Ribeirão Preto, outubro de 2012 - nº 22 Ano 12
PROJETO EDUCACIONAL CTC FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO REGIONAL DE HEMOTERAPIA
Cerrado: desvendando a riqueza do bioma
Com olho se faz uma iniciação científica
Curiosidade e investigação no Mural da Casa da Ciência
Pág. 4
Pág. 2 e 3
Trilha da Ciência/Pág. 1 e 2
Prateleira ou condomínio residencial?
Será que nas Ciências o conhecimento é produzido apenas no laboratório, no tubo de ensaio? Ou uma observação com teorias e hipóteses também seria um bom caminho? No “Férias com Ciência” de janeiro deste ano, evento promovido pela Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto, os alunos encontraram ninhos de abelhas dentro de uma prateleira, e, com isso, um novo jeito de fazer e entender a ciência. As células de cria dos ninhos são rígidas, feitas com resina e material vegetal
Ninho-armadilha de vespa emergida
Ninho-armadilha aberto pelos alunos revelou a dieta (aracnídeos) da larva, que ajudou a identificar o inseto (vespa)
Ninho de abelha Megachilidae Abelha Euglossini
Ninho de surpresas
A estrutura do ninho diz muito sobre o ciclo de vida da abelha, que passa boa parte da vida dentro desse espaço e depende das flores para sua sobrevivência. Foi surpreendente quando os alunos observaram uma abelha de coloração verde (Euglossini) trazendo pólen grudado no terceiro par de pernas para depositar esse material no interior do ninho. Os estudantes também notaram
outros ninhos feitos nas frestas da prateleira. Um deles, feito de folhas, já estava fechado, o que significa que houve nascimento. Mas como ainda havia pólen, um segundo ovo ainda estava lá. Esse ninho foi retirado e colocado num tubo para que pudesse ser observado em microscópio. Com isso os alunos acompanharam se uma abelha nasceria nos próximos dias. A atividade atiçou
As Megachilidae utilizam folhas e uma espécie de secreção, formando pequenos tubos
Casa da Ciência
O fechamento do ninho foi feito com resina que a própria abelha produz
a curiosidade dos estudantes para saber mais sobre a vida das abelhas. A aluna Yasmin Lázaro Pereira, por exemplo, interessou-se pelos hábitos alimentares do inseto. “Então, quando estiver sem pólen é porque a larva já comeu e saiu do ninho!”. Com base nessas informações, responda: será que outros insetos seguem esse modelo de desenvolvimento?
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Editorial
O Jornal das Ciências é uma publicação da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto/USP distribuída gratuitamente nas escolas. É parte do Projeto Educacional CTC/ CEPID e INCTC - Fapesp e CNPq. Coordenadores: Dimas Tadeu Covas, Marco Antonio Zago e Marisa Ramos Barbieri. Coordenadora da Casa da Ciência e MuLEC: Marisa Ramos Barbieri. Jornalista responsável/diagramação: Gisele Oliveira - MTB 61.339. Equipe da Casa da Ciência: Ádamo D. D. Siena, André Perticarrari, Danielle Castro, Fernando Trigo, Gisele Oliveira, Lorimeri Côrtes, Marisa Ramos Barbieri, Pedro Leopoldo Borges, Ricardo M. Couto, Rosemeire R. Tritola e Valéria Costa . Apoio: Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, Fapesp, CNPq e USP. Endereço: Rua Tenente Catão Roxo, 2501. CEP: 14051-140. Ribeirão Preto. Telefone: (16) 2101-9308. E-mail: casadaciencia@hemocentro. fmrp.usp.br Tiragem: 3.500 exemplares. Distribuição Gratuita. É permitida a reprodução, desde que citada a fonte.
Desvendando a riqueza do Bioma A participação do professor sempre foi valorizada nos programas da Casa da Ciência e, para celebrar essa parceria de sucesso, dedicamos esta página do Jornal das Ciências à professora e pesquisadora Valéria Gimenez. Mestre em Biologia Comparada, com foco em botânica pela USP e professora efetiva da Escola Estadual Tomás Alberto Whatelly de Ribeirão Preto, ela participou em 2002 do curso de especialização “As Células, o Genoma e Você, Professor”. A professora também leciona no ensino superior em cursos de graduação em biologia da rede particular. Valéria aceitou nosso convite e falou em agosto de 2011 com os alunos do “Adote um Cientista” sobre o Cerrado. Instigados, os jovens participaram com várias perguntas e também conheceram as peculiaridades desse bioma observando sementes e flores trazidas por ela. Durante o encontro, a professora ressaltou a importância do Cerrado e chamou atenção para as consequências da ação humana nesse cenário, pois hoje o Cerrado paulista conta com apenas 0,84% de seu território original. Devido à complexidade do tema e ao limite de tempo, resolvemos retomar e aprofundar o assunto em uma entrevista exclusiva: Jornal das Ciências: É possível que a extinção do cerrado possa levar à degeneração em cadeia dos outros biomas que dependem dele? Valéria Gimenez: Sim, essa é a maior preocupação para quem estuda o cerrado. O cerrado é uma região considerada seca e o aspecto morfológico de suas plantas não é o mais agradável: são de porte baixo e muito retorcidas, com menos folhas que as espécies de mata atlântica. No entanto, essa morfologia é consequência do solo que é muito ácido, com alta concentração de alumínio. Isso influencia a fisiologia celular. Apesar de acharem que o cerrado é seco, suas águas são muito profundas, e as plantas precisam de um sistema radicular mais profundo; A estrutura que as plantas do cerrado desenvolveram é única no mundo: não é raiz, nem caule, é um xilopódio. Então, o que temos na superfície do solo, que são aparentemente herbáceas ou apenas arbustivas, na realidade, fazem parte da copa de uma árvore subterrânea. Como o cerrado é uma região de águas profundas, dizemos que é o berço de todos os grandes rios brasileiros: São Francisco, Jaguaribe, Parnaíba, Tocantins, Araguaia, Xingu, Madeira, os formadores do Paraguai (Pantanal), Paranaíba, Grande e Rio Doce. Todos eles nascem no cerrado. Isso atingiria diretamente o ser humano e sua interação com a natureza? Quando alguém destrói o cerrado e impermeabiliza o solo, a recarga dessas
Arquivo pessoall
A 22º edição do Jornal das Ciências tem como foco os resultados da parceria entre professores, pesquisadores e seus alunos nos programas desenvolvidos pela Casa da Ciência. Para isso, convidamos a professora e pesquisadora Valéria Gimenez para falar sobre seu objeto de estudo, o Cerrado; durante a entrevista ela fala das peculiaridades e também das consequências da ação humana nesse bioma. Na página 4 é possível conhecer a investigação dos alunos de Dumont-SP, que - orientados pela pesquisadora Carolina Módulo e pelo professor Willian Sampaio - desenvolveram no “Adote um Cientista” uma linha de investigação teórica, baseada na acomodação ou deslocamento do cristalino na formação de imagens. O suplemento “Trilha da Ciência” traz os trabalhos de investigação dos alunos realizados junto aos seus professores e apresentados na 14º edição do Mural, realizado em dezembro de 2011. Não deixe de conferir na capa a ilustração da atividade de observação vivenciada por alunos durante o evento “Férias com Ciência”, realizado em janeiro de 2012. Boa Leitura!
Valéria em atividade de campo no Parque Estadual de Intervales (SP)
águas não acontecerá. Sendo assim, se esse bioma desaparecer, a primeira consequência que poderíamos observar seria em relação aos recursos hídricos dos biomas que circundam o cerrado. O tipo de solo pode interferir ou influenciar na formação de biomas? 1 Dependendo do tipo de matriz, você tem um tipo de solo. E esse tipo de solo vai ter alguns nutrientes que são necessários para algumas plantas. Nem todas 1 cm as plantas vão se desenvolver em uma determinada região. O solo é o fator limitante que vai levar famílias botânicas a se instalarem ali e ocorrer a sucessão ecológica, originando uma cobertura vegetal típica dali a algum tempo. Existem dezenas de nutrientes que são vitais para alguns tipos de plantas e se não estiverem presentes, ou a planta não se instala, ou ela terá que competir com outra planta por aquele nutriente. Essa competição vai fazer com que apenas algumas plantas sobrevivam, que serão as espécies que vão caracterizar o ambiente. É preciso um solo bastante íntegro, tanto para recompô-lo, quanto para o próprio bioma se formar. E para ser íntegro, é preciso haver fauna no solo; os decompositores, que vão fazer todas as fixações de gases, bem como a metabolização de resíduos orgânicos, nitritos e nitratos. Isso tornará o ambiente propício para o desenvolvimento das raízes. Então, se o solo estiver estéril, não haverá plantas típicas daquele bioma; as que sobrevivem, geralmente são as espécies ruderais, que conhecemos como pragas urbanas, típicas de solos antropizados.
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Alguns frutos curiosos do Cerrado
Árvore com orelhas Orelha-de-Nego (fruto da timbaúva) Família: Leguminosae-Mimosoideae Nome científico: Enterolobium contorstisiliquum Morfologia da árvore: Altura de 20m a 35m e 80cm a 160cm de diâmetro de tronco. A madeira é utilizada na fabricação de pequenos barcos, compensa1 cm dos e caixas. O fruto é preto e tem forma de orelha; ele surge verde e se torna preto em junho e julho, quando amadurecem. As saponinas, substâncias que formam espumas, são encontradas nos frutos e casca, e , são aproveitadas para produção de sabão.
“Quando observamos o desaparecimento de uma planta, com certeza, a população de polinizadores vai desaparecer; e o contrário também acontecerá”.
Casa da Ciência
Multiuso Fruto de Tingui Família: Sapindaceae Nome Científico: Magonia pubescens Morfologia da árvore: Altura de 5m a 9m, com tronco de 20 a 30 cm de diâmetro. Fruto cápsula globosa deiscente de cor marrom. A árvore floresce em agosto e setembro, com frutos maturando quase simultanemente. A madeira é utilizada em esquadrias, batentes de portas, além de lenha e carvão. Já o fruto serve de cuia ou objeto decorativo. Remédio natural Fruto de Pau-Terra Família: Vochysiaceae Nome Científico: Qualea grandiflora Morfologia da árvore: Altura de 6m a 10m, com tronco de 30cm a 40cm de diâmetro. É uma árvore tortuosa, protegida por casca grossa, rica em tanino, substância adstringente que inibe o ataque de patógenos herbívoros. Tecelões utilizam corantes extraídos de seus frutos, e, na medicina popular, as cascas são usadas em infusão para a limpeza de feridas e contra inflamações.Os frutos são cápsulas que abrigam sementes aladas, facilitando a dispersão pelo vento.
Valéria acompanha os alunos em bancada com frutos, sementes e flores do Cerrado.
Existe algum animal nativo do cerrado que tenha hábito alimentar restrito? Sim, esse é o maior risco da extinção do cerrado. Existem algumas espécies de plantas que só são polinizadas por uma espécie de inseto; existem alguns insetos solitários (abelhas, por exemplo) que, tendo hábitos de obtenção de alimentos muito restritos, apenas algumas espécies fornecem alimentos para eles. Não uma única, mas poucas espécies. Quando observamos o desaparecimento de uma planta, com certeza, a população de polinizadores vai desaparecer; e o contrário também acontecerá. É possível que as alterações climáticas causadas pelo efeito estufa possam prejudicar (ou favorecer) os seres que vivem nesse ambiente? Essa pergunta vem sendo feita por pesquisadores e cientistas há muito tempo. E algumas evidências são claras: hoje sabemos que se a temperatura de um ambiente se alterar muito, as plantas são os melhores bioindicadores dessa alteração. Por exemplo, na superfície das folhas de uma planta, existem os estômatos que são estruturas que se abrem durante o dia, e é assim que a planta vai capturar
Quer saber mais sobre o cerrado? Você pode ver outras perguntas respondidas pela professora Valéria no site da Casa da Ciência: www.hemocentro.fmrp.usp.br/casadaciencia
CO2 para realizar a fotossíntese. Ao mesmo tempo em que os estômatos se abrem, a planta perde água por evaporação; se houver um problema de efeito estufa, as plantas, que apresentam enormes quantidades de estômatos, vão perder muita água e entrar em um estresse hídrico. Tem sido observado que quando ocorre uma alteração climática muito grande, as plantas tendem a diminuir a quantidade de estômatos por cm², e aumentar a área radicular. Então, imaginemos que o efeito estufa possa aumentar absurdamente, as plantas podem se adaptar a esses efeitos diminuindo a área foliar. Só que nós dependemos da área foliar que é responsável pela produção de oxigênio (fotossíntese). A interação entre agricultura e natureza, no cerrado, é possível? Se sim, quais agriculturas você acha que dariam certo, pensando em sustentabilidade? Primeiramente, o cerrado não é considerado um solo muito fértil para culturas que dão lucro garantido e rápido, mas comumente ele se estabelece em regiões planas, o que é muito bom para a agricultura; seu solo é arável e você pode agregar tecnologia para torná-lo muito fértil. Agora, para não trazer tantos danos, essa agricultura não deve explorar áreas extensas, afinal, já temos o mínimo possível do cerrado. Outra coisa que seria fundamental para tornar a agricultura sustentável é se utilizar policultura ao invés de monocultura, porque onde você entra com monocultura, as chances do ambiente se recompor é muito menor, há perda de diversidade e de interações ecológicas. Então, primeiro: por um aspecto cultural; temos que agir com educação ambiental para mostrar que existe uma grande quantidade de frutos e materiais do cerrado que podem ser usados para alimentação humana e são desconhecidos ou subutilizados. O segundo: temos que abolir a ideia de monocultura, porque na policultura é possível plantar algo que se tenha interesse junto com outras culturas que são adaptadas ali. Além disso, na policultura você evita o problema das pragas, pois, os insetos que seriam considerados praga na monocultura, contribuem com outras atividades, como a de polinizadores e dispersores.
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Com olho se faz uma iniciação científica Casa da Ciência
Mostrar a complexidade do olho foi a proposta da aluna Carolina Módulo, que participou da disciplina “Ação docente na iniciação científica”, oferecida na pós-graduação do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP e coordenada pela Casa da Ciência. Carolina, que é bióloga e doutoranda em oftalmologia pela FMRP, após ser convencida que sua pesquisa com glaucoma seria um bom tema, passou a orientar, acompanhada pelo professor Willian Franklin, um grupo de dez jovens da E.E. Professor Nestor Gomes de Carolina Módulo durante orientação dos alunos Araújo e da E. M. Arlinda Rosa Negri, cirurgias de glaucoma até questões evolutivas do sistema visual e perambas da cidade de Dumont. Nos encontros, o grupo discutiu a cebeu que o olho dos vertebrados ação de drogas na recuperação de tem imperfeições, pois a visão tem
distorções que degradam a qualidade da imagem. Como a luz, que ao atravessar os corpos celulares e fibras nervosas da retina (imagem abaixo) sofre desvios antes de atingirem os cones e bastonetes. Além disso, há vasos sanguíneos que se espalham pela superfície interna da retina, provocando distorções. Entretanto, o sistema nervoso interpreta de forma adequada as imagens captadas. Com essas informações em mãos, os jovens seguiram duas linhas de estudo teórico: uma focou em visão no ambiente aquático e terrestre; outra investigou o daltonismo e a visão dos cães. As conclusões dos trabalhos foram apresentadas durante o Mural de dezembro de 2011.
Homens e golfinhos: como focalizam suas imagens?
Apesar de serem mamíferos, será que os sistemas visuais do homem e do golfinho funcionam da mesma forma? Um dos eventos mais importantes na formação de imagens nítidas é o ajuste sobre a retina, processo conhecido como focalização. O principal responsável é o cristalino – uma lente natural biconvexa localizada abaixo da córnea – que direciona os feixes de luz até a retina. Ao passar pelo cristalino, os feixes sofrem refração (desvio resultante da variação de velocidade sofrida ao se passar de um meio para outro) e são projetados sobre células fotossensíveis (cones e os bastonetes) localizadas na retina. Na terra Em mamíferos terrestres esse desvio depende da curvatura do cristalino que é constantemente alterado por um anel de pequenos músculos ciliares, permitindo ajustar a visão para objetos próximos ou distantes. Isso se chama acomodação do olho à distância do objeto. Edgar Bacallini, um dos alunos orientados, encontrou em sua pesquisa informações de que na visão terrestre, quando o objeto está muito próximo, o músculo ciliar se contrai
e as fibras do cristalino relaxam, aumentando seu diâmetro. Já, quando o objeto está longe, o músculo ciliar relaxa e as fibras ficam tensionadas, diminuindo o diâmetro do cristalino. Na água Nos peixes e maioria dos vertebrados aquáticos essa acomodação é feita através do deslocamento do cristalino, que fica mais próximo ou
O cão é daltônico?
Os cães apresentam olfato e audição muito aguçados e também utilizam a visão com precisão, mas com um detalhe: eles enxergam melhor à noite. Qual será a diferença de uma boa visão noturna no cão e uma boa visão diurna, comum nos humanos? Se compararmos a nossa visão com a de um cão, é possível identificar que a quantidade de células especializadas da visão, bastonetes (visão monocromática) e cones (visão colorida), é diferente. “Os cães apresentam uma quantidade menor de cones em relação aos humanos, é por essa razão que
eles enxergam numa escala de cores mais opaca que a nossa; com relação à profundidade e ao campo de visão, nos cães é de 100º e nos humanos é de 140º”, afirmou a aluna Damaris da Silva Jardim, que participou da investigação sobre os olhos desses animais na Casa da Ciência. Como os cães enxergam somente alguns espectros de luz (visão limitada para as cores), eles não distinguem as cores vermelho e verde. Quais são as cores que eles são capazes de visualizar? O cão enxerga muito bem os tons de amarelo e azul (veja no box lateral). Daltonismo Será que podemos chamar esse animal terrestre com boa visão noturna de daltônico?
se afasta da retina. No golfinho, que é um mamífero que vive em ambiente aquático, houve uma adaptação. A aluna Luciana Silva, baseada em estudos realizados por seu grupo, contou que o cristalino desse animal é esférico e, como na maioria dos vertebrados aquáticos, espesso e denso. “Porém, ele não sofre deslocamento, pois manteve a característica dos mamíferos; e também não sofre acomodação, porque não precisa, pois seu cristalino é amplo e capta o máximo de luz possível”, justificou. Questionada pela professora Marisa Barbieri, coordenadora da Casa da Ciência, sobre a razão do cristalino do golfinho não se deslocar, a aluna afirmou que essas características favorecem o animal dentro da água, mas o prejudicam fora:“É toda uma adaptação para captar luz, mas quando ele está em cima da água tem muita luz, acaba tendo que fechar a pupila”. A focalização da imagem pelo golfinho é realizada com deslocamento do cristalino e com os músculos refratores modificando a sua posição, aproximando-o ou afastando-o da retina. Com isso consegue captar o máximo de luz e concentrá-la sobre um espaço pequeno, a retina, possibilitando a visão submersa. Cores visualizadas pelo cão
Cores visualizadas pelo homem
O grupo de alunas estudou o daltonismo a fim de explicar a visão dos cães e verificar que os homens daltônicos não conseguem identificar as cores próximas das vermelha e verde, assim como os cães. A aluna Noemi da Silva Jardim, no entanto, afirmou que o daltonismo é uma patologia humana e, por isso, os cães não são daltônicos. “Foi o ambiente que selecionou esses animais. Essa é a visão normal deles, diferente dos seres humanos”, constatou.
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Curiosidade e investigação marcam Mural da Casa da Ciência
No dia 13 de dezembro de 2011 aconteceu o 14º Mural da Casa da Ciência, no qual alunos do programa Adote um Cientista apresentaram os diferentes projetos investigados durante um semestre, contando suas hipóteses, caminhos e resultados alcançados. O Adote um cientista, principal programa da Casa da Ciência, tem uma programação semestral que culmina no Mural, evento realizado duas vezes ao ano, normalmente em julho e dezembro. Este evento - que é um momento de apresentação e avaliação dos projetos de investigação dos jovens tem evidenciado a crescente presença do professor e a parceria com escolas. Isso tem possibilitado conhecer desdobramentos na sala de aula, melhorando a interpretação dos resultados alcançados. O 14° Mural foi um evento importante para muitas decisões
de 2012, como a implantação do programa Pequeno Cientista na rotina da Casa. Durante a apresentação de abertura, a professora Marisa Ramos Barbieri, coordenadora da Casa da Ciência, destacou o papel da investigação nos projetos desenvolvidos pelos alunos: “Preocupados que nós somos, de dar ao ensino a condição de investigação, ou seja, um caminho parecido ao do pesquisador, todo trabalho tem uma pergunta, ou outra, básica (...) a partir da pergunta, você consegue fazer observações, uma exploração, uma visita aos livros, uma consulta, volta, observa de novo, então define sua hipótese”. Divididos em 13 grupos temáticos, os alunos participaram do evento falando temas
como Abelhas mandaçaia; Bioindicadores da qualidade da água, Cigarrinha-das-raízes na cana-de-açúcar; Vespas e figueiras; Crescimento de tilápia e qualidade da água; Besouros aquáticos; Mata ciliar do Rio Pardo. Além destes, foram apresentados quatro projetos do programa PréIniciação Científica USP, que têm parte dos trabalhos disponíveis no site da Casa da Ciência, além dos projetos sobre daltonismo e cristalino, desenvolvidos durante a disciplina “Ação Docente na Iniciação Científica” e apresentados na página 4 deste jornal. Uma única tarde não foi suficiente para abordar, da forma que todos gostariam, os diversos eixos de investigação, mas alguns “recortes” permitem que um pouco dos conceitos apresentados sejam divulgados. Vamos conhecer alguns destes trabalhos?
Procura-se um besouro
Esse foi um dos grandes desafios encontrados por este grupo: localizar o besouro aquático (Dytiscus sp) que, a partir da observação do aluno Jean, estimulou um estudo de morfologia e hábitos comportamentais deste pequeno invertebrado. Da primeira observação, realizada em uma represa, criou-se o desejo de estudar o animal e compreender como ele consegue ficar debaixo da água e capturar suas presas. Após estudos teóricos e insucessos na busca do besouro, os alunos trabalharam com a hipótese de que a ação antrópica interferiu no ciclo de vida. Persistentes, eles encontraram algumas larvas na raiz de aguapé e que questionaram ser de besouros aquáticos, pois “a parte final dela (larva) corresponde ao do besouro”.
remos, ajudando no ambiente aquático a nadar rápido”. Casa da Ciência: Em todas as pernas? Apenas nas traseiras (3° par). E nos outros pares? Não. No 1°par dos machos tem uma espécie de “ganchinho” que ajuda na reprodução. Mas essa especialização poderia ser para predação? Acho que sim. Poderia ser para segurar a presa.
Jean: “Os pelos ajudam a segurar a bolha de ar”. Jean Morais da Silva, Edson Sala Augusto e Fabricio (observação do aluno ao falar dos pelos hidrofóbicos Fernandes de Jesus; alunos da EMEB Olympio Pereira presentes no escutelo do besouro). “...servem como Conceição - Santa Cruz da Esperança - SP
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Abelhas Mandaçaia
De que forma os pesticidas aplisituação, Leonardo levou as caixas de cados em monoculturas podem abelhas para cidade. afetar o equilíbrio de um ecos“Essa matriz já estava se acabando, sistema? Como outras espécies por causa desses pesticidas. Agora podem ser prejudicadas? Estas e com muito custo, conseguimos monoutras relações foram investigatar na minha casa. Por ser na cidade, das pelos alunos que, a partir de achei que não ia dar certo. Porque (no um problema com a produtividade sítio) estava cheia de árvore em volta de um apicultor, pai de Leonardo, com uma mata gigante, e na cidade decidiram ir mais a fundo. saiu melhor do que no sítio. No sítio é “Os enxames não estavam indo rodeado de cana.” pra frente por causa dos pesticidas. A gente notou que elas estavam indo para o canavial, e as Abelha mandaçaia canas-de-açúcar tem pesticidas”, Melipona quadrifaciata explica Leonardo. Quando analisaram o enxame, perceberam que o Leonardo da Silva Costa e Alex Santo da Silva; alunos pesticida “deixa a cera mais seca”, prejudicando a pro- da EMEB Olympio Pereira Conceição – Santa Cruz da dutividade e a vida das abelhas. Para tentar resolver a Esperança - SP
Bioindicadores da qualidade da água segunda coleta, realizada no inverno, o grupo percebeu mudanças nos resultados: “O que aconteceu com os organismos no inverno? Pois não os encontramos!Quando fizemos a coleta no inverno, antes de julho, só achamos um tipo de alga, um bioindicador”. Como explicar essa variação? Será que a temperatura e o pH da água influenciaram esses organismos, em especial as algas? Os bioindicadores Os alunos, orientados pelo professor Willian foram bem selecionados para a investigação? Franklin, coletaram amostras de água e compararam as formas de vida encontradas em três cór- Córrego 1 Córrego 2 Córrego 3 regos da cidade de Dumont. Algumas espécies de microalgas foram identificadas e, em especial uma, chamou a atenção: a microalga Volvox sp, que é uma colônia de algas verdes que pertencem à divisão Chlorophyta, que em alta incidência indica águas limpas. A partir de uma tabela, os alunos compararam a diversidade de cada ambiente, confrontando-as Córregos estudados pelos alunos com o grau de poluentes de cada área. Em uma Carlos Augusto Jardim Chiarelli, Carlos Henrique Jardim Chiarelli, Luciana Souza da Silva, Thaís Ribeiro Vitorino, Otavio Luiz Daneze; alunos da EMEF Profa. Arlinda Rosa Negri e EE Prof. Nestor Gomes de Araújo - Dumont - SP
Cigarrinha-das-raízes na cana-de-açúcar Este projeto foi orientado pela professora Larissa Cardoso de Lima. Anteriormente, as alunas tinham focado no ciclo de vida, morfologia e o controle biológico da cigarrinha da cana (Mahanarva fimbriolata). “Mas agora queremos coletar exemplares para acompanhar o ciclo de vida e a ação parasitária do fungo sobre elas”. Casa da Ciência: O que o fungo faz? Damaris: Ele parasita a cigarrinha, libera uma substância de coloração verde que a “mumifica”. Esse fungo já é utilizado para o controle de cigarrinhas? Ou não? Pelo que estudei, ele já é usado para esse controle. Ele
reduz bastante a população da cigarrinha, em um período muito curto, levando à produção de uma cana-de-açúcar de melhor qualidade. O estudo das alunas mostrou que, apesar da cigarrinha ser uma praga agrícola destruidora, há medidas eficazes de seu controle com uso de inseticidas e organismos biológicos.
Cigarrinha da cana Mahanarva fimbriolata
Damaris da Silva Jardim, Noemi da Silva Jardim, Patrícia Gabriele Tavares da Silva, Tais Gomes Soares; alunos da EMEF Profa. Arlinda Rosa Negri e EE Prof. Nestor Gomes de Araújo - Dumont - SP
As apresentações dos grupos de Interações ecológicas entre as vespas e as figueiras, Impactos da mata ciliar do Rio Pardo e Desenvolvimento de tilápia x qualidade de água estão disponíveis em nosso site. Confira: www.hemocentro.fmrp.usp.br/casadaciencia