Jornal das Ciências - número 09

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CENTROS DE PESQUISA, INOVAÇÃO E DIFUSÃO

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L

CTC Centro de Terapia Celular

PROJETO EDUCACIONAL FUNDAÇÃO HEMOCENTRO FACULDADE DE MEDICINA USP - RIBEIRÃO PRETO

Ribeirão Preto, Agosto de 2003 - Nº. 9 Ano 3

Hemocentro de Ribeirão Preto

Tiragem: 4 mil exemplares

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ADOLESCENTES INCENDEIAM DEBATE POSICIONAMENTO CRÍTICO: ADOLESCENTES DA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO QUESTIONAM TUDO A ficção científica explora o tema na evolução há muito tempo e os adolescentes da Casa da Ciência não ficam atrás. A discussão da evolução dos seres vivos foi um dos momentos mais curiosos de um encontro científico entre alunos-adolescentes da região de Ribeirão Preto (v. Box). “A evolução é pano de fundo de toda a biologia”, explica Carolina Matias, 17 anos, da E.E. Deputado José Costa, de Serrana, ao justificar a mobilização deles para entender o que defendiam os primeiros teóricos evolucionistas. O papo sobre os fundamentos das teorias de Jean Lamarck e Charles Darwin aconteceu de forma descontraída, mas nem por isso deixaram de lado questões complexas e ainda polêmicas. As alunas Josana Nunes, 16 anos, e Rosa Silva, 15 anos, incendiaram o debate com uma contribuição muito importante, contando uma experiência que fizeram no jardim da própria escola, a E.T.E. Prof. Alcides Souza Prado, de Orlândia, com a orientação da professora Maria Tereza Machado. Elas jogaram bolinhas de diversas cores entre as pedras e a grama, simulando pássaros em busca de alimentos. busca, muitas RIBEIRÃO PRETO FAZ PROJETO b o l i nNessa has passaram EDUCACIONAL RARO despercebidas por causa da Essa edição é dedicada ao programa de cor do ambiente em que educação científica “Caça Talentos”, do projeto estavam. “Então foram os educacional “As Células, o Genoma e Você”, pássaros que se adaptaram?”, criado pelo CTC - Centro de Terapia Celular do perguntaram. programa Centros de Pesquisa, Inovação e A pesquisa das Difusão - CEPID, do qual participam a FMRP e meninas ajudou a esclarecer: FFCLRP-USP e a Fundação Hemocentro, dizer que os animais se coordenado pela Casa da Ciência. Desde 2001, o adaptaram é uma visão programa vem trabalhando com professores e lamarckista e não darwinista; alunos das redes públicas e particular da e que evolução não é melhoria macroregião de Ribeirão Preto-SP. e sim sobrevivência - ponto Os adolescentes no congresso Os professores do ensino básico (91) de vista que os livros participam de encontros científicos aos sábados, didáticos nem sempre trazem. Complicado? formam grupos de pesquisas e remodelam suas Para eles não. Lucas Botelho, 16 anos que estudou na E.E. Dom atuações pedagógicas em sala de aula. E não é só. Romeu Alberti, de Ribeirão Preto, contou sobre a evolução da sociedade das Esse é um dos raros projetos educacionais em que formigas, demonstrando o quanto teve que estudar para entendê-las! a ação se dá simultaneamente entre alunosO conhecimento científico debatido entre alunos de diferentes escolas adolescentes e crianças, seus professores, e o método de estudo, baseado no raciocínio crítico e na análise (com a estudantes universitários, professores orientação da Casa da Ciência, que, no caso da “evolução”, contou com a universitários e pesquisadores científicos. Uma orientação do graduando em biologia pela USP, Danilo Kato), surpreende a diversidade que dá certo. todos com o enriquecimento que soma ao aprendizado. O objetivo é encaminhar os professores do OLHA O QUE A CURIOSIDADE FAZ! ensino básico para a atualização, estimulando-os a atuarem como autores críticos do próprio Diego Rossi, 14 anos, é um integrante do programa “Caçaconhecimento, enquanto que seus alunos talentos”, estuda o tema “evolução, abelhas e vespas”. Em um estágio na percorrem os primeiros passos da iniciação Entomologia USP-RP, fez perguntas difíceis para os pesquisadores, que científica. pensaram tratar-se de dúvidas de um aluno da pós-graduação e não de um Uma das práticas mais emocionantes menino do ensino fundamental da E. E. Dr. Francisco da Cunha Junqueira, dessa ação está registrada nessa edição especial em Bonfim Paulista-SP. O docente Dalton Amorin, da F.F.C.L.R.P.-USP, do Jornal das Ciências. Cento e trinta e três também ficou surpreso quando Diego disse que está lendo um livro de sua adolescentes da região comandaram uma reunião autoria, utilizado pelos graduandos e pós graduandos em Biologia, científica e apresentaram, aos “olhos pasmos” “Fundamentos de Sistemática Filogenética” - muitos alunos da graduação dos adultos, informações analisadas e peneiradas ainda não o leram. E essa é apenas uma das surpresas vindas dos meninos por eles mesmos, sobre temas complexos como que freqüentam a Casa da Ciência. Leiam uma das perguntas que o jornal AIDS, células, transgênicos, genoma e digitalizou do próprio caderno de Diego: clonagem. Através de jogos, maquetes e teatro, eles provam que podem ser autores e atores do processo de aprendizagem, difundindo criticamente o conhecimento científico, para além dos centros de pesquisa das universidades.


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NA HORA H QUEM MANDA? Os adolescentes se divertiram muito no congresso de jovens. Um dos momentos foi quando debateram a determinação do sexo em animais. Existem diferentes sistemas de determinação de sexo. Em alguns casos, são os machos que determinam o sexo da prole; em outros, são as fêmeas que determinam. Descobriram em visita a Genética da USP-RP, acompanhados da graduanda em Biologia, Nathália Monéa e recebidos pelo téc. João José dos Santos, que o zangão, através da partênogenese,

nasce sem a necessidade de cruzamento, ou seja, a partir de uma célula haplóide, da abelha rainha. Ficaram sabendo também que há machos diplóides, ou seja, formados pela união de 2 gametas - duas células haplóides.

Os alunos, Natália, Fernanda e Diego.

O objetivo dos alunos da E. E. Bruno Pieroni, de Sertãozinho, e da E.E.Francisco Junqueira, de Bonfim Paulista-SP, foi o de ilustrar essas diferenças. Foi então que Diego Rossi, de 14 anos, informou que o zangão diplóide é raro, mas quando acontece a reprodução, ele é estéril e logo é sacrificado pelas operárias.

CENTRÍOLOS: VOCÊ JÁ OUVIU FALAR? Imaginem uma troca de informações científicas entre adolescentes e professores de três escolas, as Estaduais Guimarães Júnior e Dom Romeu Alberti, de Ribeirão Preto e a escola particular Tom Jobim, de CravinhosSP! Os alunos se entusiasmaram com os ADOLESCENTES DESCOBREM COMO HOSPITAIS centríolos, as estruturas citoplasmáticas das células dos protistas, dos animais e dos DETECTAM O HIV vegetais. Os centríolos orientam a divisão Alunos das E. E. Winston de imunoabsorção ligado a enzima) celular e sem eles nada aconteceria em termos Churchill e Maria Conceição e o PCR (reação em cadeia da de desenvolvimento dos seres. Rodrigues Magon, em Sertãozinho, p o l i m e r a s e ) . A análise crítica do conhecimento é acompanhados por sua professora Contaram que há diferenças uma preocupação constante de todos, que, Fernanda Andreoli e das pesquisadoras entre eles. As novas pesquisas portanto, não se espantaram quando a aluna do Hemocentro, Simone Kashima e buscam diminuir o período entre a Shaista Gonçalves Luz, da E.E. Dom Romeu Fabíola Castro, levaram o tema AIDS infecção e a capacidade de detectar o Alberti, de Ribeirão Preto, perguntou para os para o congresso de jovens. v í r u s , c h a m a d o d e “ j a n e l a colegas por que os centríolos das células Eles fizeram um troca-troca de imunológica”. Atualmente, o vegetais são menos desenvolvidos do que os perguntas e chegaram às diferenças “Elisa” é o teste mais utilizado na das células dos animais. A correlação feita entre os dois exames mais usados para rede pública e o PCR, em clínicas pelos alunos surpreendeu a todos presentes, detectar o vírus HIV. O ELISA (ensaio particulares. pois estavam falando de animais e não de

Editorial O congresso de jovens que reuniu cento e trinta e três alunos-adolescentes da macro região de Ribeirão Preto, registrado nessa edição especial do Jornal das Ciências, provou que o aluno aprende quando discute em sala de aula e quando “contamina” outros colegas. Eles fizeram isso com temas diversos, como clonagem em eucaliptos, estrutura do DNA, células do sangue, reciclagem de lixo, camarões ou transplante de órgãos. O projeto educacional aqui desenvolvido trabalha para valorizar a interação que deve existir entre professor e aluno. Criamos um ambiente misto, onde se vêem alunos da graduação e da pós-graduação, junto com professores do ensino básico, seus alunos adolescentes, pesquisadores e professores universitários, todos juntos. Eles estão motivados pela riqueza que o desenvolvimento do raciocínio científico proporciona. No entanto, é uma pena que a avaliação do aprendizado do aluno, na maioria das escolas, ainda se resuma a números ou notas, não ocorrendo uma avaliação de fato sobre o que o aluno aprende. A forma como se constrói o conhecimento em sala de aula não permite ao aluno saber o que aprendeu e não permite ao professor ter noção do quanto ensinou, pois este continua muito sozinho, enquanto o número de alunos por sala de aula continua grande. Trabalhamos para que o professor perceba isso e ajude a despertar a afetividade do aluno em relação ao conhecimento. Esse congresso jovem mostrou que é importante promover ações para que o aluno mostre para outros colegas o que desenvolveu pois isso realmente estimula o raciocínio científico entre crianças e adolescentes, propiciando avanços no exercício do conhecimento.

vegetais.Ainda bem que havia um pesquisador presente, o pós-doutorando da Fundação Hemocentro, Paulo Peitl Júnior, especialista no assunto. Os alunos puderam discutir que, provavelmente, na divisão das células vegetais, a formação de sua membrana é específica e direciona a divisão celular. Existem uns tais microtúbulos dando muito bem conta desse papel na divisão celular vegetal. Os alunos também visitaram os laboratórios de citogenética, no Hemocentro, convidados pelo pesquisador.

As alunas Shaista e Anielly no congresso Expediente O Jornal das Ciências é uma publicação do C.T.C./Hemocentro, da FMRP e FFCLRP-USP.É parte do Proj.Educacional CTC/CEPID/FAPESP. Coordenadores: Dimas Tadeu Covas, Marco Antonio Zago, Marisa Ramos Barbieri, Dalton de Souza Amorim.Arte e diagramação: André L. B. Rolim e Carlos F. Evangelista.Fotos: Equipe Casa da Ciência Jornalista responsável: Silvia Cardinale. Colaboradores: Dir. de Ensino de Ribeirão Preto e Sertãozinho-SP, Pró Reitoria de Cultura e Extensão-USP Luciane Randi, Iara Maria Mora Nathália Monéa, Fernando Trigo, Marcia Pannuti, Danilo Kato, Valéria Betteti , Manoel Alves Neto, Mariana Galera.Revisão: Marina Ferreira da Silva. Rua Catão Roxo, 2501. Ribeirão Preto-SP.CEP- 14051140.Fone: (16) 3963-9308 Internet: http://ctc.fmrp.usp.br/education E-mail: casadaciencia@pegasus.fmrp.usp.br


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ADOLESCENTES LEVAM JABOTICABA PARA O LABORATÓRIO O professor Luciano Mesquita,da Escola Tom Jobim, de Cravinhos, teve a oportunidade de realizar uma prática para verificar os cromossomos e as fases da mitose em células de raiz de cebola. Ao contar essa experiência que realizou no grupo da pesquisadora do Hemocentro, Rita de Cássia Carrara, os alunos quiseram também ter a mesma oportunidade. Porém, o corante utilizado para identificar as células é um produto industrializado e de custo elevado Sabendo disso, os alunos pensaram em uma alternativa para esses corantes, daí nasceu uma idéia original, a de desenvolver um corante natural.

No congresso de jovens, eles contaram que tentaram corar células de cebola, com extrato de várias flores e frutos, dissolvidos em água e álcool.

Adolescentes:Pesquisa com corantes

Descobriram que não conseguiam boa definição em células vegetais (da cebola) e então, sugeriram colher células da mucosa animal, coletada da bochecha dos alunos. Ao observar as células humanas, concluíram que a jaboticaba e a amora poderiam ser excelentes corantes. Testaram o invento colorindo as células e buscando precisar onde estava o DNA (que fica no núcleo das células). Utilizando método científico, agora estão estudando a concentração desses corantes alternativos. “A gente cansa, mas vale a pena”, suspirou Daniele da Silva, 17 anos.

ADOLESCENTES APRENDEM QUE CIÊNCIA PRECISA MELHORAR A SOCIEDADE O congresso que reuniu os ,Foram meses de atividades extraclasse nas cento e trinta e três adolescentes não escolas e na Casa da Ciência. Os encontros aconteceu de uma hora para outra. acontecem na Casa da Ciência entre os adolescentes, seus professores, estudantes da graduação, da pós-graduação, professores e pesquisadores universitários.

,Ele falou aos adolescentes que a ciência cresce quando prova que algumas teorias estão erradas e quando dá importância ao raciocínio científico para a solução de problemas do dia-a-dia. “A ciência precisa ajudar a sociedade. Se nós formos “Todos juntos, isso é inédito, criamos corretos, solidários, faremos bom uso da um ambiente de discussão prazeroso, ciência que produzimos”, afirma Dalton aprendemos a utilizar o método científico aos adolescentes. para interpretar a realidade”, explica a Estímulos assim, dão resultado: bióloga Marisa Barbieri. “A ciência é falível “Tenho lido mais, não só biologia, mas e não é feita por gênios”, conta Dalton outras matérias também”, disse Aline Congresso Jovem: Descontração Amorim, professor da FFCLRP-USP. Berzuino, 17 anos.

SUCATA PARA ENTENDER MEDULA A professora Lucimar Polo, da E. E. Nestor de Araújo, de Dumont-SP, estimulou os seus alunos a entenderem como é a história do transplante de medula, sob a orientação da pesquisadora Maristela Orellana. Os alunos avaliaram que com garrafa PET, isopor, tubos plásticos, bucha vegetal e espuma, poderiam criar um osso e também simular a circulação sangüínia em vasos fechados. Os participantes ficaram surpresos com a qualidade e a didática que simples materiais puderam representar. Os alunos foram de classe em classe, explicando, sentindo o valor que tinham ao reproduzir o conhecimento que adquiriram e repassaram para colegas de outras salas. O trabalhou ajudou a entender que o transplante se dá com a medula óssea e não com a medula espinhal, como muitos confundem. Puderam imaginar como acontece a circulação sangüínea na medula óssea, coisa que a maioria não consegue entender apenas com o livro didático e a lousa.

Na garrafa PET a simulação de um osso e no isopor, a circulação sangüínea fechada

DEPOIMENTO DE ALUNO MOTIVA PESQUISA Um dos trabalhos que surpreenderam os participantes do congresso de jovens foi o dos alunos da professora Lucília Mandú, E.E. Anna Balardin e do curso pré-vestibular comunitário Paulo Freire, de Sertãozinho. Ela mobilizou seus alunos para ir a fundo na compreensão da hemofilia - ausência do fator de coagulação no sangue. Seu aluno do terceiro ano do ensino médio, Paulo Mazotti, 20 anos, ouvindo a professora falar sobre o Indivíduo do sexo Feminino assunto, contou que em sua família havia casos de portadores de hemofilia e queria saber Indivíduo do sexo Masculino por que ele não desenvolvia a doença, já que, na maioria dos casos, a hemofilia é Portador de caráter recessivo provocada pela transmissão de um gene que sofreu uma mutação genética. A partir dessa ligado ao x dúvida, com a participação do pesquisador do Hemocentro,Wilson de Araújo Silva Individuo falecido Junior, os alunos combinaram com a professora várias atividades extraclasse, como uma Individuo afetado visita à casa de um parente hemofílico do aluno, desenvolvendo uma árvore genealógica Parte do trabalho da professora daquela família, revelando sua descendência genética.Também entrevistaram o paciente para saber o tipo de terapias auxiliares que recebia dos serviços de saúde e participaram com a familia do aluno de palestras no Hemocentro, com a hematologista Andréa Garcia.


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ALUNOS DE ESCOLA PÚBLICA SURPREENDEM PROFESSORES Debateram a formação dos ,bióloga Marisa Barbieri perguntou A “gelatina” deu tão certo gametas, a gametogênese e associaram qual era transgênico nessa pesquisa. que a professora anda com ela isso com a divisão celular, a meiose - “É a bactéria que é transgênica”, na bolsa. uma correlação estreita mas, rara de se sentencia a menina, revelando um Os alunos da E. E. Dom Romeu ver. certo conflito em aceitar os alimentos Alberti, de Ribeirão Preto, apresentaram Com a confecção de kits em transgênicos, por acreditar que um variadíssimo repertório no congresso de gelatina, puderam fazer outra correlação causam desequilíbrio ecológico. jovens. Orientados por sua professora, - com a metástase nas células “Reconheço que os alunos se Leonízia Nakamura, pela Casa da Ciência e cancerígenas e o envelhecimento celular saem melhor do que eu para explicar pelas pesquisadoras do Hemocentro, (A gelatina deu tão certo que a professora essas coisas”, afirma a professora dos Aparecida Fontes e Rita Carrara, dividiram- anda com ela na própria bolsa para alunos. se em grupos e apresentaram trabalhos tão sempre poder utilizá-la, nas aulas). Isso diferentes quanto encantadores, na maioria tudo contado em forma de bate-papo. deles, com muito pouco recurso material. ,Com materiais simples, o grupo Um dos grupos mostrou a produção discutiu a polêmica sobre os de proteínas no organismo, assunto que transgênicos com apenas uma parece simples, mas que carrega todo o cartolina. processo de controle da vida. Estudaram Através dos transgênicos, os cariótipos, que são o conjunto de mostraram que é possível a cromossomos nas células de cada espécie, produção de insulina. Daiane aspectos evolutivos das formigas e Carvalho, 14 anos, explicava o apresentaram os jogos das charada sobre a processo com tanta naturalidade biodiversidade. T u d o s e m p r e que nem se “abalou” quando a questionando o,porquê disso e daquilo. Nas apresentações, materiais simples ADOLESCENTES ELABORAM NOVAS TEORIAS ATÉ PARA A CIÊNCIA “Já que essas células precisam se alimentar, não seria o caso de matá-las de fome?” Os adolescentes da E. E. Tomás Alberto Whatelly, de Ribeirão Preto, mostraram para seus colegas, também adolescentes, uma maneira mais aprofundada do estudo da ciência, diferente da forma habitualmente superficial com que a mídia o trata. Um dos assuntos de interesse foi o câncer, criaram até um kit sobre a origem e o desenvolvimento da metástase, inclusive descobriram na pesquisa extraclasse que, na metástase, as células criam mecanismos para se alimentar. Isso deixou a professora deles, Valéria Gimenez, boquiaberta. Um dos alunos, muito observador, perguntou: “já que essas células precisam se alimentar, não seria o caso de matá-las de fome?”

Os alunos não sabiam que os cientistas também estavam fazendo essa mesma pergunta, nesse exato momento. Estudaram também como seria o mecanismo de uma vacina anti-câncer (a vacina é terapêutica e não preventiva). Fizeram também um jogo de dominó para entender os conceitos que a ciência utiliza sobre o câncer. “Esse projeto é para pessoas que estão a fim de aprender e de ser uma pessoa crítica”, disse Leidiane Tonetto, 18 anos. Leidiane, trabalha no comércio e foi liberada pelo patrão para participar do projeto aos sábados.

Leidiane (de preto) e demais alunos no laboratório na E.E. Tomás Alberto

Sua professora, Valéria Gimenez, afastou-se temporariamente das aulas da escola Tomás Alberto, mas se manteve ligada aos alunos, com atividades extraclasse. E mais: discutiram o que está sendo considerado como a pesquisa do novo século, as células-tronco, fazendo perguntas que até os professores não souberam responder de imediato como, por exemplo, suas funções e características nos principais tecidos em que são encontradas. (cordão umbilical e medula óssea). Os alunos “abusaram” dessas complicadas conceituações, amparados pela troca livre de experiências entre alunos, a professora e as pesquisadoras da Fundação Hemocentro Aparecida Fontes, Maristela D. Orellana e Marina A. Coutinho.

DIFERENTE DO LIVRO DIDÁTICO Os alunos da professora Luciana Bimbati, das cidades de S. Simão e Luís Antonio-SP, fizeram uma maquete sobre a membrana plasmática. Caixas de ovos e bexigas foram os materiais utilizados para explicar que uma célula não é uma coisa achatada, como mostram as figuras nos livros didáticos. É tudo “perfeitinho”, como uma célula real, que tem três dimensões. Eles também apresentaram uma pesquisa que fizeram em S.Simão, cidade que contabiliza na sua história uma das mais graves epidemias de febre amarela do país. Além disso, o aluno Gilson Viana, 17 anos, fez um jornal impresso sobre AIDS, também apresentado no congresso jovem.

Membrana feita de caixas de ovos e bexigas


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ADOLESCENTES “SE LIGAM” COM O TEATRO Trabalho mostra que teatro na escola pode ser a chave para aprender biologia O teatro sempre foi um grande aliado do conhecimento humano e a chaves do projeto educacional da Casa da Ciência. Os adolescentes se dispuseram a abusar do recurso teatral para entender o que muitas vezes é encarado em sala de aula, como um assunto chato. Bruno Perticarrari, 22 anos, que foi aluno da professora Fernanda Andreolli, da E. E. Magon, em Sertãozinho, foi diretor e ator de “O Milagre da Vida”. A peça foi escrita pela professora, em parceria com o também professor (de História) Rogério Sichieri, com a orientação da pesquisadora da Fundação Hemocentro, Maristela Orellana e foi apresentada na Estação Ciência, em São Paulo. Agora, Bruno foi convidado pela Diretoria Regional de Ensino de Sertãozinho, para dirigir outros trabalhos com teatro. “O Milagre da Vida”, também foi apresentado na sala de coleta de sangue do Hemocentro, no Dia da Mulher. O roteiro foi inspirado em uma paciente que fez um transplante

,de medula por causa de uma leucemia. A professora Leonísia Nakamura, da E.E. Dom Romeu Alberti, de Ribeirão Preto e seus alunos, também escreveram “A Agonia de Uma Célula”, que conta como é o processo de invasão das células, pelos vírus. A ciência nos tablados também levou professores e alunos a criarem a peça “Ressurgindo das Cinzas”, também de autoria de Andreolli e dirigida por Bruno, sobre AIDS, gravidez precoce, drogas, o distanciamento dos pais em relação aos filhos e a frieza do médico no diagnóstico. Sob a coordenação da pesquisadora Simone Kashima, misturando três escolas diferentes e revezando o elenco, esse trabalho ajudou a despertar interesses de novos alunos, inclusive para outros conhecimentos. Bruno aceita

, reapresentar essas peças. Contatos pelo tel. (16) 91315785. Outra peça que chamou muito a atenção foi a que adaptou um texto sobre clonagem humana. “O Clone”, que teve a orientação do doutorando da Fundação Hemocentro, Francis Franco Nunes, dos professores Nércia, Rosemary, Maria Regina e Ana Luiza das E.E. Eugenia Vilhena de Morais e Guimarães Jr, de Ribeirão Preto, também foi visto pelo público da Estação Ciência, em São Paulo. Em parceria com a pesquisadora Aparecida Fontes, a professora Valéria de Freitas, da E.E.Domingos Paro, de Ibitiuva-SP, reconhece o poder que o teatro tem. Seus alunos mostraram no congresso jovem que, de mãos dadas (literalmente falando), conseguem representar o DNA. A professora entrava em cena com uma tesoura e “cortava” as mãos dadas dos alunos, simulando a formação do RNA. Cada aluno tinha uma função, mostrando como ocorre a duplicação e a mutação do DNA.

“A Agonia de Uma Célula” “Ressurgindo das Cinzas”

“O Clone”

EM RIBEIRÃO PRETO UMA AÇÃO PARA DIMINUIR A “CANSEIRA HUMANA” O método desse projeto faz diminuir a canseira em busca de soluções para problemas A “Casa da Ciência” propõe alternativas à camisa-deforça que obriga o educador a virar mero repetidor da informação. Propõe que professores, alunos e universidade percebam a diferença entre o conhecimento “ideologizado” e o conhecimento peneirado por meio das lentes do método científico. Num dos encontros entre pesquisadores da USP e professores do ensino básico de cidades da região, a “Casa” provocou uma discussão intrigante, da história da “industrialização” do parto cesariano. Um dos “provocadores”, o pesquisador Marco Barbieri, da FMRP, contou que em alguns dos mais ricos hospitais, noventa e cinco por cento ou mais dos partos são feitos por cesariana. E que, absurdamente, dor de parto nos dias,atuais, só acontece com hora marcada e que é raro o agendamento de nascimentos de bebês durante feriados e domingos. “Isso revela a fragilidade do mito de que médico é

, Deus é uma constatação de que estamos 'medicalizando' as relações sociais em geral”, disse Barbieri.A história da cesariana foi contada numa manhã de sábado, como um alerta para se perceber que “certezas” também são questionadas e quando isso não ocorre, pode acontecer absurdos como a proliferação das cesarianas. “O profissional jamais deve repetir práticas pedagógicas inocentemente” reflete a professora Lucília Mandú, da escola Alternativa e da escola Paulo Freire, de Sertãozinho.“É por isso que precisamos passar pelo método científico, para sair do senso comum”, completa Barbieri, explicando que o pesquisador não pode “ideologizar” o que está pesquisando e que o professor precisa avaliar o conhecimento que transmite, com metologia científica, pesquisando. Por quê? Continua pág. 6


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A SOLUÇÃO É CRIAR PROBLEMAS Continuação pág.5 Os professores das escolas básicas reclamam das O pesquisador da FMRP Júlio Voltarelli, também condições de ensino que eles próprios têm. Confirmam que a presente no debate, sugeriu comprovar que o método de pesquisa não é uma prática comum em sua formação, daí a investigação em aula, estimula “criar problemas” e sair da dificuldade em reciclar os conhecimentos. “Durante a necessidade da memorização pura e simples da informação, formação do professor deveria fornecer instrumentos para para que a aprendizagem passe a fazer sentido. Ele sugeriu a criar no licenciando uma mentalidade científica”, desabafa a técnica PBL ou Aprendizagem Baseada em Problemas. Maria José Esteves, da E.E. Manoel Martins, de Morro A professora da Escola Técnica de Química, da Agudo-SP. E isso atrapalha o processo de aprendizagem. cidade de Luis Antônio, Alessandra Rodrigues, concorda Segundo depoimentos de professores, as suas aulas nem com o professor e diz que “a pesquisa é diferente da arte, mas sempre são interessantes. Adriana Tavares, da E. M. Jardim que, apesar de não prescindir da criatividade, fundamenta Progresso, em Ribeirão Preto, comentou certo desinteresse conceitos para gerar novas interrogações”. Ou seja, enxergar dos alunos em suas aulas sobre verminoses. A professora a aula com olhos de pesquisador pode fazer a diferença. O parece reconhecer que as aulas deveriam ser diferentes e por imunologista Voltarelli lembrou que o importante da isso a formação do professor é tão fundamental. Mas não pesquisa não é descobrir coisas novas, mas sim redescobrir o quer dizer que uma aula com “especialistas” em verminose dia-a-dia e aproveitar isso, escrevendo o que se faz. no caso, garanta mais interesse dos alunos. Escrever? Muita gente foge, mas isso é possível em O essencial é o método de trabalhar os conteúdos. educação? Esse é fato confirmado por alunos que, enquanto seus O professor de química e escritor Francisco professores debatiam essa questão, participavam numa sala Peruzzo, professor Tito, como prefere, também presente, ao lado, de uma aula sobre os vermes, com um graduando em contou que escrever foi fundamental para a sua carreira. biologia, Danilo Kato, que não é especialista em verminoses. “Dei um jeito de anotar tudo o que acontecia em sala”, diz. O Jornal das Ciências perguntou à adolescente E foram os vinte e cinco anos de anotações, que resultaram Jessica Bernardo, 15 anos, aluna da E.E.José Luiz de num dos mais requisitados livros didáticos de química “A Siqueira, em Barrinha-SP, o que ela estava fazendo numa Química Numa Abordagem do Cotidiano”, de autoria do manhã de sábado, numa aula não obrigatória sobre vermes. próprio professor. “Essa aula de vermes é mostrada de forma mais simples” e arremata: “é diferente até em outros temas, o jeito como o professor explica é diferente”. Por que será? FERNANDO PESSOA E A CANSEIRA Como revelou Voltarelli, no entanto, o objetivo de se pesquisar não é descobrir coisas novas ou virar escritor, mas refletir, ver o bom e o ruim. E por que a maioria dos educadores não investe em pesquisa? “Não acredito que os professores do ensino básico precisam fazer pesquisa como na universidade. Mesmo para nós é difícil”, contou. Será que estava faltando ouvir isso de um pesquisador? “Objetivamos nada mais que facilitar a vida de quem aprende e de quem ensina”, tranqüiliza Iara Mora, bióloga da Casa da Ciência. O professor Barbieri lembra uma passagem de Brecht, em Galileu, Galilei, onde ele discute com seus alunos a importância da ciência. O mestre Brecht disse que o principal papel da ciência é diminuir a canseira humana e, certamente, para diminuir a canseira dos professores é necessário que ele escreva o que produz, registre os resultados do aprendizado. Mesmo que isso pareça muito pouco. “É preciso escrever o que vivenciamos no nosso rio Tejo”, sugere Barbieri, fazendo uma analogia com o poeta Fernando Pessoa e o poema que ele fez sobre o rio Tejo - um rio de Portugal. “É preciso assumir que seja lá o tamanho do meu trabalho, do meu rio, eu vou contribuir para diminuir a canseira humana, por pequena que pareça a minha ação”, analisa. Escrever o que se faz é se comprometer quando se escreve sobre o rio da cidade ou do bairro, esse texto pode seguir corrente afora, para outros rios, outros mundos. Sabe-se que a maioria dos professores declara dificuldades em trabalhar a ação local de forma criativa, registrando a interação com os alunos - que o professor é sozinho, em salas que chegam a ter mais de quarenta alunos. Preocupada com isso, a coordenadora da Casa da Ciência, Marisa Barbieri, perguntou à Secretária Municipal de Educação, Elza Rossi, também presente num desses encontros, se os governos estão avaliando o resultado dos programas de capacitação do professor. Elza explicou que “está faltando avaliação institucional, uma avaliação de fora do governo e que essa avaliação não deve se restringir a um fim fiscalizatório, mas que realmente acompanhe se os objetivos propostos estão sendo alcançados em sala de aula”, critica Elza. E se 'educação é tudo’, como dizem, avaliar bem os programas de atualização de professores não só diminuiria a canseira de muita gente, como também garantiria a boa aplicação dos recursos públicos, destinados à reestruturação do ensino brasileiro.

O

autor da ilustração é Carlos Fernando Evangelista, 17 anos. Ele desenhou um ser humano cansado, como referência ao que disse o poeta Fernando Pessoa, citado nesse texto. Carlos é aluno da escola Estadual Dom Romeu Alberti, em Ribeirão Preto. Ele não está mais participando dos grupos de estudo da Casa da Ciência por estar trabalhando num supermercado .


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