Expo 25 de Abril Vigo 2013

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Exposição “25 de Abril | Imagem e Texto” Bem-vindas e bem-vindos a esta pequena exposição! Até finais de abril, pretendemos antecipar-nos às atividades do quadragésimo aniversário da Revolução do Cravos de 1974, que terá lugar em 2014. Por enquanto, a nossa intenção é a divulgação do conhecimento sobre este período decisivo da história portuguesa recente entre estudantes, e outro público interessado da Universidade de Vigo, através de:  exemplos iconográficos (cartazes políticos originais),  biografias sintetizadas de partidos políticos e de algumas personagens destacadas,  uma seleção de livros e revistas de temática relacionada,  uma cronologia dos acontecimentos entre 1958 e 1976 e  uma seleção de poemas emblemáticas sobre a própria revolução e a identidade portuguesas.

O momento pareceu-nos apropriado, uma vez que nas manifestações portuguesas dos últimos três anos, desencadeadas pela crise, reapareceram com força certas ideias e elementos relacionados com a Revolução de Abril, nomeadamente, a canção “Grândola, vila morena” de José Afonso. Por isso, a nossa documentação inclui, também, alguns exemplos poéticos e outras referências de atualidade. Naturalmente, esta exposição só pode oferecer uma visão parcial da grande diversidade dos aspetos relacionados com esta revolução: iconográficos, historiográficos, literários e de receção cultural em geral. Porém, também contámos com o apoio de estudantes de várias turmas de Língua Portuguesa da Faculdade e que compuseram uma série de textos sobre temas deste momento histórico. Convidamos a toda a gente que visita esta exposição de passar pelos três espaços, nos quais esta se desenvolve: o hall da biblioteca, a própria biblioteca e o hall principal deste pavilhão. Podem levar poemas e outros textos, deixar comentários no livro de visitas ou, também, realizar um graffiti no quadro disponibilizado para este fim.


Exposição “25 de Abril | Imagem e Texto”

Biografias sintetizadas dos partidos políticos e informação sobre os cartazes


Cartazes Políticos Originais – 1975-1978 Os cartazes aqui expostos são todos originais das campanhas eleitorais dos anos 1975-1978. Excepto os cartazes do Partido Socialista, todos estiveram colados nas paredes de diferentes edifícios da cidade de Lisboa e arredores. Nestes anos, cartazes e murais tinham transformado as cidades e vilas portuguesas, enchendo o espaço público com cores e expressões idealistas que no Estado Novo estavam proibidas. Como é óbvio, estes cartazes só podem representar um pequeno excerto de uma enorme variedade de formas, discursos e estéticas políticas em contínua concorrência no período pós-revolucionário. Infelizmente, faltam exemplos daqueles que estavam entre os mais espectaculares e que eram os cartazes e murais do PCTP/MRPP. Mais exemplos da grande variedade da iconografia política da Revolução e do pós-25 de Abril podem ser consultados no site do Centro de Documentação do 25 de Abril da Universidade de Coimbra , em http://www1.ci.uc.pt/cd25a.


PS – Partido Socialista – Biografia Sintetizada

Foi fundado na R.F.A. em 19 de Abril de 1973 por Mário Soares e outros socialistas. Depois do 25 de Abril integrou os seis governos provisórios e chefiou o primeiro, o segundo e o quinto governo constitucionais. Publica o jornal Portugal Socialista. Já depois de 1974 passa por várias crises internas: Manuel Serra que entrara em 1974 juntamente com outros militantes do Movimento Socialista Português (MSP) abandona o PS um ano mais tarde para fundar a Frente Socialista Popular (FSP); Lopes Cardoso sai para fundar mais tarde a União de Esquerda Democrática e Social (UEDS). O PS tem sido ao longo da sua história dirigido pelos chamados homens do aparelho: Mário Soares, Jaime Gama, Manuel Alegre e Maldonado Gonelha; pelos "históricos" liderados por Tito de Morais, Jorge Campinos, Marcelo Curto e Alfredo Carvalho; e pelos "socialistas novos" conhecidos como "ex-secretariado" liderados por Vitor Constâncio, António Guterres, e outros que defendem uma posição menos ideológica, mais eficiente e pragmática. O PS foi o partido mais votado nas eleições de 1975, com 37,8%. Desde aí tem alternado a governação com o PSD.

Mural artístico do PS em Cacém, junto GNR


PCP – Partido Comunista Português Biografia Sintetizada

Fundado em 1921, foi seu primeiro secretário geral José Carlos Rates. Em 1931 foi editado o primeiro número do jornal "Avante!", órgão oficial do PCP. Em 1945 participa no MUD – Movimento de Unidade Democrática. Durante o governo de Salazar o partido foi perseguido pelo Regime, o que levou muitos dos seus militantes à prisão. Em 1961 Álvaro Cunhal foi eleito secretário geral do partido, cargo que ocupou até 1992, altura em que foi substituído por Carlos Carvalhas. Depois do 25 de Abril de 74 participou nos 5 primeiros Governos Provisórios, tendo obtido 16,4% de votos nas primeiras eleições, em 75 e 8,8% nas eleições legislativas de 91. Em 2004 Jerónimo de Sousa assume as funções de secretário-geral do partido.

Mural artístico do PCP em Oeiras – Paço D’Arcos


PSD - Biografia Sintetizada Partido de centro direita fundado em 1974 por Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Joaquim Magalhães Mota. Na sua origem esteve fundamentalmente a chamada "Ala Liberal" da Assembleia Nacional do período anterior ao 25 de Abril, mas também inclui alguns activistas da SEDES, da CDE, e da CEUD. O seu primeiro programa político de 1974, quando ainda usava a designação de PPD, identificava-se com a "Social Democracia". Inicia a publicação do jornal Povo Livre. Em 1976, muda o nome para PSD . Entre 1974 e 1988 realizou quinze congressos. Sá Carneiro foi o primeiro secretário geral, acumulando as funções de presidente do partido e do grupo parlamentar. Outros líderes importantes são: Menéres Pimentel, Leonardo Ribeiro de Almeida, António Capucho, Ângelo Correia, Eurico de Melo, Mota Pinto, Barbosa de Melo, Rui Machete e Marcelo Rebelo de Sousa. Em 1985, Cavaco Silva, à frente do grupo dos designados "duros" ou "críticos" contra a forma de liderança de Balsemão, que acusavam de demasiado brando depois da morte de Sá Carneiro, sai vitorioso no Congresso da Figueira da Foz, e assume de forma indiscutível a liderança do partido. Depois das eleições de 1985 é nomeado Primeiro Ministro. Em 1987 e 1991 o PSD vence as eleições com maioria absoluta e Cavaco Silva mantém-se no cargo de Primeiro Ministro. Nas primeiras eleições, em 1975 obtivera 26,3% de votos. Em 1995, Fernando Nogueira é o dirigente máximo do partido. Em Outubro o PSD é derrotado nas eleições legislativas, obtendo 34,12% dos votos e passa à oposição. Entre 2002 e 2004, José Manuel Durão Barroso governa em coalição com o CDS/PP, sendo substituído por Pedro Santana Lopes que, em 2005, perde as eleições. Em 2011 o PSD torna a ganhar as eleições e Pedro Passos Coelho é nomeado Primeiro Ministro com o apoio do CDS/PP.


Movimento Democrático Português / Comissões Democráticas Eleitorais – Biografia Sintetizada Foi uma das mais importantes organizações políticas da Oposição Democrática, antes do 25 de Abril. Foi fundado em 1969, como coligação eleitoral para concorrer às eleições legislativas. Em 1973 participou no Congresso Democrático de Aveiro. Depois do 25 de Abril, fez parte de todos os Governos Provisórios, com excepção do VI, e concorreu às eleições em aliança com o PCP, integrando a coligação APU. Em 1987, em dissidência com o PCP, já não participou na coligação eleitoral CDU, apresentando-se às eleições com listas próprias. Nessa mesma data, alguns militantes dissidentes formaram a Associação de Intervenção Democrática (ID), que até hoje continua a integrar, como independente, as listas do PCP - Partido Comunista Português. Principais dirigentes eram José Manuel Tengarrinha, Luís Catarino, António Redol e Helena Cidade Moura. Em 1994 fundiu-se com o grupo editor da revista Manifesto, dando lugar lugar ao movimento Política XXI, que veio a ser uma das correntes fundadoras do Bloco de Esquerda.


União Democrática Popular – Biografia Sintetizada Organização política de tendência marxista-leninista criada em Dezembro de 1974 como uma frente de comunistas maoistas apostados em participar no "processo eleitoral burguês", nas primeiras eleições livres após o 25 de Abril. Nas eleições de 1975, 1979 e 1980 elegeu, nas suas próprias listas, um deputado ao Parlamento. Depois dessa data e até 1991, concorreu às eleições integrada nas listas do PCP. Publica os jornais A Voz do Povo e A Comuna. O XVII Congresso da UDP (2005) aprovou e formalizou a passagem do partido a associação política. A UDP foi uma das organizações políticas que integrou a fusão que deu origem ao Bloco de Esquerda no ano 2000. A actual presidente da direcção nacional é Joana Mortágua (2010), que nas eleições Legislativas de 2009 foi cabeça de lista do Bloco de Esquerda no círculo de Évora e é membro da Comissão Política deste partido.


O MFA ou “Movimento das Forças Armadas” – Biografia Sintetizada A revolução iniciada pelo MFA terminou com a ditadura do Estado Novo em Portugal, em 25 de Abril de 1974. A principal motivação deste grupo de militares era a oposição ao regime e o descontentamento pela política seguida pelo governo em relação à Guerra Colonial. A designação original do MFA era Movimento dos Capitães e encontra-se ligado a vários Decretos-Leis, por meio dos quais o regime pretendia resolver a falta de oficiais na Guerra Colonial. A recusa de Marcello Caetano em aceitar uma solução política para a guerra levou a que os oficiais de nível intermédio, que suportavam realmente o combate no ultramar, percebessem que o fim do conflito passava pelo derrube do regime do Estado Novo. Os capitães sabiam ser este também o sentimento geral da população. Sabiam ainda, após a publicação do livro de Spínola Portugal e o Futuro (fevereiro de 1974), que podiam contar com o apoio dos seus chefes militares. Em dezembro de 1973 foi eleito um Secretariado Executivo constituído por Vasco Lourenço, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves, e foram formadas várias comissões que iniciaram o processo de preparação de um golpe militar. A 5 de março de 1974, o Movimento dos Capitães passou a designar-se Movimento das Forças Armadas e foram aprovadas as suas bases programáticas, que constam de um documento distribuído nos quartéis, O Movimento, as Forças Armadas e a Nação. O programa iria depois sintetizar-se em três palavras-lema: democratizar, descolonizar e desenvolver. O ensaio geral para o derrube do regime deu-se a 16 de março de 1974, quando o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha tentou um golpe militar. Devido à falta de coordenação com outros setores do movimento, a iniciativa não teve sucesso. A conspiração que finalmente derrubou a ditadura envolveu cerca de trezentos oficiais das Forças Armadas e desenvolveu-se em menos de um ano. O golpe foi marcado para a semana de 20 a 27 de abril de 1974. Acabou por ter lugar a 25, com as tropas a serem comandadas no terreno por diversos capitães, de entre os quais o que mais se destacou e mais é recordado e associado à revolução foi Salgueiro Maia, que comandou tropas vindas da Escola Prática de Cavalaria de Santarém. No quartel da Pontinha, as operações eram dirigidas pelo então major Otelo Saraiva de Carvalho (na Sequência da Revolução este seria graduado General, tendo sido desgraduado e retomado a categoria de Major a seguir ao Golpe de 25 de Novembro de 1975, que acabou com o período de governos provisórios). Depois da revolução, o MFA sofreu várias transformações de estrutura e coube-lhe desempenhar o papel principal na recomposição das hierarquias das Forças Armadas Portuguesas até 1982.


A história da fotografia do menino com o cravo na G3

Esta fotografia, provavelmente tirada no mesmo dia 25 de Abril de 1974, tornou-se no principal ícone da Revolução dos Cravos. O fotógrafo, Sérgio Guimarães, morreu relativamenmte novo, em 1986. Era fotógrafo sobretudo de publicidade, mas também fez fotografias com outros destinos, por exemplo para livros que editou: As Paredes da Revolução, Diário de uma Revolução, O 25 de Abril visto pelas crianças. Era um membro do Partido Comunista que viveu em Paris nos anos sessenta, onde trabalhou para a Elle e frequentou o atelier de Fernand Léger. Diz ter ganho algum dinheiro com as reproduções dessa fotografia em vários países, mas que depois perdeu o controle sobre os direitos. O menino, fotografado com apenas três anos de idade, descalço, esfarrapado, a colocar um cravo numa G3, chama-se Diogo Bandeira Freire, filho de quem era, naquela altura, o proprietário dos cinemas Quarteto em Lisboa. Em 2006, aquando das comemorações do dia 10 de Junho, o Presidente da República, Aníbal Cavaco e Silva, encontrou-se com Diogo Bandeira Freire no Porto, para o homenagear. O “menino” tinha ido há 18 anos estudar para Inglaterra onde ainda vivia e onde era director financeiro de uma empresa de distribuição. Até à data em que foi contactado pela Presidência da República para estar presente nas referidas comemorações do Dia de Portugal, o "revolucionário" Diogo nunca tinha votado, nem em Portugal, nem em Inglaterra, porém afirmava envergonharse desse facto (cf. Buchholz 2009). Segundo o próprio Guimarães, «Parece que o miúdo está a colocar o cravo na G3, mas não, ele está esticado para tirar o cravo que eu lá pus em cima» (cf. Ferra 2009). Referências: Buchholz, Sofia Bragança (2009): http://31daarmada.blogs.sapo.pt/2542289.html (último acesso: 12/04/2013). Ferra, António (2009): http://funcionamento.blogspot.com.es/2009/04/o-autorda-fotografia-do-menino-com-o.html (último acesso: 12/04/2013).


Outros partidos políticos emblemáticos (sem cartazes)

Centro Democrático Social (CDS) – Biografia Sintetizada Partido de inspiração centrista democrata-cristã nas suas origens, foi fundado por Diogo Freitas do Amaral, Basílio Horta, entre outros. Foi o único partido a votar contra o texto final da Constituição de 1976. Participou nos VI, VII e VIII Governos Constitucionais (1980-1983). Em Dezembro de 1980 ver-se-ia, porém, privado de um dos seus dirigentes mais marcantes, Adelino Amaro da Costa, então Ministro da Defesa Nacional, desaparecido no mesmo acidente de aviação que vitimou Francisco Sá Carneiro. Em 1991, o CDS demarcou-se da posição federalista europeia do Partido Popular Europeu (de que o CDS fazia parte), o que conduziu à expulsão do grupo democrata-cristão. Adoptando uma orientação conservadora, o CDS passou a designar-se como "Partido Popular". Paulo Portas é o actual presidente do partido.

Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses / Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (PCTP/MRPP) – Biografia Sintetizada Partido de tendência maoísta, fundado em Setembro de 1970, sendo seu primeiro secretário-geral Arnaldo Matos. Publica: Bandeira Vermelha, como orgão teórico a partir de 1970 e Luta Popular como orgão de massas a partir de 1971. Muito activo, nos anos anteriores ao 25 de Abril sobretudo nos meios estudantis de Lisboa, manteve intensa actividade durante os anos de 1974 e 1975, contando nessa altura nas suas fileiras com algumas destacadas figuras da cena política actual, entre as quais o actual presidente da Comissão Europeia Durão Barroso e Fernando Rosas (dirigente do Bloco de Esquerdas), que entretanto abandonaram o partido. Em 1976 mudou o nome para Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses e passou a usar a sigla PCTP/MRPP. O actual líder é Garcia Pereira. O MRPP – e depois o PCTP/MRPP – ganhou fama com as suas grandes e vistosas pinturas murais.


Cronologia da Revolução Portuguesa de 1974

Em vésperas do 25 de Abril, Portugal era um país anacrónico. Último império colonial do mundo ocidental, travava uma guerra colonial em três frentes africanas e fazia face a sucessivas condenações nas Nações Unidas. Neste Portugal era rara a família que não tinha alguém a combater em África, o serviço militar durava quatro anos, a expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida, os partidos e movimentos políticos se encontravam proibidos, as prisões políticas cheias, a oposição política exilada, os sindicatos fortemente controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural vigiada. As injustiças sociais agravadas e o persistente atraso económico e cultural, num contexto que contribuía para a identificação entre o regime ditatorial e o próprio modelo de desenvolvimento capitalista, são em grande parte responsáveis pelo golpe de estado iniciado pelo Movimento dos Capitães, o posterior Movimento das Forças Armadas (MFA), e pela euforia revolucionária popular que se viveu a seguir à Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974. A 25 de Novembro de 1975, outro golpe militar pôs fim a esta euforia e à influência de uma parte da esquerda militar, do designado "Poder Popular". Este contra-golpe foi levado a cabo pelos militares da ala moderada e levou à demissão de alguns militares mais radicais, entre os quais Otelo Saraiva de Carvalho. O 25 de Novembro deu origem a uma certa estabilidade política que se tornou visível com a redacção da Primeira Constituição da República de 1976.


Maria Manuela Cruzeiro (2005) sobre o 25 de Novembro: “No fundo, os militares [moderados] acreditavam na socialdemocracia para a transição socialista, esquecendo que no resto da Europa a social democracia há muito esquecera a revolução. Passando um cheque em branco ao Partido Socialista, tomaram o desejo por realidade, tendo em vista mais um programa escrito do que uma prática política. [...] O partido [PS] mais interclassista onde cabiam desde militantes revolucionários até democratas, conservadores e até elementos de extrema direita, e que usou e abusou da sua maioria eleitoral, como argumento definitivo. Talvez fosse essa crença ingénua no PS como partido charneira da sociedade portuguesa que inspirou uma inquietante onda de linguagem revivalista por parte dos militares vitoriosos. [...] E talvez seja esta uma das mais pesadas heranças de Novembro: esse desajuste dramático entre o discurso e a realidade, que é ainda hoje a debilidade maior da vida portuguesa. Vem de trás, certamente, mas a República de Novembro acentuou fortemente essa esquizofrenia ideológica e cívica.” Alberto Seixas Santos (1982) sobre o 25 de Novembro: “Há uma hábil intenção de apagar os factos, de reduzir a complexidade a um único acontecimento. Farão do 25 de Novembro um feriado, celebrando a vitoriosa defesa da Revolução. Sim, misturaram os dados de tal maneira, que uma coisa facilmente passa por outra. Os culpados por vítimas, as palavras por factos, a propaganda pela realidade. Quando chego a uma conclusão, tudo volta ao começo, encontro-me no início de uma nova pista.” A cronologia aqui exposta, reproduz a exposição “25 de Abril memória e projecto de um tempo recente. 45 painéis com uma cronologia ilustrada (1958-1976)” do Centro de Documentação do 25 de Abril da Universidade de Coimbra.

Referências: Cruzeiro, Maria Manuela (2005): “25 de Novembro – Quantos Golpes afinal?” (http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=th10, último acesso: 13/4/13) Santos, Alberto Seixas (1982): Gestos e Fragmentos, longa-metragem. Exposição “25 de Abril memória e projecto de um tempo recente”, Centro de Documentação do 25 de abril, http://213.228.181.135/cd25a/, último acesso: 13/4/13.


A exposição “25 de Abril memória e projecto de um tempo recente” está disponível em linha.


1958

1960 A O N U aprova uma recomendação condenando o Colonialismo Português. Portugal contesta afirmando que as suas Províncias Ultramarinas não são colónias.

Campanha Presidencial do General Humberto Delgado. Américo Tomás é o Presidente eleito.

3/1

Criação, em Portugal, na clandestinidade, da Junta de Libertação Nacional.

Fuga do Forte de Peniche de dez prisioneiros políticos entre os quais Álvaro Cunhal.


1962

1961 22/1

Desvio do navio Santa Maria, levado a cabo pelo Cap. Henrique Galvão, em colaboração com o General Humberto Delgado.

1/1

Revolta de Beja. 1/ D h M MOR

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4/2

Programa para a "Democratização da República". 26/3

O Dia do Estudante é proibido em Lisboa. Os estudantes de Lisboa entram em greve. A Academia de Coimbra solidariza-se e a luta estudantil mantém-se acesa até Maio. A A A C é encerrada.

12/3

A Rádio Portugal Livre inicia as suas emissões.

Dezembro

Criação da Frente Patriótica de Libertação Nacional (Argel), no decurso da I Conferência de Forças da Oposição.

Ataque do M P L A à prisão de Luanda. Início da Guerra Colonial. A U P A desencadeia ataques no norte de Angola.

Abril

Tentativa de golpe de estado pelo General Botelho Moniz.

18/12

A União Indiana anexa, Goa, Damão e Diu.

19/12

O escultor e militante comunista José Dias Coelho é assassinado pela PI D E .


1963

1964

Cisão maoista no Partido Comunista Português. Aparecimento da F A P — Comité Marxista Leninista.

Janeiro

II Conferência da Frente Patriótica de Libertação Nacional.

Início da luta armada na Guiné.

25/9

Início da luta armada em Moçambique.


1965 Cisão na F P L N . Constituição da A S P (Acção Socialista Portuguesa).

13/2

Humberto Delgado é assassinado perto de Badajoz.

1966 Dezembro

Manifesto dos 118 pedindo a demissão de Salazar.

1967 17/5

Assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, numa primeira acção da L U A R . O golpe é dirigido por Palma Inácio.

a

Assalto à sede da 3. Região Militar em Évora: desvio de armas pela L U A R .

1968 6/9

Na sequência de uma queda, Salazar é afastado do Governo por motivos de saúde e Marcelo Caetano é nomeado Primeiro Ministro.


1969 3/2

Assassinio de Eduardo Mondlane, líder da F R E L I M O .

1970 27/7

1/10 17/4

Desencadeia-se a crise universitária de 1969, na sequência da qual é decretada greve às aulas e, mais tarde, o boicote aos exames da época de Junho.

15/5

II Congresso Republicano de Aveiro.

26/10

Eleições para a Assembleia Nacional: formação da ala liberal com os deputados Pinto Leite, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Magalhães Mota, Miller Guerra.

Criação da Intersindical.

INTERSINDICAL

17/11

O governo muda o nome da polícia política (de P I D E para DGS).


1973

1972 16/12

Massacres de Wiriyamu (Moçambique).

20/1

Assassínio de Amílcar Cabral, líder do P A I G C

4/4

III Congresso da Oposição Democrática.

Abril

Visita de Marcelo Caetano a Londres: a imprensa britânica denuncia os massacres do colonialismo português em Wiriyamu.

a

21/8

1 . reunião clandestina de capitães em Bissau.

9/9

Reunião de capitães no Monte Sobral (Alcáçovas): nascimento do Movimento das Forças Armadas.

Nas regiões libertadas, reunida a Assembleia Popular, é proclamada unilateralmente a independência do Estado da Guiné-Bissau.


1974 22/2

Publicação do livro Portugal e o Futuro do General António de Spínola.

Março

O Governo demite os Generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas.

5/3

Primeiro documento do M F A contra o regime e a Guerra Colonial.

1974 16/3

Tentativa de golpe militar. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares.

24/3

Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do M F A , na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar.

23/4

Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.

24/4

O jornal República, em breve notícia, chama a atenção para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença.

22.55 h

A transmissão da canção "E depois do Adeus", interpretada por Paulo de Carvalho, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, marca o início das operações militares contra o regime.


25/04 0.20 h A transmissão da canção "Grândola Vila Morena" de José Afonso, no programa Limite da Rádio Renascença, é sinal confirmativo de que as operações militares estão em marcha e são irreversíveis.

0.30 h às 16 h Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais (RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi).

Primeiro Comunicado do M F A difundido pelo Rádio Clube Português.

Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém estacionam no Terreiro do Paço.


As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.

Início do cerco ao Quartel do Carmo, chefiado por Salgueiro Maia, entre milhares de pessoas que apoiavam os militares revoltosos.

O Quartel do Carmo hasteia a bandeira branca


19.30 h 19.30

Rendiç Rendição de Marcelo Caetano. Caetano. ã 9 de

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20 h Disparos de elementos da P I D E / D G S sobre manifestantes fazem quatro mortos na Rua António Maria Cardoso.

26/04 Após conversa telefónica entre o General Spínola e Silva Pais rende-se a P I D E / D G S .

Apresentação da Junta de Salvação Nacional perante as câmaras da R T P .

Partida para a Madeira de Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista e outros elementos afectos ao antigo regime.

SEGUIU PARA A MADEIRA A noite, um avlfio militar, qua sa supõe *«r levantado voo do A e r ó d r o m o - Base n. * 1, Portala de Socavem, terá lavado para a Ilha da Madeira o prof. Marcello Caetano. Segundo informação quo recebemos, mas que nâo conseguimos confirmar, o goneral A n t ó n i o de S p í n o l a teria estado a despsdlr-sa do antigo Chefe do Governo. No mesmo aparelho, acrescentava a Informação, viajaram t a m b é m para o exílio os antigos ministros do Intonor, das Cbras P ú b l i c a s , da Marinha a do Exército. -

Forças militares ocupam o Largo Rafael Bordalo Pinheiro,


O General Spínola é designado Presidente da República.

Libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche.

27/4 Apresentação do Programa do Movimento das Forças Armadas.


29 29 aa 30/04 30/04

Regresso dos líderes líderes do Partido Partido Socialista Socialista (Mário (Mário Regresso Soares) ee do Partido Partido Comunista Comunista Português Português (Álvaro (Álvaro Soares) Cunhal). Cunhal).


01/05 01/05

Manifestação Manifestação do 1.0 1.° de Maio, em Lisboa, congrega cerca de 500.000 pessoas. Outras grandes manifesta· manifestações decorreram nas principais principais cidades cidades do do país. país.

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04/05 Primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias.

15/05 Tomada de posse do I Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos, do qual fazem parte, entre outros, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro.

25/05 Início das conversações com o P A I G C .

Maio Junho Grandes conflitos laborais e lutas de trabalhadores surgem nas empresas L I S N A V E , T I M E X , CTT.


Inicia-se um grande movimento popular de ocupações de casas que vai prolongar-se por vários meses. A Junta de Salvação Nacional legaliza, em 19 de Maio, as ocupações verificadas e proíbe novas ocupações.

É fixado o primeiro Salário Mínimo Nacional em 3300SOO.

Américo Tomás e Marcelo Caetano partem para o exílio no Brasil.

6/6 Conversações preliminares com a F R E L 1 M O , em Lusaka.


8/7 É criado o C O P C O N — Comando Operacional do Continente, chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho.

9/7 Resignação de Palma Carlos.

12/7 Vasco Gonçalves é indigitado por Spínola para o cargo de Primeiro Ministro.

18/7 Tomada de posse do II Governo Provisório.


27/7 Spínola reconhece o direito à independência das colónias africanas.

CONSELHO DE ESTADO LEI NÚMERO 7/74 de 27 de JULHO Tendo o Movimento das Forças Armadas, através da Junta de Salvação Nacional e dos seus representantes no Conselho de listado, considerado conveniente esclarecer o alcance do número H do capitulo B do Programa do Movimento das Forçai Armadas Portuguesa^cujo texto jaz parte integrante da Lei número 3/74, de 14 de Maio Visto o disposto no número l, i. artigo 13 da Lei número 3/74.iU II de Maio; o Conselho de Estado decrete e eu promulgo, para valer como lei constitucional, o seguinte ARTIGO I. 0 principio de qlte a solução das guerras no Ultramar é fxjlitica e não, militar, consagrado no número 8, alínea a}, do capitulo B do Programa do Movimento das Porcas Armadas, implica, de acordo com a Carta das Nações Unidas, o reconhecimento por Portugal do direito dos povos à autodeterminação. ARTIGO 2 O. reconhecimento do direito à autodeterminarão, com todas as suas consequências, inclui a aceitação da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte conespondente ao artigo J da Constituição Politica de 1933

ARTIGO 3. Compete ao Presidente da República, ouvidtts a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de P.stado e o Governo Provisório, com luir os acordos relativos ao exercido do direito reconfieiido nos artigos antecedi ntes. 1 isto <• aprovado em Const lho de Lstado Promulgado cm 2b d< Julho de IV~4 Puhlitjue-se 0 Presidam da Rtpuhlua. A \ VÔNH) Dl SPl\OI.\

Julho Agosto Greves da M A B O R , T A P , S O G A N T A L e J O R N A L D O COMÉRCIO.


12/8 Motim de ex-agentes da P I D E / D G S presos na Penitenciária de Lisboa.

28/8 Promulgação da Lei da Greve.


6/9 Acordos de Lusaka entre a F R E L I M O e o Governo Português.

7/9 Tentativa de tomada de poder pelas forgas neo-colonialistas em Lourengo Marques.

10/9 O Governo Português reconhece a Guiné-Bissau como país independente.

11/9 Apelo de Spínola à Maioria Silenciosa.

MANIFESTAÇÃO DE AO NÃO

GENERAL AOS

FIRMEZA

E FIDELIDADEI AO PROGRAMA DO

SPÍNOLA:

EXTREMISMOS

SIM Ji.

APOIO

M . F. A.


26/9 António de Spínola e Vasco Gonçalves assistem a uma corrida de toiros no Campo Pequeno. Vasco Gonçalves é apupado por manifestantes conotados com a chamada Maioria Silenciosa.

28/9 São organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. No final dessa noite, os militares substituem os civis nas barricadas. Mais de uma centena de pessoas, entre figuras gratas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes activos da manifestação abortada da Maioria Silenciosa, são detidas por Forças Militares.

30/9 Apresentação da demissão do Presidente da República General António de Spínola e nomeação do General Costa Gomes. Tomada de Posse do III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.


6/10 k4

Um dia de trabalho para a Nação" proposto pelo Primeiro Ministro.

27/10 Início das Campanhas de Dinamização Cultural, empreendidas pela 5. Divisão do E M G F A . a

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Dez./74 O Ministério da Educação e Cultura institui o Serviço Cívico Estudantil.

Dez.-Jan. O Partido Socialista lança a campanha contra a Unicidade Sindical.


15/1 Acordos de Alvor entre o Governo Português e os Movimentos de Libertação Angolanos. Fixa-se a data de independência: 11/11/75.

28/1 Militantes de vários grupos de esquerda cercam o Palácio de Cristal no Porto, local onde decorre o Congresso do Centro Democrático Social.

29/1 O M F A proíbe todas as manifestações durante o período em que se desenvolverão as manobras da N A T O em LISBOA. O desembarque previsto para o dia 31 não chega a realizar-se.


Trabalhadores rurais ocupam terras abandonadas na herdade do Picote, em Montemor-o-Novo. Início da Reforma Agrária.

7/2 Grande manifestação operária em Lisboa contra o desemprego e contra a N A T O .


21/2 Apresentação do Programa Económico de Transição, elaborado por uma equipa chefiada pelo Major Ernesto Melo Antunes.

22/2 O M F A reforça os seus poderes chamando a si um direito de veto relativo a decisões políticas fundamentais.


7-8/3 Confrontações em Setúbal entre grupos políticos. A intervenção policial provoca dois mortos e obriga à intervenção do C O P C O N .

11/3 Divisões profundas entre oficiais do M F A . Insurreição na Base Aérea de Tancos e ataque aéreo ao Quartel do R A L I . Fuga para Espanha do General Spínola e outros oficiais. Reforço da capacidade de intervenção do C O P C O N chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho.


12/3 Criação do Conselho da Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (Banca, Seguros, Transportes, etc...).

26/3 Tomada de Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

^ ^ S S n z À Ú C DA BANi-A.


11/4 Plataforma de acordo M FA/Partidos. Doze organizações partidárias subscrevem-no.

Til'

25/4 Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados dos Partidos com representação parlamentar: PS, 37,9%; P P D , 26,4%; P C P , 12,5%; C D S , 7,6%; M D P , 4,1%; U D P , 0,7%.


19/5 Início do chamado Caso República: Raul Rêgo é afastado da direcção do jornal pelos trabalhadores.

25/5 Ocupação das instalações da Rádio

Renascença.

RÁDIO RENASCENÇA ATÉ À VITÓRIA


6/6 Primeira manifestação pública da Frente de Libertação dos Açores (FLA).

25/6 Independência de Moçambique.

MOÇAMBIQUE


05/7 Independencia de Cabo Verde.

8/7 M F A divulga o Documento "Aliança P O V O / M F A. Para a construção da sociedade socialista em Portugal", propondo um papel relevante para as Assembleias Populares (democracia de base).

Julho Reagindo ao curso dos acontecimentos e à situação criada no Jornal República o Partido Socialista desencadeia manifestações de massas — a maior das quais foi a da Fonte Luminosa —, abandonando o Governo em 16 de Julho. O Partido Popular Democrático segue-lhe o exemplo. Iniciam-se as diligências para a formação de novo Governo.


12/7 Independência de S. Tomé e Príncipe.

12/7 Assalto à sede do P C P em Rio Maior.

30/7 É criado no Conselho da Revolução o Triunvirato que passa a orientá-lo. Constituem-no Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Otelo.


7/8 É divulgado o Documento Melo Antunes, apoiado pelo chamado Grupo dos Nove.

8/8 Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

10/8 Melo Antunes e apoiantes são afastados do Conselho da Revolução.

12/8 Aparecimento do chamado "Documento do C O P C O N " , em contraposição ao "Documento dos Nove".

30/8 Vasco Gonçalves é demitido do cargo de Primeiro Ministro. Iniciam-se as negociações para a formação do VI Governo Provisório, P S / P P D / P C .


10/9 Desvio de 1000 espingardas automáticas G3 do D G M 6 em Beirolas.

11/9 Manifestação dos Soldados Unidos Vencerão ( S U V ) no Porto.

19/9 Tomada de posse do VI Governo Provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo.

21-22/9 Manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa c tentativa de sequestro do Governo. Nacionalização da S E T E N A V E e dos Estaleiros de Viana do Castelo.


25/9 Manifestação dos S U V em Lisboa. Criação do A M I Agrupamento Militar de Intervenção. Nacionalização da C U F .

26/9 O Governo decide retirar ao C O P C O N "os poderes de intervenção para restabelecimento da ordem pública".

27/9 Assalto à embaixada de Espanha como medida de protesto contra a execução pelo garrote de cinco nacionalistas bascos.


9/10 Na seqüência de várias assembléias de unidade realizadas por todo o país os soldados do R A S P (Vila Nova de Gaia) entrincheiram-se no aquartelamento.

13/10 A deslocação ao Porto do Chefe do Estado Maior do Exército, General Carlos Fabião, para conversações com o Comandante da Região Militar do Norte, Brigadeiro Pires Veloso, põe termo à rebelião no R A S P .

15/10 O Governo manda selar as instalações da Renascença, ocupada desde Maio.

Rádio


7/11 Por ordem do Governo, o recém-criado A M I , faz explodir os emissores da Rádio Renascença. Confrontos violentos na região de Rio Maior entre representantes das UCP's e Cooperativas Agrícolas da Zona de Intervenção da Reforma Agrária e representantes da C A P — Confederação de Agricultores Portugueses.

12/11 Manifestação de Trabalhadores da Construção Civil cerca o Palácio de S. Bento sequestrando os deputados.

15/11 Juramento de bandeira no R A L I S — os soldados quebram as normas militares que regulamentam os juramentos de bandeira e fazem-no de punho fechado.

NOS RALIS \OV

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SOLDADOS juramos ser fieis a Patria e lutar peia sua UBERDADE e INDEPENDÊNCIA juramos estar J sempre, sempre ao lado do Povo, ao serviço da Classe Operaria, dos Camponeses e do Rm) Irabahador juramos lutar com todas as nossas capacidades, com voluntária aceitação da Disdpira Revdudcnana contra o Fascismo 1

20/11 O Conselho da Revolução decide substituir Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço no comando da Região Militar de Lisboa. O Governo anuncia a suspensão das suas actividades por alegada falta de condições de segurança para exercício do governo do país.

E PODBt FttRA O POMD PELA VITORIA DA REVOLUÇy» SOCIALISTA


2 5/11 mm

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Paraquedistas da Base Escola de Tancos ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas, detêm o General Pinho Freire e exigem a demissão do General Morais da Silva, C E M F A .

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Tarde Elementos do Regimento de Comandos da Amadora cercam o Comando da Região Aérea de Monsanto.

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Noite O P R decreta o Estado de Sítio na Região de Lisboa. Militares afectos ao Governo, da linha do Grupo dos Nove, controlam a situação. Prisão dos militares revoltosos que tinham ocupado a Base de Monsanto. O General Pinho Freire retoma o comando da l . Região Aérea. a


26/11 Comandos da Amadora atacam o Regimento da Polícia Militar. Após a rendição da P M , há vítimas mortais de ambos os lados Prisões de militares revoltosos.

27/11 Os Generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos, respectivamente, dos cargos de Chefe de Estado Maior do Exército e de Comandante do C O P C O N . O General António Ramalho Eanes é o novo Chefe de Estado Maior do Exército. Por decisão do Conselho de Ministros a Rádio Renascença é devolvida à Igreja Católica.

28/11 O VI Governo Provisório retoma funções. O Conselho de Ministros promete o direito de reserva aos donos das terras expropriadas.


7/12 A Indon茅sia invade e ocupa o territ贸rio de Timor.


1/1 A P S P intervém, junto à prisão de Custóias, para dispersar a manifestação de solidariedade com os militares presos após o 25 de Novembro de que resultam três mortos e seis feridos.

19/1 Prisão de Otelo Saraiva de Carvalho.

23/1 Lock-out na Fábrica Timex.

26/1 Revisão do Pacto M FA/Partidos. Assinam o C D S , o M D P / C D E , o P C P , o P P D e o PS.

29/1 Operários da Timex entram em greve.

caso CRISE DÔ SISTEMA I II CAPITALISTA MOTERNACIONAL? / /

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CONSEQUÊNCIA bO PROCESSO \ \ \ \SA POUTICjOy PORT UGUÊS ?

1 1 SINDICATO DAS INDUSTRIAS DE OURIVESARIA RELOJOARIA E CORRELATIVOS DO SUL


2/4

Aprovação pela Assembleia Constituinte da Consti tuição da República de 1976.

25/4 Resultados dos Partidos com Eleições legislat representação parlamentar: P S 35% P P D 24%; C D S , 15,9%; P C P , 14,6%; U D P , 1,7%

DECLARAÇÃO UNIVERSAL D OS ^m\r

DIREITOS D O H O M E M

COM

ELABORADOS

PO*

CARLOS CANDAL


27/6 Eleições presidenciais. António Ramalho Eanes é o primeiro Presidente da República constitucionalmente eleito com 61,5% dos votos. Resultados dos outros candidatos mais votados: Otelo Saraiva de Carvalho, 16,5%; Pinheiro de Azevedo, 14,4%; Octávio Pato, 7,5%.


23/7 Tomada de Posse do I Governo Constitucional, che­ fiado por Mårio Soares.

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O 25 de Abril na Poesia

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Sophia de Mello Breyner Andresen

25 de Abril

Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio E livres habitamos a substância do tempo

O Nome das Coisas, 1974 Obra Poética III, Lisboa: Caminho 1996

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.


Sophia de Mello Breyner Andresen REVOLUÇÃO Como casa limpa Como chão varrido Como porta aberta Como puro início Como tempo novo Sem mancha nem vício Como a voz do mar Interior de um povo Como página em branco Onde o poema emerge Como arquitectura Do homem que ergue Sua habitação

O Nome das Coisas, 1974 Obra Poética III, Lisboa: Caminho 1996 Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.


Sophia de Mello Breyner Andresen

NESTA HORA Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade Meia verdade é como habitar meio quarto Ganhar meio salário Como só ter direito A metade da vida O demagogo diz da verdade a metade E o resto joga com habilidade Porque pensa que o povo só pensa metade Porque pensa que o povo não percebe nem sabe A verdade não é uma especialidade Para especializados clérigos letrados Não basta gritar povo é preciso expor Partir do olhar da mão e da razão Partir da limpidez do elementar Como quem parte do sol do mar do ar Como quem parte da terra onde os homens estão Para construir o canto do terrestre — Sob o ausente olhar silente de atenção Para construir a festa do terrestre Na nudez de alegria que nos veste

O Nome das Coisas, 1974 Obra Poética III, Lisboa: Caminho 1996 Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.


Sophia de Mello Breyner Andresen

COM FÚRIA E RAIVA

Com fúria e raiva acuso o demagogo E o seu capitalismo das palavras Pois é preciso saber que a palavra é sagrada Que de longe muito longe um povo a trouxe E nela pôs sua alma confiada De longe muito longe desde o início O homem soube de si pela palavra E nomeou a pedra a flor a água E tudo emergiu porque ele disse Com fúria e raiva acuso o demagogo Que se promove à sombra da palavra E da palavra faz poder e jogo E transforma as palavras em moeda Como se fez com o trigo e com a terra

O Nome das Coisas, 1974 Obra Poética III, Lisboa: Caminho 1996 Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.


Sophia de Mello Breyner Andresen

REVOLUÇÃO - DESCOBRIMENTO

Revolução isto é: descobrimento Mundo recomeçado a partir da praia pura Como poema a partir da página em branco — Catarsis emergir verdade exposta Tempo terrestre a perguntar seu rosto

O Nome das Coisas, 1974 Obra Poética III, Lisboa: Caminho 1996 Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.


Sophia de Mello Breyner Andresen A SALGUEIRO MAIA Aquele que na hora da vitória respeitou o vencido Aquele que deu tudo e não pediu a paga Aquele que na hora da ganância Perdeu o apetite Aquele que amou os outros e por isso Não colaborou com a sua ignorância ou vício Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida» como antes dele mas também por ele Pessoa disse

Salgueiro Maia na madrugada de 25 de Abril de 1974, dirigindo-se aos soldados da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém: "Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!"

Fernando José Salgueiro Maia (1944-1992) foi um dos mais distintos capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA). Foi Salgueiro Maia quem comandou no dia 25 de Abril a coluna de blindados que, vinda de Santarém, montou cerco aos ministérios do Terreiro do Paço forçando a rendição do último chefe de governo da ditadura, Marcelo Caetano, no Quartel do Carmo. Recusou cargos de poder político, transformando-se em símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.


Fernando José Salgueiro Maia – Biografia Sintetizada Foi um militar de méritos reconhecidos, dotado de uma inteligência superior e de uma coragem e lealdade invulgares. Dele se diz "ter sido o melhor de entre os melhores dos corajosos e generosos Militares de Abril". Nasceu em Castelo de Vide em 1944. Fez os estudos secundários no Colégio Nun'Álvares, em Tomar, e no Liceu Nacional de Leiria. Entrou para a Academia em 1964 e em 1966 ingressou na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Combateu na Guiné e em Moçambique, já com a patente de capitão. Foi um dos elementos activos do MFA. No dia 25 de Abril de1974, comandou a coluna de blindados que, vinda de Santarém, montou cerco aos ministérios do Terreiro do Paço forçando, já no final da tarde, a rendição do ditador Marcelo Caetano e entregando a pasta do governo ao general António de Spínola, porque Caetano recusava entregar o poder a um capitão. Salgueiro Maia escoltou Marcelo Caetano ao avião que o transportaria para o exílio no Brasil. Foi membro activo da Assembleia do MFA, durante os governos provisórios, mas não aceitou qualquer cargo político no pós 25 de Abril. Recusou, ao longo dos anos, ser membro do Conselho da Revolução, adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil do Distrito de Santarém e pertencer à casa Militar da Presidência da República. Foi promovido a Major em 1981 e, posteriormente, a Tenente-Coronel. Faleceu em Santarém, a 3 de Abril de 1992, vítima de cancro.


José (Zeca) Afonso Grândola Vila Morena Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade Grândola a tua vontade Jurei ter por companheira À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade

"Grândola, Vila Morena" é uma canção composta e cantada por José Afonso dos Santos (Zeca Afonso, 1929-1987), um dos cantores e compositores portugueses mais importantes do século XX. A canção foi incluída no álbum Cantigas do Maio (gravado em França em 1971) e Zeca Afonso estreou-a em Santiago de Compostela no dia 10 de Maio de 1972. No dia 29 de março de 1974, foi cantada num espectáculo no Coliseu de Lisboa. Na assistência estavam militares do Movimento das Forças Armadas (MFA), que viriam a escolher a canção como um dos sinais do arranque da revolução, para ser transmitida na Rádio Renascença na madrugada do 25 de abril de 1974. Por esse motivo, transformou-se em símbolo da revolução, assim como do início da democracia em Portugal. Pouco antes da sua morte, Zeca Afonso cantou e gravou uma nova edição da canção com amigas e amigos galegos na Homenagem da Galiza a José Afonso (Vigo, 1985). Em Fevereiro de 2013, o primeiroministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, foi interrompido no parlamento pelo movimento "Que se lixe a troika!" a cantar "Grândola Vila Morena" como forma de protesta contra as políticas económicas do seu governo. Dias depois, esta mesma música foi cantada em Madrid na Puerta del Sol numa manifestação. Ainda em Fevereiro, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, foi igualmente interrompido por manifestantes ao som do Grândola, uma estratégia que se tem continuado a praticar desde então.


Zeca_mandato de captura1971.jpg (Imagem JPEG, 960x660 pixéis) - Dimensão/Escala (99%)

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13/04/2013 20:58


Ermelinda Duarte SOMOS LIVRES Ontem apenas fomos a voz sufocada dum povo a dizer não quero; fomos os bobos-do-rei mastigando desespero. Ontem apenas fomos o povo a chorar na sarjeta dos que, à força, ultrajaram e venderam esta terra, hoje nossa. Uma gaivota voava, voava, assas de vento, coração de mar. Como ela, somos livres, somos livres de voar. Uma papoila crescia, crescia, grito vermelho num campo cualquer. Como ela somos livres, somos livres de crescer. Uma criança dizia, dizia "quando for grande não vou combater". Como ela, somos livres, somos livres de dizer. Somos um povo que cerra fileiras, parte à conquista do pão e da paz. Somos livres, somos livres, não voltaremos atrás.

“Somos Livres” foi uma canção do pós-25 de Abril, tendo sido, pelo seu simbolismo, um dos temas mais populares a seguir à Revolução. A canção, escrita e cantada pela actriz Ermelinda Duarte, com arranjos de José Cid, pertencia à peça de teatro Lisboa 72/74, da autora teatral e encenadora Luzia Maria Martins, então levada à cena no Teatro Estúdio de Lisboa na altura em funcionamento num edifício situado na Feira Popular, em Lisboa. Mário Martins, da editora Valentim de Carvalho, convenceu Ermelinda Duarte a gravá-la em disco e a RTP fez um vídeo da canção.


Novas Cartas Portuguesas: Ponto de mutação na viragem histórica de Portugal

O livro Novas Cartas Portuguesas permanece na história da Literatura Portuguesa como um marco na luta pela igualdade entre homens e mulheres, também como um elemento de denúncia da condição social e sexual da mulher e das injustiças praticadas durante o regime ditatorial. Foi escrito durante o ano de 1971, no período chamado Primavera Marcelista, quando Marcelo Caetano dava continuidade ao regime de Salazar com o lema “evoluir na continuidade” e, de maneira disfarçada, seguia os mesmos passos do ditador com o uso da censura e autoritarismo. As autoras Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, conhecidas também como “As Três Marias” tiveram a idéia de escrever um livro em conjunto, um livro que esboçasse uma fotografia de Portugal no início dos anos 70, enfim, um livro de mulheres e sobre mulheres a falar sobre Portugal , como explicou Maria Teresa Horta. Em relação ao aspecto temático, destaca-se a crítica às estruturas sociais principalmente em relação à mulher, o que já anunciava ser este livro um dos desencadeadores dos movimentos feministas em Portugal, no século XX . As autoras, entre tantas outras questões, denunciaram a condição subordinada da mulher portuguesa num regime patriarcal; ao serem “autoras” estavam “ocupando” um espaço literário hegemonicamente masculino; rejeitaram os modelos prédeterminados para o processo da escrita, quando usam da polifonia e de vários tipos de texto numa mesma obra: Ninguém me peça, tente exija, que regresse à clausura dos outros. Além da ousadia de escreverem via corpo a situação política portuguesa, ora usando uma linguagem bem carregada de erotismo, ora de ironia, mas sempre com alto teor crítico ao sistema de governo vigente. Claro está que foi uma atitude bem ousada, tanto que para conseguir publicá-lo pareceu ter sido mais difícil que escrevê-lo. Muitos editores recusavam a tarefa sob a alegação de que era ofensivo à moral, ou de que poderiam ter problemas com a PIDE. Assim, a única e não menos ousada e polêmica e também corajosa Natália Correia aceitou publicar Novas Cartas Portuguesas, em meados de 1972. Quase que de imediato, exatamente no dia 23 de Junho de 1972 foi emitido um auto de busca e apreensão do livro, então classificado como pornográfico e com conteúdo imoral, pela Polícia Judiciária. Além da emissão do seguinte parecer dos censores sobre o livro: Este livro é constituído por uma série de textos em prosa e versos ligados à história Mariana, mas em que se preconiza sempre a emancipação da mulher em todos os seus aspectos, através de histórias e reflexões. Algumas das passagens são francamente chocantes por imorais (v.g.pp.48, 88, 98, 102, 122, 140, 164, 188, 214, 216, 246, 284, 316 e 318), constituindo uma ofensa aos costumes e à moral vigente no País.


Concluindo: Sou do parecer que se proíba a circulação no País do livro em referencia, enviando-se o mesmo à Polícia Judiciária para efeitos de instrução do processocrime1.

Assim, como uma das conseqüências, foi imposta uma caução de 15 mil escudos a cada uma, e entre elas somente Maria Isabel Barreno não pôde pagar por não ter o dinheiro ou quem o emprestasse, assim, foi obrigada a apresentar-se numa esquadra por oito dias . Não bastasse a multa e o julgamento, que foi realizado em tribunal comum, por ter sido classificado como crime por abuso de liberdade de imprensa, mas a obra em questão foi classificada como pornográfica. O que se ressaltou foi a recusa da honra equívoca e perigosa do Tribunal Plenário, que se destinava aos processos políticos, desta maneira o poder tentou diminuí-las politicamente, afastando-as da “seriedade” dos seus pares escritores. Além de todas estas atitudes de exercício de poder, o clima foi aquecido pela emissão de vários autos de busca e apreensão dirigidos a tipografias, distribuidoras e livrarias. Houve ainda outros tipos de pressão às autoras, como por exemplo um recado do então Ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício, que prometeu o seu perdão às escritoras caso as mesmas declarassem que não era bem o que queriam dizer com o que tinham dito; ou a forte declaração de Marcelo Caetano, na televisão, no conhecido programa “Conversas de Família ”, quando declarou que as autoras ajudavam os inimigos do país e que não eram dignas de serem portuguesas . Das “Três Marias”, a mais atingida, em todos os aspetos, foi Maria Teresa Horta que, diante deste quadro teve o seu livro Minha Senhora de Mim impedido de ser publicado e ainda a dona da Editora Dom Quixote, Snu Abecassis sofreu ameaças de fechamento da sua empresa caso publicasse este ou qualquer obra de uma das três. Também César Moreira Baptista, Secretário de Estado da Informação e Turismo, promovido a Ministro do Interior, fez pressão sobre Queiroz Pereira, Manuel José Homem de Mello e Rodolfo Iriarte, respetivamente dono, diretor e chefe de redação de A Capital para que Maria Teresa Horta fosse despedida. Tal fato não ocorreu, mas ela ficou impedida de assinar qualquer artigo. Mas, em contrapartida, movimentos surpreendentes e solidários às escritoras aconteceram, porém, além fronteiras, uma vez que foi proibido dar qualquer tipo de informação via imprensa escrita ou falada sobre as três, nem mesmo os seus nomes poderiam aparecer em qualquer veículo de comunicação, com a ameaça de ser fechado, em Portugal. Estes mecanismos de pressão 1

Do livro Mutiladas e proibidas. Para a história da Censura literaria em Portugal nos tempos do Estado Novo. Porto, Caminho, 1977, p. 121.


acabaram provocando uma inversão da perspectiva que Marcelo Caetano e os seus seguidores pretendiam. As dimensões inesperadas dos atos solidários partiram de várias partes do mundo, podemos citar, por exemplo: a ocupação de mulheres na Embaixada Portuguesa da Holanda, manifestações de repúdio em Washington, em Paris também houve manifestações, porém com o empenho de Simone de Beauvoir e Marguerite Duras. E, ao contrário do que acontecia em Lisboa, a proibição e apreensão do livro, as três escritoras receberam propostas de grandes editoras francesas, como a Grasset e a Galimard, para a tradução e publicação da “polêmica” obra que colocou em cheque a ditadura de quase 50 anos que vigorava em Portugal, como também ofertas dos Estados Unidos, onde os movimentos feministas eram mais intensos e tinham a força de ocupar mais espaços na mídia e sociedade americanas. Claro que estas propostas foram aceitas e inclusive recolhidas para juntar aos autos de defesa delas . Paralelamente a estes acontecimentos, o julgamento ia tendo prosseguimento, com alguns fatos curiosos, como uma mudança logo no início, sem qualquer justificativa plausível. Mesmo assim, personalidades do mundo cultural português colocavam-se à disposição para depoimentos em favor das autoras. Uma destas pessoas foi a jornalista e também autora do significativo livro Mulheres de Portugal, Maria Lamas, já em idade avançada e amiga de Maria Teresa Horta. Há que lembrar que Maria Lamas pode ser considerada a que conseguiu, em tempos mais difíceis ainda, projetar o olhar para a questão feminina em Portugal. Assim, em seu depoimento quando foi indagada se era oprimida pela família respondeu que sim, gerando surpresa e confirmando a opressão às mulheres portuguesas, opressão que tinha o amparo na legislação do país. Desta maneira, no dia da leitura da acusação, um delegado do Procurador da República pediu a absolvição, claro que houve um escândalo e este foi imediatamente substituído. Neste meio tempo ocorreu a Revolução de 25 de Abril, em 1974. E exatamente no dia 7 de Maio, deste mesmo ano o juiz absolveu as escritoras com a seguinte alegação: (...) pois Novas Cartas Portuguesas é uma obra de elevado nível, o mesmo delegado do Procurador da República que anteriormente já havia pedido a absolvição, agora “jovem e ilustre” que mandou entregar aos legítimos proprietários os exemplares apreendidos. Maria Velho da Costa crê, ainda hoje, que o julgamento baseou-se num pretenso insulto à moral para que o poder não fosse obrigado a nomear o inominável, afirmou também que se o livro fosse escrito nos dias de hoje, seria relativamente inocente, o peso das referências políticas e à guerra colonial incomodaram muito, talvez mais que as alusões eróticas . Com a Revolução e a abertura ao processo democrático o quadro modificou-se no sentido de aspirar à liberdade de expressão e, principalmente as esperanças de uma mudança comportamental em relação à mulher na sociedade portuguesa.


Maria Maria Teresa HortaTeresa Horta

Catarina Eufémia

O punho ergueste em haste de coragem os pés fincaste n aterra com ternura e só de paz falavam os teus olhos quando tombaste dobrada pela cintura À tua frente souberas a resposta na arma pronta à norte no teu ventre mas nem um filho ao colo te calou a fala grito de água no Alentejo ardente

Maria Teresa Horta (*1937) é uma jornalista, romancista e poeta portuguesa. Participou, desde os anos 1960 de movimentos em defesa da mulher e pela liberdade de expressão. Foi, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, co-autora das Novas o texto Cartas Portuguesas, fundacional do feminismo literário em Portugal. Seus livros abordam a questão feminina a partir da representação do corpo da mulher como símbolo da desvinculação do sistema patriarcal. Foi censurada, teve livros apreendidos, agredida físicamente na rua e também ficou impedida, por uns tempos, de exercer a profissão de jornalista.


Maria Teresa Horta

Mulheres de Abril Mulheres de Abril somos mãos unidas certeza já acesa em todas nós Juntas formamos fileiras decididas ninguém calará a nossa voz Mulheres de Abril somos mãos unidas na construção operária do país Nos vemos férteis a vontade erguida de um Portugal que o povo quis

Maria Teresa Horta (*1937) é uma jornalista, romancista e poeta portuguesa. Participou, desde os anos 1960 de movimentos em defesa da mulher e pela liberdade de expressão. Foi, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, co-autora das Novas o texto Cartas Portuguesas, fundacional do feminismo literário em Portugal. Seus livros abordam a questão feminina a partir da representação do corpo da mulher como símbolo da desvinculação do sistema patriarcal. Foi censurada, teve livros apreendidos, agredida físicamente na rua e também ficou impedida, por uns tempos, de exercer a profissão de jornalista.


Maria Teresa Horta

Mulher nova À Inácia, Operária da Philips

Ten sum cravo nas mãos e vens de Abril operária a construíres-te pouco a pouco Trazes constante em ti o desafio Mulher nova a crescer vinda do povo

Maria Teresa Horta (*1937) é uma jornalista, romancista e poeta portuguesa. Participou, desde os anos 1960 de movimentos em defesa da mulher e pela liberdade de expressão. Foi, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, co-autora das Novas o texto Cartas Portuguesas, fundacional do feminismo literário em Portugal. Seus livros abordam a questão feminina a partir da representação do corpo da mulher como símbolo da desvinculação do sistema patriarcal. Foi censurada, teve livros apreendidos, agredida físicamente na rua e também ficou impedida, por uns tempos, de exercer a profissão de jornalista.


Maria Teresa Horta

Mulheres do meu País

Deu-nos Abril o gesto e a palavra fala de nós por dentro da raíz Mulheres quebrámos as grandes barricadas dizendo igualdade a quem ouvir nos quis E assim continuamos de mãos dadas O povo somos mulheres do meu país

Maria Teresa Horta (*1937) é uma jornalista, romancista e poeta portuguesa. Participou, desde os anos 1960 de movimentos em defesa da mulher e pela liberdade de expressão. Foi, com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, co-autora das Novas o texto Cartas Portuguesas, fundacional do feminismo literário em Portugal. Seus livros abordam a questão feminina a partir da representação do corpo da mulher como símbolo da desvinculação do sistema patriarcal. Foi censurada, teve livros apreendidos, agredida físicamente na rua e também ficou impedida, por uns tempos, de exercer a profissão de jornalista.


Natália Correia SONETO DE ABRIL Evoé! de pâmpano os soldados rompem do tempo em que Evoé! a terra salvé rainha descruzando os braços com seu pé de papiro pisa a fera. Na écloga dos rostos despontados onde dos corvos se retira a treva, de beijo em beijo as ruas são bailados mudam-se as casas para a primavera. Evoé! o povo abre o touril e sai o Sol perfeitamente Abril maravilha da Pátria ressurrecta. Evoé! evoé! Tágides minhas outras vez prateadas campainhas sois na cabeça em fogo do poeta.

PoemAbril Carlos Loures e Manuel Simões (orgs.) Coimbra: Fora do Texto 1994 Natália de Oliveira Correia (1923-1993) foi uma intelectual, poeta e activista social açoriana, autora de extensa e variada obra, com predominância para a poesia. Deputada à Assembleia da República (1980-1991), interveio ao nível da cultura, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Autora da letra do Hino dos Açores. Juntamente com José Saramago, entre outros autores, foi, em 1992, fundadora da Frente Nacional para a Defesa da Cultura.


António Ramos Rosa

O Homem de Abril A José Gomes Ferreira

Eis o homem de Abril. Nasceu fraco e de pé. De fraco, fez-se velho. Fez-se velho a valer.

Sentou-se ao pé de um muro. Atrás o sol nascia. Uma rosa rompeu. Era manhã. Bom dia!

António Ramos Rosa (*1924) é considerado um dos melhores poetas portugueses contemporâneos. Tem recebido inúmeros prémios e já viu o seu nome apontado como candidato ao Prémio Nobel da Literatura. Ao longo da sua obra, estão reflectidos desde o subjectivismo inicial ao cultivo puramente objectivo, elementos neorealistas, surrealistas, neo-clássicos e neo-barrocos.


Manuel Alegre ABRIL DE ABRIL Era um Abril de amigo Abril de trigo Abril de trevo e trégua e vinho e húmus Abril de novos ritmos novos rumos. Era um Abril comigo Abril contigo ainda só ardor e sem ardil Abril sem adjectivo Abril de Abril. Era um Abril na praça Abril de massas era um Abril na rua Abril a rodos Abril de sol que nasce para todos. Abril de vinho e sonho em nossas taças era um Abril de clava Abril em acto em mil novecentos e setenta e quatro. Era um Abril viril Abril tão bravo Abril de boca a abrir-se Abril palavra esse Abril em que Abril se libertava. Era um Abril de clava Abril de cravo Abril de mão na mão e sem fantasmas esse Abril em que Abril floriu nas armas.

Atlântico, 1981 Abril, Braga: Comissão Abril de Abril 1999 Manuel Alegre (*1936) é um poeta e político português. Distinguiuse na oposição ao regime salazarista e marcelista, tendo conhecido o exílio. Após 1974 foi governante, deputado socialista e candidato independente às eleições presidenciais.


A Identidade Portuguesa na Poesia Atual poesia para levar | takeaway poetry | Lyrik zum Mitnehmen | poĂŠsie Ă emporter


Jorge se Sena A PORTUGAL Esta é a ditosa pátria minha amada. Não. Nem é ditosa, porque o não merece. Nem minha amada, porque é só madrasta. Nem pátria minha, porque eu não mereço A pouca sorte de nascido nela. Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta quanto esse arroto de passadas glórias. Amigos meus mais caros tenho nela, saudosamente nela, mas amigos são por serem meus amigos, e mais nada. Torpe dejecto de romano império; babugem de invasões; salsugem porca de esgoto atlântico; irrisória face de lama, de cobiça, e de vileza, de mesquinhez, de fatua ignorância; terra de escravos, cu pró ar ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto; terra de funcionários e de prostitutas, devotos todos do milagre, castos nas horas vagas de doença oculta; terra de heróis a peso de ouro e sangue, e santos com balcão de secos e molhados no fundo da virtude; terra triste à luz do sol calada, arrebicada, pulha, cheia de afáveis para os estrangeiros que deixam moedas e transportam pulgas, oh pulgas lusitanas, pela Europa; terra de monumentos em que o povo assina a merda o seu anonimato; terra-museu em que se vive ainda, com porcos pela rua, em casas celtiberas; terra de poetas tão sentimentais que o cheiro de um sovaco os põe em transe; terra de pedras esburgadas, secas como esses sentimentos de oito séculos de roubos e patrões, barões ou condes; ó terra de ninguém, ninguém, ninguém: eu te pertenço. És cabra, és badalhoca, és mais que cachorra pelo cio, és peste e fome e guerra e dor de coração. Eu te pertenço mas seres minha, não. 1961, Antologia Poética, Lisboa, Asa 1999 Jorge Cândido de Sena (1919-1978) foi um poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português. Exiliou-se, em 1959, no Brasil trabalhando desde 1967 em universidades dos E.U.A.


Alexandre O’Neill PORTUGAL Ó Portugal, se fosse só três sílabas, linda vista para o mar, Minho verde, Algarve de cal, jerico rapando o espinhaço da terra, surdo e miudinho, moinho a braços com um vento testarudo, mas embolado e, afinal, amigo, se fosses só o sal, o sol, o sul o ladino pardal, o manso boi coloquial, a rechinante sardinha, a desancada varina, o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos, a muda queixa amendoada duns olhos pestanítídos, se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos, o ferrugento cão asmático das praias, o grilo engaiolado, a grila no lábio, o calendário na parede, o emblema na lapela, ó Portugal, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato! Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos, rendeiras de Viana, toureiros da Golegã, não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço, galo que cante a cones na minha prateleira, alvura arrendada para p meu devaneio, bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço. Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, golpe até ao osso, fome sem entretém, perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, rocim engraxado, feira cabisbaixa, meu remorso, meu remorso de todos nós… Feira Cabisbaixa, Lisboa, Sá da Costa, 1979 Alexandre O'Neill (1924-1986), foi um importante poeta do movimento surrealista. Foi várias vezes preso pela polícia política, a PIDE.


Fernando Assis Pacheco

REGRESSO DA ÍNDIA Mandou el-rei nosso senhor ver se da parte de além-mar sua fazenda engrossaria mas enquanto no mar corria a armada pus-me a pensar tudo isto com o meu suor? mandou el-rei que sem temor se andasse o mar até chegar à costa da prata fria e para tanta fantasia a armada corria e eu a pensar tudo isto com o meu suor? mandou el-rei e mercador supremo que na feira-mar se usasse da astúcia à vilania para seu bem que é obra pia e a armada corria e eu a pensar tudo isto com o meu suor? estou em Lisboa limpando o fedor numa fonte aonde vim lavar o meu nojo na água fria e ora chora quem outrora ria com vontade de nunca acabar tanto feirar era fanfarraria d’el-rei capitão e nosso senhor

1991, A Musa Irregular, Lisboa: Assírio & Alvim 2006

Fernando Assis Pacheco (1937-1995) foi um jornalista, crítico, tradutor e escritor português.


Joaquim Castro Caldas

EXORCISMO ROMÂNTICO

Chega amanhã à doca de Leixões, a bordo de um bacalhoeiro marroquino, o ex-monarca português D. Sebastião, aceite que foi pelas autoridades de Rabat o pedido de extradição solicitado pelo Instituto Português de Antropologia. Acusado de bluff patriótico, mitomania hereditária e contaminável, tráfico de haxixe e envolvimento numa vasta rede terrorista, o antigo rei far-se-á transportar congelado numa urna frigorífica, de onde transitará para um micro-ondas com sistema de vídeo, no interior do qual assistirá à projecção privada de “Non – Ou A Vã Glória De Mandar” – a famosa película de Manoel de Oliveira. À chegada, a que não estarão presentes entidades governamentais, o Presidente da co missão dos Descobrimentos fará um discurso em que tentará desmistificar as razões que o levaram, na qualidade em exercício, a preferir financiar esta deslocação histórica a apoiar o citado filme. Seguir-se-á a cremação sumária do bacalhoeiro marroquino com o respectivo ilustre passageiro lá dentro, cerimónia que todo o Povo poderá acompanhar em directo num canal devidamente codificado pela televisão do Estado para o efeito, com comentários de Eduardo Lourenço (no caso de não ser transmitido em diferido o Salgueiros-Boavista por causa do mau tempo) e logo de seguida vir para as ruas festejar em uníssono a trasladação do enguiço. E já agora blindar o assunto, nunca mais se falar nisso.

1991, A Musa Irregular, Lisboa: Assírio & Alvim 2006 Joaquim Castro Caldas (1956-2008) foi um poeta e crítico literário português.


Portugal Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais e nunca mais voltasse Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente Portugal Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem) Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo Anda na consulta externa do Júlio de Matos Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas Portugal Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador Portugal Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir Portugal Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém Sabes Estou loucamente apaixonado por ti Pergunto a mim mesmo Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu mas que tem o coração doce ainda mais doce, que os pastéis de Tentúgal e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade Portugal estás a ouvir-me? Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete, Salazar estava no poder, nada de ressentimentos O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram, nada de ressentimentos Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga ia agora propôr-te um projecto eminentemente nacional Que fossemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou Portugal Sabes de que cor são os meus olhos? São castanhos como os da minha mãe Portugal gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca

Jorge de Sousa Braga

PORTUGAL

1991, O Poeta Nu, Lisboa, Fenda Edições, 1999. Jorge de Sousa Braga (*1957) é poeta, tradutor e médico português.


Adília Lopes D. SEBASTIÃO E MARIANNA ALCOFORADO A minha prisão está cheia de nevoeiro O meu convento está cheio de vento No nevoeiro não tenho paradeiro No vento não tenho contento Passo os dias com as minhas tias Eu também Estou farto do meu parto Estou farta de Esparta Um bispo não resolve isto

Obra, Lisboa, Mariposa Azual 2000 Adília Lopes, pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, (*1960) é uma poeta, cronista e tradutora portuguesa. A sua poesia está marcada pelo pós-modernismo.


Eu quero foder foder achadamente se esta revolução não me deixa foder até morrer é porque não é revolução nenhuma a revolução não se faz nas praças nem nos palácios (essa é a revolução dos fariseus) a revolução faz-se na casa de banho da casa da escola do trabalho a relação entre as pessoas deve ser uma troca hoje é uma relação de poder (mesmo no foder) a ceifeira ceifa contente ceifa nos tempos livres (semana de 24 x 7 horas já!) a gestora avalia a empresa pela casa de banho e canta contente porque há alegria no trabalho o choro da bebé não impede a mãe de se vir a galinha brinca com a raposa eu tenho o direito de estar triste

Adília Lopes

EU QUERO FODER

1999, Florbela Espanca espanca, in Obra, Lisboa: Mariposa Azual 2000

Adília Lopes, pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, (*1960) é uma poeta, cronista e tradutora portuguesa. A sua poesia está marcada pelo pósmodernismo.


Trabalhos Escritos de Estudantes da Faculdade sobre Temas Relacionados com a Revolução


0 25 DE ABRIL VISTO MAIS TARDE

A Revolução dos Cravos continua a dividir a sociedade portuguesa, sobretudo nos estratos mais velhos da população que viveram os acontecimentos, nas fações extremas do espetro político e nas pessoas politicamente mais empenhadas. A análise que se segue refere-se apenas às divisões entre estes estratos sociais. Existem atualmente dois pontos de vista dominantes na sociedade portuguesa em relação ao 25 de Abril. Quase todos reconhecem, de uma forma ou de outra, que o 25 de Abril representou um grande salto no desenvolvimento político-social do país. Mas as pessoas mais à esquerda do espetro político tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. O PCP lamenta que a revolução não tenha ido mais longe e que muitas das conquistas da revolução se foram perdendo. As pessoas mais à direita lamentam a forma como a descolonização foi feita e as nacionalizações feitas no periodo imediato ao 25 de Abril de 74 que condicioram sobremaneira o crescimento de uma economia já então fraca. Destacamos a canção considerada o símbolo deste movimento e a sua tradução e que nos dias atuais é cantada em todas as manifestações portuguesas, como protesto diante da atual situação política em Portugal: “Grândola, vila morena”, de Zeca Afonso.

Alicia Senti Janssen / Rocío Villanueva González Idioma Moderno: Língua Portuguesa 2 1º ano do Grau em Estudos de Galego e Espanhol

Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade Grândola a tua vontade Jurei ter por companheira À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade


A Censura à Imprensa durante o Estado Novo Em Portugal, a ditadura esteve ligada a um único nome, António Salazar, e perdurou por mais de 40 anos (1932 – 1974). Algumas características da ditadura de Salazar foram, por exemplo:  A Repressão através da política da Polícia Internacional de Defesa do Estado;  A Censura aos meios de comunicação social;  Nacionalismo exacerbado;  Resguardo dos valores morais e tradicionais. Durante este período Portugal viveu na censura, repressão e sob o poder autoritarista Salazarista. Os jornalistas tiveram seu trabalho extremamente limitado, de modo que a população não pudesse ser informada sobre os acontecimentos reais. A censura à imprensa impetrada por Salazar, foi no modelo a posteriori, isto é, os censores baixavam normas para serem seguidas pelos jornalistas e intervinha em tudo o que era considerado impuro, imoral, ou que pusesse em causa a ordem pública e a tradição. Os censores apenas deveriam obedecer às regras determinadas. Mas, na prática transformaram-se em pequenos ditadores locais, com força e arbítrio para deliberar e para punir quem lhes conviesse. No início dos anos 30, a imprensa era o veículo de maior difusão de idéias. Quando chegou ao poder, Salazar começou logo a promover uma nova ordem constitucional, chamando um grupo de professores da sua confiança para elaborarem uma nova constituição política que estivesse de acordo com as suas convicções, mais claro que a apertada censura à imprensa e o afastamento hostil da maioria dos políticos impediram o debate público. Essa constituição foi votada em 1933. Apesar da simpatia de Salazar pelos regimes nacionalistas, conseguiu obter a neutralidade e Portugal não entrou na guerra; depois do seu fim, Salazar pronunciou um novo discurso onde anunciou uma maior liberdade de imprensa, prometeu a anistia para crimes políticos, afirmou que seria defendida a liberdade efetiva dos cidadãos contra posições arbitrárias do governo e previu a candidatura da oposição nas próximas eleições para a Presidência: tudo isso só porque as outras ditaduras havíam caído. Por isso a história do estudo do jornalismo no Portugal é inseparável da própria história do jornalismo e da sociedade portuguesa dos últimos séculos. A censura ganha uma sofisticação, até então inexistente com Salazar. Torna-se permanente, solidificando-se como organismo legal ao serviço do Estado Novo. Os braços da censura chegavam a todas as formas de criação e informação. Tudo estava debaixo do olhar dos censores e da ameaça da polícia secreta.


A história da censura no período Salazar é marcada pela presença do SPN, Secretariado da Propaganda Nacional, inaugurado no dia 26 de outubro de 1933. O órgão funcionou durante 14 anos, dando lugar ao SNI, Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, que nasceu no dia 23 de fevereiro de 1944. Em 1933, o governo Salazar baixou as seguintes instruções sobre a censura à imprensa. É particularmente objeto de vigilância da censura tudo quanto respeite:  A idéia da Pátria, à independência nacional e ao prestígio do país, bem como ao respeito devido a bandeira, ao hino nacional e a outros símbolos da Pátria;  Às instituições republicanas, e à honra e consideração do Chefe do Estado, Presidente do Conselho, membros do Governo, parlamentares e magistrados;  À propaganda, inicitamento e provocação à indisciplina social, à subversão violenta das instituições e dos princípios fundamentais da ordem social;  Ao incitamento à desobediência às normas legais e às autoridades;  Ao prestígio das Forças Armadas e a operações militares;  À divulgação de notícias e boatos destinados a perturbar a tranquilidade e ordem públicas ou a prejudicar o crédito público, ou que sejam susceptíveis dessa perturbação ou prejuízo;  É expressamente proibida a narração circunstanciada por qualquer forma gráfica de publicidade de casos de vadiagem, mendicidade, libertinagem e crime ou suicídio, cometidos por menores de 18 anos, bem como de julgamentos em que sejam réus. Em 1934 o Secretariado da Propaganda Nacional realizou um amplo levantamento, com o objetivo de conhecer a ideologia dos jornais de província do país. Assim, os jornais foram classificados nas seguintes categorias: simpatizantes, neutros, anti-situacionistas e jornais de classe. Quase 30 anos depois de viver com censura, a imprensa portuguesa passou a reivindicar mais liberdade. O Jornal de Notícias publicou no dia 05/11/1953 um forte editorial reivindicando a publicação de uma Lei de Imprensa para o país. O golpe militar do dia 25 de Abril de 1974, que pôs fim à ditadura e também á censura, teve a colaboração de vários regimentos militares. Os portugueses chamam Revolução dos Cravos a esse dia, pois os militares enfeitaram os tanques de guerra com cravos e a revolução deu-se pacificamente.

Referência: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/salazarismo/salazarismo.php, último acesso: 04/04/2013. Irene Castelos Cortizas / Luna Esposito Língua Portuguesa 2 1º ano Grau de Tradução e Interpretação


A mulher antes do 25 de Abril Durante o Estado Novo foi negado à mulher o direito de voto, que era reservado apenas para os chefes de família do sexo masculino. A reação a esta situação teve ecos em vários momentos, mas passou a ter mais força quando em 1914 a médica Adelaide Cabete fundou o “Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas”, que foi uma ramificação do Conselho Internacional de Mulheres com representação em vários países. O CNMP desenvolveu uma ação notável, promovendo a emancipação feminina. Expôs as suas ideias num Boletim próprio, o “Alma Feminina” e conseguiu realizar com êxito o “I Congresso Feminista e de Educação” em 1924. Mais tarde, o CNMP ressurgiu com nova vitalidade, empenhando-se na educação social das jovens de todas as classes sociais e desenvolvendo uma ação cultural de esclarecimento em várias zonas do país. Mas o Estado governado por Salazar estava vigilante e encerrou o Conselho após o sucesso e a repercussão que teve a “Exposição de Livros Escritos por Mulheres de todo o Mundo”, que aconteceu na sociedade Nacional de Belas Artes, em 1947. A exposição foi um documento concreto sobre as inúmeras realizações femininas em todos os campos da Literatura e da Ciência, o que não podia agradar a um regime político decidido a enquadrar a existência da mulher portuguesa em esquemas rígidos de comportamento. O panorama da situação da mulher antes do 25 de Abril era o seguinte:


 No trabalho, 25% dos trabalhadores eram mulheres, pois apenas 19% trabalhavam fora de casa, mas ganhavam menos cerca de 40% que os homens, a lei do contrato individual do trabalho permitia que o marido pudesse proibir a mulher de trabalhar fora de casa. Também, as mulheres não tinham acesso a cursos superiores como magistratura, serviço militar e polícia.  Na família o único modelo de família era o resultante do contrato de casamento, a idade do casamento era 16 anos para o homem e 14 anos para a mulher, a mulher face ao Código Civil, podia ser repudiada pelo marido no caso de não ser virgem na altura do casamento, o casamento católico era indissolúvel, a mulher tinha legalmente o domicílio do marido e era obrigada a residir com ele e o Código Penal permitia ao marido matar a mulher em flagrante adultério.  Na saúde sexual e reprodutiva os médicos da Previdência não estavam autorizados a receitar contraceptivos orais, a não ser a título terapêutico, o aborto era proibido em qualquer circunstância, com pena de prisão de 2 a 8 anos e a mulher não tinha o direito de tomar contraceptivos contra a vontade do marido, pois este podia invocar o fato para fundamentar o pedido de divórcio ou separação judicial.  Na segurança social a pensão paga aos trabalhadores rurais era muito baixa e com diferenciação para mulheres e homens, as mulheres, particularmente as idosas, tinham uma situação bastante desfavorável e a proporção de mulheres com 65 anos que recebia pensões era muito baixa, assim como os respectivos valores. Somente com a abertura política, depois da Revolução dos Cravos, é que a mulher pôde ser reconhecida socialmente com a sua autonomia e liberdade para fazer o que desejasse. Mudanças proporcionadas pelo novo Código Civil Português e, também, depois da elaboração de uma nova Carta Magna. Apesar das inúmeras diferenças ainda existentes em relação a salários, a condutas, etc., a mulher portuguesa ocupa hoje uma posição social muito diferente da que ocupava durante o Estado Novo.

Anabella Abalde Campos / Rosalía Alonso Figueroa / Sara Da Silva Pérez Idioma Moderno: Língua Portuguesa 2 1º ano – Grau em Estudos de Galego e Espanhol


A mulher durante a ditadura salazarista A mulher e o homem não eram considerados iguais. Assim, de acordo com a Iglesia Católica, o homem estava do lado da cultura e a mulher do lado da natureza. Por isto consideravam que as mulheres tinham o seu lugar na casa cuidando dos filhos. Segundo as normas “ditadas” durante o Estado Novo, a tarefa das mulheres era ter como ocupação o “governo” doméstico. Na realidade as mulheres não tinham o poder em casa, quem mandava eram os homens que eram os chefes da casa, fato garantido pelas leis. Na ideologia salazarista a missão da mulher no âmbito da família era ser esposa e mãe, mulher dedicada à casa e garantir a moral. Isto estava muito longe da realidade no caso das mulheres que trabalhavam fora de casa. Ao começo da ditadura só trabalhava 17% dos mulheres; e já em 1950, 22,7%. Destas, mais da metade (53,7%) eram celibatárias, a maioria realizava trabalhos não qualificados nem especializados e manuais. Além disso, grande parte delas trabalhava no campo, na agricultura. Por causa da emigração masculina e da guerra colonial, na década de 1960 aumentou o número população feminina ativa que trabalhavam no campo. Se durante a ditadura a taxa de analfabetismo era elevada (mais de 60% em 1930, e ao redor de 30% em 1970), no caso das mulheres era consideravelmente pior. Ao redor de 70% das mulheres eram analfabetas em 1930 e o 37% em 1960. Enquanto que no caso dos homens era inferior, 53% em 1930 e 25% em 1960. Ainda que durante a ditadura se defendia o slogan “regresso ao lar”, as mulheres continuaram a entrar no mercado laboral. Também se destaca que foi aprovada uma lei sobre a igualdade dos salários em 1966, os salários das mulheres eram inferiores aos dos homens. Do mesmo jeito que no campo na década de 1960, outros setores como o têxtil sofreram uma feminização por causa da emigração de mão-de-obra masculina e da participação dos homens na guerra colonial. A ditadura concedeu-lhes, em 1931, o direito ao voto nas eleições às mulheres maiores de 21, mas só em circunstâncias muito restritas: deviam possuir um diploma do ensino secundário ou superior, ser viúvas, estarem casadas e ter o marido ausente nas colônias ou no estrangeiro. Em 1946 alargouse o direito permitindo às mulheres casadas (alfabetizadas ou analfabetas-contribuintes) também votar. E já em 1968 conseguiu-se que todas as mulheres tivessem este direito, ainda que nas eleições municipais continuavam somente a votar os chefes de família. Por outro lado, as mulheres puderam participar ativamente na política como deputadas desde 1935, quando houve pela primeira vez três deputadas no Parlamento português. Uma outra preocupação do salazarismo foi com a educação, e assim foi criada a Obra das Mães para a Educação Nacional (OMEN) e a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF). A OMNE estava formada por um grupo pequeno de mulheres simpatizantes com Salazar, que pertenciam à elite social de Lisboa e algumas à aristocracia. Os seus objetivos eram orientar as mães para criar bem os filhos, estimular a educação familiar, favorecer o conforto do lar como ambiente educativo, organizar a seção feminina da Mocidade Potuguesa e promover a aducação nacionalista da juventude.


Após a criação da MPF (Mocidade Portuguesa Feminina), a atividade da OMEN ficou reduzida a premiar as famílias numerosas, a auxiliar às mães e dar apoio alimentar às crianças. Enquanto que a MPF, que foi criada com a intenção de ser uma instituição independente, na realidade nunca cresceu e as suas funções eram basicamente supervisar a OMEN e organizar a Semana das Mães. O seu lema era educar as jovens no amor de Deus, da pátria e da família e o seu objetivo, formar mulheres cristãs e portuguesas. Assim, o catolicismo era um ponto forte na sua ideologia, também é destacável a sua adoração às rainhas medievais portuguesas, sobretudo a D. Leonor que fundou as organizações de assistência; e ao culto mariano. Esta instituição visava mais o controlo das jovens das classes médias urbanas que era mais provável que participassem de movimentos contrários a moral oficial vigente. Quanto ao divórcio, o grande golpe à lei republicana de 1910 foi desferido com a celebração da Concordata entre a Santa Sé e o Estado português, em 1940, que passou a reconhecer os efeitos civis do casamento celebrado segundo as leis canónicas. O casamento tornou-se indissolúvel a partir de então e, por conseguinte, todos os casados pela Igreja – a grande maioria -, que se separavam, já não podiam voltar a casar. Esta situação que durou até 1974, gerou muitas situações de relações extra-matrimoniais não legalizadas e aumentou o número dos filhos ilegítimos. Nesta época ás mulheres era vetada a publicação de escritos sem a devida autorização do marido, assim como a prática de qualquer ato sem sua autorização e a prestação de fiança, entre outros. Ademais, a nacionalidade portuguesa da mulher ficava adstrita ao homem ao qual ela devia obediência. Logo, enquanto solteira tinha a nacionalidade do seu pai. Após o casamento, se fosse contraído com um estrangeiro, esta perdia a nacionalidade portuguesa em favor da nacionalidade de seu marido. A mulher apenas poderia ser dispensada de residir necessariamente com o marido em 3 casos: Art. 1.672: 1. A mulher deve adoptar a residência do marido, excepto: a) Se tiver justificada repugnância pela vida em comum, por virtude de maus tratos infligidos por ele ou do comportamento indigno ou imoral que ele tenha. b) Se tiver de adoptar residência própria, em consequência do exercício de funções públicas ou de outras razões poderosas. c) Se tiver pendente acção de declaração de nulidade ou anulação do casamento, de separação judicial de pessoas e bens ou de divórcio; É lícito à mulher exigir judicialmente que o marido a receba em sua residência, salvo nos casos previstos na alínea. Somente nos anos 1970 o papel da mulher começa a mudar. Isto foi por um reflexo da guerra colonial em suas vidas: seus maridos e filhos foram para a guerra em África, deixando-as sozinhas e mais livres em Portugal. Assim, as mulheres puderam começar a fazer a sua própria revolução.

Andreia Moreira García / Sabela Morais Martínez Língua Portuguesa 2,4 2º ano – Grau em Tradução e Interpretação


Movimento dos Capitães de Abril

O movimento dos capitães de abril foi desencadeado pelos oficiais das Forças Armadas portuguesas. Apresentava um programa político com a intervenção de Spínola e Costa Gomes e sob a coordenação de Otelo Saraiva de Carvalho, que elaborou o plano das operações militares, envolvendo todas as principais unidades do exército português. Os objetivos definidos pelos seus mentores eram a mudança da política ultramarina e a transição para uma democracia. Estes pontos angariaram o apoio de muitos oficiais do quadro permanente e dos milicianos que a eles se juntaram, sobretudo após o golpe inconsequente de 16 de março. Com a guerra colonial, registou-se um problema de falta de quadros no exército e, para atrair oficiais, foram concedidas facilidades de progressão aos milicianos. As reivindicações destes deram origem a uma série de reuniões mais ou menos clandestinas onde se definiram os pontos básicos de atuação. Aquilo que inicialmente surgia como reivindicação salarial transformar-se-ia num completo programa de reforma da sociedade portuguesa. O que aconteceu no 25 de abril de 1974 não tinha precedentes. A revolução resultou de um movimento exclusivamente militar, apartidário e independente das forças políticas, sem intervenção civil, nem uma aproximação ideológica ou partidária. Contudo, no programa das Forças Armadas estavam enunciadas as reivindicações da oposição ao regime, ou seja que contemplava desde o início a entrega do poder às instituições competentes, mediante um sufrágio que as legitimasse. O movimento revolucionário de abril de 1974 derrubou o Estado Novo: a revolução fechou uma página da História da nação portuguesa, iniciada com os descobrimentos no século XV e abriu assim caminho a uma nova era da História portuguesa, com a adoção de um regime democrático que aproximou o país do resto do continente europeu.

Meritxell Rotés Biosca Língua Portuguesa 2,4 2º ano – Grau em Tradução e Interpretação


MOCIDADE PORTUGUESA FEMININA

A Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) foi uma instituição criada em 1937 durante a ditadura portuguesa com o objetivo de criar a nova mulher portuguesa: boa esposa, boa mãe, boa doméstica, boa cristã, boa cidadã sempre pronta a contribuir para o Bem comum, mas sempre longe da intervenção política deixada aos homens. O Regulamento da Mocidade Portuguesa Feminina foi publicado por Decreto de 8 de Dezembro de 1937, dia da Imaculada Conceição. Este movimento era obrigatório para todas as mulheres dos sete aos catorze anos, eram divididas em quatro escalões, e considerava-se um veículo de transmissão dos valores ditados pelo regime salazarista. A Mocidade tinha um regulamento, um hino, fardamento próprio, uma hierarquia de comando e promovia diversas atividades nas escolas, entre as quais se contam a edição de revistas. A respeito da vida cultural, aconselhavam-se e proibiam-se alguns livros, no entanto que a literatura só devia ser portuguesa. O cinema também era vigiado, assim os filmes americanos eram proibidos, de forma que as filiadas só pudessem ver filmes portugueses ou espanhóis, já que estes últimos concordavam cos mesmos valores do Estado Novo por causa do franquismo na Espanha.


Excertos do Regulamento da Mocidade Portuguesa Feminina: Art. 1º - A Secção Feminina da organização nacional «Mocidade Portuguesa» (MPF), a cargo da obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN), tem por fim estudar nas jovens portuguesas a formação do caráter, o desenvolvimento da capacidade física, a cultura do espírito e a devoção ao serviço social, no amor de Deus, da Pátria e da Família. Art. 2º - A educação moral será a educação cristã tradicional no País. Art. 5º - A educação social cultivará nas filiadas a previdência, o trabalho coletivo, o gosto da vida doméstica e o de servir o Bem Comum ainda que com sacrifício, e as várias formas de espírito social próprias do sexo. Art. 7º - A MPF abrange a juventude de todo o Império Português, e pode estenderse a todos os grandes núcleos de portugueses no estrangeiro. Art. 9º - À MPF pertencem obrigatoriamente as portuguesas, estudantes ou não, desde os 7 aos 14 anos, bem como as que frequentem o primeiro ciclo dos liceus, tanto do ensino oficial como particular, e voluntariamente as restantes até ao ingresso no corpo de serviço social ou até ao casamento se tiver antes lugar. Art. 15º - O uniforme e os distintivos da MPF são os dos modelos anexos a este regulamento, sendo o seu uso obrigatório em todos os atos oficiais, e fora destes, facultativo, mas sempre em condições de não serem desprestigiados.

Inés Cuevas Lorenzo / Fátima Blanco Loimil Língua Portuguesa 2,4 2º ano – Grau de Tradução e Interpretação


Quem foi Salazar? António de Oliveira Salazar nasceu em 1889. Era filho dum feitor humilde, e o único homem entre cinco irmãos. A sua educação esteve marcada pela religiosidade, já que em 1900, após completar os seus estudos na escola primária, com onze anos de idade ingressou no Seminário de Viseu, onde permaneceu por oito anos. Em 1908, no seu último ano letivo no seminário, tomou contato com toda a agitação que reinava em Viseu e em todo o país em geral. Surgiam neste tempo artigos que atacavam o Governo, o Rei e a Igreja Católica. Não ficando indiferente a estes acontecimentos e com o assassinato do Rei D. Carlos e do seu filho, Salazar, católico praticante, começou a insurgir-se contra os republicanos jacobinos em defensa da Igreja, publicando vários artigos nos jornais. Depois de completar os estudos, permaneceu em Viseu até 1910, quando então fixou residência em Coimbra para estudar Direito. Em 1914, concluiu o curso de Direito com a alta classificação e tornou-se, dois anos depois, Professor-assistente de Ciências Económicas. Assumiu a regência da cadeira de Economia Política e Finanças em 1917 a convite do professor José Alberto dos Reis e do professor Aniceto Barbosa, antes de doutorar-se em 1918. Era conhecido por ser um homem sério, introspetivo, austero e conservador. Durante esse período em Coimbra, materializa o seu pendor para a política no Centro Académico de Democracia Cristã onde faz amigos como Mário de Figueiredo, Juvenal de Araújo, os irmãos Dinis da Fonseca, e Manuel Gonçalves Cerejeira, que haveriam de colaborar nos seus governos mais adiante. Combate o anticlericalismo da Primeira República através de artigos de opinião que escreve para jornais católicos. As suas opiniões e ligações ao Centro Académico de Democracia Cristã levaram-no, em 1921, a concorrer por Guimarães como deputado ao Parlamento. Sendo eleito e não encontrando aí qualquer motivação, regressou à universidade passados três dias. Lá se manteve até 1926. Com a crise económica e a agitação política da Primeira República Portuguesa, a Ditadura Militar chamou a Salazar em Junho de 1926 para ocupar o cargo de Ministro de Finanças, cargo que renuncia 13 dias depois por não encontrar as condições desejáveis e indispensáveis ao seu exercício. Em 27 de Abril de 1928, após a eleição do Marechal Carmona e na sequência do fracasso do seu antecessor, reassumiu o Ministério de Finanças, mas exigindo o controlo sobre todos os ministérios. Satisfeita a exigência, logrou, mediante una política muito conservadora de economias e aforro, estabilizar a moeda, reduzir o deficit e restaurar a confiança internacional na economia portuguesa. Na imprensa, que era controlada pela censura, Salazar seria muitas vezes retratado como "salvador da pátria". Enquanto a oposição democrática se desvanecia em sucessivas revoltas sem êxito, procurava-se dar um rumo à Revolução Nacional imposta pela ditadura. Salazar, que havia sido agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada, cria a União Nacional em 1930, unha organização política baseada em princípios autoritários, e em 1932 Carmona o nomea presidente do Conselho de Ministros. Em 1932 era publicado o projeto de uma nova Constituição que seria aprovada em 1933 através de um plebiscito. Com esta constituição, Salazar cria o Estado Novo, um regímen antiliberal, antidemocrático, contrarrevolucionário, católico e corporativo, inspirado nas diretrizes sociais do catolicismo conservador português. Na Guerra Civil Espanhola, deflagrada em Julho de 1936, Salazar apoiou o General Francisco Franco. Ainda que tenha havido referências ao envio de forças militares, não existe nenhuma prova fatual de tal intervenção. Ao contrário do que durante muito tempo foi sustentado, as relações entre Franco e Salazar foram sempre muito frias e pautadas pela desconfiança.


Em 8 de Setembro de 1936, teve lugar em Lisboa a Revolta dos Marinheiros, também conhecida como Motim dos Barcos do Tejo, mais uma aparatosa acção levada a cabo durante a Guerra Civil Espanhola contra a ditadura portuguesa. Os marinheiros comunistas sublevaram as tripulações de navios de guerra. Após uma intensa troca de tiros a revolta fracassou e os sublevados foram presos. Foi o último desafio militar ao Estado Novo até aos acontecimentos que em 1974 levaram à sua queda. Salazar conseguiu alimentar durante muito tempo a lenda dos seus sentimentos monárquicos. O conhecimento que hoje temos revelam que o seu alegado "monarquismo" se inseriu num habilidoso jogo político através do qual Salazar conseguiu obter o apoio de alguns monárquicos. O seu antimonarquismo começou a revelar-se dentro do Centro Católico Português, quando vinga a tese de Salazar de que o Centro deveria aceitar o regime republicano. Salazar adota um regime de separação de poderes entre o Estado e a Igreja, que virá a ficar definido na Concordata entre a Santa Sé e Portugal, em 1940. Com a Segunda Guerra Mundial o imperativo do governo de Salazar é manter a neutralidade. Próximo ideologicamente do Fascismo Italiano o regime português não hostilizou as potências do Eixo. O regime português escuda-se nessa afinidade com o Fascimo italiano e também na aliança com a Inglaterra para manter uma política de neutralidade. A política de Salazar desde o início das perseguições aos Judeus na Alemanha foi a de autorizar a sua entrada desde que pudessem deixar o país rapidamente, ou seja, uma política de trânsito para outros países. Isto não era devido ao fato de eles serem Judeus, mas de serem potenciais motivos de tensão com a Alemanha, que Salazar temia. A posição da neutralidade de Portugal e a consequente abertura dos canais diplomáticos e comerciais com ambas as partes beligerantes, a balança comercial portuguesa manteve saldo positivo durante boa parte do conflito. Terminando a segunda guerra mundial, Salazar dirigiu a política externa Portuguesa claramente para o "bloco Ocidental", como já tinha sido patente nos últimos anos da Guerra pela cada vez maior colaboração com os Aliados. Nos termos da Resolução 1514 da Assembleia Geral das Nações Unidas, a ONU, e muitos dos seus Estados membros começam a pressionar o governo de Salazar para acelerar a descolonização. O Estado português recusou-se a conceder a autodeterminação aos povos das regiões colonizadas. En 1961, no norte de Angola acaba por estalar uma sangrenta revolta, com o assassínio de colonos civis. Salazar alimenta as fileiras da guerra colonial com o propósito de manter as chamadas províncias ultramarinas sob a bandeira portuguesa. A Guerra Colonial teve como consequências milhares de vítimas entre os povos que acabariam por se tornar independentes e entre portugueses. Teve forte impacto económico em Portugal tendo sido uma das causas da queda do regime e do 25 de Abril. O princípio do fim de Salazar começou a 3 de Agosto de 1968, no Forte de Santo António, no Estoril. Salazar preparava-se para ser tratado pelo calista Hilário, quando se deixou cair para uma cadeira de lona. Com o peso, a cadeira cedeu e Salazar caiu, sofrendo uma pancada na cabeça. Em consequência é operado, mas nunca mais se recupera. Salazar foi afastado do governo em 1968, quando o então Presidente da República, Américo Tomás, chamou Marcello Caetano para substitui-lo. Até morrer, em 1970, continuou a receber visitas como se fosse ainda Presidente do Conselho, nunca manifestando sequer a suspeita de que já o não era - no que não era contrariado pelos que o rodeavam.

Paula Gil Martínez / Rut San Millán López Língua Portuguesa 2,2 1º ano - Grau em Estudos de Galego e Espanhol


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