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E@D”, desafio e oportunidade
António Oliveira
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“Para conseguirmos acompanhar o ritmo do mundo em 2050, será preciso não só inventarmos novas ideias e novos produtos, mas sobretudo reinventarmo-nos a nós mesmos uma e outra vez” (Harari, 2018, p. 302).
A frase pensada e escrita por Yuval Harari (2018), a pensar no que será a vida humana no futuro próximos (2050), não poderia encontrar um tempo em que fizesse tanto sentido como o atual. A pandemia global provocada pelo COVID 19 (nas suas variadas estirpes) provocou uma aceleração tal (parece um paradoxo, perante um mundo que, em muitos setores, nos parece quase em stand by) nos mais variados domínios que se aplica com propósito esta necessidade de nos reinventarmos a nós próprios uma e outra vez (Harari, 2018). No curto espaço de 10 meses (nem um ano…) tivemos de abdicar do ensino presencial e “aventurarmo-nos” no mundo desconhecido do ensino on-line (ou remoto, ou a distância… ou como queiram designá-lo). Por muito preparadas que estivessem as escolas e os professores (a primeira experiência poderia tê-los colocado de sobreaviso), este regresso ao on-line mantém-se como um enorme desafio face à urgência de proporcionar a todos os alunos o acesso à aprendizagem que lhes permita ser bem sucedidos (obter sucesso). A meu ver, um desafio ainda maior pois surge num momento em que a implementação dos decretos-Lei 54 e 55/2018, de 6 de julho, está ainda numa fase apropriação dos conceitos e, sobretudo, do novo paradigma em que se insere. As experiências vividas nos últimos anos, particularmente ao nível educativo, reforçam a convicção de que a única certeza que temos relativamente ao futuro é a mudança em si (Harari, 2018).
Então, o que ensinar num mundo em mudança permanente, onde nada parece ser perene, mas efémero? Como nos alerta Harari (2018), “a última coisa de que um professor precisa é dar aos seus alunos mais informação. Eles já têm informação a mais. Em vez disso, as pessoas precisam é da capacidade de discernir a informação, de perceber a diferença entre o que é importante e o que é irrelevante, e, acima de tudo, de combinar os vários pedaços de informação para obter um retrato completo do mundo” (Harari, 2018, p. 301). Isto é, “as escolas devem dar menos atenção às aptidões técnicas e colocar a ênfase nas aptidões de vida polivalentes. Acima de tudo, estará a capacidade de lidar com a mudança, de aprender coisas novas e de preservar o equilíbrio mental em situações novas” (Harari, 2018, p. 302). Efetivamente, se as escolas – leiamos os professores – mantiverem on-line o mesmo modelo de ensino que têm privilegiado presencialmente, assente na memorização da informação e do conhecimento, ao invés de privilegiarem um modelo sustentado nos “quatro C”: pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade (Harari, 2018) – preconizado no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO) – parece-me que ao enorme desafio corresponderá uma dificuldade ainda maior em vencê-lo. Neste sentido e correspondendo ao repto que me foi lançado, arrisco elencar dez proposições para organizar as aprendizagens on-line: 1. abordar este tempo de ensino a distância como uma oportunidade para redefinir modos de ensinar… e de aprender; 2. privilegiar metodologias ativas, introduzindo dinâmicas e estratégias que tenham a aprendizagem no centro e que promovam a participação ativa dos alunos no seu processo de ensino, aprendizagem e avaliação; 3. promover uma eficaz avaliação formativa, recorrendo a procedimentos, técnicas e instrumentos adequados à diversidade das aprendizagens, ao contexto em que ocorrem e respeitando o ritmo de cada aluno; 4. envolver todos os alunos no processo de aprendizagem, criando condições para que cada aluno adquira os conhecimentos e desenvolva as capacidades e atitudes que contribuem para alcançar as competências previstas no PASEO;
5. olhar cada aluno como pessoa, envolvido por uma comunidade concreta, promovendo, no respeito pela dignidade humana, o desenvolvimento das competências pessoais e sociais que permitam ao aluno ser livre, autónomo, responsável e consciente de si próprio e do mundo que o rodeia; 6. criar condições para que todos os alunos – os que participam na aula online (no computador, no tablet ou no telemóvel) e os que não participam porque sem recursos tecnológicos – desenvolvam as competências e capacidades que lhes permitam aprender, compreender, expressar-se, tomar decisões e intervir sobre as realidades naturais e sociais no mundo, rejeitando todas as formas de discriminação e de exclusão social; 7. valorizar a reflexão e o trabalho colaborativo entre docentes, potenciando a interdisciplinaridade e a criação de ambientes estimulantes e potenciadores de aprendizagens, através da construção de projetos, domínio de articulação curricular (DAC)…; 8. utilizar os meios digitais, como um forte aliado na educação, pois possibilitam maior acesso à informação, flexibilidade e diversidade de suportes no seu tratamento e apresentação, contribuindo para a implementação de medidas adequadas às necessidades e potencialidades de cada aluno; 9. valorizar o feedback ao trabalho desenvolvido, facilitando a comunicação, mantendo os alunos atualizados quanto à sua situação atual e permitindo-lhes expressar as suas dúvidas e dificuldades; 10. envolver as famílias, cada uma de acordo com as suas características e possibilidades, no acompanhamento do percurso escolar dos educandos. Voltando a Harari, o ensino a distância trouxe-nos e traz-nos desafios, mas também a oportunidade de “não só inventarmos novas ideias e novos produtos, mas sobretudo reinventarmo-nos a nós mesmos uma e outra vez” (Harari, 2018, p. 302). Na esteira do autor, julgo ser este o caminho…, preferencialmente, para se fazer acompanhado e não sozinho!