carreira + resenhas + infográfico: mulheres no oscar
LE CINÉMA SOFIA COPPOLA
1ª edição
2
3
Sumรกrio 06 05 Sofia Coppola
As virgens suicidas
08 Encontros e desencontros
10
12
Maria Antonieta
Um lugar qualquer
13
06 14 O estranho que nรณs amamos
Bling Ring
16 4
Infogrรกfico: Mulheres no Oscar
Sofia Coppola Nascida em Nova York, no dia 14 de maio de 1971, Sofia Carmina Coppola, começou sua carreira fazendo pequenas atuações e acumulou críticas negativas pelo seu desempenho por conta disso abandonou a carreira para se dedicar a filmagens. O que foi maravilhoso! Pois nunca no cinema vimos alguém retratar tão bem a mistura do sinistro, o melancólico e o doce que caminha entre a filmografia de Sofia, sem contar que ela tem o talento no sangue já que é filha do cineasta Francis Ford Coppola. Por conta da carreira do pai, Sofia cresceu dentro de sets filmagens, viajando e estudando em diferentes escolas, rodeada de atores e artistas. Enquanto tentava se encontrar em uma área, Sofia estudou pintura e fotografia, dirigiu comerciais de moda e o videoclipe “I just don’t know what to do with myself”, do White Stripes, lançou uma marca de roupas chamada “MilkFed”, comercializada apenas no Japão e já foi a “cara” do perfume de Marc Jacobs, entre outras coisas. Quanto a vida pessoal, Sofia foi casada com o também diretor Spike Jonze, de 1999 até 2003. Hoje em dia é companheira de Thomas Mars, integrante da banda francesa Phoenix, com quem casou-se em 2011. E tem duas filhas, Romy e Cosima, fruto de seu relacionamento com o músico. Teve sua primeira experiencia como diretora de fato com o curta “Lick the star”, de 1998, que
conta a história de jovens que depois de lerem Flowers in the attic, de Virginia Andrews, planejam usar veneno de rato para matar alguns garotos da escola. Esse curta é importante pois já registra algumas características dos filmes da diretora, como o ritmo lento e sonhador de jovens vivenciando a adolescência e a trilha sonora indie rock. Depois disto ela dirigiu Virgens Suicidas (1999), baseado no livro homônimo, Encontros e desencontros (2003) que escrito por Sofia, ganhou o Oscar de melhor roteiro original, Maria Antonieta (2006), um drama histórico que conta a história da rainha da França, Um lugar qualquer (2010) que lhe rendeu um Leão de Ouro, Bling Ring (2010), o único filme da diretora a ser filmado digitalmente e o mais recente e também baseado em um livro, O estranho que nós amamos (2017). Seus filmes contam com luz natural, personagens em transição, momentos íntimos guiados por som. Ela prefere a liberdade criativa e um pequeno orçamento do que dirigir a receita de um sucesso de bilheteria. Através de sua carreira de sucesso, Sofia faz o que muitos diretores não conseguem, sensibilizar a audiência contando histórias simples, cheias do sentimento de juventude e rebelião. Sofia fez uma escolha, de ser lembrada não pelo seu sobrenome, mas sim pelos seus filmes singulares.
5
As Virgens Suicidas Drama
1999
EUA
7,2
A trama conta a história de cinco jovens que moram no subúrbio de Michigan, cercadas por uma vizinhança pacata e um tanto conservadora, assim como é o cenário de dentro da casa das garotas. O pai, Ronald Lisbon (James Woods) é professor de matemática e assim como sua esposa (Kathleen Turner), bastante religioso. Elas não carecem de amor, mas também não de regras, não podem sair com garotos, que muito as cobiçam e inclusive são os narradores da história. O que faz com que o filme seja repassado com um grande tom de nostalgia, entretanto, o recurso também nos deixa um tanto mais distante delas. Quando Cecilia, a mais nova, tenta se suicidar cria-se uma abertura a interação, através de uma festa de aniversário em que os garotos da vizinhança são convidados. Toda via, esta abertura se fecha rápido demais quando durante a própria festa Cecilia consegue sucesso a tentativa anterior. Ela parecia ter motivações um tanto diferente das irmãs, talvez por conta disso ela foi a primeira a cometer suicídio e se afasta ainda mais das irmãs, que só vem a desabar todas as suas frustações no fim do filme. Cecília é uma garota sonhadora, se preocupa com a natureza e os animais, isto fica claro quando cita que já existem 3 espécies de animais que foram extintos naquele ano, ou quando é única a não achar engraçado as brincadeiras debochadas dos vizinhos para com um menino que tem síndrome de Down. Entretanto, quem ganha mais destaque no roteiro é a provocante Lux, interpretada brilhantemente por Kirsten Dunst. Ela é a irmã que parece ter mais sede de se libertar das amarras dos pais, conseguindo se envolver com um garoto da escola, Trip (Josh Hartnett), que é adorado por muitas meninas, mas só tem olhos para ela. No roteiro temos a ida das garotas ao baile, a perda da virgindade de Lux e os acontecimen-
6
1h 36min
tos mais obscuros que acontecem a partir daí. A adolescência é a idade de descobrir sexo e vida, mudanças e sentimentos como vontade de se libertar, isto é comum e parecem mais exacerbados no filme por conta da relação de mundo ultraconservadora que elas recebem dos pais, ao ponto de se reprimirem e se sentirem sufocadas. Obvio que eles não fazem isso por mal, mas acabam criando um excesso de repressão que desola as garotas aponto de não saberem lhe dar com as durezas da vida e por consequência, vivendo em depressão. As cores do filme são frias, o que aguça o sentimento de solidão e a própria frieza. Na casa dos Lisbon a decoração é branca, bege e cinza, existem também alguns pontos de tons pastéis, principalmente rosa, que fazem referência a ternura das garotas, tão jovens e tão incompreendidas em um lugar sóbrio demais. A fotografia é assinada por Edward Lachman, que ajuda na construção desta ambientação, que com movimentos de câmera suaves parecem divagar pelos assuntos que filme aborda. Nada mais obvio do que uma mulher dirigindo um filme que tem como base o olhar feminino. A direção de Sofia é confiante e sensível ao mesmo tempo, ela parece saber dirigir muito bem os atores e atrizes, que se desenrolam em uma trama emotiva com trilha sonora do duo francês “Air”. Neste filme Sofia nos mostra que fez bem em seguir os passos do pai e largar as artes cênicas e a partir dessa película ela cria seu universo particular e nos mostra indícios do que será a sua identidade. Este filme fala sobre temas pesados sem soar pessimista e demonstra a fragilidade da vida de maneira como só o olhar de Sofia poderia demostrar.
7
8
Encontros e desencontros Drama
2003
EUA/Japão
Talvez essa crítica soe saudosista, pois este é de longe o meu filme favorito da diretora e posso resumi-lo como sendo “uma poesia para o olhar”. É um filme nada explicito e pode soar chato para quem não enxerga beleza nas coisas simples, acredito que não é um filme para somente assistir, mas sim para sentir. Essa obra prima foca em dois personagens Bob Harris, interpretado por Bill Murray e Charlotte, interpretada por Scarlett Johansson. Ambos estão passando um tempo em Tóquio, cidade multicolorida, que carrega em si tradição e tecnologia. Ele é um ator de meia-idade, um matrimonio abalado, que está na cidade fazendo uma campanha publicitária para o Uísque Sartori e ela uma jovem recém-casada e graduada em filosofia, que se encontra na cidade acompanhando o marido, fotografo que está trabalhando as fotos de uma banda local. Fica claro que ele não se sente feliz em deixar de fazer filmes de ação por conta da idade, parecendo frustrado todas as vezes que precisa posar para fotografias. Já ela, se sente trancada, sozinha em uma cidade que não conhece, com um marido que só parece se importar com trabalho, enquanto a esposa vive sua melancolia sozinha, mesmo quando ela sai com os amigos dele, simplesmente não se conecta, parece estar sempre em busca de uma aventura que o marido não consegue lhe proporcionar. Essa vontade de fugir tecnicamente é demostrada quando a personagem está sempre voltada para janelas, que simbolizam a liberdade com que ela tanto flerta. Eles se conhecem no hotel onde estão hospedados, seus primeiros encontros são no bar do hotel, onde vão quando não conseguem dormir por conta do fuso horário, o Japão e a insônia é só um pretexto para na verdade mostrar a impessoalidade do mundo globalizado. A relação entre os dois começa introvertida, até que percebem que o sentimento de possível amizade é mutuo e começam ali a ter uma relação de cumplicidade muito forte, entrelaçados pelo sentimento de inercia em relação a cidade eles se conectam de maneira a demostrar grande admiração e respeito, a relação dos dois não é de maneira alguma um clichê que esconde uma admiração sexual. Tanto que eles até mesmo dormem na mesma cama, e entre conversas existencialistas a única interação corporal é
7,8
1h 45min
quando ele toca no pé dela, que está deitada em posição fetal. Lost in translation, título original, seria de tradução literal “perdido na tradução”, o que ambos os personagens realmente estão, em uma cidade oriental, sem saberem a língua regional e perdidos também em sua própria vida. Em uma cena inclusive, Bob não entende o que o diretor do comercial está falando e conta com ajuda de uma tradutora, que parece não traduzir corretamente o que ele fala e acaba causando um estranhamento. Esse filme fala sobre dualidades, sobre a simplicidade da vida, mas principalmente sobre solidão. A solidão que se mantem mesmo quando se tem um relacionamento, dinheiro ou uma carreira de sucesso, itens considerados essenciais para uma vida feliz e completa. Essa dicotomia é algo que todos nós passaremos na vida, a juventude, cheia de novidades e descobertas e a meia-idade, perda destas questões, que se reflete no encontro destes dois personagens que carregam nos próprios atores este sentimento melancólico, Scarlet muito jovem com apenas 19 anos e toda sua carreira pela frente e Murray, um já reconhecido ator que teve seu ápice nos anos 80. Entretanto, a química entre os dois é notável, conseguimos sentir a compreensão entre os dois. A trilha sonora novamente não desaponta, contando novamente com a banda Air e com outros ritmos indie rock como é comum da diretora como The Jesus & Mary Chain, Kevin Shield, My Blood Valentine e outros. Sofia trabalhou com uma simplicidade única e não só narrativa, mas de orçamento, apesar de ser filmado no Japão, a locação principal é o hotel e alguns lugares da cidade. Mesmo assim, seu segundo filme já demostra a uma qualidade que rendeu diversas indicações, que é o ápice de uma obra cinematográfica. Concorreu no Globo de Ouro, Bafta e inclusive, no Oscar, o qual temos um infográfico no final deste editorial sobre a atuação das mulheres na premiação. Sofia conseguiu com este filme, ser a 3ª mulher concorrendo ao prêmio na categoria de melhor direção, mais que merecido.
9
Maria Antonieta Drama
2007
EUA
6,4
O seu terceiro filme longa metragem foi adaptado da biografia escrita por Antonia Fraser, uma historiadora britânica. O filme conta a história da Rainha da França, Maria Antonieta e apesar de ser baseado em fatos, Sofia não se importa tanto em contar o contexto histórico e político da época, focando na personagem principal (interpretada por Kirsten Dunst), na sua forma mais humana. A trama nos leva a entrar no mundo da jovem austríaca, que com apenas 14 anos foi escolhida para desposar o delfim francês Luís (Jason Schwartzman) como parte de um acordo político entre as duas nações. Sofia conta a história da perspectiva de uma jovem adolescente, que tem que se habituar com costumes da corte francesa, nada similar a de Viena. Ela nos mostra um pouco da vida luxuosa da garota que começa a criar gastos econômicos com itens como jóias e roupas extravagantes, talvez para suprir o vazio existencial de estar em uma terra que não é a dela e com um casamento arranjado que não gera herdeiro por conta da apatia de Luís a frente da esposa, que é cobrada incessantemente para consumar a união. A trilha sonora é novamente cheia de símbolos do rock alternativo como The Strokes, o que cria um paralelo com a época em que foi filmado, o século XVII. Outro detalhe importante é o da cena em que as personagens se encontram envoltas em doces, sapatos, tecidos e jóias e um All Star aparece no meio dos calçados de época, simbolizando intencionalmente a juventude que é tão presente na jovem Maria Antonieta. Coppola máscara o drama com essas pinceladas de contemporaneidade que permitem que nos relacionamos com a obra na época em que estamos e entendemos um pouco a situação da protagonista, cheia de inquietações e sonhos. Essa obra de Sofia precisou de um orçamento bem maior, já que o cuidado com a imagem e a
10
2h 03min
reestruturação de uma época para filmagens pediram esta atenção aos detalhes. Sofia inclusive conseguiu um feito único, filmar dentro do palácio de Versalhes. Para elaborar o figurino do período, contou com a figurinista italiana Milena Canonero, que inclusive ganhou o Oscar de melhor figurino por conta do trabalho na película. Ela conseguiu com maestria retratar a passagem do Barroco para o Rococó através das vestimentas do filme. E o figurino, assim como os cenários, vão se modificando desde o início, que começa em tons pastéis, que celebram uma nova vida, ingenuidade e delicadeza da futura rainha e termina com cores são escuras, densas por conta do período de revolução e tragédias que afligiram a família. Maria Antonieta é vista no filme como inconsequente, ela aproveitava os privilégios que tinha para exalar sua juventude, promovendo bailes e jogos, não assumindo as responsabilidades reais e por consequência, se cegando em frente ao exagero de gastos dos cofres. Enquanto ela curtia sua vida como nobre, o povo francês no limite da pobreza, sofria de fome. Este descontentamento incomodou o povo, que se rebelava cada dia mais e iam moldando a revolução francesa. Fato é que ela era totalmente despreparada para enfrentar a desgraça que aconteceu depois, o que acabou com sua ridicularização e seu decaptamento durante o período. Alguns críticos detestaram o filme e até mesmo se ofenderam pelo posicionamento de Sofia, de valorizar mais a estética do filme do que a questão histórica. Mas acho que eles somente não entenderam que Maria Antonieta não é uma biografia cinematográfica perfeita e sim a história da personagem sob o olhar sensível da diretora.
11
Um lugar qualquer Drama
2010
EUA
6,3
Tenho uma leve impressão de que Sofia entende mais do que ninguém este filme por que ele se espelha na sua realidade. Itens como viagens, hotéis, fama e cuidar de uma filha, são cenários comuns no cotidiano de seu pai enquanto diretor de filmes clássicos. A trama foca em Johnny Marco (Stephen Dorff), um jovem ator norte americano, que parece estar cansado de todo glamour e a vida de celebridade que o rodeia. Ele se encontra hospedado no hotel Chateau Marmont para se recuperar de um acidente no set de filmagens. A rotina do ator se resume a álcool, sexo e muita melancolia. Todavia, quando sua filha Cleo (Elle Fanning) adentra as câmeras, tudo começa a ficar diferente. Cleo vai viver com o pai durante uns dias antes de ir para uma colônia de férias, ela tem apenas 11 anos, mas demonstra ser madura demais para idade. Já Jhonny é imaturo, sabe pouco sobre a filha mas parecem não ter nenhum desafeto e os momentos que passam juntos são deveras afetuosos. O sentido da vida para Jhonny parece estar guardado com a filha, já que junto dela, desfruta de uma alegria que os outros prazeres banais de sua vida não lhe proporcionam. Sofia foi criticada por este filme, já que é de temática repetida na carreira da diretora, ambos falam do encontro de si mesmo e da solidão. Entretanto, alguns pontos são extremamente diferentes, por exemplo, o fato do protagonista ser uma figura masculina, que precisa amadurecer, entendendo a paternidade e ainda tendo que lidar com um período tão intenso na vida quando um possível caso de depressão, que não fica explícito durante a trama.
12
1h 37min A diretora consegue nos sensibilizar através de suas lentes quando filma cenas longas e estáticas. Um exemplo é a cena das dançarinas de pole dance, quando ela deixa a câmera estática e em alguns momentos volta para a expressão apática de Jhonny deitado em uma cama, isto cria um tédio que nos transporta para além da vida do protagonista, sentimos o que ele sente. Outro ponto interessante do filme é que as roupas desleixadas e figura pouco simpática do ator, nos faz desconectarmos da figura do famoso em ascensão, vestindo grifes e sendo feliz o tempo inteiro e nos conectamos com a pessoa, humana e problemática. A trilha sonora novamente não desaponta, e se intercalam com momentos de silêncio necessários nas cenas do filme. A fotografia também é excepcional e com este filme, Sofia se tornou a quarta cineasta dos Estados Unidos (dentre eles a primeira mulher) a ganhar o Leão de Ouro, o maior prêmio no Festival de Cinema de Veneza. Sofia cresceu envolta a sets de filmagens e sabe muito bem o que a fama pode fazer a uma pessoa, acredito que é por conta disso que consegue captar essa melancolia como ninguém. Ela não precisou, como no filme anterior, de um grande orçamento, e aqui, impacta com uma obra imersiva, que precisa da paciência do espectador para fazer sentido. E faz isso muito bem, como já demonstrou antes, capta sentimentos e consegue criar personagens que se assemelham muito a pessoas reais e que se perguntam: “do que precisamos para ser completos afinal de conta?“.
Bling Ring: a gangue de Hollywood Drama
2013
EUA
5,6
A trama conta uma história real, baseada em um artigo de Jo Sales para a Vanity Fair. Bling Ring: A gangue de Hollywood. O filme retrata o cotidiano de cinco jovens que invadiam e roubavam joias, dinheiro e roupas das mansões de algumas celebridades de Los Angeles como Paris Hilton (que aparece no filme), Lindsay Lohan e Orlando Bloom. Sofia novamente escolhe o assunto fama e o aborda de uma perspectiva humanizada. Entretanto, os personagens são adolescentes de classe alta, que utilizam drogas, se expõem em redes sociais, tem problemas psicológicos e querem ser celebridades. Só. É um assunto interessante, a discussão da influência da cultura das celebridades numa geração envolta na social mídia, porém, os personagens são vazios e arrogantes. Este filme para mim se desloca dos anteriores porque não conseguimos nos conectar com os personagens, ao realizarem estes atos eles só demostram estar interessados na luxuria que a vida de famosos poderia lhes proporcionar, cometendo delitos para ter objetos que são reconhecidos pelo seu valor simbólico e monetário.
1h 30min
Os jovens até tentam nos mostrar que tem problemas reais, como é o exemplo de Mark (Israel Broussard), que parece esconder sua possível homossexualidade, ou Rebecca (Katie Chang), sua amiga cleptomaníaca. Mas não convencem. Os atores carregam os personagens com qualidade. O elenco também conta com Taissa Farmiga, que interpreta Sam e Claire Pfister que interpreta Chloe. Destacando-se a incrível Emma Watson, que interpreta Nicki e diferente dos papéis anteriores, retrata uma jovem extremamente fútil e infantil, demostrando sua versatilidade. Talvez seja apenas isso mesmo, a diretora queria mostrar quão ridículos podemos nos tornar quando tentamos impressionar com o que não é nosso, com o que é apenas uma camada fina de um interior oco, como os jovens retratados, frívolos e superficiais. Mas eu não acho que é isso, Sofia é ambiciosa demais para querer só isso. Acredito que ela simplesmente errou quando quis humanizar algo tão banal quanto o vazio preenchido com nada.
13
O estranho que nós amamos Drama
2017
EUA
6,3
Remake de um filme de 1971 e com inspiração do romance de Thomas Cullinan, escrito em 1966. O estranho que nós amamos foi dirigido e produzido por Sofia e Coppola e ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes. O filme se passa no período pós-guerra civil americana e se desenrola a partir da chegada do Cabo John McBurney (Colin Farrell), um ianque, ferido durante a guerra, na vida de sete mulheres que vivem em uma escola para garotas no sul dos EUA. Amy (Oona Laurence) o encontra quase morto, deitado na mata e o leva até o internato em que vive para que as mulheres o digam o que podem fazer com ele. Entretanto, elas ficam um tanto desconcertadas, não só por ele estar do lado do inimigo, mas por ser uma figura masculina. Todavia, Sr. Martha (Nicole Kidman), a diretora da escola, resolve abriga-lo e cuida de seu ferimento até que se recupere e possa ir embora. As garotas vão se aproximando, dialogando e criando laços com o desconhecido. Elas estão rodeadas de conservadorismo, seguem regras católicas e patriarcais que submetem o seu comportamento, podendo se comparar as irmãs Lisbon, de Virgens Suicidas. A chegada desse homem acaba, consequentemente, despertando um claro interesse sexual entre três das moradoras da casa para com a figura masculina, o que gera uma disputa que não dialoga com a política, mas se internaliza em mudanças de comportamento e fortes desejos. A trama se desenrola toda através da tensão que o desconhecido traz para o lar das garotas, com uma mistura de curiosidade, no início, soando até mesmo cômico, pois as garotas disputam a atenção do Cabo. Culminando em um final com uma atmosfera sombria, pautada pela atenção e a incerteza sobre o futuro. O elenco conta com grandes nomes como Elle Fanning e Kirsten Dunst que voltam a trabalhar
14
1h 33min
com a diretora e interpretam Alicia, uma das jovens alunas e Edwina, a professora das garotas, respectivamente. Algumas questões pairam no ar durante a película, como “Ele vai se recuperar?”, “Será que estas mulheres então seguras?”, “Algumas delas manterá uma relação mais íntima com ele?”. E são essas perguntas que nos carregam durante o desenrolar da história. Diferente das direções anteriores, aqui, Sofia apaga a trilha sonora e a fotografia. E o que podemos ouvir são sons provenientes da natureza, como pássaros cantando. Já a iluminação é feita com luz natural, contrastando com ambientes e vestidos claros que as meninas usam. O internato em que as garotas vivem é abandonado e representa refúgio durante este período turbulento, o apagamento destes elementos técnicos, criam no filme um ar de incerteza e insegurança, intencionalmente. Já que elas não estão certas do que o futuro e do novo morador da casa têm a oferecer, Sofia tenta aqui nos aproximar da história, faz com que fiquemos tensos e focados apenas no desenvolver do cotidiano dessas garotas ao lado do desconhecido. Neste filme, Sofia se ausenta das temáticas passadas que envolviam fama e questões existenciais, focando em demonstrar um pouco da vida destas mulheres. Mesmo assim, a recepção do filme não foi unânime. Mas uma certeza que se pode ter é que o filme é bem fechado, é um tanto lento durante o desenvolver da trama e pode soar repetitivo, mas ela consegue criar um clímax quanto ao interesse carnal e a castidade das mulheres entregando um final com uma conclusão ímpar. Problema é que ele não foi o suficiente para agradar todos os críticos, que acharam o filme pouco desenvolvido. Entretanto, na minha opinião, a montagem supera estes fatos e faz o filme merecer sim o prêmio que tem.
15
16
17
Impresso em couchê 250g [capa] e sulfite 115g [miolo] Tipografias utilizadas: Lato Direção de Arte: Caterine Ribeiro Ilustrações, Textos e Colagens: Caterine Ribeiro Orientação: Profa. Tabata Costa Dados do infográfico: Buzzfeed Projeto Editorial - Bacharelado em Design IFSUL
18
19
“My movies are not about being, but becoming“ - Sofia Coppola