M A RC OS C OSTA F IL HO (ORG.)
AS FLORES DO ALENTEJO Na minha terra, as flores têm, ainda, outros cheiros; não serão mais fragantes nem sequer mais ligeiros, são, como direi, outros odores, com alguns cambiantes, que ficaram na lembrança da distante mocidade; são cheiros de ingenuidade duma alma de criança. E todas as flores cresciam naquele chão seco, quente, onde os torrões se perdiam na mão, por entre os dedos, que ficavam, subtilmente, prenhes dum cheiro abafado, como se muitos segredos se combinassem, nas sinas, para prazer das narinas do transeunte apressado. E a moça que, em varandim, nervosa, mordia a flor arrancada do canteiro, sorria, dizendo sim, corando toda de amor, aquele que um dia inteiro foi aceitando os rigores do sol quente, de verão, e lhe acenava com flores beijadas com emoção.
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