O GUIA BEMPORAT
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O Guia Bemporat / Luiz Henrique Torres. [ Recurso eletrônico ] Porto Alegre: Editora Guaíba, 2022. 206 p. Bibliografia ISBN: 978-65-992044-2-5 1. História - Brasil 2. Rio Grande do Sul 3. Rio Grande. 4. Guias e manuais. 5. Guia Bemporat (RS). I. Torres, Luiz Henrique. II. Título. CDU: 94(81).082
CDD:981
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ÍNDICE
O GUIA BEMPORAT ...................................................................................................................7 A ECONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL ...........................................................................29 INDÚSTRIA ................................................................................................................................44 COMÉRCIO DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO .............................................................72 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ............................................................................................86 VAREJO E ATACADO .............................................................................................................92 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................195
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Neste livro foram selecionados e analisados os anúncios/imagens referentes à cidade do Rio Grande publicados no Guia Bemporat do ano de 1908. O enfoque é a conjuntura econômica e a importância destas empresas nos primórdios do século XX. O Guia Bemporat1 foi publicado a partir de 1903 por Achylles Bemporat, um italiano que no início do século XX desembarcou em Montevideo e na sequência passou pelo Porto de Buenos Aires.2 Transitou entre estas duas cidades fazendo sondagens comerciais. Já estava atuando em Porto Alegre em 1902, criando um grupo que realizou um levantamento das atividades econômicas nas principais cidades do Rio Grande do Sul. Em 1908 o empresário viajou a São Paulo para organizar um Guia nos padrões do Rio Grande do Sul,3 sem resultados concretos. Achylles teve atuação como empresário na Empresa Editora da Guia
Bemporat; tema que será desenvolvido neste livro. Foi o proprietário de um Hotel em Santa Maria inaugurado em Santa Maria no ano de 1910;4 conforme se observa em cartão-postal e anúncio em jornal: 1
BEMPORAT, Achylles. [Diretor Geral]. Guia Bemporat do Estado do Rio Grande do Sul . Porto
Alegre, Editora da Guia Bemporat, 1908. Segundo os “archivos de inmigración Argentina”, Achylles Bemporat era de nacionalidade Italiana e de religião desconhecida. Nasceu em 1870 e era casado com Eloísa Bemporat Calveira. Sem profissão registrada nos documentos chegou a Argentina no barco Oceania havendo embarcado para Montevidéo. 3 A Opinião Pública. Pelotas 20 de março de 1908. 4 O Hotel em Santa Maria foi inaugurado em12 de março de 1910 localizado na Avenida Rio 2
Branco próximo a Estação Ferroviária. A Opinião Pública. Pelotas, 22 de março de 1910. Em 11 de
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Figura 1 Cartão-postal Av. Rio Branco em Santa Maria. O primeiro prédio de dois pisos à esquerda é o Hotel Bemporat. Acervo: Arquivo Eduardo Cardoso In: SANTOS, 2019.
março de 1911 o hotel foi a falência com a fuga de Achylles. Ver: SANTOS, Nastaja Cassandra Zamberlan dos. Leituras sobre Expressões Hoteleiras em Santa Maria (1882-1930). Santa Maria: Dissertação Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultural – UFSM, 2019.
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Figura 2 Jornal A Tribuna, março de 1910. In: SANTOS, 2019.
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Também em Santa Maria foi o administrador do vagão-restaurante da Ferrovia5 que ligava Santa Maria com outras localidades da Linha UruguaianaPorto Alegre (Cie. Auxiliare des Chemins de Fer au Brésil,1898-1920).
Figura 3 Ficha de 100 réis da Empresa de Vagões Restaurantes de Achylles Bemporat. Acervo: https://www.solarolinda.com.br/peca.asp?Id=6939269#
Bemporat foi o instituidor do vagão ou carro-restaurante na Viação Férrea no Rio Grande do Sul. O jornal A Federação de 21 de dezembro de 1910 publicou matéria sobre as inúmeras reclamações contra o serviço que vinha sendo prestado. As refeições eram “caríssimas, reduzidas e de mau preparo” as toalhas são “remendadas e mal lavadas. Há dias, em um trem de Santa Maria para esta capital, alguns cavalheiros quiseram até quebrar as mesas em sinal de protesto”. Alguns indícios de problemas começavam a aparecer. 5
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As críticas em relação aos serviços prestados pelo vagão-restaurante fizeram com que o jornal A Federação (21-12-1910), que elogiava a edição do Guia, fizesse uma dura crítica sobre o péssimo serviço e a revolta dos usuários:
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Em Rio Grande foi administrador do Balneário Cassino com o hotel, salão de bailes, roleta, cinematógrafo, restaurante do hotel, restaurante dos Dois Bicos na beira da praia, bonde ligando a cidade ao Cassino etc.6 Em especial, era responsável pelo jogo de roleta do Hotel Cassino.
Figura 4 A Opinião Pública, Pelotas, 21-12-1910.
A situação econômica da administração do Balneário parecia ser muito boa nas vésperas da fuga: “continua a ser extraordinária a animação na praia de banhos do Cassino. Nunca ali afluiu tamanha concorrência. A Empresa Bemporat está recebendo ainda pedidos de cômodos”. A Federação. Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1911. 6
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Suas atividades foram abruptamente encerradas quando embarcou num trem da Linha Rio Grande a Bagé, em 11 de março de 1911. Lá chegando, rumou de Bagé para o Uruguai (possivelmente para Santana do Livramento/Rivera) com uma maleta contendo mais de cem contos de réis.7
Figura 5 A Federação. 14 -03-1911. A lista de vítimas era a seguinte: Armazém Ritter 8:000$000; Bromberg & C. 2.500$000; Fraeb & C. 2.300$000; Abel Asti & C. 1.400$00; Raphael Anselmi 1.400$000; Carlos Ritter & Irmão fábrica de cerveja de Pelotas 12.000$000; V. Behrensdorf & C. negociantes em Pelotas 800$000; fornecimento de champagne Otero Gomes & C. 500$000; James Osborne 1.200$000; fábrica de gelo no Rio Grande 1.200$000; Joaquim Encarnação pescador 1.200$000; Firmino Lima açougueiro 1.700$000; Atila Pingret quitandeira 900$000; e todo pessoal do hotel, lavadeiras, pequenos fornecedores etc. Conforme o jornal A Opinião Pública de 30 de março de 1911 (reproduzindo o jornal Correio do Povo) “havia um plano preconcebido de apanhar todo o dinheiro que entrasse, para, na primeira ocasião, cada qual se por ao fresco e longe da ação da justiça”. Além do hotel, restaurante, cinematógrafo, bailes e roleta, a empresa administrava o serviço de bondes da cidade ao Cassino e também o chalé dos Dois Bicos próximo a praia. A escrituração não estava regular e o guarda-livros João Minnemann que assumiu o encargo procurou, segundo a matéria do jornal “por todos os meios dificultar a ação dos credores”. 7
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Figura 6 Correio Paulistano, 13-03-1911. Acervo: http://200.144.6.120/uploads/acervo/periodicos/jornais/BR_APESP_CPNO_19110313.pdf
No dia 13 de março a imprensa regional e nacional8 deu destaque a esta ocorrência policial que se transformou num processo de espólio nos anos seguintes.9 A fuga pode ter sido feita utilizando uma diligência anunciada no próprio Guia Bemporat.
“Esse indivíduo que se acha envolvido em outros negócios, ao que parece, levou consigo cerca de cem contos, dando extraordinário prejuízo a praça”. Correio Paulistano. São Paulo, 13 de março de 1911. Não se sabe o valor que foi levado na fuga. Cem contos de réis, em 2021, convertidos para Real numa aproximação hipotética totalizariam R$12.300.000,00 (https://www.diniznumismatica.com/2015/11/conversao-hipotetica-dos-reis-para-o.html). Parece um valor excessivo para ser transportado por uma pessoa... 9 Na sessão judiciária do jornal A Federação de 31 de junho de 1915 foi publicado encaminhamento judiciais sobre a massa falida de Achylles Bemporat tendo por suplicado a Caixa Filial do Banco do Comércio. 8
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Figura 7 Guia Bemporat 1908.
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A imprensa demonstrou um grande interesse pelo tema e divulgou que muitos credores já pressionavam Bemporat que estava se esquivando de realizar pagamentos. Pela quantia acumulada deveria estar fazendo uma poupança para a fuga. Avisou no Hotel Cassino que iria viajar para Santa Maria para tratar de negócios.
Figura 8 O Dia, 18-03-1911.
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Aparentemente, o golpe foi muito bem aplicado, pois, poucos anos depois Achylles aparece como proprietário de uma editora (Oficina Cartográfica Bemporat) que publicou plantas cartográficas de Buenos Aires e de Montevideo, além de cartilhas para estudantes. Achylles já tinha experiência nesta edição de plantas como se observa neste mapa “de los Ferrocarriles” do ano de 1910.
Figura 9 Acervo: Bemporat, 1910. Biblioteca Nacional D Uruguay.
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O calote provocou muitas perdas financeiras aos comerciantes da cidade do Rio Grande que eram fornecedores de produtos ao hotel, ao restaurante e as demais estruturas que faziam parte da administração do Balneário Cassino. O caloteiro promoveu altos prejuízos em empresários, fornecedores, empregados e outros lesados.10 Mais de uma década depois, o seu nome apareceu num processo judicial na Argentina. Mas não como réu e sim como vítima. Em 2 de maio de 1921 ocorreu um assalto a aduana de Buenos Aires com o roubo de 620.000 pesos pertencentes ao governo argentino.11 No dia 20 de julho de 1920 Bemporat teve o seu automóvel Ford roubado por Ramon Fernandes, um dos participantes do roubo da Aduana que resultou em um homicídio. O Ford de Bemporat foi vendido por Fernandes para um terceiro. Mas o envolvimento de Fernandes no roubo da Aduna lhe custou uma indicação de pena prisional perpétua (promotor) e o pedido de 8 anos de prisão (defesa). A decisão dos jurados foi “prisão perpétua”. O ditado “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão” não se aplicou neste caso... Os Anales de la Academia Argentina de Geografia de 1957 traz uma nota elucidativa sobre a data da morte e a longevidade do empresário: “El 22 de
Bemporat havia comprado (em prestações não pagas) um piano com banco e capa de uma Viúva que se tornou suplicante. Exigia a posse do piano que foi levado por um credor antes da abertura de falência. Revista de Direito Civil, Commercial e criminal : vol. 23, 1912. 11 Jurisprudência Argentina. Camara Criminal y Correccional de la Capital. Buenos Aires, 1923, vol. 11, p. 1387 e segs. 10
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septiembre de 1957, y la avanzada edad de 88 años, falleció, em Buenos Aires, Aquiles Bemporat, que havia nascido em Trieste”. De positivo em sua passagem pelo Brasil, foi o legado das informações e do acervo de imagens sobre as atividades econômicas na primeira década do século XX no Rio Grande do Sul, ou seja, o Guia Bemporat. Este Guia buscava divulgar as atividades econômicas realizadas no Rio Grande do Sul, sendo que a edição do ano de 1908 tem 975 páginas e 84.450 endereços comerciais/industriais. Foram 250 páginas a mais em relação à edição anterior. Constam informações sobre corpos consulares, correios, telégrafos, tabela de câmbio, tabela da Ferro Carril do Uruguai, informações sobre diligências, horários de trens, navios etc. Trazia índice para exportação em alemão, francês, inglês, espanhol e italiano. Fazia um apanhado histórico e geográfico do Rio Grande do Sul e informações básicas sobre cada município que aderiu ao pagamento para divulgar anúncios. O maior espaço foi ocupado por Porto Alegre, seguido das cidades do interior com economias dinâmicas como Pelotas, Rio Grande, Bagé, Uruguaiana, Santa Maria etc. Cada cidade era abordada em seus aspectos geográficos, administração pública, comércio, indústria e profissões. Os anúncios figuram intercaladamente havendo quadros especiais por ordem de rua dos assinantes. Acompanha o Guia um mapa das estradas de ferro do Rio Grande do Sul e da República Oriental do Uruguai e um folheto (Guia Bemporat de Bolso) com os horários oficiais da Viação Férrea RioGrandense. O Guia Bemporat era vendido pelo valor de 10$000.
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Figura 10 Guia Bemporat 1908.
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Figura 11 Capa do Guia Bemporat de 1908. Acervo: Biblioteca Rio-Grandense.
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Conforme anúncio da Empresa a aquisição de uma nova máquina permitiu imprimir 250 páginas com duas cores, sendo o primeiro “Guia do Sul da América” a realizar este trabalho. Enfatizou que mais de mil gravuras foram utilizadas e a capa foi impressa em litografia a oito cores. Conforme o DiretorGeral Achylles, este é o Guia mais completo, ordenado e luxuoso “que há no Rio da Prata, o que faz honra ao Estado do Rio Grande do Sul e prova o seu desenvolvimento, não só aos seus patrícios, mas também ao estrangeiro”.12 A publicação chegou aos assinantes a partir da primeira semana de março de 1908 e, posteriormente, foi vendido em lojas conveniadas. O jornal A Federação (órgão oficial do Partido Republicano RioGrandense) ressaltou a dificuldade em se obter informações para uma obra desta dimensão e enfatizou que o Guia Bemporat “merece o auxílio de todos, por ser publicação de alta utilidade e que melhora de ano a ano, o que prova o zelo do seu confeccionador”.13 Esta edição de 1908 foi à escolhida para a realização deste livro, por ser a mais volumosa em dados.14 O recorte realizado se voltou às informações referentes ao município do Rio Grande: descrição geral; indústrias; comércio de exportação e importação; instituições bancárias; varejo e atacado. Nesta direção, é mais uma produção que soma para a compreensão da relevância econômica desta cidade portuária nos primórdios do século XX. 12 13
A Opinião Pública. Pelotas, 18 de fevereiro de 1908. A Federação. Porto Alegre, 24 de março de 1908.
É a terceira edição publicada: 1903, 1906 e 1908. Conforme A Opinião Pública. Pelotas, 17 de março de 1908. 14
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Figura 12 Informações gerais do Guia para 1908.
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Figura 13 H. R. Marck é o agente do Guia Bemporat na zona de Rio Grande e Pelotas.
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Figura 14 Escritório da H. R. Mark em Rio Grande. Fachada do prédio na Rua Marechal Floriano.
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Figura 15 Interior do escritório da H. R. Mark em Rio Grande.
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Figura 16 Interior do escritório da H. R. Mark em Rio Grande.
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A ECONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL
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Nos primórdios do século XX a formação econômica Rio-grandense mantinha o seu padrão histórico de orientar-se majoritariamente para o mercado interno brasileiro. Cerca de 75% da produção estava voltada a outros estados brasileiros. A produção tinha por base o setor agropecuário gerador de uma indústria tradicional: têxteis, alimentos, bebidas, banha, vinhos etc. Assim como se pautou desde a década de 1780, o charque ainda permanecia o epicentro das exportações Rio-grandense. Já na década de 1920 perderia, num crescendo, espaço para a lavoura do arroz, trigo e a partir da década de 1970 para a cultura da soja. Um fator para o relativo sucesso e crescimento regional do Rio Grande do Sul foi o isolamento geográfico e a distância dos maiores centros econômicos do eixo Rio-São Paulo. Fundada no fornecimento de matéria-prima do setor primário, a indústria se desenvolveu consistentemente e ocupava a terceira colocação no Brasil no Censo de 1907. Frente à realidade industrial brasileira dos inícios do século XX, verificase que, dada à deficiência de bens de produção, a escassez de poupança e a inexistência de uma adequada infraestrutura de transportes, a indústria nacional se desenvolvia em compartimentos regionais. Apresentava vários centros com estruturas industriais semelhantes e com ramos de produção também semelhantes, sem que houvesse, entretanto, acirrada concorrência ao nível de mercado, já que cada um destinava a sua produção a um mercado voltado a sua região.15
Heloísa. A Industrialização no Rio Grande do Sul na República Velha. IN: DACANAL, J.H. (Org.) RS: economia & política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979, p. 255-275. 15
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A indústria sul-rio-grandense surgiu no último quartel do século XIX, quando a implantação de algumas fábricas metalúrgicas e têxteis combinou-se à evolução fabril de muitas manufaturas e agroindústrias, nas quais se investiram frações importantes de capitais comerciais acumulados. De um modo geral, o fator decisivo para a constituição das firmas industriais foi o aporte de capital comercial, acumulado, sobretudo nos fluxos mercantis que integravam a zona colonial, com seus produtos agrícolas e derivados, a Porto Alegre e, através desta, ao porto de Rio Grande e aos mercados externos, das demais regiões do Brasil e do exterior. Embora apenas em alguns casos o artesanato comercial tenha dado origem à indústria com base em acumulação própria, essa atividade artesanal, exercida em ampla escala nas colônias de imigrantes europeus e descendentes, forneceu mão-de-obra especializada que favoreceu a formação de indústrias. 16
No levantamento feito por Herrlein Jr.17, entre 1889-1900, os principais produtos de exportação do Rio Grande do Sul eram: charque 25,9%, couro 18,9%, lã 1,9%, banha 11,3%, farinha de mandioca 7,3%, feijão 7,6%, fumo 2,9%, etc. Portanto, a agropecuária correspondia a 77,6% dos produtos: derivados da pecuária (46,5%) e da agricultura (31%). No Censo Industrial do Brasil de 1907 aparecem 26 empresas do Rio Grande do Sul entre as 100 maiores do Brasil: 16 eram de carne seca (charque), 3 de banha, 3 de tecidos, 1 de chapéus, 1 de vinho, 1 de moagem e 1 de fundição.18 Conforme Pesavento19, o desenvolvimento industrial no estado deu-se pela progressiva tecnificação de algumas empresas líderes, que se impuseram SILVA, Ricardo Muniz Muccillo da. Desenvolvimento Industrial no RS (1920-1980). Porto Alegre: Dissertação de Mestrado em Economia PUCRS, 2006, p. 34. 17 HERRLEIN, Ronaldo Jr. Rios Grandes do Sul, 1889-1930: um outro capitalismo no Brasil meridional. Campinas: UNICAMP, 2000, p. 25. 18 DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo (1880 – 1945). São Paulo: Difel, 1980. p. 262. 16
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no mercado e se tornaram responsáveis pelo dinamismo no setor, embora prevalecessem, numericamente, as pequenas unidades manufatureiras caracterizadas pela precária tecnologia e pelo reduzido emprego de forçatrabalho. A consolidação da indústria ocorreu através do processo de organização e racionalização da produção, cuja forma mais característica foi à introdução da tecnologia no processo produtivo. A autora ainda ressalta que a liderança empresarial, com origens sociais marcadas pela influência imigrante e pela presença do capital mercantil, estava fundada em grupos familiares entrelaçados entre si por casamentos. Estas lideranças, desde os primórdios do século XX, passaram a enviar seus descendentes à Europa e aos Estados Unidos para lá adquirirem experiência profissional e conhecimentos.20 Esta estratégia foi amplamente utilizada pelos comerciantes e industriais da cidade do Rio Grande no período em foco. Cronologicamente o comércio de exportação e importação antecede a industrialização, pois, começa a ser significativa desde a década de 1820 no nascimento da Província do Rio Grande de São Pedro. A acumulação necessária para o capital investido nos parques fabris remete ao comércio. “Tem-se, portanto, como dado básico para a compreensão da origem do processo de industrialização, no Rio Grande do Sul, a onipresença do capital comercial. O que variou, contudo, foi à forma pela qual este capital-dinheiro acumulado no comércio transformou-se em capital industrial”.21 Muitos acionistas em indústrias atuaram ou continuaram atuando no ramo comercial e alocaram no fabril parte de seus ganhos.
PESAVENTO, Sandra. A Burguesia Gaúcha: dominação do capital e disciplina do trabalho. Porto Alegre: Mercado Livre, 1988, p. 21. 20 PESAVENTO, 1988, P. 20. 21 PESAVENTO, Sandra. História da Indústria Sul-Rio-Grandense. Guaíba: Riocell, 1985, p. 30. 19
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No início dos 1900, o Rio Grande do Sul está buscando a inserção econômica na condição de uma zona periférica fornecedora de bens de consumo não duráveis. O principal destino das mercadorias gaúchas era o próprio mercado interno e o complexo cafeeiro do centro do país que aglutinava as riquezas nacionais. Por estar longe geograficamente dos principais mercados consumidores do país, o mercado gaúcho padecia de muitos produtos. Esta necessidade obrigou a demanda gaúcha a criar seu próprio mercado consumidor e captar os excedentes disponibilizados pelo comércio dos produtos de origem agropecuária, principalmente o charque gaúcho .22
Frente às dificuldades de inserção no contexto nacional, um forte impulso as atividades econômicas partiu de orientações do governo estadual de linha castilhista-borgista: o Partido Republicano Rio-Grandense defendia o desenvolvimento do capitalismo no comércio e na indústria, além de lutar pela ampliação da infraestrutura viária e do crescimento urbano.23 O foco passa a ser a diversificação produtiva e a ampliação das relações capitalistas.24 As políticas públicas encampadas pelas administrações do Partido Republicano Rio-Grandense foram essenciais para o nível de desenvolvimento nas relações produtivas alcançado até a década de 1930: “políticas públicas de povoamento, combate ao contrabando, extensão e melhoria dos transportes 22 23
SILVA, 2006, p. 111. LOVE, Joseph L. O regionalismo gaúcho e as origens da revolução de 1930. São Paulo:
Perspectiva, 1975. 24
AREND, Marcelo/CARIO, Silvio Antonio Ferraz. Desenvolvimento e desequilíbrio industrial no
Rio Grande do Sul: uma análise secular evolucionária. In: Economia e Sociedade, Campinas, v. 19, n. 2 (39), p. 381-420, ago. 2010, p. 391.
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(portos e ferrovias), os incentivos fiscais à indústria, e sem o aporte financeiro e tecnológico do capital externo aplicado nos portos e ferrovias”.25 Se o Guia Bemporat evidencia o crescimento econômico e os diferentes ramos de atuação empresarial, é preciso destacar que a dinâmica estrutural da inserção comercial e industrial do Rio Grande do Sul no mercado brasileiro é de contínuos desafios e dificuldades. A capacidade maior de capitalização do eixo Rio-São Paulo, propiciando avanços técnicos e redução nos custos de produção, somado a integração dos mercados através de meios de comunicação mais ágeis (ferrovias), exigiu um exercício cada vez maior de superação e sobrevivência. Até a década de 1930-40, grande parte das tradicionais empresas de exportação e importação que atuavam na cidade do Rio Grande desde o século XIX, faliram ou buscaram outros portos para atuarem. O mercado local já estava saturado de produtos da região Sudeste vendidos a um preço mais baixo. Os tempos de funcionamento de um capitalismo de mercado local garantido para a produção e consumo seria superado pela centralização do capitalismo brasileiro no eixo mais dinâmico e com estruturação de apoio político de longevidade histórica.
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SILVA, 2006, p. 112.
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Figura 17 Exposição Nacional de 1908 e a indústria gaúcha com destaque para os produtos da Leal Santos. In: O Malho, RJ, 05-09-1908. Acervo: Biblioteca Nacional (RJ).
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Figura 18 Guia Bemporat para 1908.
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Figura 19 Guia Bemporat para 1908.
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Figura 20 Guia Bemporat para 1908.
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Figura 21 Porto Velho na Rua Riachuelo. Guia Bemporat para 1908.
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Figura 22 Administração da Charutos Poock na esquina da Rua Marechal Floriano com Beco do Carmo. Guia Bemporat para 1908.
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Figura 23 Intendência Municipal no prédio inaugurado em 1900. Guia Bemporat para 1908.
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Figura 24 Prédio administrativo da Viação Férrea inaugurado em 1884. Guia Bemporat para 1908.
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Figura 25 Guia Bemporat para 1908.
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INDÚSTRIAS
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Rio Grande estava em sintonia com as transformações industriais da economia brasileira e gaúcha que buscava romper o exclusivismo de um setor econômico primário (pecuária e agricultura). O capital e o trabalho produziram não apenas produtos e consumo, mas também uma dialética do conflito entre operários e empresariado. As indústrias foram um fator de aceleração no desenvolvimento urbano e crescimento populacional local. A indústria gaúcha esteve voltada ao mercado regional e nacional desde o seu surgimento nas últimas décadas do século 19. Na cidade do Rio Grande, ela se caracterizou por apresentar grandes estabelecimentos, com índices de capital e mão-de-obra empregada acima das médias e com diversificação de ramos industriais (tecidos, charutos, tecelagem, alimentícias, frigoríficos etc). A cidade marítima, através da facilidade de escoamento pelo porto, destacou-se no processo de implantação e consolidação da Industrialização no Rio Grande do Sul. O exército anônimo de operários proliferava frente à produção de bens não duráveis voltados ao mercado interno brasileiro. A grande indústria, como é o caso da Rheingantz, da Ítalo-Brasileira, da Swift ou da Leal Santos, introduziu a especialização da produção e a mecanização em larga escala. A indústria têxtil Rheingantz surgiu em 1873 e foi uma referência em nível de Brasil em termos de construção de um espaço para a atividade industrial inserido na vida diária do trabalhador que morava junto à empresa. A Fábrica empregava cerca de 1.200 operários, sendo a maioria, mulheres. A Fábrica Ítalo-Brasileira (Santo Becchi & Cia) não anunciou no Guia, mas, é uma das mais importantes do período: em 1907 empregava 700 operários na indústria têxtil (fabricação de tecidos de algodão). Foi fundada em 1894 e iniciou
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as atividades em 13 de abril de 1896. Suas instalações ocupavam 10.000 metros quadrados na Rua Senador Corrêa. Neste ano, a fábrica produziu 5.000.000 de charutos no valor de 1.000:000$000, que foi transportada via marítima e estrada de ferro, para países como a Argentina, Uruguai, Chile e para o próprio Brasil. Conforme os dados pesquisados nos arquivos da Junta Comercial do Rio Grande do Sul (JUCERGS), em 26 de abril de 1912 aparecem o primeiro registro da Sociedade Anônima Cia. de Charutos Poock (Sucessora de Poock e Cia.). Em 1942, o capital da empresa era de Cr$ 750:000,00 (setecentos e cinquenta mil cruzeiros), e localizava na Rua Senador Corrêa, nº 753. Outra indústria que despontou em nível local foi a Leal Santos & Cia que foi constituída em 1890 voltando-se à fabricação de biscoitos e conservas alimentícias, especialmente carnes, peixes, camarões, frutas e legumes. Os produtos eram vendidos no mercado interno brasileiro e as carnes enlatadas eram também exportadas para a Europa. A Fábrica de Conservas Freitas é outro exemplo de indústria alimentícia que chegou ao mercado interno brasileiro. Várias fábricas de fumo e cigarros se estabeleceram em Rio Grande. A de maior destaque foi a Charutos Poock que se projetou nacionalmente pela qualidade de seus produtos com tabaco vindo de Havana. Em 1918 a produção foi de 5 milhões de charutos comercializados no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Fábricas de calçados e alpargatas, chapéus, fósforos, estaleiro e reparos navais, moinho de farinha, fábrica de bebidas etc, A presença destas indústrias e
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de várias outras, fez surgir à denominação de Rio Grande como a cidade das
chaminés. Pelo Censo Industrial de 1907 havia no município do Rio Grande 21 fábricas instaladas o que representava quase 7% de todas as indústrias do Rio Grande do Sul. Estas fábricas empregavam 2.828 operários.
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Figura 26 Fábrica União Fabril (desde 1898). Nasceu e se notabilizou como Rheingantz.
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Figura 27 A Companhia União Fabril sucessora da Rheingantz que foi fundada em 1873, foi a primeira grande indústria do Rio Grande do Sul. Por muitas décadas foi o símbolo da pujança industrial da cidade. Foi a falência em meados da década de 1960.
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Figura 28 A Leal, Santos & Cia iniciou as atividades como filial da empresa portuguesa fundada em 1881. Em Rio Grande foi estabelecida em 1889 e suas conservas alimentícias e biscoitos finos ganharam renome em diferentes praças brasileiras. Pelo Censo de 1907 empregava 160 operários na Fábrica de Conservas e Peixes e 120 na Fábrica de Biscoitos e 50 na fábrica de folha de flandres, totalizando 330. Posteriormente, empregava em média 450 operários e em 1947 passou a atuar somente no ramo da indústria pesqueira.
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Figura 29 Esta fábrica foi fundada por Tulio Martins de Freitas em 1906. Em 1911 foi criada a Companhia de Conservas Rio-Grandense onde, no ano de 1913, 112 operários trabalhavam.
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Figura 30 A Fábrica de Phosphoros Pedro Perez & Cia estava estabelecida na atual Rua Dr. Nascimento desde os primórdios do século XX. Em 1924 o local já estava abandonado e foi construída uma fábrica de fogões neste espaço. A chaminé (visível na fotografia) foi aproveitada na fábrica de fogões e foi demolida recentemente. Em 1907 empregava 65 trabalhadores.
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Figura 31 A Fábrica de Charutos Poock & Cia foi estabelecida em Rio Grande em 1891. Nas primeiras décadas do século XX foi uma das maiores empresas brasileiras do ramo do tabaco. Em 1907 atuavam 115 operários.
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Figura 32 Fábrica de Fumos e Cigarros Aliança, propriedade de Miguel José de Araújo. Buscava os consumidores do mercado local e regional. O mercado nacional era muito concorrencial com a proliferação de fábricas na maioria das grandes cidades. Empregava 25 operários.
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Figura 33 Fábrica de Fumos Aliança na Rua Riachuelo n.3.
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Figura 34 Grande Fábrica de Fumos Charutos e Cigarros José Beneri fundada em 1889. De fato, um pequeno empreendimento do ramo tabagista. Associado ao fumo também comercializava calçados. Chegou a empregar 60 operários.
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Figura 35 Fábrica de Fumos Charutos e Cigarros José Beneri. Rua Conde de Porto Alegre n. 63.
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Figura 36 A Fábrica de Charutos Stender & Co. de São Feliz (Bahia) tinha um agente e depositário em Rio Grande e Pelotas: H. R. Mark.
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Figura 37 Fábrica de Chapéus e Casa de Modas de Frederico Martensen. Foi atuante em Rio Grande até a segunda metade da década de 1920 quando encerraram as atividades.
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Figura 38 Fábrica de Chapéus e Casa de Modas de Frederico Martensen. Rua dos Andradas, n. 4.
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Figura 39 Estaleiro de Construção Naval Manoel Ferreira Touguinha foi um dos principais estaleiros que funcionaram em Rio Grande. Foi sucedido pelo estaleiro Plano Inclinado.
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Figura 40 Estaleiro de Construção Naval Manoel Ferreira Touguinha. Rua Conselheiro Pinto Lima n. 1 Prédio demolido a cerca de 10 anos para a construção de um hotel. Nesta rua funcionou a primeira Câmara de Vereadores do Rio Grande do Sul.
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Figura 41 Antonio Joaquim da Rosa Junior era o proprietário de um estaleiro de construção naval e de um depósito de madeiras. Sua fundação e longevidade é desconhecida.
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Figura 42 Augusto José Dias era o proprietário de uma oficina de máquinas a vapor. Uma empresa que tinha uma longa tradição na fundição de ferro e bronze e em reparos navais que recuava a 1866. Neste local o deputado negro Carlos Santos iniciou suas atividades de operário. Na fotografia ainda está o nome do fundador que é Fundição de J. J. Dias.
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Figura 43 Augusto José Dias. Rua Conselheiro Pinto Lima 2 e 4. Pelo Censo de 1907 a fundição empregava 50 operários.
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Figura 44 Fábrica de Alpargatas e Calçados Brazileira de Llopart, Mata & Cia. Fundada em 1902, empregava 120 operários neste período. A produção era de 170.000 pares de alpargatas e sapatos por ano. O mercado era o Rio Grande do Sul e outros estados brasileiros.
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Figura 45 Fábrica de Alpargatas e Calçados Brazileira de Llopart, Mata & Cia. Boulevard 14 de Julho (hoje Avenida Portugal).
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Figura 46 Albino Cunha já tinha atividades comerciais em Rio Grande desde 1876. Fundou o Moinho Rio-Grandense, beneficiamento de trigo, em 1895. Fornecedor de produtos para empresas e panifícios, além da venda no varejo. Abriu filiais em Pelotas e Porto Alegre. Em 1907 tinha 160 operários.
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Figura 47 Albino Cunha. Rua Dr. Pio n.5. As ruínas da construção ainda estão no local.
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COMÉRCIO DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO
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As atividades comerciais foram relevantes em Rio Grande desde as duas últimas décadas do século 18 com a presença de comerciantes de vários países, em especial, portugueses que organizavam filiais de empresas do Rio de Janeiro. A exportação e importação era realizada através do Porto Velho o qual foi essencial para a dinamização econômica em nível do Rio Grande do Sul. As grandes empresas pertenciam a portugueses, alemães, italianos, ingleses etc, voltando-se a exportação de derivados do gado e produtos agrícolas, além de produção têxtil e ampla variedade de enlatados. A importação voltou-se aos manufaturados, maquinarias, derivados do petróleo e uma infinidade de produtos para uso doméstico ou industrial. Inúmeras firmas comerciais estabeleceram-se na cidade. Uma das que mais se destacou foi a Bromberg & Cia, filial da casa estabelecida em Porto Alegre com origem em Hamburgo (Alemanha). Importava da Alemanha, Inglaterra, França, Áustria e Estados Unidos utensílios domésticos, arame, cimento, ferro, carvão, máquinas agrícolas e industriais, ferragens etc. A empresa alemã Fraeb & Cia, desde 1829, importava da Alemanha e Inglaterra arame, cimento e tecidos, exportando charque, couro, lã etc. Otero, Gomes & Cia, importava cimento, querosene, gasolina, arame, sal papel etc, exportando charque, sebo, banha, fumo e erva-mate. Foi fundada em 1867. No censo industrial de 1907 aparece como a 28ª empresa brasileira. Comerciantes portugueses eram atuantes neste ramo. Corrêa Leite & Cia, iniciou as atividades em 1895, importava tintas, arame, ferragens, sal, café, açúcar etc exportando charque e derivados do gado. Exportando couro para a Europa e importando produtos diversificados do Prata, Europa e Estados Unidos, o português José da Silva Fresteiro iniciou suas atividades em Rio Grande em 1878. Também de Portugal era Campos Assumpção (1889), que importava vinho e licores portugueses além de outros produtos. Exportava madeiras para estados
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brasileiros e também para o Uruguai e Argentina. Albino da Cunha Amaral é outro empresário português de destaque que atuou na cidade desde 1876 com importação de vinho francês e de sardinhas portuguesa. A empresa de Joaquim Martins Garcia (1879) importava carvão e C. Albrecht & Cia (1896) importava tecidos da Europa. O alemão Carl Engelhardt (1901) voltou-se à exportação. Tollens & Costa (1911) importava máquinas e ferragens da Europa (especialmente da Alemanha) e também dos Estados Unidos. A Drogaria Franco-Brasileira, de propriedade de Antonio Carlos Lopez (criador do Tiro de Guerra no Brasil), era importadora de produtos químicos e farmacêuticos. Menditeguy & Cia importava tecidos da Europa e Estados Unidos, exportando produtos Rio-grandenses. A Rache, Leite & Cia (1867) exportava sebo, charque para o mercado brasileiro e lã para a Europa, enquanto Eduardo Wigg & Cia (1911) agenciavam companhias de navegação e importavam trigo e carvão. Fundada pelo Albert Thomsen, a empresa Thomsen & Cia dedicava-se a importação de querosene, óleos lubrificantes, máquinas oriundas da Espanha, Alemanha e Inglaterra, além de terebintina dos Estados Unidos. Exportava couro, chifre, ossos e lã. George Wachtel & Cia (1897) representava as empresas alemãs Hamburg Sudamerikanische Dampfschiffachrts Gesellschaft e Hamburg Amerika Linie, Sudameika Dienst. Exportava para os portos de Hamburgo e Nova York couro, ossos, lã e derivados da pecuária e importava produtos em navios da própria companhia. São apenas alguns exemplos de um universo maior que tenta contextualizar que o Porto do Rio Grande estava interligado comercialmente com vários portos da Europa e também dos Estados Unidos. A maioria destes comerciantes eram estrangeiros de várias nacionalidades, mas a maioria era português. No recenseamento municipal de 1888, de uma população de 20.277 habitantes, os estrangeiros correspondiam a 21,70% do total.
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Figura 48 Empresa que atuou por mais de um século na cidade do Rio Grande. Foi fundada em 1829 e perdurou até a década de 1940. Trabalhava com exportação e importação de grosso trato. Tinha filiais em Pelotas e Porto Alegre.
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Figura 49 Otero Gomes & Cia.
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Figura 50 Otero Gomes & Cia atuava em Rio Grande com importação e exportação desde 1867. Pelo volume de negócios era considerada uma das mais importantes empresas do país. Em 1907 tinha 100 operários.
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Figura 51 Empresa criada em 1895 e sucessora de A. C. C. Leite que já estava estabelecido desde a década de 1870. Mais uma empresa de raiz portuguesa atuante no comércio de exportação (charque) e importação (alimentos, ferragens e tintas). Também atuou no ramo de navegação.
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Figura 52 Esta empresa foi estabelecida em Rio Grande pelo Barão Albert Thomsen. Importava dos Estados Unidos, Argentina, Espanha, Alemanha e Inglaterra.
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Figura 53 Uma das empresas mais antigas instaladas em Rio Grande em 1830, a partir de 1878, se chamou José da Silva Fresteiro (nascido em Portugal em 1858). Importador de secos e molhados, exportador de derivados do gado e agente de companhias de vapores.
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Figura 54 José da Silva Fresteiro & Cia. Rua Riachuelo n. 68 e 70.
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Figura 55 Armando Braz de Miranda atuava com exportação e importação. Importava ferragens, secos e molhados e exportava produtos coloniais.
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Figura 56 Armando Braz de Miranda. Rua 24 de Maio.
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Figura 57 Portugal, Mattos & Cia era uma casa importadora e exportadora de secos e molhados.
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Figura 58 Portugal, Mattos & Cia. Rua Francisco Campello n. 8.
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INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
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Com o crescimento do comércio internacional pelo Porto Velho do Rio Grande começaram a surgir instituições bancárias em Rio Grande. As conexões do comércio marítimo com a Europa, Estados Unidos, América Central e América do Sul motivaram o estabelecimento do setor financeiro na localidade. Em 1851-52 foi criada uma agência do Banco Mauá em Rio Grande. Ainda nesta década de 1850 é inaugurada uma caixa filial do Banco do Brasil. Na década de 1860, o forte comércio transatlântico com a Inglaterra fez com que o Bank of London abrisse uma agência na cidade. Na década de 1890 surge a filial do Banco da Província do Rio Grande do Sul e o Banco do Comércio de Porto Alegre. Em 1919, o National City Bank of New York abriu filiais em Porto Alegre e Rio Grande, devido à instalação de empreendimentos frigoríficos e de comercialização de subprodutos de petróleo com origem americana. Também neste ano chegou a Porto Alegre o London & River Plate Bank, que ampliou, em 1920, sua rede para Pelotas e Rio Grande.
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Figura 59 O London & Brazilian Bank Limited chegou ao Brasil em 1862 e no ano seguinte abriu uma agência em Rio Grande. A fotografia é da agência deste banco em Porto Alegre.
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Figura 60 O Banco Pelotense foi fundado em 1906. Sua primeira filial foi aberta em Rio Grande poucos meses depois da matriz em Pelotas.
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Figura 61 O Banco do Comércio foi fundado em 1895 em Porto Alegre. Foi o segundo banco comercial do Rio Grande do Sul e se voltou aos produtores da zona colonial gaúcha. Uma Caixa Filial foi aberta em Rio Grande em 1899, pois, o Porto era essencial para a comercialização dos produtos coloniais.
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Figura 62 Banco do Comércio. Rua Marechal Floriano 157.
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VAREJO E ATACADO
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Neste subtítulo serão contemplados o comércio atacadista, varejista e outras prestações de serviço: agentes de navegação, despachos aduaneiros, casas de comissões e consignações, secos e molhados, madeiras, importadores de máquinas, produtos químicos, bebidas e inúmeras mercadorias, telégrafo, materiais de construção, padarias, confeitarias, cafeterias, restaurantes, produtos alimentícios importados e nacionais, loja de fazendas e armarinhos, ouriversaria, ótica e relojoaria, livraria, fotografia, tipografia, farmácia, hotelaria etc. Muitas destas empresas são importadoras, porém, não consta informação se também atuam com exportação. Este fator levou a serem alocadas neste quesito. É uma miscelânea de atividades comerciais em que se observa o fluxo de mercadorias e a circulação monetária: dos produtos mais sofisticados e de acesso restrito, ao consumo diário de pães ou bolachas.
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Figura 63 Agência Commercial de Joaquim Martí trabalhava com o transporte de mercadorias fazendo todo o serviço de despacho de importação, exportação ou trânsito.
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Figura 64 Campos Moraes e Cia era um agente aduaneiro que realizava o desembaraço de cargas/mercadorias.
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Figura 65 Manoel José Fernandes atuou como casa de comissões e consignações. Era agente da Companhia Vinícola Portugueza, da Charutos Dannemann & Co. e da fábrica de cigarros da marca Veado (era um dos mais vendidos no Brasil).
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Figura 66 J. L. Vianna & Cia era uma casa comissária e consignatária instalada na segunda metade do século XIX em Rio Grande.
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Figura 67 J. L. Vianna & Cia. Rua Riachuelo n. II.
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Figura 68 Casa estabelecida em Rio Grande no ano de 1889, atuando com armazém de molhados por atacado e negócios de madeira. Importava vinhos e licores de Portugal.
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Figura 69 Campos Assumpção. Rua Riachuelo n. 54. Esquina com o Beco do Carmo.
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Figura 70 A Bromberg foi fundada em Porto Alegre em 1863. A primeira filial foi criada em Rio Grande localidade em que organizou vários estabelecimentos. Entre eles uma casa de atacado e uma secção de varejo.
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Figura 71 A Bromberg e Cia instalou em Rio Grande uma “secção de machinas”. Era importadora de máquinas e aparelhos para a agricultura e a indústria.
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Figura 72 H. R. Marck tinha casas em Rio Grande e Pelotas. Importadora de motores, fogões, charutos, perfumaria e bebidas. A maioria dos produtos era inglês.
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Figura 73 A Western Telegraph se estabeleceu em Rio Grande na década de 1870. A utilização do cabo submarino permitiu a comunicação da cidade com a costa brasileira e com outros países.
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Figura 74 Alvaro de Castro e Silva foi um importador de ferragens e cabos, especialmente, para fornecimento as atividades navais realizadas no Porto.
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Figura 75 Alvaro de Castro e Silva. Rua Riachuelo n. 44.
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Figura 76 Guinle & Cia foi uma empresa nacional que ofereceu serviços de “engenheiros eletricistas, mecânicos e empreiteiros” na cidade do Rio Grande. O crescimento industrial e comercial junto ao Porto foi fator de oferecimento desta mão-de-obra especializada.
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Figura 77 Santos Faria & Cia importava pinho de riga, americano e sueco. Também comercializava madeiras da Serra Gaúcha.
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Figura 78 Santos Faria & Cia. Rua General Osório 56-62.
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Figura 79 A Padaria Santos, confeitaria e fábrica de semolina, é mais um dos estabelecimentos do ramo alimentício de propriedade de portugueses ou luso-brasileiros.
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Figura 80 Padaria Santos. Praça São Pedro 79-81.
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Figura 81 A Padaria Oliveira comercializava por atacado e varejo e funcionava na Rua Uruguayana atual Avenida Silva Paes.
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Figura 82 Padaria Oliveira. Rua Uruguayana n. 157-159. Atual Avenida Silva Paes.
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Figura 83 A Confeitaria Papagaio se localizava na Rua Marechal Floriano (Praça General Telles). Seu concorrente, o Café América, ficava a poucos metros de distância.
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Figura 84 Confeitaria Papagaio. Praça Gen. Telles n. 257.
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Figura 85 Confeitaria Papagaio. Praça Gen. Telles n. 257.
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Figura 86 O Café América se estabeleceu na Rua Marechal Floriano (em frente à Praça General Telles) na década de 1890.
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Figura 87 Café América. Rua Marechal Floriano n. 273.
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Figura 88 Café América. Rua Marechal Floriano n. 273.
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Figura 89 Restaurante Garrido de Joaquim Martins Filho atuava com casa de pasto e pensão.
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Figura 90 Restaurante Garrido. Rua Andradas n. 59.
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Figura 91 Ritter, Menditeguy & Cia atuavam com importação e exportação de secos e molhados por atacado.
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Figura 92 Braga & Leite eram os únicos agentes no Rio Grande do Sul que importava Xerez Quina Ruiz e os distribuíam para outras praças. Localizados junto ao Porto na Rua Riachuelo.
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Figura 93 A Flor dos Vinhos era um armazém de secos, molhados e café. Importava vinhos de Portugal e da França, além de conservas de doces e diversos licores.
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Figura 94 A Flor dos Vinhos. Rua General Bacelar n. 160.
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Figura 95 Casa João Alt trabalha com conservas e líquidos importados. Além de uma sessão de confeitaria disponibilizava um serviço de copa no local.
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Figura 96 Casa João Alt. Rua Marechal Floriano n. 225.
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Figura 97 Casa João Alt. Rua Marechal Floriano n. 225.
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Figura 98 Casa Palhares armazém de secos, molhados e especialidades. Em sua fábrica a vapor refinava açúcar e torrava café.
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Figura 99 Casa Palhares. Rua General Bacelar n. 111.
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Figura 100 Casa Palhares. Rua General Bacelar n. 111.
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Figura 101 Casa Lahorgue atuava com secos e molhados populares. Também tinha depósito de produtos variados.
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Figura 102 Casa Lahorgue. Praça Dr. Pio.
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Figura 103 Abel Asti & Cia foi uma das mais destacadas empresas que atuaram com secos e molhados por atacado. A empresa foi fundada em 1893.
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Figura 104 Campos Moraes & Cia era agente geral de importação dos produtos acima para as praças de Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas.
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Figura 105 A Violeta de Roque Aita foi uma das lojas mais tradicionais do ramo de fazendas e modas. Produtos franceses, ingleses e alemães eram a sua especialidade.
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Figura 106 Roque Aita. Rua General Bacelar 137-139.
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Figura 107 Paris na América foi uma loja de fazendas, modas, perfumaria e miudezas. Por outros anúncios se observa que o perfil era a moda e produtos parisienses.
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Figura 108 Paris na América. Rua General Bacelar n. 121.
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Figura 109 A Botina de Ouro era um grande empório de caçados nacionais e estrangeiros. A Casa foi fundada em Rio Grande no ano de 1875.
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Figura 110 A Botina de Ouro. Rua General Bacelar n. 154.
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Figura 111 Casa Vaz Dias atuava desde 1871 no ramo de fazendas. Assim como outras empresas, realizava importação direta, aproveitando as vantagens do Porto do Rio Grande.
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Figura 112 Casa Vaz Dias. Rua General Bacelar n. 158.
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Figura 113 Casa Vaz Dias. Rua General Bacelar n. 158.
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Figura 114 Maison Hormain era uma das casas de vestuário localizada na Rua Marechal Floriano que atuavam com alfaiataria e fábrica de gravatas, chapéus etc. Seu referencial de moda eram os produtos franceses.
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Figura 115 Maison Hormain. Rua Marechal Floriano n. 175.
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Figura 116 Maison Hormain. Rua Marechal Floriano n. 175.
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Figura 117 A Loja de Fazendas Ao Pêgas Filho iniciou no ramo do vestuário ainda no século XIX. Manteve-se em atividade nas décadas seguintes.
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Figura 118 Loja de Fazendas Ao Pêgas Filho. Rua Marechal Floriano n. 299.
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Figura 119 Loja do Pêgas era das mais tradicionais da cidade. Além de fazendas, também atuou com fábrica de mosaicos e tijolos. Incorretamente, o almanaque colocou o endereço como Porto Alegre e de fato é Rio Grande.
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Figura 120 Loja do Pêgas. Rua General João Telles n. 263.
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Figura 121 Loja do Pêgas. Rua General João Telles n. 263.
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Figura 122 A Loja de Fazendas Bello Horizonte funcionava em prédio ao lado da Capela de São Francisco tendo a travessa da Matriz por separação. No final dos anos 1920 este prédio comercial foi demolido.
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Figura 123 Loja de Fazendas Bello Horizonte. Rua Marechal Floriano n. 305-307.
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Figura 124 Este estabelecimento é sucessor da Casa Aaron que atuava na segunda metade do século XIX na cidade.
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Figura 125 L. Daniel & Cia. Rua Marechal Floriano 132.
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Figura 126 Ao Chronometro atuou com venda por atacado e a varejo de bijouterias e joalherias, além da fabricação e concerto destes produtos.
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Figura 127 Ao Chronometro. Rua Marechal Floriano n. 151.
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Figura 128 Carlos Alberto Cuello, vindo do Rio de Janeiro, se estabeleceu em Rio Grande na década de 1890 com a venda de joias. Na década de 1920 construiu um dos maiores casarões do Balneário Cassino (atual Sobrado dos Bianchini).
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Figura 129 A Esmeralda. Rua Marechal Floriano n. 179.
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Figura 130 A Pêndula Rio-Grandense já estava em Rio Grande na década de 1890 e tinha por especialidade a ourivesaria e a relojoaria.
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Figura 131 Pêndula Rio-Grandense. Rua General Bacelar esquina com Andradas.
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Figura 132 Ricardo Giovannini atuou em Rio Grande desde o final da década de 1890. Além de fotografia ele executava retratos, pinturas e fundos para fotógrafos e cenografia em teatros/cinemas. Disputava o mercado com os fotógrafos John King e Amílcar Fontana.
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Figura 133 R. Strauch/Livraria Rio-Grandense se estabeleceu na cidade em 1887 e fazia importações da Alemanha. Dos primeiros cartões-postais brasileiros, já em 1897, foram editados na Rua Marechal Floriano n. 65. A empresa foi a falência em 1942.
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Figura 134 R. Strauch. Rua Marechal Floriano n. 65 e 102.
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Figura 135 R. Strauch. Rua Marechal Floriano n. 102.
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Figura 136 Fundada em Pelotas em 1871 e com filiais em Porto Alegre (1879) e Rio Grande (1885).
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Figura 137 Fundada em Pelotas em 1885 por Souza Lima & Meira. Em 1900 é administrada por Francisco Meira. Tinha filial em Rio Grande.
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Figura 138 A Livraria Universal foi criada em Pelotas em 1887 abrindo filiais em Porto Alegre e Rio Grande nos anos seguintes.
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Figura 139 A Miscellanea Rio-Grandense tinha vários endereços em cidades do Rio Grande do Sul. Notabilizou-se pela venda de postais.
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Figura 140 A Miscellanea Rio-Grandense. Rua Marechal Floriano n. 259.
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Figura 141 Abel Asti era natural de Bagé e desde o início dos anos 1890 passou a atuar no ramo de secos e molhados em Rio Grande. Ampliou e diversificou suas atividades com o Bazar Colombo.
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Figura 142 Ao Maneca Amaro. Estabelecimento musical e oculístico.
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Figura 143 Hotel Brasil era um dos vários hotéis localizados próximos ao Porto Velho do Rio Grande. O fluxo de passageiros e comerciantes era intenso nas primeiras décadas do século XX.
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Figura 144 Hotel Brazil. Rua Marechal Floriano n. 199.
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Figura 145 O Paris foi o mais tradicional e sofisticado Hotel da cidade do Rio Grande. Sucedeu o Hotel Internacional.
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Figura 146 Hotel Paris. Rua Marechal Floriano n. 142-146.
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Figura 147 Uma das farmácias de maior destaque e tendo por proprietária uma mulher que também administrava um depósito geral de especialidades farmacêuticas.
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Figura 148 Pharmacia Popular. Rua 24 de Maio n. 164.
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Figura 149 O inglês Hallawell atuou com importação e exportação e fundou a Drogaria Inglesa (1859) que foi uma das mais longevas a atuar neste setor.
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Figura 150 Drogaria Ingleza. Rua Marechal Floriano n. 195-197.
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Figura 151 Estabelecimento que farmacêutico que comercializava material fotográfico.
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Figura 152 Pharmacia Queiróz. Rua dos Andradas n. 24.
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Figura 153 Farmácia de um proprietário de origem francesa. Este ramo era muito concorrido, pois, quatorze farmácias estavam funcionando em 1908.
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Figura 154 Pharmacia du Pasquier. Rua Marechal Floriano esquina com o Beco do Afonso.
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Figura 155 Estabelecimento funerário Torrador.
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Figura 156 Estabelecimento funerário Torrador. Praça São Pedro.
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Figura 157 Estabelecimento Funerário João Marinônio Carneiro.
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Figura 158 Estabelecimento Funerário João Marinônio Carneiro. Rua General Bacelar n. 119.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A observação destes anúncios evidencia que a cidade do Rio Grande, em 1908, vivenciava um momento de crescimento das atividades econômicas. O Guia fez referência a 68 anunciantes que traduz uma parte relevante, mas, não completo do conjunto de empresas dos primórdios do século XX. Este ano foi marcado pela criação em Paris da Companhia Francesa do Porto do Rio Grande que realizou a construção do Porto Novo e a também dos Molhes da Barra. As obras foram inauguradas em 1915. Os problemas de calado e segurança para a navegação, pauta histórica, estavam superados. A contrapartida foi o início da decadência do Porto Velho e do eixo comercial que se desenvolvia em seu entorno. Este processo se intensificou entre as décadas de 1930-1950. A economia acarretou no maior crescimento populacional da história da cidade: 29 mil habitantes em 1900 e 44 mil em 1918. Em duas décadas a cidade aumentou em 50% a sua população. O fator principal do incremento foi a atração de trabalhadores de municípios da metade sul em crise nas atividades pecuaristas e charqueadoras. Em Rio Grande, a Companhia Francesa gerou de 3 a mil 5 vagas; as indústrias têxtil e alimentícia empregavam mais de 3 mil trabalhadores, além das outras indústrias e do comércio de exportação e importação e do varejista. Em 1918, somente a Swift gerou 1.500 empregos diretos. O Guia Bemporat voltado à cidade do Rio Grande, não esgota as empresas estabelecidas neste período, mas, apresenta um panorama consistente das
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indústrias, comércio de exportação e importação, atacado e varejo e instituições financeiras. O recurso à documentação fotográfica dos estabelecimentos não tem o requinte e a preocupação estética de obras posteriores como as de Lloyd e Domecq na lapidação requintada dos empresários. Aqui se observa cenários mais próximos do cotidiano dos estabelecimentos sem tantos recursos de exclusão de objetos e pessoas inadequadas. Digamos que o recurso visual é mais “popular” e voltado à divulgação dos estabelecimentos fabris ou comerciais. Nesta documentação se pode analisar a racionalização dos espaços de trabalho, os lugares sociais pela utilização de determinadas vestimentas, constatar a distribuição do comércio varejista (forte na Rua General Bacelar e débil na Rua 24 de Maio), evidenciar a importância da Rua Riachuelo para o comércio de exportação e importação – artéria frontal ao Porto Velho e estratégica para o embarque e desembarque de mercadorias. Os endereços onde era mais intensa a prestação de serviço (como a Rua Marechal Floriano) possibilita identificar os lugares de maior circulação das pessoas e de valorização dos imóveis. A ritualização cotidiana da centralidade da cidade passa por estes lugares que marcaram a cidade desde o século XVIII: o centro histórico que se constituiu e definiu/redefiniu nos ritmos das atividades portuárias da Rua Riachuelo e proximidades.
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É volumosa a produção cartográfica da Oficina Bemporat após 1911 quando Achylles fugiu do
Rio Grande do Sul. Esta produção se estende até 1970. Certamente teve continuidade com outros sócios mas ele faleceu em 1957 com 88 anos. Já em 1914 surge o nome S. Bemporat na publicação de um mapa de ferrocarriles. Será um familiar e sócio que deu continuidade as atividades quando Achylles já tinha 44 anos?
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Plano comercial de Montevideo y sus alrededores. Montevideo: Oficina Cartográfica Bemporat, 1928.
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