimulados a escrever. O uso da escrita é

a

teoria

mostra-se

como

eficiente

ferramenta

eles

foi

um

desafio”,

disse

a

professora.

Com

a

Os conhecimentos dos alunos eram sempre confrontados

importante para organizar e consolidar ideias em conhecimento

com a realidade. Em várias oportunidades confrontaram suas

estruturado (OLIVEIRA e CARVALHO, 2005). Outras habilidades,

concepções com aquelas aceitas pela ciência, sendo isto

como busca do conhecimento e uso de recursos audiovisuais

importante na construção dos conceitos. Como afirma Silveira:

foram, também, desenvolvidas.

“Aprender algo novo é modificar algum conhecimento anterior, a aprendizagem sempre se dá a partir dos conhecimentos prévios. A observação e a experimentação têm papéis importantes na construção do conhecimento, mas diferente daquele colocado pela epistemologia empirista-indutivista. Através delas testamos as nossas construções, e, eventualmente, podemos constatar que algo vai mal com o nosso conhecimento: quando ele nos leva a fazer uma predição sobre a realidade e esta não é confirmada. (1992, p. 38)” Através da realização dos experimentos, os alunos perceberam que o conhecimento sempre é resposta a uma pergunta ou problema. Durante a realização dos mesmos, o conhecimento não era transmitido aos estudantes, ao contrário, tinham que pesquisar e discutir com colegas e orientadores os dados obtidos, relacionando-os com os conteúdos de Botânica. Evidenciamos o desenvolvimento da capacidade de trabalho em

Como investigação

visto,

os

estudantes

orientada,

vivenciando

participaram

de

aspectos

atividade

da

uma

científica, como levantamento de hipóteses, realização de experimentos

e

divulgação

dos

resultados.

Em

todos

os

encontros as principais teorias e conceitos de Botânica eram discutidos com os alunos. Como em qualquer área científica, a observação, que não é neutra, depende da teoria que a direciona.

Assim,

investigações

foi

sabendo

primordial o

que

para

observar,

eles

realizar

as

utilizando-se

do

conhecimento teórico construído. Os resultados demonstram que, apesar dos conteúdos estarem nos livros, a dialogicidade, a atividade investigativa e o trabalho em grupo foram fundamentais para o entendimento da Botânica de forma articulada e contextualizada. Portanto, os resultados obtidos vão ao encontro com as novas concepções

9


epistemológicas sobre ciências e suas aplicações em educação científica.

Portanto,

a

inserção

de

alunos

em

projetos

investigativos, com grupos e etapas próximas ao da pesquisa, que passa pela produção escrita com divulgação, propicia a

Conclusão Como

construção de conceitos articulados e profundos. Neste caso, afirma

(1996),

centros de ciências e espaços não-formais de educação, como a

atividades experimentais exploram certas contribuições das

Casa da Ciência do Hemocentro-RP, podem desempenhar papel

atividades

central no apoio aos professores e seus alunos.

científicas,

Gil-Perez como

e as

Váldez citadas

Castro

anteriormente,

permitindo aos jovens a análise de um problema, para que possam, sob orientação, formular hipóteses e estratégias para sua resolução, analisar os resultados e confrontar com seus pares as ideias. No caso da Botânica, o uso de uma estratégia como esta pode ser uma ferramenta importante na aprendizagem desta

Agradecimentos À professora de ciências Sandra Spagnolli e ao técnico agrícola da USP Antônio Justino da Silva.

área, assim como o contato com o ambiente (SILVA, 2008).

Referências bibliográficas

Isso pode ser confirmado na declaração abaixo:

BARBIERI, M.R. Ensino de ciências nas escolas: uma questão

“ ...depois que começa a frequentar a Casa da Ciência, você passa pelos lugares e não vê com tanta simplicidade o que antes passava despercebido. A gente vê uma flor, a pétala, a antera, o estigma e aí vai vendo muitas coisas; muda nossa visão de ver o mundo: tudo que a gente olha, pára, pensa um pouco, vê o que está acontecendo e as relações...Eu queria também destacar a curiosidade, vontade de saber, porque quando a gente vem aqui, vai atrás, faz pesquisa e começa observar...é essa curiosidade que ajuda na escola; a professora passa um texto a gente olha pro texto e percebe que só aquilo não vai bastar, aí a gente começa a ir atrás, um pouco mais a fundo, vai estudando. André,16 anos.”

em aberto. Em Aberto, Brasília, DF, 7(40): 17-24, 1988. BARBIERI, M.R.; SICCA, N. A. L.; CARVALHO, C. P. A construção experiência

do de

conhecimento parceria

entre

do

professor:

professores

do

uma ensino

fundamental e médio da rede pública e a universidade. Ribeirão Preto: Holos, 2001. BELLINI, M. Epistemologia da Biologia: para se pensar a iniciação ao ensino das Ciências Biológicas. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 88, n. 218, p. 30-47, 2007.

10


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FRANSCICO Jr, W.E.; FERREIRA, L.H.; HARTWIG, D.R. A

Estadual Paulista-UNESP Bauru. Tese de doutorado, 146p.,

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2008.

sala de aula. Ciências & Cognição, v. 13, n. 3, p. 82-99, 2008.

Aberto, Brasília, ano 11, n. 55, p. 36-41, 1992.

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Sobre os autores André Perticarrari é biólogo com doutorado em Biologia

científico. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v.10,

Comparada pela FFCLRP/USP e educador da Casa da Ciência,

n.2, p.108-117, 1993.

onde

PRAIA, J.F.; CACHAPUZ, A.F.C.; GIL-PÉREZ, D. Problema, teoria e observação em ciência: para uma reorientação epistemológica da educação em ciência. Ciência & Educação, v.8, n.1, p.127145, 2002a.

desenvolve

projetos

educacionais

com

alunos

e

professores do ensino básico. Atualmente é bolsista de pósdoutorado em Ensino de Ciências pelo CNPq junto ao programa educacional do INCT em Terapia Celular e Células-tronco.. Email: aperticarrari@hotmail.com Fernando Rossi Trigo é licenciado e bacharel em Ciências Biológicas pela FFCLRP/USP e educador da Casa da Ciência,

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onde desenvolve projetos educacionais com professores e

of a Science Centre explored aspects of plants’ life

alunos do ensino básico. Também atua como professor de

through projects and group discussion. Results show that

Biologia e Ciências na rede particular de ensino de Ribeirão

students’ participation in investigative projects allowed

Preto-SP. E-mail: fernando_r_trigo@yahoo.com.br

the construction of concepts in a deeper and more

Marisa Ramos Barbieri doutora em Filosofia e docente

articulated way.

aposentada de Prática de Ensino do departamento de Psicologia e Educação - FFCLRP/USP. Atualmente é coordenadora da Casa da Ciência do Hemocentro/Ribeirão Preto e responsável pelo projeto

educacional

do

Instituto

Nacional

de

Ciência

Keywords:

Botany

teaching;

science

popularization;

informal teaching.

e

Tecnologia em Terapia Celular e Células-tronco do CNPq. Email: marisa@hemocentro.fmrp.usp.br

Contribution of activities in informal education settings for the students’ learning of Botany Abstract Botany

teaching

reproduction structures.

of

in

basic

conceptual

Research

education

is

descriptive

indicates

that

based

on

aspects

of

experimental

investigative activities can help students to learn concepts related to biology and to establish a relationship between theory and practice, important for scientific concepts learning. The objective of this work was to present and evaluate, based upon ideas of the Epistemology of Science and its applications for Biology teaching, an activity in which primary and secondary school students participating

12


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