CONEXÃO ARTE
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pela lente da
IMPERFEIÇÃO A artista Livia Fontana faz arte como quem vive, contrapondo a beleza estética do rigor POR DANIÉLLE CARAZZAI, jornalista
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oi de uma forma bem natural que Livia Fontana se deparou com a arte. Havia na casa da sua infância, na década de 80, uma efervescência em torno dessa manifestação tão cara
aos italianos e seus descendentes. O ambiente familiar era parada frequente de pintores da cidade de Curitiba. Mas ela se apaixonou definitivamente pelo processo artístico a partir de um presente recebido aos oito anos de idade: uma máquina fotográfica. "Eu lembro de tirar várias fotos. Colocar o filme, escolher o momento, perceber, captar aquele segundo”, conta a artista.
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Daí foi um pulo para que a formação em publicidade a levasse por novos caminhos - especialmente porque aquela noção de tudo adequado, perfeito e equilibrado causava certo incômodo e convidava Livia a outro olhar. “Tenho uma questão de não me prender muito à qualidade. Hoje tudo virou muito plástico, há um excesso de tratamento de imagens. Eu vou para o lado oposto”, explica. Muito da sua poética veio da experiência em Londres, quando passou pela Central Saint Martins. “Uma escola fantástica, que me mapeou visualmente e fez costuras importantes. Foi onde eu descobri a arte contemporânea”, conta. Das referências inglesas, ela trouxe Tracey Emin, Sarah Lucas e Vivienne Westwood, artistas que também evocam a estética da beleza que vem dos defeitos, das faltas ou imprecisões,
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traços tão próprios da humanidade. Seu recente trabalho, intitulado “Loading”, é uma série aberta na qual Livia se apropria de imagens da internet no momento em que estão carregando, no celular. “É uma entre-imagem, não totalmente baixada, que acaba gerando outra imagem”, explica. A narrativa que vem à tona gera reflexão. "São várias questões ali, nossa necessidade de saber tudo, o mundo com excesso de imagens, a ansiedade, o imediatismo das conexões. Fiquei surpresa, inclusive, em saber que existe o que se nomeou fear of missing out, o medo de ficar por fora”, aponta. Livia não tem compromisso com uma única plataforma e pratica arte cotidianamente - não necessariamente dentro do seu ateliê. "A minha arte é orgânica, tem a ver com o que eu estou passando e preciso de um tempo pra ela acontecer. Mas sempre há um truque, uma camada”, finaliza.
18 | CASA SUL 2021
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