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Gastronomia

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Joia Joia rara rara

Destino mais procurado de Sergipe, o cânion de Xingó, nas cercanias das cidades de Piranhas e Canindé do São Francisco, atrai em média 1,5 mil visitantes diariamente

Por Carolina Leite Fotos: Edson Oliveira e Shuterstock

Em Sergipe, o menor estado brasileiro, esconde-se um dos cenários mais deslumbrantes do país: o cânion de Xingó, em Canindé do São Francisco, na divisa com Bahia e Alagoas. Localizado a 213 quilômetros da capital, a viagem de encantos já começa em Aracajú. Adentrando pela zona da mata, depara-se com a vegetação luxuosa da Serra de Itabaiana em contraste com a aspereza por vir da Caatinga. A região chega a ter nove meses de seca por ano. Após cruzar pequenas cidades enfileiradas, enfim, chega-se ao fabuloso destino. O cânion do Xingó é formado por um vale que vai até 170 metros de profundidade, com extensão de 64 quilômetros e largura que varia entre 50 e 300 metros.

Subir de barco a garganta de paredões rochosos, entremeada pelas águas verdes do Velho Chico, é uma experiência inesquecível. As rochas de granito, que vão do vermelho ao cinza, atingem até 50 metros de altura. O lugar tornou-se atração turística quando o São Francisco foi represado naquela altura, para a construção da Usina Hidroelétrica de Xingó, em 1988. Com a barragem, o rio chegou a triplicar de tamanho, inundando os arredores. O volume de água represada é de cerca de 3,8 bilhões de metros cúbicos. Não por acaso o cânion de Xingó foi escolhido para cenário de duas novelas da TV Globo, “Velho Chico” e “Cordel Encantado”.

O passeio começa no Karranca’s, o primeiro restaurante flutuante do percurso, localizado no lago dos Diques. Dali partem catamarãs e escunas. Ao longo do caminho, atrações como a pedra do Gavião, o lago São José, o lago do Justino, a gruta do Talhado, além da imagem de São Francisco incrustrada numa rocha. A região é considerada o oásis do sertão, pelas temperaturas amenas, que variam entre 18º e 32º. A melhor época para se visitar o cânion do Xingó é entre setembro e março, quando o São Francisco fica mais cristalino.

A cidade de Piranhas, em Alagoas

Quais os impactos do turismo na região? A chegada de grandes empreendimentos imobiliários de luxo vem assustando ambientalistas. Em Piranhas, na margem superior da barragem do Lago do Xingó, está em construção um condomínio residencial com 433 lotes, marina e píer exclusivos para os condôminos, além de um shopping center com 32 lojas e um hotel com 90 apartamentos. Cada lote custa em média R$ 150 mil. Em Delmiro Gouveia (AL), no terreno da antiga Fábrica da Pedra, que abriga um açude e uma reserva ambiental, foi anunciado outro grande condomínio de alto padrão, prevendo também um centro comercial. Ambos anunciados em 2018, os projetos encontram-se em fases distintas. No primeiro caso, a obra já está praticamente concluída. No segundo, faltam licenças ambientais para dar início à construção.

“Trata-se de grande especulação imobiliária em toda a região. No caso de Delmiro Gouveia, querem destruir a reserva ambiental e não sabemos o que vai acontecer com o açude. Já fomos ao Ministério Público e a obra encontra-se embargada”, comentou o empresário Tony Cloves Pereira, que, em 2018, foi candidato a deputado estadual em Alagoas, pelo PSOL. “O impacto deste empreendimento é imenso. Não há sequer tratamento de esgoto. A sociedade civil está acompanhando de perto para que não consigam construir numa área de reserva. Nossa região é muito quente e a presença de uma reserva urbana em Delmiro Gouveia é muito importante para a população”.

Traduzindo para o meio ambiente, o condomínio de Piranhas também representa um impacto significativo, com o aumento da geração de esgoto e lixo. Segundo a empresa paulista Luan Investimentos, em parceria com o empresário local Manoel Foguete, a obra atende os requisitos do plano diretor, como zona urbana, e fora da zona de amortecimento do Monumento Nacional do São Francisco (Mona). Através do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Mona tem o poder de controle, fiscalização e restrição ambiental. De acordo com o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, o empreendimento está com a licença de instalação vencida, mas tramita no órgão a solicitação de prorrogação.

Os números de turistas na região impressionam. Diariamente cerca 1,5 mil turistas de diversos pontos do país realizam o passeio ao Cânion do Xingó. De acordo com a Associação Brasileira das Agências de Viagem, ABAV, corresponde a 70% da procura por passeios no estado de Sergipe. A cidade de Piranhas, por exemplo, já conta hoje 904 leitos disponíveis aos visitantes. O recomendado pelos órgãos ambientais seriam 275 leitos. Motor econômico, o turismo, obviamente, é bem-vindo, garantindo o sustento dos ribeirinhos. Porém, a falta de controle da atividade acendeu o alerta da necessidade de se proteger esta joia rara da Caatinga brasileira.

“Não há incompatibilidade entre turismo e proteção do meio ambiente, desde que a atividade seja explorada de forma sustentável, observe estritamente a legislação de regência e respeite o modo de vida das populações tradicionais da região, especialmente os pescadores artesanais”, comentou o procurador do Ministério Público Federal em Alagoas, Bruno Lamenha. “Essa é uma medida até de utilidade para os próprios empreendimentos, pois a degradação ambiental impacta o principal atrativo da região, que são suas belezas e riquezas naturais”.

Partindo de Aracaju, a distância é de 213 quilômetros. Saindo de Maceió, cerca de 300 quilômetros. As cidades mais próximas do cânion do Xingó são Canindé de São Francisco (SE) e Piranhas (AL). O passeio de um dia custa em média R$ 250 (ida e volta), incluindo transporte, guia turístico, passeio de catamarã e almoço.

Onde ficar

Em Canindé, há opções de resorts e hotéis, com diárias de cerca de R$ 350, por pessoa. Em Piranhas, o aconchego das pousadas custa em torno de R$ 200 a diária.

O que fazer

Cânion de Xingó

O passeio de catamarã dura três horas e custa R$ 110. A parada de uma hora no Porto de Brogodó oferece aos visitantes um refrescante mergulho em piscinas naturais e a possibilidade de navegar em um barquinho entre paredões ainda mais estreitos pelo adicional de R$ 10.

Centro Histórico de Piranhas

Tombada pelo Iphan, a cidade de Piranhas abriga belo casario colonial. Durante o dia, a visita ao Museu do Sertão e ao Centro de Artesanato é parada obrigatória. Para os mais dispostos, a subida dos 354 degraus do mirante para avistar o Velho Chico do alto é indicada. Já à noite, na ‘Lapinha do Nordeste’, os visitantes podem aproveitar bares e restaurantes com música ao vivo.

Trilha Vale dos Mestres

O sítio arqueológico contém pinturas rupestres e gravuras de mais de três mil anos cobrindo paredões de arenito rochoso. A trilha compreende uma caminhada de dois quilômetros de extensão e um delicioso banho nas águas do Rio Poço, um dos afluentes do São Francisco.

Rota do Cangaço

Partindo de Piranhas, o passeio começa com 40 minutos de catamarã, passando pelo povoado de Entremontes, até atingir o parque ecológico. Ao longo da rota do Cangaço, atrações como o local do massacre do bando de Lampião, em 1938, e a casa onde se hospedou Dom Pedro II. O ecoparque é o ponto de saída para a trilha da Grota do Angico, com cerca de 1 hora de caminhada (ida e volta). Incluindo o catamarã, almoço e trilha, o passeio custa em média R$ 120.

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