Revista Móbile - edição nº 26

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MÓ BI L E #26 futuro



Sumário 4

Futuro hoje e amanhã CATHERINE OTONDO

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Uma política nacional de ATHIS? NADIA SOMEKH

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Passado, presente e futuro SÉRGIO FERRO

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O mapeamento de ATHIS no território paulista COMISSÃO DE ATHIS DO CAU/SP

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Diagnóstico da Arquitetura e Urbanismo de São Paulo GESTÃO 2021-2023

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Passados, presentes e possíveis futuros das mulheres na Arquitetura e Urbanismo CAMILA ALMEIDA BELARMINO

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Descobrindo o futuro: CAU/SP avança na criação da Comissão Ordinária de Políticas Afirmativas ANDREIA DE ALMEIDA ORTOLANI

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Carta aos futuros arquitetos e urbanistas de 2073 SHEROLL MARTINS SILVA

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Um panorama dos acervos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil FELIPE DE ARAUJO CONTIER

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Fronte azulejada VANESSA IBRAHIM

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Planejando e projetando o futuro: a preservação da memória e do patrimônio cultural do CAU/SP

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60 62 66

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Metatópos: presente, passado e futuro na cidade DENIS FERRI E GABRIELA SOARES Uma Arquitetura para a Roma Tropical FABRÍCIO R. S. GODOI

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Cultivando territórios: novos espaços alimentares JULIA REIS

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O futuro das cidades em risco — Caminhos da agenda urbana e ambiental para cidades inclusivas, sustentáveis e resilientes

COMISSÃO DE POLÍTICA URBANA, AMBIENTAL E TERRITORIAL DO CAU/SP E NÚCLEO BRCIDADES RMBS

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Valorização profissional e os honorários para serviços de Arquitetura e Urbanismo COMISSÃO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL E COORDENAÇÃO TÉCNICA DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO CAU/SP

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Arquiteto(a) urbanista servidor(a) público(a): desafios e perspectivas COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL, COMISSÃO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL E COMISSÃO DE ENSINO E FORMAÇÃO DO CAU/SP

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Curtas DA REDAÇÃO FOTOGRAFIA:

COMISSÃO TEMPORÁRIA DO CONCURSO DE PROJETO DA SEDE DO CAU/SP E COMISSÃO TEMPORÁRIA DO CENTRO DE MEMÓRIA E ACERVO DO CAU/SP

DÉBORA NERI DOS SANTOS p. 12 e 13

Projeto presente para um futuro bem próximo

CARLOS EDUARDO ZAHN p. 25

MARIANA COSTA MAIA SILVEIRA p. 20

BAIXO RIBEIRO

FELIPE CONTIER p. 40 e 42

Tecnologias para o exercício profissional e novas frentes de trabalho em Arquitetura e Urbanismo

IGNACIO ARONOVICH p. 52, 53 e 55

PAULA MONROY p. 48 e 51 RODRIGO QUEIROZ (COM AMANDA RIGUETI)

COMISSÃO TEMPORÁRIA DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ARQUITETURA E URBANISMO DO CAU/SP

p. 62 e 65

Solução tecnológica moderniza atendimento

JULIA REIS p. 78, 80 e 81

EQUIPE CAU/SP

ARTES

Os benefícios da indústria 4.0 aplicados ao projeto de Arquitetura RODRIGO QUEIROZ

CAROLINA CARDI PIFANO DE PAULA p.35

Jogo por aplicativo como instrumento para orientação à conduta profissional

VANESSA IBRAHIM p.46

COMISSÃO DE ÉTICA E DISCIPLINA DO CAU/SP

FABRÍCIO R. S. GODOY p. 74

YARA GIL p. 44 e 45 FELIPE FÉLIX p. 77, capa e guardas PAULO VON POSER p. 72 e 73 GUILHERME GODOY p. 96


editorial

Expediente (Móbile 26)

¶ FUTURO. Esta edição #26 vem para fechar o primeiro ciclo de um novo projeto editorial da Móbile, um trabalho que foi iniciado na edição #23 e que hoje se consolida em uma nova maneira de se fazer a revista. A construção da Chamada Aberta de Trabalhos, a mudança da composição do Conselho Editorial a cada edição e o projeto visual promoveram uma nova identidade para a revista e os resultados nos surpreenderam! Nestes últimos três anos e quatro edições, nós, do Comitê Editorial Executivo, junto com a equipe de Comunicação, o Conselho Editorial e a Comissão Especial de Comunicação, trabalhamos para que a Móbile ganhe sempre em qualidade e com maior participação dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo. Além disso, buscamos na definição dos temas de cada edição uma maior aproximação com as pautas emergentes da sociedade e que são objetos do nosso campo de atuação. O “Futuro” é mais um tema que nos coloca questionamentos, problematizações, expectativas e esperança diante das questões do passado, do presente e do que podemos encontrar e realizar pela frente. Os trabalhos da Chamada Aberta, assim como os textos apresentados pelo Conselho, compartilham reflexões e ações voltadas às diversas frentes de atuação profissional e nos permitem desenhar o cenário do hoje e pensar os caminhos do amanhã.

PRESIDÊNCIA DO CAU/SP CATHERINE OTONDO, Presidente POLIANA RISSO SILVA UEDA, Vice-presidente

Boa leitura! Comitê Editorial Executivo

PRESIDÊNCIA DO CAU/BR NADIA SOMEKH, Presidente DANIELA PAREJA GARCIA SARMENTO, 1ª Vice-presidente NILTON DE LIMA JÚNIOR, 2º Vice-Presidente COMISSÃO ESPECIAL DE COMUNICAÇÃO CAU/SP SAMIRA RODRIGUES DE ARAÚJO BATISTA, Coordenadora ELENA OLASZEK, Coordenadora Adjunta / AFONSO CELSO BUENO MONTEIRO / AMARILIS DA SILVEIRA PIZA DE OLIVEIRA / DELCIMAR MARQUES TEODOZIO / FERNANDO NETTO / PAULA FERNANDA FARIA RODRIGUES / ROSANA FERRARI / SANDRA APARECIDA RUFINO / PAULA RODRIGUES DE ANDRADE EQUIPE DE COMUNICAÇÃO CAU/SP FERNANDA CORREA DA SILVA COSTA, Coordenadora de Comunicação EPAMINONDAS NETO, Analista de Comunicação ADRIANO BATISTA BARBOZA, Assistente de Comunicação MARIA LEIDE ARCANJO LIMA SILVA, Assistente de Comunicação DANILO ZELIC, Estagiário de Comunicação EDITADO POR Projeto gráfico e diagramação: ALLES BLAU Impressão: COAN INDUSTRIA GRAFICA LTDA Tiragem: 20 MIL EXEMPLARES Imagem da capa: FELIPE FÉLIX: AI e As Cidades Visíveis REVISTA MÓBILE E-mail REVISTA.MOBILE@CAUSP.GOV.BR ISSN: 2448-3885 COMITÊ EDITORIAL EXECUTIVO AFONSO CELSO BUENO MONTEIRO / AMANDA ROSIN DE OLIVEIRA / EDUARDO PIMENTEL PIZARRO / PAULA RODRIGUES DE ANDRADE / SAMIRA RODRIGUES DE ARAÚJO BATISTA / MARIA STELLA TEDESCO BERTASO / VIVIANE DE ANDRADE SÁ CONSELHO EDITORIAL DA EDIÇÃO Nº26 ANA LÚCIA CERÁVOLO / ANA PAULA PRETO RODRIGUES NEVES / ANGELA GOLIN / ARLETE MARIA FRANCISCO / FERNANDA MENEGARI QUERIDO / NALLÍGIA TAVARES DE OLIVEIRA TAVARES / RAQUEL FURTADO SCHENKMAN CONTIER / RENATA ALVES SUNEGA / RONALDO JOSÉ DA COSTA / ROSANA FERRARI / THAÍS BORGES MARTINS RODRIGUES / VERA LÚCIA BLAT MIGLIORINI PARECERISTAS DA EDIÇÃO Nº26 ALAN SILVA CURY / ANA BÁRBARA MACHADO RODRIGUES / ANDRÉ FROTA CONTRERAS FARACO / BÁRBARA POZZA SCUDELLER / CARMELA MEDERO ROCHA / CLAUDIA MUNIZ / DANIELLE SKUBS / DENISE ANTONUCCI / FERNANDO NETTO / GEISE BRIZOTTI PASQUOTTO / HELIO HIRAO / JOAO CARLOS CORREIA / KELLY CRISTINA MAGALHÃES / LARA STIVAL NUNES DE ALCÂNTARA GARROTE / LARISSA FRANCEZ ZARPELON / LEDA MARIA LAMANNA FERRAZ ROSA VAN BODEGRAVEN / LUÍSA A. G. T. GONÇALVES / LUIZ ANTONIO DE PAULA NUNES / MARIA ENEIDA BARREIRA / RENATA FRAGOSO CORADIN / ROSSELLA ROSSETTO / SOFIA PUPPIN RONTANI / STEFANIA DIMITROV / VERA SANTANA LUZ / VIVIANE MANZIONE RUBIO / WILTON FLÁVIO CAMOLEZE AUGUSTO AUTORES SELECIONADOS DA CHAMADA ABERTA DE TRABALHOS DA EDIÇÃO Nº26 Artigos: ANDREIA DE ALMEIDA ORTOLANI / BAIXO RIBEIRO / CAMILA ALMEIDA BELARMINO / FABRÍCIO R. S. GODOI / FELIPE DE ARAUJO CONTIER / GABRIELA SOARES E DENIS FERRI / JULIA REIS / RODRIGO QUEIROZ / SHEROLL MARTINS SILVA / VANESSA IBRAHIM Tapumes: CARLOS EDUARDO ZAHN / DÉBORA NERI DOS SANTOS / GUILHERME GOMES DE GODOY / FELIPE FÉLIX / YARA GIL As opiniões publicadas nesta edição da revista Móbile refletem a visão de seus autores e não correspondem necessariamente à opinião do CAU/SP.

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A imagem da capa, das guardas e da página 77, do colaborador Felipe Félix, foram criadas com auxílio do Midjourney, serviço de inteligência artificial que gera imagens a partir de 'prompts'. Os 'prompts' (instruções), além de dados sobre o formato final e técnicos, tinham trechos do livro “As Cidades Invisíveis", de Ítalo Calvino, atrelados às obras de artistas como Tomás Saraceno, Michel Gondry e Ridley Scott. Como esses artistas enxergariam as cidades do futuro? Os pensamentos e as alucinações da "máquina’” nos ofereceram essas imagens como resposta, provocando uma reflexão crítica acerca do futuro das cidades e dos limites de utilização da inteligência artificial.


Ponta da Praia, Santos - SP


Futuro hoje e amanhã POR CATHERINE OTONDO

¶ O EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA DO CAU/SP é, antes de mais nada, um grande privilégio. Apesar da intensidade e responsabilidade que vem junto com esta “cadeira”, o privilégio está na possibilidade de projetar e articular ações políticas e institucionais que incidem diretamente no campo profissional. Assim, é com ânimo e entusiasmo e a consciência da importância deste lugar privilegiado, que me dirijo a vocês nesta última carta editorial da gestão 2021-23. Esta gestão começou com um projeto político inovador e de certo modo audaz, cujo objetivo principal das mulheres no Conselho era o de aproximação efetiva com a sociedade, além da ampliação da representatividade e do amparo à ação profissional no seu espectro mais amplo. Vimos logo nos primeiros meses que, para implementarmos os projetos que tínhamos em mente, precisávamos de uma estrutura funcional mais ágil, amparada e eficiente. Assim, já no início da gestão, ampliamos o acesso a programas e sistemas tecnológicos; começamos um diálogo com os funcionários da autarquia, na perspectiva de criar um plano de cargos e salários; estruturamos novas formas de cobrança junto à organização da equipe de finanças; e, sobretudo, fortalecemos as áreas técnicas de fiscalização e atendi-

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mento, a fim de garantir a função primeira do Conselho que é a de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício de nossa profissão perante a sociedade. Tais ações estão hoje implementadas, permitindo que o CAU/SP atue de forma rápida e eficaz, no âmbito do seu alcance e responsabilidade, com parâmetros de gestão ancorados nas demandas e complexidades do século XXI. Para além das atividades de rotina do Conselho, percebemos que, dada a sua potência, poderíamos ampliar nossos horizontes e articular o CAU/SP a outras instituições, dando maior visibilidade à nossa profissão. Assim, através dos Planos de Ação das nossas Comissões Ordinárias, Especiais e Temporárias, realizamos uma série de seminários, fóruns, encontros, ciclos de debates, visitas e percursos no território paulista, a fim de tornar nossa ação mais aderente à realidade de cada região de nosso estado. Com estas ações, atingimos um número de profissionais e leigos muito expressivo, o que nos permite idealizar uma a "Agenda de Futuro para a Arquitetura e Urbanismo", considerando o papel do CAU/ SP. Esta Agenda tem como base o histórico de mais de 10 anos do CAU/SP e também


os dados do Diagnóstico dos Perfis Profissionais e das Instituições de Ensino Superior que elaboramos este ano, cujo resultado nos permitiu definir melhor o foco das ações. Os eixos e diretrizes da Agenda dialogam com o Planejamento Estratégico do CAU/SP, desenvolvido para o período 2022-24. Este processo contribuiu com a organização das ações rotineiras e estratégicas, permitindo sua articulação e priorização tendo em vista a necessidade de alinhá-las de acordo com as aspirações, objetivos estratégicos e eixos norteadores do Conselho. Desta forma, foram construídos 13 projetos estruturantes, que se organizam em quatro programas: CAU/ SP 10+; CAU/SP Território Paulista; CAU/SP Digital; e CAU/SP Valorização Profissional. No Programa CAU/SP 10+, realizamos uma série de projetos e ações que celebram o marco de 10 anos de existência do Conselho e alicerçam as bases para a construção de um futuro dinâmico, ativo, inclusivo, participativo e inovador. Neste âmbito, realizamos o Concurso Público Nacional de Arquitetura para Reforma do edifício-sede do CAU/SP, que permitiu a seleção do melhor projeto dentre 29 propostas recebidas. Além de permitir, futuramente, a reforma do nosso endereço na rua Quinze

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FUTURO

de Novembro, o Concurso serviu como ferramenta para valorizarmos e divulgarmos esta modalidade de contratação para projetos de Arquitetura e Urbanismo. Em paralelo à realização do Concurso e ao desenvolvimento dos projetos executivos e complementares, percebemos que este edifício, projetado por Ramos de Azevedo no Triângulo Histórico da cidade de São Paulo, e que nós já ocupamos com novo mobiliário, constitui uma oportunidade, uma ferramenta para a ativação deste território urbano, contribuindo enfim com a valorização da Arquitetura e Urbanismo para todas e todos. Nesta perspectiva, “abrimos as portas para a cidade” e realizamos uma série de ocupações, ativações, intervenções artísticas, exposições, rodas de conversa, percursos, e travessias que, de forma contínua e persistente, começam a tornar a nossa sede um espaço de encontro e referência para arquitetos e arquitetas e urbanistas, e para a sociedade em geral. No Programa de Valorização Profissional, articulamos e fortalecemos as Chamadas Públicas voltadas ao reconhecimento de boas práticas na Arquitetura e Urbanismo, considerando os TCCs desenvolvidos por estudantes (Prêmio Projetando o Futuro) e projetos elaborados por profissionais (Prêmio


Construindo o Presente); bem como as Cha- municípios. Com isso espera-se uma dimimadas Públicas para Fomento de Projetos nuição nos processos de denúncias, e que de ATHIS, PAT Cultural, CAU Educa, Capa- a fiscalização possa exercer mais seu papel citação, Difusão, Acervo e Memória, agora orientativo e educativo perante a sociedade. consolidados em um calendário planejado. Ao longo dos anos percebemos o aumenNestes últimos anos fomentamos 62 to do número de cursos de Arquitetura e projetos de ATHIS, com um investimento Urbanismo no estado de São Paulo. De de mais de R$ 8 milhões. Para que o traba- acordo com os dados do MEC (Ministério lho das Organizações da Sociedade Civil da Educação), atualmente existem 204 Ins(OSC) pudesse transcorrer de modo ágil e tituições de Ensino Superior cadastradas transparente, fizemos uma revisão profunda no estado, das quais 162 oferecem cursos na apresentação do edital e nos formatos de presenciais e estão ativos, enquanto outras prestação de contas. Com isso, pudemos 30 instituições oferecem cursos 100% na ampliar e diversificar o número de organi- modalidade EAD. O número de vagas autorizações participantes. Estes projetos, em zadas em cursos de Arquitetura e Urbanismo articulação com demais ações do Conse- presenciais cresceu 16% nos últimos 5 anos. lho voltadas à efetiva implementação da lei Sabemos que no estado de São Paulo, 11.888/2008, contribuem com a promoção apenas 43% dos profissionais realizaram de direitos fundamentais do cidadão. alguma formação após concluída a graA fim de garantir que nossos profissionais duação (CAU/BR, 2020). Considerando possam exercer de forma eficaz e responsável o registro profissional automático e as seu trabalho perante a sociedade, entende- especificidades do ensino de Arquitetura mos que é papel do Conselho amparar este e Urbanismo hoje, cabe ao Conselho a proprofissional, criando linhas de capacitação, moção de ações orientativas e de formação inclusão, informação e sobretudo defendendo continuada, que permitam aos arquitetos e seus direitos perante o Estado, em questões arquitetas e urbanistas a plena execução de como os impostos – vide a ação que fize- suas atribuições profissionais. E considemos em defesa à não bitributação do ISS rando a competência do MEC na aprovação e a cobrança indevida do CCM por alguns e fiscalização da qualidade do ensino em

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si, cabe ao CAU avançar em ações voltadas à boa formação, além da regulamentação da Residência Técnica, do fortalecimento do diálogo com as Instituições de Ensino Superior e da ampliação de ações orientativas ao exercício ético e qualificado da profissão. Neste sentido, trabalhamos na divulgação da figura da Residência Técnica em Arquitetura e Urbanismo, construímos a possiblidade do Conselho ser um agente articulador entre as Instituições de Ensino Superior e o poder público. Este programa permite que o CAU se aproxime de políticas públicas fundamentais para nossa sociedade, tais como habitação, planejamento urbano, programas ambientais, patrimônio cultural e mobilidade. Nossa ideia é a de que o profissional de Arquitetura e Urbanismo seja acessível a todas e todos, e possa participar ativamente do cotidiano das pessoas. O desenvolvimento da figura da Residência permite que no futuro o registro profissional ganhe novas categorias e atribuições específicas, atreladas ao exercício prático. E, por outro lado, fortalecemos o setor profissional do arquiteto servidor público. Quem sabe não voltaremos a ter escritórios de arquitetura estruturados na administração pública? Vimos, por fim, que este universo de atividades só se realiza completamente quando

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FUTURO

profissionais e sociedade têm conhecimento da nossa existência. Assim, renovamos todos os canais de comunicação do CAU/SP, as redes sociais, esta revista, e então percebemos que precisávamos ir além, o que nos motivou a realizar uma grande campanha publicitária com foco na sensibilização da população sobre as dimensões e a importância do nosso trabalho. Por todas estas razões - que certamente foram transformadoras na minha trajetória profissional e pessoal -, tenho a possibilidade de hoje escrever este texto com um sentimento positivo e de esperança que se deve sobretudo às pessoas que encontrei nesta jornada e às relações afetivas criadas aqui: aos funcionários que fazem com que a rotina de trabalho seja cumprida com leveza e humor, às Conselheiras e Conselheiros e Suplentes de Conselheiro por sua ação crítica, responsável e republicana, e às mulheres que conheci neste caminhar, que me fizeram aprender sobre o feminismo, a política, a amizade e o amor. Recebam assim todas e todos o meu abraço. Viva o CAU/SP! Viva! CATHERINE OTONDO, PRESIDENTE DO CAU/SP


Uma política nacional de ATHIS?

POR NADIA SOMEKH

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¶ A LEI DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA em Habitação de Interesse Social, que completa 15 anos em 2023, teve um impulso importante pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo ao definir a destinação de dois por cento de seu orçamento, no mínimo, para projetos de Arquitetura em ATHIS. Na gestão 2021/2023 um passo importante transformou em marca a priorização dessa questão. Das 25 milhões de moradias precárias, calculadas pela Fundação João Pinheiro, sabemos que 14,2 milhões têm problemas edilícios (como cobertura e pisos inadequados ou paredes com trincas), causadoras de insalubridade, e dessas, segundo o IBGE, 1,6 milhão não têm banheiros, expondo mais de 5 milhões de moradores a doenças recorrentes. Entendemos que as preocupações com a saúde pública e os crescentes problemas ambientais são questões que se entrelaçam e impactam a vida nas cidades brasileiras. A partir de 2021, com os impactos da pandemia de Covid-19 e dos desastres ambientais nas cidades e, principalmente, nos territórios vulneráveis, o CAU inicia uma campanha unificada por uma nova proposta de valorização profissional com foco na ATHIS, o programa Mais Arquitetos. Desde então, o CAU Brasil vem promovendo uma ampla divulgação da Lei Federal nº 11.888/2008 junto à população e o poder público, visando difundir experiências exitosas em todo país e a importância da moradia digna para a saúde pública. O “Manifesto em Defesa de Moradia Digna Para Todos — Um projeto para o CAU e para o Brasil”, lançado durante o Congresso Mundial de Arquitetos da UIA em 2021, sintetiza as intenções do CAU para a garantia de cidades mais resilientes, inclusivas, saudáveis e seguras. Estas intenções foram fortemente debatidas durante a Semana do Urbanismo do CAU Brasil, ocorrida em novembro de 2021, e que teve como tema a “Cidade Resiliente”. As cidades brasileiras vivenciam com frequência os mais diversos desastres ambientais por consequência direta da falta de planejamento urbano e da incompatibilidade entre a ocupação nas cidades e as pré-condições ambientais.

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FUTURO


Nos últimos 20 anos, foram inúmeros os desastres ambientais de enorme proporção enfrentados no Brasil, desde rompimento de barragens a afundamento de solo urbano, inundações e deslizamentos. É papel do CAU Brasil, ao proteger a sociedade, promover uma articulação entre as unidades da federação em prol de cidades melhores, sempre estimulando ações que favoreçam o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à sobrevivência e saúde das cidades brasileiras. Em 2022, por exemplo, foi lançado um edital para patrocinar projetos na modalidade “Apoio à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social”, com foco em ações de prevenção e mitigação de riscos climáticos e recuperação de áreas degradadas por desastres ambientais a partir da ATHIS, da regularização fundiária e da promoção da Habitação de Interesse Social, em locais de vulnerabilidade social que tenham sido atingidos entre 2018 e 2022. Foram destinados R$ 1,5 milhão para os oito projetos selecionados. Em julho último, a Carta da III Semana de Habitação, realizada em Aracaju/ SE, comemorando os 15 anos da Lei de ATHIS, indicou nove diretrizes para sua efetivação em todo território nacional. Uma delas é a formulação de um Programa Interministerial de melhorias habitacionais e Assistência Técnica gratuita seguindo exemplo de estruturação programática desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo CAU Brasil. Já investimos mais de R$ 23 milhões em várias ações importantes, e hoje temos consciência de que uma mobilização ampla é necessária para garantir que as ações previstas no novo programa Minha Casa Minha Vida atendam às reais necessidades do povo brasileiro. Por isso defendemos uma política nacional visando dar escala e a devida dimensão que a realidade brasileira requer. ✗

NADIA SOMEKH PRESIDENTE DO CAU BRASIL

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→ Ocupação 9 de Julho no centro de São Paulo/SP

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→ Favela do Haiti na zona leste da capital

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TAPUME → DÉBORA NERI DOS SANTOS → Moradia é um direito


Passado, presente e futuro SÉRGIO FERRO (*)

(*) Transcrição da fala do arquiteto e urbanista Sérgio Ferro na 28a. Reunião Plenária do CAU/SP em 27 de abril de 2023.

Residência Bernardo Issler, 1961.

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¶ CONFESSO QUE, AO RECEBER a informação sobre essa homenagem a mim, eu achei estranho: eu sou um marginal entre os profissionais. Eu, de uma certa maneira, os critiquei me criticando junto com aqueles que eu critico, e não entendia muito bem por que, de repente, bem velhinho já, haveria essa homenagem. Mas, depois que eu soube da composição do Conselho atual, eu fiquei sabendo por que me homenageavam. De uma certa maneira, vocês, com essa chapa vencedora, participam de uma luta, que é paralela àquela que eu mesmo travo, mantenho e continuo, e continuarei enquanto puder. A luta pela igualdade dos gêneros converge com a luta pelos trabalhadores da construção, que eu prego, luto e desenvolvo durante toda a minha vida. Quero agradecer à homenagem em primeiro lugar em nome também do Rodrigo Lèfevre e do Flávio Império, infelizmente ausentes, mas que são coautores daquilo que eu repito incansavelmente até hoje. Tenho pena dos construtores e da situação deles atualmente. Desculpem, mas é bem pior que a das mulheres. Vocês viram o que aconteceu no Catar recentemente: um verdadeiro genocídio programado, friamente conduzido, e não há termos para definir o que houve lá. E nenhuma reação internacional, como se trabalhadores

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da construção pudessem morrer na indiferença geral, adoecerem sem tratamento, serem explorados até a última gota de sangue. Isso parece que está se tornando normalidade nas grandes construtoras. Eu fui testemunho de uma espécie de prenúncio, de prólogo dessa barbaridade nos canteiros de Brasília. Foi lá, ainda estudante de Arquitetura, mas encarregado de fazer alguns projetos importantes em Brasília junto ao meu pai, que era promotor imobiliário, Rodrigo e eu desenhamos o que, graças ao Oscar Niemeyer, às regulamentações que ele fazia, as construções privadas pudemos realizar. Não digo nunca o nome, mas há quem conheça o nome dessas barbaridades, e como naquele tempo, éramos obrigados, enquanto arquitetos, a visitar canteiros para ver se os nossos projetos estavam sendo bem conduzidos, Rodrigo e eu — o Flávio chegou um pouco depois— tínhamos tido já experiência de canteiros de obra, mas canteiros de obras quase doces. Havia uma construtora em São Paulo chamada CENPLA —com ‘n’, e não ‘m’— que construía os projetos de vários arquitetos da chamada Escola Paulista de Arquitetura, ou seja, seguidores do Vilanova Artigas, o grande mestre. Essa construtora estava acostumada a ter que mudar um pouco os hábitos do canteiro, e tinha constituído uma equipe de trabalhadores bastante solidária, bastante harmoniosa sob a direção de Osmar Souza e Silva, sujeito maravilhoso, que conduziu os canteiros de obra, pelo menos aqueles que eram voltados para a Escola Paulista de Arquitetura, com muita doçura, [com] muita compreensão, com muito vagar, dando tempo para experiências dos arquitetos, para as mudanças que eles tentavam fazer nesse ou naquele componente do projeto, e [é] essa experiência que nós tínhamos do canteiro. O canteiro era uma atividade digna, clara, sem violência. Não víamos sinais claros e nítidos de luta de classe, o contrário, as equipes eram sempre as mesmas, sempre os mesmos trabalhadores, e pouco a pouco nos acostumávamos nesse clima fácil, de um canteiro fácil, de um canteiro acolhedor.


Quando chegamos a Brasília com os nossos projetos, e vimos os canteiros de lá, mesmo os canteiros de nossos projetos, foi para nós um terror quase, uma surpresa absoluta. Não podíamos imaginar —conhecendo somente os canteiros da Cenpla em São Paulo—, o que era um canteiro de uma construtora gigante, fazendo aqueles projetos acelerados de Brasília. Mais tarde, na prisão, convivi com alguns companheiros que haviam participado da construção de Brasília, e eles nos contaram que a coisa era bem pior do que aparecia para aqueles que somente visitavam Brasília. Um horror. E, realmente, um prenúncio, um anúncio do que posteriormente está acontecendo. Tenho lido alguns trabalhos sobre grandes construtoras que participam, paradoxalmente, do projeto ‘Minha Casa Minha Vida’, em que o trabalho começa também a atingir o nível de violência bastante grande. [...] Eu trouxe aqui um livro, o último que saiu no Brasil, [...] no qual eu narro a história, um pouco do trabalho e da Arquitetura desde mais ou menos o ano 1000 até o fim do que eu chamo [de] período do classicismo, que é o fim do século XIX. Então, [é] um livro pretensioso, que cobre ‘séculos e séculos e séculos’, mas que tenta descrever essa queda, essa passagem de um universo extremamente belo, bonito, digno, a um outro, repito, o do Catar. Lá no ‘comecinho’ não havia divisão entre o desenho e o canteiro: desenhar era uma atividade do canteiro; não havia arquiteto separado dos outros trabalhadores; o arquiteto era um coletivo, alguma coisa feita coletivamente. Temos poucas informações do modo de elaboração até metade do século XII, mas antes desse período, não havia nenhum desenho que precedesse a construção: a planta era feita diretamente na terra, ou um esboço [era] feito a mão livre, [o] que bastava. O resto era decidido durante a produção por todos os operários do grupo superior, não falo dos servos —havia mesmo escravos até, em certos casos— mas o grupo dos trabalhadores era um grupo de iguais, que decidiam coletivamente o que construir e como construir, e só eles sabiam fazer isso, ninguém mais.

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Era praticamente o auge do mundo dos trabalhadores. Representavam a cúpula dos trabalhadores no sentido em que não só decidiam como fazer, mas decidiam o que fazer: as encomendas chegavam ditas, não desenhadas, e a partir das palavras, os arquitetos deveriam fazer o resto. Isso muda um pouco mais tarde, e [é] quando começa a aparecer a figura do arquiteto: o arquiteto é o primeiro dos trabalhadores a se isolar do canteiro de obras por uma razão, talvez por evolução necessária, mas por razões externas mais que internas. Também [houve] razões internas. Externamente o que aconteceu a partir do ano 1000 foi uma grande reforma na Europa, que nós conhecemos hoje como a reforma gregoriana. Isto é, uma reforma da Igreja. A Igreja, até então, estava misturada com a sociedade. A partir do ano 1000, mais ou menos, aparece o Papa Gregório e faz uma reforma na qual a Igreja se isola completamente do mundo laico, e aparecem então duas entidades que vão se confrontar e vão de uma certa maneira se enfrentar: a sociedade laica, que começa a administrar as cidades, e de outro lado, a Igreja com sua estrutura e seu enorme poder. O poder da Igreja, não só espiritual, mas econômico, é gigantesco nesse período. Essas duas entidades organizaram, de um lado, a cidade; do outro lado, as grandes construções da Igreja e que compreendem as catedrais, mas também conventos e outros edifícios administrativos, e de ensino. Essa confrontação que exige o aparecimento de um desenho, de um desenho que estabeleça um acordo entre a administração urbana e a administração laica. Essas obras da Igreja demoram anos, às vezes até séculos, e é preciso haver um documento qualquer que sele, que afirme, que registre o acordo que foi obtido entre a Igreja e a cidade. Aparecem, então, desenhos maravilhosos. Uns dos mais bonitos estão na casa da obra de Notre Dame de Estrasburgo — são desenhos de quase três metros, uns pergaminhos gigantescos. Não são exatamente, mas quase em escala, e não decidem aparentemente todos os pormenores, todos


DEPOIMENTOS EM ÁUDIO SOBRE SÉRGIO FERRO Ouça o depoimento da presidente do CAU/SP, Catherine Otondo, durante sessão plenária em homenagem a Sérgio Ferro. Duração: 04:42 ↗ bit.ly/46SgMXz

Ouça o depoimento do arquiteto e urbanista Victor Chinaglia sobre participação de Sérgio Ferro em debate na Ocupação Braço Forte em Americana/SP. Duração: 01:48 ↗ bit.ly/3rUX3ru

Ouça o depoimento do arquiteto e urbanista Chico Barros sobre a relação de Sérgio Ferro com o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra. Duração: 09:58 ↗ bit.ly/4902aaI

Ouça o depoimento da arquiteta e urbanista Raquel Schenkman sobre palestra de Sérgio Ferro na sede do IABsp em que abordou o tema arte, trabalho e Arquitetura. Duração: 03:18 ↗ bit.ly/3M7WEce

os detalhes, porém dão indicações suficientes para selar o tal acordo, não são desenhos de planta, porque os desenhos de planta naquela época eram de difícil leitura, só os especialistas conseguiriam ler, por terem vários níveis sobrepostos no mesmo desenho. Por essa razão os desenhos que serviam para o acordo eram desenhos de fachada, do que era chamado até o século XIX, de retrato da obra. [Era] desenhado o retrato da obra a ser construída. Raramente era obedecido totalmente até as últimas consequências, mas servia de guia para os desenhos. Na cidade, durante a primeira Idade Média, isto é, até o ano 1000, houve aquela série de invasões na Europa, dos godos, visigodos etc., que realmente entravam, saqueavam as cidades, e arrebentavam toda a economia. Como consequência dessas invasões, a população tendeu a se aproximar dos castelos feudais, que tinham muralhas, tinham proteções. Dava para fugir e fechar uma porta que não havia nas cidades. As cidades não eram ainda fortificadas, eram abertas, facílimas de invadir. [...] Com as guerras —a guerra é sempre um elemento fundamental em todas as desgraças humanas— no Oriente para expulsar os árabes de Jerusalém, na Espanha para expulsar os mesmos árabes da Península Ibérica, os europeus se acostumam a fazer escravos, prisioneiros, e, inteligentemente, não faziam escravos que não sabiam nada, ao contrário, procuravam escravizar gente competente em todos os domínios: Medicina, Geometria, Astronomia, e também, obviamente, Construção. São esses escravos que aparecem nos relatórios. Não são escravos como a gente imagina: a gente miserável,

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Ouça o depoimento do arquiteto e pesquisador Pedro Arantes sobre o pensamento de Sérgio Ferro e as relações de trabalho no canteiro de obras. Duração: 05:36 ↗ bit.ly/3M5Jk84

FUTURO

explorada, levando chicotada. Eram técnicos de alto nível, que estavam ali em situação social de escravidão, mas encarregados também, ao mesmo tempo, de transmitirem aquele saber que eles tinham, que haviam herdado de toda a tradição oriental. É aí que renasce o saber construtivo europeu e que vai ficar na mão de alguns que se reúnem em bandos, em grupos, e que vão percorrer de cidade em cidade, anunciando: “nós aprendemos e sabemos construir coisas grandes, não pequenas obras, evidente, mas catedrais altas, monumentais, porque aprendemos e temos este conhecimento. Não vamos ensinar para ninguém isso porque isso é nosso tesouro de guerra, é com esse saber que nós vamos negociar salário, tempo de trabalho, condições de trabalho etc”. Os operários, então, —mesmo já em situação diferente, porque eram contratados pelas cidades e obrigados, a se organizar em corporações— têm uma força muito grande. Essa organização em corporações era no primeiro momento, uma coisa bonita: significava dividir o trabalho igualmente com todo mundo, mas rapidamente se transforma num instrumento vicioso e hierárquico, separando os compagnons e os aprendizes. Aparentemente, uma estrutura razoável, só que com o tempo, os mestres começam a gostar de serem mestres, e passam somente a transmitir a maestria para os filhos ou para o cunhado ou para o genro. Então começou a haver uma seleção das pessoas formadas, que criam a primeira grande divisão realmente antagônica no corpo produtivo, uma oposição


muito grande entre o mestre, que normalmente era podem comunicar o saber fazer, a não ser quando a aquele que vai assumir esses desenhos de fachada Revolução Industrial faz crer que é necessário fazer que eu contei para vocês, e os outros, os compagnons, alguma coisa para modificar a manufatura da construção. os trabalhadores qualificados, mas que não sendo E começa a lenga-lenga eterna sobre a industrialização nem filhos nem genros, não têm mais condições de da construção, e aparecem as primeiras ciências —entre ascender à maestria: ficam presos a um grau baixo da aspas— da construção, que vão alimentar pouco a produção, e assim começou a ruptura entre o arquiteto, pouco a corrosão dos métiers. o mestre, o mestre da corporação, e de outro lado, a Na passagem do século XIX para o século XX, há um massa dos trabalhadores. sindicalismo maravilhoso, o mais bonito sindicalismo Essa distância vai só crescer com a história, e vai se da história dos trabalhadores, que é o sindicalismo esticar enormemente. Vai aparecer uma hierarquia entre revolucionário. os arquitetos, como vai aparecer uma outra hierarquia Não é marxista, não é industrial: há muita pouca entre os trabalhadores. indústria nesse período, na passagem do século XIX ao Os arquitetos vão, durante a Renascença, se organizar XX, a produção é quase que exclusivamente, manufaem três categorias. Os ‘big’, os ‘grandões’, as estrelas tureira, como até hoje. São esses trabalhadores manude hoje, que simplesmente dão grandes orientações; o fatureiros que são os mais revolucionários sempre. Alberti, por exemplo é a primeira figura desse tipo, ele São eles que fizeram 1793, em grande parte. São eles não desenha mais projeto de arquitetura; ele desenha que fizeram 1830, em grande parte; 1832, em grande orientações gráficas para fazer o projeto, linhas, propor- parte; mais tarde um pouco, 1848, é a primeira vez que ções, esquemas, mas não desenha mais parede, telhado realmente a classe operária se separa da burguesia e não nada disso. Isso é [com] o segundo arquiteto, um pouco desaparece neste absurdo chamado ‘Terceiro Estado”. abaixo dele, que é aquele que põe a beleza do saber do Depois, na Comuna de Paris, um dos momentos mais mestre em termos de desenho construtivo. E depois bonitos da história humana, a maioria dos componentes há um terceiro nível dos arquitetos, com aquele que vem das manufaturas da construção. vai ao canteiro dirigir os trabalhos, verificar tudo, etc. Em termos de proporção, eles são muito mais repreE daí para baixo se desenvolve uma outra escada sentativos na Comuna do que na sociedade em geral vertiginosa que vai dos compagnons, os companheiros, antes da Comuna. Há realmente uma concentração os operários altamente qualificados, mas sem condições de trabalhadores da construção na Comuna, e são de ascender à maestria e, embaixo, os aprendizes, os eles que, fundamentalmente, alimentam, constituem auxiliantes, e aquela montanha de serventes muitas e desenvolvem o sindicalismo revolucionário. vezes ainda na condição de servos feudais. Esse sindicalismo de base fundamentalmente anarNão vou continuar descrevendo essa história — quista tem por regra não obedecer [a] político nenhum, está ali no livrinho— depois disso houve o começo não participar de partido político nenhum, mas, ao da Renascença a introdução da manufatura, que é contrário, fazer a revolução logo, e a partir do canteiro uma redivisão do trabalho, [...], mas ainda mantendo de obras. a estrutura dos métiers. Esses métiers vão continuar O termo ‘ação direta’ quer dizer isso: os trabalhaainda a ter um grande poder porque são os únicos dores que têm o métier na mão e que são os únicos a que sabem construir. Não esqueçam que o segredo ter métier na mão que fazem a greve; fazendo a greve, eles interrompem necessariamente a produção. continua válido, continua aplicado. [...] O segredo do saber fazer, este eles guardam São eles que fazem os grandes movimentos extreciumentamente, e não divulgam de maneira nenhuma. mamente violentos do sindicalismo revolucionário. Aquilo que se faz no canteiro, e que só se aprende no Em cada greve, há mortos, luta com a polícia, de uma canteiro e nunca vai ser objeto de obras escritas que violência extrema.

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A situação, eu acho (...) só tem piorado. Aquele mundo lindo dos construtores totalmente autônomos e autodeterminados desemboca hoje numa das situações mais precárias e horrorosas no mundo do trabalho.

E eu acho, mas não tenho prova nenhuma, que esse exemplos maiores do sindicalismo revolucionário. sindicalismo, que se espalhou pela Europa a partir O sindicalismo se acomoda, e se acomoda até hoje. da França, teria sido uma das causas da Primeira Cada vez perdendo mais terreno, os métiers são desGuerra Mundial. truídos completamente {...], e fica a possibilidade não A Primeira Guerra Mundial foi comandada por de industrializar a construção —nunca foi feito— mas aristocratas, os militares de formação, e quem vai de administrar a construção como se fosse uma indúsmesmo para o campo de batalha são os componentes tria, através da destruição total dos mecanismos dos das camadas mais baixas e pobres, e sofredoras da métiers tradicionais. população, e muitos da colônia também. Na reunião da CGT francesa, mas que tem reperE todo mundo sabe a barbaridade das batalhas da cussão sempre mundial, a partir da França, declara[-se] Primeira Guerra Mundial. Batalhas totalmente inúteis, o fim do sindicalismo revolucionário: nós vamos fazer e que morre gente, morre gente, morre gente, coinci- um sindicalismo de convenção, um sindicalismo de dentemente, curiosamente, muitos dos trabalhadores discussão, de debate, e termina completamente esse da construção, e muitos, os componentes do sindi- veio, essa via, esse caminho revolucionário. calismo revolucionário. Eu escrevo isso num ‘artiguinho’ que não está aí: Quando acabou a Primeira Grande Guerra Mundial, “concreto como arma”. E a situação, eu acho, a partir duas grandes transformações: primeira, a industria- daí, só tem piorado. lização se generaliza, a indústria europeia e mundial Aquele mundo lindo dos construtores totalmente nasce lá no fim do século XVIII, XIX, e se desenvolve, autônomos e autodeterminados desemboca hoje numa se espalha como uma praga; a receita mágica para a das situações mais precárias e horrorosas no mundo nova sociedade. do trabalho. Com a Primeira Guerra Mundial, se instaura o sisPor isso eu acho essa luta, que é afinal de todos tema industrial e a ritmo forçado a fim de fabricar nós, converge muito com a luta das mulheres hoje, bomba, armas etc. chefes dessa Casa. Terminada a guerra, esse ritmo forçado, esse tipo Por isso eu acho, por essas razões todas eu acho, de industrialização se generaliza porque era preciso que vocês tiveram a ousadia de me homenagear. Muito obrigado. [Aplausos] ✗ reconstruir, era necessário refazer tudo e junto com isso são liquidados os restos do sindicalismo revolucionário, desse povo maravilhoso que faz as revoluções, SÉRGIO FERRO É PINTOR, DESENHISTA, [que] fazia as revoluções na Europa. Como exemplo os ARQUITETO E PROFESSOR, RADICADO NA FRANÇA HÁ MAIS DE 30 ANOS massacres de Rosa de Luxembougo e Karl Liebknecht,

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FUTURO


O mapeamento de ATHIS no território paulista POR COMISSÃO DE ATHIS DO CAU/SP

© MARIANA COSTA MAIA SILVEIRA

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¶ EM MEIO ÀS MUDANÇAS SOCIAIS vividas na cidade contemporânea, a garantia do direito à moradia digna para a população de baixa renda tornou-se uma necessidade. Neste contexto, a promulgação da Lei Federal n. 11.888, de 2008, conhecida como Lei de ATHIS, tornou possível a aproximação entre arquitetos e urbanistas e diversos outros segmentos. Reconhecer a importância das ações de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social no território paulista através do mapeamento da atuação e participação de arquitetas e arquitetos é o objetivo deste artigo. São inúmeros os segmentos que passaram a atuar no campo da ATHIS, entre eles pode-se destacar entidades sem fins lucrativos vinculadas aos movimentos de moradia, as universidades através de trabalhos acadêmicos e pesquisas científicas, o poder público através das secretarias de habitação, e o esforço contínuo de entidades e instituições que buscam auxiliar no enfrentamento da precariedade habitacional no país. Tomando como referência o mapeamento realizado pelo CAU/SC através da CATHIS — Comissão de Assistência Técnica e a Pesquisa Nacional em ATHIS de 2019, elaborado pelo Observatório das Metrópoles/IPPUR (UFRJ) em parceria com o CAU/RJ, optou-se pela aplicação de um formulário (Microsoft Forms), divulgado no período de novembro de 2021 a junho de 2023, com o objetivo de compreender o perfil dos profissionais que realizam atividades de ATHIS, entender onde estão sendo executadas tais ações e, principalmente, compreender as dificuldades que têm impossibilitado a efetiva aplicação da Lei 11.888. Desta forma, os resultados alcançados possibilitarão orientar futuras ações que visem à aproximação de profissionais com o poder público municipal, bem como subsidiar a formulação de novos editais propostos pelo CAU/SP.

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FUTURO


AS AÇÕES DE ATHIS NO TERRITÓRIO PAULISTA

O acesso ao formulário por cerca de 80 entidades, profissionais e demais segmentos possibilitou o reconhecimento da atuação de ATHIS nas diversas regiões do território paulista. Em linhas gerais, há uma evidente concentração na capital e região metropolitana, totalizando 41% das respostas coletadas. Por outro lado, destacam-se as cidades do interior da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, com 19% e 17% respectivamente. Também pode-se considerar percentuais de participação provenientes de Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Sorocaba, São José do Rio Preto, Baixada Santista e Jundiaí, indicando que, apesar da prevalência de profissionais atuantes na RMSP, o campo de atuação se faz presente de forma ampla em todo o estado. Esse fato pode ser analisado de forma positiva, uma vez que os últimos dados de déficit habitacional indicam a existência de mais de 91 mil unidades habitacionais em situação de precariedade no estado de São Paulo (FJP, 2023). O número de moradias precárias evidencia a urgência na elaboração de políticas públicas focadas no atendimento da população, capaz de gerar melhoria na qualidade de vida e garantir a segurança dos indivíduos. Desta forma, reconhecer como a atuação em ATHIS vem acontecendo é fator relevante para compreender as reais demandas da área. Entre as formas ou organizações pelas quais se dá a atuação em ATHIS no território paulista, destacam-se os profissionais autônomos e organização da 24

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Ações de apoio à Assistência Técnica — com parceria de fomento do CAU/SP — nas ocupações Esperança e Ribeirão Vermelho em Osasco (SP). © ARQUIVO CAU/SP / OSC AMBIENTE TRABALHOS PARA O MEIO HABITADO

sociedade civil (OSC), correspondendo a 28% e 11% respectivamente, enquanto a atuação proveniente de órgãos públicos de administração direta atinge o percentual de 8%. Cabe ressaltar que 14% dos respondentes afirmam que, apesar de terem interesse, não atuam em ATHIS, evidenciando a necessidade de fomentar, incentivar e valorizar o trabalho dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo neste seguimento. Ainda, como forma de atuação em ATHIS, destaca-se as instituições de ensino públicas e privadas, com a promoção de ações de ensino, pesquisa, extensão e residência, aproximando os alunos e recém-formados com a população que necessita deste tipo de trabalho profissional e do campo de atuação em ATHIS. Essa aproximação torna-se fundamental para que as demandas da comunidade e dos indivíduos sejam conhecidas pelos profissionais envolvidos, possibilitando a execução de projetos e obras capazes de gerar melhorias de qualidade de vida. Porém, um dos grandes entraves para a atuação em ATHIS é justamente conhecer essas demandas no território, garantindo, assim, uma atuação mais efetiva em relação às necessidades locais. De acordo com o mapeamento, as demandas chegam até os profissionais de diversas formas, sendo elas ação de associações de moradores, cooperativas e movimentos sociais, de forma mais expressiva, além de grupos não formalizados, órgãos públicos e pessoas físicas. Os profissionais envolvidos atuam com trabalhos pro bono (doação), contratos de prestação de serviços com pessoa física, contratos de prestação de serviços com pessoa jurídica ou entidades e certames licitatórios (prestação de serviços para órgãos públicos). 25

FUTURO


Outro entrave para a atuação está relacionado à captação de recursos para custear os honorários dos profissionais envolvidos e as ações de ATHIS, como melhorias habitacionais, regularizações fundiárias, entre outros. Sobre esse assunto, o mapeamento apontou que o aporte de recursos financeiros para ações de ATHIS são provenientes de doações, financiamento universitário (agências de fomento via bolsas ou recursos para pesquisa, ensino e/ ou extensão), editais públicos de fomento, editais de fomento dos Conselhos de Arquitetura e Urbanismo (CAU) dos Estados, edital de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS) e recursos próprios. Já no caso de órgãos públicos, os recursos para ATHIS têm sido supridos por meio de Fundo Municipal de Habitação ou recursos estaduais e federais. ATHIS E A ARQUITETURA E URBANISMO

Para os profissionais das OSCs observa-se que a palavra baixa renda esteve presente em 36% das respostas sobre o que se entende por ATHIS; menos de 70% conhecem a Lei Federal 11.888, de 2008; 65% informaram possuir arquiteto e urbanista como responsável técnico, contudo, do total apenas 44% atuam no campo de ATHIS; no poder público o número de profissionais responsáveis sobe para 80% dos entrevistados. Quanto à relação de trabalho nenhum dos entrevistados possui vínculo trabalhista pela CLT, a maioria atua pelo recolhimento do Registro Profissional Autônomo (RPA), Pessoa Jurídica (PJ) e Voluntariado. Sendo ATHIS um campo de trabalho multidisciplinar, o mapeamento apontou que os principais profissionais das entidades envolvidos são: arquiteto e urbanista, engenheiro civil e sanitarista, assistente social, advogado e sociólogo. A atuação em ATHIS tem se intensificado nos últimos 3 anos, considerando que 41% dos entrevistados declararam tempo de atuação de 0 a 3 anos, contudo apenas 45% dos profissionais autônomos informaram recolher o RRT, o que impacta na baixa emissão da CAT — Certidão de Acervo Técnico. Para a maioria dos entrevistados a remuneração nos trabalhos de ATHIS deveria ter como parâmetro uma tabela de honorários a ser desenvolvida pelo CAU/SP. RESULTADOS PRELIMINARES

Ainda que preliminar, o mapeamento aponta a necessidade de medidas emergentes para a regulamentação do campo de atuação em ATHIS, incluindo a formação específica nos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, a elaboração de tabela de honorários pelos CAU/BR e CAU/SP, a orientação aos profissionais acerca da responsabilidade técnica nos serviços de ATHIS e, principalmente, o urgente diálogo com o poder público, principal responsável pela efetiva implementação da Lei Federal 11.888/2008, a fim de garantir condições de acesso à Arquitetura e Urbanismo para as famílias de baixa renda das cidades paulistas. ✗

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FUTURO

Este desenho inédito, de 1984, expressava um tempo de incertezas, que o futuro se encarregou de definir. Uma reflexão perene: desde que nos proponhamos a ver adiante, o futuro saberá encontrar caminhos!

TAPUME → CARLOS EDUARDO ZAHN → O Futuro sempre existe!


Diagnóstico da Arquitetura e Urbanismo de São Paulo POR GESTÃO 2021-2023

N

ARQUITETOS(AS) E URBANISTAS POR 10 MIL HABITANTES

12.7 - 21.4 8.5 - 12.7 7.4 - 8.5 5.4 - 7.4 3.3 - 5.4 UF 0

FONTE: SICCAU, 2023

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250

500 km


PROFISSIONAIS

N

DE ARQUITETURA E URBANISMO POR 10 MIL HABITANTES

18.16 - 41.22 9.49 - 18.16 5.45 - 9.49 2.84 - 5.45 0 - 2.84 0 Regionais do CAU/SP

0

75

150 km

FONTE: SICCAU, 2021

¶ ATUALMENTE, NO BRASIL, há cerca de 220 mil arquitetos(as) e urbanistas com registros ativos nas 27 unidades da federação, de acordo com os dados internos do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Esse número duplicou em uma década: em 2012, éramos aproximadamente 100 mil profissionais, quando foi publicado o I Censo dos Arquitetos e Urbanistas do Brasil, realizado pelo CAU Brasil, após a sanção da Lei nº 12.378, de 31 de dezembro de 2010, que criou o sistema CAU. O estado de São Paulo acompanhou esse crescimento. Hoje somos quase 70 mil arquitetos (IGEO, 2023), ou seja, um terço dos profissionais em atuação no país. Nos últimos 10 anos, a ampliação do número de profissionais arquitetos urbanistas foi impulsionada pela expansão da rede de ensino. Junto com o crescimento do número de profissionais egressos das Instituições de

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FUTURO

Ensino Superior (IES) de Arquitetura e Urbanismo e ingressantes no CAU/SP, também se verificam transformações significativas no mercado de trabalho, com avanços de desenvolvimento de softwares e novas tecnologias e a introdução de novas ferramentas de ensino. Na perspectiva da construção de políticas e ações aderentes, pertinentes e necessárias ao exercício da Arquitetura e Urbanismo hoje e no futuro e, como parte do Planejamento Estratégico do CAU/SP (2022-24), o CAU/SP está desenvolvendo o projeto "Diagnóstico da Arquitetura e Urbanismo de São Paulo: Perfis dos Profissionais e Instituições de Ensino Superior". O Diagnóstico é um dos projetos estruturantes do Programa CAU/SP 10+, que visa celebrar os 10 primeiros anos do Conselho (a partir da Lei nº 12.378/2010) e estabelecer bases mais sólidas para a estruturação de


PARTICIPAÇÃO DAS UF NO TOTAL DE ARQUITETOS E URBANISTAS,

RORAIMA

NO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) E NA POPULAÇÃO DO PAÍS

ACRE AMAPÁ TOCANTINS SERGIPE RONDÔNIA PIAUÍ ALAGOAS PARAÍBA RIO GRANDE DO NORTE MARANHÃO AMAZONAS MATO GROSSO DO SUL ESPÍRITO SANTO CEARÁ MATO GROSSO PERNAMBUCO PARÁ GOIÁS DISTRITO FEDERAL BAHIA SANTA CATARINA RIO GRANDE DO SUL PARANÁ MINAS GERAIS RIO DE JANEIRO SÃO PAULO

0,00

5,00 %PIB

30

10,00

% Arquitetos e Urbanistas

15,00 % População


INSTITUIÇÕES DE ENSINO

N

E PESQUISA POR MUNICÍPIO

MATRÍCULAS

14.584

3.300

420

0

TAXA DE MATRÍCULAS

FONTE: SICCAU, CENSO DO ENSINO SUPERIOR

606 - 1.359 311 - 606 147 - 311 47 - 147 0 - 47 UF

VAGAS

13.097

2.800

250 0

TAXA DE VAGAS 976 - 1.512 385 - 976 180 - 385 55 - 180 0 -55 UF

20,00

31

25,00

FUTURO

0

30,00

35,00

250

500 km

40,00


ações, a médio e longo prazo, nos próximos 10 anos. Desta forma, o projeto contribui para o fortalecimento de uma agenda de aprimoramento e gestão de indicadores que permitam repensar e orientar ações de inclusão, equilíbrio e ampliação dos campos de atuação e, consequentemente, a valorização dos arquitetos e urbanistas junto à sociedade. O projeto é desenvolvido pelo CAU/SP em conjunto com o Centro Brasileiro de Análises e Planejamento (CEBRAP), tendo como objetivos a produção de dados, insumos e análises quantitativas e qualitativas sobre os diferentes aspectos referentes ao campo da Arquitetura e Urbanismo, perfis dos profissionais, áreas de atuação profissional e das Instituições de Ensino Superior com cursos de graduação e pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo; contribuir para consolidação de uma cultura de produção, análise e gestão de dados e informações no CAU/SP; e, ainda, qualificar a comunicação do CAU/SP junto à sociedade e aos profissionais de Arquitetura e Urbanismo, a partir da leitura e publicação dos dados de diagnóstico do quadro atual da AU paulista e da caracterização detalhada dos diferentes perfis, áreas de atuação e visões dos universos amostrais pesquisados. Está estruturado em duas etapas principais que resultarão em publicações disponibilizadas nos canais de comunicação do CAU/SP. A primeira etapa vai gerar um atlas que sistematiza e analisa um conjunto de dados secundários (isto é, produzidos por diferentes instituições, com distintas finalidades), que hoje se encontram dispersos. Na segunda etapa, serão produzidos dados primários, por meio da aplicação de questionários junto a uma amostra de profissionais arquitetos e urbanistas, e junto ao universo das Instituições de Ensino Superior.

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PRIMEIRA ETAPA

De modo a estruturar os temas orientadores da primeira etapa, foi realizada uma oficina com coordenadores das comissões do conselho, que permitiu a identificação das principais questões, metodologias e abordagens que definiram a estrutura de cinco eixos de análise no atlas: a) contexto sociodemográfico e territorial e dados gerais sobre arquitetos e urbanistas em São Paulo e no Brasil; b) perfil profissional no estado; c) panorama do mercado de trabalho; d) panorama do ensino superior em Arquitetura e Urbanismo; e) temas e informações que refletem os diferentes campos de atuação. A principal referência utilizada nesta etapa foi o Sistema de Informação e Comunicação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (SICCAU), criado pela Resolução nº 05, de 15 de dezembro de 2011, que tem como objetivo unificar as bases de informação sobre o exercício profissional nas dimensões gerenciais, corporativas e geográficas, além de permitir o gerenciamento eletrônico de documentos e possibilitar a constituição do acervo de profissionais e empresas. Por essas razões, o SICCAU constitui a melhor referência de dados no que diz respeito à representação da magnitude e das características dos profissionais no país. De modo complementar e transversal aos dados do SICCAU, na produção do atlas também foram utilizadas bases de dados públicas, como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujos dados possibilitam um retrato mais amplo da profissão na atualidade, agregando subsídios como rendimento, posição na ocupação (empregado, conta própria etc.), contribuição previdenciária, entre outros fatores; e o Censo do Ensino Superior, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), cujos dados possibilitam análises, também de forma especializada sobre as instituições, oferta de vagas e outros aspectos relacionados ao panorama do ensino superior em Arquitetura e Urbanismo. Vem sendo produzidas diversas análises e cruzamentos de informações para, por exemplo, compreendermos a relação do número de profissionais arquitetos e urbanistas frente à população brasileira, assim como sua contribuição para a geração de riqueza, entre outros. Nessa perspectiva, o atlas mostra que, no geral, considerando-se a população brasileira, o número de arquitetos é inferior à participação de habitantes do estado. Observa-se, no entanto, que o estado de São Paulo é um dos


poucos no qual o percentual de arquitetos e urbanistas é mais elevado, ficando próximo ao peso do estado na geração de riqueza: 31,2% no Produto Interno Bruto nacional, como o gráfico na página 26 nos permite verificar. As informações, trabalhadas pelo CAU/SP e CEBRAP, permitem identificar ainda a distribuição dos profissionais e dos serviços de Arquitetura e Urbanismo no território paulista e de acordo com regionalização dos escritórios descentralizados do CAU/SP, e a relação com a organização de fluxos de pessoas e mercadorias, influenciando a distribuição da riqueza na rede urbana paulista. Para as análises sobre o ensino superior, nesta primeira etapa foram utilizados os dados do Censo do Ensino Superior, coletados pelo INEP, que trazem informações sobre os cursos de Arquitetura e Urbanismo, como número de vagas, matrículas, ingressantes e concluintes. Adicionalmente, outras bases de dados públicas, como o próprio IBGE e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), foram incorporadas às análises para permitir leituras sobre os contextos envolvidos na graduação e pós-graduação. Em síntese, o atlas construído na primeira etapa possui um caráter inédito, com um conjunto de análises exploratórias, trazendo tabelas, gráficos e mapas que sintetizam informações relevantes sobre os profissionais e as IES de Arquitetura e Urbanismo no estado de São Paulo e servem como subsídio para o aprimoramento da atuação do conselho, mas também para os próprios profissionais. SEGUNDA ETAPA

A segunda etapa do Diagnóstico visa a aprofundar a pesquisa e conhecer melhor tanto o perfil, a formação, a atuação profissional e as percepções e opiniões dos(as) profissionais da Arquitetura e Urbanismo paulistas como ampliar o conhecimento sobre as instituições

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FUTURO

com cursos de graduação e pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo no estado de São Paulo, considerando informações sobre curso, coordenadores, docentes e estudantes. A coleta de dados se deu por meio de questionário aplicado junto ao universo das IES e, no caso dos profissionais, aplicado em pesquisa amostral. Os resultados consolidados do "Diagnóstico da Arquitetura e Urbanismo de São Paulo: Perfis dos Profissionais e Instituições de Ensino Superior" devem ser publicados ao longo deste segundo semestre de 2023. Esses resultados, que estarão disponíveis para consulta de todos os profissionais e da sociedade, trazem um importante retrato de nossa profissão após uma década de implantação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo; e constituem um importante registro, necessário tanto para conhecimento do campo, como para subsidiar o desenho, no CAU/SP e em outras entidades e setores, de programas e políticas adequadas à valorização profissional do arquiteto e urbanista junto à sociedade. ✗

REFERÊNCIAS CAU/BR. Censo dos Arquitetos e Urbanistas do Brasil. Brasília-DF, 2012. Disponível em ↗ bit.ly/3PzTNe6. Acesso em 15/08/2023. CAU/BR. II Censo dos Arquitetos e Urbanistas do Brasil. Brasília-DF, 2020. Disponível em ↗ bit.ly/46bTYlA. CAU/BR. Sistema de Inteligência Geográfica (IGEO). Brasília-DF, 2023. Disponível em ↗ bit.ly/3PzUxQq. Acesso em 15/08/2023. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo 2022: Resultados. IBGE, 2023. Disponível em ↗ bit.ly/3PBTX4D. Acesso em 15/08/2023. NOTA Os dados foram extraídos da análise preliminar apresentada pelo CEBRAP para o Atlas.


Passados, presentes e possíveis futuros das mulheres na Arquitetura e Urbanismo POR CAMILA ALMEIDA BELARMINO

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¶ O OBJETIVO DESTE TEXTO é propor uma reflexão entre as noções de passado, presente e futuro e como essa consagrada tríade temporal pode nos sinalizar algo sobre a presença da mulher no campo da Arquitetura e Urbanismo. E, neste caso, a ideia é sugerir mais perguntas do que respostas para pensarmos as possíveis condições das mulheres na área e os caminhos para o ontem, para o hoje e para o amanhã. O sentido de ‘os caminhos para o ontem’ pretende dispor não somente a respeito da recuperação das profissionais no passado, mas também sobre a própria concepção de passado da Arquitetura e Urbanismo como estrutura de invisibilidade das mulheres. Conceber maneiras alternativas de olhar para o passado que superem a lógica do “mestre criador” contribui para diferentes ações práticas, como as de reparação histórica e de fortalecimento das representatividades (STRATIGAKOS, 2016. P. 66). A proposta não é afirmar que as limitações pelas quais as mulheres arquitetas e urbanistas estiveram submetidas no passado são iguais às limitações nas quais estão submetidas hoje. É importante compreender que são tempos históricos diferentes, porém que existem 35

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continuidades. É nesse sentido que passado, presente e futuro se entrelaçam, a partir do que sabemos do ontem, daquilo que insiste em permanecer, e de como aspiramos o amanhã. Ainda sobre esse ponto, é importante considerar que as relações entre presente, passado e futuro são tênues e muito subjetivas, podendo auxiliar no entendimento de premência de certas questões como as de gênero. Não partimos da noção de que as mulheres arquitetas e urbanistas estiveram, estão ou estarão além do seu tempo. A trajetória de vida, como um todo, diz respeito a uma existência histórica sempre contemporânea à sua época. De modo geral, as experiências exprimem sobre desejos, individualidades, subjetividades, entre outros, mas também acerca de condições sociais, políticas e econômicas que limitam ou impulsionam ações. Se o objetivo for destacar as mulheres de ontem, de hoje ou de amanhã, a partir de uma excepcionalidade em suas carreiras, será que de fato oportunizaremos sua existência histórica? Falar sobre mulheres se justifica pelo “direito de existir” (DEL PRIORE, 1997, p.9) já que o apagamento de suas falas, corpos e ideias tem sido uma prática sistemática de “longa duração”1. Tratá-las como personagens geniais talvez possa impedi-las de existir. Essa afirmação não significa que nenhuma delas tenha se destacado pelo conhecimento, pelas atividades exercidas ou pela produção de acordo com os parâmetros profissionais de um determinado contexto. É preciso compreender, no entanto, que algo realizado com uma determinada configuração, em algum tempo do ontem, pode ser retomado de diferentes formas em tantos outros presentes e futuros, enxergando-se qualidades e características não vistas anteriormente. E, se esse processo traz à tona uma série de figuras masculinas que reforçam e constituem a identidade profissional no presente, por que as figuras femininas não são destacadas? Apontamos três reflexões que podem ser feitas no interior deste debate, isto é, sobre o porquê e como dar visibilidade às mulheres em Arquitetura e Urbanismo, considerando as relações entre passado, presente e futuro. Uma diz sobre a ideia de que as profissionais não fizeram nada de grandioso no passado porque as estruturas limitavam as oportunidades de atuação. E sim, é possível encontrar, dentre as primeiras arquitetas do Brasil, uma diferença no que diz respeito à carreira com relação aos colegas de profissão homens. Enquanto esses estavam sendo contratados como arquitetos no serviço público nas décadas de 1930 e 1940, por exemplo, ainda poucas arquitetas eram contratadas sequer como desenhistas.


A outra reflexão trata da dificuldade de se observar uma representação histórica da mulher na arquitetura no presente de forma tão ampla quanto a masculina. Isso pode demonstrar o quanto a estrutura de exclusão do passado permanece hoje sob um modelo de narrativa que cristaliza a concepção de “ser profissional da Arquitetura e Urbanismo” na lógica do star system (RUBINO, 2019). E, por fim, a terceira reflexão: tensionar hoje a maneira como se concebe o passado no presente pode nos indicar um caminho mais equitativo para atuação profissional no futuro? Reconhecer como as desigualdades se configuram historicamente na área pode ser o primeiro passo para as almejadas mudanças para o amanhã. Permitir às arquitetas e urbanistas o sentido de existência não é mensurar a capacidade profissional. É possibilitar que a elas seja concedido o direito de tempo histórico que inclua as ações do passado, a atuação do presente e que tipo de futuro desejam construir. Talvez, entendendo a Arquitetura e Urbanismo como um exercício coletivo, daremos o direito à existência a várias mulheres profissionais na história, porque assim compreenderemos que elas atuaram ao lado de tantas outras personagens já conhecidas e até desconhecidas. E os resultados dessas atuações, projetos e ideias podem ser vistos como fruto de um processo em que diversas personagens tiveram ação. Como a questão autoral é fundamental na prática da Arquitetura e Urbanismo, e pressupõe um reconhecimento, talvez este seja um ponto a ser confrontado em termos de gênero para o estabelecimento futuros percursos na área: o que significa, para a Arquitetura e Urbanismo, a autoria de um projeto? Como pensar autoria em processos coletivos em âmbito público e privado? Como as mulheres aparecem, ou desaparecem, no que diz respeito à autoria? E que caminhos podem garantir às profissionais de Arquitetura o direito de autoria? Esse seja, talvez, um esforço de mudança de mentalidade e de reconhecimento de valores que pautam a divisão de gênero das atividades na área cotidianamente no passado e no presente, além de uma sugestão de dessacralização da forma como olhamos para o passado no presente e, como na prática e na linguagem fundamental para área, considerar possíveis projetos de futuro para as mulheres na Arquitetura e Urbanismo. ✗ CAMILA ALMEIDA BELARMINO É PROFESSORA E PESQUISADORA NA ÁREA DE HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO. BACHAREL E LICENCIADA EM HISTÓRIA PELA UERJ, MESTRE EM HISTÓRIA SOCIAL PELA UNIRIO E DOUTORANDA EM HISTÓRIA DA ARQUITETURA PELA USP.

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COM QUAL GÊNERO SE IDENTIFICA? Mulher cisgênero

58% Homem cisgênero

30% Prefiro não informar

11% Não-binário

1% Homem transgênero

0% Mulher transgênero

0% © CAU/BR 2020. ↗ https://bit.ly/3QVtqjT

REFERÊNCIAS DEL PRIORE, Mary (org.); BASSANEZI (coord.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1992. RUBINO, Silvana. Mundo da arquitetura esconde mulheres, diz historiadora. Folha de São Paulo. São Paulo, 32 de agosto de 2019. Disponível em: ↗ bit.ly/45OrEpb. Acesso em 28/10/2021. STRATIGAKOS, Despina. Where are the women architects? New Jersey: Princeton University Press, 2016. NOTA 1 Categoria cunhada pelo historiador Fernand Braudel e que nos auxilia a pensar o tempo.


Rosa do Tempo. Ilustração sobre os tempos e suas sobreposições. © CAROLINA CARDI PIFANO DE PAULA

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Descobrindo o futuro: CAU/SP avança na criação da Comissão Ordinária de Políticas Afirmativas — CPAF POR ANDREIA DE ALMEIDA ORTOLANI

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¶ NA BUSCA POR UM FUTURO MAIS INCLUSIVO, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP está trilhando um caminho promissor. Como arquiteta negra do interior de São Paulo, destaco a importância do debate racial como eixo fundamental na agenda política da autarquia. Para nós, profissionais negros, é crucial garantir a inclusão e valorização da diversidade étnico-racial em todos os âmbitos, inclusive nas instituições de Arquitetura e Urbanismo e no mercado de trabalho. Imagine um futuro onde todas as vozes são ouvidas e todas as oportunidades são acessíveis. Reconhecer a participação ativa de profissionais negros em entidades representativas é fundamental para impulsionar essa discussão. A recém-criada Comissão Ordinária de Políticas Afirmativas (CPAF-CAU/SP) assume um papel de destaque nessa jornada ao propor ações que garantam a representatividade de grupos historicamente excluídos, como negros, indígenas, pessoas com deficiência e LGBTQIA+. Nesse sentido, a CPAF buscará promover, num futuro próximo, os debates e capacitações que sensibilizem os profissionais sobre a importância étnico-racial, diversidade e equidade, reconhecendo em uma autarquia pública que a diversidade é fundamental para o desenvolvimento da Arquitetura e Urbanismo no estado de São Paulo e no país como um todo. São medidas pioneiras que contribuem para uma arquitetura mais inclusiva e acessível, atendendo às necessidades de todas as pessoas e comunidades. A CPAF pode ser um marco importante na luta contra a desigualdade social e racial na área de Arquitetura e Urbanismo. É uma oportunidade única para promover mudanças

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significativas e duradouras em prol da justiça social e igualdade de oportunidades. Acredito que, com o compromisso de promover a ética e a excelência profissional, a nossa instituição estará buscando incentivar a formação de arquitetos e urbanistas cada vez mais preparados para enfrentar os desafios do futuro. Além disso, nós arquitetos(as) sempre estaremos trabalhando para garantir que as cidades sejam planejadas e construídas de forma sustentável, respeitando o meio ambiente e as necessidades das comunidades locais, acreditando que a Arquitetura deve ser acessível a todos, independentemente de sua origem socioeconômica. Por isso, trabalhar para promover políticas públicas que incentivem a inclusão social por meio da Arquitetura e Urbanismo é fundamental. Portanto, devemos estar atentos aos passos audaciosos do CAU/SP com a nova CPAF, pois esta comissão nos conduzirá em direção a um futuro melhor dentro da profissão. Um futuro em que todos os talentos sejam valorizados, todas as vozes sejam ouvidas, e a Arquitetura seja verdadeiramente representativa da diversidade de nossa sociedade. Nós, arquitetos(as) negros(as), estamos moldando esse futuro e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo está na vanguarda dessa transformação. São as pequenas atitudes que podem gerar grandes impactos na sociedade e na cidade, incluindo o combate ao racismo ambiental e a promoção da igualdade social. ✗

ANDREIA DE ALMEIDA ORTOLANI ATUALMENTE É SERVIDORA PÚBLICA DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU (1996 – ATUAL). E CONSELHEIRA DO CAU/SP (GESTÃO 2021-2023).


Carta aos futuros arquitetos e urbanistas de 2073 POR SHEROLL MARTINS SILVA

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¶ CAROS COLEGAS DE PROFISSÃO, aqui quem fala é uma arquiteta formada em 2013, ponto de partida para essa nossa conversa; 60 anos se passaram entre a minha formação e a geração formada em 2073 e algumas coisas mudaram para melhor. A minha geração foi pioneira ao acessar as universidades através das cotas raciais (Lei nº 12.711/2012). Eu me lembro que foi um grande dilema, e até um certo constrangimento para negros e indígenas se apropriarem dessa ferramenta importante criada para a reparação histórica em nosso país, pois negros e indígenas se sentiam como que recebendo uma esmola do Estado. A lei de cotas raciais foi uma ferramenta fundamental para revitalização do passado das etnias citadas e foi de extrema importância para o despertar, resgate e apropriação na história de nosso país, e da minha própria história, em busca de igualdade e realização dos nossos sonhos e sem ter vergonha, reconhecendo o acesso aos nossos direitos. Em honra e respeito aos nossos ancestrais, passamos a buscar mais esclarecimentos aos poucos e de maneira não muito tranquila, uma vez que sabíamos o quanto fomos e ainda éramos explorados; tínhamos que fazer muitos movimentos para conseguirmos garantir os nossos sonhos e passarmos a construir um futuro melhor para as próximas gerações. E 60 anos depois, neste ano de 2073, já avançamos muito, porém continuamos com as cotas em busca de reparação histórica e equidade, não deixando de lembrar que no decorrer dos anos peças importantes vêm ocupando espaço de poder em nosso país. Outro avanço significativo no campo da educação foi a promulgação da lei que obrigou as universidades a incluírem na grade curricular matérias de projeto, história, técnicas construtivas com a temática étnico-racial negra e indígena, como também foi incluída a matéria Meio Ambiente dentro da grade de Urbanismo, deixando claro que as universidades que não contemplarem estas matérias não são reconhecidas pelo Ministério da Educação. Assim concluo dizendo que foram muitas as conquistas no século 21. Temos profissionais bem preparados que compreendem a importância do caráter social do arquiteto e urbanista, uma vez que os mesmos vieram de territórios periféricos e ou favelados, e através das técnicas adquiridas na universidade, conseguiram implementar melhorias desde a infraestrutura urbana até habitacional para a população carente desses profissionais responsáveis pela melhoria de vida quando falamos sobre moradia. ✗ SHEROLL MARTINS SILVA, ARQUITETA E URBANISTA/PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE. DIRETORA ADJUNTA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DO IABSP (2023-2025). COORDENADORA DO GT DE EQUIDADE RACIAL DO IABSP. ATUA EM PROJETOS VOLTADOS AO MERCADO IMOBILIÁRIO HIS E HMP.

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Um panorama dos acervos de arquitetura e urbanismo no Brasil POR FELIPE DE ARAUJO CONTIER

Recebimento do acervo de projetos do escritório Botti e Rubin no Centro Histórico e Cultural Mackenzie. © FELIPE CONTIER

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Lefèvre, Abrahão Sanovicz ou Eduardo de Almeida, mas também os de Carlos Ekman, Victor Dubugras, Samuel e Christiano Stockler das Neves, Ramos de Azevedo, Gregori Warchavchik, Jacques Pilon, David Libeskind, Oswaldo Bratke e Telésforo Georgio Cristófani. Hoje a Biblioteca da FAUUSP preserva mais de 400 mil folhas de desenho, 100 mil fotografias e continua acolhendo novos acervos apesar de seus limites físicos. Com o tempo, acumulou experiência no restauro de papeis, classificação e acondicionamento de documentos, digitalização e licenciamento para publicações e exposições. O Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU-UFRJ também possui larga experiência. Criado em 1982 pelo professor Jorge Czajkowski, o NPD começou seu trabalho com a organização do arquivo da Escola ¶ VIVEMOS UM MOMENTO IMPORTANTE para o Nacional de Belas Artes. Hoje dispõe de mais de 200 futuro dos documentos históricos. Em todas as áreas mil documentos organizados em 26 arquivos, a maioria da cultura temos visto discussões e ações a respeito de professores ou egressos da escola: Adolfo Morales de acervos de intelectuais, de artistas, de pessoas e de de Los Rios, Heitor de Mello, Emilio Baumgart, Archiinstituições atravessadas por perdas, e impulsionadas medes Memória, Paulo Ferreira Santos, Jorge Machapor novas ferramentas de pesquisa e difusão. do Moreira, Carlos Leão, Luís Nunes, MMM Roberto, Documentos de arquitetura e urbanismo possuem Affonso Eduardo Reidy, Sérgio Bernardes, Aldary Toledo, especificidades que vão desde os seus formatos até Francisco Bologna, Marcos Konder, Ulysses Burlamaqui, os níveis de interesse e compreensão do público. No entre outros. Apesar de reunir documentos importanvasto universo dos acervos de arquitetura e urbanis- tíssimos da arquitetura brasileira, a FAU-UFRJ vem mo os acervos de profissionais e de seus escritórios sofrendo com a insuficiência crônica de recursos e possuem um enorme valor. A tarefa de preservá-los e já passou por dois incêndios, um em 2016 e outro em torná-los acessíveis não são simples, mas vem sendo 2021, iniciado próximo ao NPD. assumida, há quase 60 anos, por muitas pessoas e Em 1994, a Belas Artes de São Paulo recebeu o instituições comprometidas. Neste texto, organizamos acervo de fotografias e os documentos pessoais do um breve panorama do estado de salvaguarda desses arquiteto Eduardo Kneese de Melo, que lecionava na acervos no país. escola quando faleceu. Esse precedente permitiu que, Até onde sabemos, a Biblioteca da FAUUSP foi a anos mais tarde, a instituição recebesse documentos primeira a receber o acervo profissional de um arquiteto, dos arquitetos Aurelio Martinez Flores, Mauricio Tuck o professor Carlos Millan, logo após seu falecimento Schneider, Jairo Ludmer, Lelio Reiner e de João Walter em 1964. Na década de 1970 vieram os documentos Toscano. De modo semelhante, em 1996 a Universidade Elisiário Bahiana e Rino Levi. Mas foi nas décadas de Presbiteriana Mackenzie recebeu 1,4 mil caixas de seguintes que a FAUUSP passou a receber acervos de documentos do escritório de engenharia consultiva modo mais sistemático, não apenas de ex-professores de Roberto Zuccolo, ex-professor da casa. Em 2018 o como João Batista Vilanova Artigas, Abelardo de Souza, Centro Histórico e Cultural Mackenzie foi reestruturado Eduardo Corona, Ícaro de Castro Mello, Roberto Coelho e recebeu também os acervos dos escritórios Botti Cardoso, Roberto Tibau, Joaquim Guedes, Rodrigo Rubin e Carlos Bratke.

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Reserva Técnica do Centro Histórico e Cultural Mackenzie. © FELIPE CONTIER

Nos últimos vinte anos, uma série de instituições de ensino recebeu outros acervos de profissionais e escritórios. A Escola da Cidade recebeu o de Salvador Candia; o IAU-USP, os de Jorge Caron e Sérgio Ferro; a PUC-RS, os de Theo Wiederspahn e Vitorino Zani; a Unicamp, os de Antônio Luiz Dias de Andrade e Decio Tozzi; a UFAM, os de Severiano Porto e José Henrique Bento; e a UFPE, o de Armando de Holanda Cavalcanti. Embora instituições de ensino tenham assumido o protagonismo na preservação desse tipo de documento, outras entidades também atuam nesse trabalho coletivo. Dentre as diversas fundações, institutos e associações culturais criadas após a redemocratização com o objetivo de administrar acervos de intelectuais e artistas, há algumas dedicadas à memória de arquitetos. Foi o caso da Fundação Vilanova Artigas (1986), da Sociedade Cultural Flávio Império (1987), da Fundação Oscar Niemeyer (1988), do Instituto Bardi (1990) ou, mais recentemente, do Instituto Burle Marx (2019). A Fundação Oscar Niemeyer mantém um Centro de Pesquisa e Documentação no Rio de Janeiro e detém cerca de 10 mil documentos de arquitetura organizados em dois fundos: o do escritório brasileiro Niemeyer e

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Desenhos do acervo de projetos do escritório Botti e Rubin. © FELIPE CONTIER

o de Paris. Em 2007 a Fundação solicitou ao Conselho Nacional de Arquivos (Conarq) a Declaração de Interesse Público e Social do acervo de Niemeyer, que foi decretada em 2009. Essa DIPS, que é a única em vigor para um acervo de arquitetura, impede a expatriação do acervo e garante sua salvaguarda por um arquivo público, caso a FON não queira mais mantê-lo. O mesmo poderia ser feito para evitar que outros acervos particulares de interesse público sejam expatriados, como aconteceu com os acervos de Paulo Mendes da Rocha e Lucio Costa. Já o Instituto Bardi foi criado em vida por Lina Bo e Pietro Maria Bardi. O casal, que não teve filhos, deixou a Casa de Vidro, sua residência em São Paulo, para o Instituto, assim como todo seu acervo, incluindo biblioteca, cartas, coleção de obras de arte e objetos pessoais. O fundo P. M. Bardi está dividido entre o MASP e Milão. Já o fundo Lina Bo Bardi, formado pelos desenhos da arquiteta bem como por cerca de 15 mil fotografias, permanece na casa. Atualmente, o Instituto conta apenas com recursos de projeto culturais e leis de incentivo, além da bilheteria de visitas e do licenciamento da obra de Lina. Apesar de atravessar


períodos de dificuldades financeiras, o Instituto Bardi se tornou um centro internacional de pesquisa e, desde que seu site foi ao ar em 2012, com grande parte do acervo digitalizado, o número de publicações sobre Lina Bardi aumentou significativamente, demonstrando o sucesso da difusão de documentos pela internet. Como esses, outros institutos dedicados à memória de arquitetos vêm preservando e difundindo suas obras, como o Instituto Maurício Nogueira Lima, em Campinas, ou o Instituto Burle Marx, no Rio de Janeiro. Este, estabelecido no Escritório Burle Marx, ainda ativo, possui cerca de 120 mil itens, incluindo 2 mil projetos paisagísticos, 75 mil fotografias e 30 mil cartas e documentos textuais. Mas os custos e dificuldades para manter os acervos seguros e acessíveis fizeram com que outros institutos análogos optassem por transferir a custódia de seus acervos para instituições especializadas. Os acervos de Artigas e Império, por exemplo, foram, respectivamente, para a FAU e para o IEB, ambos da USP. Já o de Lucio Costa ficou abrigado entre 2001 e 2019 no Instituto Antonio Carlos Jobim, até que o instituto alegou não poder mais mantê-los. O desfecho, como sabemos, foi a transferência para a Casa da Arquitectura em Portugal, onde está também o acervo de Paulo Mendes da Rocha, doado em vida pelo próprio arquiteto. Outros arquivos de fins diversos também guardam acervos de arquitetos. Os de Mayumi de Souza Lima e Sérgio de Souza Lima estão na Fundação Perseu Abramo; os de Jarbas Karman e Irineu Breitman estão no Instituto de Pesquisas Hospitalares, criado por Karman em 1954; a parte catarinense do acervo de Hans Broos está recolhida na Fundação Hermann Hering, em Blumenau; e parte do acervo de Jorge Wilheim foi doada ao Instituto de Arte Contemporânea. Arquivos e bibliotecas públicos sem vínculo direto com a profissão também podem acolher acervos particulares de profissionais. O do ex-prefeito de São Paulo, Prestes Maia, foi doado à Biblioteca Municipal do bairro de Santo Amaro, em 2005, que assumiu o seu nome. Mais recentemente, o acervo de Julio de Abreu foi recebido pelo Arquivo do Estado de São Paulo. Até onde sabemos existem ao menos 126 acervos de arquitetos custodiados em 27 instituições no Brasil. Nos

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últimos anos o CAU vem sendo cobrado a participar ativamente desse esforço coletivo de preservação. Algumas de suas unidades já fazem a guarda de acervos do gênero, como CAU/SP, que recebeu o acervo de Miguel Pereira, ex-conselheiro federal; o CAU/RS, que guarda os acervos de Clóvis Ilgenfritz da Silva e de Armando Boni; e o CAU/MA que acolheu o acervo do escritório Bogea & Perez. Agora, o CAU/BR acaba de criar uma Câmara Temática de Patrimônio, que promete abranger a questão dos acervos profissionais. Em outra frente, o IAB-SP começou a reunir instituições ligadas a acervos de arquitetura, sejam instituições de ensino, arquivos públicos, entidades de classe ou institutos e associações culturais, em uma Rede Brasileira de Acervos de Arquitetura e Urbanismo. O convênio entre 16 instituições fundadoras foi firmado em julho deste ano, e a partir de agora, novas instituições poderão ser incluídas. Essa articulação, se bem-sucedida, poderá promover boas práticas arquivísticas, melhorar a pesquisa e a difusão dos acervos, fortalecer a busca por recursos para a preservação de acervos, expandir a capacidade de guarda, preservar acervos em risco, propor projetos conjuntos e dar visibilidade ao trabalho que já é feito no Brasil nessa área. Num futuro não tão distante, poderá estimular exposições e publicações, criar formas de consulta unificada e contribuir para uma política nacional de acervos de arquitetura e urbanismo. ✗

FELIPE DE ARAUJO CONTIER É PROFESSOR DE TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA NA FAU MACKENZIE. GRADUADO EM ARQUITETURA E URBANISMO PELA FAUUSP (2009) E DOUTOR EM TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E DO URBANISMO PELO IAUUSP (2015).


TAPUME → YARA GIL → Gangorra

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→ Jornada

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Fronte azulejada POR VANESSA IBRAHIM

Colagem digital da autora. © VANESSA IBRAHIM

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¶ OS AZULEJOS DE UMA CASA dizem muito sobre a passagem do tempo. Não somente porque envelhecem ou caem de moda como, muitas vezes, acontece com aqueles que ali habitam. Mas porque invariavelmente ganham cicatrizes, vindas do prato que caiu, da pintura infantil que nenhuma substância suficientemente ácida retirou, do canto da pia onde a água escorreu continuamente até desbotar. A casa aceita suas marcas e vai levando até que alguém tenha o ímpeto da ruptura. O que às vezes fica para a próxima geração. Na casa de minha infância, o azulejo do banheiro tinha uma verruga. Ela ficava numa parte interna do boxe em que tomávamos banho. No desenho bege e marrom que formava vários olhos, parecia ficar perto do nariz daquela grande fronte azulejada. Nunca descobri como surgira aquela saliência. Somente tentava removê-la, cutucando a cada ducha e principalmente durante os intermináveis banhos de assento na banheira, quando nosso parque aquático particular se tingia de cor-de-rosa por exigência materna. Com o tempo, deixei de reparar nela. Talvez porque foi ficando fora do alcance dos olhos, que galgaram alguns azulejos para cima com o passar dos anos. Mas, antes disso acontecer, foi ali, bem ao lado daquela verruga, que registrei a primeira lembrança que trago na memória. E sei o quanto era pequena porque o azulejo em questão era apenas o segundo na linha vertical a partir do chão (reparei anos depois). Ao lado dele, vi meu rosto refletido no vidro do boxe, como um espelho. E, pela primeira vez, tive consciência de mim. Até aquele momento, só reagia à vida ao meu redor e então a casa me permitiu enxergar a mim mesma. Porém, só tive certeza quando, logo em seguida, pensei que era filha da minha mãe e que debaixo daquele teto éramos família. Há tempos fechei a porta daquela casa. Fui por aí crescendo e buscando-me entre paredes onde coubesse minha pretensa maturidade. E alguns beirais onde pudesse alçar voos. Até que um dia me perdi e reencontrei com ela. Lembrei de seus azulejos internos reparando em como as paredes outrora gigantes — sobretudo quando vistas por quem faz manha no chão — na realidade são baixas. Talvez até venham diminuindo à medida que os edifícios vão crescendo ao seu redor, arranhando os céus em busca da melhor vista para o futuro. A vizinhança mudou e agora não existe mais a quitanda e seu armarinho com doces, sempre chaveado à prova de criança mal-educada. Nem a avícola em seu cacarejo ensurdecedor. Mas a casa resiste, disfarçada pelo novo muro envidraçado, que expõe o piso cimentado sobre meus jardins antes tão secretos. De relance, vejo o reflexo. Paro. Num impulso, olho para trás procurando aquela pessoa. Quando retorno para frente, sinto que sou eu, ao mesmo tempo em que não pareço eu. É o cabelo acaju da tinta e a postura já não tão ereta. As rachaduras das paredes lá atrás convergindo com os sulcos de minha pele já marcada, que a maquiagem não disfarça mais. Tantos anos que talvez tenha desaprendido a me reconhecer, como fiz pela primeira vez aos dois ou três anos de idade. O nariz azulejado e imperfeito zombaria de minha inquietação, mas a janela sorri, complacente. Então refaço o caminho mental como daquela primeira vez e penso nelas. A mãe e a casa. E agora posso partir, refeita em mosaico, porque lembrei de onde venho. Não haveria futuro possível sem essa certeza. ✗ VANESSA IBRAHIM NASCEU EM SANTOS/SP, ONDE COMEÇOU A ESCREVER MESMO ANTES DE CONHECER AS LETRAS. É MÃE, JORNALISTA PELA UNESP E PÓS-GRADUADA EM ARTE PELA UDESC. NA AVENTURA PELA ARTE DA PALAVRA, JÁ FOI PREMIADA EM CONCURSO, PUBLICOU EM ANTOLOGIAS, EBOOKS, PORTAIS E MANTÉM A PÁGINA @SANTOSCONTOS.

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Planejando e projetando o futuro: a preservação da memória e do patrimônio cultural no CAU/SP COMISSÃO TEMPORÁRIA DO CONCURSO DE PROJETO DA SEDE DO CAU/SP E COMISSÃO TEMPORÁRIA DO CENTRO DE MEMÓRIA E ACERVO DO CAU/SP

Sede do CAU/SP à Rua XV de Novembro, no centro de São Paulo. © PAULA MONROY/ARQUIVO CAU/SP

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¶ O PLENÁRIO DO CONSELHO de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo - CAU/SP, em 2019, autorizou a compra do edifício à rua XV de Novembro, 194, no centro da capital paulista. O prédio, projetado pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928) e tombado como patrimônio cultural do município, está localizado no “Triângulo Histórico”. Compõe, ao lado de mais de 500 bens tombados pelos órgãos de defesa do patrimônio, um relevante conjunto arquitetônico da região central. (1) O edifício foi construído em 1920 para o Banco Português. Passou por algumas reformas ao longo do tempo que, no entanto, conservaram sua fachada frontal em alguma medida. Na década de 1970 ganhou novos pavimentos, e desde então recebeu adaptações para abrigar novos usos. Em 2002, foi adaptado para receber uma academia de ginástica. Em dezembro de 2022, o CAU/SP lançou, em parceria com a diretoria nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), o Concurso Público Nacional de Arquitetura para reforma do edifício-sede (2). O resultado da etapa final divulgou o anúncio da ordem

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de classificação dos três projetos finalistas em março de 2023. A Comissão Julgadora estabeleceu a seguinte classificação: 1º lugar: Hereñú + Ferroni Arquitetos Ltda; 2º lugar: MR Arquiteturas Ltda; e 3º lugar: Sergio Kipnis Projetos & Gerenciamento de Obras (3). O anúncio foi acompanhado de uma publicação impressa e digital sobre o concurso (4). No período de 03 de abril a 12 de maio de 2023, houve uma exposição, denominada “Um Nove Quatro”, no térreo da sede do CAU/SP, que apresentou o edifício, o programa para a sede e todos os projetos recebidos. Paralelamente à mostra ocorreram duas oficinas e dois debates que trataram de temas relacionados ao reúso e reaproveitamento de materiais, de adaptação de edifícios e ambientes urbanos. Arquitetos e urbanistas de todo o país participaram do concurso que recebeu 29 propostas de projetos, que visaram a preservação da edificação e sua adequação para receber o CAU/SP. Além de tornar o edifício plenamente adequado à realização de todas as atividades internas do Conselho, os projetos apresentados previram espaços para os profissionais, a sociedade e a articulação entre o térreo e a própria cidade (3). Outro aspecto relevante e de destaque do programa de necessidades foi o espaço dedicado à preservação da memória institucional do CAU/SP, dos profissionais arquitetos e urbanistas registrados e, potencialmente, de acervos de Arquitetura e Urbanismo. Foi previsto também uma biblioteca especializada, com local para consulta e para exposições. A política de preservação da memória institucional é uma forma de gerar conhecimento e consequentemente de valorização profissional, impactando o futuro da profissão e fortalecendo o diálogo junto à sociedade para o reconhecimento do papel do arquiteto e urbanista. Afinal, ao reunir material documental, campanhas, textos e publicações, permi-


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Projeto vencedor do escritório H+F Arquitetos para a Sede do CAU/SP à Rua XV de Novembro, no centro de São Paulo. FONTE: CAU/SP.

te-se estudar o passado e construir novas perspectivas para a história da profissão. A salvaguarda da memória institucional permite entender as conquistas, desafios e lições do campo da Arquitetura e Urbanismo ao longo do tempo. Esses conhecimentos podem fornecer informações valiosas para enfrentar os desafios do futuro, corrigindo caminhos para abordagens mais eficazes de comunicação. Neste contexto, começa a se concretizar o Centro de Memória e Acervo do CAU/SP, que vem sendo objeto de estudo da Comissão Temporária do Centro de Memória e Acervo do CAU/SP (CTCMA). Ainda em andamento, o trabalho da CTCMA trata de 3 faces do acervo do CAU/SP: 1) documentação arquivística produzida em função das atividades institucionais, que engloba o registro de arquitetos e urbanistas no Estado de São Paulo e os acervos técnicos desses profissionais; 2) livros, manuais e outras publica-

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ções produzidas ou fomentadas pelo Conselho; e 3) acervos profissionais particulares doados ao CAU/SP. A tutela de acervos profissionais pelo CAU/SP ainda é tema polêmico. No entanto, em 2015, o CAU/SP e o CAU/BR receberam em conjunto o acervo do arquiteto e urbanista Miguel Pereira (1932-2014), doado pela família. Miguel Pereira nasceu na cidade de Alegrete (RS), graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1957) e, posteriormente, fez algumas especializações nos Estados Unidos e em Londres. Realizou o doutorado em Arquitetura na University of Sheffield-School of Architecture (1993) e foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, da Universidade de Brasília e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atuou no escritório G. Belleza, M. Pereira e M. C. Batalha Arquitetos Associados e foi conselheiro do CAU/BR, representando o Estado de São Paulo, tendo sido presidente do IAB por três mandatos. Faleceu em Florianópolis (4). Uma das primeiras medidas sugeridas pela CTCMA foi a reunião dos documentos do acervo Miguel Pereira como um fundo arquivístico, preparado para recebê-lo, realizando o tratamento e a organização da documentação. Na perspectiva de disponibilizar


Exposição 'um nove quatro' na sede do Conselho. © PAULA MONROY/ARQUIVO CAU/SP

seu próprio acervo e do arquiteto e urbanista Miguel Pereira, o CAU/SP pretende discutir em profundidade a preservação de acervos de Arquitetura e Urbanismo no país, inclusive com fomentos para instituições que atuem nesse contexto. Uma das ações, nesse sentido, será integrar-se à Rede Brasileira de Acervos de Arquitetura e Urbanismo, provocada a partir de debate iniciado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo com diversas instituições detentoras destes acervos. A compreensão histórica e a preservação da memória institucional e profissional são

também compromissos do CAU/SP. Para delimitar e desenhar a atuação do Conselho, os integrantes da Comissão Temporária têm debatido com profissionais especializados e visitado instituições arquivísticas. Presente e futuro da profissão devem ser objeto de atenção na construção institucional, posição a qual o Plenário do CAU/SP, ao instituir a CTCMA, reafirmou. A construção de memórias é uma ação de valorização profissional e, nessa medida, é uma frente de trabalho que precisa de continuidade nas futuras gestões. ✗

REFERÊNCIAS MORAES. Daniele. Plenário autoriza compra de sede própria do CAU/SP em edifício histórico no centro da capital paulista. Site oficial CAU/SP. São Paulo, CAU/SP, 05/12/2019. Disponível em ↗ bit.ly/3RgUUkj. Acesso em 22/07/2023. ARCHDAILY. Concurso de projeto para o edifício-sede do CAU São Paulo: participe! ArchDaily Brasil, 06/11/2022. Disponível em ↗ bit.ly/48bqtC3. Acesso em 22/07/2023. CAU/SP. Conselho divulga resultado da segunda fase do concurso nacional para reforma do edifício-sede. Site oficial CAU/SP. São Paulo, CAU/SP, 05/12/2019. Disponível em ↗ bit.ly/3rf99vq. Acesso em 22/07/2023. CAU/SP. Publicação do Concurso CAU SP. Versão impressa e digital no site oficial do Concurso da Sede do CAUSP. São Paulo, IAB, maio de 2023. Disponível digitalmente em ↗ bit.ly/3sSLFMY. Acesso em 22/07/2023. CAU/BR. ESPECIAL: UM ANO SEM O “TIMONEIRO” MIGUEL ALVES PEREIRA. Site oficial CAU/SP. São Paulo, CAU/SP, 25/05/2015. Disponível em ↗ bit.ly/3ZezV3B. Acesso em 22/07/2023.

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FUTURO


Projeto presente para um futuro bem próximo POR BAIXO RIBEIRO

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“A cidade é o lugar onde pessoas de todos os tipos e classes se misturam, ainda que relutante e conflituosamente, para produzir uma vida em comum, embora perpetuamente mutável e transitória.” DAVID HARVEY¹

¶ QUANDO PENSAMOS NO FUTURO DO PLANETA, das cidades ou da humanidade, temos a tendência de nos reservar uma certa distância da realidade. Afinal, estamos pensando sobre um outro tempo, um outro lugar. Como nos lembra Braudel²: “O tempo de hoje data de ontem, de anteontem e de outrora”. É difícil incorporar o presente como parte desse futuro, mas se o futuro não está fora de nós, ele poderia estar dentro? Penso que sim: nós somos o nosso próprio projeto de futuro - se refazendo a cada instante - para perceber, na velhice, que esse processo nos seguirá até o fim. Então, se desejamos um futuro diferente, precisamos transformar a nós mesmos. Precisamos injetar um desejo de transformação no projeto “nosso” de cada dia.

Intervenção urbana "CAU/SP ABERTO" no calcadão da rua XV de Novembro no Centro Histórico da capital. © IGNACIO ARONOVICH

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FUTURO


E as cidades... elas estão fora ou dentro de nós? Cada um tem uma noção particular de cidade, ou seja, ninguém tem a mesma cidade dentro de si. Há os que viajam muito e têm uma noção ampla de cidade; há os que nunca saíram da sua vila e têm uma visão restrita de cidade. Há aqueles que, mesmo viajando muito, nunca saíram de suas bolhas e têm uma vivência restrita de cidade; assim como há aqueles que, mesmo se movendo pouco, vivem num ambiente de densa diversidade humana e, por conseguinte, possuem um aprofundado conhecimento sobre o que é viver junto. É certo que cada um de nós tem uma percepção diferente de cidade, e podemos deduzir que a somatória dessas percepções cria uma cidade comum. Acredito que a cidade futura, a cidade do futuro, será a somatória das transformações urbanas que acontecerem a partir de cada cidadão. Mas, para transformar efetivamente, é preciso pensar e praticar a transformação no cotidiano, individual e coletivamente. Pensar e praticar diariamente o futuro transformado. Se, como diz Lefebvre³, “a cidade é uma obra de arte”, como reativar a apropriação e a participação de todos nesse processo de criação? Vale lembrar que a crise climática acelerou bruscamente as demandas por transformações - situação que provavelmente arrancará a humanidade do torpor paralisante que, ainda hoje, nos faz continuar extraindo petróleo e queimando florestas. Levando em conta essa reflexão, há vinte anos fundei, em parceria com Mariana Martins, a galeria, editora e instituto educativo Choque Cultural. Venho desenvolvendo propostas artísticas que procuram mobilizar os mais diferentes públicos no exercício da apropriação e transformação da cidade a partir de discussões sobre os limites dos espaços públicos e privados, assim como os limites da arte. Como método, tenho formado grupos multidisciplinares e programas de ação partici-

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pativa, envolvendo os campos da arte, educação e urbanismo. As iniciativas da Choque Cultural acontecem em parcerias com diversas instituições: SESC, como no caso de “Xilograffiti” (2022 a 2023); SESI, em “Conexões Urbanas” (2018 a 2020); Reitoria da Universidade de São Paulo, em “USP_URBANA” (2018 a 2020); Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, em “Manifesto da Noite” (2024); Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB Cariri) em “Ponte São Paulo - Juazeiro do Norte” (2013); Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em “De Dentro e De Fora” (2009 a 2012); para citar algumas. Foi dentro desse contexto que apresentei ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP um projeto que objetiva estimular as pessoas que usam o edifício sede da instituição a interagirem com seus espaços internos e externos. A obra “CAU/SP ABERTO” é uma intervenção artística baseada na instalação de um “jogo mobiliário” – conjunto de peças móveis e multifuncionais – no grande salão de entrada do prédio, que se abre para o calçadão da Rua XV de Novembro, no Centro Histórico de São Paulo. A obra se consubstancia na movimentação das peças do jogo - objetos híbridos que funcionam como mesas, bancadas, arquibancadas e diversos equipamentos acessórios –, possibilitando a criação coletiva de espaços de convivência e múltiplos usos: trabalho, leitura, reuniões, exposições, sessões de vídeos, palestras e intervenções artísticas urbanas; seja do lado de dentro do edifício ou do lado de fora, no calçadão. A instalação do “jogo mobiliário” tem o propósito de dinamizar o uso do espaço pelos organizadores e público visitante, através das transformações possíveis de serem realizadas nos ambientes. Com a simples movimentação do mobiliário e as múltiplas composições estéticas e funcionais permitidas por ele, esse “jogo” visa incentivar o uso do calçadão (da rua!) em atividades institucionais. E pretende, com esse processo lúdico e participativo, trazer ao cotidiano dos usuários o gosto pelo exercício coletivo da transformação dos espaços de convívio. ✗

BAIXO RIBEIRO (1963) É CURADOR, ARTISTA E FUNDADOR DA GALERIA CHOQUE CULTURAL (2003), GRADUANDO EM ARQUITETURA E URBANISMO NA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FAU/USP). NOS ANOS DE 2010 E 2020, FOI INDICADO AO PRÊMIO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO. TAMBÉM FOI INDICADO AO PRÊMIO FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL DE TECNOLOGIA SOCIAL 2015 NA CATEGORIA MEIO URBANO, COM O PROGRAMA “A ESCOLA É CIDADE & A CIDADE É ESCOLA” (2015)."


REFERÊNCIAS HARVEY, David. Cidades Rebeldes. São Paulo: Martins Fontes, 2014. BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais: a longa duração. . Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1992. In: LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001. NOTAS 1. HARVEY, 2014, p. 134. 2. BRAUDEL, 1992, p. 18. 3. LEFEBVRE, 2001, p. 12.

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FUTURO


Tecnologias para o exercício profissional

e novas frentes de trabalho em Arquitetura e Urbanismo POR COMISSÃO TEMPORÁRIA DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ARQUITETURA E URBANISMO DO CAU/SP

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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E OS CICLOS DE INOVAÇÃO NO BRASIL

Tendemos a acreditar que algumas ferramentas e sistemas tecnológicos acabaram de ser inventados, mas em geral eles estão em desenvolvimento há anos, e existe uma demora natural até que sejam aplicáveis e acessíveis. Por exemplo, a primeira aparição de um equipamento com interface para Realidade Aumentada é da década de 1960 (BILLINGHURST; KATO, 2002) e os primeiros estudos em Building Modeling Information (BIM) datam dos anos 1970 (GASPAR, 2019). Nessa época, a maioria dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo utilizava pranchas e maquetes físicas como ¶ EM TEMPOS DE DESTAQUE da Inteligên- formas de representar seus projetos. cia Artificial (IA) nas redes sociais e mídia, No Brasil, somente nos anos 90 observouo suposto potencial operacional e criativo -se o uso massivo de sistemas CAD 2D e, por da IA geram preocupações. Nesse contexto volta dos anos 2000, das ferramentas CAD tecnológico e inovador, buscamos compreen- 3D. Já o BIM se tornou popular no Brasil por der o papel das tecnologias na Arquitetura e volta de 2015. Urbanismo (AU) e provocar reflexões. TECNOLOGIAS NO EXERCÍCIO

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O QUE É TECNOLOGIA?

DA PROFISSÃO

Tecnologia, segundo Arthur (2009), combina conhecimento, habilidades e processos para produzir bens e serviços úteis à sociedade. Envolve um amplo conjunto de conhecimentos, ferramentas, processos e sistemas utilizados para criar, modificar e melhorar nosso ambiente, através de artefatos físicos, técnicas, métodos e abordagens intangíveis. As tecnologias em AU não estão restritas apenas a ferramentas computacionais ou recursos digitais. Técnicas, métodos e abordagens tradicionais, como a construção de paredes com uso de taipa de pilão, também fazem parte deste rol. No entanto, trataremos aqui do uso e aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação aplicadas à Arquitetura e Urbanismo (TICs-AU), que englobam processos e ferramentas digitais, capazes de otimizar nosso trabalho.

Ao pensar em ferramentas digitais para Arquitetura e Urbanismo é comum lembrarmos dos programas de desenho 2D e modelagem de edificações. No entanto, como apoio às nossas atividades profissionais, muitas vezes utilizamos programas de planilhas, textos, apresentações, imagens, cronogramas, entre outros. Existem também uma infinidade de equipamentos, ferramentas e programas tecnológicos que podem auxiliar em atividades como: assistência técnica, coleta de dados, ensino e pesquisa, vistorias e laudos, gestão, orçamentos, condução de obras e em campos de atuação, a exemplo de patrimônio, planejamento urbano e regional, meio ambiente. Novas ferramentas tecnológicas são capazes de promover novos ciclos de inovação em Arquitetura e Urbanismo, como vemos a seguir.

FUTURO


TECNOLOGIAS NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO

equipamentos de sensoriamento remoto (sensores LiDAR e câmeras multiespectrais)

LEVANTAMENTOS TOPOGRÁFICO, PATRIMÔNIO HISTÓRICO, GESTÃO DE OBRAS E REGISTROS AS-BUILT

modelagem de unidades arquitetônicas e urbanísticas para uso em videogames e mundos virtuais

REALIDADE VIRTUAL

programas e equipamentos para mescla de virtualidades com o mundo real

REALIDADE AUMENTADA

ferramentas e programação para o aprendizado de máquina, redes neurais, visão computacional

GÊMEOS DIGITAIS

sensores e programas para operação e manutenção em edificações

O CENSO 2020 do CAU/BR apontou que a maioria dos profissionais no estado de São Paulo trabalha com projetos de interiores. Assim, a promoção de novas frentes de trabalho com apoio das tecnologias é latente, apoiando a criação da Comissão Temporária de Tecnologias da Informação e Comunicação do CAU/SP (CT-TICs) em outubro/2022. A Comissão compreende que o uso de tecnologias digitais são fundamentais para que a classe possa atender às demandas da sociedade brasileira contemporânea. Assim, estruturamos debates nos seguintes eixos: → acesso e inclusão às tecnologias para AU → as tecnologias e as questões intergeracionais → inovação no ensino e aprendizagem → tecnologias para novas frentes de trabalho em AU

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IA

Um dos setores que demanda o trabalho de arquitetos urbanistas especialistas em tecnologias é o agronegócio para o desenvolvimento de projetos de georreferenciamento, análises climáticas, interpretação da Agenda Urbana Ambiental e pesquisas sobre novos materiais sustentáveis. Outra frente é a do entretenimento, que busca profissionais que possam criar e modelar ambientes e mundos virtuais. Além disso, há demanda por profissionais especialistas nas áreas como gestão e coordenação em BIM. É possível também encontrar apoio para o empreendedorismo em soluções inovadoras junto aos parques tecnológicos, que potencializam recursos através de bancos e instituições de fomento à pesquisa como a FAPESP, a FINEP e o SEBRAE STARTUPS. Uma das barreiras que ainda distanciam os profissionais da tecnologia é o custo dos softwares. Assim, indicamos a busca por alternativas acessíveis como os softwares livres, que não têm custos diretos e podem ser uma opção até que se possa investir em


programas de interesse. O projeto SOLARE, de parceria entre FNA e CAU/RS, traz diversos cursos, e vale a pena conferir. Outra barreira é a questão intergeracional, então reforçamos a importância da troca de experiências entre pessoas com diferentes níveis de conhecimento e familiaridade com ferramentas tecnológicas. A Comissão promoveu uma live específica sobre esse tema, que pode ser assistida no canal do CAU/SP no Youtube, além de outras como a de softwares livres. Além disso, salientamos que na formação do arquiteto urbanista generalista há ainda muito espaço para a reflexão sobre como incorporar inovação aos cursos de graduação, ainda mais com limitações como as poucas horas-aula, os altos custos de laboratórios de inovação e a falta de apoio institucional. Diante destas realidades, acreditamos que é fundamental aos profissionais acompanhar a transformação e evolução dos processos relacionados ao exercício da nossa profissão, buscando conhecimento em tecnologias consolidadas e emergentes a fim de atender melhor às demandas profissionais, otimizar os processos de trabalho e oferecer melhor qualidade de serviços à sociedade. O CAU/SP, compreendendo a importância do tema e a responsabilidade do Conselho de seguir debatendo estas questões, aprovou em Reunião Plenária de maio/2023 a instalação da Comissão Especial de Tecnologias a partir de 2024. Seguimos juntos e juntas nesses novos cenários inovadores e desafiadores! ✗

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Colaboradores da CT-TIC: (da esq. para dir., e de cima para baixo): Ana Paula Preto Rodrigues, João Gaspar, André Blanco, Sofia Rontani, Eloísa Dezen-Kempter, Adolfo Ibanez Villa, Leda van Bodegraven, Mônica Viana, Diego Alves de Almeida, Danielle Skubs, Barbara Kemp, Márcia Helena, Iara Camacho, Stefania Dimitrov, Yorik van Havre e Danilo Matoso.

REFERÊNCIAS ARTHUR, W. Brian. The Nature of Technology: What It Is and How It Evolves. Nova York: Free Press, 2009. BILLINGHURST, M.; KATO, H. Collaborative augmented reality. Communications of the ACM, v. 45, n. 7, p. 64–70, 2002. ISSN 00010782. DOI 10.1145/514236.514265. GASPAR, J. A. M. O significado atribuído a BIM ao longo do tempo. 2019. 238 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura, Tecnologia e Cidade) — Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019.


Solução tecnológica moderniza atendimento POR EQUIPE CAU/SP

¶ DESDE SETEMBRO está em homo-

PRINCIPAIS FUNCIONALIDADES:

logação uma solução tecnológica de atendimento elaborada para atender às demandas específicas do dia a dia dos(as) arquitetos(as) e urbanistas do estado de São Paulo. A solução estará disponível para acesso através do site do CAU/SP a partir de novembro. Trata-se de tornar cada etapa do processo de atendimento no CAU/SP mais eficiente, personalizado, acessível e transparente. A modernização objetiva aproximar o Conselho dos arquitetos(as) e urbanistas do estado de São Paulo e vice-versa, estreitando o relacionamento. Esta solução tecnológica é resultado de uma parceria do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo com a Prodesp, a empresa de TI do governo estadual. É baseada na Plataforma Microsoft, e foi desenvolvida especificamente para atender às necessidades do Conselho. Entre seus recursos, destacam-se ferramentas para gerenciamento de relacionamento com arquitetos(as) e urbanistas (CRM- Customer Relationship Management) e uso de inteligência artificial (chatbot), sem deixar de oferecer diversos canais de atendimento humanizado.

→ Abertura de Chamados via Chat-Bot: permite que os arquitetos reportem suas questões de maneira rápida e eficaz, e de forma intuitiva; → Autoatendimento via Chat-Bot: permite aos usuários encontrar respostas para suas demandas de maneira autônoma; → Padronização do Processo de Atendimento: garante que todas as interações sigam diretrizes estabelecidas; → Reclamações e sugestões: canal direto para os usuários, possibilitando comunicação aberta e registro de contribuições valiosas; → Medição do Índice de Satisfação: avaliação inteligente do nível de satisfação dos usuários para ajustes contínuos e melhoria da experiência; → FAQ para Suporte e Autoatendimento: banco de dados de perguntas frequentes para facilitar o autoatendimento e a resolução de problemas comuns; → Portal de Consulta de Serviços: portal dedicado para acessar informações e serviços relevantes de maneira conveniente.

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COM A NOVA SOLUÇÃO DE ATENDIMENTO, O CAU/SP BUSCA OFERECER RESULTADOS TANGÍVEIS, TAIS COMO:

→ Redução do tempo de espera e resolução mais rápida de problemas; → Aumento da satisfação do cliente; → Melhoria na eficiência operacional, permitindo que os atendentes se concentrem em tarefas complexas; → Maior disponibilidade de informações relevantes através do portal de consulta de serviços. ✗



Os benefícios da indústria 4.0 aplicados ao projeto de Arquitetura POR RODRIGO QUEIROZ

IMAGEM 04. Banco orgânico, Rhinoceros 7, 2022. © RODRIGO QUEIROZ

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tos arquitetônicos. Um processo demorado, principalmente quando envolve alterações de projeto, e não representa com veracidade o comportamento físico dos materiais como acontece no mundo real. Graças à inteligência artificial presente no Grasshoppper – plugin de programação visual nativo do Rhinoceros, utilizado para desenvolver projetos através de algoritmos e parâmetros, com linguagem visual baseado em inputs e outputs – deixamos de desenhar formas e passamos a programar formas cada vez mais complexas que podem exigir muitos cálculos com mais facilidade, simular o comportamento físico dos materiais e até mesmo utilizar sensores para captar informações externas como: movimento, aproximação, calor, umidade e som para utilizar como parâmetros de projeto. ¶ NOS ÚLTIMOS ANOS temos passado por A evolução dos meios digitais tem congrandes mudanças de paradigmas em todas tribuído para significativas mudanças as áreas do conhecimento. Segundo Almeida culturais na sociedade contemporânea. (2019), a Indústria 4.0 ou Quarta Revolução O modelo de pensar, projetar e produzir em Industrial é um termo que engloba integra- arquitetura e urbanismo tem sido alterado ção dos processos industriais, manufatura a partir da influência do aumento da veloaditiva (também conhecida como impressão cidade e da dinâmica de disponibilização 3D), realidade aumentada e alguns outros de dados, informações, do conhecimento, conceitos cujo objetivo é aumentar a compe- da diversificação e especialização de bases titividade industrial. Utilizamos o sistema de tecnológicas e da possibilidade de uma maior inteligência artificial para tomada de decisões ampliação das relações interdisciplinares. em planejamento, produção e até mesmo no (ALVES E COL., 2022) design. Essa interconexão está mudando a As tecnologias que temos no mercado forma como produzimos, consumimos e como voltadas à fabricação digital podem operar da nos relacionamos com produtos, serviços e seguinte forma: fabricação por adição, fabridinâmicas interpessoais. cação por subtração e manipulação robótica. No campo da Arquitetura e do Design pode- Com essas inovações, podemos alcançar uma mos observar que o método tradicional que os nova expressão estética na Arquitetura; em arquitetos utilizam para conceber suas obras alguns casos, a complexidade da forma não se baseiam em representações bidimensionais, oferece impacto ao processo de fabricação, desenhando uma série de linhas justapostas não implica custos adicionais ou um aumento que passam a representar paredes, portas, no tempo de produção, permitindo que os janelas e etc.; ou tridimensionais, partindo de projetos sejam cada vez mais específicos. linhas que se tornam superfícies e, ao serem A imagem 1 apresenta o resultado de um estuextrudadas, tendem a representar elemen- do para iluminação modular, cujo algoritmo

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A impressão 3D é uma prática por adição que vem se popularizando (...) permite produzir moldes tradicionais, além de diminuir o consumo de materiais, tempo de construção, mão de obra necessária e, futuramente, custos de produção. simula valores aleatórios para variar as proporções de cada módulo, atribuindo movimento à estrutura. Outro projeto que vale atenção é a estrutura presente na imagem 2, onde foi aplicado o plugin Fox, que serve para formar estruturas de aglomeração. Nesse caso, utilizamos um módulo composto por três anéis feito com fita perfurada. A estrutura ganha forma ao definir um ponto raiz e um ou mais pontos de ramificação; conforme aumentamos os valores, a estrutura ganha mais módulos e sua forma pode variar ainda mais ao rotacionar os pontos de encontro dos módulos. Com o desenho digital do objeto definido, é possível prototipar peças em diversas escalas, desde o mobiliário até uma casa, com o toque de um botão. A impressão 3D é uma prática por adição que vem se popularizando cada vez mais ao redor do mundo. Ela permite produzir moldes tradicionais, além de diminuir o consumo de materiais, tempo de construção, mão de obra necessária e, futuramente, custos de produção. No entanto, a impressão 3D na escala da Arquitetura ainda não é muito acessível no cenário brasileiro, como em países mais desenvolvidos. Mas, não quer dizer que precisamos nos limitar a esse recurso apenas para produzir maquetes de edifícios; podemos produzir objetos e utensílios funcionais ou apenas decorativos atribuindo uma linguagem paramétrica como no caso da imagem 3 — referente a um copo projetado para ser produzido na impressora 3D, cujo padrão estampado na superfície vai se dissipando conforme se afasta do centro. A fabricação por subtração consiste em extrair matéria-prima através de fresas, facas laser ou plasmas, em mesas de trabalho com equipamentos deslizantes ou braços robóticos executando operações de corte e/ou rebaixo. Esses processos variam em função do tipo de material e da escala adotada. A seguir, na imagem 4 (pg.62), temos um banco orgânico projetado para ser produzido com placas de MDF naval cortadas em uma Router CNC — máquina utilizada para criar formas bidimensionais em materiais no formato de chapa, placas, painéis e lâminas. Podem

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ser utilizados madeira, polímeros, alumínio, entre outros materiais. Essas são algumas das tecnologias e aplicações práticas desenvolvidas ao longo dos dois anos que antecedem este texto, sugerindo uma grande melhora nos processos de design, além de poder convidar profissionais de outras áreas, e até mesmo o usuário final para fazer parte do processo, facilitando a comunicação entre os envolvidos. Também podemos prever os resultados e parametrizar as informações incorporando o algoritmo em um sistema generativo. Além disso, essas tecnologias permitem um maior controle e precisão sobre o processo de concepção, permeando desde a escala do mobiliário até a edificação. ✗ RODRIGO QUEIROZ, ARQUITETO FORMADO PELO CENTRO UNIVERSITÁRIO DO SENAC (2021) E ESPECIALISTA EM DESIGN PARAMÉTRICO PELA PUC-MINAS (2023), CUJO ENFOQUE É PESQUISAR E PRODUZIR AUDACIOSAMENTE EXPERIMENTAÇÕES FORMAIS, INTERCALANDO ENTRE PARÂMETROS ANALÓGICOS E DIGITAIS.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo Samuel de. Indústria 4.0: princípios básicos, aplicabilidade e implantação na área industrial/ Paulo Samuel de Almeida. — São Paulo: Érica, 2019. ALVES, Gilfranco Medeiros. Algo+ritmo: reflexões sobre o ensino, pesquisa e extensão em arquitetura e urbanismo/ Gilfranco Medeiros Alves — São Paulo: ProBooks,2022.


IMAGEM 02. Estrutura de Aglomeração, Grasshopper e Fox, 2022. © AMANDA RIGUETI E RODRIGO QUEIROZ

IMAGEM 03. Copo Paramétrico, Grasshopper, 2023. © AMANDA RIGUETI E RODRIGO QUEIROZ

IMAGEM 01. Sistema Modular para iluminação, Grasshopper, 2022. © RODRIGO QUEIROZ

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Jogo por aplicativo como instrumento para orientação à conduta profissional POR COMISSÃO DE ÉTICA E DISCIPLINA DO CAU/SP

Imagens ilustrativas do aplicativo

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A Lei 12378/2010, em seu artigo 17, estabelece que “o arquiteto e urbanista deve pautar sua conduta pelos parâmetros a serem definidos no Código de Ética e Disciplina do CAU/BR [...que] deverá regular também os deveres do arquiteto e urbanista para com seus contratantes, a sua relação com os demais profissionais, o dever geral de urbanidade [...]” (BRASIL, 2010).

¶ AO PRIVILEGIAR a importância dessa relação ética entre profissional e sociedade, o legislador também destaca a relevância dessa profissão, pois “o que define o estatuto ético de uma determinada profissão é a responsabilidade que decorre do seu compromisso público. Quanto maior a relevância social da profissão, mais importantes são os compromissos e responsabilidades decorrentes” (MELO FILHO, 2017, p. 24). E é esse mesmo Código que valoriza, como forma de disseminar os princípios nele estabelecidos antes da função coercitiva das sanções, seu caráter preventivo e educativo “que tem por objetivo a informação pública sobre a dignidade da Arquitetura e Urbanismo e os deveres de seus profissionais” (CAU/BR, 2013, p. 5). Assim, a Comissão de Ética e Disciplina do CAU/SP definiu como um de seus objetivos estratégicos desenvolver ferramentas que pudessem estimular a capacitação dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo no que se refere à conduta profissional, e contribuir para a divulgação do Código de Ética do CAU/BR de forma ampliada. Para isso, a CED-CAU/SP considerou uma análise do perfil dos arquitetos(as) e urbanistas registrados no CAU/SP que apontava para grande concentração de profissionais graduados a partir dos anos 1980, quando há um crescente uso de ferramentas informatizadas, bem como de graduados no século XXI, que tiveram desde cedo contato ainda mais próximo com dispositivos portáteis, a exemplo de smartphones. Frente o quadro de transformações relacionados à cultura contemporânea, iluminam-se as possibilidades a partir de jogos educativos nessa direção, que podem conferir um aspecto lúdico a objetos de aprendizagem e/ou qualificação que são, normalmente, considerados “áridos” (Cf. SANTOS, 2021).

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A CED-CAU/SP então, desde 2021, passou a desenvolver uma “Linha de Ação” que pudesse contemplar esse ferramental e viu, no desenvolvimento de um jogo eletrônico, a possibilidade de simular situações e obstáculos semelhantes aos vivenciados pelos profissionais de Arquitetura e Urbanismo em seu dia a dia, que pudessem levar o usuário desse aplicativo a refletir sobre questões relacionadas com o Código de Ética e Disciplina do CAU/BR. As situações, sanções e recompensas tratadas no âmbito do jogo são meramente didáticas e estritamente aplicadas no âmbito do jogo eletrônico. O produto, imaginado ao longo de 2022, chega a sua consecução em 2023, indo além de seus objetivos iniciais com as questões éticas originais. O “Jogo da Ética do CAU” buscou trazer informações sobre as muitas possibilidades dos profissionais em seus onze campos de atuação, mas também sobre a estrutura organizacional do CAU/SP e sua divisão em escritórios descentralizados, criando onze cenários com dez elementos de arquitetura, urbanismo e paisagismo em cada um, que pudessem transmitir a complexidade do território paulista e a importância da produção de arquitetos(as) e urbanistas em diversos períodos da história. Esse é o produto que o CAU/SP disponibiliza aos profissionais registrados e à sociedade, uma ferramenta para melhor conhecer as duas funções deontológicas do Código de Ética e Disciplina (educativa e coercitiva), aprender sobre os princípios e valores que regem a ética profissional, sabendo que o desconhecimento pode gerar, mesmo no jogo, penalizações indesejáveis, num cenário lúdico que remeta à complexa diversidade da produção cultural paulista. Entende-se que a adoção de condutas éticas no cotidiano profissional dos(as) arquitetos(as) e urbanistas – com a contribuição do “Jogo da Ética do CAU” – promoverá maior valorização profissional. ✗

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O “Jogo da Ética do CAU” buscou trazer informações sobre as muitas possibilidades dos profissionais em seus onze campos de atuação, mas também sobre a estrutura organizacional do CAU/SP.

SITE DO JOGO DA ÉTICA DO CAU ↗ bit.ly/3ZZFQJX

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Federal nº 12.378, de 31/12/2010, “Regulamenta o exercício da Arquitetura e Urbanismo; cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil — CAU/BR e os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo dos Estados e do Distrito Federal — CAUs; e dá outras providências”. Brasília: Governo Federal, 2010. CAU/BR. Resolução nº 52, de 06/09/2013, “Aprova o Código de Ética e Disciplina do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil — CAU/BR ”. Brasília: CAU/BR, 2013. MELO FILHO, João Honorio de. Comentários ao Código de Ética e Disciplina do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Org. Comissão de Ética e Disciplina do CAU/BR, Pesquisa e Autoria João Honorio de Melo Filho. Brasília: CAU/BR, 2017. SANTOS, Roger dos. “Educação superior, gamificação e emulação: a dimensão estética do jogo e da aprendizagem”. Tese de Doutorado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Sorocaba - UNISO, 2021.

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Metatópos: presente, passado e futuro na cidade POR DENIS FERRI E GABRIELA SOARES

Diagrama Tempo x Espaço, 2023. © DENIS FERRI E GABRIELA SOARES

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¶ “NÃO HÁ FUTURO, não há esperança de um mundo melhor”. Tal afirmativa empírica, que pode ser escutada durante uma conversa do dia a dia, exprime um sentimento pessimista em relação ao mundo, perpetuando um modo destrutivo de ocupação do planeta. Afinal, se não há futuro, por que a preocupação com o presente? Entretanto, para a Arquitetura e Urbanismo, disciplina cujo ato de idealizar, planejar e projetar são intrínsecos, é incoerente aceitar que o futuro não existe. Sendo assim, o seguinte texto discute brevemente o que se pode entender por “mundo melhor” e “tempo futuro”. No séc. XVI Thomas More escreve o livro “Utopia”, criando o termo que se refere a um lugar ideal, que seja bom, justo, ético, porém inalcançável. Mesmo se tratando de uma obra literária, o conceito gerou discussões em diversas disciplinas, expandindo-se para a Sociologia, Economia, Arquitetura e Urbanismo. Consequentemente, a busca pelo Útopos influenciou a forma de construção das cidades, de modo que a tentativa de materialização da mesma estava intimamente associada a uma ideia de futuro próspero e de progresso infinito. Tal expectativa arrastou-o para o presente, negando o passado. Como exemplo, Brasília (1960), projeto utópico da modernidade europeia executado na colônia; e o Archigram (1961), com projetos utópicos sem pretensão de serem executados. Embora ambos os exemplos partam da mesma valorização e expectativa do futuro, cada um molda a cidade de acordo com sua ideia particular de utopia e entendimento do tempo. Enquanto o Archigram desenha a cidade já prevendo a obsolescência e descartabilidade, fruto da sociedade do consumo, Brasília é

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construída sob o conceito de futuro estático, onde a ideia de mudança é inconcebível. Entretanto, a busca pela utopia mostrou-se o contrário do que se postulava. Cegos por seus próprios egos, os arquitetos, que acreditavam que a partir da Arquitetura seria possível resolver os problemas sociais, negaram a própria sociedade a qual tentavam melhorar. O séc. XX foi marcado por duas guerras mundiais, crises econômicas, ambientais, éticas e, inclusive, crise dentro da Arquitetura. Qualquer teor crítico que ainda restava ao propor um planejamento urbano foi abandonado em prol da arquitetura do consumo, moldada pelos interesses neoliberais. As cidades deixaram de ser um lugar para pessoas, tornaram-se espaços hostis e sem identidade, com memórias sendo apagadas para dar lugar a novos empreendimentos, sem preocupação com o contexto urbano, a comunidade ou a natureza. Com a desilusão das promessas de utopia, o presente é consumido ao extremo pelas políticas capitalistas. Onde antes já não havia preocupação com o passado, alia-se ao desprendimento da perspectiva de futuro. Para Paul J. Crutzen, a humanidade sobrevive no “Antropoceno”, ou seja, “um planeta totalmente transformado pelo ser humano, que é energia em si mesmo e que esteve, nas últimas décadas, submetido a um contínuo processo de exploração, atingindo hoje sua saturação” (Montaner; Muxí, 2021, p. 23). Portanto, a herança da ideia moderna de desenvolvimento atrelada à ambição do acúmulo de capital resultou em crises, guerras, catástrofes ambientais, doenças… e a morte do futuro. E agora? A opção mais fácil é viver a alienação e aceitar que não há futuro. Entretanto, ao fazer isso, permite-se a mercantilização de territórios, corpos e natureza, tratando-os como descartáveis (Faria, 2020, p. 32). A cidade grita por transformação.


A busca pela inserção de um tempo histó- Defende-se olhar a cidade a partir do entenrico na construção das cidades influencia a dimento que passado e futuro se encontram idealização que temos deste tempo. No entan- no presente. Esse instante onde eles se conto, o espaço da cidade carrega seu tempo fundem é o “agora”, a referência a ser usada próprio, também influenciando a maneira que para repensar o espaço. o percebemos. Ou seja, o tempo e o espaço Autores como Mumford (2013) propuseram se influenciam concomitantemente. outras formas de utopia, como a de reconstruSendo assim, é necessário abandonar a ção. Entretanto, além de ser incoerente seguir ideia de passado, presente e futuro como três buscando por algo irrealizável, sem conexão entidades distintas que se anulam, como fize- com o lugar, tempo ou realidade, é irônico ram os modernistas e pós-modernos. Faz-se chamar um projeto de “utópico” a partir do necessário olhar para o passado, reconhecer momento que ele reconhece sua imperfeição, seus erros e, então, repensar não só o futuro o que é o caso, já que a cidade enquanto e sua abordagem, mas a construção urbana e produto do cidadão reflete a imperfeição do sua relação com o conceito humano de tempo. criador (Berardi, 2019). Portanto, assim como outros autores já O tempo linear é uma invenção do Ocidendesenvolveram seus conceitos de lugar em te, o tempo não é linear, é um maravilhoso relação ao tempo (Foucault com a heterotopia emaranhado onde, a qualquer instante, e Bauman com a retrotopia, por exemplo), é podem ser escolhidos pontos e inventadas proposto um termo para se referir ao entensoluções, sem começo nem fim” (BO BARDI, dimento do tempo e do espaço defendido: APUD FERRAZ, 1993, P. 327). o Metatópos (Figura 1). 74

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Utilizando a base “tópos”, que significa lugar, acrescentou-se o prefixo grego “meta-”, que indica mudança dentro de si mesma, posteridade, com valor semântico de comunidade, participação e transcendência (Alves, 2019, p. 55). Logo, o espaço como mudança olha para si mesmo, como um material do tempo, em constante metamorfose. E, resultante disso, a cidade cresce novamente como reflexo de seus habitantes. A proposta da metatopia trata de estudar a Arquitetura e Urbanismo de forma a entender que o presente é construído tanto pelo passado quanto pelo futuro (Figura 2), deixando nosso tempo moldar o espaço e nosso espaço materializar o tempo. ✗

DENIS FERRI, ARQUITETO E URBANISTA PELA FAU SANTOS E MESTRE EM HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DA ARQUITETURA E DO URBANISMO PELA FAUUSP. TAMBÉM É DIRETOR ADJUNTO DO IABSP. / GABRIELA SOARES, BACHAREL EM ARQUITETURA E URBANISMO PELA FAU SANTOS.

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Vista panorâmica da cidade de Santos/SP, em que as memórias da cidade antiga se sobrepõem à vista atual. Theatro Guarany, por Paulo Von Poser. FONTE: CRISTINA GUERRA.

REFERÊNCIAS ALVES, Ieda Maria. Empregos do prefixo meta-. Acta Semiótica et Lingvística: Edição Especial, São Paulo, v. 24, n. 3, 2019. BERARDI, Franco. Depois do Futuro. São Paulo: Ubu Editora, 2019. FARIA, Nalu. In: Recortes de uma cidade por vir. São Paulo: Instituto Pólis, 2020 FERRAZ, Marcelo Carvalho (Org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993. MONTANER, Josep Maria; MUXÍ, Zaida. Política e arquitetura: Por um urbanismo do comum e ecofeminista. 1. ed. São Paulo: Editora Olhares, 2021. MUMFORD, Lewis. Historia de las utopías. La Rioja, Espanha: Pepitas de calabaza ed., 2013.


Uma Arquitetura para a Roma Tropical POR FABRÍCIO R. S. GODOI

O "Beijódromo", memorial no campus da UnB em Brasília idealizado por Darcy Ribeiro (1922-1997) e João Filgueiras Lima, o Lelé (1931-2014). © FABRÍCIO R. S. GODOI

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¶ COMEÇAMOS COM UMA TESE PARA DISCUSSÃO: a Arquitetura e Urbanismo deve se colocar a serviço da construção de uma Roma Tropical no Século XXI, como um campo do conhecimento e uma área da cultura que pode se mobilizar para ajudar na construção da civilização brasileira e latino-americana, a serviço de seu povo. Não pode, portanto, ser vista como um acessório criativo ou uma técnica que simplesmente introduz conforto ou luxo para as classes dominantes. Não deve ser um serviço para as elites e nem deve produzir a cidade unicamente para estas. Usando as categorias de Darcy Ribeiro, a Arquitetura e Urbanismo deve ser uma causa profundamente comprometida com a construção do “povo novo” brasileiro e latino-americano e a superação da estratificação social. Deve ser parte da construção de uma consciência nacional que supere a ingenuidade e a submissão irrefletida à “cultura espúria”. Consciência essa que permita romper o ciclo de atualizações históricas via “modernização reflexa” para produzir a nossa própria atualização histórica, que finalmente resulte na “civilização emergente” de modo independente. E há alguns elementos factuais ou concretos para isso. A ideia da Roma Tropical foi criada por Darcy Ribeiro ao perceber que Roma, a sede de uma poderosa civilização, tinha suas raízes fincadas em outra geografia (a Grécia), além de espraiar suas formas culturais sem eliminar as pré-existências. A lusitanidade seria herdeira dessa civilização e assim, indiretamente, estaria a porção “ocidental” de nossa própria civilização

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emergente. A porção “tropical”, por sua vez, estaria no necessário aprendizado do viver nos trópicos, na adequação do modo de vida à realidade geográfica. A fusão dessas porções resultaria em uma nova civilização, e não apenas na adaptação da primeira às nossas condições. Para isso, é preciso retomar o comprometimento de nosso campo do conhecimento com a construção (ou a reforma) de um país. Resgatar o compromisso com temáticas prioritárias, agindo politicamente para sua consecução. Com ideias novas ou, eventualmente, retomando elementos de uma arquitetura que se tornou canônica ou corrente, daquele fenômeno (Liernur) ou planeta (Cohen) que respondeu bem às necessidades de um tempo restrito. Elementos ou aspectos que certamente estão impregnados na produção de muitos arquitetos ativos de hoje, mas que precisam ser sempre relembrados. Uma arquitetura tropical e mestiça deve possuir, de um lado, a profunda vontade de beleza, e de outro, o permanente foco na necessidade de construir o país, ainda carente de inúmeras estruturas sociais. A vontade de beleza encontra certa resposta naquele modernismo brasileiro, que no campo da Arquitetura e Urbanismo atingiu um de seus pontos máximos, incorporando ao movimento arquitetônico predominante do período alguns aspectos nacionais – sejam inventados ou interpretados, como na junção da “oca com o disco voador”, o Beijódromo de Brasília (pg. 68), de João Filgueiras Lima, o Lelé. A necessidade de construir o país encontrou resposta naquelas propostas desenvolvimentistas, tanto as progressistas (governo João Goulart) quanto as conservadoras (no período da ditadura militar). Resultaram em uma arquitetura nova para um povo novo. Que, repita-se, respondeu muito bem às necessidades daquele tempo.


Chega ao nosso tempo resquícios de ambos os aspectos, Urge realçar nossa identidade brasileira, sendo influência muito importante para a Arquitetura brasileira que deve ser sempre latino-americana, contiatual. Enquanto isso, um modo atualizado de desenvolvimen- nuando a estudar a experiência dos arquitetismo segue sendo a política implantada no terceiro Governo tos modernos, mas trazidos a luz das ideias Lula. Mas, paralelamente, aparecem propostas inovadoras, na que estão sendo resgatadas ou iluminadas arquitetura e na política, que lidam com essa experiência do em nosso tempo, ancestrais, como o Buen passado recente de modo a tornar o quadro ainda mais complexo. Vivir. Ou, em outras palavras, aproximar o Na política, com alguma relevância em certos países (como Buen Vivir, como resumo dos aprendizados a Bolívia e Equador), se reforça a ascensão de indivíduos de da vida no continente americano e a “Boa origem indígena – chegando até à cadeira de presidente, que Vida”, como resumo das vantagens trazidas defendem uma proposta de desenvolvimento mais sofisticada pela modernidade, para um dia vivermos na do ponto de vista ambiental, tendo em sua base conceitos de Roma Tropical. ✗ afastamento do consumismo desenfreado do modo de vida ocidental, em consonância com o conceito do Buen Vivir. Em FABRÍCIO R. S. GODOI É ARQUITETO 2023, o Brasil reacende essa discussão, com a criação de um BRASILEIRO. MESTRE E DOUTORANDO PELO IAU/USP, ONDE DESENVOLVE Ministério de Povos Originários e a reativação de um ministério PESQUISA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE agora renomeado para Ministério do Meio Ambiente e Mudança DARCY RIBEIRO E A ARQUITETURA E URBANISMO. HÁ QUASE VINTE ANOS do Clima. Há esperanças de melhorias, mas ainda sem a persTRABALHA COM PLANEJAMENTO pectiva de rompimento com a ordem neoliberal. FÍSICO UNIVERSITÁRIO. Na Arquitetura, aquela raiz modernista se mantém, fundida com lutas revigoradas pelo direito à cidade, mesmo que ainda marginais ou apenas pontualmente conectadas com o mercado de construção como um todo, constituindo-se na vertente estatal da Arquitetura brasileira pós-Brasília ou na face “econômica” da vertente comercial. Exemplificam-se com as cada vez mais numerosas experiências de Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (ATHIS), inscritas até em leis, normas e políticas públicas. É essa raiz que também agrega continuamente tecnologias edilícias novas, principalmente de origem industrial e, portanto, também ligada às forças do capital. Simultaneamente, registra ou valoriza tecnologias de origem artesanal, como em arquiteturas com caráter regional. A base fundamental que perREFERÊNCIAS manece, no entanto, parece ser ainda o modernismo dos grandes COHEN, J. L. O Futuro da Arquitetura mestres, que seguem sendo estudados com esmero nas principais desde 1889: uma história mundial. São Paulo: Cosac Naify, 2013. universidades brasileiras (e latino-americanas). O modernismo LIERNUR, J. “The South American Way”. daqueles mestres do período de auge da Arquitetura moderna El milagro brasileño, los Estados Unidos y brasileira, que visava à qualidade de vida e que consigo carregava la Segunda Guerra Mundial (1939-1943). intimamente a vontade de justiça social (o que, sabemos hoje, In: Block, nº 4. Buenos Aires: Torcuato di Tella, dez. 1999. não está ao alcance da ação de nosso campo do conhecimento). RIBEIRO, Darcy. Introducción. In: SEGRE, R. O modernismo que defendia uma “Boa Vida”, almejada nas proAmérica Latina en su arquitectura. México posições daqueles arquitetos, mas poucas vezes atingida – não DF: Siglo XXI, 1975. por problemas internos às propostas da Arquitetura e Urbanismo, RIBEIRO, Darcy. Teoria do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972. mas por sua condição acessória ao sistema capitalista.

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TAPUME → FELIPE FÉLIX → AI e As Cidades Visíveis


Cultivando territórios: novos espaços alimentares POR JULIA REIS

Oásis produtivo próximo à fronteira entre Marrocos e Argélia, 2012. © ACERVO PESSOAL, JULIA REIS

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¶ PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA a população urbana superou a rural. Hoje 55% das pessoas vivem em centros urbanos e as projeções mostram que esse número deve chegar a quase 70% em 2050. Isso representa um aumento de 2,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas. Dessa forma nos perguntamos: qual é o modelo de urbanização que queremos para as próximas décadas? A resposta a essa pergunta depende da compreensão do aumento nos índices de urbanização como um desafio não só para as áreas urbanas, mas também para as áreas rurais e periurbanas – sejam elas produtivas ou naturais. A história da cidade está intimamente ligada à história dos territórios produtivos – é uma co-evolução. De um lado temos a dilatação do espaço urbano e de outro o esvaziamento ou a dispersão no meio rural. Duas esferas indissociáveis, que trabalham dentro de uma relação de interdependência: estão ligadas econômica, social e ambientalmente. A maior parte do crescimento populacional é esperado em cidades localizadas em regiões menos desenvolvidas. Até 2050, a população de Lagos, na Nigéria, terá dobrado mais uma vez, o que fará dela a terceira maior cidade

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do mundo. De acordo com o relatório das Nações Unidas de 2019, “Revision of World Population Prospects”, no Brasil, 76% da população vive nos grandes centros urbanos, e a tendência é de elevação desse percentual nas próximas três décadas. Conforme pontua Jared Diamond, em “Armas, Germes e Aço”, o que levou o ser humano a viver em cidades foi a necessidade de estar junto de suas plantações para garantir a produção de alimentos. Quando o homem passa da vida nômade, de coletor-caçador, para a agricultura e a domesticação de animais, ele cria também a possibilidade da estocagem de alimentos excedentes. É o excedente que possibilita o surgimento de outras atividades econômicas, colaborando para o adensamento populacional. Nesse sentido, as cidades se consolidaram com base na agricultura, porém a criação de cadeias de distribuição de alimentos de escala regional, nacional e global acabaram por enfraquecer a relação do homem com o cultivo da terra. O debate sobre o desaparecimento do conceito de rural como é conhecido até hoje, fruto do processo de meta-urbanização do planeta, tem feito muitos teóricos se voltarem para o campo como objeto de estudo. A exposição “Countryside: The Future” (Guggenheim Museum, Nova Iorque, 2020), com curadoria de Rem Koolhaas e Samir Bantal, coloca o ambiente rural no foco do pensamento crítico atual. Como uma espécie de manifesto, a exposição alerta para que os arquitetos olhem para fora dos limites das cidades. Como antecipa o catálogo, os territórios rurais, remotos e selvagens a que chamamos “campos”, ou os 98 % da superfície terrestre não ocupados pelas cidades, constituem a linha da frente onde hoje atuam as forças mais poderosas – a devastação ecológica, as migrações e a tecnologia. Esses locais estão mudando de maneira rápida e muitas vezes oculta, causando importantes transformações já em curso nas vastas áreas não urbanizadas do planeta. CONTINUUM URBANO-RURAL

Dado o espraiamento das cidades, as fronteiras entre o meio rural e o urbano têm se diluído cada vez mais, consolidando o chamado continuum, conceito criado pelo antropólogo americano Robert Redfield em 1930 em seu ensaio sobre Tepoztlan no México. Também chamadas Urban-Rural Linkages (URL), pela ONU HABITAT, tais interações urbano-rurais podem ser entendidas como “vínculos” ou “fluxos” (Douglass, 1998), se relacionando a pessoas (migrações, mudanças demográficas), bens e serviços públicos (sistemas agroalimentares, infraestrutura e transporte,


Linha de distribuição de energia entre as cidades de Nampula e Meconta, Moçambique, 2016. © ACERVO PESSOAL, JULIA REIS

energia e informação) ou meio ambiente (serviços ecossistêmicos, uso da terra). Quando se trata da análise dos territórios alimentares, se fazem necessárias políticas públicas integradas que fortaleçam os laços econômicos, sociais e ambientais dentro do planejamento e da agenda urbana. Expandir o interesse urbano nos sistemas rurais traz desafios políticos, institucionais e culturais que têm suscitado experiências notáveis nos últimos anos. O caso do Cinturão Verde Metropolitano (MGB, na sigla em inglês), um dos 17 projetos integrantes do 2nd Compendium of Inspiring Practices on Urban-Rural Linkages desenvolvido pela ONU HABITAT em 2021 é exemplo concreto de uma estratégia de planejamento que considera integralmente as costuras entre áreas de urbanização planejadas e informais do território e seus avanços sobre o ambiente rural do Vale do Aburrá na Colômbia. O projeto abarca dez municípios da Área Metropolitana do Vale do Aburrá, além da cidade de Medellín, e presta serviços ecos-

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sistêmicos de preservação, dialogando com as particularidades de cada município a partir dos POT (Planes de Ordenamiento Territorial), atuando sobre três pilares: Cinturão Externo, Estrutura de Conexão Ecológica e Sistema de Transição Urbano-Rural. Iniciativas como o MGB trabalham a partir de uma abordagem holística de articulação e cooperação entre diferentes atores (municipalidades, universidades, comunidades e setor privado), e são capazes de preservar os ecossistemas naturais ao mesmo tempo em que melhoram a qualidade de vida das populações mais vulneráveis que os habitam através de um sistema de governança integrado no território.


Paisagem periurbana nas proximidades da ferrovia de acesso a cidade de Gênova, Itália, 2021. © ACERVO PESSOAL, JULIA REIS

Somente a partir da descentralização e da atuação sobre o continuum será possível desenvolver e direcionar recursos de forma mais balanceada entre as zonas urbanas, rurais e periurbanas, colaborando para um processo de ocupação do território democrático e integrado. A emergência climática que enfrentamos hoje clama por um novo modelo de urbanização para as próximas décadas, capaz de diminuir as desigualdades territoriais em direção a paisagens resilientes aos desafios de uma urbanização acelerada iminente. ✗

JULIA REIS É ARQUITETA URBANISTA (MACKENZIE 2014), PÓS-GRADUADA EM GEOGRAFIA, CIDADE E ARQUITETURA (ESCOLA DA CIDADE 2018) E MESTRA EM ARQUITETURA, EMERGÊNCIA, RESILIÊNCIA (IUAV VENEZA 2021). É COFUNDADORA DO ESTÚDIO LAVA, INTEGRANTE DA DIRETORIA DO IABSP E PROFESSORA ASSISTENTE NA ESCOLA DA CIDADE.

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Artigo publicado originalmente em 19/03/2022 em: ↗ bit.ly/4678VoT REFERÊNCIAS DIAMOND, Jared. Armas, Germes e Aço: Os Destinos das Sociedades Humanas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2017. p. 87-150. DOUGLASS, M. A regional network strategy for reciprocal rural-urban linkages. Third World Planning Review, 1998, 20(1), 1–35. UN-HABITAT. Compendium of Inspiring Practices on Urban-Rural Linkages. Urban Policy Platform, 2021.


O futuro das cidades em risco Caminhos da agenda urbana e ambiental para cidades inclusivas, sustentáveis e resilientes POR COMISSÃO DE POLÍTICA URBANA, AMBIENTAL E TERRITORIAL DO CAU/SP E NÚCLEO BRCIDADES RMBS

Foto do acervo de GRD do Núcleo de Geociências, Gestão de Riscos e Monitoramento

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¶ AS RECORRENTES TRAGÉDIAS no litoral norte paulista alertam para a necessidade de repensar o futuro das cidades frente à desigualdade social e urbana e aos impactos das mudanças climáticas. Esses desastres exigem um debate constante e investimentos em políticas públicas integradas e eficientes, que reforcem a importância da cooperação entre os níveis federativos. Construir cidades inclusivas, sustentáveis e resilientes significa integrar proteção ambiental, equidade social e desenvolvimento econômico, garantindo acesso à cidade e moradia digna para todos. A participação de arquitetos e urbanistas é essencial na busca por soluções sustentáveis, conforme prevê Agenda Urbana e Ambiental do CAU/SP1. Os 08 eixos temáticos, diretrizes e ações propostos indicam caminhos para alterar o futuro das nossas cidades com uma abordagem holística, que prioriza as dimensões urbana e ambiental como forma de promover direitos, garantir qualidade de vida, preservação ambiental e acesso à terra urbanizada. Os recentes desastres ocorridos no litoral paulista foram tema de debate no CAU/SP em uma live2 realizada com moradores, lideranças locais e especialistas, demostrando que são tragédias previsíveis, que poderiam ser evitadas. Neste contexto,

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uma tragédia-crime, segundo os moradores da Vila Sahy, uma das áreas mais afetadas. A forma perversa como o turismo de veraneio e os condomínios se apropriaram do território ao longo do litoral norte, desde a construção da Rio-Santos, transforma a paisagem e expulsa a população caiçara e os mais pobres para áreas de risco. Essa população excluída é a mesma que trabalha na construção civil e presta serviços nos imóveis de veraneio, constituindo um ciclo perverso entre as atividades do turismo e a ocupação irregular na região. Trata-se de uma tragédia historicamente construída pelo modelo de urbanização excludente que estamos vivenciando com maior intensidade. As informações preliminares do Censo do IBGE/2022 confirmam tal situação, ao apontar seis cidades do litoral paulista com mais da metade de seus domicílios desocupados, ou seja, há mais casas sem gente do que gente sem casa. As soluções para as situações de


risco devem passar pela discussão da questão fundiária de forma a garantir, para essa população trabalhadora, terrenos em áreas seguras, dotados de infraestrutura e próximos aos seus locais de trabalho. Cabe destacar a omissão de autoridades e do poder público que tinham conhecimento de estudos que classificavam a Vila Sahy como área suscetível a deslizamentos. Informações existem e estão disponíveis para subsidiar as políticas públicas, como mapeamentos de áreas de risco e registros da precariedade urbana. Os riscos existentes são uma expressão direta das disfunções urbanas. Logo, é preciso incorporar a leitura de risco como uma prática urbanística: os riscos não são uma questão natural, são construídos pela forma como são ocupadas as nossas cidades. Portanto, os municípios devem considerar essas informações para promover o planejamento e a gestão do ordenamento territorial através do Plano Diretor e demais leis urbanísticas, com base no Estatuto da Cidade. A crise climática deve produzir, em períodos cada vez mais curtos, chuvas mais intensas do que a que ocorreu no Litoral Norte. Isso requer um trabalho de organização das comunidades na preparação de Planos de Emergência para a prevenção e gestão de riscos que permitam a superação da vulnerabilidade, pelo conhecimento do território, pela participação e pela organização de procedimentos de mitigação e salvamento. Devemos aproveitar a oportunidade da recriação do Ministério das Cidades para atuar “antes do desastre”, integrando programas como Minha Casa Minha Vida com ações estruturais, como políticas de urbanização e regularização fundiária, garantir assistência técnica para habitação de interesse social, com ações não estruturais, como o autossalvamento comunitário integrado a uma rede de apoio local nos períodos críticos. Resiliência é protagonismo. As comunidades necessitam protagonizar sua própria defesa, sem isso não teremos como prevenir as recorrentes tragédias. É urgente repensar nossos instrumentos de gestão de risco, de forma integrada ao planejamento urbano e ambiental, diante da crise climática. Ao exercer o controle social sobre o poder público, por meio de uma população mobilizada, conhecedora dos seus direitos e dos procedimentos do plano comunitário, muitas vidas poderão ser poupadas. ✗ NOTAS 1 Para ler e saber mais sobre a Agenda Urbana e Ambiental para Território Paulista do CAU/SP, acesse: ↗ bit.ly/3ZexttK 2 Live realizada pela CPUAT-CAU/SP em parceria com o Núcleo BrCidades RMBS em 04/04/2023: ↗ bit.ly/3Zl0HHp e relatoria do evento: ↗ bit.ly/46aVNz6

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Valorização profissional e os honorários para serviços de Arquitetura e Urbanismo POR COMISSÃO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL E COORDENAÇÃO TÉCNICA DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO CAU/SP

PERFIL DOS ENTREVISTADOS — PESQUISA NACIONAL SOBRE TABELA DE HONORÁRIOS (CAU/BR)

68,8%

19,4%

vieram de profissionais autônomos

de empresas

8,9% de contratante

2,9% outros

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¶ A Tabela de Honorários do CAU/BR1 existe desde 2014 e foi elaborada com base no “Manual de procedimentos e contratação de serviços de arquitetura e urbanismo”, complementada e modificada com as contribuições do Colegiado Permanente das Entidades de Arquitetos e Urbanistas do CAU/BR (CEAU). Ao longo dos anos o CAU/BR fomentou o uso da tabela pelos profissionais como forma de valorizar a atividade profissional e esclarecer a complexidade dos serviços envolvidos na atividade técnica e intelectual dos arquitetos e urbanistas. Porém, para eles, a utilização da tabela ainda é de difícil compreensão e o preço de venda por ela calculado não representa a realidade do preço de mercado. O aprimoramento da Tabela de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo é um esforço da atual gestão, na busca pela aproximação com a realidade do trabalho dos arquitetos e urbanistas. Nesse contexto, o CAU/BR realizou a Pesquisa Nacional sobre a ferramenta2, publicada em 2014. Entre as contribuições recebidas, 68,8% vieram de profissionais autônomos; 19,4% de empresas e 8,9% de contratantes (pg. 86). Entre os arquitetos e arquitetas que responderam à pesquisa, 52% afirmaram que têm dificuldades para calcular os custos mínimos do seu trabalho, e a maioria dos profissionais

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considera importante ter um instrumento com dados mínimos para exercer a profissão, o que reforça a relevância de um método de precificação para valorização da atuação profissional frente ao mercado de trabalho. Ao explorar possibilidades de melhoria da assimilação dos parâmetros, a pesquisa também observou a preferência da vinculação da tabela a um índice de hora técnica (42%) em detrimento a um valor por metro quadrado (38,2%) (pg. 88). Os entrevistados concordaram que é preciso rever o conceito de escopo mínimo (95%) e separar a Tabela de Honorários da composição (76%). Para dar suporte aos profissionais, o CAU/SP disponibiliza cursos e capacitações, auxiliando sobre a utilização da Tabela de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. A mais recente delas é a aula on-line destinada para profissionais de Arquitetura e Urbanismo que desejam se aprimorar no uso da tabela, em seus conhecimentos nos parâmetros adotados para a composição do custo, os componentes de orçamento e as modalidades de remuneração nela previstas. (↗ tinyurl.com/bde3trk5) A Tabela de Honorários não tem a função de se sobrepor à negociação entre arquiteto e cliente, uma vez que um orçamento criterioso deve ser ponderado em relação à conjuntura econômica, à capacidade de produção, ao potencial criativo e à capacidade administrativa de cada empresa ou profissional, dentre outros fatores. Porém, o Código de Ética e Disciplina do CAU/BR recomenda que o arquiteto e urbanista apresente suas propostas de custos de serviços de acordo com a tabela, que é pensada a partir do escopo. Todavia, o CAU/SP entende que precisamos avançar nas formas de precificação dos serviços de Arquitetura e Urbanismo contribuindo para a sua revisão.


PRINCIPAIS AVANÇOS

O CAU/SP entende que é necessário primeiramente munir os arquitetos urbanistas de métodos que possam instrumentalizar a cobrança de honorários no momento atual e futuro, permitindo assim a valorização dos honorários da prestação de serviços. Para tanto é papel do CAU, das entidades, dos profissionais e empresas de Arquitetura e Urbanismo valorizar as atividades intelectuais perante a sociedade. Diante das transformações do mercado de trabalho e das novas formas de relações trabalhistas, o futuro de nossa profissão passa por adequarmos a complexidade das atividades exercidas à remuneração compatível e à realidade de nossa atuação. Portanto, é fundamental compreendermos a relevância intelectual de nosso ofício e estruturar uma relação com a composição de custos na construção de propostas de serviços. Ao desenvolvermos um projeto de arquitetura ou executarmos uma obra, nos deparamos com desafios e complexidades como as diversas etapas de escopo: levantamento de dados, programa de necessidades, estudo de viabilidade, estudo preliminar, anteprojeto, projeto para execução, etc. Além do escopo, devemos apresentar documentos técnicos, desenhos, textos, relatórios, incluindo assessorias e acompanhamentos. Já para um serviço de perícia técnica, é necessária uma vistoria, emissão de parecer ou laudo técnico, compreendendo: levantamento de dados, realização de análise ou avaliação de estudos, propostas, projetos, serviços, obras ou produtos desenvolvidos ou executados por outrem. E para calcularmos os honorários3 desses serviços com diferentes naturezas e atividades podemos utilizar o método de cálculo do percentual do custo da obra ou cálculo pelo custo do serviço. Rapidamente, buscamos demonstrar como são atividades intelectuais complexas e criativas que envolvem o desenvolvimento dos trabalhos.

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É fundamental compreendermos a relevância intelectual de nosso ofício e estruturar uma relação com a composição de custos na construção de propostas de serviço.

VINCULAÇÃO DA TABELA DE HONORÁRIOS A UM ÍNDICE Hora técnica

42%

m2

38,2%

(%CUB)*

Outro

14,5% 5,3%

*Percentual do CUB referencial (%CUB)


Diante dos desafios apresentados na pesquisa do CAU/BR sobre a Tabela de Honorários e com o objetivo de ajudar os profissionais na precificação dos serviços de maneira ágil, acessível e aplicável na formulação de preços, a Comissão de Exercício Profissional (CEP) e a Comissão de Desenvolvimento Profissional (CDP) do CAU/SP estão desenvolvendo um guia orientativo que facilite a gestão e visualização de todos os insumos, serviços e demais componentes que estão relacionados a precificação das atividades desenvolvidas pelos arquitetos e urbanistas, diferenciando os preços de custos e de venda. A visualização do arcabouço que envolve a composição de custo para a prestação de serviços técnicos, com diversas complexidades envolvidas e que também tem cunho intelectual, facilita aos profissionais a compreensão sobre a importância da valorização do seu trabalho frente aos desafios do mercado.

CAMINHOS FUTUROS

A partir da escuta dos profissionais e no intuito de facilitar o modo como arquiteto e urbanista precifica seus serviços tanto no momento atual quanto no futuro, o CAU/SP enquanto orientador desse processo propõe as seguintes ações: ↗ continuar oferecendo curso gratuitos aos profissionais sobre a Tabela de Honorários do CAU/BR; ↗ contribuir com o processo de revisão da Tabela de Honorários do CAU/BR; ↗ ampliar a oferta de cursos sobre como precificar os serviços de Arquitetura e Urbanismo, aumentando a competitividade dos profissionais no mercado de trabalho; ↗ avançar na formatação de um guia orientativo, didático e ilustrado, que auxilie na gestão de negócios e na visualização dos insumos de serviços e demais componentes, diferenciando preços de custo e de venda, custos e despesas, e detalhando os itens relacionados a tributação, natureza jurídica e demais fatores e índices que devem ser observados; ↗ promover discussões por meio de lives nas redes sociais sobre o tema, instruindo os profissionais. NOTAS

O processo de discussão entre as comissões e com os profissionais trouxe importantes elementos que vêm sendo utilizados nos debates, que se apropria das especificidades e desafios de nossa categoria profissional, incluindo a complexidade intelectual de nossos serviços, para colaborar com a valorização do arquiteto urbanista e para que possamos em breve disponibilizar aos profissionais uma primeira versão do guia. ✗

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1 ↗ bit.ly/3PGW0ol 2 Fonte: ↗ bit.ly/3PmoOkz 3 Para entender como calcular honorários nas duas diferentes modalidades de remuneração, verifique os módulos no link: ↗ bit.ly/3ZmBxIr


Arquiteto(a) urbanista servidor(a) público(a): desafios e perspectivas POR COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL, COMISSÃO DE EXERCÍCIO PROFISSIONAL E COMISSÃO DE ENSINO E FORMAÇÃO DO CAU/SP

¶ O(A) ARQUITETO(A) E URBANISTA SERVIDOR(A) PÚBLICO(A) é a pessoa física que recebe pagamento do Estado e tem a responsabilidade de desempenhar um conjunto de atribuições em consonância com a Resolução 21/2012 do CAU/BR, que dispõe sobre as atividades e atribuições profissionais. Quando pensamos em arquitetos e arquitetas com atuação no serviço público logo nos vem à mente a aprovação de projetos, licenças e alvarás. Contudo, a sua atuação se estende a diversas áreas tais como: planos e projetos urbanos, gestão urbana, elaboração de normas, execução e conservação das obras de infraestrutura e mobilidade urbana, gerenciamento de projetos, preservação do patrimônio ambiental, cultural e arquitetônico, fiscalização de obras particulares e públicas, elaboração de termos de referência, entre outras atividades. E estão alocados em vários setores tais como: Planejamento Urbano, Meio Ambiente, Vigilância em Saúde, Transporte e Mobilidade Urbana, Educação, Cultura entre outros, cada qual com suas particularidades. Apesar da gama de atividades realizadas e da enorme responsabilidade dos arquitetos e arquitetas no desempenho de sua função no serviço público - técnica, civil, penal e administrativa -, a sua remuneração está atrelada a regras específicas do funcionalismo público, acarretando em casos de salários abaixo do piso salarial da categoria ou daqueles praticados pelo mercado, sendo comumente observado em editais de concurso público.

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E ainda que altamente capacitados, poucos têm a oportunidade de ocupar os espaços de poder e decisão, sem contar com as constantes mudanças administrativas que engavetam projetos ou recriam políticas públicas sob outros olhares e convicções. Contudo, a sua participação é imprescindível nos espaços de decisão! Dentro da amostragem do último censo do CAU/BR relativo ao ano de 2021, 87% dos profissionais trabalham efetivamente na área de Arquitetura e Urbanismo e 28% em outras áreas. O campo de atuação é bastante variado, sendo que 49% trabalham com concepção de projetos e, dentre esses, 45% participam da fase de execução. Já a Arquitetura de Interiores aumentou de forma significativa em comparação ao censo de 2012 e se apresenta como a maior demanda, com 62% dos profissionais nessa área. Outros segmentos também aumentaram como Planejamento Urbano (11%) e Paisagismo (17%). Entretanto, não houve, nesse censo, perguntas direcionadas à atuação do arquiteto e arquiteta no setor público, questão a ser corrigida no questionário para o novo censo, a ser aplicado em 2023-24. Diante desse cenário, é urgente a retomada do debate, junto ao legislativo, sobre as atividades exercidas pelos arquitetos e arquitetas em cargo efetivo no serviço público como essenciais e exclusivas de Estado. Essa alteração pode contribuir para a

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valorização profissional e possibilitar que a tomada de decisão seja pautada em questões técnicas e não apenas políticas, o que resultaria em maior qualidade dos serviços públicos ofertados nessa área e, consequentemente, maior qualidade de vida para a população. Um grande desafio se apresenta ao campo do ensino e formação, na abordagem qualificada dos assuntos típicos dessas atividades nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, tais como: legislação profissional, licenciamento edifício e ambiental, ordenamento territorial, mobilidade urbana, proteção do patrimônio, dentre outros. É importante também a formação continuada de arquitetos e arquitetas servidores para atualização profissional. Outro desafio é aproximá-los do CAU, tanto para dar visibilidade a esses profissionais quanto para valorizar a profissão e prestar um serviço cada vez melhor à sociedade, com responsabilidade técnica. O CAU/SP está atento a esses desafios e, na atual gestão, realizou diversas atividades: “Ação Arquiteto Servidor”, pela Comissão de Exercício Profissional (CEP), que propôs uma articulação entre o CAU/SP e o poder público municipal; “Seminário Arquitetura e Urbanismo Públicos: Território Paulista”, pela Comissão de Desenvolvimento Profissional (CDP), que debateu sobre o papel desses profissionais no serviço público e os desafios por eles enfrentados no dia a dia; e assinatura do termo de cooperação entre o CAU/SP e a cidade de Suzano, pela CDP e Comissão de Tecnologia, Informação e Comunicação (CTIC), com o projeto de uma oficina de geoprocessamento no caminho de aprovação automática de projetos. Há muito caminho ainda a ser percorrido, mas o trabalho com as prefeituras pode ser eficiente para a aproximação dos arquitetos e arquitetas servidores junto ao CAU/SP e para a mudança dessa realidade.


Depoimentos

CLARISSA SOUZA TRABALHA NO INSS DESDE 2006 NA BAIXADA SANTISTA.

“Eu tive uma experiência muito interessante: no final dos anos 20082009, o governo federal implanta um programa que se chama ‘plano de expansão de atendimento da rede do INSS’, basicamente, era [para] dobrar a rede de infraestrutura, de número de agências, de postos de atendimento para a população do Brasil. Os lugares mais vulneráveis, onde não tinha atendimento, estavam localizados no nordeste e norte do Brasil. Na região sudeste, nós tínhamos já uma rede mais estruturada, mas na Baixada Santista, onde eu atuo, (...) e nós atendemos [também] o Vale do Ribeira, uma área muito vulnerável, [havia] um problema de mobilidade (...). E nesse programa, nós conseguimos ampliar o número de agências que tínhamos nesta região, que eram 07 agências para 13, e nós fomos para as cidades mais vulneráveis, como Miracatu, Cajati, Iguape, Peruíbe, Mongaguá (...) Neste momento, a gente vê o quanto ainda a nossa profissão precisa chegar aos lugares aonde ainda não chega”. JOSI BANEGATE, PROFESSORA DA ETEC EM DESIGN DE INTERIORES. É DOUTORANDA DA FAU-USP.

“A minha relação com o funcionalismo público é uma relação de sobrevivência. Eu fui fazer concurso público para sobreviver, para existir. Exatamente, porque eu sabia que o comércio, que o mercado seria um pouco perverso comigo pela [minha] condição (...). Sou piauiense, mas estou em São Paulo há 22 anos, e em algum momento eu entendi que a minha realidade somente ia mudar a partir de estudo. São três cursos técnicos, duas graduações, cinco pós-graduações, licenciatura, mestrado, doutorado, e ainda assim, eu sou um arquiteta menor. Então, nem sempre ir buscar na Academia o lugar mais confortável é a resposta, porque ainda assim, nós temos um mercado que te olha e te coloca num lugar menor. Eu atuo em escola técnica, e também em graduação, mas nunca dou aula de projeto porque, de alguma forma, fazem uma leitura de que não sirvo para dar aula de projeto”.

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RAYSSA CORTEZ ATUA NA SECRETARIA DE HABITAÇÃO DE TABOÃO DA SERRA/SP.

“Em 2021, o Nílcio [Regueira Dias, secretário de Habitação, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente], que é um ‘super-arquiteto’ sempre ligado a estas questões da Arquitetura pública, nos convidou para estarmos em Taboão com uma missão de retomar mesmo a política habitacional do município. Nós tínhamos um super-plano de habitação, que nunca foi colocado em prática pelo município, que foi feito com consultoria da USP. Era um super-instrumento de trabalho, e que nunca foi usado. E nós partimos já daquele lugar. E o que foi feito deste diagnóstico de 2010? O que nós precisamos fazer ainda? O que nós precisamos normatizar porque ainda ficou no vácuo? (...) Nós estamos implantando a Residência Técnica em Taboão (...) e o meu sonho é ver aqueles 15, 20 arquitetos que vão atuar conosco muito apaixonados também pela função pública da Arquitetura”. ROSSELLA ROSSETTO TRABALHA NA SECRETARIA DE URBANISMO E LICENCIAMENTO DA PREFEITURA DE SÃO PAULO

“A gente vive reclamando que o CAU, que os RRTs não descrevem o nosso trabalho. (...) E a gente tem esta descrição dos nossos trabalhos? (...) Tudo o que gente faz tem uma organização? A gente já descreveu os nossos trabalhos, as nossas múltiplas funções? Quem está na Secretaria de Transporte , em Obras, quem está na Secretaria de Habitação, nós já fizemos esta compilação? Se a gente não fez esta compilação, a gente está ainda desconhecendo, ainda está no intuitivo, não trouxe para o lado do racional e do lado da normativa de qual é o nosso trabalho. Se a gente fizer isto, depois nós podemos falar: ‘tem RRT para isso?’ E aí nós conseguimos fazer uma orientação aos arquitetos que trabalham dentro desta área: o que nós estamos fazendo; quais são as nossas etapas; quais são os trabalhos; quais são as nossas funções.” ZENILDA VITORINO É DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. ATUA NO FUNCIONALISMO PÚBLICO NA ÁREA DE LICITAÇÕES.

“Trabalhei paralelo à Arquitetura por quase 30 anos no funcionalismo público. Trabalhei com licitações, [com] questões de obras. Então, eu vi muito esta parte e sei que não é fácil. O funcionário público leva certa fama de que não trabalha. E como ela [a arquiteta Consuelo Galego] falou, é totalmente o contrário. Problemas sempre têm em todos os setores, mas nós que trabalhamos, sabemos que cada dia é um desafio. É muito fácil falar quem está de fora que nós não fazemos nada (...). Não é bem assim. É uma questão de desafios mesmo. E que bom que tem desafios. Nós passamos a nos conhecer mais [assim]”. ✗

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curtas Entre 2022 e 2023, o CAU/SP lançou uma série de publicações em diversas áreas técnicas da Arquitetura e Urbanismo. Todas estão disponíveis gratuitamente para download dos arquitetos e urbanistas, e quaisquer cidadãos interessados.

AGENDA URBANA E AMBIENTAL PARA O TERRITÓRIO PAULISTA A ideia central desta Agenda é fomentar a Arquitetura e Urbanismo como política de Estado e valorizar a função social dos profissionais arquitetos e urbanistas no planejamento urbano, ambiental e territorial. As propostas são apresentadas em oito eixo temáticos. De forma resumida são: moradia digna, meio ambiente, mobilidade urbana, preservação da paisagem, gestão democrática, equidade e diversidade, segurança urbana, ensino e formação. O guia ainda apresenta “frentes de ação”, abordando possíveis caminhos para a atuação do poder público, das Defensorias e Ministério Público, das instituições de ensino, dos movimentos sociais e entidades profissionais, bem como do próprio CAU/SP. Área responsável: CPUAT-CAU/SP ↗ bit.ly/3ZexttK GUIA DE ATHIS PARA OS MUNICÍPIOS Este guia apresenta, de forma simples e direta, os conceitos e bases necessários para que as gestões municipais estruturem instituições voltadas à promoção da assistência técnica para habitação de interesse social. São abordados o conceito de assistência técnica, questões de melhorias habitacionais, regularização fundiária, produção de moradia, além de orientações para a implementação de um serviço de ATHIS no município. A obra ainda trata da lei federal 11.888, de 2008, que assegura este direito às famílias de baixa renda, e remete para minutas de projetos de lei na área de assistência técnica. Área responsável: CATHIS-CAU/SP ↗ bit.ly/3rYmSXJ GUIA PARA DIVULGAÇÃO PROFISSIONAL E BOAS PRÁTICAS EM MÍDIAS SOCIAIS O uso das redes sociais e a divulgação online de trabalhos são o cerne deste guia de 16 páginas, que abrange questões fundamentais para o marketing digital em Arquitetura e Urbanismo. Além de exemplos práticos e sugestões, o guia traz informações sobre a fiscalização do exercício profissional, a lei federal 12.378/2010, o Código de Ética e Disciplina, RRT (para o registro de responsabilidades) e RDA (para a formação de acervo). Área responsável: CF-CAU/SP e Corpo Técnico de Fiscalização do CAU/SP. ↗ bit.ly/45yMgB8

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MANUAL DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL — O ARQUITETO E URBANISTA E O PATRIMÔNIO CULTURAL O arquiteto e urbanista que deseja atuar, ou já atua diretamente, com o patrimônio cultural tem nesta obra uma leitura essencial. De forma simples e direta, este manual apresenta os trâmites e o modo de desenvolvimento de projetos necessários à aprovação e valorização de intervenções em bens culturais. Em nove capítulos, são descritos a atuação do arquiteto e urbanista na área de preservação, as instituições oficiais desta área no Estado de São Paulo, a aprovação de projetos nos órgãos competentes, o sistema de fiscalização, teoria e técnica de preservação, metodologia de projeto e obra, emissão de RRT, a questão da acessibilidade, e o uso das tecnologias de informação. Área responsável: CPC-CAU/SP ↗ bit.ly/46x3qk1 MANUAL DE ORIENTAÇÃO ÀS POLÍTICAS MUNICIPAIS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL O manual ajuda prefeituras a estruturarem órgãos locais voltados à promoção e valorização dos seus patrimônios culturais. É a contribuição do CAU/SP para a construção de políticas municipais dedicadas ao reconhecimento da diversidade e beleza da cultura arquitetônica do Estado e sua preservação para as próximas gerações. Dividido em sete capítulos, o ebook inclui tópicos sobre os órgãos de patrimônios nos três níveis governamentais, o conceito de bem cultural, os instrumentos para a política de preservação, as estruturais municipais de preservação, e a importância do arquiteto e urbanista para a preservação do patrimônio cultural. Área responsável: CPC-CAU/SP ↗ bit.ly/46UP2ls REGIMENTO INTERNO Sob a coordenação da Comissão de Organização e Administração (COA-CAU/SP), o novo Regimento Interno foi aprovado por maioria absoluta dos conselheiros em julho de 2023. O novo regimento é resultado da ampliação dos espaços participativos, e recepciona propostas trazidas pelos conselheiros. Buscou olhar para o futuro ao tratar do aumento de membros titulares, estabelecer como permanentes as comissões de Políticas Afirmativas, ATHIS, Relações Institucionais e Comunicação, além de criar espaço institucional para Acessibilidade, Mobilidade Urbana e Tecnologia da Informação. Traz como inovação ao conjunto autárquico, o Fórum de Comissões, que visa capilarizar as estruturas de governança e os espaços de discussão estratégica. Área responsável: COA-CAU/SP ↗ bit.ly/46waeOL

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Nanofotônica: o estudo do comportamento da luz através de materiais que definem como a luz é refletida, como é que faz para transportar a luz e como entender a sua aplicação no dia a dia. Um dos resultados das pesquisas tecnológicas atuais é o funcionamento dos aparelhos eletrônicos que será mais rápido e irá consumir menos energia, isto é, a energia será transmitida pela luz, através de laser principalmente. A partir desse olhar para a miniaturização das coisas e sempre conectado com as questões de sustentabilidade, criei a foto a partir da técnica fotográfica do ‘Light Painting’, que é desenhar com a luz. Para realizar a foto, desenhei e usei luzes de LED, traçando de uma só vez diversas linhas na horizontal para definir uma ideia de caminho, um caminho do futuro. Não existe interferência de software de edição na imagem, somente o uso da câmera, luzes e longa exposição.

TAPUME → GUILHERME GODOY → Nanofotônica


© FELIPE FÉLIX


MÓBILE revista do CAU/SP

#26 futuro ISSN: 2448-3885


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