A contribuição de atividades em espaços não formais para a aprendizagem de botânica de alunos do Ensino Básico.
da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto – que
André Perticarrari
projetos investigativos propicia a construção de
buscou investigar aspectos da vida das plantas através de experimentos e discussão em grupo. Os resultados mostram que a inserção de alunos em
Fernando Rossi Trigo
conceitos articulados e profundos.
Marisa Ramos Barbieri
Palavras-chave:
de
botânica;
difusão
científica; ensino não-formal.
Resumo
No ensino básico, a biologia é apresentada ao aluno de forma fragmentada e descontextualizada. No caso específico de Botânica, o ensino se reduz à descrição de estruturas. Pesquisas mostram que atividades experimentais investigativas podem levar os alunos a relacionar conteúdos em biologia, colocando-os na situação
Ensino
de
construtores
de
seu
próprio
conhecimento, sendo a experimentação importante para a aprendizagem de conceitos científicos e também uma ferramenta para estabelecer a relação
Introdução O ensino de Biologia é fragmentado e baseado nos livros didáticos,
com
os
alunos
decorando
os
conteúdos
sem
relacionar com a realidade (BEVILACQUA e COUTINHO-SILVA, 2007). No caso da Botânica, o ensino é voltado para a descrição de estruturas e de termos, pouco se falando sobre estratégias de adaptação dos vegetais ao ambiente e raramente considera a terceira dimensão (SILVA, 2008), ou seja, é distante do objeto de estudo – as plantas.
Questões práticas como a
aplicação da fisiologia vegetal ou o processo de reflorestamento
entre teoria e prática. No presente artigo, relatamos
em áreas degradadas, compreendendo os conceitos de plantas
e
nativas, pioneiras e de clímax no contexto, também não são
avaliamos,
com
base
nas
concepções
da
Epistemologia das Ciências e suas aplicações no ensino de Biologia, uma atividade com alunos do ensino básico – participantes de programas da Casa
abordadas no ensino de Botânica ou o são de forma superficial. Estudos revelam que, seguindo o que já é tradição em escolas públicas, os estudantes não participam de aulas
1
laboratoriais
e
sequer
realizam
atividades
experimentais
básico, aproximando-os de pesquisadores e do conhecimento
(BARBIERI, 1988; FRANCISCO Jr, et al., 2008; SUART e
produzido na universidade e Hemocentro e promovendo a
MARCONDES 2008). As aulas de laboratório, quando presentes,
difusão e divulgação científica.
são apenas demonstrações do que foi visto em sala, havendo distanciamento entre teoria e prática. Por ser a Biologia uma ciência que necessita dos objetos da natureza na elaboração de
Metodologia O trabalho foi realizado entre julho e novembro de 2006
suas teorias, Bellini afirma: “Na situação de ensino esta conduta empírica de observação
e
experimentação
não
pode
ser
abandonada. O ensino de ciências e sua iniciação não podem prescindir de atividades de campo, de laboratório
ou
de
atividades
lúdicas
científicas.
(2007, p.44)” Acreditamos
que
atividades
investigativas
que
aproximem os jovens do objeto de estudo, podem ajudá-los a aprender conceitos como os vistos em Botânica, colocando-os na
situação
de
construtores
do
conhecimento.
A
experimentação que relaciona teoria e prática é importante para a aprendizagem. Considerando a forma retórica como são trabalhados os conteúdos de Botânica nas escolas, este artigo relata e avalia uma atividade com alunos realizada na Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP, que teve como objetivo
com 40 alunos dos ensinos fundamental e médio das cidades de Luis Antônio-SP e Ribeirão Preto-SP. As atividades relatadas fizeram parte do programa “Terças da Ciência”, no qual os jovens participaram de palestras e atividades práticas, que ocorriam semanalmente nos anfiteatros do Hemocentro e nas dependências do MuLEC 1. Durante
o
programa
foram
propostas
algumas
investigações relacionadas ao tema Botânica: 1) Desenvolvimento vegetal: da semente à planta adulta; 2)
Germinação
de
sementes:
efeitos
da
temperatura
e
comprimentos
de
onda
o
disponibilidade de água; 3)
Efeito
de
diferentes
sobre
crescimento vegetal; 4) Efeito da luz no crescimento do alpiste (Phalaris sp) e aveia (Avena sp): mecanismos reguladores das plantas; 5) Transpiração vegetal e condução de seiva bruta;
explorar aspectos da vida das plantas através de experimentos investigativos. A Casa da Ciência desenvolve, desde 2001, vários programas educacionais com alunos e professores do ensino
1
MuLEC : Museu e Laboratório de Ensino de Ciências. Espaço destinado às atividades da Casa da Ciência, localizado no campus da USP/Ribeirão.
2
6) Estudo das estruturas da flor de Hibisco: da fecundação ao
questões (MOREIRA e OSTERMANN, 1993). Consideraram-se
aparecimento do fruto;
conhecimentos
7) Ação de poluentes sobre a germinação de sementes.
confrontando-os com os conceitos aceitos pela ciência, isto é, as
Para a realização dos trabalhos práticos, os estudantes
prévios
dos
alunos
e
sua
realidade,
teorias da Botânica.
foram divididos em sete grupos, cada um estudando um
Considerando-se que não existe um método científico
aspecto específico dos vegetais. A proposta era que os
único que conduz a um conhecimento, o erro, a intuição, a
experimentos fossem realizados na escola ou em casa e, os
criatividade, o trabalho em grupo, a troca de experiências são
resultados obtidos, discutidos em grupo. Os alunos da escola
importantes e fazem parte do processo, pois fazer ciência é
municipal de Luis Antônio-SP foram orientados pela professora
uma atividade humana e o conhecimento gerado não é
de ciências responsável por acompanhá-los no programa e os
definitivo, mas uma tentativa de explicar a realidade, podendo
de Ribeirão Preto pela equipe da Casa da Ciência.
sofrer mudanças (GIL-PÉREZ et al., 2001; PRAIA et al.,
Acompanhávamos
os
encontros
registrando
os
2002a,b). No
ensino de ciências, ao contrário de aulas
momentos e as manifestações dos alunos para avaliação do
indutivistas de laboratório, as quais são utilizadas apenas para
processo, além do registro em fotos e vídeo. Segundo Barbieri
demonstrar um fenômeno ou lei científica, as atividades
(2001) o registro, ou seja, a memória escrita é uma ferramenta
deveriam ter um caráter investigativo, nas quais os alunos
importante
pudessem testar hipóteses, resolver problemas, sendo agentes
na
avaliação
da
aula
e
da
aprendizagem,
especialmente no ensino investigativo em que o professor tem hipóteses de aprendizagem, embora nem sempre explicitadas. Posteriormente,
os
documentos
foram
analisados
qualitativamente com base nas concepções da Epistemologia das
ciências
e
suas
aplicações
no
processo
ensino-
aprendizagem de Biologia. Baseado nas concepções sobre a natureza do trabalho científico discutidas por vários autores, este trabalho parte do
ativos na construção do conhecimento. Como afirma Cachapuz: “A Ciência é sempre sobre qualquer coisa. O que significa
que
é
tão
discutível
usar
o
trabalho
experimental simplesmente para ilustrar conceitos (que provavelmente podem ser aprendidos mais vantajosamente de outro modo) como usá-lo para desenvolver competências em abstrato. Qualquer alternativa deve, pois envolver de um modo ou de
princípio que o conhecimento científico é precedido e depende
outro o diálogo complexo e nunca acabado entre
de teorias que direcionam a observação (e não o inverso),
saberes conceituais e metodológicos; o trabalho
fundamentam em quais aspectos focar, gerando questões e
experimental, nos seus vários formatos, é um
guiando o planejamento de experimentos que respondam a tais
instrumento privilegiado. (2004, p. 374)”
3
Portanto, somente a aquisição de conteúdos não leva
Essa
atividade
começou
em
julho.
Nos
primeiros
necessariamente ao entendimento do funcionamento da ciência
encontros
(CACHAPUZ et al., 2004).
fisiologia e taxonomia foram apresentados, procurando provocar
do
mês,
conceitos
relacionados
à
morfologia,
inquietações sobre o tema e diagnosticar os conhecimentos prévios. Os alunos foram instigados a pensar sobre questões
Resultados e discussão
que consideravam complexas como ciclos de vida, germinação,
No início do programa “Terças da Ciência” (2005-6), o
desenvolvimento, crescimento e histologia.
tema célula era o foco das discussões dos encontros com
No início, a partir dos temas citados não fornecemos
pesquisadores da USP e Hemocentro. Contudo, outros assuntos,
protocolos prontos, orientamos os grupos a pesquisar sobre o
como os relacionados à Botânica começaram a ser trabalhados,
assunto
mas de forma pontual. Uma primeira atividade com as plantas
fenômenos a serem discutidos posteriormente. A intenção era
ocorreu no final de janeiro, na qual os alunos discutiram, com
que os estudantes apresentassem perguntas e, juntos com os
uma
outra
orientadores, levantassem hipóteses sobre os aspectos da vida
atividade, no final de fevereiro, conversaram sobre mecanismos
de uma planta, propondo métodos de estudo como em uma
intracelulares da fotossíntese.
investigação.
pesquisadora,
a
interação
inseto-planta.
Em
e sugerir situações práticas para
o
estudo dos
O interesse pelo assunto foi notado e, no começo de
Entretanto, muitos não conseguiram trazer propostas,
abril, passamos a trabalhar experimentos de Botânica com
algo compreensível visto a pouca familiaridade com os assuntos
maior recorrência. Temas como transpiração e condução de
e trabalhos práticos. Contudo, o grupo que trabalhou com o
seiva
pouco
tema 7, elaborou uma estratégia metodológica semelhante a
conhecimento dos jovens sobre o conteúdo, evidenciando
proposta pela equipe da Casa da Ciência, propôs uma hipótese
também falta de conceitos básicos e pouca familiarização com
(em destaque) e formas de testá-la (figura 1).
eram
apresentados,
e
foi
diagnosticado
os vegetais. A partir desta avaliação, montamos uma atividade regular sobre Botânica com experimentos investigativos. O objetivo era desenvolver trabalhos experimentais abordando aspectos da vida das plantas, considerando o ambiente em que vivem.
4
resultados para discussão no Hemocentro (figura 2). No final, previa-se a apresentação oral dos trabalhos e produções escritas.
a
c
b
Figura 2. Montagem do experimento Efeito de diferentes comprimentos de onda sobre o crescimento vegetal. O trabalho foi realizado em casa com apoio da professora. A
parceria
com
a
professora
foi
essencial
no
acompanhamento do trabalho dos estudantes do município de Luis Antônio. Toda quinta-feira, as reuniões na escola eram para auxiliá-los nos registros, interpretação dos resultados e esclarecimento de questões teóricas. Durante o andamento dos experimentos, os resultados começaram Figura 1. Proposta de experimento apresentada pelos alunos para estudar a ação de poluentes sobre a germinação. Diagnosticada a dificuldade dos grupos, reorganizamos os experimentos, conforme planos definidos pela equipe, e iniciamos os projetos. A proposta, como dito anteriormente, era
que os
mesmos fossem realizados em casa ou na escola, trazendo os
discussão
a
aparecer,
relacionado
desencadeando aos
conteúdos
um e
ambiente também
de aos
procedimentos práticos. Nas falhas experimentais e quebra das expectativas dos resultados esperados, começaram a vivenciar as dificuldades de uma pesquisa – tiveram contato com erro e incertezas que fazem parte do trabalho científico (figura 3) – e a entenderem a importância da teoria, hipóteses e controle na condução
de
um
experimento.
Perceberam
também
a
5
necessidade de rigor na seleção das variáveis a serem testadas,
um
além do uso da criatividade para solucionar os problemas
comprimentos
encontrados.
investigando a ação da luz verde, azul, vermelha, amarela,
Nosso experimento foi feito para respondermos a seguinte questão: o que promove a curvatura do alpiste? Para isso, tivemos que estudar o movimento de curvatura envolvido e também a ação de hormônios que promovem essa curvatura, no caso o hormônio específico seria a auxina. Escolhemos então as sementes de alpiste e aveia como primeiro passo. O segundo passo foi a escolha dos materiais (...). Pretendíamos fazer o alpiste se curvar em direção a luz que colocamos perto do orifício do balde com o alpiste dentro. Ocorreram vários problemas no decorrer do experimento, pois não conseguimos encontrar nenhuma luminária, então, tivemos que improvisar uma, o que foi muito complicado. Depois foi o orifício, pois o que tínhamos feito ficou muito grande, tivemos então que tapar o que fizemos e fazer outro, só que menor. O outro problema foi o alpiste, pois quando plantamos demorou muito para crescer, o que atrasou a realização dos experimentos. Figura 3. Trecho retirado do relatório do grupo Efeito da luz no crescimento do alpiste (Phalaris sp) e aveia (Avena sp), evidenciando dúvidas e dificuldades em relação a montagem e interpretação dos resultados.
dos
grupos, de
que
trabalhava
onda
sobre
o o
Efeito
de
diferentes
crescimento
vegetal,
branca e natural no crescimento de sementes de feijão. Estavam com dificuldades para interpretar os resultados, pois as plantas cresciam normalmente na luz verde, diferente ao descrito nos livros-texto. Neste momento, discutimos soluções como troca da fonte luminosa e espectro eletromagnético. Outro grupo
(Desenvolvimento
vegetal)
era
mais
sistemático,
conseguindo elaborar uma técnica na qual descreveram com detalhes o processo de desenvolvimento da planta, fotografando e desenhando as etapas da germinação até a planta adulta (figura 4). Os encontros, além de discutir conceitos científicos, eram também usados na orientação e solução dos problemas práticos.
A
B
C
D
E
F
Perceberam que em ciência não existe “o método científico”, mas um
pluralismo metodológico. Cada grupo
desenvolveu, em conjunto com os orientadores, uma estratégia para pesquisar os temas. Isso pode ser melhor evidenciado em
6
Figura 4. Fotos do trabalho Desenvolvimento vegetal. Registros dos alunos das etapas de desenvolvimento da semente de feijão (A-F). Observamos avanços conceituais e comportamentais, indo além do proposto. Um aluno, após discussão sobre estiolamento, ficou intrigado ao verificar que os resultados não estavam de acordo como o livro didático:
o assunto para explicar seus resultados, cujo objetivo era estudar os efeitos da luz no crescimento e fototropismo. A capacidade de relacionar conceitos ficou evidente em outro momento. Em um encontro foi discutido histologia vegetal e
relacionou-se
células-tronco
e
meristemas
(protoderme,
procâmbio e fundamental). Uma aluna perguntou:
“As plantas que se encontram na caixa com luz verde deveriam ter obtido coloração quase albina, porém ficaram com coloração verde claro” (trecho do relatório do grupo Efeito de diferentes comprimentos de onda sobre o crescimento vegetal). A partir desta constatação, o aluno estudou mais o
“Isso é como os três folhetos embrionários do embrião dos animais que também originam células específicas? Ao término dos trabalhos, cada grupo apresentou os resultados no Mural 2 (figura 5), um exercício de exposição dos achados, seguido de perguntas e articulações com outros projetos. Além de aprender novos conceitos, a prática de
processo. Verificamos que passaram a fazer articulações com conceitos
A ideia de usar o PCL partiu dos alunos, que pesquisaram
não
abordados
nos
encontros
semanais
no
articulá-los para compreensão de um fenômeno, leva o aluno à construção ativa do conhecimento.
Hemocentro, mas que pesquisaram para explicar um fenômeno.
A
O trecho abaixo ilustra isso: “Para entendermos o que estava ocorrendo tomamos por base o ponto de compensação luminoso (PCL), ou seja, achamos que o alpiste que ficava no sol realizava mais fotossíntese do que respiração pela intensidade de luz e o alpiste que ficava na sombra, ao contrário, fazia mais respiração pela carência de luz. Mas também achamos que tanto o crescimento como a curvatura também tem a ver com a ação das auxinas... (retirado do relatório do grupo que estudou o tema 4)”
B
Figura 5. Estudantes durante o Mural. A) Apresentando resultados das pesquisas para outros alunos. B) Explicando a reprodução das plantas. 2
Mural: evento de apresentação dos resultados obtidos nos projetos de investigação. Importante momento de avaliação para a Casa da Ciência.
7
Para complementar este encerramento, o técnico agrícola responsável pelo banco de sementes e reflorestamento do campus da USP, foi convidado a desenvolver uma atividade de campo com os alunos. A partir da coleta de sementes e montagem de sementeiras, os alunos puderam aprender sobre a flora brasileira e compreender o processo de reflorestamento e sucessão ecológica, baseado no estudo do comportamento de plantas pioneiras, secundárias e de clímax. Durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que ocorreu de 16 a 23 de outubro, a Casa da Ciência realizou um evento em Luis Antônio, no qual os alunos apresentaram seus trabalhos para aproximadamente 300 visitantes. A partir do Mural e da análise dos relatórios, percebeu-se que os jovens conseguiam argumentar oralmente sobre os conceitos aprendidos,
porém
apresentavam
dificuldades
na
escrita.
Diagnosticado esse problema, decidiu-se realizar uma oficina de redação, visando trabalhar esta habilidade. A jornalista da Casa da Ciência orientou os alunos no desenvolvimento de um jornal, valorizando a forma de expressão dos alunos, em que deveriam escrever três reportagens, sendo uma delas, referente ao projeto (figura 6).
Figura 6. Jornal confeccionado pelos alunos durante a oficina de redação.
8
No ensino de Botânica a realização de atividades práticas
grupo, na qual cada um dispunha de habilidades diferentes,
é importante. A observação de uma estrutura vegetal articulada
mas que se complementavam na resolução dos problemas.
com
de
Além disso, como relatado pela professora, alguns alunos que
aprendizagem. Verificamos isso com o grupo que trabalhou o
apresentavam dificuldade em usar PowerPoint, passaram a
tema Estudo das estruturas da flor de Hibisco. Ao dissecar o
noite aprendendo para preparar a apresentação do Mural:
ovário, o espanto foi geral quando se associou as estruturas da
“Para
flor com a reprodução, apesar de já terem visto na escola e
preparação das apresentações, dos relatórios e oficina de
livros.
redação, foram estimulados a escrever. O uso da escrita é
a
teoria
mostra-se
como
eficiente
ferramenta
eles
foi
um
desafio”,
disse
a
professora.
Com
a
Os conhecimentos dos alunos eram sempre confrontados
importante para organizar e consolidar ideias em conhecimento
com a realidade. Em várias oportunidades confrontaram suas
estruturado (OLIVEIRA e CARVALHO, 2005). Outras habilidades,
concepções com aquelas aceitas pela ciência, sendo isto
como busca do conhecimento e uso de recursos audiovisuais
importante na construção dos conceitos. Como afirma Silveira:
foram, também, desenvolvidas.
“Aprender algo novo é modificar algum conhecimento anterior, a aprendizagem sempre se dá a partir dos conhecimentos prévios. A observação e a experimentação têm papéis importantes na construção do conhecimento, mas diferente daquele colocado pela epistemologia empirista-indutivista. Através delas testamos as nossas construções, e, eventualmente, podemos constatar que algo vai mal com o nosso conhecimento: quando ele nos leva a fazer uma predição sobre a realidade e esta não é confirmada. (1992, p. 38)” Através da realização dos experimentos, os alunos perceberam que o conhecimento sempre é resposta a uma pergunta ou problema. Durante a realização dos mesmos, o conhecimento não era transmitido aos estudantes, ao contrário, tinham que pesquisar e discutir com colegas e orientadores os dados obtidos, relacionando-os com os conteúdos de Botânica. Evidenciamos o desenvolvimento da capacidade de trabalho em
Como investigação
visto,
os
estudantes
orientada,
vivenciando
participaram
de
aspectos
atividade
da
uma
científica, como levantamento de hipóteses, realização de experimentos
e
divulgação
dos
resultados.
Em
todos
os
encontros as principais teorias e conceitos de Botânica eram discutidos com os alunos. Como em qualquer área científica, a observação, que não é neutra, depende da teoria que a direciona.
Assim,
investigações
foi
sabendo
primordial o
que
para
observar,
eles
realizar
as
utilizando-se
do
conhecimento teórico construído. Os resultados demonstram que, apesar dos conteúdos estarem nos livros, a dialogicidade, a atividade investigativa e o trabalho em grupo foram fundamentais para o entendimento da Botânica de forma articulada e contextualizada. Portanto, os resultados obtidos vão ao encontro com as novas concepções
9
epistemológicas sobre ciências e suas aplicações em educação científica.
Portanto,
a
inserção
de
alunos
em
projetos
investigativos, com grupos e etapas próximas ao da pesquisa, que passa pela produção escrita com divulgação, propicia a
Conclusão Como
construção de conceitos articulados e profundos. Neste caso, afirma
(1996),
centros de ciências e espaços não-formais de educação, como a
atividades experimentais exploram certas contribuições das
Casa da Ciência do Hemocentro-RP, podem desempenhar papel
atividades
central no apoio aos professores e seus alunos.
científicas,
Gil-Perez como
e as
Váldez citadas
Castro
anteriormente,
permitindo aos jovens a análise de um problema, para que possam, sob orientação, formular hipóteses e estratégias para sua resolução, analisar os resultados e confrontar com seus pares as ideias. No caso da Botânica, o uso de uma estratégia como esta pode ser uma ferramenta importante na aprendizagem desta
Agradecimentos À professora de ciências Sandra Spagnolli e ao técnico agrícola da USP Antônio Justino da Silva.
área, assim como o contato com o ambiente (SILVA, 2008).
Referências bibliográficas
Isso pode ser confirmado na declaração abaixo:
BARBIERI, M.R. Ensino de ciências nas escolas: uma questão
“ ...depois que começa a frequentar a Casa da Ciência, você passa pelos lugares e não vê com tanta simplicidade o que antes passava despercebido. A gente vê uma flor, a pétala, a antera, o estigma e aí vai vendo muitas coisas; muda nossa visão de ver o mundo: tudo que a gente olha, pára, pensa um pouco, vê o que está acontecendo e as relações...Eu queria também destacar a curiosidade, vontade de saber, porque quando a gente vem aqui, vai atrás, faz pesquisa e começa observar...é essa curiosidade que ajuda na escola; a professora passa um texto a gente olha pro texto e percebe que só aquilo não vai bastar, aí a gente começa a ir atrás, um pouco mais a fundo, vai estudando. André,16 anos.”
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Sobre os autores André Perticarrari é biólogo com doutorado em Biologia
científico. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v.10,
Comparada pela FFCLRP/USP e educador da Casa da Ciência,
n.2, p.108-117, 1993.
onde
PRAIA, J.F.; CACHAPUZ, A.F.C.; GIL-PÉREZ, D. Problema, teoria e observação em ciência: para uma reorientação epistemológica da educação em ciência. Ciência & Educação, v.8, n.1, p.127145, 2002a.
desenvolve
projetos
educacionais
com
alunos
e
professores do ensino básico. Atualmente é bolsista de pósdoutorado em Ensino de Ciências pelo CNPq junto ao programa educacional do INCT em Terapia Celular e Células-tronco.. Email: aperticarrari@hotmail.com Fernando Rossi Trigo é licenciado e bacharel em Ciências Biológicas pela FFCLRP/USP e educador da Casa da Ciência,
11
onde desenvolve projetos educacionais com professores e
of a Science Centre explored aspects of plants’ life
alunos do ensino básico. Também atua como professor de
through projects and group discussion. Results show that
Biologia e Ciências na rede particular de ensino de Ribeirão
students’ participation in investigative projects allowed
Preto-SP. E-mail: fernando_r_trigo@yahoo.com.br
the construction of concepts in a deeper and more
Marisa Ramos Barbieri doutora em Filosofia e docente
articulated way.
aposentada de Prática de Ensino do departamento de Psicologia e Educação - FFCLRP/USP. Atualmente é coordenadora da Casa da Ciência do Hemocentro/Ribeirão Preto e responsável pelo projeto
educacional
do
Instituto
Nacional
de
Ciência
Keywords:
Botany
teaching;
science
popularization;
informal teaching.
e
Tecnologia em Terapia Celular e Células-tronco do CNPq. Email: marisa@hemocentro.fmrp.usp.br
Contribution of activities in informal education settings for the students’ learning of Botany Abstract Botany
teaching
reproduction structures.
of
in
basic
conceptual
Research
education
is
descriptive
indicates
that
based
on
aspects
of
experimental
investigative activities can help students to learn concepts related to biology and to establish a relationship between theory and practice, important for scientific concepts learning. The objective of this work was to present and evaluate, based upon ideas of the Epistemology of Science and its applications for Biology teaching, an activity in which primary and secondary school students participating
12