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AS FLORES DO ALENTEJO
AS FLORES DO ALENTEJO
Na minha terra, as flores têm, ainda, outros cheiros; não serão mais fragantes nem sequer mais ligeiros, são, como direi, outros odores, com alguns cambiantes, que ficaram na lembrança da distante mocidade; são cheiros de ingenuidade duma alma de criança.
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E todas as flores cresciam naquele chão seco, quente, onde os torrões se perdiam na mão, por entre os dedos, que ficavam, subtilmente, prenhes dum cheiro abafado, como se muitos segredos se combinassem, nas sinas, para prazer das narinas do transeunte apressado.
E a moça que, em varandim, nervosa, mordia a flor arrancada do canteiro, sorria, dizendo sim, corando toda de amor, aquele que um dia inteiro foi aceitando os rigores do sol quente, de verão, e lhe acenava com flores beijadas com emoção.
Ah! E quando chovia! Primeiro, um ponto castanho na terra escura surgia; depois, no lamaçal tamanho, as flores todas molhadas, mas já do sol agradadas, volteavam em mil cores, e de sorriso entre os dentes, passavam moças, cientes de arranjar novos amores.
Ele eram flores penduradas nas janelas, reluzentes, nos jardins, engalanadas, pelos campos, pelo chão, espalhando, suavemente, um encanto, uma emoção feitos de sons e cantigas, que a alma de cheiros repleta, retornava à predilecta conquista das raparigas.
A rosa atirada a medo duma furtiva janela, era uma carta em segredo que o jovem enamorado apanhava, com cuidado, pra colocar na lapela. E o beijo dele era vê-lo subir no ar, cheio de amor, que ela colhia, em rubor, para enfeitar o cabelo.
Ah! Flores de mocidade, simples, em vasos, no chão, cativas de toda a gente ou vivendo em liberdade
nos campos, em profusão, mas brilhando, humildemente. Olhando-as, na tarde calma, ante um sorriso fugaz, reinava, no mundo, a paz feita de sossegos de alma.
Brincavam, alegres, petizes, em folguedos de criança, pelas ruas empedradas; as gentes eram felizes com essas cores da esperança por toda a parte espalhadas; assim, ante o mundo inteiro, juro que, entre tantos fragores, no meu Alentejo, as flores têm, ainda, outro cheiro.