APRODUÇÃO DAARQUI TETURACOM APRESENÇA DAMULHER:DO ESCRI TÓRI O AO CANTEI RO
Cas s i aGr aber tNevesYebr a Or i ent ador: Paul oCés ardeXav i erPer ei r a F AUUSP|2014
Relatório Final de Iniciação Científica Período da Bolsa - Agosto2013 / Agosto 2014 M odalidade da Bolsa – Cnpq/ PIBIC
ÍNDICE
a) Introdução b) De scrição dos trabalhos de pe squisa re alizados c) Conside raçõe s finais d) Re fe rê ncias bibliográficas
"A arquitetura faz parte de um conjunto m aior, o da construção em toda sua extensão, que por sua vez está incluido num m aior ainda, o da econom ia política. Acreditam os que é a partir da análise da construção, toda ela, dentro da econom ia política e, em seguida, da arquitetura dentro da construção, que poderem os com preender corretam ente esta nossa atividade: desenhar, projetar. "
Sé rgio Fe rro, e m uma publicação do GFAU
a) Introdução O setor da construção civil brasileiro alcançou em 2010 seu m elhor desem penho nos últim os 24 anos. Considerando os prejuízos causados pela crise internacional, o setor foi fundam ental para a recuperação econôm ica do país. O aquecim ento do setor foi proporcionado por um a série de condições, com o aum ento do crédito, queda das taxas de juros, redução de im postos, aum ento da renda dos ocupados e da m assa de salários, m obilizados principalm ente por obras públicas, de infraestrutura e voltadas para os m egaeventos, com o a Copa do Mundo e Olim píadas, além de obras privadas, através da constante presença do m ercado im obiliário na produção de em preendim entos nas grandes cidades. Nesse cenário, observou -se o crescim ento da m ão de obra fem inina atuante nos canteiros, em diversas ocupações, especialm ente com o pedreira. Dados do Ministério do Trabalho e Em prego - MTE (2011) m ostram que, no Brasil, o núm ero de trabalhadoras neste setor cresceu 65% em um a década. O fato que provocou certo interesse jornalístico, m otivado pela excepcionalidade desse processo. A surpresa que despertou este fenôm eno, foi provocada por se tratar de um a ocupação até então estritam ente m asculina, e tam bém pela associação da m ulher a certos estereótipos, que não são apenas atribuições biológicas, m as construções sociais. Se atualm ente é surpreendente que a m ulher possa trabalhar no canteiro de obras, há décadas atrás era im pensável que a arquitetura, pudesse ser um a carreira em que as m ulheres são m aioria. O Censo realizado em 2012, pelo recém -criado Conselho de Arquitetura e Urbanism o, m ostra que as m ulheres representam 61% do total de profissionais no Brasil, e o estudo da arquiteta Flávia de Carvalho Sá m ostra que elas são m aioria em duas tradicionais escolas do país. Este avanço no núm ero de profissionais, não significou, entretanto, o reconhecim ento do trabalho fem inino na produção arquitetônica, ao investigar as publicações m ais prestigiadas de arquitetura e urbanism o no país , nota-se esta ausência. No âm bito internacional, se considerarm os o prêm io m áxim o da arquitetura, o Pritzker, as m ulheres tam bém são m inoria, apenas duas arquitetas foram laureadas com o prêm io, Zaha Hadid e Kazuyo Sejim a. A desigualdade tam bém se faz presen te na rem uneração, um a vez que as m ulheres ganham m enos para fazer os m esm os serviços que os hom ens. Ao longo da história da arquitetura, observa -se um progressivo apagam ento da m ulher, e este tem a é objeto de análise de algum as universidades europeias e estadunidenses, desde a década de 1970, enquanto na Am érica Latina as pesquisas ainda são incipientes. Diversos destes estudos am bicionam o reconhecim ento da presença das m ulheres na produção da história da arquitetura, e com o elas foram constantem ente ofu scadas pelos "grandes m estres m asculinos". Além da contribuição acadêm ica, foram criados alguns prêm ios que alm ejam propiciar m aior notoriedade às arquitetas. No Brasil é notável o esforço da pesquisadora Ana Gabriela Godinho, cujo doutorado sobre a questão de gênero na arquitetura foi fundam ental para a produção da presente pesquisa.
Sobre a presença da m ulher no canteiro, entretanto, os estudos sobre o tem a ainda são m ais incipientes, principalm ente por se tratar de um fenôm eno recente e discreto, se con siderarm os a porcentagem de m ulheres no setor, m as isto não o torna m enos curioso . A presente pesquisa, portanto, partiu da intenção de se estudar as inserções fem ininas nessas diferentes esferas da construção civil, e com o as questões de gênero estão pres entes nas ocupações escolhidas. Para isso, se buscou investigar as condições que perm itiram a incorporação da m ão de obra fem inina na esfera do canteiro e do escritório de arquitetura. Dessa form a, investigam os o cenário atual da construção civil brasileir a que dem andou a incorporação de m ão de obra, e os estím ulos que atraíram as m ulheres para este setor, além do esforço de se traçar um perfil dessas m ulheres, considerando seus desafios de classe e gênero, baseado em entrevistas presentes em dissertações e estudos estatísticos. Da m esm a m aneira, investigam os possíveis razões que justificam a presença da m ulher no ofício da arquitetura, e tam bém tentam os esboçar um perfil desta profissional, adotando o m esm o procedim ento descrito. Considerando que o apagam en to da m ulher na arquitetura tem raízes históricas, a investigação desse processo para além do âm bito nacional se fez necessária, assim com o sua breve explicitação. Por estes processos serem am algam ados, e sendo a arquitetura um a construção cultural, buscou -se com preender o contexto em que ocorre a inserção da m ulher no m ercado de trabalho, m arcada por avanços e perm anências, a partir da saída do am biente dom éstico, e com o este am biente e os estereótipos reconhecidos diversas vezes com o "atribuições naturais da m ulher" influenciam de m aneiras distintas nesses processos. Para estruturação e elaboração do m aterial de pesquisa foram utilizados os m étodos e procedim entos tradicionais da pesquisa em ciências sociais aplicada aos fundam entos da arquitetura, urbanism o e urbanização. Por tratar-se de um tem a recente, havia pouca bibliografia a respeito, e recorreu-se constantem ente à pesquisa em portais que constavam artigos nacionais e internacionais, além de reportagens em periódicos nacionais e internacionais. Encontrou-se dados tam bém em bibliotecas digitais de entidades e organizações brasileiras de arquitetura e urbanism o, com o CAU, IAB, FNA, AsBEA, e ABEA, além de outras entidades que analisam o trabalho e ocupações no Brasil com o SEADE, Ministério do Trabalho e Em prego(RAIS), DIEESE, SUDECO, IBGE, além do Sindicatos da construção civil, com o o Sinduscon/SP. Pesquisou -se tam bém em portais e publicações de arquitetura nacionais e internaciona is. Com o já foi dito, o tem a escolhido para análise é objeto recente de estudo, e pode ter diversos desdobram entos. Espera -se que esta pesquisa possa oferecer um a ótica sobre o tem a e servir de m otivação para futuros estudos que não foram contem plados pelo objeto desta pesquisa.
c) De scrição dos trabalhos de pe squisa re alizados
A M ULHER NO M ERCADO CONTEXTUALIZAÇÃO
DE
T RABALHO
NO
BRASIL
-
1.
Rupturas e perm anências
2.
Divisão Sexual do Trabalho
3.
Estereótipos associados a m ulher, um a construção sociocultural
A M ULHER E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO
1. No Escritório de Arquite tura 1.1.
Progressivo apagam ento na História
1.2
Do am biente dom éstico à prática arquitetôn ica
1.3.
Fem inização da carreira no Brasil
1.4.
Perfil da arquiteta brasileira
1.5.
Questões de Gênero
2. No Cante iro de Obras 2.1
Breve Contextualiz ação da Construção Civil no Brasil
2.1 .1 Principais Características econôm icas e sociais 2.1 .2 Crescim ento do Setor e Incorporação da Mão de Obra Fem inina 2.2.
Perfil da m ulher no canteiro
2.3.
Questões de Gênero
BREVE
A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO
1. Rupturas e Pe rmanê ncias "Há m ais sentim ento para saber na cultura.
m ulheres estudando arquitetura nos últim os 25 anos. E m eu é que há tanto estereótipo no m undo que deve levar m uito tem po se as diferenças entre hom ens e m ulheres são reais ou baseadas Será que há diferenças inatas? "
Denise Scott Brown 1 O papel social da m ulher no m undo ocidental, até m eados do século XX, relacionava-se à sua condição biológica de procriadora, e os serviços que lhe eram destinados lim itavam -se, portanto, à esfera dom éstica, que exigia dedicação exc lusiva aos filhos, ao m arido e ao lar. Aceitava -se socialm ente apenas funções que a m antivessem no am biente privado, e não a afastassem da função que lhe era atribuída. Era aceitável, por exem plo, segundo Lim a 2 a dedicação à escrita. Em m eio a transform açõ es socioeconôm icas no m undo ocidental e a partir das lutas fem inistas ocorridas a partir da m etade do últim o século, as m ulheres foram gradualm ente conquistando seus direitos, e através do acesso à educação, e do ingresso às universidades conseguiram desen volver seus ofícios para além do am biente dom éstico. Esse avanço rum o à Academ ia perm itiu novas contribuições relativas a história da m ulher. Segundo Lim a 3 os estudos acadêm icos sobre a história da m ulher estão em expansão desde m eados da década de 1970, notadam ente na Europa e Estados Unidos. Na Am érica Latina, entretanto, os estudos ainda são incipientes. No Brasil, foi possível identificar algum as estudiosas que pesquisam a questão de trabalho e gênero, e, para a abordagem dessa análise, escolheram -se duas: Maria Cristina Aranha Bruschini e Helena Hirata. Escolheu-se um estudo da socióloga e pesquisadora Maria Cristina Aranha Bruschini, que dedicou parte de sua vida a pesquisas relacionadas a desigualdades de gênero no m ercado de trabalho no Brasil, co ntribuindo intensam ente para o desenvolvim ento acadêm ico do tem a . Preparado para o Sem inário Internacional de Gênero e Trabalho, em 2007, o artigo "Trabalho e Gênero no Brasil nos últim os 10 anos", apresenta a interpretação de dados estatísticos e revela m algum as transform ações e perm anências do m ercado de trabalho da década analisa da. O texto procura dem onstrar algum as antíteses , com o as trabalhadoras brasileiras obtiveram progressos nesse período, em bora certas características desfavoráveis tenham pers istido. A autora aponta que a expansão da escolaridade é um dos fatores de m aior im pacto sobre o ingresso das m ulheres no m ercado de trabalho , inclusive em cargos de liderança e carreiras de prestígio, que eram usualm ente dom inada por hom ens, com o m edicina, direito, engenharia e arquitetura. O diferencial de rendim ento, usuais na distinção por gênero, estão presentes 1
E nt revis t a c onc edida em Junho de 2013 para a Revis t a A U Reven d o a His t ória da A rquit et ur a: uma pers pec t i va feminis t a, A na Gabriela Godinho Lima, p. 53 3 Idem. p. III 2
tam bém nessas carreiras. "Para dar um exem plo, ganham m ais de 20 salários m ínim os m ensais: 32% dos engenheiros, m as 17% das engenheiras; 19% dos arquitetos e 15% das arquitetas; 8,4% dos m édicos e 7% das m édicas; 29% dos advogados e 24% das advogadas. Esse m esm o padrão persiste desde a década de 1990, conform e se dem onstrou em estudos anteriores (Bruschini, Lom bardi, 1999; 2000)" 4 A consolidação fem inina nessas carreiras ocorreu ao longo da década de 1990, com o é possível observar o crescim ento das m ulheres nessas carreiras na tabela abaixo. Nota-se que as m ulheres são m aioria apenas na arquitetura PART ICIPAÇ ÃO FEM ININA EM OCUPAÇ ÕES SELECIONADAS Ocupaçõe s 1993 2004 Total
202.733 37.682
% m ulheres 41,3 45,9
6.694
43,3
22,5
11.337
34,4
142.686
11,6
139.300
14,0
7.118
51,5
8.472
54,1
Médicos Advogados
135.089 25.404
Procuradores e advogados públicos Magistrados
6.508
10.818
Engenheiros Arquitetos
% m ulheres 36,3 35,1 40,6
de Total
5
de
Esse avanço fem inino para além do am biente dom éstico não significou, entretanto, um distanciam ento das "tarefas dom ésticas", com o o cuidado com os filhos e os afazeres do lar A pesquisa m ostra a existência das desigualdades de gênero em relação a esses afazeres : " Dos investigados, 68% responderam afirm ativam ente à pergunta sobre o cuidado com os afazeres dom ésticos. No entanto, ao desagregar as inform ações por sexo, ficaram evidentes as desigualdades de gênero, pois, enquanto quase 90% das m ulheres responderam "sim " à pergunta, pouco m enos de 45% dos hom ens deram resposta sem elhante. O diferencial de gênero se apre sentou tam bém com clareza quando se exam inou o tem po de dedicação aos afazeres dom ésticos, segundo o num ero m édio de horas sem anais. Pois, enquanto na população total este núm ero foi de 21,9 horas, o das m ulheres foi de cerca de 27 horas e dos hom ens pouco m ais de 10 horas. " 6)Vale destacar que os órgãos de estatística oficiais não contabilizavam os trabalhos dom ésticos de dona de casa com o atividade econôm ica, e apenas no início dos anos 2000, através do banco de m icrodados, passaram a considera-los. Brusc hini ainda pontua que esse serviço deveria receber outra atribuição; deveria ser considerado "trabalho não rem unerado", e não 4
Trabal ho e Gênero no B ras il nos últ imos 10 anos . Maria Cris t ina A ranha B rus c hini 2007, p. 537 5 Font e: MTE – Rais 1993 e 2004 6 Idem B rus c hini p. 544
"inatividade", um a vez que os serviços dom ésticos consom em m uita energia, e dem andam m uito tem po. Quanto às horas dedicadas ao cui dado com os filhos, ela m ostra que as m ães de filhos pequenos chegam a dedicar 32 horas sem anais a essas atividades, enquanto m antém os vínculos em pregatícios externos, sobrecarregando -as de tarefas, em se com paradas a dedicação dos hom ens a essa esfera do m éstica. Bruschini tam bém apresenta certas perm anências das m ulheres no âm bito do trabalho, as escolhas das m ulheres se m antêm preferencialm ente em áreas do conhecim ento tradicionalm ente “fem ininas”, com o educação (81% de m ulheres), saúde e bem -estar social (74%), hum anidades e artes (65%), que preparam as m ulheres para os cham ados “guetos” ocupacionais fem ininos, com o por exem plo, o m agistério e a enferm agem . Os cargos de liderança ocupados pelas m ulheres tam bém envolve estas áreas, com o diz a autora ; "Estudo de Bruschini e Puppin (2004), realizado com dados para o ano 2000, m ostrou que 24% dos 42.276 cargos de diretoria com putados pela Rais eram ocupados por m ulheres, dado surpreendente, em face do conhecim ento disponível, nos estudos sobre o trabalho fem inino, sobre a dificuldade de acesso das trabalhadoras a cargos de chefia. As inform ações obtidas para 2004 revelaram que, nessa data, cerca de 31% dos 19.167 cargos de diretores gerais de em presas do setor form al eram ocupados por m ulheres. Entretanto, ao analisar a presença fem inina em tais cargos segundo ram os de atividade, foi possível constatar que os em pregos fem ininos predom inavam na adm inistração pública, na educação – m ais de 50% – e em outras áreas sociais, com o saúde e serviços sociais, com 46% dos cargos de diretoria ocupados por m ulheres. Ao considerar os cargos de diretoria em sua especificidade, foi possível constatar que a grande m aioria deles, nas em presas de serviços de saúde, educação e cultura, eram ocupados por m ulheres (75%), enquanto e ntre os diretores de produção e operações, ou m esm o nas áreas de apoio, o percentual de em pregos ocupados por m ulheres é significativam ente m ais baixo: 21% no prim eiro caso e 30% no segundo" 7 Os dados tam bém apontam para um a m aior vulnerabilidade das m ulheres no m ercado de trabalho. Em bora apresentem taxas de escolaridade m ais elevadas que os hom ens, e a diferença atual seja m uito pequena, taxas m aiores de desem prego ainda recaem sobre elas. Em 2005, no periodo de janeiro a abril, enquanto a taxa fem inina de desem prego foi de 13,5 a m asculina foi de 8,3 . Bruschini tam bém discorre sobre o em prego dom éstico rem unerado, do qual se refere com o " nicho ocupacional fem inino por excelência" em que m ais de 90% são m ulheres, e até 2005 absorvia cerca de 17% da força de trabalho fem inina. Esse percentual tem dim inuído com o tem po, se considerar que em 1970 absorvia m ais de 1/4 da m ão de obra fem inina. A ocupação, de acordo com os estudos da época é consid erada precária, devido a baixa posse de carteira de trabalho(25%) e pelos baixos rendim entos auferidos (96% ganham até dois salários m ínim os). Estudos recentes do DIEESE 8 m ostram que alguns desses dados, com o rendim entos e desem prego(em diversas carreiras , e nas zonas m etropolitanas) a desigualdade foi dim inuída, m as não elim inada . Convém 7 8
Idem, p 553 P E D – Regiões Met ropolit a n as , Març o 2013
buscar alguns dados específicos m ais recentes para futuros estudos, m as, para o escopo dessa pesquisa, a desigualdade histórica de gênero é que interessa para a análise que será feita.
2.
Divisão Sexual do T rabalho
O estudo apresentado de Bruschini m ostra as conquistas fem ininas ao longo da década, e se atem principalm ente aos desníveis existentes entre os gêneros, tem a sobre o qual a filósofa brasileira Helena Hirata e a socióloga francesa Danièle Kergoat discorreram a partir da discussão do conceito de "divisão sexual do trabalho" 9. Se no artigo desc rito de Bruschini, ela apenas atesta tais desníveis, e reconhece a naturalidade do cuidado com os filhos um a atribuição quase que exclusivam ente m aterna "Pois, para as m ulheres, a vivência do trabalho im plica sem pre a com binação dessas duas esferas [ espaç o produtivo e espaço reprodutivo], seja pela articulação, seja pela superposição", Hirata e Kergoat são m ais incisivas e com bativas a essa condição "E o que é m ais espantoso é a m aneira com o as m ulheres, m esm o plenam ente conscientes da opressão, da desigu aldade da divisão do trabalho dom éstico, continuam a se incum bir do essencial desse trabalho dom éstico, inclusive entre as m ilitantes fem inistas, sindicalistas, políticas, plenam ente conscientes dessa desigualdade. M esm o que exista delegação, um de seus lim ites está na própria estrutura do trabalho dom éstico e fam iliar: a gestão do conjunto do trabalho delegado é sem pre da com petência daquelas que delegam . É preciso refletir não apenas sobre o porquê dessa perm anência, m as, principalm ente, sobre com o m udar essa situação. A nosso ver, é preciso questionar, sobretudo, os âm bitos psicológicos da dom inação e a dim ensão da afetividade. Essa pesquisa está por ser feita, e é singularm ente com plicada pela com plexidade de seu objeto, que requer um trabalho interdisci pli nar de m uito fôlego." 10 No artigo, elas propõem um a "definição básica": A divisão sexual do trabalho é a form a de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; m ais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa form a é m odulada histórica e socialm ente. Tem com o características a designação prioritária dos hom ens à esfera produtiva e das m ulheres à esfera reprodutiva e, sim ultaneam ente, a apropriação pelos hom ens das funções co m m aior valor social adicionado (políticos, religiosos, m ilitares etc.). Essa form a particular da divisão social do trabalho tem dois princípios organizadores: o princípio de separação (existem trabalhos de hom ens e trabalhos de m ulheres) e o princípio hierárquico (um trabalho de hom em “vale” m ais que um trabalho de m ulher). Esses princípios são válidos para todas as sociedades conhecidas, no tem po e no espaço. Podem ser aplicados m ediante um processo específico de legitim ação, a ideologia naturalista. Esta rebaixa o gênero ao sexo biológic o, reduz as práticas sociais a “papéis sociais” sexuados que rem etem ao destino natural da espécie. Se os dois princípios (de separação e hierárquico) encontram -se em todas as sociedades conhecidas e são legitim ados pela ideologia naturalista, isto não significa, no entanto, que a divisão sexual do trabalho seja um dado im utável . Ao contrário, ela tem inclusive um a incrível plasticidade: suas m odalidades concretas variam grandem ente no tem po e no espaço, com o dem onstraram f artam ente 9
Novas Configu raç õ es da Divis ã o S ex ual do Trabal ho, bras ileir a Helena Hirat a e a s oc ióloga franc es a Danièle K ergoat , 2007 10 Idem. p 607
antropólogos e historiadores(as). O que é estável não são as situações (que evoluem sem pre), e sim a distância entre os grupos de sexo " 11 As autoras se estendem na conceituação do term o a partir de exem plos da sociedade francesa e tratam dos "m odelos que organizam as relações entre as esferas dom éstica e profissional", e posteriorm ente com param os m odelos tracionais de "papéis sociais", ou seja, quando o espaço produtivo cabe apenas ao hom em , e o reprodutivo à m ulhe r, obviam ente. E reconhece que o m odelo em voga de "conciliação" cabe apenas a m ulher, que deve orquestrar as duas esferas.
11
Idem. p. 599
3. Estereótipos associados à mulher, uma construção sociocultural É interessante associar essa definição de "divisão sexual do trabalho" com estereótipos negativos associados a figura fem inina, utilizados por um estudo de pesquisadores da Universidade de Sevilla 12 " Barreiras de gênero no desenvolvim ento profissional de m ulheres técnicas da construção" que busca com preender o porque do setor da construção civil ser tão m asculinizado, quais estigm as sociais estão associados a esse quadro, e com o eles se constituem em barreiras que im pedem o desenvolvim ento do trabalho fem inino no setor. " A segregação ocupacional, que é um a das características m ais im portantes e persistentes dos m ercados de trabalho em todo o m undo, afeta negativam ente o funcionam ento dos m ercados de trabalho devido à rigidez que provoca na m obilidade entr e ocupações tradicionalm ente m asculinas e fem ininas". Para a pesquisa, os autores adotam a teoria fem inista 13 que reconhece que as desvantagens fem ininas no m ercado de trabalho são exteriores a ele , e um a dessas desvantagens está à associação da m ulher a c ertos estereótipos negativos
Este re ótip os comuns às caracte ríst icas fe mininas
Efe ito sobre a se gre gaçã o laboral da mulhe r
Exe mplo de ocupaçõe s afe tadas
12
Escassa disposição para avaliar ou supervision ar o trabalho alheio Desqualific ação de ocupações de supervisão, direção ou controle
Diretora geral, Chefe, cargos direção
Menor força física
Menor aptidão para m atem áticas ou ciências
Menor disposiç ão para viajar ou se desloca r
Segrega ção em ocupaçõ es de carga e descarg a ou de esforço físico
São excluídas de profissões que requerem conhecim entos científicos/m atem áticos ou alto nível de abstração
Se exclui a m ulher de trabalho s que necessit am viajar m uito
Construç ão, transport de es, m ineraç ão, etc.
Ciências, Profissões Politécnicas
Menos disposiç ão para enfrenta r riscos e perigos
Se desquali fica as m ulhere s de ocupaçõ es arriscad as ou perigosa s Conduto Polícia, ra de bom beir veículos o, , vigilante m arinha ,detetive , aviação
B arreras de género en el des arroll o profes ion a l de mujeres t éc nic as de la Cons t ruc c ió n, ROMA N ONS A LO, M; RIOS P A NIA GUA , A ; TRA V E RS O CORTE S , 13 R. A nk er c it ado em Román
Re fle xõe s para a ação orie ntador a
Se confunde com a atribuiç ão de que as m ulheres devem receber m ais ordens do que dar. Afeta a segregação ocupaciona l vertical
Grande núm ero de hom ens e m ulhere s com força identica. A força vem sendo m enos relevant e em trabalho s atuais
A discrim inação se inicia nas escolas, se desm otivam as m eninas a estudar ciências. Não é um a diferença biológic a, com o m ostram as estatísticas
Muitas m ulhere s estão disposta s a viajar. É um a diferenç a aprendi da, não biológic a
Muitas estão disposta s e querem exercer esse trabalho. Diferenç a aprendid a
Sobre alguns estereótipos, Lim a afirm a: "estereótipos influenciam e conduzem ações e julgam entos, da m ulher na sociedade e vice versa. São questões que envolvem sua educação, form ação m oral, cultural e profissional. O trabalho sistem ático em torno destes assuntos tem ajudado esclarecer até que ponto as atribuições e com portam entos fem ininos possuem causas biológicas e ate que ponto são tradições e im posições culturais. É certo que, ainda hoje, esses dois fatores perm anecem am algam ados" 14 Alguns estereótipos associados a m elhor aptidão da m ulher com a decoração, por exem plo, tam bém pode significar a influência dessas tradições e im posições culturais, um a vez que a associação histórica da m ulher ao am biente dom éstico pode ter produzido tais com petências, que , novam ente, não são inatas, m as sim desenvolvidas e propagadas de geração a geração. Sobre estas especificidades, relacionadas a carreira de arquitetura, discutirem os m elhor a seguir.
14
Lima, Op. c it , p. 6
A MULHER E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO
1. No Escritório de Arquitetu ra
1.1. Progressivo apagamento na História "A ausência das m ulheres da profissão de arquitetura perm anece, a despeito de várias teorias, m uito difícil de explicar e m uito lenta para m udar. Dem arca um a falha da qual a profissão se tornou adepta ao encará -la com um olhar cego, a despeito do fato de que este olhar coloca a arquitetura m uito atrás de outras profissões, com as quais frequentem ente, os arquitetos procuram alinhar -se. Se considerarm os a arquitetura com o um a construção cultural, ao m esm o tem po receptác ulo e resíduo, nós não podem os senão indagar o que esta sintom ática ausência sugere sobre nossa cultura e as regras que regem a produção de sua arquitetura ” 15 A historiografia da arquitetura, assim com o da história em geral, privilegiou a narração e análise de fatos a partir de figuras e histórias excepcionais, com o reis, im peradores, etc, apenas recentem ente com eçaram a surgir novas abordagens , "que privilegiassem questões sociais, e procuravam enxergar a população do ponto de vista das m assas, de pessoas que, em bora anônim as, constituem a m aioria da raça hum ana e de indivíduos que, usualm ente desconhecidos do grande público, m udaram , de algum a form a, o m undo à sua volta". 16 Na arquitetura, em especial, essa situação se faz evidente na historiografia da arquitetura m oderna, que até o aparecim ento de obras de alguns críticos com o Kenneth Fram ptom , W illiam Curtis, Jean-Louis Cohen, a história era contada a partir da descrição de grandes m estres m asculinos. Ao longo dessa "tradição historiográfica" observou -s e um contínuo apagam ento da figura fem inina, na história e na produção da história da arquitetura, e apenas a partir de estudos que surgiram na década de 1970 iniciou-se um processo de identificação dessas m ulheres, buscando sua história, form ação que possuíam , dificuldades que encontraram , e com o contribuíram para a produção arquitetônic a da época. O apagam ento sucessivo da m ulher na produção da arquitetura, é um tem a de diversos estudos recentes 17, e os autores que têm se debruçado sobre o assunto ainda não delinearam conclusões definitivas a respeito, m as esboçam alguns cam inhos para reflexão. É possível associar essa ausência fem inina ao papel secundário ocupado pela m ulher ao longo da história, e ao desm erecim ento às com petências que m ulher "poderia ter" para desenvolver ofícios que ultrapassassem a esfera dom éstica, além da vergonha associada ao orgulho m asculino em assum ir que um bom trabalho teria sido produzido por algum a m ulher .
15 16 17
Franc es c a Hughes c it ada em Lima, p. 8 Lima, Op. c it p. IV Idem, p. 2
Se considerarm os o processo de fem inização da carreira, e os estereóti pos geralm ente associados às com petências da profissão, que são relacionados a "atribuições fem ininas" (em bora não sejam parâm etros científicos), a escassa presença de arquitetas nas publicações de prestígio de arquitetura, e ínfim a presença fem inina no prêm io m áxim o da arquitetura, o Pritzker (apenas Kazuyo Sejim a e Zaha Hadid o conquistaram ) torna -se m ais curiosa e difícil de explicar . Nessa pesquisa, não há a pretensão de form ular um a possível explicação precisa para o apagam ento, m as convém com preender parte da história da atuação fem inina na arquitetura, a partir do olhar de algum as pesquisadoras, e alguns dos m otivos que conduziram a om issão d os nom es dess as m ulheres, um a vez que, com o afirm ou Francesca Hughes na citação acim a, "arquitetura é um a construção cultural, ao m esm o tem po receptáculo e resíduo". A com preensão dessa história, portanto, favorece tam bém um a explanação da cultura e da soc iedade que a constituíram . Além disso, essa parte da pesquisa pretende m ostrar em que m om ento se iniciou esse processo de fem inização, especialm ente no Brasil. “Sem surpresa, m uitos dos m ais fam osos hom ens na arquitetura atualm ente com 60, 70 anos – dependeram fortem ente do apoio de suas m ulheres enquanto ascendiam em seus postos. As esposas tocavam seus escritórios, criavam os filhos e suportavam lealm ente seus egos. M as vocês não encontrarão seus nom es nas páginas principais.” 18 Ao longo da história da arquitetura, existem casos m ais notáveis de supressão da figura fem inina na condição de autora ou co -autora de projetos do edifício. Há o caso de Eileen Gray e Le Corbusier, por exem plo. A arquiteta irlandesa projetou e construiu um a casa para si e para Je an Badovici em Roquebrune, Cap Martin, entre 1926 e 1929, e sofreu a intervenção de Le Corbusier, que pintou m urais na casa sem a autorização ou consulta da autora. Posteriorm ente o projeto da casa foi atribuído exclusivam ente a Le Corbusier, e em diversas publicações o nom e da arquiteta nem é citado. Outro caso que obteve grande im pacto foi a nom eação do arquiteto Robert Venturi, m arido de Denise Scott Brown, com o vencedor do Prêm io Pritzker de 1991, excluindo a participação de Scott Brown em sua autoria. Tal fato provocou um a enorm e repercussão, e em 2013 um a organização estudantil cham ada W om en in Design da Harvard Graduate School of Design, iniciou um a petição para que a arquiteta recebesse o reconhecim ento pelo prêm io. A proposição foi negada. Algum as teorias, m uitas delas fem inistas, foram desenvolvidas para justificar a ausência da m ulher na arquitetura. A arquiteta argentina, Diana Agrest, por exem plo, sugere que a supressão fem inina na arquitetura tenha origens no Renascim ento, através dos tratados , com o de Vitrúvio 19. Afirm a que enquanto se adotava as proporções do corpo hum ano m asculino com o parâm etro para a construção de cidades, tem plos e fortificações, segundo Lim a:
A rt igo para o NY Times “K eeping Hous es , not building Them”, Nic olai Ourous s o f f, Out ubro 2007 19 Lima, Op. c it , p. 12 18
"O corpo fem inino, ou digam os, assexuado, nunca é sugerido. Quando se referem ao funcionam ento e problem as desses tem plos, cidades e fortificações, fazendo relações diretas com o funcionam ento e as doenças do corpo hum ano, a com paração esbarra no problem a da concepção: com o ignorar o papel da m ulher nesse caso? A resolução surge com o um a espécie de concepção assexuada, aos m oldes de Virgem M aria, em que não foi necessária a participação do outro sexo para que Cristo fosse concebido. O arquiteto assum iria o m esm o papel de concebedor do objeto, sem a interferência ou contribuição do out ro sexo, ou seja, ele exclui a possibilidade de um papel fem inino nesta concepção." Essa é apenas um a das possíveis justificativas históricas apresentadas pela autora, entretanto, a parte de seu levantam ento que vam os nos ater é referente às trajetórias de algum as arquitetas, e com o se vinculam a cultura e a sociedade da época. Para isso, adotarem os a sistem atização proposta por ela, que separa a produção teórica e prática da arquitetura do edifício entre " Críticas, historiadoras e teóricas da arquitetura", "Arquitetas e o tem a da habitação", e "Arquitetas e a Arquitetura dos espaços col etivos" sinalizando a diferença entre as produções latino -am ericanas das estadunidenses e europeias e seus respectivos contextos históricos. Com o já foi dito, esse processo de reconhecim ento iniciou -se em m eados da década de 1970. Lim a identifica a exposiç ão "W om en in Architecture : an Historical and Contem porary Perspective", em 1977, com o um m arco nesse processo. A exposição, organizada pela arquiteta argentina Susana Torre, em colaboração com um grupo de arquitetas, historiadoras e escritoras, m ostrou o trabalho de arquitetas dos EUA, virou um a publicação, que ganhou um a nova publicação em 2013, e neste ano de 2014 a exposição foi rem ontada na Parsons the New School of Design 20. A autora apresenta que na m esm a década, a atuação da m ulher na arquitetura passou a ser tem a de alguns periódicos especializados. Nesse contexto surge tam bém a figura de Gwendolyn W right, que publica diversos artigos sobre a m ulher na arquitetura e história da habitação am ericana, “On the Fringe of the Profession: W om en in Am eric an Architecture” que constitui um capítulo do livro “The Architect. Chapters in the History of the Profession” , editado por Spiro Kostof. Lim a tam bém destaca a publicação em 1996 de Francesca Hughes, arquiteta e professora na Bartlett School of Architecture de Londres, “The Architect. Reconstructing Her Practice” que reune o trabalho de 12 arquitetas, em textos autobiográficos, além da já citada Diana Agrest . Estas são autoras as quais Lim a faz citações ao longo de toda sua tese. Lim a aponta que a Inglaterra foi o país da Europa que m ais se destacou no cam po da pesquisa da atuação da m ulher na arquitetura, além dos Estados Unidos, cujos esforços acadêm icos são bastante notáveis. Existem diversas entidades internacionais vinculadas ou não a Academ ia que a lm ejam o reconhecim ento da presença da m ulher na arquitetura, até prêm ios para reconhecer a produção fem inina que é pouco escolhida pelos júris de diversos prêm ios. Podem os citar algum as dessas entidades e prêm ios: Report a ge m s obre a E x pos iç ão, “W omen in A meric an A rc hit ec t ure: 1977 and Today ”. Julho 2014 20
Nos EUA, o International Archive of W om en in Architecture(IAW A), a organização estudantil -W om en in Design de Harvard, a Beverly Hills Architect Foundation, que produziu o docum entário sobre 100 m ulheres arquitetas que trabalharam no estúdio do Frank Lloyd W right : "A girl is fellow here", “Design for equality”, “Association of W om en in Architecture (AW A)”, os prêm ios com o ArcVision Pro e o prêm io francês Fem m es -archi, que recentem ente prem iou um a arquiteta brasileira, há tam bém um a organização australiana cham ada “Parlour”. Podem os destacar tam bém o prim eiro Sim pósio de Arquitetura e Gênero da Universidade de Sevilha, Espanha, realizado em m arço de 2014. Em São Paulo, nesse m esm o ano foi realizado o sim pósio Dom esticidade, gênero e cultura m aterial, produzido pelo Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo, e em bora não trate diretam ente do tem a da arquitetura e gênero, é possível identificar algum as proxim idades quanto a questão , e m ostrar que a tem ática da questão do gênero no am biente dom éstico é um tem a latente e tem ganhado força no âm bito acadêm ico.
1.2. Do ambiente doméstico a pratica arquitetônica "Dentro do conjunto de escritores e teóricos de arquitetura que criaram o am biente crítico das decisões que determ inaram o m eio construído do século XX, a m aioria é de m ulheres " John Morris Dixon, editor da revista Progressive Architecture 21 Ao que indica Lim a o am biente dom éstico exerceu positiva influência a algum as m ulheres. O m anejo com o lar e suas dem andas desenvolveu um repertório em m ulheres que, em bora sem form ação específica, passaram a escrever sobre a casa, e com isso adquiriram certa visibilidade, com o é o caso de Catherine Beecher, cujo texto " Treatise on Dom estic Econom y", publicado em 1841, esteve presente no livro "Mechanization Takes Com and. A contribution to Anonym ous History" de Sigfried Giedion. Na Inglaterra tam bém é notável o trabalho de Octavia Hill e Herietta Barnett, visto que a últim a criou um plano para a região suburbana de Ham pstead Garden, que com eçou a ser realizado em 1907. O reconhecim ento dessa atribuiç ão fem inina, acom panhado de certa descrim inação, se oficializou nos EUA, , surgiu a Cam bridge School(1915 -1942), escola que im plem entou um curriculo focado na "arquitetura dom éstica"(decoração de interiores), na m esm a época em que não se aceitavam m ulheres em Harvard Ao longo do século, observou-se um a evolução da questão da casa , e o assunto tornou-se pauta de revistas destinadas ao público fem inino, em um a espécie de "m anual para o lar". Posteriorm ente o assunto am adureceu -se e os tem as com o higiene, econom ia dom éstica e distribuição especial passaram a ser discutidos com m aior profundidad e. A questão da habitação em ergiu com vigor após as destruições provocadas pelas guerras m undiais. "Os arquitetos com eçaram a devotar cada vez m ais atenção para arquitetura habitacional, em grande escala ou não, e os m ovim entos de reform a urbana. Tem as com o a racionalização das atividades dom esticas, a higiene, a distribuição espacial eficiente, que com eçam a ser descobertos pelos hom ens, já vinham sendo estudados por várias autoras. M uitas das posturas introduzidas pelo M ovim ento M oderno já vi nham sendo exploradas, e iam de encontro às propostas e reinvindicações fem ininas prom ovidas desde o início do século XIX " 22 Nesse contexto, surgem diversas autoras com o Catharine Bauer, Sibyl Moholy-Nagy, que tiveram atuação para além da atividade teórica . Bauer participou ativam ente das leis de habitação, e Sybil trabalhou com o professora. Entre as décadas de 1950 e 60, destaca -se o casal Alison e Peter Sm ithson, que contribuíram para teorias acerca da habitação, em que enfatizam a ideia de com unidade, que esta deve ser atendida considerando suas necessidades, gostos e aspirações.
21 22
John Morris Dix on c it ado por Lima, Op. c it , p. 59 Lima, Op. c it , p. 58
Quanto à produção do projeto de habitação, algum as m ulheres obtiveram algum reconhecim ento, e conseguiram atuar a partir de encom endas privadas de algum as casas, é o caso de Eleanor Raym ond. Se no cam po da teoria e da produção de habitação as m ulheres obt iveram certo êxito, no que diz respeito à produção de espaços coletivos, a atuação fem inina se viu lim itada diante de alguns preconceitos; associava -se que a m ulher teria algum a com petência para produzir casas e obras de habitação, devido a sua fam iliaridade com o am biente privado. Para desenvolver espaços públicos, entretanto, as habilidades que as m ulheres possuíam estariam aquém das exigidas para a produção deste tipo de projeto, além da questão do prestígio envolvido em certos projetos de espaços coleti vos. Nestes casos, a projeção profissional e pessoal do arquiteto tinha papel preponderante em sua contratação para determ inados trabalhos, assim , as m ulheres, que dificilm ente eram contratadas, não adquiriam m uita experiência, condição que as tornava m eno s com petitivas para a execução desses projetos. Distintam ente do processo ocorrido com as m ulheres da Europa e EUA, o processo de envolvim ento com a crítica e história da arquitetura na Am érica Latina não ocorreu em função da relação da m ulher com o am bie nte dom éstico. Lim a aponta que, a partir do século XX, na Am érica Latina, a presença de em pregadas dom ésticas era um a questão que afastava as m ulheres de classe m édia e alta do trabalho dom éstico. Enquanto nos EUA se colocava que as tarefas deveriam ser di vididas entre os m em bros das fam ílias, e o em prego dom éstico era algo provisório, no Brasil, por exem plo, os resquícios da escravidão perm aneceram no século XX, e além de ser barato contratar um a em pregada dom éstica, considerava -se que a posse de sua força de trabalho era sinônim o de status social. As m ulheres que tinham acesso a educação e cultura, e teriam condições de refletir, questionar e propor sobre o am biente dom éstico, atribuíam os serviços a outros em pregados(especia lm en te m ulheres). "Foi no cam po das preocupações sociais e culturais que as m ulheres latino am ericanas, neste século, passaram a atuar nos cam pos da produção de conhecim ento sobre a arquitetura. No entanto , algum as pioneiras aqui, ao contrário do que ocorreu em outros lugares, não se restringiram ao cam po teórico ou prático, m as se dedicavam a várias atividades relacionadas a arquitetura. É o caso da carioca Carm em Portinho, da paulista de origem italiana Lina bo Bardi,da chilena M yriam W aisberg e da argentina Olga W ainstein Krasuk.”23 José Carlos Durand aponta que a profissão no país teve origens elitistas, pois teria surgido na Escola de Belas Artes, tradicional reduto da burguesia. Com o aponta Flávia Sá 24. A inserção fem inina no m ercado de trabalho de arquitetura se deu posteriorm ente ao m om ento que ocorreu em alguns países do m undo ocidental. Esse fato foi influenciado pelo tardio estabelecim ento das escolas de arquitetura no país, causado pela pouca dem anda de serviços desses profissionais, pois quase não se construiu no 23
Idem. p. 72 P rofis s ão arquit et a. Formaç ão profis s io n al, merc ado de t rabalho e projet o arquit et ô nic o na pers pec t i va das relaç ões de gênero , Flávia de Carva l ho S á, 2010 24
Brasil até o final da prim eira República. Tal condi ção provocou um atraso na form ação da profissão, postergando o acesso fem inino para m ais adiante.
1.3. Feminização da Carreira no Brasil O Censo produzido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanism o em 2012(REF), atestou estatisticam ente um fenôm eno que vem ocorrendo desde a década de 1990. A carreira de arquitetura e urbanism o no Brasil está "fem inizando". Segundo dados do Censo, as m ulheres repr esentam 61% dos profissionais do país, e a sua predom inância encontra -se em faixas etárias m ais jovens. Enquanto entre os profissionais com idades entre 41 e 50 anos as m ulheres são pouco m ais que a m etade (57,4%), entre os 20 e 25 a anos essa taxa é de 78,3%. Os hom ens são m aioria apenas na faixa acim a de 61 anos, são 71% do total. Não se encontrou, ao longo da pesquisa, razões específicas que justificassem o processo de fem inização da arquitetura no Brasil , m as alguns estudos direcionam a algum as interp retações. Com o já foi apresentado anteriorm ente, a participação da m ulher no m ercado de trabalho em geral, em todos os níveis sociais e todas as faixas de qualificação, se deu a par tir dos anos 1960 e 1970, e Bruschini insere o crescim ento da atuação fem inina na arquitetura no contexto da evolução fem inina em outras carreiras de prestígio, com o direito, m edicina e engenharia, porém outros autores indicam outras razões: Flávia Sá, a partir de D urand 25 aponta que a m aior inserção fem inina ocorreu no final da década de 1980, e afirm a tam bém que entre 1970 e 1980 houve o crescim ento total de profissionais de arquitetura à um a razão de 1,5, enquanto o crescim ento fem inino alcançava crescia à razão 7. Durand considera que um dos m otivos que podem explicar esse crescim ento no período é o desincentivo econôm ico da época, relativo às crescentes dificuldades de absorção do m ercado de arquitetura. Os hom ens teriam cedido a essas dificuldades, e abandonado o cam po, em busca de atividades m ais seguras. Sobraria à m ulher, portanto, o risco de optar por atividades financeiram ente irregulares. É interessante que outras duas arquitetas indicam que um a possível "crise na arquitetura" ou algum a incerteza na profissão teria conduzido a inserção fem inina. Em 1992 Beatriz Colom ina diz : "Com a m odernidade e a transform ação do sentido tradicional de separação entre exterior e interior, as fronteiras do espaço arquitetônico com eçaram a m udar. Surgem m últiplas possibilidades de delim itação de interiores e exteriores. Estas m udanças levaram a um a situação em que os espaços se fragm entaram e assum iram novos significados com o surgim ento da fotografia, dos aparelhos sonoros e visuais, com a explosão do uso do carro e das novas form as de com unicação. O status das paredes já não é o m es m o, a distinção público e privado se processa de form as diferentes. A perda de identidade, a crise porque a arquitetura vem passando por conta destas m udanças acaba
25
Durand c it ado em S á p. 44
favorecendo a aceitação das propostas de grupos m arginais, o que inclui as m ulheres." 26 Denise Scott Brown, em um a entrevista de 2013 27afirm a de um a form a possivelm ente irônica, m as que sugere que um a desvalorização da carreira(que não é justificada ao longo da entrevista) teria conduzido o ingresso fem inino: "Há um ditado que diz que "há m ais m ulheres em um a área quando esta está sendo desvalorizada". O aum ento do núm ero de m ulheres na m edicina coincidiu com a queda salarial dos m édicos." Curiosam ente, o núm ero de arquitetas é inferior ao núm ero de arquitetos nos dois países apontados por Lim a onde há um m aior núm ero de pesquisas de gênero na arquitetura, Inglaterra e EUA, com o indica o estudo do portal britânico, Architect’s Journal 28, que apresenta as estatísticas de Richard W ate, em que 40% dos estudantes de arquitetura são m ulheres, e apen as 20% dos arquitetos britânicos são m ulheres. No Am erican Institute Architects, dos 83 m il m em bros cadastrados no instituto, apenas 17% são m ulheres. Em 1930,em Belo Horizonte, foi criada a prim eira escola de arquitetura desvinculada das Politécnicas e das Belas Artes. Atualm ente, de acordo com o levantam ento de um grupo de pesquisa coordenado por Lim a 29 existem 226 escolas de arquitetura no Brasil, e o m aior núm ero delas encontra-se no Estado de Sâo Paulo (54). Houve, portanto, além do crescim ento dem ográfico nas cidades, o aum ento do núm ero de escolas de arquitetura, resultando em um aum ento dos núm eros de profissionais em geral. Segundo o CAU, o Sudeste concentra o m aior núm ero de profissionais são 45.057, significando 53,08% do total, e no Estado de São Paulo são 24.978 profissionais, ou seja, 29,82% do total. Em relação aos 83.754 do total de arquitetos, 17,42% deste é de m ulheres paulistas. Em bora seja pouco representativo em relação ao núm ero a tual de escolas existentes, Flávia Sá 30 apresentou o processo de fem inização em duas escolas tradicionais do Brasil, a USP e UFRGS :
26
B eat riz Colomina c it ado em Lima p. 18
E nt revis t a c onc edida à revis t a A U em junho de 2013 – “O t et o de vidro aos 81 anos de Denis e S c ot t B rown” 28 P rimeiro es t udo “W omen in A rc hit ec t ure ” do A rc hit ec t ’s Journal , Janeiro 2012 27
29
Fac t s , Figures , and t he P rofes s io n, produz ido pelo A IA pres s Levant am e nt o feit o pelo Grupo “Feminino e P lural” c oordena d o por A na Gabriela Godinho Lima 30
FAU USP : porce ntage m de e gre ssos, por gĂŞ ne ro e ano
FAU UFRGS : porce ntage m de e gre ssos, por gĂŞ ne ro e ano
1.4. Perfil da Arquiteta Brasileira A ocupação de arquitetura é tradicionalm ente elitista, com o foi apontado por Durand, e atualm ente, se considerarm os a escolaridade e a faixa salarial dos arquitetos , é possível afirm ar que de fato os arquitetos pertencem a um a elite, pois em um país em que apenas 11,3% da população tem curso superior 31 possuir a renda a escolaridade discrim inadas abaixo significa pertencer a um a classe m ais privilegiada. No Censo do CAU não há discrim inação por gênero, m as é válido por discrim inar as condições socioeconôm icas da categoria. NIVEL DE ESCOLARIDADE
Superior Completo - Graduação Superior Completo - Pós PHD Superior Completo - Pós Graduação Superior Completo - Mestrado
Superior Completo - PHD
Superior Completo - Mestrado Superior Completo - Pós Graduação Superior Completo Graduação
Superior Completo - PHD
Superior Completo - Pós PHD
0
20
40
60
80
FAIXA DE RENDA INDIVIDUAL (SM R$ 622,00)
Até um salário mínimo 1 a 3 salários mínimos 3 a 5 salários mínimos 5 a 8 salários mínimos 8 a 10 salários mínimos 10 a 15 salários mínimos
Trata-se de um a c arreira que requer graduação em ensino superior, e a prática exige m uitas horas de dedicação, fato que dificulta a conciliação do trabalho com outras atividades. Em bora a concepção de projetos de edifício seja o cam po m ais tradicional da arquitetura, a grade curricular de m uitas escolas é bastante diversa e perm ite a inserção em um cam po m últiplo, para 31
Font e: Cens o IB GE 2010
além das atividades relacionadas à tradicional produção do edifício, c om o podem os atestar nas áreas de atuação do Censo do CAU ÁREAS DE AT UAÇÃO NOS ÚLT IM OS 2 ANOS De scrição Arquite tura de Inte riore s. Arquite tura e Urbanismo – conce pção. Arquite tura e Urbanismo – e xe cução. Arquite tura Paisagística. Enge nharia de Se gurança do T rabalho. Ensino. Ge oproce ssame nto e corre latas. Instalaçõe s e e quipame ntos Patrimônio Histórico. Plane jame nto Urbano e Re gional. Se rv iço/Funcionário público. Siste mas construtiv os e e struturais. T e cnologia e re sistê ncia dos mate riais. T opografia. Outra. T OT AL DE CIT AÇÕES
QT DE 36877 57950
% 16,74% 26,30%
41102
18,65%
11646 2248
5,29% 1,02%
6717 2046
3,05% 0,93%
10573
4,80%
5060 10362
2,30% 4,70%
11505
5,22%
7126
3,23%
1312
0,60%
2484 13326 220334
1,13% 6,05% 100,00%
OUT RAS ÁREAS DE AT UAÇÃO NOS ÚLT IM OS 2 ANOS ÁREAS DE AT UAÇÃO OBRAS CONSULT ORIA (DIVERSAS) FISCALIZAÇ ÃO GERENCIAM ENT O DE PROJET OS DESIGN ORÇAM ENT O AVAL I AÇ ÃO DE IM ÓVEIS CONST RUÇÃO CIVIL CENOGRAFIA INCORPORAÇÃO PESQUISA M EIO AM BIENT E ILUM INAÇÃO / LUM INOT ÉCNICA COORDENAÇÃO DE PROJET OS
QT DE 1339 451 434 357
%SUB 25,78% 8,68% 8,36% 6,87%
356 325 279 253 233 214 197 192 192
6,86% 6,26% 5,37% 4,87% 4,49% 4,12% 3,79% 3,70% 3,70%
191
3,68%
ARQUIT ET URA HOSPIT ALAR T RANSPORT E GERENCIAM ENT O DE OBRAS APOSENT ADO(A) NENHUM A ACESSIBILID ADE COM UNICAÇÃO VISUAL GEST ÃO DE PROJET OS REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA LICENCIAM ENT O AM BIENT AL ARQUIT ET URA PROM OCIONAL NÃO INFORM ADO VENDAS ARQUIT ET URA INDUST RIAL GERENCIAM ENT O DESENHO INDUST RIAL T OT AL
180
3,47%
133 122
2,56% 2,35%
108 110 94 91 90 89
2,08% 2,12% 1,81% 1,75% 1,73% 1,71%
89
1,71%
84
1,62%
71 66 62 45 8
1,37% 1,27% 1,19% 0,87% 0,15%
5193
100,00%
Nessas tabelas existem duas inform ações m ais significativas; é notável a porcentagem elevada das áreas de atuação de Arquitetura de Interiores, e em Arquitetura e Urbanism o referente a concepção e à execução, que som adas alcançam m ais da m etade das áreas de atuação da carreira. Em bora não haja a descrim inação por gênero nas tabelas apresentadas existem alguns estudos que atestam m aior presença fem inina na área de decoração de interiores, corroborando com alguns estereótipos de que a m ulher “naturalm ente” teria m aior fam iliaridade com “assuntos do lar”. Com o já foi afirm ado por Lim a, explicitado anteriorm ente, a m ulher tem pouca relevância na produção de edifícios institucionais de uso coletivo, m as tem m aior visibilidade na produção de espaços de habitação e reform as e decoração de espaços privados. Sobre isso, Elena Salvatori afirm a: “(..)quase na totalidade dos casos, no m om ento m esm o que divide sua atividade com um profissional do sexo m asculino, a arquiteta irá prescindir de ocupar-se da execução de obras, e outros serviços, externos e públicos, com o fiscalização, coordenação de equipes ou resolução de problem as no canteiro- que cabem ao seu parceiro. A m ulher parece inclinar -se de um m odo quase “natural”, com as esferas m ais “inter nas” e “privadas ”, com o a coordenação do trabalho no escritório, os projetos de arquitetura residencial e de interiores[...] Ou seja, se pode escolher, a arquiteta declina de m uitas de suas atribuições, ou m elhor, reduz-se a um âm bito m ais confortável, enquanto reproduz, profiss ionalm ente, os papéis sociais convencionais de gênero presentes na cultura brasileira. Apesar disso, outras experiências com provam que as tradicionais qualidades fem ininas podem ser vantajosas nas questões que tratam de relações hum anas. Quando estam os pre sentes
na construção, por exem plo, parecem ser m ais raras as dem andas judiciais com em pregados e contratados” 32 Durand tam bém afirm a que a arquitetura, por sua natureza, se define com o um a “arte aplicada e regulam entada com o objeto de categoria profissional ‘liberal’ ” , e m ostra que a form ação de um cam po autônom o de arquitetura no Brasil teve início com o apoio do gover no e de particulares, suprindo os arquitetos com encom endas. Esta car acterística se perdurou nos tem pos atuais, e podem os com prova-la ao observarm os a tabela de fontes de renda do Censo. OUT RAS ÁREAS DE AT UAÇÃO NOS ÚLT IM OS 2 ANOS CATEGORIAS
QUANTIDAD E (de arquitetos urbanistas) Apose ntado/Pe nsi oni st a 2969 Assalariado se tor 18137 priv ado em áre as ligadas a Arquite tura e Urbanismo Assalariado se tor 1049 priv ado e m áre as não ligadas a Arquite tura e Urbanismo Assalariado se tor 13891 público em áre as ligadas a Arquite tura e Urbanismo Assalariado se tor 2854 público e m áre as não ligadas a Arquite tura e Urbanismo Autônomo 33010 e mpre e nde dor e m áre as ligadas a Arquite tura e Urbanismo Autônomo 2605 e mpre e nde dor e m áre as não ligadas a Arquite tura e Urbanismo Empre sário em áre a 14750 ligadas a Arquite tura e Urbanismo Empre sário ligado a 4541 outras áre as Outras fonte s 4512 Re nda prov e nie nte de 2461 alugue l Se guro-de se mpre go 280
32
S á, Op. c it . p. 70
% e 2,94% 17,95%
1,04%
13,75%
2,82%
32,66%
2,58%
14,60%
4,49% 4,46% 2,44% 0,28%
1.5 .
Questões de Gênero
Considerando que o sexo do arquiteto não interfira na qualidade da produção, é possível identificar algum as questões de diferença de gênero além das já atestadas nos capítulos anteriores. Além das ausências identificadas, existem alguns desafios que perm eiam rotineiram ente o exercício da sua profissão. Um a das dificuldades entre a diferença de sexos é distinção de rem uneração em alguns escritórios. Flávia Sá 33 aponta que m uitas vezes as profissionais com a m esm a capacidade intelectual ganham m enos que os hom ens, m as faz um a ressalva que entre as arquitetas entrevistadas por ela não há consenso quanto a diferença salarial. Para Tabitha Ponte 34 autora do livro To becom e an architect (a guide, m ostly for wom en), que se baseia em entrevistas e em experiências da autora, a diferença salarial está entre os principais desafios para as m ulheres . com provável tam bém em um a pesquisa do Banco Interam erican o de Desenvolvim ento (BID) 35 Um a questão que m ais diz respeito à m ulher, e que a diferencia do hom em na questão de trabalho é a m aternidade. A criação dos filhos, com o foi m ostrado por Bruschini acim a, e a conciliação com o trabalho extra dom éstico, cabe apenas praticam ente à m ulher. Em um a profissão que exige m uitas horas de dedicação, é difícil esta conciliação, e algum as vezes as m ulheres são obrigadas a escolher entre um a das atribuições . Em um artigo concedido à revista AU 36, há os depoim entos de algum as arquitetas; “M as essa é um a questão delicada, principalm ente em tem pos em que arquitetas -funcionárias nem sem pre são registradas em um regim e CLT. Nestes casos, restam os acordos com os chefes e donos de em presa. "Lem bro de um a funcionária de um a em presa em que trabalhava que ficou grávida e os chefes fizeram um acordo. Pouco depois de dar à luz ela já estava de volta", conta a arquiteta Ursula Troncoso. "O fato de term os essa cultura de que só um a pessoa que trabalha m uito pode ser bem -sucedida atrapalha que esses acordos sejam saudáveis. Faz com que alguém que queira curtir suas férias, seus filhos, seu m arido seja um problem a, um a m ulher pouco confiável, que não sabe trabalhar. Enquanto alguém que dias depois de ter filho volta ao trabalho é um indicativo de que é ponta firm e", conclui Ursula.” Este depoim ento evidenc ia que a m ulher necessita apresentar m ais força e provar trabalho para conquistar um status m ais respeitável . Ainda existem dificuldades decorrentes do m achism o existente no am biente de trabalho, m uitos hom ens tem a dificuldade de aceitar ordens de m ulhere s, com o afirm a Barbara Bratke 37. A arquiteta Solange Frasão 38 afirm a que a m aior 33 34 35 36 37
S á. Op. c it , p. 82 A rt igo da Revis t a A U – “Mulher es na arquit et u r a, quais s eus des afio s ” , 2012 E s t udo do B ID, 2012 Idem Revis t a A U S á, Op. c it , p. 95
dificuldade era com o am biente de canteiro, afirm ava que no com eço do trabalho, lidar com em preiteiros, pedreiros e m estre de obras era difícil por causa do preconceito, m as aos poucos foi conquistando segurança e superando a questão. Mas tam bém algum as arquitetas apontam que esta questão de gênero é irrelevante, e felizm ente não são discrim inadas pelo sim ples fato de ser m ulher.
38
Idem Revis t a A U
2. No canteiro de obras
2.1. Breve contexto da Construção Civil no Brasil 2.1.1. Principais características econômicas e sociais Em um a entrevista concedida ao jornal The Guardian, a star architect Zaha Hadid, ao ser indagada sobre as dezenas de m ortes de operários na construção de obras de Copa do Mundo do Qatar, em que se inclui um estádio de sua autoria, respondeu: "Não tenho nada a ver com os trabalhadores. Acho que esse é um assunto que o governo - se houver algum problem a - deveria tratar. Esperam os que estas coisas sejam resolvidas." 39 Esta declaração, além de dem onstrar certo descaso com a vida hum ana, exem plifica o distanciam ento do processo de concepção do desenho do projeto arquitetônico, à sua execução no canteiro de obras, evidenciando a separação do trabalho intelectual do m anual. A condição dessas inter relações entre essas esferas da construção civil já foram suficientem ente analisadas por Sérgio Ferro, que tam bém discorreu am plam ente sobre as espec ificidades intrínsecas à construção, classificando -a com o alegoria do subdesenvolvim e nt o. Para o esboço desse breve contexto da Construção Civil no Brasil, serão esclarecidas algum as dessas especificidades, já teorizadas por alguns sociólogos, e com o elas se apresentam nas condições de trabalho do setor no país. Sobre tais especificidades, Pedro Arantes 40 ao analisar diversos pesquisadores da construção, indica algum as características da form a canteiro 41: “As principais características da form a -canteiro são: não repetitividade das tarefas e extrem a variabilidade dos tipos de obras, o que torna altam ente im provável o estabelecim ento de series estáveis de postos de trabalho taylorizados; caráter parcial e na m aioria dos casos m arginal da padronização dos elem entos utilizados no produto final, em contraste com os setores fordistas; irregularidade das tarefas no tem po, com variações m uito m aiores do que na indústria; extrem a dificuldade de program ação do trabalho, o que solicita um a form a de gestão original e es pecífica do setor para responder à im previsibilidade; produtos im plantados no solo, de tal m odo que é o próprio processo de trabalho, em todo o seu conjunto, que circula e deve se adaptar cada vez a um suporte diferente “ Os dados abaixo, extraídos de Estudos Setoriais principalm ente, corroboram com as características explicitadas por Pedro Arantes com o à condição de rotatividade, que resulta em um baixo núm ero de trabalhadores com carteira assinada, por serem prestadores de serviços efêm eros, inseguran ça, e
E nt revis t a c onc edida ao The Guardia n, c it ada no A rc hDaily , “ Zaha Hadid s obre a mort e de t rabalha d or es no Qat ar: " Não é meu dever c omo arquit et a" , A bril 2014 40 “A rquit et u r a na era digit al -fi na nc ei r a, des enho, c ant eiro e renda da forma, P edro Fiori A rant es , 2010 41 Idem. p. 150 39
baixos salários, além de outras características que serão explicitadas m ais adiante. A atividade construtiva é com posta por três segm entos: construção de edifícios form ado pelas obras de edificações ou residenciais e, por obras de incorporação de em preendim entos im obiliários; da construção pesada ou obras de infraestrutura ; e de serviços especializados 42 Apesar dos investim entos recentes em obras de infraestrutura, estas ainda apresentam parcela reduzida das ocupações; observa -se que a construção e incorporação de edifícios corresponde aproxim adam ente a 2/3 dos postos de trabalho do setor, seguida pelos serviços especializados para a construção. A cadeia da Construção Civil envolve diversos setores industriais produtores de insum os, equipam entos e s erviços direcionados aos diferentes subsetores. Por essa razão, constitui -se com o um dos setores chave da econom ia, para geração de em prego, absorvendo grande quantidade de m ão de obra qualificada e não qualificada. Im pulsiona outras cadeias produtivas e tem im portância no fortalecim ento do m ercado interno, porque aqui se obtém as m atérias -prim as e insum os, que são convertidos em bens de alto valor agregado. O setor provoca um resultado m ultiplicador nos dem ais setores da econom ia, por isso tem fornecido um a im portante contribuição para o crescim ento das econom ias de países de recente industrialização . Núme ro de Ocupados na Construção se gundo a posição na ocupação Brasil 2009-2011
43
42
c onforme as divis ões 41, 42 e 43, da Clas s ific aç ão Nac ional de A t ividade E c onômic a – CNA E 2. 0 (IB GE ) 43 Font e IB GE . P nad. E laboraç ão DIE E S E em E s t udo S et orial da Cons t ruç ão Civil 2012
6
No que diz respeito as características de em prego, o setor caracteriza -se pela inform alidade e alta rotatividade. Segundo o DIEESE 44 a participação de trabalhadores por conta própria alcançou o contingente de 3,2 m ilhões, correspondente a cerca de 42,0% do total de ocupados, que , som ado ao efetivo de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada, 1,7 m ilhão com participação de 22,0% no conjunto do setor, totalizam um a participação superior a 60% dos ocupados na construção. É interessante observar, na tabela acim a, na discrim inação por gênero, que, em term os relativos, há m ais m ulheres com carteira assinada do que hom ens. Na tabela tam bém é possível observar o predom ínio do trabalhador por contra própria. O que diferencia o trabalhador por conta própria do trabalhador assalariado é que o prim eiro detém a posse dos instrum entos de trabalho, além das com petências necessárias para o exercício da atividade. Estudo realizado pelo DIEESE e Fundação Seade/SP 45, levantou algum as características do trabalhador por conta própria no setor d a construção, tais com o baixa escolaridade; rendim entos m enores em relação ao trabalhador protegido e extensas jornadas de trabalho. Outra característica m arcante dos trabalhadores por conta própria, é a baixa adesão ao sistem a previdenciário, um a vez que apenas 15,8% contribuem para a Previdência Social, enquanto outros 84,2% estão à m argem de qualquer benefício previdenciário, confirm ando m ais um a vez a alta inform alidade existente no setor. A outra característica referida, o fenôm eno da rotatividade, qu e é a curta duração do contrato do trabalhador, considerando a efem eridade das obras, causa m aus efeitos ao trabalhador brasileiro, a rotatividade gera insegurança em relação à m anutenção do posto de trabalho, além de rebaixam ento da rem uneração. É tam bém um m ecanism o de dificultar possíveis retaliações às m ás condições de trabalho, através da organização de sindicatos, etc. Para o em pregador, a utilização da rotatividade representa m ais um m ecanism o de redução de custos. Os trabalhadores geralm ente estão sujeitos a extensas jornadas e baixos rendim entos, com o m ostram os estudos do DIEESE horas A jornada de trabalho varia conform e a cidade do país, m as a m édia, segundo o é de 44 horas sem anais. A jornada sem anal m édia do setor em 2011 superou a verificada para o total dos ocupados. Especificam ente em Recife, a jornada m édia na Construção alcançou o patam ar de 47 horas. Quanto à rem uneração m édia dos trabalhadores da Construção; o rendim ento real m édio dos ocupados na Construção é inferior ao do total de ocu pados em todas as regiões consideradas no estudo, as inform ações que constam na tabela abaixo, m ostram que as em presas que atuam no setor pagaram em m édia R$ 1.484,67, em 2011, o que significa um aum ento de 10,5% em relação a 2010. Observa-se tam bém que Rondônia (R$ 2.062,86); Distrito Federal (R$ 1.992,53); Rio de Janeiro (R$ 1.762,09) e, São Paulo (R$ 1.725,36) apresentaram as m aiores rem unerações. No caso de Rondônia, esse valor pode ser explicado pelo volum e de grandes obras existentes no local, além da valorização do salário m ínim o nos últim os anos, que tem im pacto direto nos pisos salariais praticados em diversos estados. Por outro 44
Idem Realiz ado em 2011, c om bas e nas informaç õ es da P es quis a de E mprego e Des empre g o- P E D 45
lado, Paraíba (R$ 895,12) e Piauí (R$ 946,42), presentaram os m enores valores. Estoque de e mpre gos formais e re mune ração mé dia no se tor da construção por unidade da fe de ração 2010 e 2011
46
Existem algum as características gerais do trabalhador da construção civil, Apesar da frequente veiculação de relatos de crescim ento da participação fem inina na Construção, constata-se que este ainda é um terreno predom inantem ente m asculino. Em Fortaleza em 2011, por exem plo, 97,0% dos ocupados no setor eram hom ens. A repercussão da recente presença das m ulheres ainda é insuficiente para m odificar a configuração histórica do setor. Além de ser m ajoritariam ente m asculina, a Construção é tam bém m arcada pela inserção de trabalhadores com idade m ais avançada e m ais responsabilidades fam iliares. Aproxim adam ente 2/3 dos ocupados no setor são chefes de fam ília, o que, em algum a m edida, está associado ao perfil etário dos trabalhadores. A proporção de trabalhadores entre 40 e 59 anos na Construção ficava próxim a aos 40,0%, superando o encontrado nos dem ais setores A escolaridade da população cresceu em todas as regiões na últim a década. Todavia, a Construção ainda oferece um a alternativa de 46
B olet im Trabalh o e Cons t ruç ã o, produz ido pelo DIE E S E . Out ubro 2012
trabalho para aqueles indivíduos com baixo nível de instrução. Em 2011, a Construção foi o setor com a m aior concentração de trabalhadores com até o ensino fundam ental incom pleto. Em Fortaleza, a participação desses trabalhadores atingiu 62,2%. Com o parte do fenôm eno do aum ento da escolaridade, houve am pliação da parcela de indivíduos com curso superior c om pleto na últim a década. Ainda assim , o setor da Construção apresenta um a proporção reduzida de ocupados com esse nível de escolaridade. Em Recife, apenas 3,5% dos ocupados na Construção tinham ensino superior no período analisado. Um aspecto que é bastante significativo quanto às características da força de trabalho na Construção é o fato da im ensa quantidade de trabalhadores negros e pardos. Independentem ente da distribuição desigual da população negra no território brasileiro, a presença dela na Construção supera a encontrada em qualquer outro setor. Em 2011, 94,0% dos ocupados na Construção na Região Metropolitana de Salvador eram negros. Nos dem ais segm entos do setor, a proporção ficava em torno de 88%.
47
47
Idem
48
Quanto ao tipo das ocupações, m ais da m etade dos trabalhadores é pedreiro, auxiliar de pedreiros ou pintor. Em todas as regiões pesquisadas, o predom ínio é da ocupação de pedreiro que, em 2011, correspondia a 27,2% do contingente de trabalhadores da Construção do Di strito Federal e a 35,3% de Porto Alegre. Há tam bém forte presença da categoria ocupacional que desem penha os serviços auxiliares às tarefas dos pedreiros, os serventes de pedreiro. Em todas as regiões, os serventes são a segunda m aior categoria de ocupado s. Em m enor m edida, m as ainda de form a representativa, o setor é com posto tam bém por pintores, que som am 9,9% do contingente de trabalhadores em São Paulo., Outra condição a que estão subm etidos os trabalhadores da construção é a situações de elevado risc o e periculosidade. Lidam diariam ente com altas cargas e superam grandes alturas em estruturas frágeis. Apenas nas obras da Copa de 2014 houve oito vítim as de acidentes no trabalho. O Estudo Setorial da Construção Civil apontou um crescim ento de m ortes no setor. Em 2009, das 2.560 m ortes em decorrência do exercício do trabalho, 16% afetaram trabalhadores da Construção. Em 2011, a participação do setor passou a aproxim adam ente 17%. As m ortes no canteiro de obras da Copa no Brasil tiveram algum a repercussão m idiática, e em um a entrevista 49 que tratava sobre a m orte de um operário na construção do Estádio do Corinthians para a Copa, o Pelé afirm ou que se tratava de um ocorrido “norm al”, m ostrando que a
48
Idem Report a ge m da Folha de S ão P aulo, “P elé vê mort e no it aquerão c omo “normal e alert a para aeropo rt os . A bril 2014 49
precariedade e o risco a que se subm etem os trabalhadores são “situações norm ais, corriqueiras”, “que fazem parte do processo” As características referentes ao trabalho na construção civil, e principalm ente ao trabalhador, encontram sim ilaridades inclusive em países centrais do capitalism o, e evidenciam certas perm anências do setor; com o já foi m ostrado, se dispõem a trabalhar na Construção, hom ens e m ulheres que estão dispostos a enfrentar a vulnerabilidade im posta pelo setor, além das condições de risco, são trabalhadores que estão à m argem do capitalism o, negros, com poucos recursos e baixa escolaridade. Sobre um a condição m ais am pla em relação as ocupações trabalhistas no Brasil, incluindo a Construção, Pedro Arantes aponta: “O sociólogo alem ão Ulrich Beck descreveu as transform ações regressivas do novo m undo do trabalho e do W elfare em ruinas a partir das form as de trabalho precárias e espoliadoras tradicionais do Brasil, e as denom inou de brazilinization. A posição de Beck não é nada am bígua, pois descreve o Brasil com o “paradigm a positivo” do Adm irável m un do novo do trabalho, “com o um laboratório único, no qual nossas certezas se desfazem ”. A dualização brasileira do m ercado de trabalho, que rem onta à escravidão e a nossa form ação eternam ente inconclusa, nos alçaria novam ente à condição de “país do futuro”. Com o afirm a Paulo Arantes, “som os o real protótipo da sociedade de risco a cam inho” e queim ando novam ente etapas, nos vem os na vanguarda, quer dizer, na vanguarda da ‘superação’ do regim e de plena ocupação do trabalho do Ocidente” 50
50
A rant es , Op. c it , p. 155
2.1.2. Crescimento do setor e incorporação da mão de obra feminina
O setor da construção civil vivia um período de instabilidade até 2003. Pouco se investia, poucos recursos se disponibilizavam para construção e havia um inexpressivo financiam ento im obiliário. Contudo, conform e o estudo setorial da construção civil a par tir de 2004 51, este ram o produtivo com eçou a dar sinais de expansão, apresentando um aum ento nos investim entos em obras de infraestrutura e em unidades habitacionais. O crescim ento se deu de tal form a, que em 2010 houve o m elhor desem penho alcançado pelo s etor em 24 anos, quando registrou taxa de crescim ento de 11,6%. Este resultado decorreu de um a com binação de fatores: aum ento do crédito, queda das taxas de juros, program as de investim entos públicos em infraestrutura, redução de im postos, aum ento da renda dos ocupados e da m assa de salários. Segundo o Estudo Setorial da Construção Civil
52
:
“O setor da construção representou 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012. Em 2011, o setor possuía cerca de 7,8 m ilhões de ocupados, representando 8,4% de toda a população ocupada do país. Esta expansão foi m otivada pelo aum ento dos investim entos públicos em obras de infraestrutura e em unidades habitacionais, a partir do lançam ento de dois program as de governo: o Program a de Aceleração do Crescim ento (PAC I), em 2007, e o Program a M inha Casa, M inha Vida (PM CM V), em 2009.” Em 2009 estourou a crise m undial e a atividade na construção desacelerou em 2011, com o PIB setorial crescendo apenas 3,6%, ante os 11,6% do ano anterior. Mesm o assim , a expansão do setor foi sup erior àquela do PIB brasileiro que havia registrado 2,7%. Esta desaceleração pode ser explicada, em grande parte, pelo conjunto de m edidas m acroprudenciais adotadas pelo governo no início de 2011 e o desaquecim ento da econom ia m undial, que contribuíram par a o m enor crescim ento da econom ia brasileira, repercutindo no setor da construção. Ainda assim , o setor foi fundam ental para a recuperação da econom ia nacional frente à crise internaciona l. Além da produção intensa de habitação, é notável em âm bito m undial a m agnitude das obras de infraestrutura brasileiras, com o atesta o estudo: “Das 50 m aiores obras de infraestrutura e energia do m undo, 14 estão no Brasil, com recursos que som am R$ 250 bilhões, destinados à transposição do rio São Francisco; à construção da usina nuclear de Angra 3; ao rodoanel de São Paulo, às usinas hidrelétricas de Teles Pires e São Luiz de Tapajós, ao Com plexo Petroquím ico do Rio de Janeiro, às plataform as para a produção de petróleo do pré-sal, às obras de estádios e de acessibilidad e 51 52
realiz ado pelo DIE E S E Idem, 2012
em 2011
para a Copa do M undo de 2014 e às obras de saneam ento que com eçam a m elhorar m uitas cidades brasileiras.” Com a intensidade de obras espalhadas pelo país, a dem anda por m ão de obra cresceu e a população m asculina não foi capaz de supri -la com pletam ente. Segundo analistas de recursos hum anos, com o Fabrício Antônio Bicalho (MIP Edificações) 53 e Milécia Santos de Oliveira, a carência de m ão de obra é um a realidade, e a presença fem inina veio cooperar com essa dem anda. Dessa form a, as iniciativas públicas e privadas iniciaram um processo de qualificação da m ão de obra fem inina para trabalhar na Construção Civil. Muitos projetos surgiram pelos Estados Brasileiros, com o por exem plo, o projeto “Mulheres Pedreiras” no Ceará, “Mão na Massa” no Rio de Janeiro e “Mulheres que constroem “ em São Paulo. Na tese de Silva 54 há a indicação do m om ento em que houve essa inserção: “De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil da Região M etropolitana de Fortaleza (SITCCRM F)5, a inserção fem inina neste ram o aconteceu de form a m ais intensa, a partir do ano de 2010. Entretanto, os inform antes, tam bém , regi stram a participação das m ulheres no setor na década de 1990, m ais precisam ente entre os anos de 1994 e 1995. “ Sugere tam bém , um dos m otivos para essa incorporação, além da carência de m ão de obra: “Posteriorm ente, conform e explicam os inform antes, na in tenção de reduzir os custos nas obras e tendo em vista a falta de m ão de obra que se apresentava ao setor, os em presários encontraram na força de trabalho fem inina a solução para parte de seus problem as.” Dados do Ministério do Trabalho e Em prego - MTE (2011) nos m ostram que, no Brasil, o núm ero de trabalhadoras neste setor cresceu 65% em um a década. No ano de 2000, elas eram pouco m ais de 83 m il entre 1,094 m ilhão de pessoas em pregadas pelo setor. Em 2008, esse núm ero subiu para 137. 969. No prim eiro bim es tre do ano de 2010, 5.258 m ulheres conseguiram em prego na construção civil, ocupando 5,9% das vagas geradas no setor nesse período. Segundo dados do Rais de 2011(apenas os vínculos form ais são considerados)indicam um contingente de 240.905 vínculos fem inin os, dos quais 45,4% estão na Construção de Edifícios; 33,0% na Constr ução de Obras de Infraestrutura e 21,5% nos Serviços Especializados para a Construção. Em bora estejam em constante ascensão no cam po da Construção Civil, as m ulheres não chegam a 3% da m ão de obra do setor, se considerarm os o núm ero de ocupados na construção, conform e a prim eira tabela da pagina. É possível observar tam bém no gráfico seguin te, a pequena relevância da Report a ge m da Câmara B ras ileira da Indús t ri a da Cons t ruç ã o, “Mulheres t rabalhos de homens na c ons t ruç ão c ivil” – Janeiro 2013 53 54
em
presença fem inina, em relação aos grupam entos de atividade. É interessante tam bém observar o predom ínio fem inino na execução de serviços dom ésticos Distribuição da população ocupada, por grupame ntos de ativ idade , se gundo o se xo (%) – 2011
Distribuição pe rce ntual da população ocupada por se xo, se gundo grupame nto de ativ idade , nos me se s de jane iro/03 e jane iro/08
7
8 Fonte IBGE. Dir etor ia e Pes quis as . Pes quis a Mens al de Empr ego 2003 - 2011
Coor denaç ão de Tr abalho e Rendimento.
No gráfico seguinte, é possível ver as regiões m etropolitanas em que há m aior presença fem inina no setor. Em 2003 Salvador concentra a m aior parte dessa população, e em 2008 é Belo Horizonte Distribuição da população ocupada fe minina, por Re giõe s M e tropolitanas, se gundo o grupame nto de ativ idade e m jane iro/03 e jane iro/08
.
9
Fonte IBGE. Dir etor ia e Pes quis as . Pes quis a Mens al de Empr ego 2003 - 2011
Coor denaç ão
de
Tr abalho
e
Rendimento.
2.2. Perfil da mulher no canteiro A partir de dados encontrados em Silva, Resende e diversas reportagens na internet, foi possível delinear um perfil dessa s novas operárias. Considerando as entrevistadas das teses, a idade entre as m ulheres varia de 20 a 54 anos. Na pesquisa de Resende, observa -se que 55% das entrevistadas estão na faixa de 31 a 44 anos e possuem do ensino fundam ental com pleto a m édio incom pleto, sinalizando que m ulheres m aduras e m ais escolarizadas estão vislum brando na Construção Civil um a opção para sua recolocação profissional, A m esm a pesquisa revela que a m aioria absoluta, 95% das entrevistadas, possui filhos, 60% são solteiras e um a é divorciada, o que indica que são responsáveis pelo sustento da fam ília. A presença de filhos, o ciclo de vida das trabalhadoras, sua posição no grupo fam iliar e a necessidade de prover ou com plem entar o sustento do lar estão sem pre presentes nas decisões das m ulheres de inserir ou continuar no m ercado de trabalho. Isso m ostra a capacidade fem inina em ter m últiplas ocupações. Segundo Silva, a suas entrevistadas tiveram dificuldades iniciais em conciliar o novo ofício a vida dom éstica, m as ainda assim perm aneceram no cargo. As m ulheres que se inserem na construção, buscam nesse novo ofício a possibilidade de crescim ento na carreira, e aprim oram ento de práticas, anseios que eram m ais lim itados considerando a origem de m uitas dessas m ulheres. Segundo Resende 55, 35% dessas profissionais ocupavam cargo anterior de faxineira em em presas ou em casas de fam ília. Vislum bram , além da possibilidade de ascensão, salários m ais elevados, independência financeira, conquista de autoestim a e algum a regulam entação. Trabalhar c om o pedreira, situação aparentem ente im pensável anos atrás, causa surpresa e adm iração a m uitos am igos e fam iliares dessas m ulheres, m uitas se orgulham do trabalho que são capazes de exercer, que antes era considerado “de hom em ”. Entretanto, esse novo ofici o tam bém provoca rejeição a alguns fam iliares delas, a m aioria, im pregnada por opiniões m achistas e preconceituosas, vê com m aus olhos a atuação da m ulher em serviços brutos junto com hom ens.
“Mulheres em ambient es mas c uliniz ad os ”, Maria Cris t ina Rodrigu es Res ende, 2012 55
2.3. Questões de Gênero Pelo fato de haver discrepância salarial em função da diferença de ocupação entre hom ens e m ulheres, em que há a distinção sexista, considerou -se a rem uneração tam bém com o um a “questão de gênero” No que diz respeito a rem uneração das m ulheres, o Estudo Setorial da Construção Civil 56 apres enta um quadro: A rem uneração m édia paga as m ulheres no setor, alcançou, em 2011, o valor de R$ 1.736,64. No segm ento de Construção de Obras de Infraestrutura, o valor m édio pago foi de R$ 1.985,22; seguido pela Construção de Edifícios (R$ 1.734,44) e Serviços Especializa dos para Construção (R$ 1.351,95). Ressalta -se que o segm ento de Construção de Obras de Infraestrutura apresenta o m aior valor pago, o que pode ser explicado, em parte, por dem andar m ão-de-obra m ais especializada (qualificada), além de ser, ainda, baixa a participação quantitativa das m ulheres, o que acaba por influenciar o valor da rem uneração m édia As m ulheres, devido a sua m enor força física, são encarregadas de serviços m ais “leves”. Além disso, são consideradas naturalm ente m ais perfeccionistas e detalhistas. Ocupam -se principalm ente dos cargos de serventes, azuleijistas, rejuntadoras, eletricistas, e são m uitas vezes, responsáveis pela lim peza da obra. Segundo Resende, suas entrevistadas não encontram m uitas dificuldades em lidar com os serviços diários. As críticas vêm principalm ente das serventes que tem um trabalho m ais pesado, necessitam carregar m uito peso. Apenas um a de suas entrevistadas acusou o problem a do preconceito no am biente de trabalho. A m aioria apontou o am biente com o um lugar saudável(em bora insalubre) onde havia respeito por parte dos hom ens. O preconceito está m uito m ais fora do canteiro do que dentro dele. Apesar de o am biente ter sido considerado respeitoso, é exigido um “perfil psicológico” da m ulher para trabalhar no canteiro. Em Silva, observa-se que a negação da fem inilidade é um dos quesitos recorrentes no processo seletivo, segundo um depoim ento de um a das entrevistadas pela pesquisadora: “Quando você conversa, você verifica se aquela pessoa é m ais fem inina, m ais delicada ou não. Então, assim , eu ia m uito por isso tam bém , tinham pessoas que vinham aqui e queriam oportunidade, m as assim , m uito fem ininas, m uito delicadas, você via que não tinha o perfil nem para lidar lá no cam po (RUTE, CONTRATANTE).” Nesse sentido, fica evidente que a adm issão das m ulheres nesse setor passa por parâm etros de m asculinidade, ou seja, elas precisam , de certa form a, esconder sua fem inilidade para poderem ser aceitas. 56Op. c t .
2012
Segundo trabalhadoras entrevistadas em reportagens, há um “m anual de etiqueta do canteiro”, em que m uitas vaidades fem ininas são suprim idas por questões de segurança ou por questões com portam entais, por se tratar de um am biente m asculinizado, o ideal é que não haja atração pelos trabalhadores. Segundo Resende, esta seria um a form a da m ul her ser m elhor aceita. Na m esm a pesquisa, m ostra-se que o trabalho fem inino é constantem ente elogiado pela chefia, e até pelos próprios hom ens que ocupam o m esm o cargo. O perfeccionism o e o esm ero são qualidades pontuadas pela chefia. Além disso, são pontuais e com prom etidas.
d) Resultados Os resultados se direcionam m ais no sentido de se evidenciar em núm eros algum as das percepções que m otivaram a pesquisa; sentia -se que a carreira da arquitetura se fem inizava, e as possíveis transform ações no canteiro, que passava a incorporar a m ão de obra fem inina. Quanto ao processo de fem inização da arquitetura, e os dados relativos às características da ocupação no Brasil foram obtidos pelo Censo do Conselho de Arquitetura e Urbanism o em 2012, que atestou estatisti cam ente o fenôm eno que vem ocorrendo desde a década de 1990. Segundo dados do Censo, as m ulheres representam 61% dos profissionais do país, e a sua predom inância encontra-se em faixas etárias m ais jovens. Enquanto entre os profissionais com idades entre 41 e 50 anos as m ulheres são pouco m ais que a m etade (57,4%), entre os 20 e 25 a anos essa taxa é de 78,3%. Os hom ens são m aioria apenas na faixa acim a de 61 anos, são 71% do total. Dados que m ostram a diferença de gêneros entre as gerações. As escolas estudadas por Flávia Sá tam bém evidenciam este processo na graduação, m ostrando que as décadas de 1970 e 1980 foram os períodos em houve m aior avanço na porcentagem de m ulheres form adas, coincidindo justam ente com o período em que houve m aior cr escim ento de arquitetas no país. No âm bito da incorporação da m ão de obra fem inina no canteiro, os resultados m ais relevantes, em bora discretos, se referem à pequena porcentagem da m ulher no setor. Com provavel na tabela a seguir. Em bora tenha sido pauta de diversas reportagens, o processo ainda é m uito recente, m as não pouco significativo .
Distribuição da população ocupada, por grupame ntos de ativ idade , se gundo o se xo (%) – 2011
As tabelas que m ostram alguns dados curiosos, com o o m aior núm ero de m ulheres com carteira assinada
A discrepância salarial entre os sexos é difícil de com provar pois oscila conform e os em pregadores, m as alguns estudos e depoim entos m ostraram que existe a diferença salarial, e o hom em recebe m aior rem uneração em geral.
e) Considerações finais
Em relação a inserção da m ulher no m ercado de trabalho, tem a am plam ente estudado em diversos âm bitos acadêm icos, é possível afirm ar que ocorre um processo de transform ações e perm anências. Algum as transform ações, com o a consolidação de m ulheres em carreiras de gerência e de nível superior, consideradas de prestígio são evidentes desde a década de 1990, e se destaca a inserção da m ulher no setor da construção civil, cam po estritam ente m asculinizado. É possível identificar algum as perm anências, principalm ente em relação à tendência histórica do trabalho fem inino, os "guetos" fem ininos, com o m agistério, enferm agem , e serviço dom éstico profissional. Observa -se em m uitas carreiras a discrepância salarial entre os sexos. Além disso, às m ulheres cabe a conciliação do serviço profissional com as responsabilidades dom ésticas, com o afazeres do lar, e cuidados com os filhos. É interessante observar que tanto no ofício de pedreira, com o no de arquiteta, ocorreu a incorporação da m ulher em um m om ento que houve um desinteresse m asculino pela carreira, dadas as condições de precariedade e instabilidade das carreiras. No prim eiro caso, um dos m otivos que justifica a incorporação da m ulher, é a carência de m ão de obra m asculina, que teria m igrado para outros setores m ais atrativos, com o o de serviços. No segundo caso, um a das razões levantadas para a incorporação da m ulher, é que o período era instável para a carreira, e os hom ens teriam m igrado para outras profissões, restando à m ulher a inserção e m um a carreira m enos estável. A histórica ligação fem inina com o am biente dom éstico é com plexa, e a com preensão de sua presença histórica na vida da m ulher perm itiu o esclarecim ento de algum as situações. Nos Estados Unidos e Europa, o convívio com o lar serviu de repertório para a produção teórica e prática da m ulher na questão da habitação, abrindo o cam inho para as m ulheres nesse âm bito. Ao m esm o tem po, se há certa credibilidade em relação a com petência da m ulher em produzir residências privadas e atuar n a decoração de interiores, há um certo preconceito, apontado por Lim a principalm ente, que a m ulher seja capaz de produzir espaços coletivos, com o grandes edifícios institucionais, questão que tam bém foi apresentada por arquitetas ao longo dos depoim entos encontrados. Flávia Sá tam bém aponta através de outros pesquisadores, que a m ulher teria um a “atribuição natural” com a decoração, e pelo fato da arquitetura se aproxim ar m ais com o design de interiores do que com a engenharia, seria um a carreira que atrairia as m ulheres. No âm bito do canteiro, elas assum em funções do revestim ento da obra, cargos de pintoras e azulejistas, por serem “m ais cuidadosas e detalhistas”. Se por um lado a arquitetura ratifica de certo m odo esses estereótipos, a m ulher na constru ção civil os supera. A interpretação dessas condições leva a crer que os estereótipos construídos em relação aos gêneros ainda perm anecem ; a m ulher teria m ais facilidade em “pensar o am biente dom éstico” através da decoração, por ter m aior fam iliaridade com o am biente privado, enquanto o am biente público
caberia ao hom em , fato que foi apontado com o um a condição que dificulta a adm issão de projetos de espaços coletivos pela m ulher. É possível observar algo curioso da relação da m ulher com o am biente dom éstico, pois se historicam ente a m ulher de classe m édia/m édia alta se deslocou do am biente dom éstico, para diversas profissões de prestígio, com o a arquitetura, atualm ente, a m ulher de classe m ais baixa, que é em pregada dom éstica profissional, tem m igrado para a Construção Civil, pois enxerga nesse ofício um a possiblidade de ascensão e aprendizado, algo que o serviço dom éstico não ofereceria. Isso não significa, contudo, m aior estabilidade , visto as condições oscilantes de trabalho do setor Nas duas esferas, os depoim entos m ostram que a m ulher precisa com provar que faz um bom trabalho para ser respeitável, algo que o hom em não necessita conquistar. No canteiro, por exem plo, o ideal apontado por algum as entrevistadas pelas teses estudadas, é q ue elas deveriam possuir características m ais “m asculinas” para serem respeitadas. A im pressão final, é que as m ulheres ainda necessitam enfrentar as dificuldades relacionadas a condição de gênero. Nesse quesito, se com pararm os com a operária do canteiro de obras, o cam inho da arquiteta ainda é m ais fácil, pois a operária ainda tem que lidar com preconceitos de cor(dado que a m aioria dos em pregados na construção civil é negra)e de classe, dada as origens socioeconôm icas de m uitas dessas m ulheres.
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Reportagens com matérias sobre o tema:
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-Mulheres em trabalhos de hom ens na construção civil http://www.cbic.org.br/sala-de-im prensa/noticia/m ulheres -em -trabalhos -dehom ens -na-construcao-ci vi l
- Mulheres se destacam em canteiro de obras da Cohab < http://www.curit ib a.p r. go v. br/ no tic ias/m u lh eres -s e -d estacam - em -can te iro de-obras -da-coha b/ 28 77 0 >
- Mulheres encontram espaço no canteiro de obra s <http://www.istoed in he ir o.com . br/ no tic ias/ 11 40 47 _ MUL HERES+CONQ UIST A M+ESPACO+NOS+CANTE IROS+DE+OBR AS >
- Mulheres m arcam presença no canteiro de obras < http://casa.abr il .com . br/m a ter ia /m ul he res -m arc am -pres enca -n os -cant e iros de-obra > - Consultora Cam argo Correa hom enageia as m ulheres no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Jirau <http://www.newsrond on i a.com . br/ no tici as/co nstru to ra+cam ar go+co rre a+h om enageia+as+m ulher es+no+ca nt ei ro+ de+o br as+da+ usin a+h id re le tric a+j ira >
- Visita ao canteiro de obras do program a Mulheres na Construção < http://www.m ulher .d f. go v. br/m i d ia/ fo tos/c ate go ry/6 - visit a- ao-ca nt ei ro- de obras -do-program a-m ul her es -n a-co nstruc ao. htm l >
- Lugar de m ulher é nos canteiros de obra < http://www.cbic.or g. br/sa la -d e-im p re nsa/ no tici a/ lu ga r-d e-m u lh er- e-n ocanteiro-de-obr as >
- Presença de m ulheres m uda visual nos canteiros de obra < http://www.drth ia go du art e.com . br /n ot icias/ 13 /6 39 - pr esenca -d e-m u lh eres m uda-visual-nos -ca nte ir os -d e-o br as >
- Sindicato da Construção Civil fala sobre Dia Internacion al da Mulher nos canteiros de obra < http://cspconlut as.o rg .br /2 01 3/ 03/s in dica to -d a-cons truca o-ci vil- fa la -sob reo-dia-intern acio na l- de- l uta -d a-m u lh er-t ra ba lh ad ora / > - No Am azonas, m ulheres conquistam espaço e boa renda na construção civil < http://www.d24 am .com /n ot icias/ am azo nas/ no - am azo nas -m u lh eres conquistam -espaco-e-b oa -re nd a-n a-co nstr ucao-c ivi l/8 18 22 > - Operadora de Guindastes < http://vilam u lh er. te rra .com .br /o pe ra dor a -d e- gu in dast es -5- 1- 37- 11 9. htm l >
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