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A PANDEMIA
A PANDEMIA
Janela aberta, estático, me quedo, Envolve-me o silêncio, mas tão triste, Parece até que o mundo não existe E, então, de olhos fechados, tenho medo.
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É vírus que engendrou um tal enredo, Que teima em avançar, e que persiste, Que derruba barreiras e que insiste, Pra todo o mundo, oculta o seu segredo.
E o povo, pra suster esta gangrena, Ficou dentro de casa, em quarentena, Enquanto uma vacina não resolve.
Sem ouvir uma voz, por mais singela, Assim, me quedo, triste, na janela, Por todo este silêncio que me envolve.
MATAR
Confesso que não consigo ver matar e ficar indiferente, como se fosse coisa rotineira, apenas por mero prazer, por uma vontade esquecida que, mesmo que mais tarde se arrependa a mente, não consegue retornar à vida de nenhuma maneira.
Quando vejo, de espingarda ao ombro, um caçador calcorrear os campos, sem parar, sem se ater na grandiosa natureza onde a árvore ou o arbusto se mostram em toda a sua beleza, logo penso que àquele homem falta amor, esse amor que ele não soube tomar quando lhe cortaram o cordão umbilical e, assim, pensando ele que é senhor de todo o mundo, embrenha-se num longo pesadelo, e tão profundo, que o leva a perseguir um animal para matar.
E aquele nobre e lindo touro que nasceu livre, numa herdade, que pastou toda a vida, pelos campos, sossegado, guiado pela vara do campino, e que, de repente, é enjaulado num espaço exíguo, privado de liberdade, onde, surpreso, desconhece que alteraram seu destino, que vai a caminho da cidade para ser exibido numa larga arena e acabar por ser morto, e com aplausos, em faena.
Ah! Quando penso que o homem caminha pra a sua destruição, que passa, pela vida, sem cultura, que pode olhar o horizonte, mas que não tem a noção que foi criado por arte suprema, sinto, no peito uma tão grande amargura que não há rima, não há verso, não há poema que consiga a sua cura.
Por tudo isto, minha alma só sente que não consegue ver matar e ficar indiferente.