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MÚSICA 1


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2 MÚSICA


ÍNDICE ENSINO SUPERIOR

4 ESTÁGIOS 6

QUERO UM TRABALHO!

“VAMOS FAZER ESTÁGIOS... NÃO É SOLUÇÃO!”

PASSATEMPOS

Queres ganhar um destes prémios fantásticos? Vai a www.sobresuperior.pt, visita a secção Passatempos e vê o que temos guardado para ti. Só tens de entrar no artigo, preencher o formulário e enviar a melhor participação. Boa Sorte!

GANHA PASSES PARA O MEO MARÉS VIVAS! O maior festival de música do Norte do país está de volta ao Cabedelo em Vila Nova de Gaia. Tu podes ir com um dos 5 passes que temos para oferecer.

8 MÚSICA

BURAKA SOM SISTEMA

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CINEMA

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DESPORTO

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CRÓNICA

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PARTICIPA ATÉ: 1 DE JULHO

CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA

UM ESTUDANTE NA ROTA DO XADREZ

VOUCHER PARA GASTAR NA C&A! A Sobre Superior em parceria com a C&A têm dois vouchers de 50 euros para oferecer. Participa!

ESTOU NA UNIVERSIDADE. E AGORA?!

PARTICIPA ATÉ: 1 DE JULHO

EDITORIAL O ano lectivo aproxima-se do fim e terminar a licenciatura é, com certeza, o l objetivo fundamental neste momento. O que vais fazer no fim do curso? Tentar encontrar emprego ou continuar a estudar? Se a tua escolha é procurar emprego, vais precisar de te destacar da tua concorrência. Para a segunda opção, tens vários tipos de ofertas educativas: um mestrado ou uma pós-graduação, e depois um doutoramento. Mas deves saber qual deles se ajusta aos teus objetivos. Nesta edição, temos uma entrevista a uma banda muito conhecida dos universitários: Buraka Som Sistema e podes encontrar mais sobre estágios profissionais. Boas leituras!

QUERES IR AO MEO SUDOESTE? Temos 5 passes para oferecer aos participantes deste passatempo. Se gostas de festivais de verão, habilita-te a ganhar! PARTICIPA ATÉ: 3 DE JULHO

FICHA TÉCNICA Gerência da MEDIPRESS Francisco Pinto Balsemão, Francisco Maria Balsemão, Pedro Norton, Paulo de Saldanha, José Freire, Luís Marques, Francisco Pedro Balsemão, Martim Avillez Figueiredo, Raul Carvalho das Neves Composição do Capital da Entidade Proprietária Editores: Cesaltina Pinto (Porto), Filipe Fialho (Mundo), Gonçalo Rosa da Silva (Fotografia), 
João Carlos Mendes (Design), Manuel Barros Moura (visao.pt), Patrícia Fonseca (Sociedade), Paulo Santos (Economia), Pedro Dias de Almeida (Cultura) e Sara Belo Luís (VISÃO Sete) Redatores Principais e Grandes Repórteres: Ana Margarida de Carvalho, Cláudia Lobo, Emília Caetano (Editora adjunta Portugal), Francisco Galope, João Dias Miguel, José Plácido Júnior, Miguel Carvalho, Paulo Chitas e Rosa Ruela Redação: Alexandra Correia, Clara Cardoso, Clara Teixeira, Florbela Alves (Coordenadora Visão Sete/Porto), Gabriela Lourenço (Coordenadora Visão Sete), Inês Belo, Inês Rapazote, Isabel Nery, Joana Loureiro, Luísa Oliveira, Luís Cáceres Monteiro, Luís Ribeiro (Coordenador Radar), Mário David Campos, Rita Montez, Sandra Pinto, Sara Rodrigues, Sara Sá, Sílvia Caneco, Sílvia Souto Cunha, Sónia Calheiros, Sónia Sapage, Susana Lopes Faustino, 
Susana Oliveira e Teresa Campos Grafismo: Paulo Reis (Editor adjunto), Teresa Sengo (Coordenadora), Ana Rita Rosa, 
Nuno Ricardo Silva e Francisco Rodrigues (Webdesigner) 
Infografia: Álvaro Rosendo e Manuela Tomé Fotografia: Fernando Negreira (Coordenador), José Carlos Carvalho, Luís Barra, 
Lucília Monteiro e Acácio Madaleno. José Caria e Marcos Borga (Colaboradores) Copydesk: Rui Carvalho Secretariado: Sofia Vicente (Direção), Teresa Rodrigues (Coordenadora), Ana Paula Figueiredo e Luís Pinto Colunistas: António Lobo Antunes, Capicua, Diogo Freitas do Amaral, Eduardo Lourenço, Germano Silva, Isabel Vaz, João Vasconcelos, Júlio Resende, Mário Soares, Paul Krugman, Pedro Norton, Ricardo Araújo Pereira, Thomas Piketty, Tiago Bettencourt Colaboradores Texto: Clara Soares, Manuel Gonçalves da Silva, Manuel Halpern, 
Miguel Judas e Vânia Maia
Ilustração: João Fazenda (Boca do Inferno), Susa Monteiro (António Lobo Antunes) Centro de Documentação: Gesco Redação, Administração e Serviços Comerciais: Rua Calvet de Magalhães, 
n.º 242, 2770-022 Paço de Arcos – Tel.: 214 698 000 Fax: 214 698 500 Delegação Norte: 
Rua Conselheiro Costa Braga n.º 502 – 4450-102 MATOSINHOS Telefone – 220 437 001, PUBLICIDADE: Tel.: 214 69 8782 – Fax: 214 698 543 (Lisboa). Tel.: 220 437 030
– Fax: 228 347 558 (Porto). Pedro Fernandes (Diretor Comercial) pedrofernandes@impresa.pt; Miguel Simões (Diretor Comercial Adjunto) msimoes@impresa.pt; 
João Paulo Luz (Diretor Comercial Digital) jpluz@sic.impresa.pt; Maria João Costa 
(Diretora Coordenadora) mjcosta@impresa.pt; Maria João Jorge (Diretora) 
mjjorge@impresa.pt; Miguel Teixeira Diniz (Contatos) mdiniz@impresa.pt; 
José António Lopes (Coordenador de Materiais) josea@impresa.pt

GINÁSIO À BORLA! A cadeia de ginásios FitnessHut juntou-se à Sobre Superior para te oferecer 1 mês de ginásio gratuito, com direito a todos os espaços, aulas de grupo e horário livre-trânsito. PARTICIPA ATÉ: 3 DE JULHO

CONDIÇÕES GERAIS DOS PASSATEMPOS DA SOBRE SUPERIOR

1. Sobre Superior e Ar Telecom organizam um passatempo interactivo. | 2. Os passatempos podem ser efectuados por todas as pessoas presentes em Portugal, através das redes móveis e fixas, que possuam idade superior a 18 anos, ou que sendo menores, estejam devidamente autorizados pelos pais. | 3. O início dos passatempos será devidamente indicado em todos os meios de comunicação por nós usados, sendo referido o tempo de duração do mesmo. Contudo, durante, o espaço em que ocorre o passatempo, se todos os prémios forem atribuídos antes da data limite, o passatempo será concluído, porém o valor da chamada efectuada não será cobrado. | 4. Existem passatempos que terão a duração de 24 horas, duração semanal ou mensal, ou ainda um período de tempo que será devidamente exposto e visível para todas as pessoas. | 5. A participação nos passatempos será realizada através de ligações para os números 760309670, 760309671, 760309672, 760309673, 760309674, 760309675, 760309676, 760309677, 760309678, 760309679, 760309680, 760309681, 760309682, 760309683, 760309684, 760309685, 760309686, 760309687, 760309688. 760309689 ou outro a designar, através de um terminal telefónico conectado à rede fixa ou móvel de telecomunicações. Cada chamada efectuada para os referidos números de telefone, ou outros a designar, custa 0.60 euros (sessenta cêntimos), acrescidos de I.V.A, à taxa legal em vigor, independentemente da hora da chamada ou da duração da mesma. | 6. As chamadas apenas não serão cobradas, quando não estiver a decorrer nenhum passatempo ou caso todos os prémios já tenham sido atribuídos (situação devidamente reportada).


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QUEROUM

TRABALHO !

Será pedir muito exercer uma das várias competências que adquiri, após pagar seis anos no ensino superior dito “público”? Será demasiado arrogante querer exercer as minhas capacidades no meu país? É assim tão custoso admitir alguém que está sedento de aprender com o que acontece na linha de produção da vida real? Ao que parece, sim, pois se não é para trabalhares de graça, em prol da aquisição da tal “experiência”, não há oportunidades. Ou então é-te exigido um nível de milionário com anos de experiência, só que acompanhado por um vencimento pior do que bolso roto. Quero exercer uma prof issão dentro das competências que andei a adquirir durante seis anos na universidade. Sim, eu sei, como eu há muitos e a f ila é grande. Pois é, mas não me assumo como “mais um” (mesmo correndo o risco de o ser).

Eu só quero poder trabalhar, com prazer, com gosto pelas minhas tarefas! Correndo o risco de parecer idealista, eu apenas me recuso ao hábito de uma prof issão que não me enriquece, que não me estimula e que me faz rogar pela hora de saída cinco minutos após a hora de entrada. Será pedir muito exercer uma das várias compe- É frustrante a possibilidade de poder ser mais um tências que adquiri, após pagar seis anos no en- na estatística dos cidadãos que vivem insatisfeisino superior dito “público”? Será demasiado ar- tos com o seu posto de trabalho. rogante querer exercer as minhas capacidades no meu país? Não que o desaf io da emigração Por isso, não admito a desistência sem sequer me assuste, bem pelo contrário, apenas quero existir a tentativa, por mais descabida que ela arrancar com a minha carreira no país onde possa parecer. Porque todos os grandes génios, me formei, no país onde descontei todos os tos- os nossos ancestrais descobridores, os maiores tões ganhos para me sustentar fora da casa dos artistas, todos eles passaram por loucos no inímeus pais. cio. Pois se assim é, eu que passe por maluca ao reivindicar um trabalho que seja a melhor ocupação que podia ter para o meu tempo.

Será demasiado exigir que este país se endireite e que acabem as concordatas coloridas com as canetas das cores partidárias? Não estará na hora de abrir os olhos e deixar de ignorar as trocas de favores entre o Sr. Dito Cujo e o Dr. Vai a Todas, quando toda a gente sabe que ambos têm como principal competência a incompetência de não fazer serviço útil nenhum?

ARTIGO LURDES ROCHA | FOTOS ALEXANDRE SALSINHA

4 ENSINO SUPERIOR


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REPORTAGEM ALGUEM | FOTOS ALGUEM

ESTÁGIOS 5


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“atéVamos fazer estágios sermos velhinhos?

Não é solução!

Seis em cada dez trabalhos criados em Portugal são estágios. Neste mês, arrancam as candidaturas ao Reativar, programa de estágios para maiores de 30. Precários Inf lexíveis Juntam-se sábado, dia 11, para organizar “resposta a este abuso”

“Meses de trabalho gratuito”

O estágio prof issional de 12 meses está prestes a terminar e Joana já sabe que não vai continuar na empresa. Os zunzuns de uma possível proposta apontam para um salário igual ao inferior ao que recebe actualmente (cerca de 690 euros brutos por mês) e não está disposta a aceitar mais essa exploração. No currículo já tem um estágio curricular não remunerado de nove meses, obrigatório para terminar o mestrado em Psicologia, e quatro meses e meio de trabalho gratuito na empresa onde está agora a terminar o estágio prof issional — período em que esteve à espera da aprovação do estágio por parte do Instituto de Emprego e Formação Prof issional (IEFP). Para ser aceite na Ordem dos Psicólogos, terá ainda de fazer mais um estágio prof issional de um ano. A vida de estágio em estágio de Joana (nome f ictício) é semelhante à de milhares de portugueses que vêem nesta modalidade a única opção de entrada no mercado de trabalho. Segundo dados do Banco de Portugal divulgados no f inal de 2014, seis em cada dez postos de trabalho criados no país correspondem a estágios. Neste sábado, dia 11, os Precários Inf lexíveis juntam-se para delinear um “caderno reivindicativo” e organizar uma campanha de luta contra esta realidade.

REPORTAGEM MARIANA CORREIA PINTO | FOTOS ALEXANDRE SALSINHA

6 ESTÁGIOS

Maria Manuel também vai lá estar. Acha urgente que se fale sobre o assunto e se mudem mentalidades: “As empresas tentam normalizar o assunto e apresentar o estágio como uma grande oportunidade e um privilégio que dão às pessoas. Mas estamos a falar de uma forma de exploração e precarização utilizada para suprimir postos de trabalho.” A designer de comunicação sentiu-o na pele. Em 2010, embarcou num “workshop” de Verão de três meses promovido pelo grupo Menina Design. Eram 30 pessoas e seis seriam seleccionadas para um estágio prof issional no f im. Maria passou à fase dois. Mas a aprovação do estágio pelo IEFP tardava e decidiu que não queria trabalhar de graça. Comunicou-o à empresa e foi aguardar o início do estágio para casa. Meses depois, quando as verbas do Estado foram desbloqueadas, a empresa informou-a que já não estava interessada nela: “Disseramme que a minha paixão pela empresa não era suf iciente, já que todos tinham continuado a trabalhar menos eu.”


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É do Design, Arquitectura, Psicologia e algumas áreas humanísticas que continua a chegar o maior número de queixas. Mas o “abuso inaceitável” da f igura do estagiário é “cada vez maior e abrange cada vez mais áreas”, alerta Adriano Campos, dos Precários Inf lexíveis. “Temos encontrado ofertas de estágio para operadores de “telemarketing” ou vendedores em lojas de roupa. É um absurdo.” Os estagiários, recordam os Precários Inf lexíveis, têm exigências de um posto de trabalho normal, cumprem um horário, não têm férias, se f izerem estágios de nove meses não têm direito a subsídio de desemprego no f im. E sofrem ainda uma “desconsideração”, sendo sempre colocados num segundo escalão, assumindo frequentemente tarefas que não são a sua função. “O estágio é claramente uma forma de nivelar por baixo a entrada no mercado de trabalho”, lamenta Adriano Campos.

“É preciso contrariar esta ideia” A empresa de Design por onde Maria Manuel passou esteve recentemente na ribalta por ter sido a presença portuguesa no f ilme “Cinquenta sombras de Grey”. Mas é também uma f igura assídua em plataformas de denúncia de precariedade laboral como os Precários Inf lexíveis ou o Ganhem Vergonha, que lançou uma campanha de crowdfunding para editar um livro com denúncias como essa. “Fazendo-se valer da visibilidade internacional”, o Menina Design Group tem “muita gente a trabalhar de graça”, acusa Maria Manuel. “As pessoas f icam iludidas à espera que alguma magia aconteça.” O “workshop” gratuito em que a designer de 30 anos participou em 2010 não foi um evento único. Oportunidade de aprendizagem? “Não”, responde categoricamente. Durante o “workshop”, contou ao P3, os jovens designers já produzem peças comercializadas e mesmo quem não é seleccionado para o estágio prof issional é convidado a “continuar a aparecer” na empresa. “Têm ali um conjunto de malta a trabalhar de graça, tanto em produção de mobiliário para as marcas próprias como na produção de serviços vendidos a outras marcas.” O P3 contactou a Menina Design, mas até à hora de publicação deste artigo não obteve qualquer resposta.balhar menos eu.”

“É preciso contrariar esta ideia de que as empresas fazem um favor aos trabalhadores por lhes darem um estágio. A sociedade precisa destas pessoas e ser integrado é um direito”, sublinha Adriano Campos. As perspectivas de uma reviravolta desta “lógica instalada” não são, no entanto, animadoras. O Governo publicou no dia 20 de Março em Diário da República o Reativar, programa de estágios de seis meses destinados a maiores de 30 anos inscritos em centros de emprego há mais de um ano. “É uma ex tensão da austeridade. Este Governo especializou-se em ocupar os desempregados com estágios e cursos e desde que assumiu funções fez com que se perdessem milhares de postos de trabalho.”

“Não é solução”

A empresa onde Maria Manuel está há dois anos com um contrato a tempo indeterminado mudou o foco e vai deixar de precisar de uma designer. Em breve estará desempregada. Tal como Joana. O futuro? Provavelmente passa por emigrar, lamenta Maria Manuel: “Emocionalmente custame. Mas em Portugal ou se é empreendedor ou se salta de estágio em estágio. Vamos fazer estágios até sermos velhinhos? Não é solução.”

ESTÁGIOS 7


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BURAKA SOM SISTEMA

Foi nos primeiros meses de 2006 que começaram a ensaiar os primeiros passos ao vivo. Muitas voltas ao mundo depois, fomos encontrá-los em Londres numa das datas da que poderá vir a ser a sua última digressão. Nunca existiu outro grupo português da música popular com tanta visibilidade internacional. Foi nos primeiros meses de 2006 que os Buraka Som Sistema começaram a ensaiar os seus primeiros passos ao vivo, no pequeno clube Mercado em Lisboa. Muitas voltas ao mundo depois, num movimento contínuo que os transformou na banda com mais impacto internacional de sempre da pop portuguesa, fomos encontrá-los em Londres no último sábado, numa das datas daquela que poderá vir a ser a sua última digressão, antes da paragem por tempo indeterminado, anunciada o ano passado. REPORTAGEM VITOR BELANCIANO | FOTOS CARLOS FRADE

8 MÚSICA

“Fico triste por acabarem, até porque já os vi aqui em Londres três vezes e foi sempre excepcional, sendo ao mesmo tempo motivo de orgulho e uma forma de mostrar que existe em Portugal mais do que fado”, diz-nos Hernâni Matos, 33 anos, a viver na capital inglesa há oito, a poucos minutos do grupo entrar em palco. “Compreendo que desejem parar, foram muitos anos em trânsito e cada um deve ter outras ideias em mente”, lança Raquel Braça, que acompanha Hernâni.

A série de concertos em que celebram dez anos, que teve início a 5 de Fevereiro em Bogotá, na Colômbia, e que terminará a 1 de Julho na Torre de Belém de Lisboa, poderá ser a última em que os veremos em palco.


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“Se acredito que vão acabar? Nem pensar!”, ri-se Andy Duggan, o agente internacional do grupo. “Dois anos depois vão regressar, é inevitável, olhe à volta, têm uma sólida base de admiradores”, af irma, f ixando as cerca de 2 mil pessoas que enchem a sala. “15% talvez sejam portugueses que habitam aqui, mas 85% são ingleses, ou franceses, ou espanhóis, ou italianos que os querem ver e isso é incrível! Se pensarmos que, ontem, tocaram em Paris, e antes, em Amesterdão ou Berlim, também com lotações esgotadas, dá que pensar. Porquê terminar?” Eles falam de parar para respirar, depois de dez anos intensos. Só vale a pena voltarem a gravar se existirem novas ideias com validade. Argumentam que um ciclo se fecha e outro se abre, com novas formas de comunicar, para lá dos Buraka. Mas isso será mais tarde. Para já, a seguir à Europa, em Abril, seguir-se-ão três datas nos EUA (Los Angeles, São Francisco e Nova Iorque) e provavelmente outros concertos serão adicionados, antes do adeus, em Lisboa, numa digressão iniciada com três datas na Colômbia, depois de ali já terem actuado, em 2010, num festival para 100 mil pessoas. “Em toda a América do Sul acabamos por sentir que existe uma forma de consumir a nossa música muito eufórica”, diz-nos João Barbosa (Branko), durante a tarde, numa das pausas do ensaio de som. “Na Cidade do México também sentimos isso. Parece existir um entendimento da música mais directo, quase como se fôssemos uma banda de lá.” “Acabamos por tocar nas mesmas referências que eles, porque ao contrário do que talvez se possa imaginar, são muitos atentos, estreitando laços com o resto do mundo, através do YouTube ou Facebook”, completa Kalaf Epalanga.

“Estão longe apenas em termos geográf icos. Uma noite saí em Medellín e pude constatar que lá se ouve o mesmo som que em qualquer clube europeu.”

A série de concertos em que celebram dez anos, que teve início a 5 de Fevereiro em Bogotá, na Colômbia, e que terminará a 1 de Julho na Torre de Belém de Lisboa, poderá Londres, um papel central ser a última em que os vereConvém, desde já, desfazer mos em palco. equívocos. O campeonato dos Buraka não é o dos Coldplay, “Tentámos fazer um alinhamenU2 ou Beyoncé. O seu feito não to que passasse por todos os se pode medir a partir daí. Mas álbuns”, revela João. “Sempre pode aquilatar-se a partir de que lançávamos um álbum uma outra medida simples. Nun- novo tentávamos que os conca existiu nenhum outro grupo certos fossem mais focados português da música popular nele durante o ano e meio secom tanta visibilidade interna- guinte, mas neste caso acabacional como eles, tocando em mos por ir a todos os discos.” salas de prestígio (do Fabric de Para além disso, existe outra Londres à Bowery Ballroom de diferença, em relação a digresNova Iorque) ou em grande festi- sões anteriores: “Retirámos por vais (Coachella nos EUA, Roskilde completo o vídeo porque já na Dinamarca ou Montreux na existia imensa informação em Suíça), sendo alvo da atenção palco, com cinco pessoas a dos media especializados (da tocar, a cantar e a saltar”, saPitchfork à The Fader) ou da mais lienta Kalaf. “Era como se o víinf luente generalista (New York Ti- deo lutasse connosco por promes, L.A Times, Le Monde, The tagonismo. Não fazia sentido.” Guardian, El País ou CNN).

MÚSICA 9



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REPORTAGEM ALGUEM | FOTOS ALGUEM

MÚSICA 11


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de Ser “As Vantagens Invisível ” a adolescência é um drama? O f ilme tem duas partes distintas. A primeira é particularmente emocional, ao passo que a segunda é mais negra e frustrante.

Charlie, o personagem principal de “As Vantagens de Ser Invisível”, intrepretado por Logan Lerman, é um leitor cumpulsivo dos clássicos da literatura sugeridos pelo seu professor de inglês (a lista completa está na página da Wikipédia dedicada ao f ilme).

. O problema é que esta associação é um cliché, pois todos sabemos que a música é um instrumento essencial na expressão dos adolescentes, embora se trate de um cliché inevitável na representação de um grupo de jovens que tenta sobreviver ao liceu. Assim, os livros e as músicas de Charlie (Logan Stephen Chbosky, realizador e autor do romance Lerman) acabam por pautar, ao longo do f ilme, com o mesmo nome, que adaptou ao cinema, o ritmo do seu próprio crescimento e da sua soencontrou na literatura e na música o f io condutor brevivência num ambiente que lhe parece ser deste seu segundo f ilme. hostil.

REPORTAGEM LEONOR CAPELA | FOTOS RICHARD CHBOSKY

12 CINEMA


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E, depois, vêm os amigos. Aquele grupo de novas pessoas que, simplesmente o compreende, acolhe e o deixa ser quem ele quer ser. Começamos a ver Charlie abrir a porta e mostrar quem é verdadeiramente, com o prazer de ser acolhido por pessoas que o compreendem. Emma Watson diz-lhe: “Welcome to the Island of misf it toys”. Este começa por ser um f ilme sobre o liceu, sobre adolescentes e sobre grupos e aceitação social e progride de uma forma assustadoramente discreta para um drama triste em que todas as razões para serem “misf its” (“nerds”, “freaks”, “tonos”, desajustados, excluídos) são negras, tristes e perturbadoras.

Ainda na primeira parte, o realizador — Chbosky é um dos produtores de “Juno”, um f ilme cujo estilo se assemelha ao de “As Vantagens de Ser Invisível” — escolheu uma cena numa sala de aula em que o professor de inglês se apercebe da inteligência e capacidade de Charlie sem que os seus colegas se apercebam que ele é assim. Os adolescentes têm esta característica intrínseca e que é, no fundo, uma essencial ferramenta para sobreviverem: não sabem nada e fazem tudo quase por instinto. E é por isto que, quando, por vezes, surge um miúdo que, efectivamente, vê as coisas e vê as pessoas e se apercebe do que se passa à sua volta, este dom é repagado com insultos ou gozo. O amigo de Charlie e Sam, Patrick diz-lhe: “Vês as coisas “É preciso e compreendes, contrariar és uma esta ‘wallf lower’”. ideia” Nesta fase, quase tudo indica que estamos apenas a espreitar a vida de um grupo de adolescentes, a penetrar nas suas mentes, a compreender a necessidade que têm de ir às festas certas, com as pessoas certas, a ver como a percepção de quem é “f ixe” é f lutuante e, simultaneamente, tão rígida e severa. Mesmo as drogas, as dinâmicas familiares ex tra-amigos, o “bully ing” na escola, tudo está harmoniosamente combinado num “insight” original sobre a vida de um grupo de jovens diferentes e os seus dilemas.

Duas partes distintas O f ilme tem duas partes distintas. A primeira é particularmente emocional — Charlie é alguém com gostos e visões diferentes, Sam (Emma Watson) é só a rapariga gira e misteriosa por quem ele se apaixona, e Patrick (ou “Nothing”) apenas o melhor amigo “gay” que entra com a parte da comédia negra —, ao passo que, infelizmente, a segunda é mais negra e frustrante. Isto porque as consequências pós-traumáticas dos personagens vão-se sobrepondo no f inal e essa é a parte mais frágil do f ilme.

“Não é solução”

E, depois, chega a segunda parte que, não estragando nem destruindo, torna o f ilme negro, triste e frustrante, num lento desmoronar da identidade sensível e talentosa de Charlie, que se transforma num miúdo perturbado e traumatizado, sugerindo os traumas da infância (não só do Charlie) como a causa dos males do mundo. Charlie volta ao hospital psiquiátrico no f inal do f ilme para recuperar, precisamente, dos danos que os traumas de infância ainda inf ligem e é aí que nos apercebemos, com a montagem de muitos pormenores ao longo do f ilme, da enorme cortina negra que está na base desta história. Charlie termina com uma frase das primeiras cenas: “We are inf inite” - a sensação gelante e explosiva que nos atravessa ao longo do liceu.

CINEMA 13


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Jorge Ferreira,

um estudante de Filosofia na rota do

xadrez

O xadrezista portuense, de 21 anos, alcançou a liderança do ranking nacional e está bem lançado para obter o exigente título de Grande Mestre Jorge Viterbo Ferreira é a nova grande esperança do xadrez nacional para alcançar o título de Grande Mestre, o galardão mais elevado outorgado pela Federação Internacional (FIDE), que apenas três portugueses até agora obtiveram. António Antunes, o português que alcançou a melhor posição de sempre no ranking internacional, tendo ultrapassado os 2550 pontos, mas já retirado há mais de uma década; Luís Galego, também já quarentão e que não joga em Portugal por se ter incompatibilizado com a actual direcção da federação; e o já veterano António Fernandes, recordista de títulos nacionais absolutos conquistados, são os três mosqueteiros da modalidade. Agora, um D’Artagnan poderá juntar-se ao grupo. Aos 21 anos, Jorge Ferreira é o representante da nova geração de xadrezistas mais bem colocado para poder vir a alcançar o título, tendo conquistado a primeira das três normas necessárias no campeonato nacional por equipas, de Agosto passado, no qual foi o melhor primeiro tabuleiro, representando o Grupo Desportivo Dias Ferreira. Mas Jorge Ferreira está, sem dúvida, no bom caminho, como o demonstram a sua recente liderança do ranking nacional, no qual ultrapassou Luís Galego, e o facto de se manter invicto nas últimas 66 partidas que disputou, defrontando vários cotados Grandes Mestres.

Uma norma implica a realização de uma prestação com uma performance superior a 2600 pontos, defrontando ao longo da prova pelo menos um terço de adversários que possuam o título de Grande Mestre. Também em duas das três normas necessárias os adversários deverão ser de três nacionalidades diferentes. Um conjunto de A nível da sua formação académica, a desco- exigências que tornam a obtenção do título exberta da vocação não foi fácil, tendo inicialmente tremamente difícil, principalmente num país onde frequentado o primeiro ano do curso de Física os apoios à modalidade são tão escassos. da Universidade do Porto. No entanto, apesar de ter concluído o primeiro ano com média de 16 valores, sentiu que não era a área que verdadeiramente desejava, o que o levou a mudar para Filosof ia, especialização na qual tem vindo a desenvolver um percurso notável. É o melhor aluno da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com média de 18 valores, o que lhe valeu a atribuição do prémio “incentivo”, uma espécie de bolsa de mérito.

REPORTAGEM JORGE GUIMARÃES | FOTOS MIGUEL BORRALHO

14 DESPORTO


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No futuro próximo, pretende candidatar-se ao mestrado numa prestigiada Universidade da União Europeia ou dos Estados Unidos, mas para já o seu grande empenho centra-se na concretização das duas normas em falta para o título - e em ultrapassar a barreira dos 2500 pontos no ranking, encontrando-se a uns escassos 22 pontos desse objectivo.

Que tipo de esforço está por trás deste desempenho? “No dia-a-dia dedico cerca de duas horas diárias ao estudo do xadrez nas suas várias vertentes, aberturas, meio-jogo e f inais, mas em férias escolares a dedicação é maior. Tudo o que ganho no xadrez é também investido, quer em material didáctico, livros e material informático, quer na contratação de treinadores cujo contacto é feito via Skype, o que retira uma signif icativa fatia da rentabilidade pela ausência da empatia que o A possibilidade de um ano sabático inteira- treino presencial promove entre os intervenientes”, mente dedicado ao xadrez não está fora de hi- detalha. pótese, mas, apesar da minha paixão, o prof issionalismo não me parece uma opção realista, A melhor classif icação no campeonato nacional a menos que surjam apoios que garantam a absoluto aconteceu no ano passado, quando foi estabilidade f inanceira e me permitam participar segundo atrás de António Fernandes, e na edição nos torneios sem estar pressionado pela neces- deste ano, contra todas as expectativas, a classisidade da obtenção de um prémio pecuniário f icação repetiu-se. No entanto, Jorge Ferreira não aceitável f icou desiludido e deixou rasgados elogios a Fernandes, que, ultrapassados os 50 anos, mantém uma energia e competitividade invejáveis: “Era ele que parecia ter 20 anos enquanto nós, os jovens, à beira dele parecíamos pouco ambiciosos, não colocando sobre o tabuleiro metade da energia e vontade de vencer que o Fernandes manifesta”,

A sua descoberta do xadrez aconteceu ao 11 anos, algo tardiamente se comparamos com o que acontece com os jovens xadrezistas europeus, e a aprendizagem do jogo foi por autodidactismo, através da Internet e de um programa que o pai lhe oferecera. Motivado por uma prova simultânea realizada na sua escola, decide federar-se e antes de ter decorrido um ano de iniciação na modalidade e sagra-se vice-campeão distrital, ainda com 11 anos. No ano seguinte, é campeão jovem, para um ano depois, com 14 anos, se converter no mais jovem campeão distrital absoluto do Porto. Aos 15 anos, alcança o primeiro título, o de mestre FIDE, que a federação internacional automaticamente outorga quando um jogador ultrapassa os 2300 pontos de ranking. E não demoraria muito para o título de Mestre Internacional, com a terceira norma a ser alcançada em Julho de 2013. Entretanto, sagra-se campeão nacional de sub-18 em 2011, e obtém uma excelente classif icação no Europeu da categoria, igualado na 11.ª posição com mais sete jogadores, num elenco com mais de uma centena de participantes e terminando invicto.

Dotado de uma excelente memória, Jorge Ferreira recorda quase todas as partidas que já disputou com facilidade, uma ferramenta que partilha com alguns dos melhores jogadores mundiais, como por exemplo Magnus Carlsen, e que é de grande utilidade para uma rápida aprendizagem. Esta “ferramenta”, associada a uma excelente capacidade de cálculo, permite-lhe resolver favoravelmente situações de elevado grau de complexidade. O antigo candidato ao título mundial, o Grande Mestre canadiano Kevin Spragget t, há longos anos radicado em Portugal, concretamente na Guarda, já foi seu treinador e Jorge não põe de lado a possibilidade de voltar a trabalhar com ele, mas as restrições f inanceiras são um entrave considerável para treinos frequentes e presenciais. Assim, sem um apoio de entidades que lhe permita ultrapassar estas dif iculdades, a sua evolução será sempre mais difícil, mas o seu talento é garantia de que não tardará muito para que um novo Grande Mestre enriqueça o historial do xadrez português.

DESPORTO 15


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Estou na universidade.

E AGORA?!

Salvo raras excepções, em Portugal não se prepara um estudante para o que este encontrará no ensino superior É a questão do momento. Ingressar no ensino superior é um desaf io calculado. O caminho que é traçado ao longo dos anos obedece a um método sobejamente conhecido e enraizado. Talvez por isso se encontre a necessidade de questionar um processo forçosamente arcaico e em franco desuso. Em tudo, ordem e método são palavras-chave para fazer bem. Aqui surge uma questão em jeito de preâmbulo: é este o processo mais correcto? Não. A política de ensino não obedece a uma ordem lógica, o que impossibilita a existência de um método profícuo. Salvo raras excepções, em Portugal não se

prepara um estudante para o que este encontrará no ensino superior.

Esta é uma questão que se torna premente, já que o próprio superior não está capacitado para resolver o problema. O Processo de Bolonha não oferece uma margem mínima de segurança. Urge principiar um novo processo e iniciá-lo onde é devido: nos primeiros anos de formação do estudante. É inútil perpetuar a implementação de um crivo apertado, eliminando do processo a criatividade e a vontade tão próprias de quem estuda. Se queremos alunos que ingressem no superior devidamente preparados, é tempo de lhes oferecer, nos restantes patamares de ensino, um pouco do que encontrarão quando chegarem ao topo. REPORTAGEM IVO ROCHA DA SILVA | FOTOS CATARINA VALENTE

16 CRÓNICA

“ Não

é fácil. Se alguém disse que seria, mentiu. ” Um estudante autodidacta, capaz de procurar e aprender com o respectivo suporte em contex to de sala de aula. Um estudante capaz de traçar desde cedo o seu percurso académico. Está na universidade. Agora é tempo de compreender o método com brevidade e atingir um ponto de maturação suf iciente à adaptação. Não é fácil. Se alguém disse que seria, mentiu. É tempo de perceber se é mesmo este o caminho a seguir. Se é nesta área que se imagina a trabalhar, no futuro, ou se os temas abordados serão signif icativos para o conhecimento que procura. Para os que ingressaram agora no ensino superior, é tempo, acima de tudo, de def inir objectivos e procurar cumpri-los. Para os que pensem o ensino em Portugal, é hora de colocar em cima da mesa um novo processo de ordem e método, capaz de transmitir ao estudante a importância de assumir o leme do seu destino académico desde cedo e estimular um procedimento contínuo de “learning by doing”. Pensar o secundário como uma verdadeira preparação para o ensino superior é o principal desaf io. Iluminem-se as mentes que pensam o ensino no nosso país. Em Portugal, a educação precisa de um ordem lógica e de um método


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