No entanto, a dona da coelhinha, que era já uma senhora, sempre quisera tanto que ela fosse cor de rosa…O cor de rosa que ela via nos sonhos! A coelhinha (fosse branca, rosa, azul ou amarela) simbolizava a perfeição de uma amizade, uma sorte antiga na vida daquela senhora. Vejo que corro o risco de me perder nessa história: não sei no que me concentrar, se na vida da senhora ou na da coelhinha cor de rosa… Antes de mais, o importante é contar, então vamos lá começar.
Haviam duas crianças, um menino e uma menina. Conheceram-se a caminho da escola, pois todos os dias apanhavam o mesmo comboio. Acabaram por sorrir, abraçar, olhar, respirar no mesmo ritmo‌ Aquela amizade tinha tudo de bom, tinha tudo de longo.
Um dia, o menino fez uma grande surpresa à menina, ofereceu-lhe uma coelhinha linda, branca como as nuvens e com manchas pretas - como os gatos pretos, pensou ele. Era tão pequenina que tomava leite de biberão, e precisava de muito miminho para não chorar.
O menino e a menina acabaram por se afastar e a coelhinha ficou com a menina. Cresceu tanto! Eles cresceram tambĂŠm.
Só irradiava alegria, era tão traquina! Andava sempre de um lado para o outro com pulos gigantes. Eram pulos tão gigantes que uma vez saltou 5 degraus da escada da casa de uma vez; parecia ter super poderes de invencibilidade, por vezes desaparecia e ninguém a encontrava, até que ela decidisse reaparecer.
Cheirava tudo e tentava comer o que lembrasse a morango. Adorava também comer coisas amarelas e verdes, acho que ela adorava o Brasil, será que estou certa? Pois se no inverno passava horas em frente à lareira, com o seu rabo virado para o quentinho…
Ao contrĂĄrio do que costumam dizer sobre os coelhos, ela nĂŁo gostava muito de cenouras, mas tinha uns olhos lindos!!! Grandes olhos com grandes pestanas, que brilhavam refletidas ao espelho. E os espelhos estavam por toda a casa onde a coelhinha vivia.
O seu maior medo era sair daquela bonita e velha casa. Para além dos espelhos, a casa tinha muitas flores, então a sala… era repleta de jarras com flores, a sala era a sua divisão preferida, pois era a mais quentinha e a coelhinha podia lá fazer túneis – mas nem me perguntem como! A coisa de que ela mais gostava era fazer túneis e dar as suas corridas, é só isso que sei. (Ela corria mais do que todos os adultos do mundo!).
A menina e a coelhinha foram crescendo, como eu jĂĄ expliquei, sempre uma com a outra. Os hĂĄbitos foram sempre os mesmos, e a coelhinha passava horas na sala. AtĂŠ que um dia a coelhinha desapareceu por completo.
A menina, que já era uma adolescente, procurou-a por toda a parte. Debaixo das camas, debaixo das cadeiras, atrás da sanita, mesmo ao pé dos chinelos, porque ela era tão pepula que se confundia com as pantufas. Até que resolveu procurar bem na sala, no encosto dos sofás, disfarçadinha com a ajuda das cortinas, na sombra dos móveis, protegida pela mesa… Foi desse modo que descobriu um túnel! Um túnel grande! A menina entrou de imediato e viu a coelhinha ao fundo; sorriram uma para a outra e ela seguiu a coelhinha a correr – queria apanhála num abraço carinhoso.
Correram, correram e acabaram por ir ter a uma rua que a menina, nunca tinha visto, nem em sonhos. A rua parecia diretamente da fĂĄbrica dos sonhos, onde perduminava o cor de rosa, o chĂŁo eram nuvens, as casas eram do tamanho das casas dos gatos, e existiam tantos mas tantos morangos, certamente que foi aquele cheiro que a atraiu...
Que sĂtio fantĂĄstico que a coelhinha tinha descoberto, nunca tinha visto nada igual. Tudo existia aos pares, as coisas eram grandes e certamente havia todo um mundo por descobrir. A menina estava estupefacta com todo aquele mundo diferente quando, num pestanejar, viu um menino.
Esfregou os olhos e percebeu que era o seu amigo de infância. Ele tinha crescido tanto, tanto, tanto que já era maior que aquelas casas. Ele estava diferente, pois agora usava óculos e trazia vestida uma camisa, sim, quase como um adulto; tinha crescido tanto que parecia impossível ser aquele que ela uma vez conhecera…
Aquela visão fora esquisita, sem dúvida, era tanta coisa para processar, mas quem se podia deter na surpresa, se de imediato a coelhinha saltou para o colo do menino-jovem, que a recebeu com um grande aperto e rodopiou com ela. A menina correu, juntando-se àquele retrato. Parecia uma família, uma família feliz. O menino e a menina abraçaram-se com toda a intensidade e a coelhinha, rápida e mágica como a conheciam desde sempre, desapareceu. Nos dois corações, nunca deixaria de estar. Fisicamente é que não, os braços da menina e do menino tinham tarefa garantida, garantida pela coelhinha que reforçara os seus laços pela segunda vez numa vida.
Junta-te à minha história e descobre os hábitos da coelhinha - Pantufa, e o novo mundo.