Ribeirão Preto, julho de 2009 - nº 19 Ano 09
PROJETO EDUCACIONAL CTC FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA
Alunos do Adote um Cientista desvendam para o público a importância da doação de sangue através da peça teatral “Relíquias do Sangue e Sara”. Pág.3
Carlos Cruz
Informação por meio da arte
Emoção e música: como o cérebro reage Pianista e pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto fala das reações emocionais entre o músico e o público. Pág.5
Alunos do “Adote” são aprovados em vestibulares
A Reprodução Humana
A Casa da Ciência comemora a aprovação de seis alunos em universidades públicas. Pág.4
Entenda os processos envolvidos na reprodução humana e aprenda um pouco mais sobre duplicação celular e DNA. Pág.4
Roda da Ciência promove interação entre alunos da rede básica e pesquisadores
Caio Margarido
Alunos do Adote um Cientista, um programa da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto, que promove a interação entre alunos do ensino básico e pós-graduandos, participaram do primeiro “Roda da Ciência” gravado. Os alunos entrevistaram o Prof. Dr. Marcus Lira Brandão da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), que pesquisa neurobiologia do medo e da ansiedade. O Roda, iniciado em janeiro de 2006, tem o objetivo de sedimentar os conhecimentos adquiridos pelos alunos dos grupos temáticos do Adote. Nele,
Alunos participaram com perguntas sobre medo, ansiedade e estresse.
pesquisadores são convidados a esclarecer as dúvidas dos alunos no final do semestre, esta atividade é associada aos Murais, que são apresentações dos trabalhos
dos grupos e seus orientadores. Agora, o “Roda da Ciência” está sendo registrado e difundido através de um formato multimídia. “Tanto no desenvolvimento do programa quanto durante sua gravação abrem-se perspectivas multidirecionais de transmissão de conhecimento entre os envolvidos”, explica Cleiton Lopes Aguiar, um dos idealizadores do programa multimídia. Rafael Ruggiero, pós-graduando em neurociência e colaborador do Adote um Cientista, explica que alunos são essenciais em todos os passos do desenvolvimento do programa. “Eles
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Editorial
Caio Margarido Roda da Ciência teve participação de alunos da rede básica de ensino.
foi convidado o Prof. Dr. Norberto Garcia Cairasco, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP). O professor realizou pinturas digitais, por meio de softwares e data-show, na gravação do primeiro programa e criou, junto com a artista plástica Luciane Strambi, a logomarca do novo “Roda”. Cairasco já tem experiência nessa mistura entre ciência e artes plásticas, pois criou em 2002 a Oficina Da Vinci, que pretende unir esses dois elementos distintos. A parte musical ficou por conta do psicólogo e músico André Perin, que apresentou algumas de suas canções no programa. Apresentado pelo biólogo,
ator e diretor, Milton Ávila, o “Roda” conta com a colaboração dos pós-graduandos do projeto Adote um Cientista, Casa da Ciência, Hemocentro de Ribeirão Preto, Instituto de Neurociência e Comportamento (INeC) e Oficina Da Vinci. O “Roda” está em fase de finalização e será disponibilizado no site da Casa da Ciência e INeC. Cada aluno participante receberá um DVD com a primeira edição e as atividades extras referentes ao programa, como as aulas sobre medo e ansiedade e a visita dos alunos ao laboratório que realiza pesquisa nesta área. A difusão do conhecimento faz parte do avanço científico e tem se popularizado na internet. O “Roda da Ciência” tem como objetivo associado a apresentação da principal estratégia educacional da Casa da Ciência, que são as formas de interação entre ensino e pesquisa, feitos por educadores e cientistas. O novo “Roda” agrega também o valor de ser um material multimídia, o que exigiu mais trabalho e uma equipe afinada aos propósitos atuais.
Caio Margarido
O Jornal das Ciências está de cara nova e com uma proposta editorial diferente. A última página, que normalmente é composta por entrevistas com professores da USP, traz uma conversa com um pósgraduando em neurociências da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que explica como é realizada sua pesquisa em plasticidade sináptica. Aproveitando o ensejo neurocientífico, temos uma matéria que fala das reações emocionais sob os aspectos neurológicos da música com Márcia Higuchi, musicista e doutoranda em neurociências pela USP de Ribeirão Preto. O jornal exibe ainda uma matéria sobre o programa multimídia “Roda da Ciência”, que pretende divulgar a interação e troca de conhecimento entre alunos da rede básica de ensino, pesquisadores da USP, músicos e artistas plásticos de Ribeirão Preto. O suplemento “Trilha da Ciência”, que traz as realizações de exclusividade dos alunos, apresenta “Relíquias do sangue e Sara” – peça teatral que trata dos componentes do sangue e a importância de sua doação. A peça já foi encenada em Campinas, durante a 60º reunião da SBPC e em Brasília na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Ainda no trilha, temos uma matéria sobre as dúvidas que surgiram nos encontros de reprodução humana e a aprovação de seis alunos freqüentadores do Adote um Cientista em universidades públicas.
mostraram um interesse crescente por temas como medo, depressão e ansiedade”, relata. Depois de constatar essas dúvidas e a grande inquietação dos alunos para aprender sobre o tema, um especialista na área foi convidado para ser questionado por eles. Antes da gravação do programa, os alunos também participam de aulas introdutórias sobre medo, ansiedade e estresse com estudantes da pós-graduação. O “Roda da Ciência” incorporou duas novas vertentes, a música e as artes plásticas. “É importante divulgar a mistura entre ciência e artes, pois, apesar destas atividades parecerem tão distantes entre si, elas são frutos da mesma inquietação humana”, explica Lézio Bueno Júnior, doutorando em neurociência e também colaborador do programa. Para coordenar a participação de artistas plásticos no “Roda”
Prof. Dr. Cairasco realizou pinturas digitais durante o programa. Algumas questões dos alunos que foram respondidas pelo Prof. Dr. Marcus Lira Brandão: O estresse, o medo e a ansiedade podem ser benéficos? (Desire Carla Barato). Uma pessoa pode possuir pré-disposição genética à ansiedade? (Natália Monteiro de Jesus). O que é o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)? Os animais possuem o TOC? (Ana Paula Carvalho).
O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP e distribuído gratuitamente nas escolas. É parte do Projeto Educacional CTC/CEPID/FAPESP. Coordenadores: Dimas Tadeu Covas, Marco Antonio Zago e Marisa Ramos Barbieri. Coordenadora da Casa da Ciência e MuLEC: Marisa Ramos Barbieri. Jornalista responsável: Gisele S. Oliveira. Diagramação: Gisele S. Oliveira e Vinicius Moreno Godói. Equipe da Casa da Ciência: André Perticarrari, Daiane M. A. de Carvalho, Flávia F. do Prado, Fernando Trigo, Gisele S. Oliveira, Maria José de Souza G. Vechia, Renata A.P. Oliveira, Vinícius M. Godói. Apoio: Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, Fundação Vitae, Fapesp e BT – Coseas/ USP. Endereço: Rua Tenente Catão Roxo, 2501. CEP: 14051-140. Ribeirão Preto. Telefone: (16) 21019308. Site: www.hemocentro.fmrp.usp.br/casadaciencia. E-mail: casadaciencia@hemocentro.fmrp.usp. br Tiragem: 3.500 exemplares. Distribuição Gratuita. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
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Informação por meio da arte
Casa da Ciência
Carlos Cruz
sobre a importância da doação criada em 2002 e que apresenta tede sangue e a superar os pre- mas relacionados à célula, vírus e conceitos embutidos nessa prá- sistema imunológico tica que pode salvar vidas. “Relíquias do Sangue e Sara” Daianne Maciely, autora do busca envolver o público em uma texto e atriz que interpreta Sara, prática de aprendizagem diferente, explica que a peça possui lingua- conscientizando por meio do teatro. gem de fácil acesso e é voltada Ao final da apresentação cada perpara todas as idades. “Sempre sonagem explica sua função e resconseguimos deixar a mensa- ponde as perguntas do público. “As gem principal, que é a importân- pessoas sempre nos recebem muito Apresentação da peça “Relíquias do Sangue cia da doação. Com a peça as bem e gostam de conversar depois e Sara na SNCT em Brasília. pessoas passam a conhecer o que da peça. É um jeito diferente de ensiOs elementos do sangue e a im- tem dentro do próprio sangue, pois nar porque foge um pouco do que é a portância de sua doação, esses são às vezes não sabem da importância aula”, explica Ádamo Siena, ator que os assuntos tratados em “Relíquias por não conhecerem” conta. interpreta a Célula Dendrítica. do Sangue e Sara”. Na peça os aluO grupo teve orientação nos da Casa da Ciência informam e do diretor de teatro Gilson esclarecem o público por meio da Brigagão da Cia Ribeirão arte cênica, cada personagem é um em Cena e Espaço Santelisa componente do sangue e se mostra Vale. indispensável para o funcionamento A peça já foi apresentada deste importante fluido. na 60º reunião da Sociedade Na história, Sara, a protagonista, Brasileira para o Progresso adormece e viaja pelo “mundo do da Ciência (SBPC) na cidasangue” desvendando suas diversas de de Campinas em julho de funções. Até a garota explicar para 2008 e em outubro foi encetodas células do sangue que ela não nada em Brasília, durante a é um microorganismo, o público é Semana Nacional de Ciência estimulado a conhecer cada elemen- e Tecnologia (SNCT). Alguns to e entender também suas funcio- dos atores dessa montanalidades. Com muita descontração gem encenaram também a Alunos/atores durante a 60º reunião da SBPC em e dança, a platéia é levada a refletir peça “Agonia de uma célula”, Campinas.
Entenda as personagens Sara (Daianne Maciely) - garota que descobre a importância da doação em uma aventura dentro de seu próprio sangue.
NKs (Renata Oliveira e Rafael Furlan) - tem como função eliminar células infectadas por antígenos ou com defeito de função, evitando assim a multiplicação dos vírus.
Hemácias (Késsia Moraes, Alexia Rodrigues e Isabella Anticorpos (Marina Viola e Mara Elisama) Mendonça) - tem como função o transporte de oxigênio - são proteínas produzidas pelo através da proteína hemoglobina Linfócito B que destroem os agentes existente em seu interior. Os íons estranhos. Há cinco tipos diferentes de ferro presentes na hemoglobina de anticorpos e cada um tem uma são responsáveis pela cor avermeresposta específica para cada tipo lhada das hemácias. de invasor.
Linfócito T (Diego Sanchez) e Linfócito B (Danilo Sanchez) - são células presentes no sistema imunológico capazes de destruir muitos tipos de antígenos (corpos estranhos, bactérias e vírus). Plaquetas (Jeferson Silva e Jaqueline Iqueda) - atuam na coagulação do sangue e se originam a partir das células megacariócitos (células da medula óssea responsáveis pela produção de plaquetas sanguíneas).
Vírus (Paulo Teodoro e Daniele Viola) - seu corpo é capsídeo, formado por proteínas, e possui material genético em seu interior. É parasitando células de outros organismos que os vírus conseguem reproduzir-se. Célula Dendrítica (Ádamo Siena) - são células que fazem parte do sistema imunológico, sua principal função é capturar e transportar os antígenos para até os linfonodos.
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Casa da Ciência Os alunos Ádamo Diógenes Siena, Heloísa Spagnoli, Jéssica Paiva de Souza, Daniele Rocha Viola e Paulo César Teodoro.
Alunos do “Adote” são aprovados em vestibulares
em Educação Física na USP de terminam o ensino médio, mas Ribeirão Preto. Daniele fala dos alcançar este objetivo não é fácil. pontos positivos de sua frequência Este ano, os números da Fuvest ao “Adote”, até mesmo durante a revelam crescimento na participagraduação: “Um professor estava ção dos alunos da rede estadual explicando como seriam as aulas de ensino nos 11302 candidatos de laboratório e eu disse que já aprovados pela USP, 22.6% continha visto aquilo, pois no ‘Adote’ tra 19% do ano passado. nós fomos ao laboratório algumas Outras três alunas frequentavezes. Muitas coisas eu consegui doras do “Adote um Cientista” foentender por já ter participado do ram aprovadas em universidades programa”, conta Daniele. públicas. Rafaela Camargo Baldo, “Espero ter condições e oportu- que frequentou o programa em nidade de ser orientador do ‘Adote 2006, foi aprovada em Psicologia um Cientista’ para poder contribuir na Unifesp, Jéssica Paiva de com essa ideia tão produtiva que Souza, está cursando Ciências dá oportunidade a joSociais na Unesp de vens interessados”, Araraquara e Heloísa diz Ádamo Siena, que Spagnoli foi aprovafoi aprovado no curso da em Informática de biologia na Unesp Biomédica na USP de Jaboticabal e code Ribeirão Preto. meçou a freqüentar Heloísa represena Casa da Ciência tou o “Centríolo” em 2000, por indiem “Agonia de uma cação da professora Célula”, primeira peça de biologia Leonízia montada na Casa da Nakamura. Ciência. Em 2008, a Cursar uma uniestudante foi responversidade pública é sável pela sonoplasum sonho de quase Rafaela Baldo em atividade do tia da peça “Relíquias todos os alunos que “Adote um Cientista” em 2006 do Sangue e Sara”. Casa da Ciência
Seis alunos freqüentadores do programa “Adote um Cientista” da Casa da Ciência foram aprovados neste ano em universidades públicas, alguns são velhos conhecidos da “Trilha da Ciência”, como os “vírus” Paulo César Teodoro Junior e Daniela Rocha Viola, e a “célula dendrítica” Ádamo Davi Diógenes Siena, atores da peça “Relíquias do sangue e Sara” apresentados na página anterior. Paulo Teodoro, que está cursando Geografia na USP em São Paulo, sempre estudou em escola pública e conheceu a Casa da Ciência em 2005 através de uma amiga. O aluno atribui sua escolha em prestar vestibular ao contato com os pós-graduandos e com a universidade fornecidos pela Casa da Ciência e deseja continuar próximo ao programa. “Eu pretendo continuar ligado à Casa da Ciência para saber dos estudos sobre o ensino desenvolvidos pela professora Marisa e os outros docentes”, diz Paulo. Daniele Viola, que conheceu o programa através da professora de biologia Márcia Aparecida Souza do ensino médio, foi aprovada
Curiosidade dos alunos surpreende Com imensa curiosidade e Casa da Ciência muita vontade de aprender, os alunos do programa Adote um Cientista estão sempre em busca de respostas para suas dúvidas. Daniel Blassioli Dentillo, doutor na área de genética humana, coordenou um grupo de reprodução humana e se surpreendeu com as inúmeras questões que surgiram durantes as aulas. “As perguntas durante encontro de reprodução brotavam sem parar: A célula lê Alunos humana. as letrinhas A, T, C e G? Se o pai tem nariz grande e a mãe tem na- genes se expressam, sobre os riz pontudo, então o filho vai ter cromossomos, como as células nariz grande e pontudo? Por que se multiplicam e a formação de o peixe tem mais cromossomos gametas. Também aprenderam do que o homem se ele é menor e como funciona o genoma e as não pensa como a gente? – estas variações de características do são apenas algumas das quais ser humano. Durante a aula de replicação me recordo”, relata Dentillo. de DNA e RNA surgiram mais Nas aulas os alunos aprenderam sobre o DNA, como os dúvidas: “Por que o DNA tem
duas fitas e o RNA só tem uma? Por que o RNA tem U e o DNA não tem? É verdade que o DNA veio de outro planeta, trazido por extraterrestres?”. As aulas do Adote são guiadas pela curiosidade dos alunos, os assuntos abordados são preparados e pensados exclusivamente para o grupo, mas são os alunos que conduzem o andamento das aulas, através de seus questionamentos. “O mais interessante do projeto não é a conclusão que o professor imagina, mas sim o rumo que os próprios alunos dão ao projeto, o final são eles que constroem”, afirma Dentillo. No site da Casa da Ciência está disponível uma matéria que explica os processos da reprodução humana: www.hemocentro. fmrp.usp.br/casadaciencia.
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Emoção e música: como o cérebro reage
Arquivo Pessoal
automaticamente o hipotálamo. O hipotálamo, enVocê já escutou uma tão, envia sinais música e sentiu uma tristeza para as mudanças muito forte ou uma alegria muito fisiológicas por meio grande? A música, normalmente, do sistema nervoso autônomo e imprime algum tipo de emoção e através da liberação de hormôtem a capacidade de causar várias reações no estado físico, mental nios. Portanto, existe uma forte propensão para que, quando um e emocional do ser humano. Márcia Kazue Kodama Higuchi, pianista estiver com raiva, seu pianista e doutoranda em neuro- corpo manifeste esse sentimento ciências pela USP de Ribeirão produzindo um toque mais rígiPreto, explica que desde muito do, um ritmo mais marcado e um fraseado mais agressivo”, explica Márcia. A capacidade de transmitir emoção através da interpretação musical pelos ouvintes pode ser feita pela empatia. Vários neurocientistas têm atribuído essa função aos neurônios-espelho. Márcia explica que os neurônios-espelho, encontrados principalmente no córtex pré-frontal dos seres humanos, são acioMárcia Higuchi : pesquisadora da USP de nados quando uma pessoa Ribeirão Preto.
tempo é difundida a ideia de que a expressividade musical (capacidade de transmitir uma emoção através da música) está relacionada à composição musical (música). Porém, só a composição musical em si não seria suficiente para que seus sentimentos fossem transmitidos aos ouvintes. Uma grande parte dos profissionais da área musical defende que a emoção do intérprete exerce um papel importante neste processo. Atualmente, algumas áreas da psicologia e a neurociência propõem algumas explicações a respeito do processamento da expressão interpretativa musical. O sistema nervoso, ao receber algum estímulo que provoca emoção, ativa automaticamente uma cadeia de reações, preparando o corpo para uma resposta específica a cada situação. As reações consequentes das emoções podem influenciar a postura do corpo, a cor da pele, a feição do rosto, os gestos, a entonação da voz e a forma de expressão. Essas reações refletem também na forma de tocar o instrumento musical. “Ao receber alguma informação ou estímulo que provoque raiva, a amígdala (que funciona como um depósito da memória emocional no cérebro) ativa
realiza um determinado ato e também quando ela observa outra pessoa realizando o mesmo ato, facilitando a imitação e o entendimento de atos alheios. “Portanto, esses neurônios podem ser responsáveis pela tendência de chorarmos ao ver outra pessoa chorar”, conta. “Se a observação da expressão facial pode desencadear uma emoção, há possibilidade de que a audição de sequências musicais com determinadas variações no tempo, na dinâmica, no timbre e nas articulações resultantes de alterações provocadas pelas expressões emocionais do intérprete, possa ativar determinados neurônios-espelho”. Se os neurônios-espelho ativarem as vias neurais responsáveis por expressões emocionais, este processo pode gerar uma forte emoção nos ouvintes relacionada ao sentimento passado pelo intérprete. Assim, a emoção do músico seria transmitida ao ouvinte através da interpretação musical. A amígdala recebe o estímulo e ativa o hipotálamo, que envia sinais para as mudanças fisiológicas através de liberação de hormônios.
Sistema Nervoso Autônomo – trata-se de uma denominação genérica para um grande conjunto de neurônios, situados na medula e tronco encefálico, que se comunica com praticamente todos os órgãos e tecidos do corpo. Sendo capaz de preparar o organismo de acordo com a situação enfrentada. Hipotálamo – região do cérebro responsável pelo controle da liberação hormonal, da temperatura corporal, da motivação alimentar e sexual, além de ser uma região chave no processo de ativação do Sistema Nervoso Autônomo. Córtex pré-frontal – área do cérebro situada no lobo frontal essencial para o processamento de memória de trabalho, convenções sociais, personalidade, julgamento moral, empatia, planejamento de ações futuras, entre outros.
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Entrevista
Neurociências revela importância de pequenas estruturas
Quando você lê ou assiste alguma matéria sobre o cérebro acha tudo muito complexo e confuso? Fique tranquilo, o estudo do cérebro não é tão difícil quanto parece. Para mostrar como ele é estudado, o “Jornal das Ciências” conversou com Lézio Bueno Júnior, que é formado em Ciências Biológicas e faz doutorado em um laboratório que realiza pesquisas sobre plasticidade sináptica, memória, sono e epilepsia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Jornal das Ciências - Para compreender o cérebro é necessário entender as estruturas mais simples que o formam e que também é objeto de sua pesquisa. Como funciona a comunicação entre os neurônios? Lézio Bueno Júnior - Os neurônios não são conectados de maneira contínua um com o outro. Eles se comunicam entre si através de sinapses, formando uma rede de comunicações. Na maior parte delas, não há contato físico entre um neurônio e outro. JC - Como pode existir a comunicação se há um pequeno espaço entre um neurônio e outro? L.B.J. - Através da liberação de moléculas chamadas de neurotransmissores na fenda sináptica (espaço entre um neurônio e outro). O terminal do neurônio présináptico envia a informação e o botão pós-sináptico do outro neurônio a recebe. É nessa fenda que são liberados os neurotransmissores, que têm uma ligação específica com os receptores. Os receptores são proteínas existentes na membrana do neurônio póssináptico. Dependendo do tipo de neurotransmissor e de receptor, é gerado um determinado efeito no neurônio pós-sináptico. Todo esse processo é plástico, pois tem a capacidade de ser mudado ao longo do tempo, dependendo do ambiente, da aprendizagem, dependendo até mesmo de doenças, do sono, etc. JC - Como tem início esse processo de comunicação neuronal? L.B.J. - O impulso começa no axônio, que é o maior prolongamento do neurônio. É na base do axônio, em sua junção com o corpo celular do neurônio, que é iniciado o impulso nervoso que será mandado adiante a uma velocidade de frações de segundos. Além do axônio, o neurônio tem vários prolongamentos menores chamados dendritos, que formam uma estrutura parecida com uma árvore. Basicamente, através dos dendritos e do corpo celular, um
único neurônio pode receber milhares de terminações de outros neurônios que vêm de diversos lugares do sistema nervoso. Uma parte dessas informações favorece o estímulo e outra favorece a inibição. O neurônio “decide” mandar a informação adiante ou não, isso acontece de forma “democrática”. Vamos supor que um neurônio recebe sete mil estímulos de outros neurônios “dizendo” passe adiante a informação e três mil “dizendo” não, então ocorrerá a passagem da informação. JC - Como esses impulsos elétricos dos neurônios podem ser estudados? L.B.J. - No laboratório utilizamos um equipamento muito útil no estudo da eletrofisiologia (estudo das propriedades elétricas em células e tecidos), porque ele tem a capacidade de traduzir sinais eletroquímicos presentes no cérebro do rato, que é o animal que utilizamos como objeto de estudo. Estes sinais eletroquímicos são captados por eletrodos implantados no cérebro do animal e amplificados por um equipamento específico, então o sinal biológico (analógico) passa para um conversor que o transforma em digital, possibilitando sua leitura no computador. JC - O eletrodo implantado no cérebro capta impulsos elétricos na sinapse? L.B.J. – O eletrodo que utilizamos é extremamente fino, e se parece com um fio de cabelo. A ponta desse eletrodo é capaz de registrar sinais eletroquímicos de dezenas a centenas de neurônios. Este sinal corresponde à comunicação sináptica dentro desta população restrita de neurônios. Os registros são, portanto, resultado da atividade dos terminais présinápticos (de axônios originados de outras áreas do cérebro) e dos neurônios pós-sinápticos, que estão recebendo esses axônios. Tudo isso ao redor da pontinha do eletrodo. JC - Qual é a importância desses experimentos que o laboratório realiza? L.B.J. - O laboratório busca compreender a fisiologia (estudo
Casa da Ciência
Lézio Bueno Jr. acredita que todos podem aprender sobre neurociência.
das funções) da plasticidade sináptica e como ela pode ser modulada, através de estados do sono, estados de atenção ou drogas. Um exemplo disso são as diversas mudanças no padrão de liberação de neurotransmissores durante os estágios do sono, responsáveis por influenciar a plasticidade sináptica de diversos circuitos neuronais. Em termos clínicos, nossos estudos também fornecem informações importantes para entender os distúrbios do sono, memória e da epilepsia. Isso porque a plasticidade sináptica ocorre normalmente em neurônios sadios, mas também é subjacente à formação de um circuito neuronal que pode ser defeituoso, como nos casos de epilepsia. JC - Notícias sobre o cérebro estão sempre presentes na TV e nos jornais. Você acredita que qualquer pessoa pode aprender sobre neurociência? L.B.J. - Sim. O assunto pode parecer complicado, mas não é. Primeiramente é preciso conversar com o professor, sentar e ler um texto, aprender o básico, o que é a citologia, entender o que é a célula e a membrana. A partir disso você consegue trazer esse conhecimento para o neurônio, sem precisar ser um especialista. Assim, também é possível entender boa parte do noticiário do jornal e das revistas de divulgação científica que são vendidas nas bancas. Se tiver curiosidade, corra atrás, porque é interessante.