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ALCEU COLLARES O VOTO E O Pテグ
Celina Carvalho
ALCEU COLLARES O VOTO E O Pテグ 1ツェ Ediテァテ」o
Porto Alegre Celina Canabarro Carvalho 2015
Dedico minha história, assim como dediquei minha vida pública, ao Trabalhismo de Alberto Pasqualini, Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, representado pelo Partido Democrático Trabalhista.
REVISÃO DE CONTEÚDO Agnese Schifino REVISÃO ORTOGRÁFICA Fernanda Lisbôa CAPA Grupo Competence PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO DO MIOLO Shaiani Duarte IMAGENS S E DOCUMENTOS Arquivo Pessoal Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, Porto Alegre/RS Museu Dom Diogo de Souza , Bagé/RS Jornal do Brasil TRATAMENTO DE IMAGEM DA CAPA Workflow TRATAMENTO DE IMAGENS DO MIOLO Shaiani Duarte IMPRESSÃO E ACABAMENTO Comunicação Impressa GESTÃO CULTURAL Liliane Perin COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO Celina Carvalho
ISBN: 978-85-920090-0-7
ÍNDICE APRESENTAÇÃO. . ................................................................................................. 9 VENDEDOR DE LARANJAS. . .................................................................................13 ESTAVA ESCRITO............................................................................................... 25 AGORA ME VOU PRAS PONTAS........................................................................... 33 ATENDENDO AO CHAMADO DO LÍDER..................................................................41 CHALEIRADAS DE ÁGUA QUENTE . . ...................................................................... 49 UM TERREMOTO NA DITADURA.......................................................................... 59 A HORA MAIS AMARGA...................................................................................... 75 VI UM HOMEM CHORAR..................................................................................... 87 ROMANCE FORTE. . ............................................................................................. 93 NA MENTE E NO CORAÇÃO............................................................................... 103 NÃO É UM CANTEIRO DE ROSAS. . ......................................................................123 É FÁCIL ENXERGAR O CAMINHO....................................................................... 139 CONTRA OS MOINHOS DE VENTO...................................................................... 161 NO CAMPO DA ESPERANÇA.............................................................................. 169 ANEXOS.............................................................................................. 179 BIOGRAFIA PROJETOS COMO VEREADOR • PROJETOS COMO DEPUTADO FEDERAL OBRAS NA PREFEITURA DE PORTO ALEGRE • OBRAS NO GOVERNO DO RIO GRANDE DO SUL
AGRADECIMENTOS . . .............................................................................. 191
COMO UM NEGRO CHEGA AO PIRATINI Carlos Henrique Bastos
Eu vou contar uma história de abobar. Com essa frase o grande escritor Jorge Amado começa sua obra Terras do sem fim. E estamos apresentando este livro que conta a vida de Alceu de Deus Collares, desde seu nascimento na localidade de Povo Novo, na zona rural de Bagé, numa situação de miséria absoluta, até se tornar o primeiro negro a chegar ao governo do Rio Grande do Sul, e é também um assombro. Collares era um admirador entusiasta da liderança de Leonel Brizola. Mas eu testemunhei um diálogo ríspido entre os dois líderes trabalhistas, e que mostra a personalidade forte de ambos: Collares ligou para Brizola e disse que no dia seguinte almoçaria com Roberto Marinho, no Rio de Janeiro. E veio a resposta de Brizola: – O companheiro está me consultando ou comunicando? Collares rebateu: – O senhor é governador do Rio de Janeiro, e eu sou governador do Rio Grande do Sul. Eu estou lhe comunicando. Brizola só disse “Está comunicado” e bateu o telefone.
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Collares vive a meninice ajudando em casa vendendo laranjas. Personalidade forte, aos treze anos se insurge contra sua condição de vendedor de laranjas e exige do pai que lhe arranje um emprego. Alcança seu objetivo e ingressa nos Correios e Telégrafos, em Bagé. Faz carreira funcional e acaba se transferindo para Porto Alegre. Seu grande mérito é a obsessão pela leitura, e já homem maduro completa o curso de Direito. Sua carreira política tem início na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Seu nome foi lançado como candidato à vereança pelos seus colegas dos Correios e Telégrafos. Com a coragem e o desassombro que marcam toda sua vida, dois anos depois concorre à Câmara dos Deputados, mas não consegue se eleger. Quatro anos depois conseguiria ser eleito deputado federal pelo MDB. Várias vezes foi o mais votado no Estado. Teve uma passagem marcante na Câmara Federal, onde foi um dos parlamentares mais premiados pelos jornalistas. Talvez por suas origens, sempre teve preocupação com o social. Terminado o período do arbítrio, com o regresso de Leonel Brizola do exílio, ingressa no PDT, e em 1982 vai para o sacrifício concorrendo ao governo do Estado, sem estrutura partidária para lhe dar cobertura. Três anos depois, ganha a eleição para a Prefeitura de Porto Alegre, onde faz uma gestão de grandes realizações. Basta citar os CIEPS, a construção da Avenida Beira-Rio e a reforma da Usina do Gasômetro. Revelou-se um administrador operoso em apenas três anos de mandato. O desempenho na Prefeitura de Porto Alegre foi fundamental para sua vitória na campanha para o Palácio Piratini, em 1990. Eu fui Secretário de Comunicação na gestão de Collares por quase três anos e sou testemunha da excelência de seu governo. Criou os condomínios rurais, construiu CIEPS, instituiu os Coredes. E como costuma dizer sempre: “O governo do negão teve um Pibão de 23,46%”. Mas o que mais me impressionou em minha convivência com Collares foi sua voracidade pela leitura. Fiz várias viagens em sua companhia – para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília –, e ele
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dedicava grande parte do tempo à leitura. A fome que ele passou na infância desenvolveu a fome pelo conhecimento mais tarde. E era portador de uma disciplina férrea. Acordava de madrugada e dedicava uma hora para os livros e outra hora para a leitura dos jornais de Porto Alegre, Rio e São Paulo. Há pouco tempo lendo o livro Brizola, de autoria de Clóvis Brigagão e Trajano Ribeiro, chamou minha atenção um depoimento do vereador Alfredo Sirkis, do PV-RJ. Ele declarou que, num passeio de barco pela costa atlântica de Portugal com Brizola, este lhe antecipou a dissolução da União Soviética e a reunificação da Alemanha, com doze anos de antecedência. Participando por quase três anos do governo Collares assisti a um grande número de seus pronunciamentos. Isso aconteceu há mais de vinte anos. E em diversas oportunidades Collares se referiu a um livro que lera e que previa a invasão da Europa pelos povos da Ásia e da África. E eu não posso deixar de lembrar as suas manifestações quando acompanho o que está ocorrendo agora e toma conta dos noticiários de rádio, jornal e televisão. Eu encerraria dizendo que vale a pena ler este livro, que é resultado da produção de um documentário para televisão e cinema, da Casa de Criação, de Celina Carvalho e de Gilberto Lima, que conta com depoimentos de testemunhas da carreira vitoriosa de Alceu de Deus Collares. Amigos de infância, familiares, colegas dos Correios, companheiros do PDT, líderes políticos, e pessoas que participaram de suas administrações em Porto Alegre e no Estado falam de sua trajetória. Menino rebelde, jovem estudioso e político corajoso e determinado, está nas próximas páginas deste livro. Ele marcou com letras maiúsculas o Trabalhismo e a história recente do Rio Grande do Sul.
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A LIBERDADE É O PÃO DO ESPÍRITO O VOTO É TUA ÚNICA ARMA Alceu de Deus Collares
VENDEDOR DE LARANJAS Eu sou uma espécie de caminhante dos sonhos. Aqui eu tenho uma história para contar. A história de um negro que chegou ao Governo do Rio Grande do Sul. Nunca dantes havia o povo dado a um negro essa oportunidade. Nem na época da ditadura os líderes tiveram essa ideia. Eu fui o primeiro negro, eleito pelo voto popular, que assumiu o Palácio Piratini. Meu nome é Alceu de Deus Collares. Venho dos confins da pobreza, filho de pai negro e de mãe índia, ambos analfabetos. Não porque eles quisessem, mas porque nasceram em uma sociedade insensível que não deu a eles a oportunidade de, em meio à leitura, descobrir novos caminhos. Nasci no dia da Pátria, no 7 de setembro de 1927, num rancho de torrão no Povo Novo, em Bagé. Uma vila onde tive a oportunidade de vivenciar meus primeiros anos de vida. Ali, meu pai, o velho João, encontra um pedacinho de terra e faz esse rancho. A minha mãe, Severina, cuidava da casa. Ficava próximo do Arroio Bagé, mais ou menos a 300 metros da Igreja de São Pedro. O Povo Novo era uma vila na periferia de Bagé, que estava nascendo, ainda era uma cidade pequena. Era uma vila muito pobre. Toda a redondeza era de casas de madeira ou torrão. Tinha casas de alvenaria, mas também modestas. As ruas e a praça perto da igreja eram de terra batida e ali nós jogávamos futebol.
Ranchos de torrão de leiva com cobertura de capim santa fé, moradias típicas da região do Pampa Gaúcho, com grande importância até a década de 1940
Era um ranchinho com duas peças, uma mesa no meio, um banco e uma caixa, um daqueles baús antigos. Ali, é que eu me encolhia e dormia encolhida. A cama dele era uma rede de saco. No inverno, a mãe juntava uns trapinhos velhos, costurava e fazia acolchoadinhos pra nos botar por cima. O fogo era no chão, e um arame dependurado com um gancho, onde se enganchava a panela para ficar perto do fogo. Maria Collares Perez
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Irmã
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A história que foi contada por meus pais é que, logo no início do casamento, ela era cozinheira de estância. Durante a tosquia, a estância recebia trinta, quarenta trabalhadores, ela era responsável pela cozinha, pela comida. Eles moravam nas Palmas, zona rural de Bagé. Ele era changueiro, fazia todas as atividades na fazenda e
morava no rancho. Era pau para toda obra, mas se dedicava mais a produzir o carvão vegetal. Ela era uma mulher moça, índia, forte. E, provavelmente, andava por ali o velho João, de olho. Acertaram-se e combinaram o mesmo caminho pela vida.
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Ele era homem de fé, trabalhador, íntegro. Nunca foi capaz de apontar para nenhum caminho que não fosse o caminho da dignidade, do respeito, do amor, o caminho da fraternidade. Com esses elementos, trabalharam-nos o coração, a emoção e a mente. Ela teve uma vida, com o velho João, muito forte, muito vigorosa, vibrante, muito perseverante, tanto que transmitiu isso para mim e para minhas irmãs, a Maria e a Manoela.
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Severina Trassante Collares
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Era eu, a Manoelinha e ele, mas o privilégio era dele porque era o filho homem. E ele se prevalecia, nos mandava. Era gordão, pesadão. E era eu quem andava com ele. E, se chorasse, a mãe me batia. Era os arrelique (sic) da mamãe. E ele, muito prevalecido, soltava os sapatos na porteira, as meias mais adiante e assim ia
soltando tudo. Dizia: “Negras, vão buscar as minhas coisas. A mãe disse que tudo que eu mandasse vocês têm que fazer”. E eu: “Não sou tua negra e não vou. Vai ficar tudo aí”. E a mamãe: “Vai sim! É o único irmãozinho homem que vocês têm”. Maria Collares Perez Irmã
Ali, nós começamos como vendedores de frutas, vendedores de laranjas. Lembro-me bem de que a Maria, minha irmã mais velha, já alfabetizada, disse ao velho João: “Pai, para gente ganhar um dinheirinho a mais, compra uma abóbora, e eu corto em talhadas para ir vender de casa em casa, porque nossos vizinhos não têm dinheiro para comprar uma abóbora inteira”. Ali, comecei a dar meus primeiros passos com um balaio no braço, junto com a Maria, no Povo Novo, em Bagé. Depois, ele começou a me ajudar, pequeninho mesmo, vinha de pezinho no chão: “Eu vou contigo, mana, eu vou contigo mana”. Ele ia comigo, de mãozinha, muito meu amigo, aonde eu ia, ele ia junto. Aí nós repartia o pão. Eu não comia sozinha, nós repartia. Coisa séria é uma fome! Não sei se vocês passaram, mas é horrível, nem queiram saber. A gente ter fome, de comer, de tomar um cafezinho com um pedacinho de pão... E, quando não tinha nada em casa, não tinha janta, nem um cafezinho escorrido, eu ia com o Alceu na casa da dona Virgília e do seu Izidoro. Eles jantavam. Eram só os dois, e ele era carregador da Viação Férrea. E o Alceu queria andar
ficar teberculosa (sic) carregando esse baita guri nas costas”. E ele se agarrava no meu pescoço. Na casa deles tinha sempre janta, uma carne de costela com aquela parte dura que chamam matambre. Eu tinha que ir escondida da mamãe, senão ela não deixava.
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escarranchado. E a dona Virgília dizia pra mamãe: “Essa guria vai
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sempre no meu colo. Tinha dois anos o guri e andava no meu colo,
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E a dona Virgília dizia assim: “Faz esse guri não chorar. Quando tu passar no arame de espinho tapa a boca dele”. Ela era muito minha amiga, tinha pena de mim. E ele chorava na hora de passar no arame. Eu dizia assim: “Por favor, não chora. Não chora nem que o arame te espinhe, senão nós não vamos comer”. Uma vez ele chorou, e eu apanhei porque ia comer na casa dos outros. Mamãe dizia: “Não tem em casa, não come, mas não vai comer na casa dos outros”. Era pobre e orgulhosa. Maria Collares Perez
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Na volta da venda das minhas frutas, eu atravessava pela ponte seca, onde passava o trem de passageiros. A máquina queimava mal o carvão e, quando eu passava por lá, colocava, num saco que trazia embaixo do balaio, o carvão mal queimado, aquela parte que não tinha sido queimada. E era aquilo que a minha velha, numa lata de querosene que era o nosso fogão, acendia, e assim fazíamos a nossa refeição. Foi uma infância como todas as infâncias do mundo da periferia, da pobreza, da miséria, da falta até de comida. Eu me lembro de uma noite de inverno, quando eu vendia laranjas. A mãe disse: “Meu filho, hoje não vai ter comida, amanhã vai ter”. Ela era uma mulher de fé. E eu: “Mãe eu tô com fome hoje, eu não posso esperar até amanhã”. Lembro-me de que o velho João pegou um banquinho e foi no seu Alberto, o vizinho, para vender e ganhar um trocado, de tal ordem que pudesse ir até a venda comprar pão, comprar alguma coisa para servir como janta para o filho e para as duas filhas que estavam sentindo, sem dúvida alguma, fome também. Depois do casamento, eles foram para Bagé. Ele disse para ela: “Severina, tu tens duas vaquinhas, vamos vender, e vamos pra Bagé para educar os nossos filhos porque aqui eles não têm futuro”. Em Bagé, pelo conhecimento, pela amizade que ele tinha com os outros carreteiros que produziam o carvão, ele se transformou em
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descarregador de carvão. Esperava a carreta chegar lá das Palmas, na praça da cidade, e levava o carvão aos armazéns, mercados, para descarregar nos depósitos. Então, quando as carretas chegavam, ele sabia onde havia necessidade de compra do carvão vegetal. Aí, ponteava o carreteiro para chegar até esses locais. Chegando lá, tiravam os bois, descansavam os bois, viravam a carreta com os braços para cima e lá caía o carvão. Começavam jogando o carvão para dentro da barrica com a pá. Quando estava cheia, ele gritava: “Outra barrica”. O proprietário, o carreteiro, ficava anotando. Eu ia com ele e trazia do depósito as barricas vazias. O meu trabalho era trazer a barrica vazia para encher de novo. Noventa, noventa e uma barricas no dia. Depois que a carreta era esvaziada, eu subia nela porque nos vãos da madeira ficavam ainda pedaços de carvão. Eu recolhia aquilo para levar para a minha mãe. Tudo com a anuência, a concordância do carreteiro. Quando havia escassez dessa atividade, o velho João trabalhava com uma carroça e uma égua pangaré. Então, ele era descarregador de carvão, era carreteiro, era quitandeiro. Era um homem que tinha uma quantidade de atividades porque tinha, acima de tudo, uma capacidade enorme de trabalho. Era um trabalhador na verdadeira acepção do termo. Não era, evidentemente, um privilégio dele. É como o povo da periferia faz no Brasil. Trabalham, dão a vida e dão o sangue para buscar o pão de cada dia para a família, para os filhos. Assim era o velho João. Às vezes, ele pegava a carroça e, com mais cinco ou seis carreteiros, ia para Santa Tecla, para Palmas, para a campanha, comprar laranjas, frutas, verduras, melancia, porco. Então, ele trazia a carroça cheia pra depois desmanchar, trabalhar e vender na cidade. Lembro-me de uma escassez muito violenta. Saíram oito ou nove carreteiros, um atrás do outro, e não encontravam nada. E ele me levava do lado. Naquele dia, eu vi o velho chorando porque eu estava com fome. O velho João gostava do jogo do osso e gostava de jogar no bicho. E parece que ele se defendia, porque, às vezes, passava as tardes lá e,
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às vezes, ganhava. Num determinado dia, ele ganhou no bicho. Nós morávamos numa baixada, e ele lá de cima disse: “Severina, acertei no bicho, na centena 131. Vamos comprar roupinha para vestir os guris e tirar o primeiro retrato da família”. Eu tenho lá na minha casa esse retrato, do jogo do bicho.
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Primeira foto da família Collares
O pai do Alceu era muito conhecido porque tinha uma banca de verduras e de legumes bem na esquina da Rua Sete de Setembro com a Bento Gonçalves, ao lado do Conservatório Municipal. Anos e anos, sempre localizado ali. O pessoal ia lá para fazer as compras e era atendido por ele e pela família dele. E o Alceu saía para fazer vendas, de balaio, dos produtos da banca. Erly Borba Inghes Amigo de infância e advogado
O papai tinha muito cuidado para comprar fruta sempre especial, nem que fosse mais cara. E nós lustrava com um paninho. Ele não vendia fruta cheia de areia, terra. Tudo era limpo e por isso que a freguesia gostava. Ele tinha um relacionamento muito grande. Maria Collares Perez Irmã
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Eu vivia lá, com os balaios nas mãos. Tanto que eu era apelidado de “o vendedor de laranjas”. Eu saía da vila, do Povo Novo, com dois balaios, passava a ponte molhada, depois a ponte seca, e ia até o centro vender as laranjas, bergamotas, frutas. E o apelido ficou “vendedor de laranjas”.
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Eu adorava um faroeste, Buck Jones, Noah Berry, Sombra do Terror. Eu achava aquilo uma loucura, John Wayne, cinema. Começava às duas horas da tarde. E o cinema, o Coliseu, era um monumento, uma parte de tábuas de madeira, outra de tijolos. E era uma beleza porque, durante todo o filme, a gente se coçava, coçava muito, porque tinha muitas pulgas. Eu saía com vinte guris do Povo Novo e com o seu Canducho. Não tinha rádio, não tinha televisão, e ele colocava cartazes nos ombros de cada um de nós. Íamos para a praça, ele parava, e nós ficávamos com ele dando voltas, mostrando o filme que ia passar no domingo. Depois, ele dava para cada guri uns 400 réis e uma entrada para o cinema no domingo. Foi aí que eu comecei a frequentar o tal de cinema. Desde essa época a minha paixão pelo cinema é muito grande. Um dia eu saí de manhã com dois balaios, fazia muito frio e não consegui vender. Vendi pouco, trouxe as frutas de volta, e o velho João, que era muito duro, disse: “Não vai ao cinema. Não tem dinheiro para ir ao cinema”. Saí de novo com os balaios. Na Rua João Telles, 1333, entrei pelo portão, fui até o fundo, olhei para o lado, estava a família dos Resende almoçando. A senhora, com pena pelo frio que eu estava passando, comprou tudo o que eu tinha e me deu uma capa Ideal. Foi o cinema mais gostoso a que eu assisti na minha vida. Eu era vendedor de laranjas, de frutas, ajudava meu velho e tinha um enorme compromisso com a minha família, tudo o que eu ganhava eu dava na mão da minha mãe. Nunca fiquei com um tostão para
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nada, entregava para ela pela profunda consciência que eu tinha que aquilo era para nós, era para a família, para minhas irmãs, para o meu pai, para minha mãe e para mim. Às vezes, eu ganhava mais do que o velho João porque eu ía lá na entrada da cidade esperar quem vinha de Candiota e, quando as carretas chegavam, eu dizia: “Eu sei onde colocar, me dá tanto que eu levo lá”. E pegava um trocadinho na comercialização. Tenho que dizer aqui que eu fui um grande jogador de futebol, também. Mas muito perseguido pelos técnicos. Entrava técnico, saía técnico e não enxergavam o meu futebol.
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Um talento não reconhecido
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Ele tem a mania de dizer que foi um craque do Grêmio Esportivo Bagé, só que não foi muito entendido pela direção técnica e não conseguiu jogar como titular. Eu nunca ouvi falar que ele jogasse muita bola, mas como a maioria das pessoas que o viram jogar já
desapareceu, e eu nunca o vi jogar, tenho que acreditar em tudo que ele diz. E ele diz que foi um craque. Edgar Muza Amigo e jornalista
Tinha um campinho na frente da casa, e ele não saía daquele campinho. A mamãe procurava por ele, e ele estava lá, jogando com a turma. Foi lá que ele aprendeu a jogar. Depois, ficou sendo o tal no futebol. Jogou até no Bagé. Maria Collares Perez Irmã
les. Não era na calçada, era no meio da rua. O Alceu Collares, na época, vendia laranjas. Ele vinha de balaio e parava conosco. Ele jogava bem, criança já jogava bem. Nós disputávamos qual era o
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Nós tínhamos uma turma de crianças que jogava futebol, na cidade, no meio da rua. Entre as ruas Marcílio Dias e a João Tel-
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Aos oito ou nove anos, o futebol entrou na minha vida como uma salvação para quem não tinha nenhuma outra forma de brinquedo ou diversão. Devo dizer que eu vivia ali no meio da criançada negra, o Gratulino, o Pistão, o João, todos negros, todos pobres. Não por escolha, mas por determinação da própria vizinhança, dos ranchos em que nós vivíamos. No início nós pegávamos uma meia da mãe, recheávamos de papel e fazíamos uma bola para jogar futebol. Em seguida, nós começamos a jogar no campinho na frente da Igreja São Pedro, de pé no chão, em cima da terra. Depois as coisas foram melhorando, a igreja fez um time chamado São Pedro. Eu tinha uns quatorze, quinze anos, e já entendia um pouquinho de futebol. Com esse grupo todo e mais outros, fizemos o São Pedro Futebol Clube, foi onde eu comecei a dar os meus primeiros passos como jogador de futebol.
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time que ele vinha. Evidentemente, era cinco pra um lado, seis pro outro, não era completo. Isso foi em 1939, 1940. Daí vem a nossa amizade. Depois, com o decorrer dos anos, já no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, mantivemos a nossa relação, jogando futebol, excursionando com o Auxiliadora Futebol Clube. Ele sempre foi um guri mais forte do que nós, a conformação física dele é essa. Ele tem um tórax bem desenvolvido. Sempre foi muito brincalhão, enturmado com todo mundo, bom de papo, bom de conversa. Era uma pessoa muito procurada porque o relacionamento era fácil. Excursionávamos de trem, era muito divertido Ele jogou aqui no Grêmio Esportivo Bagé. Não era um grande craque, mas se defendia, jogava bem. Naquela época pra jogar no Bagé tinha que ter bom futebol, senão, não jogava. Porque, na década de 1940, Guarany e Bagé tinham excelentes times. O futebol de hoje é totalmente diferente do daquela época. Hoje, ele despontaria em qualquer time do Brasil. Erly Borba Inghes
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Amigo de infância e advogado
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Time do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora
Havia um jogador, o Velho, que era parecido com o Maradona, forte. Ele entregava carne num balaio de latão e, do outro lado, carregava uma bola. Quando colocava o balaio no chão, pegava a bola e ficava jogando. Pois o Velho se transformou num dos grandes craques, era um senhor craque, o melhor entre todos nós. Foi conosco para o Bagé, onde formamos o segundo time. Um ano, um ano e meio depois, fomos aproveitados no primeiro time. Eu acabei deixando o futebol, e ele continuou.
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Anos depois eu estava em Santa Rosa com dois caminhões falando para uma multidão. Eu era candidato a governador, metido a besta. E estou lá terminando o discurso quando embaixo do palanque tinha um bêbado que dizia assim: “Falá bem tu fala, mas jogá tu não jogava nada, não jogava nada. Falá bem tu fala”. Era o Velho que estava junto com o Padeirinho, um amigão. Lá na periferia, eu tenho a ousadia de dizer, não há preconceito de cor nem de raça, há uma espécie de socialização da miséria onde a gente vive sem possibilidade e sem condições de ter essas malquerenças que tantas almas doloridas têm.
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Jogador do Grêmio Esportivo Bagé
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Os técnicos não enxergavam o meu futebol
Infelizmente, a pobreza tem cor neste país, e a cor é a nossa. Se pegarmos os dez mais pobres, vamos ver que oito são negros. E, na disputa eleitoral, infelizmente, a maioria dos partidos não dá o espaço devido ao povo negro. O povo negro é muito chamado
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para votar, ou como eu digo, preparar o baile, carregar o piano,
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mas, na hora da dança mesmo, de ser a estrela, se deixar, nos apagam. Por isso, eu tenho esse carinho enorme pela história do meu querido amigo, ex-deputado federal, ex-prefeito e ex-governador, Alceu Collares. Paulo Paim Senador do RS
Vindo de onde eu venho, vendedor de laranjas, filho de um pai negro e uma mãe índia, lá dos confins da miséria, para chegar aonde cheguei, o esforço foi muito grande, uma enorme dedicação. Evidentemente, contribuiu uma série de fatores ao longo da minha própria existência. Mas, às vezes, lembro-me de um episódio com a minha irmã, a Maria, e me vem à cabeça uma palavra árabe, maktub, que, entre outros significados, quer dizer “já estava escrito”. Ela tinha uns 17 anos quando começou a ter uns surtos. Quatro ou cinco pessoas a agarravam e não conseguiam dominar. Era um espírito mau. Chegou um vizinho e disse: “Chama o seu Blota que ele entende disso”. Chegou o velho e ficou conversando com o espírito. Daí um pouco disse: “Vai-te embora. Agora tu segue. Vai que tu já desencarnaste e não vive mais aqui”. E o seu Blota disse para os meus pais: “Ela tem uma mediunidade muito avançada. Tem que desenvolver”. E ela foi desenvolvendo. Eu ia junto, tinha oito ou nove anos. Só que, às vezes, em casa, ela recebia um caboclo ou preto velho. Eu era católica fanática, filha de Maria. Comecei a ter uns desmaios na missa. O padre me mandou tomar café, mas eu desmaiava igual. Um dia me deu uma ira e eu quebrei tudo dentro de casa. Pulava da altura do teto. A vizinhança dizia para chamar o seu Blota, um alemão que era espírita. Ele veio e disse pro meu pai: “Seu João, o senhor tem uma preciosidade em casa”. E o papai: “Preciosidade que quebrou todos meus caquinhos? O senhor acha que isso é preciosidade?”. Seu Blota explicou: “Seu João, a sua filha é uma médium inconsciente, e isso é muito raro”. Depois, teve uma parte que o espírito que estava em mim era um caboclo.
Maria Collares Perez
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Irmã
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Nós nem sabíamos o que era política naquela época. E o caboclo que vinha, olhava para ele e dizia: “Alceu, grande político chefe”. Foi o caboclo que disse. Ele ainda era um menino, e eu pensava: “O que será isso?”.
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AGORA ME VOU PRAS PONTAS Um dia ele chegou em casa com os balaios cheios de laranjas, não tinha vendido nada. Atirou os balaios no meio da casa e disse: “Eu não nasci pra ser quitandeiro. Tu arruma um emprego pra mim, pai”. E o papai: “Olha aí, Severina, o desaforo desse guri, desfazendo das quitandinhas que matam a fome dele”. E o Alceu: “Eu posso trabalhar noutra coisa, mas quitandeiro eu não vou ser. Arruma um emprego pra mim”. E o papai já foi tirando a cinta: “Vou te dar uns guascaços porque é da quitanda que tu come. É o que te alimenta”. E a mãe: “Pode botar a cinta na cintura! E vai arrumar um emprego pro meu filho!”. Nas quitandas o papai tinha relacionamentos. Era relacionado com o gerente dos Correios. Aí ele disse pro seu Pedro Corrêa: “Meu filho quer muito trabalhar, me arruma um emprego pra ele”. O seu Pedro perguntou: “E quantos anos ele tem?”. O papai: “Treze anos”. Aí o seu Pedro: “Então, manda que eu tô precisando de alguém para entregar telegramas”. Quando chegou em casa, ele e a mamãe se abraçaram e choraram de alegria. Ele já saiu uniformizado, todo de amarelinho, com os bordadinhos dos Correios e Telégrafos no uniforme. E as botinas eram reiunas, aquelas que eram usadas pelos soldados.
Tão faceiro ele ficou, que durante um tempo, chorava de alegria. E ele disse umas palavras que nunca esqueci: “Agora sim, ninguém me pega mais. Agora me vou pras pontas”. Maria Collares Perez Irmã
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Eu devia ter treze, quatorze anos, na primeira vez que fui ao prédio dos Correios, lembro bem. Entrei com o velho João que disse: “Seu Pedro, olha aqui meu menino”. E seu Pedro: “O seu menino pode trabalhar, mas com esse sapato não. Ele tem que comprar um sapato”. Eu usava tamancos, então, o velho saiu e comprou fiado um par de sapatos. Eu, que adorava futebol, fui para a praça jogar. Claro, eu não tinha botina, jogava de pé no chão. Deixei o sapato num canto e quando eu vi tinham roubado o meu sapato. Roubaram a minha fortuna, roubaram o meu sapato. Compramos outro, mas esta história ficou sempre na minha mente, uma frustração, porque era a primeira vez que eu ia colocar um sapato.
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Uma das primeiras carteiras nos Correios e Telégrafos
Eu passei a entregar telegramas e era tão craque em andar de bicicleta que pegava um maço de telegramas e soltava as mãos do guidão. Fui entregador de telegramas por um ano e meio. Depois, fui nomeado, mas faltou verba para me pagar, e durante três meses nós ficamos sem nada. Em casa faltava tudo. Meu salário era de 250 réis, em três meses dava 750 réis. Quando recebi aquela bolada, levei correndo o dinheiro para a mãe.
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Nesse período sem salário, surgiu uma vaga de condutor de malas de Bagé a Rio Grande. Consegui a vaga como condutor substituto. Eu ia todos os dias de manhã na estação para ver se o titular ia ou não. Se ele fosse, eu voltava para o Correio. Nas primeiras vezes eu fui preparado com roupa e tudo, mas depois, como o condutor sempre ia, eu comecei a ir despreparado. Um dia ele não foi. Era
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Telegrafista aos 19 anos
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um inverno frio, e eu de camiseta. Entrei no vagão que o Correio tinha e, ao longo das estações de Pedras Altas, Candiota, parava e trocava a correspondência. Em cada estação, um colega me entregava um saco de correspondência. Quando chegamos em Herval, eu fiquei na porta. Veio o chefe de trem e disse: “Já comeu guri?”. Eu respondi: “Não, não tenho nada”. E ele: “Vem aqui comer com a gente”. Fui comer com eles. Seguimos para Rio Grande, descarregamos as malas, e eu não tinha onde dormir. Passei a noite inteira em cima das malas, no depósito. No outro dia, louco de fome, fui até uma praça enorme onde tinha um bolicho que servia café. Cheguei como quem não quer nada. E sabe quem é que estava lá vendendo? O Mosquito, um amigo meu de Bagé, do colégio. “O que tu tá fazendo?”, ele perguntou. Eu contei. E ele: “Quer tomar um café?”. Respondi: “Desde ontem não como nada”. Ele me disse: “Senta ali!”. Naquele dia, Deus me deu a comida. Ele aprendeu a ler no colégio público, com a professora Alcinda Araújo. Depois que aprendeu as primeiras letras, ninguém mais segurou. Ele mesmo começou a ler, pegava os livros e lia. Sozinho, sem ninguém mandar. Maria Collares Perez
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alceu collares
Irmã
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Tinha alguma coisa que me condicionava, me entusiasmava, empurrava, porque a paixão que eu tinha pelo livro era impressionante, desde que eu comecei a ler. E a primeira grande interrogação que eu me formulei para saber a causa foi na frente de uma sapataria. Eu olhei de noite a luz elétrica, eu só conhecia a vela, e eu me perguntei: “Como será que se faz a luz?”. Ali, começou o meu espírito a se perguntar: “Como é o mundo? Como são as coisas? Quais são os fatores científicos, tecnológicos, culturais, filosóficos que a gente precisa saber para andar com o passo certo na vida?”.
Muito estudei e continuo a estudar. Adoro declamar. Declamo às vezes. E um poema de que gosto muito é sobre o livro, é de Castro Alves, mas é muito longo, mais do que esperança de pobre, e eu costumo declamar somente um pedaço.
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
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Aos onze anos, já alfabetizado, meu pai me tira da escola para ajudá-lo como vendedor, quitandeiro. Só retomei os estudos aos vinte anos, já casado com a Antônia e com dois filhos pequenos, o Antônio e o Júlio César. Em Bagé, não tinha uma escola pública, só ensino privado, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, dos padres católicos, onde eu comecei.
o voto e o pão
(Trecho do poema “O Livro e a América”, de Castro Alves)
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Curso Clássico no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Bagé
Lembro que o meu pai estudava muito, sempre estudou muito. Ele era entregador de telegrams e achava que através dos estudos ia vencer e tirar a família do buraco que estava. A família toda estava num buraco muito grande, não tinha condições de nada.
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alceu collares
E ele estudava muito, colocava a gente numa bolsinha de pano,
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pendurava eu na frente e meu irmão atrás, e ficava lendo à noite, esperando a gente dormir. Ficava lendo, estudando, estava fazendo o Artigo 91. Ele estudava muito o coitado. Antônio Alceu Medeiros Collares Filho
Então, tive que me preparar, junto com outros quarenta jovens, para fazer o Artigo 91, em Rio Grande. O Artigo 91 substituía o Ginásio. Na prova, um professor muito exigente, em história e geografia, fez todo mundo rodar. E ficamos muito preocupados. Eu voltei para Bagé, e pedi uma licença nos Correios, e estudei durante 90 dias. Na segunda época, me caiu o Grito do Ipiranga. Eu disse para o professor: “O senhor quer, eu digo a hora que o homem fez isso”. Esse professor nos fez um bem enorme porque na verdade a gente sabia pouco. Ele fez um bem enorme no momento em que nos mandou de volta para casa e disse: “Vão estudar”. Havia um respeito muito grande pelo professor, porque é o mestre. Nós devemos tudo aos nossos professores, porque são eles que vão fazer a extraordinária revolução pacífica que precisamos. A humanidade toda passa pela sala de aula. Eu conheci o Alceu de rua, de conversa. Ele exatamente dez anos mais velho que eu. Começamos a ter uma aproximação maior, que se prolongou por muitíssimos anos, quando começamos a estudar juntos no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora na primeira e única turma do curso Clássico. Naquela época, o ensino era completamente diferente de hoje. O ensino fundamental não era obrigatório, fazia-se uma admissão e entrava-se no Ginásio. Cursavam-se quatro anos de Ginásio e, depois, mais três de Científico. E foi aí que surgiu o problema. Havia uma turma que não queria cursar profissões voltadas às ciências exatas e seria obrigada
aquelas disciplinas que tinham ligação direta, como português, literatura, línguas, etc. Então, era um currículo bem mais enxuto, bem direcionado. Mas, só havia em Porto Alegre. Então, meu pai, advogado, começou um movimento para reter essa turma aqui em Bagé e criar o curso Clássico. E conseguiram,
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oferecia para aqueles que desejavam cursar humanidades somente
o voto e o pão
a estudar todo aquele elenco enorme de disciplinas. Já o Clássico
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com a autorização do MEC, criar o curso Clássico em Bagé. Da turma em que nos formamos, fizemos vestibular para Direito e passamos na UFRGS, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Alceu e eu. Carlos Rodolfo Thompson Flores Amigo e advogado
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alceu collares
O Povo Novo, a Igreja São Pedro, a Praça da Igreja São Pedro, onde eu joguei futebol de pé no chão. Ali a saudade, ali meus primeiros passos, ali o sopro da minha própria existência
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Na praça da Igreja São Pedro
ATENDENDO AO CHAMADO DO LÍDER Lembro-me bem do dia em que o presidente Getúlio Vargas morreu, 24 de agosto de 1954. Eu ainda morava em Bagé. Naquele dia estava no Ginásio Auxiliadora, onde fazia o curso Clássico. Era hora do recreio, e nós estávamos no pátio quando veio a notícia da morte do Getúlio. Foi uma tristeza muito grande. Houve uma comoção coletiva naquele ambiente de estudantes, de professores. A Nação toda chorou. Não tenho informações, como homem que estuda, que pesquisa, que tenha havido uma hora mais dolorosa, mais amarga, mais triste do que o suicídio de Getúlio Vargas. Terminou com a própria vida para impedir um golpe que acabou acontecendo 10 anos depois. Eu pertencia ao Departamento de Correios e Telégrafos, em Bagé. Ali, exercia com naturalidade certa liderança. Quando cheguei a Porto Alegre, em 1956, logo expressei as ideias que defendia, os fundamentos ideológicos da minha personalidade, me aproximando no PTB. Já era trabalhista, minha vida era muito ligada aos trabalhadores. Aqui em Porto Alegre, fui presidente regional da UBSPT, a União Brasileira dos Servidores Postais e Telegráficos, compareci a muitos congressos, fundei uma cooperativa de consumo, era muito atuante.
Em Bagé, pouco antes de mudar para Porto Alegre.
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alceu collares
Vim para Porto Alegre porque tinha passado no vestibular de Direito e fui aos Correios pedir a minha transferência porque ainda era telegrafista em Bagé. O diretor dos Correios era o pai do Aloísio Paraguassu, e disse que não poderia me transferir. Eu disse a ele que iria pedir demissão. Vê que aventura. Era o único salário que eu tinha para sustentar a mulher e dois filhos.
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O Alceu veio pra Porto Alegre e alugou numa pensão um quartinho que dava pra ele, a Antônia e as crianças e dali começou. Sempre nos Correios e Telégrafos. Maria Collares Perez Irmã
Eu devia ter uns três ou quatro anos, e o Júlio César era nove meses e 28 dias mais novo. Lembro que a gente era muito pobre, morávamos num quartinho bem pequeninho. Tinha até uns ratinhos que apareciam de vez em quando de um buraquinho na parede, e eu tinha medo. Era numa pensão, perto do Parque da Redenção. Antônio Alceu Medeiros Collares Filho
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Filiação ao Partido Trabalhista Brasileiro, em 1959
o voto e o pão
Por necessidade, porque precisava levar mais alguma coisa para sobrevivência em casa, fui ser professor de português. Na Associação Cristã de Moços, eu e um colega dos Correios, o Cícero Sampaio, conseguimos uma sala para fazer um curso de preparação para o concurso de postalista. Eu era o professor de português, tinha um de língua francesa, outro de legislação, e preparávamos para o concurso. Foi a primeira vez que eu entrei naquela instituição, das mais respeitáveis que é a ACM.
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Em 1959 ingressei no Partido Trabalhista Brasileiro, o antigo PTB. Eu já tinha uma admiração pelo trabalhismo, pelo brizolismo, por essas ideias. E lia tudo que falavam. O Brizola era prefeito, ainda muito jovem, e já tinha um poder de oratória fantástico. Ele costumava falar na sede do PTB, que ficava na Praça da Alfândega. Dando aulas na ACM, nas sextas-feiras, eu pedia para os alunos para sair um pouquinho mais cedo para ir lá. Eu ouvia as palestras belíssimas do Brizola, com profundidade ideológica, concepções avançadíssimas. Ele era o revolucionário da América. Nessa época, comecei a me preocupar, querer falar bem. Eu tinha com isso uma grande preocupação. Treinava todos os dias a oratória para me expressar com correção, não só na língua portuguesa como na gesticulação e também no ânimo, na força que se tem que transmitir quando se está falando. Eu tinha uma noção clara de que precisava me comunicar bem, ter eficácia na comunicação, tanto que, em 1958, enquanto cursava o terceiro ano de Direito, fui a São Paulo e fiz um curso de Oratória. Depois, reunia os acadêmicos na Associação Abolicional e fazíamos todas as formas de treinamento de expressão verbal e oratória. O Alceu sempre foi um bom orador. Ele era pequeno, a gente ia nos aniversários e, quando via, o Alceu estava em cima da mesa discursando, elogiando o aniversariante e todo mundo batia palmas. Maria Collares Perez
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alceu collares
Irmã
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Ele estava sempre estudando. Se formou advogado e tinha escritório no edifício União, com o Viton de Araújo, que era meu tio, e o Cícero Sampaio. Ali ele foi começando. Sempre gostou da política, e acho que isso estava na cabeça dele desde muito novo. Antônio Alceu Medeiros Collares Filho
Terminei o curso de Direito em 1960. O Brizola já era governador do Estado e, em 1961, tive a oportunidade de vivenciar um dos mais belos capítulos da história do Brasil que foi a Campanha da Legalidade, liderada por ele.
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Lá no Mata-Borrão, um prédio que existia na esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Rua Andrade Neves, me inscrevi para lutar pela Legalidade. Naquele local, havia filas e mais filas de homens e até mulheres que, assim como eu, estavam dispostos a pegar em armas para defender a posse do Jango. Eu era um homem comum, do povo, atendendo ao chamado do líder. Naquele agosto de 1961, a Constituição estava sob ameaça. Mas, dos porões do Palácio Piratini, o Brizola comandou a Campanha da Legalidade. Através de transmissões de rádio, ele uniu os gaúchos, levantou o Brasil, e a posse do presidente João Goulart foi garantida. Foi o momento de maior entusiasmo, de maior emoção, de maior dádiva do espírito coletivo do gaúcho.
o voto e o pão
Formando do curso de Direito, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1960
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Trinta anos depois, em 1991, o governador do Rio Grande do Sul era eu. Para comemorar a data, reeditamos, nos porões do Palácio Piratini, a Rede da Legalidade. O Carlos Bastos, meu secretário de Comunicação, que havia participado da Legalidade, em 1961, reuniu a Rádio Guaíba, a Rádio Gaúcha, e mais de duzentas emissoras do interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Eu guardo ainda uma cópia daquela transmissão na qual o Brizola avalia aquele que foi, sem dúvida alguma, um dos fatos mais importantes na nossa história.
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alceu collares
Com Brizola nas comemorações dos 30 anos da Campanha da Legalidade
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É natural a minha emoção, aqui ao lado do governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares, e ao lado de tantos companheiros daquela hora, daquela nossa gloriosa resistência. É natural, é compreensível, que a recordação daqueles momentos emocionantes, decisivos, nos traga um estado de espírito muito especial, resulte
para nós numa emoção muito compreensível. Mas nós estamos aqui essencialmente para consagrar na história de nosso povo aquele episódio. Isso é muito importante, só os povos que têm passado, que têm história é que podem aspirar, podem construir um futuro digno. Povos sem história são povos sem rumos. E aqueles fatos que ocorreram aqui há trinta anos, eles vêm à nossa mente, são comentados, são estudados, são analisados criticamente como questões importantes que irão influir nas características, na personalidade de nosso povo, de nosso país. Isso é realmente o essencial deste momento que estamos vivendo. Vamos colocar definitivamente na história deste país este episódio que foi, por tantos anos, soterrado. Naqueles dias que se seguiram à nossa resistência, nós tivemos ensejo de enfrentar todo um quadro que independentemente das posições do nosso presidente João Goulart, cuja investidura foi garantida por aquele episódio de resistência. Independente dele desenvolveu-se todo um ambiente de destruição, de amesquinhamento, um ambiente de desmerecimento para com aquele episódio. Isto foi ação das camadas conservadoras, das áreas políticas que realmente não aceitavam que nós aqui do Rio Grande do Sul pudéssemos ter desfraldado uma bandeira daquela beleza, daquela significação, daquela importância. Então, começaram a surgir ondas de desmerecimento até que conseguiram impregnar o novo governo, desgastá-lo, frustrá-lo. Primeiro com o parlamentarismo, que àquela época foi um golpe ímpio dado contra as aspirações do povo brasileiro. Numa madrugada rasgaram a Constituição e impuseram aquele parlamentarismo defeituoso, golpista, oportunista. Um regime espúrio, esdrúxulo
de desmerecimento da nossa resistência até que conseguiram frustrar em grande parte o próprio governo do presidente João Goulart. Mesmo depois, o povo brasileiro deu ainda uma demonstração de grande vigor com o plebiscito que nós passamos
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Pois bem, a partir daí todo esse trabalho de obscurecimento,
o voto e o pão
que jamais conseguiu funcionar.
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a reivindicar no outro dia, depois que adotaram aquele golpe do parlamentarismo. Mesmo no regime presidencialista restaurado, com a Constituição de 1946, o governo João Goulart já estava de tal forma abalado, as esperanças que se levantaram em torno da sua ascensão ao governo já estavam em grande parte esmaecidas. De tal modo que tudo foi se preparando para o Golpe de 1964. Fruto de uma conspiração que já se iniciou naqueles mesmos dias da resistência conforme o depoimento de muitos conspiradores que chegaram a afirmar abertamente que, não podendo resistir naqueles dias, resolveram recuar, mas sem nunca abandonar a intenção de garrotear as nossas liberdades e rasgar a Constituição. Acabaram impondo um regime monstruoso, cuja sanha, cujas consequências estão aí no conhecimento de todos. Foi um atraso para o nosso país que agora estamos aí avaliando o que representou a esse respeito. Estamos até hoje pagando de maneira dramática as contas daquele regime. Comprometeram a nossa independência, o nosso desenvolvimento econômico. Um regime que veio para aprofundar este modelo de economia, esse sistema econômico lesivo que está aí. Levaram até as profundezas a implantação do regime, criaram situações tão perversas que nós, até hoje, mesmo recuperando as nossas liberdades, nós não temos tido sucesso em recuperar aqueles direitos inalienáveis do povo brasileiro, como um salário compatível para sua família, sobretudo o nosso direito de nos desenvolvermos culturalmente.
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alceu collares
(Trecho do discurso de Leonel Brizola, na época governador
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do Rio de Janeiro, nos 30 Anos da Campanha da Legalidade, em agosto de 1991)
CHALEIRADAS DE ÁGUA QUENTE Eu era presidente da UBSPT, da União Brasileira dos Servidores Postais e Telegráficos. Fui presidente por algum tempo e, com um grupo de companheiros dos Correios e Telégrafos, como ganhávamos pouco, criamos uma cooperativa de consumo. Estava sempre lutando pelos servidores, pelos telegrafistas e postalistas. Participava ativamente da luta classista, tinha um envolvimento muito grande com as questões relacionadas aos servidores. Lembro que um companheiro, liderança nos Correios, disse que eu deveria entrar para política. Eu já estava inscrito no PTB, mas queria esperar mais um pouco, me preparar mais. Pois eles lançaram meu nome. Foi uma luta para o Sereno Chaise, presidente do PTB no Rio Grande do Sul, me colocar na chapa. O PTB era muito grande, tinha grandes nomes como candidatos, e era muito difícil colocar um nome ainda sem expressão. E eu não tinha nome, nem era um ilustre desconhecido, era só desconhecido. Mas o Sereno me colocou como representante classista na chapa de candidatos a vereador pelo PTB, na eleição de 1963. O primeiro contato com o Collares foi ali em frente aos Correios, no centro de Porto Alegre, às seis e pouco da tarde. Eu fui lá a pedido do pessoal e tinha ali umas cento e poucas pessoas que reivindicavam
a inclusão do nome dele na nominata de candidatos a vereador. Como eu tinha duas vagas à minha disposição, porque naquele tempo a legislação eleitoral era diferente, e eu vi ali um pessoal muito decidido, muito empenhado, fazendo muita questão, eu assumi o compromisso de colocá-lo na chapa, como de fato foi colocado. Sereno Chaise Ex-prefeito de Porto Alegre, cassado em 1964
Quando chegaram as eleições, os colegas lançaram ele como vereador. Eu e a Antônia trabalhamos muito. Subimos morro, descemos morro entregando santinho. Ah, nós tomava muita água quente. Ia entregar santinho e tomava uma chaleirada de água quente. Ela fazia chá para reunir as famílias. Convencia as mulheres a convencer os maridos a votar no Collares. Nós caminhávamos nessas vilas. Às vezes, nos recebiam com rosas, com água quente, outras, com cachorros: “Pega essas vagabundas que não têm o que fazer”. E nós dizíamos: “Viemos lá de baixo, somos gente pobre, sabemos o que é pobreza, necessidade. O meu irmão vai ajudar principalmente a essa classe pobre”. Pois o negrão ganhou de luz. E daí não deixou mais. E cumpriu o que nós saía pelas vilas a prometer. Maria Collares Perez Irmã
A minha mãe contava que, quando ia para as vilas ajudar, che-
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alceu collares
gava com um ‘santinho’. Na frente tinha a foto e atrás tinha a
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história dele. Ela chegava e apresentava o candidato, falava sobre a história e dizia: “Anota o número e me devolve o ‘santinho’ porque eu só tenho este”. Era tudo muito escasso. Adriana Medeiros Collares Filha
Santinho usado, em 1963, na campanha para vereador de Porto Alegre
Os companheiros dele dos Correios se uniram e ajudaram muito. Eles ajudavam a distribuir um santinho bem pequenininho, ele não tinha condições na época de fazer qualquer tipo de material. Lembro que foi bastante difícil. Nós passamos quase seis meses comendo só arroz de carreteiro. Ele era entregador de telegramas, não tinha condições. Era arroz de carreteiro o prato principal e
na hora, não quero nem olhar. Antônio Alceu Medeiros Collares Filho
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Tanto é que hoje, quando falam em arroz de carreteiro, eu repudio
o voto e o pão
sobremesa de arroz de carreteiro. Era arroz de carreteiro todo dia.
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A liderança entre os servidores dos Correios e Telégrafos garantiu a primeira eleição
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alceu collares
A campanha não foi fácil. Era muito difícil para alguém pobre e sem recursos. Mas, eu tinha um nome forte, uma grande inserção nas entidades de classe, dos servidores dos Correios. O material era escasso, eu só tinha ‘santinhos’, muito pouco material. Mas trabalhei com um sistema de listas de apoio. Pedia aos meus colegas dos Correios que cada um conseguisse mais dez amigos, parentes, para votar em mim. Quando eu vi, eles começaram a trazer listas de pessoas com quem eles haviam conversado e que tinham se comprometido a votar em mim. Alguns traziam uns caderninhos cheios de nomes. Esse sistema eu acabei usando em muitas outras eleições.
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Ganhamos de longe a eleição, eu fiz maioria absoluta para prefeito, e ele se elegeu bem. Sereno Chaise Ex-prefeito de Porto Alegre, cassado em 1964
o voto e o pão
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Fui eleito com 3.147 votos para vereador de Porto Alegre pelo PTB, partido do Brizola, em 1963. Eu, vereador, e o Sereno Chaise, prefeito municipal. O Sereno se elegeu disparado, com 44,62% dos votos. Ganhou do Cândido Norberto e do Sinval Guazzelli. A eleição foi em novembro, e a posse, em janeiro de 1964. Três meses depois, os militares tomaram o poder. Era o início de longos, sofridos, vinte anos de ditadura. O golpe militar foi em 31 de março de 1964. Os militares queriam afastar o Jango, que vinha fazendo um governo cada vez mais voltado para a redução das desigualdades, defendendo uma divisão mais justa das riquezas deste país. A gota d’água foi o comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu mais de 150 mil pessoas no dia 13 de março. Desde 1958 o PTB vinha debatendo, discutindo propostas para alterar as estruturas econômicas, sociais, tecnológicas e políticas de forma que as desigualdades sociais pudessem ser superadas. Era um conjunto, dos mais avançados, mais completos, de iniciativas para promover a igualdade e a justiça social. Incluem-se aí as reformas, bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária, política. Entre elas, estava a proposta de estender o direito de voto aos analfabetos, medidas nacionalistas que pregavam o controle dos investimentos estrangeiros no país, a regulamentação das remessas de lucros para o exterior. Mas a principal proposta era a reforma agrária para eliminar os conflitos pela posse da terra e dar a milhões de brasileiros o direito a um pedacinho de terra onde pudessem plantar, criar alguns animais e garantir o seu sustento. É evidente que reformas dessa ordem incomodavam demais as oligarquias, os grandes ricos, os banqueiros. Em janeiro de 1963, o presidencialismo foi restabelecido, e os poderes de Jango foram ampliados. Até aí, tínhamos um sistema parlamentarista, a solução resultante da Campanha da Legalidade. Com o presidencialismo restabelecido, Jango e as Reformas de Base ganharam força. Esse debate dominava o cenário, e os movimentos sociais pressionavam
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o governo para a implementação das reformas. No dia 13 de março de 1964, ocorreu o magnífico comício da Central do Brasil, com mais de 150 mil pessoas. Uma coisa extraordinária. Naquele momento, Jango anunciou a necessidade de mudar a Constituição e de adotar medidas como a encampação das refinarias de petróleo particulares e a desapropriação de algumas propriedades privadas que houvessem sido valorizadas pelos investimentos públicos. Dezoito dias depois, em 31 de março de 1964, o golpe militar depôs o presidente João Goulart e acabou com a possibilidade das reformas que até hoje fazem falta ao Brasil. Com o golpe, os militares passaram a perseguir comunistas, trabalhistas e outros adversários. O Sereno, que tinha iniciado o mandato como prefeito de Porto Alegre em janeiro daquele ano, logo foi cassado. Eu tinha sido eleito vereador e continuei. Em outubro de 1965, o Ato Institucional nº 2, do general Castelo Branco, eliminou todos os partidos políticos existentes por ato de força, ato ditatorial. No lugar, os militares criaram dois partidos: o MDB, que reunia a oposição, e a ARENA, partido de situação. O MDB era uma frente contra a ditadura. Cabia ali dentro quem quisesse. No Rio Grande do Sul, cabia desde o Brizola até o Paulo Brossard. Então, aquela frente era para isso mesmo. Era a frente de luta pela liberdade democrática. Uma frente de luta pela democracia. E a gente sabia que, no momento em que derrotasse a ditadura, aquela frente se esvaziaria, e cada um iria seguir o seu rumo.
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alceu collares
Nós aqui, no Rio Grande do Sul, tivemos um exemplo: o doutor
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Paulo Brossard que morreu recentemente. Ele foi uma pessoa que participou do golpe militar, foi membro do governo golpista aqui no estado e logo depois abandonou. Teve a sabedoria de passar para a oposição onde exerceu um papel importante na luta democrática. Então, o MDB era essa frente que exerceu um papel importante. Mas, dentro do MDB, também havia uma luta surda, todos sabiam
que, no dia em que se derrubasse a ditadura, sairiam dali vários partidos e haveria confronto. Carlos Araújo Ex-deputado estadual PDT-RS
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Minha experiência na Câmara Municipal foi importante para adquirir conhecimento profundo dos problemas de Porto Alegre, refletir sobre as soluções e também adquirir experiência política. Em 1965, fui escolhido como líder da bancada do PTB na Câmara Municipal e presidente da Comissão de Justiça, Redação e Reclamação. Como vereador, participei de comissões especiais para revisar o Código de Posturas, redigir o Código de Loteamento do Município e para solucionar problemas relativos ao lixo domiciliar. Naquele período, também integrei uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar fatos relativos ao aumento de tarifas dos transportes. Em meu mandado atuei, por meio de projetos de lei e de manifestações na tribuna, para que a cobrança da taxa de água fosse realizada conforme o consumo, medido pelo hidrômetro. Nas casas em que o Departamento Municipal de Águas e Esgotos, o DMAE, não havia colocado o equipamento, o consumidor deveria pagar apenas uma taxa mínima de 30 metros cúbicos por mês. Também tive a preocupação de buscar alternativas para a construção de casas populares. Com esse objetivo, representei a Câmara junto ao Presidente do Banco Nacional de Habitação com o propósito de entregar à população uma série de casas populares construídas na Vila Farrapos. Com a extinção dos partidos, fui para o MDB. Era vereador, e minha preocupação sempre foi com os funcionários públicos. Eu exercia uma liderança junto com outros, como o Aloísio Paraguassu. Minha luta era pelas conquistas sociais, melhores salários, garantias trabalhistas, redução das desigualdades.
o voto e o pão
Líder da organização guerrilheira VAR-Palmares
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alceu collares
Vereador de Porto Alegre de 1964 a 1970
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E fui indo de tal maneira que tive a vaidade de ser deputado federal. Pulei de vereador para federal porque eu era dos Correios, e a atividade postal telegráfica era nacional. A liderança dos congressos que nós fazíamos era nacional, então, em vez de eu ir para deputado estadual, eu fui candidato a deputado federal em 1966, dois anos depois de ter sido eleito vereador. Hoje, eu acho que foi uma pretensão muito grande. Fiquei na primeira suplência, não me elegi. Em 1968, me reelegi vereador com 10.052 votos, o triplo da eleição anterior. Hoje isso corresponderia a aproximadamente 30 mil votos em Porto Alegre, uma votação fantástica. Isso me entusiasmou de tal maneira que em 1970 eu voltei a concorrer a deputado federal. Fui eleito com 75 mil votos, uma votação muito boa, muito expressiva. Em 1966, tirei uma loteria federal. Estava no auge da miséria depois da campanha. Então, desci para ir à frente do antigo Rian, na Rua da Praia. E ali estava o João Carlos Guaragna, que era amigo do Brizola. E tinha um baiano que dizia: “Collares, compra o bilhete”. E eu: “Mas eu não tenho dinheiro. Estou numa merda federal”. Acabei
comprando o bilhete e fiquei devendo um ou dois cruzeiros. De noitezinha, o Guaragna bateu lá em casa: “Tu tiraste a loteria”. Eu disse: “Não brinca comigo, rapaz, estou numa pobreza tão grande, e tu vem aqui me dar um susto”. Ele garantiu: “Tiraste, sim, 25.302”. Fui com ele em duas lotéricas para ver se era mesmo o 25.302. Na segunda, lá perto do aeroporto, tinha uma Caixa Econômica, e um funcionário confirmou: “Tirou, tirou. 25.302 é o bilhete premiado”. Dava uns 150, 200 mil cruzeiros, na época. Eu comprei a casa da Rua Ivo Corseuil, aqui em Porto Alegre. Mas, também, fiz investimentos do arco da velha. Um deles foi comprar ações da TV Piratini. Depois, fui lá reclamar, e me disseram: “Não, aquilo não era compra. Era doação que o senhor fez”. Eu lembro que ele ganhou na loteria federal de Natal. Isso eu não esqueço nunca. A gente tava numa pindaíba. Tinha acabado as eleições, e nós estávamos muito ruim de grana. Ele comprou um bilhete, e ganhou a loteria, tirou a metade do bilhete todinho. Foi quando ele conseguiu comprar a casa da Rua Ivo Corseuil e deu uma arrumadinha. Na realidade, ele nunca aumentou muito os bens, não era preocupado com esse negócio de bens. Ele sempre me falava desde pequeno: “Meu filho, a única coisa que as pessoas não conseguem tirar de você é o que você aprende. São as lições da vida e o que você consegue adquirir que são os aprendizados”. Antônio Alceu Medeiros Collares
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Em toda minha caminhada, uma ideia, um pensamento, uma audácia, um desejo muito forte de ascensão me guiavam. Não apenas para melhorar a vida da minha família, mas para servir. Desde que comecei, me impus um projeto político. No início, sem muita clareza, ainda nebuloso. A única certeza era o Trabalhismo.
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Filho
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UM TERREMOTO NA DITADURA Minha primeira eleição para deputado federal foi em 1970, fui reeleito em 1974 e também em 1978. Nas três legislaturas, fui eleito pelo MDB, partido que reunia a oposição ao regime militar. Meu trabalho no Congresso Nacional era voltado para o social, os trabalhadores, o inquilinato, o funcionário público. Meus pronunciamentos em defesa de uma remuneração digna para o trabalhador eram tão fortes que fiquei conhecido como o “deputado do salário mínimo”. Fui autor da Lei do Inquilinato que acabou com a tragédia da denúncia vazia. Avancei nesse campo quando era governador do Rio Grande do Sul criando o seguro fiança locatícia que foi implantado pelo Sr. Alceu Marques na Companhia União de Seguros. Hoje existe em todo o país. Durante toda a minha vida, estava sempre diante dos meus olhos a situação do trabalhador brasileiro. Fui um dos muitos líderes nacionais que teve sempre como bandeira a defesa do trabalhador brasileiro. O Collares foi deputado federal três vezes antes de chegar ao governo do Rio Grande do Sul e, nas três vezes, os jornalistas políticos de Brasília o elegeram como político do ano, que era uma tradição na época. José Mitchell Jornalista
Eleito pela imprensa um dos melhores deputados do Brasil
No MDB, participava junto com outros companheiros de um movimento interno na oposição. Esse grupo de deputados ficou conhecido como Autênticos do MDB. Nas conversas, debates com Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outras lideranças do MDB, defendíamos uma postura mais efetiva como oposição. Nós éramos um grupo constituído de jovens, tínhamos outro pensamento, queríamos fazer uma oposição mais acentuada, mais dirigida, mais vigorosa. Nós queríamos derrubar a ditadura e por isso pressionávamos muito nossos líderes, que eram chamados moderados. Eles não iam adiante, e nós, angustiados porque a ditadura estava se consolidando, queríamos a volta da democracia e defendíamos a mudança do regime com discursos fortes. É evidente que o Ulysses Guimarães e o Tancredo Neves foram os grandes líderes da oposição brasileira. Mas, junto com eles, havia esse grupo muito verdadeiro, muito combativo.
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alceu collares
O rumo era desgastar a ditadura, era criar opinião pública a
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favor das teses da oposição. Nós tínhamos dois partidos. A Arena sacralizava o arbítrio, e o MDB era uma oposição frouxa, inconsistente. E o grupo dos Autênticos foi quem fez a oposição dentro do MDB. Aqui fora, na rua, o MDB tornava-se um de nós, ficava contagiado pelo grupo aqui fora. Mas lá dentro, foi preciso nós fazermos uma crise dentro do partido, tornar esse partido oposição.
O grupo queria ser deputado, mas deputado pra valer. Mas, pra ser deputado da oposição na ditadura, para fazer oposição à ditadura, era preciso carregar alguns valores para tanto, não era só audácia. Era audácia sustentada em valores e num ideário. A nossa pretensão era ter para o país uma alternativa de poder. Queríamos mudar, queríamos democracia e liberdade. Nós pregávamos a democracia política, sonhando com a democracia econômica e social. Mas a pregação naquele instante era pela liberdade e democracia. Nenhum tinha a pretensão de cargos ou ministérios. Nós queríamos criar essa alternativa de poder para o país. (Entrevista do ex-deputado federal Alencar Furtado, cassado em 1977, realizada em 2009, com a participação do economista Marco Antônio Campos Martins)
O Collares e eu somos grandes amigos e grandes companheiros ainda do tempo do velho PTB. Nós estávamos juntos no PTB. Quando foram extintos os partidos, nós fomos juntos para o MDB. O Collares se situava no grupo dos Autênticos do MDB, aliás, nós do Rio Grande do Sul, o MDB do Rio Grande do Sul tinha uma linha. Uma linha independente, uma linha de muita credibilidade e com divergências com o partido em nível nacional, principalmente depois que o doutor Ulysses deixou a presidência. O Collares foi, indiscutivelmente, uma das pessoas mais extraordinárias que eu conheci. Coragem, capacidade, competência. Foi um grande vereador de Porto Alegre, excepcional prefeito, grande governador, deputado federal de grandes lutas, de grandes deba-
ticamente debatia e dizia as coisas que deviam ser ditas todos os dias. O Collares é um nome que honra o Rio Grande do Sul. Pedro Simon Ex-senador do RS
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dramáticas, da ditadura. Foi um daqueles parlamentares que pra-
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tes e sustentou no grupo Autêntico, uma das horas mais difíceis,
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O grupo autêntico dentro do MDB, que o Collares participou, era, vamos dizer assim, o grupo que reunia os deputados e aqueles ativistas do MDB mais progressistas. Tinham uma visão para além da luta democrática, já que antecipavam a necessidade de ir além. Da luta democrática ser acompanhada, também, de lutas sociais. Já incluía na luta pela democracia aspectos sociais. O Collares introduziu a Lei do Inquilinato que teve grande repercussão social. Hoje, a gente não sabe o que é isso, porque hoje não tem mais aquela loucura do locatário ser escravo do locador, tais os aspectos da lei que protegiam excessivamente o locador. Então, quando o Collares apresentou a lei sobre locação, ali já estava inserida uma luta social. Eu acho que, quando o MDB começou a ficar mais forte, começou a ver que podia derrubar a ditadura, começaram também a florescer, dentro do MDB, os aspectos sociais e as divergências. Começaram a surgir as divergências naturais. E o Collares lá no Parlamento, e também fora, sempre acompanhou, sempre esteve na vanguarda, ponteando essa luta. Pela sua sensibilidade, pela sua intuição, mas, pelas suas raízes, principalmente. Pelo compromisso com as suas raízes. Isso é muito significativo, porque, muitas vezes, as pessoas abandonam suas raízes, abandonam mesmo. Não é fácil a pessoa manter essa coerência. Carlos Araújo Ex-deputado estadual PDT-RS
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e um dos fundadores do PDT
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Nesse período criamos a primeira fundação de estudos econômicos e sociais, o Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta. O nome foi uma homenagem a um grande líder de São Paulo, da oposição, do MDB. Eu queria dar o nome de Alberto Pasqualini, que era o grande pensador do PTB, mas o Ulysses queria homenagear o Pedroso Horta, que estava doente, muito mal. Aceitei o nome Pedroso Horta desde que fosse criado o instituto. Fui seu primeiro presidente.
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Havia na legislação partidária político-eleitoral o direito de os partidos utilizarem uma hora de rádio e televisão para transmissão das suas ideias, dos seus fundamentos, seu pensamento político, suas concepções. E foi o MDB que pediu ao tribunal competente, o Tribunal Superior Eleitoral, a regulamentação. Eu, como presidente do Instituto Pedroso Horta, levei várias vezes para o Ulysses assinar o requerimento pedindo a regulamentação da legislação eleitoral. E o Ulysses dizia sempre: “Vocês são idealistas, vocês acham que o regime ditatorial pode permitir a regulamentação da lei para dar à oposição uma hora de rádio e televisão?”. E eu respondia: “Nós não vamos perder nada, se não temos e eles negarem, vamos ficar como estamos. Agora, se regulamentarem, é um ganho fantástico”. E foi exatamente o que aconteceu. Foi um extraordinário feito da oposição, do MDB, do grupo dos Autênticos. Nós fizemos três grandes reuniões, três grandes congressos, o primeiro em Santa Catarina, em junho de 1976. O segundo no Nordeste, e o terceiro, já com a legislação partidária devidamente regulamentada, foi em Brasília. Nós, da direção do Instituto Pedroso Horta, focalizávamos sempre em Brasília, pois ali estava o Congresso Nacional, onde a alma do poder público se concentra. Mas toda vez que tentávamos, sempre havia um conselho da direção do MDB dizendo que não convinha fazer em Brasília. Eu vim para o Rio Grande, e o Laerte Vieira, deputado do MDB por Santa Catarina, disse: “Olha, a chefia acha que nós não podemos estar batendo tambor perto da ditadura, eles não vão deixar”. Por isso fizemos o primeiro seminário em Florianópolis, o segundo no Nordeste, e o terceiro, em que eu insisti com a regulamentação e eles regulamentaram, nós fizemos em Brasília, em junho de 1977. A Globo transmitiu em rede nacional de rádio e televisão, provavelmente para 60 milhões de brasileiros, o programa do MDB. A oposição ao regime militar, pela primeira vez, ao vivo, em um programa de rádio e televisão. Foi um momento de grandeza, de extraordinária expressão oposicionista daquele grupo e do MDB.
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E fomos nós, da direção do Instituto Pedroso Horta, que criamos essa oportunidade de a oposição brasileira, através do MDB, falar diretamente com a população. E lá fomos nós. Foi o Ulysses Guimarães como presidente do partido, o Franco Montoro como líder do Senado, eu como líder do MDB e o Collares como presidente da Fundação Pedroso Horta. E fomos fazer esse programa. A ditadura suportava muitas críticas, as críticas políticas, propriamente ditas, ela não ligava muito. Mas a denúncia contra tortura, contra direitos humanos, que eles estavam perversos, isso eles não suportavam. E eu como líder da bancada achei que não poderia ir para um programa, para o Brasil inteiro assistir, sem fazer a denúncia. E eu fiz questão de fazer denúncia de tortura, de solidarizar-me com os cassados, enfim, um discurso de líder da oposição, porque era necessário fazer naquela hora. Foi um abalo muito grande. Foi um tremor de terra, um pequeno terremoto na ditadura. Depois, tempos depois, o Armando Falcão que era ministro da Justiça, me falou: “Rapaz, vocês nos preocuparam”. Eu estava no Rio e recebo um telefonema do presidente Geisel me chamando urgente porque o general João Batista Figueiredo tinha levado, em nome das Forças Armadas, um ultimato ao Geisel: “Ou cassava o Ulysses Guimarães e o Alencar Furtado ou ele entregava o cargo de chefe do Serviço Nacional de Informações, o SNI”. Então, gerou quase uma crise militar. Disse o Armando pra mim: “Cheguei lá e alertei: Isso vai ser um
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tormento para nós internacionalmente porque a imagem do Brasil
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vai ficar manchada demais. Aí foram lá, vieram cá, deixaram o Ulysses de lado e lhe cassaram porque você tinha feito a denúncia sobre tortura”. (Entrevista com o ex-deputado federal Alencar Furtado, cassado em 1977, realizada em 2009, com a participação de Marco Bittencourt e do economista Marco Antônio Campos Martins)
Programa do MDB, no rádio e na televisão, provocou um terremoto na ditadura (Jornal Zero Hora 28/06/1977)
Enquanto o AI-5 for no Brasil o centro de gravidade do poder, o brasileiro, a sociedade, a economia serão expelidos para a periferia do Governo.
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O AI-5 é o testemunho universal da anormalidade democrática. O AI-5 é poder, não é Governo, pois cassa, mas não governa.
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Guardo até hoje um livrinho com a íntegra de cada um dos discursos feitos naquele programa. Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Alencar Furtado e eu, Alceu Collares, cada um focando um determinado assunto da oposição:
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Esse instrumento de arbítrio é o verdadeiro inimigo da Revolução e o maior responsável pelos seus desacertos. O apoio popular substituído pelo AI-5, o amor pelo terror, com o que se impopulariza e descumpre solenes e reiterados compromissos com a ordem democrática, os direitos do homem e a justiça social. O AI-5 é forte para cassar mandatos conferidas pelo povo mas é fraco para cassar a inflação que flagela o povo. É forte para fechar o Congresso usurpar-lhe competência, a fim de editar reformas que pré-fabricarão governadores e senadores, e impotente contra a invasão dos lares pelo custo de vida, deles expulsando a tranquilidade, a alegria e até a harmonia familiar. A segurança do Estado não pode ser a insegurança na/da Nação, e a grandeza do homem é mais importante do que a grandeza do Estado. O Brasil não pode continuar entre parênteses como institutos excepcionais estranhos à sua história, à sua geografia, à índole de sua gente e ao sacrifício de seus libertadores. O programa do MDB hierarquiza o primado da pessoa humana. O homem é titular, não objeto do Estado. O homem, ao criar o Estado, quis criar o aliado e não o monstro que o persiga, torture e mate seu criador ou o martirize com salários desmoralizados pela carestia galopante, com a inacessibilidade de médico e remédio ou de escola para seus filhos. O povo é o que há de mais profundo e permanente em uma Nação. A censura é crime contra as instituições, a inteligência e a
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cultura de um país, pois violenta o direito do homem à informação.
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A verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que divergem. (Trecho do discurso do ex-deputado federal Ulysses Guimarães no programa do MDB no Rádio e na Televisão, extraído de documento editado pelo Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta)
Que a nossa fala inicial seja em homenagem aos companheiros que ficaram pelos caminhos da luta, injustiçados pelas cassações, pela suspensão de direitos, pela prisão ou pelo exílio. Todo o tributo do nosso apreço aos homens da resistência democrática, de Sérgio Magalhães a Mário Covas, de Marcos Tito a Nadir Rossetti, de Martins Rodrigues a Lisâneas Maciel. Homenagem que a oposição estende ao estadista da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Foram punidos pelo arbítrio, mas consagrados pela gratidão e pelo respeito nacional. É abominável quando a lei se torna instrumento de alguns para atender a caprichos subalternos. É que nas autocracias a lei existe para servir a força e a força nem sempre existe para servir a lei. Desgraçadamente, acredita-se mais na força que na lei, mais no AI-5 que no Poder Judiciário. E, quando transformam a Carta Magna num édito partidário, afrontam os padrões da decência jurídica de um povo. A nação está humilhada porque não pode participar, por isso mesmo o malogro dos que a golpeiam será inexorável. As usurpações da força violentam o direito e desservem o país. A legalidade democrática é hoje anseio nacional para cuja construção há de ser convocado o povo brasileiro, que a legitimará. O Estado democrático é princípio fundamental inscrito no programa do MDB, que oferece ao Governo a bandeira da Constituinte como fórmula maior para um reencontro nacional. [...] Por ser a Oposição a voz do povo é que formamos neste país a
mutilado e punido, injustiçado e humilhado, mas, queiram ou não, ainda é a Casa representativa do povo brasileiro. Torna-se insuportável mais de uma década de arbítrio. O Governo, fugindo da democracia, procura perpetuar-se no Poder, de-
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presença no Parlamento, Parlamento judiado e sofrido como povo,
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resistência democrática. Por isso tem sentido e razão de ser a nossa
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turpando o processo revolucionário com a flagrante usurpação dos direitos do Povo. É que não se pratica a democracia apenas, uma mudança de homens. Democracia é o povo no poder. [...] O Brasil que estremecemos ressumbra amor e compreensão, respeito e dignidade. Nele, o Estado encontra-se com a Nação; os militares com os civis; os pobres com os ricos. Nele, o estudante é acolhido; o trabalhador valorizado; o sindicato reivindicante; a imprensa independente; e a cultura incensurada. Nele, o agricultor é socorrido; o religioso, respeitado; e o empresário, considerado e atendido. Nele, o povo é ouvido; o parlamentar, inviolado; e a justiça, intangível. Nele, o homem é livre; e a Nação, democrática. (Trecho do discurso do ex-deputado federal Alencar Furtado no programa do MDB no Rádio e na Televisão, extraído de documento editado pelo Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta)
É a hora de mudar. É a hora de substituir o regime de exceção pela normalidade constitucional. Mudar porque o atual regime conduziu o país a uma situação insustentável. Do ponto de vista econômico, dois fatos brutais ficarão aqui demonstrados. O primeiro é a existência de uma dívida externa hoje superior a 30 bilhões de dólares. Para amortizá-la e pagar os juros, precisamos, anualmente, de mais de 5 bilhões de dólares.
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No plano interno, ainda no econômico, o dado econômico mais significativo e trágico é representado pela inflação crescente, cujo índice, em 1976, subiu a 46,3%, de acordo com os dados oficiais. E, este ano, a elevação do custo de vida vem sendo de aproximadamente 5% ao mês. Do ponto de vista social, o índice mais sig-
nificativo para indicar a justa ou a injusta distribuição do produto nacional é, sem dúvida, a correlação entre os salários mais baixos e os mais altos. Na Alemanha, este índice é de oito. Isto significa que ninguém ganha mais do que oito vezes o que recebe o trabalhador de menor remuneração. [...] Em outros países, esta diferença é de 12 a 15 vezes. No Brasil, tivemos uma lei de iniciativa do DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), em 1961, que estabeleceu em 18 vezes essa correlação. Qual é hoje a diferença entre o menor é o maior salário do Brasil? No funcionalismo público, era de 36, no último ano. Passou a 44 na administração direta e, se formos considerar a administração direta, este índice – de acordo com um decreto do Presidente da República, que fixou em 80 mil cruzeiros o maior salário das autarquias, das companhias de economia mista e das empresas públicas – é superior a 100. Compreende-se que, por razões de mercado, por necessidades de ordem prática, seja necessário pagar um salário elevado administradores ou técnicos. O absurdo é que se paguem 100 vezes menos a quem dedicar toda a sua vida, todo o seu tempo a uma atividade produtiva. Do ponto de vista político, o regime nos conduziu a um impasse que o Nobre Senador Paulo Brossard batizou de “o pacote de abril”, em que o Governo assumiu, sozinho, as funções de uma Assembleia Constituinte e sozinho introduziu modificações de caráter constitucional para o país. Do ponto de vista político, as cassações, que continuam apesar das afirmativas e das promessas de distensão, representam, como aqui foi demonstrado, a violação de um direito fundamental da
(Trecho do discurso do ex-deputado federal Franco Montoro, no programa do MDB no Rádio e na Televisão, extraído de documento editado pelo Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta)
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julgado pelo Tribunal competente.
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pessoa humana, que é de não ser condenado sem ser ouvido e
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Eu tratava do social, da previdência, do inquilinato, do salário dos trabalhadores, do salário mínimo. Mas, evidentemente, tecendo uma crítica ao regime de exceção e ao sistema. O programa do Movimento Democrático Brasileiro prevê como princípio básico uma política social de valorização da remuneração do trabalho como fonte geradora da riqueza nacional. É evidente que não se podem examinar aspectos sociais de uma determinada situação sem se penetrar profundamente nas raízes do problema econômico. E é evidente isto que o MDB tem feito ao longo de sua existência, uma crítica permanente e constante aos erros que vêm sendo praticados em consequência de uma estrutura econômica que leva a uma forte concentração de renda nas mãos de uma minoria privilegiada. É um tipo de modelo econômico altamente concentrador e elitista. Concentrador e elitista por quê? Exatamente porque é através de um regime de exceção, em que a liberdade é limitadíssima para os vários setores que compõem a comunidade brasileira, que não é possível às classes trabalhadoras, aos servidores públicos ou às demais classes a plena manifestação das suas reivindicações, dos seus anseios e dos seus reclamos. É um tipo de modelo econômico voltado exclusivamente para os fatores econômicos, em detrimento dos aspectos sociais. É a mão do trabalhador que realiza a riqueza do país. Há uma preocupação permanente com o Produto Interno Bruto, com as elevadas taxas de poupança, com a renda per capita, quando
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o que seria justo é que se estabelecesse um tipo de modelo econô-
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mico capaz de assegurar a todos quantos trabalham, ou mesmo aos que não trabalham, um padrão mínimo de sobrevivência, um padrão mínimo de consumo. Só desta maneira estar-se-ia assegurando à população brasileira a justiça social. Não se justificará jamais, como foi devidamente comprovado pelo Censo de 60 e 70 que, uma minoria de um por cento da po-
pulação brasileira detinha, então, 14,57% da renda, enquanto os 40% mais pobres recebiam apenas 10% do total da renda nacional. De nenhuma forma pode-se admitir que o país cresça e a grande população trabalhadora esteja passando necessidades. Daí porque o sistema econômico atual é injusto. Injusto por quê? Porque no regime de exceção, onde as liberdades são profundamente restritas, atingiu-se o instrumento de luta dos trabalhadores por melhores condições de remuneração e de trabalho, que é o seu sindicato. Atingiram-se os sindicatos no que têm de essencial, isto é, na sua liberdade e autonomia, de tal forma que as entidades passaram a ser a recreativas, assistenciais ou sociais, perdendo exatamente o fundamento da sua própria existência, que é o de exercer o poder de barganha, sentar-se à mesma mesa com o empresariado e, em igualdade de condições, discutir o valor do seu trabalho. Aliás, aqui, há uma contradição enorme do regime em que vivemos que defende a livre-iniciativa, a competição de mercado, todavia, impede-se, por instrumentos legais, que a representação classista tenha a plena liberdade para as negociações salariais e condições de trabalho. Com o controle rigoroso exercido pelo Governo na fixação através de fórmulas matemáticas de política salarial, mensalmente, publicando os fatores de reajustamento, perdem as entidades sindicais sua força, sua energia e seu vigor, impossibilitadas de discutir o valor dos reajustamentos. Se o regime defendido é o da livre-iniciativa para atividade privada, não se justificam as restrições impostas aos trabalhadores para fixação livre do valor do seu trabalho.
empresa nacional e da empresa internacional. (Trecho do discurso do ex-deputado federal Alceu Collares no programa do MDB no Rádio e na Televisão, extraído de documento editado pelo Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta)
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veriam ser pagas ao trabalho, para a acumulação do capital da
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O atual modelo econômico é transferidor de parcelas que de-
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E por aí eu ia falando sobre a injustiça social com 45% da população que àquela época vivia com um salário mínimo, do quanto os valores eram aquém das necessidades para uma vida minimamente digna. E criticava o modelo econômico e o regime de exceção. Foi um alarme, porque aquela primeira grande transmissão atingiu mais de 50 milhões de brasileiros. Foi a maior reação contra a ditadura porque o povo teve a oportunidade de ouvir Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Alencar Furtado e, eu, Alceu Collares. À noite estávamos todos cassados, era a informação que nos chegava. No outro dia o Armando Falcão, ministro da Justiça, disse para o Figueiredo: “Os partidos estão para fazer de conta, Arena de um lado, o MDB do outro. Como vai cassar o Ulysses, ele não disse nada, o Franco Montoro também não disse nada, e esse Collares que falou sobre o salário mínimo?”. Ele não tinha noção da luta de classes, que um discurso com aquela força sobre o salário mínimo atingia milhões e milhões de pessoas, que olhavam e diziam para a mulher: “Tá vendo, lá tem um que fala sobre o nosso sofrimento”. Eu usava uma expressão sobre o salário mínimo: “O salário mínimo é um roubo oficializado, contra 45 milhões de brasileiros que vivem lamentavelmente a miséria do salário mínimo, que no Brasil nunca foi justo”. O Armando Falcão, então, teria convencido o presidente Geisel que só deveria ser cassado o Alencar Furtado, que fez o melhor, o mais profundo, o mais extraordinário de todos os discursos políticos que eu já ouvi na minha vida. E só ele foi cassado. Já escreveram vários livros sobre esse período, mas nunca citam meu nome. Eu não vou dizer que é racismo, mas, se for, eu não me importo. Aquele foi, sem dúvida alguma, um momento grandioso da oposição brasileira, do MDB. Uma grande contribuição que foi dada naquela oportunidade para que mais tarde se reestabelecessem os fundamentos do sistema democrático de governo.
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Livro com a íntegra de cada um dos discursos feitos naquele programa
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A HORA MAIS AMARGA Sempre tive uma paixão pela vida política, pela defesa dos trabalhadores e das classes marginalizadas. E, à medida que passava o tempo, mais eu me apaixonava pelo Trabalhismo de Getúlio, Jango, Pasqualini, Brizola, Darcy Ribeiro. Sempre entendi que não havia nenhum outro partido com uma proposta tão avançada que não era nem o capitalismo puro, nem o comunismo, mas o Trabalhismo. “É a defesa do trabalhador, condizente com a ideologia do PTB, cujo ideólogo era Alberto Pasqualini, que inclusive criou alguns termos que vigoraram muitos anos na política. Por exemplo, aqueles que estão à margem do processo social, político, econômico, os marginais, expressão utilizada pelo Pasqualini. Solidarismo, solidariedade, expressões também utilizadas por ele. Então, a nossa filosofia resumidamente era isso: defesa do povo trabalhador. Eu costumava dizer que o trabalhador sente frio, sente fome, tem filho para educar, para vestir. Enquanto o capital não sente frio, não tem fome, não tem filho, não tem compromisso nenhum. Então, nessa relação econômica, capital e trabalho, nós sempre entendemos que o trabalho devia ter uma sobrevalência, por isso, pelas necessidades do trabalhador. E o Collares pensava dessa maneira, dessa mesma maneira, tanto é que ele em seguida se tornou um líder do partido
em todo o estado. Depois da Prefeitura foi governador e, até hoje, é um dos homens públicos mais admirados, mais respeitados do nosso estado.” Sereno Chaise Ex-prefeito de Porto Alegre, cassado em 1964
“Tive a oportunidade de conhecer o Collares no Congresso Nacional, como deputado federal. Então, vi um homem determinado, com uma capacidade de liderança incrível, de articulação, de agregar. Como parlamentar, o Collares fez aquilo que fez como prefeito e fez como governador: uma preocupação com os menos favorecidos, uma preocupação com os direitos dos trabalhadores. Ele, bom trabalhista que é, procurou sempre honrar aquilo que caracterizou a luta do Trabalhismo, o trabalho do PTB, do PDT, aquilo que significou ao longo do tempo, com o Brizola na frente, como grande líder. Então, um homem que se preocupou em fazer com que tudo isso acontecesse. Uma defesa do trabalhador, uma defesa da educação. Eu acho que isso caracterizou a luta do Collares dentro do Congresso Nacional e depois como prefeito, como governador. Ao lado da defesa dos menos favorecidos, ao lado de um discurso que mostrava a necessidade das pessoas, no momento de uma eleição, se preocuparem em valorizar o seu voto, em garantir que com o voto as pessoas conseguiriam ajudar nas transformações que o Brasil precisa. Em todos os momentos ele dizia isso e dizia com bandeiras bem claras: a bandeira da educação, a bandeira da
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defesa do trabalhador, a bandeira dos menos favorecidos.”
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Germano Rigotto Ex-governador do RS
Sempre lutei por um salário que garantisse condições de vida dignas ao trabalhador. Em 1979, para provar ao então Ministro do
Trabalho, Murilo Macedo, a inconstitucionalidade do salário mínimo criei um fato marcante no Congresso Nacional. Levei para a sessão plenária uma cesta, dessas usados em mercados, com produtos que um trabalhador jamais poderia comprar com um salário mínimo. Munido de um quadro negro, gráficos e a tal cesta, fui para a tribuna.
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Não adiantou, devolveram para as comissões técnicas, pela terceira vez, o meu projeto de lei que estabelecia critérios para a fixação do salário. Não tive dúvida, junto com os deputados J.G. de Araújo Jorge do Rio de Janeiro, João Cunha e Benedito Marcílio de São Paulo, fui para o Ministério do Trabalho carregando a cesta. A imprensa toda nos acompanhou, quase sessenta jornalistas e fotógrafos. O ministro não nos recebeu. Tentamos, então, entregar a cesta ao secretário do ministro, senhor Valério Gonçalves, que disse: “Recuso-me a recebê-la”. Viramos o conteúdo da cesta sobre a mesa dele. Pão, leite, carne, bananas, café, feijão, arroz. Ainda hoje, às vezes, alguém me encontra e lembra daquilo.
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Cesta de alimentos na tribuna para denunciar baixo poder aquisitivo do salário mínimo – Foto: arquivo do Jornal do Brasil
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Fui deputado federal durante vinte anos e sempre tive a minha atuação destacada pelos jornalistas que acompanhavam o dia a dia da Câmara Federal. Nos meus dois últimos mandatos, depois da criação, em 1983, da publicação “Os Cabeças do Congresso Nacional”, fui considerado sempre um dos deputados mais influentes, um grande orador. Pelo amor que eu tinha, pela seriedade com que sempre encarei meus mandatos, nunca ia para a tribuna sem um estudo. Era outra época, diferente. Os partidos estavam recém criados, não havia um volume tão grande de aproveitadores nos partidos. Acho que eles tinham um pouco de idealistas, de pessoas puras, como o Brizola, como o Matheus Schmidt, que queriam o mandato para servir, para realizar obras públicas. Não tinham a preocupação do enriquecimento.
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Atuação combativa no Congresso Nacional
Eu trazia 20 anos de experiência, conhecimento da técnica legislativa, por isso nos meus mandatos como prefeito e governador, mesmo tendo minoria na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa, não tive nenhum projeto rejeitado. Porque eu conversava com os vereadores, com os deputados e dizia: “se quiserem o projeto, vocês aprovam, mas se não quiserem eu me submeto.” O mundo hoje é muito diferente. Deputados vendem seus votos, fazem os acordos mais estapafúrdios, os mais comprometedores, os mais imorais, visando apenas o enriquecimento pessoal. É bem verdade que Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos, precisou negociar com empregos e vantagens para os senadores, em 1864, a aprovação da Décima Terceira Emenda à Constituição dos Estados Unidos. Só que a finalidade não era colocar dinheiro no bolso dele. Lincoln conseguiu naquele momento abolir oficialmente a escravatura em todo o território americano. “Eu ainda não era nada, e nem pretendia ser, e já tinha a luta contra a ditadura. Lembro que um dos discursos mais lindos que eu ouvi na minha vida foi do Collares, na Assembleia Legislativa, no Auditório Dante Barone. Era uma dificuldade reunir gente. Já estávamos num processo de conjugação de forças contra a ditadura e eu fazia parte do movimento sindical, social, e fizemos questão de levar gente para ouvir aquele momento na institucionalidade, enfrentando a ditadura. Collares já era deputado do MDB. Nunca me fugiu da memória aquela voz, aquele timbre daquele discurso. Foi num crescendo e tinha momentos que ele parava, parece que pra audiência pensar. E, depois tocava de novo. Entusiasmava a
A ditadura aqui no Brasil era contraditória, pois tinha partidos políticos. Os regimes totalitários de direita ou de esquerda, usu-
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Olívio Dutra Ex-governador do RS
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gente. Lembro bem daquele discurso.”
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almente, possuem um único partido legalizado. Isso é o usual nas ditaduras que se conhece através da história da humanidade. O sistema ditatorial não permite que ninguém fale contra. Mas, aqui havia a ARENA, que era do governo, e o MDB, que era uma oposição consentida. Evidentemente havia limitações de toda ordem, tanto é que o Congresso Nacional foi fechado. Foi um período muito difícil, muito complicado para a oposição. Não havia liberdade de expressão democrática, os líderes políticos eram cassados, obrigados a viver no exílio. Muitos foram torturados, dados como desaparecidos, mortos. Um capítulo da nossa história que até hoje se busca saber a verdade. “Todos nós fomos do MDB, não do PMDB, do MDB. Eu sempre achei que no Brasil não há condições de derrubar um governo pela força. Achava válido o combate à ditadura, mas pelos meios que as instituições permitiam. E o Collares foi muito atuante, era um dos Autênticos do MDB. Sempre defendendo os nossos princípios, também achava que o caminho era esse, das instituições. Por exemplo, ele foi lá no ministro do Trabalho com a cesta básica para mostrar que o salário mínimo não atendia as necessidades do trabalhador. O MDB era um trem. Onde estavam os cassados, os proscritos, o trem parava para que todos embarcassem porque todos eram irmãos. Muito bonito, mas, na prática, no primeiro processo de anistia, excluíram o Brizola.” Sereno Chaise
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alceu collares
Ex-prefeito de Porto Alegre, cassado em 1964
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“Eu participei do movimento de luta armada para derrubar a ditadura. Outros optaram pelo caminho da luta política, luta eleitoral através do MDB. Eu tenho muito orgulho de ter participado da luta armada. Nós jovens, de uma forma generosa, desprendida, partimos pra luta e isto me envaidece muito. Nos estávamos total-
mente errados. A história mostrou isto. Estavam certos aqueles que seguiram pela luta política eleitoral. Este foi o caminho que levou à derrubada da ditadura que começou a ruir com a grande vitória política do MDB, em 1974, quando conseguiu derrotar a ARENA, partido do governo, amplamente pelo Brasil afora. Aqueles que optaram pela luta eleitoral estavam corretos. Mostraram o caminho certo porque foi esse caminho, tem que se dizer com toda a ênfase, que conduziu ao fim da ditadura. Evidentemente, que junto com movimentos sociais, com os movimentos sindicais, com as lutas do nosso povo. Foi o caminho eleitoral que conduziu a isso.” Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS
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Foi nessa época que vivi o momento mais triste da minha vida. Eu perdi um filho afogado, no Rio Guaíba, aos 16 anos. Bonito, lindo, atleta. Eu vinha de Viamão e, na frente da casa da Maria, estava a Olguinha: “Tio, o Julinho morreu”. Eu me apavorei, me desesperei. Foi uma fase triste, dolorosa. Não tem nada, nada, nada que se possa comparar a perda de um filho ou de uma filha. Parece que as coisas são trocadas. Em vez de morrerem os velhos, morrem os jovens. E por um destino que parece que já estava escrito, anos mais tarde a Olguinha, filha da minha irmã Maria, morreu atropelada. E às vezes eu pergunto: “Maria, o que será que nós fizemos para sofrer desse jeito?” Porque não tem sofrimento igual. Até hoje, eu sinto uma enorme dor. Uma dor que não passa nunca. Houve um momento em que eu chorei, chorei muito. Claro que o espírito não gosta desse tipo de sentimento dos fracos, porque a morte mais dia, menos dia, ela vem. O pior é que o tempo passa e eu continuo carregando a minha dor, como a mãe dele também carregou.
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Líder da organização guerrilhera VAR-Palmares
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“Eu estava junto com ele no dia do falecimento. Nós estavámos jogando futebol e a bola caiu no Rio Guaíba. A bola foi bem longe e ele, que nadava bem, resolveu ir atrás. Eu fiquei na beira do rio com outros amigos e escutei quando ele gritou. Ele gritou e afundou. Eu nadei para ver se achava ele. Se tivesse achado, acho que teria morrido porque ele era bem mais forte que eu, apesar de ser mais novo. Eu não consegui achar. Quando voltei para a margem, sentei na beira do rio e parecia que o mundo tinha desabado. Senti demais a morte dele, e meus pais também sentiram muito. Eu lembro que os olhos do meu pai estavam muito inchados, parecia um monstro. A mamãe também ficou muito desesperada”. Antônio Alceu Medeiros Collares Filho
“Eu acho que cada um reagiu à morte dele de uma maneira. Os que estavam junto a ela na época disseram que ela nunca chorou. Acho que foi uma dor tão insuportável que nem sequer chorar ela conseguiu. E meu pai chorou, ele não conseguiu não chorar. Mas certamente ficou um silêncio, ficou um silêncio na vida deles. Pela carta que eu encontrei, acho que ele, talvez, fosse o herdeiro político do meu pai. Ele era muito orgulhoso da trajetória do pai.” Adriana Medeiros Collares
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alceu collares
Filha
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“Na vida do homem, a coragem e o esforço são indispensáveis. (...) Assim, este homem vem procurando vencer na vida para dar oportunidade aos que não podem ultrapassar as barreiras da vida.” (Trecho de redação escolar de Júlio César Medeiros Collares sobre o pai, Alceu Collares)
Meus filhos Antônio Alceu e Júlio César
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Há pouco tempo me apareceu um menino pedindo o reconhecimento da paternidade e provou que era meu filho. Já tinha quase trinta anos. Durante a ação eu disse ao juiz: “Excelência, eles me proibiram de ter um filho. Proibiram que eu pudesse exercer a influência de pai na educação dele, escondendo-o de mim até os 26 anos.” Perdi um filho afogado, adotei uma filha e ganhei outro, o Genaro, filho da Neuza, que considero meu filho. Amo a todos do mesmo jeito. Esses laços são mais fortes que o sangue, talvez venham de outras vidas, de outra dimensão.
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Com a minha filha Adriana
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Com o Genaro, filho da Neuza, meu filho
O velho lĂĄ de cima me proporcionou uma sĂŠrie de aprendizados no campo da espiritualidade. Comecei no catolicismo, depois no kardecismo, umbanda, mas nada disso ameniza essa dor. Anos depois, a Olgui-
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nha, a sobrinha que me deu a noticia da morte do Júlio, foi atropelada por um ônibus. Se isso tem alguma coisa a ver com o passado, eu não sei. Se é uma espécie de fim de um estágio, em que a criatura termina para subir a outras esferas da espiritualidade, eu também não sei. Eu estudei no Atheneu Espírita pra saber o que vai ser o amanhã. E a conclusão a que chego como espiritualista é que é muito bom que seja assim. Melhor não tomar conhecimento do que será o amanhã para cada um e o momento da chegada da morte. Acho que isto que está aí tá super bem feito. A hora da morte ela não avisa e vem. Mas, se ela vier pra mim, eu vou dizer assim pra ela: “Te manda daqui, não tenho vontade de morrer.” Eu sou espírita e acredito que tem que devem existir outras esferas. Não é medo, só não tenho vontade de morrer. Quando cheguei a Porto Alegre, em 1956, fui assistir a uma conferência de um jovem, Moacir Araújo de Lima, que hoje é professor. Com apenas treze anos, ele fazia conferências no campo kardecista. Fiquei impressionado e passei a frequentar um centro espírita, do irmão Pereirinha, para desenvolver a mediunidade. Nós não sabemos ainda o que é a matéria. Tem ainda a física quântica que avança no campo da energia, da espiritualidade. Já li muito sobre o assunto e confesso que não tenho convicção sobre para onde vamos depois daqui. Claro que é para outra esfera, no campo da espiritualidade. Mas, às vezes, eu me pergunto: “Onde está a generosidade de Deus que permite que possam nascer na África aqueles que passam fome? Se ele pode tudo, tem esse poder fantástico, mirabolante, criou o mundo, porque só na Terra colocaria o ser humano inteligente, quando há milhares e milhares de planetas? Não será uma pretensão muito grande do ser humano?” Não é justo imaginar que Deus, podendo tanto, só iria criar o homem e a mulher, a inteligência e o saber. Por que um planeta que é um grão de areia na galáxia seria o único com vida inteligente? Eu tenho convicção que o espírito não morre, é imortal. Ele vai para outras esferas da espiritualidade. Ele pode reencarnar aqui na Terra, mas também pode ir para outras esferas da espiritualidade. Eu creio nessas outras vidas.
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VI UM HOMEM CHORAR Até 1974 todas as eleições eram indiretas. Os prefeitos, os governadores e os próprios presidentes eram nomeados, assim como os prefeitos de municípios com mais de 200 mil habitantes. Faziam o aspecto formal da eleição, como numa democracia, mas na realidade era uma nomeação, havia um conjunto de restrições ao processo efetivamente democrático. E houve aceitação de parte da oposição e da população brasileira de fazer essa convivência, e acho que isso ajudou a construir o término da ditadura. Mas, no Senado, a coisa era um pouco diferente. Lá, havia eleição direta, e a ARENA ganhava sempre, tinha uma representação sempre majoritária. Naquele momento, em 1974, com o povo já cansado da ditadura, dezesseis cadeiras, das vinte e duas renovadas naquele pleito, foram conquistadas nas urnas pelo MDB, pela oposição ao regime. Foram eleitos políticos que nunca imaginaram poder chegar ao Senado da República. O MDB não entrava na eleição direta porque sabia que ia perder, porque sempre perdia. Mas, nessa oportunidade, o povo virou o jogo. E a resposta da ditadura, arquitetada pelo general Golbery do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil da Presidência da República, veio, em 1977, com o Pacote de Abril, que, entre outras medidas autoritárias, criava os senadores biônicos, parlamentares escolhidos indiretamente por um colégio eleitoral, sem representação nenhuma, bastando ser
amigo da ditadura. O povo deu a eles o nome de senador biônico. Quem aprovou o tal pacote foi o Geisel, sim, o presidente Ernesto Geisel, aquele que estava incumbido de realizar uma abertura “lenta, gradual e segura” para devolver ao país a democracia e o voto direto. Após a grande vitória de 1974, três anos depois, nós já estávamos juntos, lutando para reorganizar o PTB. Não foi uma coisa que demorou muito tempo, porque o processo democrático também foi acelerando, por causa da luta eleitoral, da luta social e também porque, e é muito importante isso, porque foi eleito nos Estados Unidos um presidente raro na história deles. Entre os quatro ou cinco grandes presidentes que os Estados Unidos tiveram, um deles foi o Jimmy Carter. Ele se elegeu e um mês depois estava no Brasil. Baixou aqui com sua mulher, e foram ao presidente Geisel e disseram: “Ou acaba com a ditadura no Brasil, ou não tem mais ajuda americana”. E a mulher dele, a Rosalynn, exigiu que o Geisel informasse onde estava, onde se encontrava, onde a ditadura tinha colocado Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda, que tinha desaparecido. Ela pegou o avião do governo dos Estados Unidos e foi para Recife. E avisou o Geisel: “Eu vou para Recife e não saio de lá enquanto não entregarem ele”. O Geisel não sabia o que fazer com ela, nem com o Carter. Os Estados Unidos tiveram um papel importante naquele momento histórico, porque exigiram que acabasse com a ditadura aqui. Já não era mais o governo conservador americano, então o Carter, os americanos também tiveram um peso importante. Mas,
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de qualquer forma, essa conjuntura internacional favorável à luta,
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já de alguns anos do MDB, as lutas sociais, principalmente sindicais do ABC paulista e no resto do Brasil, também, houve lutas muito interessantes, criaram as condições para derrubar a ditadura. Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS
O Collares é um nome que honra o Rio Grande do Sul, uma das pessoas mais corretas que eu conheci. Eu senti a saída dele do MDB, mas ele seguiu o seu rumo de modo especial. O velho PTB terminou não sendo mais o que ele queria. Foi pro PDT, muito pelo carinho e amizade que ele tinha com Brizola. É um homem muito interessante, um homem de dizer as coisas, sempre franco em qualquer tribuna em que ele estivesse, e dizia também para o Brizola. Pedro Simon Ex-senador do RS
Conheci o Collares, nós dois já maduros. Foi em 1977, 1978, quando nós organizamos, aqui em Porto Alegre, a Associação de Estudos e Debates do PTB, porque naquela época ainda não podia se falar em partido político. Nós queríamos organizar o PTB de novo e formamos uma associação de estudos e debates para aglutinar o nosso povo. Foi nessas circunstâncias que eu conheci o Collares. Porque nós saímos pelo Rio Grande, em caravanas, por dezenas de municípios, levando a bandeira do Trabalhismo. O Collares foi um dos dirigentes dessas caravanas. E, a partir daí, desse conhecimento que tivemos naquela época, acabamos tendo uma relação muito próxima, muita sólida, que nos levou a trabalhar juntos por muitos anos. Eu tive oportunidade, então, de conhecer o Collares, conviver com ele no dia a dia, naqueles momentos difíceis ainda. Carlos Araújo
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Depois, com a redemocratização, chega o nosso magnífico, extraordinário e meu irmão, Leonel de Moura Brizola. Com a sigla PTB, Brizola seria presidente da República. É certo. Mas nós entramos atrasados com o pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral. E perdemos, por questão de minutos, a sigla PTB para a Ivete Vargas, sobrinha-
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Ex-deputado estadual do PDT-RS
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neta do Getúlio. Nunca vou esquecer o dia em que perdemos a sigla PTB. Naquele dia o Brizola chorou. E chorando rasgou um papel onde estavam escritas à mão as letras PTB. Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema sobre aquele episódio. Vi um homem chorar porque lhe negaram o direito de usar três letras do alfabeto para fins políticos. Vi uma mulher beber champanha porque lhe deram esse direito negado ao outro. Vi um homem rasgar o papel em que estavam escritas as três letras, que ele tanto amava. Como já vi amantes rasgarem retratos de suas amadas, na impossibilidade de rasgarem as próprias amadas. (Trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade sobre
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aquele momento da perda da sigla PTB)
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Brizola chorou ao perder a sigla do antigo PTB
Era extraordinário o amor que o Brizola tinha pelo que ajudou a construir. Ele ajudou a construir uma sigla, o PTB. E era um enxame
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de senadores, deputados, empresários aderindo ao Brizola com a sigla PTB. Aí nós perdemos a sigla, e houve um esvaziamento total, porque o Brizola sem sigla não era o candidato que eles imaginavam que chegaria com facilidade à Presidência da República. Mas o Brizola não esmoreceu. Recomeçamos do zero a construir a história de um dos maiores partidos da esquerda brasileira, o Partido Democrático Trabalhista, o PDT. Então, sai ele, na tentativa da sua fé, sua perseverança e sua teimosia, a construir uma nova sigla. Conversei com os deputados federais sobre a sigla. Entre eles havia o consenso de que o ideal para um partido seria uma sigla com poucas letras, no máximo três. Com quatro, nunca. O Brizola nos chamou para o Rio. Fomos para a casa do Cibilis Vianna, um apartamento abaixo do apartamento onde morava o Brizola. Ali estava o petebismo todo, o Trabalhismo: Darcy Ribeiro, Jerônimo Dias, Fernando Lyra. E eu levava a decisão da bancada federal: uma sigla com, no máximo, três letras. O Brizola, que vinha de uma visita ao Dom Evaristo Arns, não perguntou se nós tínhamos alguma conclusão. Chegou e foi dizendo assim: “O bom da sigla é P, porque a lei obriga; T, porque não podemos deixar de botar trabalhista; N, porque somos nacionalistas; e D, porque Dom Evaristo pediu”. Eu olhei para o Darcy Ribeiro e disse: “Darcy, repete a sigla”. E ele: “Não sei”. Quando eu disse para o Darcy Ribeiro repetir a sigla do chefe e ele respondeu que não lembrava, ficou claro que aquela sigla não servia. Então, eu disse para o Brizola: “O senhor vai defender a sua sigla, PTND, e eu vou defender a minha, PTD”. Não era PDT. O Brizola falou por hora e meia, e começamos, o Glênio Peres, o Marcos Klassmann, eu e outros, a levantar folhas com o PTD, que era o que nós queríamos. O Brizola se retirou da sala para se reunir com a cúpula do partido. Quarenta minutos depois voltou e disse: “Vocês me venceram”. É PTD mesmo, PTD. A sigla PDT foi criada pelo Lidovino Fanton, nosso deputado federal. Quando lançamos a nova sigla, PTD, em Brasília, eu era o líder
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da bancada. O Lidovino me chamou e disse: “Bota um riscozinho no D e fica PTB. Então, vamos criar a sigla PDT”. Foi assim que ele criou a sigla PDT. Então, a sigla PDT não foi o Collares quem criou, não foi o Brizola, foi o Lidovino Fanton. As letras PDT têm fonia, têm beleza para a pronúncia. Essa é a história que nós contamos do início da redemocratização.
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Após o exílio, Brizola retorna ao Brasil em 12/09/1979
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ROMANCE FORTE Em 1982 eu tinha uma reeleição como deputado federal praticamente garantida, mas, fui candidato a governador porque o Brizola pediu insistentemente: “Vai tu Collares. Fizeste 120 mil votos em 1978. Tu és um grande líder, tu tens que ir, tu és negro, abre esse teu verbo aí”. Eu dizia: “Mas Brizola, nós vamos perder. E eu só tenho o salário de deputado. Não tenho mulher rica como tu.” Ele insistia: “Vai, vai, vai!” Até que eu disse: “Não precisa dizer de novo. Eu já estou na história”. Fiz 800 mil votos, porque a política é como um jogo de pôquer. Tu entras com uma enorme quantidade de fichas e daqui a pouco perde e fica sem nada. Apesar da derrota, aquela campanha de 1982 foi extremamente importante para a construção do PDT e para o meu próprio futuro político. A partir daquele momento percebemos que poderíamos e que iríamos vencer. Era só uma questão de tempo. Eu perdi várias eleições e ganhei outras tantas. Mas, quando eu perco, é como se nada tivesse acontecido. Em 2006, fui candidato novamente ao Governo do Estado. Nossa candidatura tinha pouquíssimas probabilidades de sucesso e aquela eleição, já havia definido, seria a última que eu disputaria. O presidente do partido, o Matheus Schmidt, me convenceu a aceitar a missão para evitar que aventureiros tomassem conta do partido. Mais uma vez o projeto do partido prevaleceu. E acho que é assim mesmo que tem que ser. Quando se é soldado de um ideal os desejos pessoais ficam em segundo plano.
Em 1982, na primeira eleição do PDT, fui candidato ao governo do RS. (Foto da Convenção Estadual do PDT em 1982)
“É bom reavivar aquela oportunidade, em 1982, em que com todas as dificuldades, depois da fundação do PDT, o Collares, com uma candidatura para consolidar o nome do partido, foi candidato a governador do Rio Grande do Sul. Essa campanha, como em tantas outras que fizemos, com toda a precariedade de recursos e com um roteiro organizado a partir da fronteira oeste, foi fundamental para que logo ali, Alceu de Deus Collares fosse o prefeito de Porto
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Alegre e governador de todos os gaúchos”
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Afonso Motta Deputado Federal do PDT-RS
“Collares é um vencedor. Um homem que subiu pela sua própria força de vontade e que eu conheci quando chegou a Porto Alegre. Conheço a sua origem, a sua terra natal, que tanto eu gosto, que
é Bagé. Conheci ele já no fim da sua atividade nos Correios e Telégrafos, depois como vereador de Porto Alegre e mais tarde como deputado federal. O Collares foi um seguidor, na área da legislação social, do grande deputado Floriceno Paixão. Mais tarde, em 1982, encontro com ele, Olívio Dutra e Pedro Simon, na primeira eleição direta para o Governo do Estado. Lembro do último debate da campanha. Quando o entrevero começou, foi forte. Porque o Collares é homem de Bagé, de faca na bota.” Jair Soares Ex-governador do RS
“Eu conheci o Collares em 1982 após ter sido exonerada do cargo de diretora de uma escola estadual em Santana do Livramento depois de ter aderido àquela primeira greve do magistério. Quatro diretoras foram punidas. Um era do nordeste do estado e a Marília Azambuja, diretora do Instituto de Educação Flores da Cunha, de Porto Alegre. A Emilia Fernandes e eu éramos diretoras de escolas em Santana do Livramento. Fomos procuradas pelo PDT e convidadas a nos filiarmos. A minha família era trabalhista e o ingresso no partido era um caminho natural. Para a nossa filiação, o Collares foi especialmente à cidade. Tivemos um encontro formal onde ele abonou a nossa ficha. Ao longo daquele ano, acompanhamos a campanha eleitoral tra-
como candidato a governador do Estado. A nossa relação naquele momento era apenas de militância partidária.” Neuza Canabarro Esposa
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Fomos a Bagé e a vários outros lugares onde ele estava presente
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balhando pelas candidaturas do PDT.
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Durante a campanha de 1982 percorremos o Rio Grande do Sul construindo o PDT
“Ela vinha lá de Livramento, cidade extraordinária da nossa região, onde exercíamos um ativismo muito importante. A professora Neuza, junto com outras lideranças, foi daquelas que naquele grande movimento do professorado esteve a frente, a partir de Livramento, e depois veio trabalhar na Assembleia Legislativa já com a afirmação de quem havia participado ativamente daquele movimento.” Afonso Motta
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Deputado Federal do PDT-RS
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“Em 1984 vim morar em Porto Alegre. Fui designada pelo deputado Renan Kurtz, então presidente da Assembleia Legislativa, para representá-lo junto à Executiva do partido. Eu era presidente da Ação da Mulher Trabalhista, do PDT, em Livramento e fui recebida aqui no partido como liderança do magistério. Havia muito respeito. Comecei a militar no partido, trabalhan-
do na estruturação da nova sigla que reunia os trabalhistas. Fui uma das fundadoras do Movimento do Professor Socialista do PDT.” Neuza Canabarro Esposa
“Começamos a sair juntos pelo Rio Grande, eu, a professora Neuza e o governador Collares, sem eu mesmo saber que estava se iniciando um romance, um relacionamento, entre a Neuza e o Collares. Então, foram muitas andanças pelo Rio Grande, muitas vezes com precariedade. Nós mesmos fazíamos a manutenção do automóvel em que andávamos, trocando pneus e teve um dia, lá em Santiago do Boqueirão, que se estabeleceu um clima e eu comecei a desconfiar. Olha, aqui tem romance. E romance forte.” Afonso Motta Deputado Federal do PDT-RS
“A primeira vez que nos vimos como homem e mulher foi em abril de 1984. Ali começamos uma relação. Eu admirava a competência dele, o carisma, as ideias. Eu encontrei o Collares no primeiro momento da vida em que ele não estava lutando para sobreviver. Estava sem mandato, e estava mais livre até para olhar para dentro para ver a sua vida, para amar, para ver as pequenas coisas que dão prazer. São as pequenas coisas que fazem a felicidade.” Neuza Canabarro
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A Neuza é um sonho na minha vida que se transformou numa bela e generosa realidade. Eu não esperava. Ela lá de Livramento e eu de Bagé, cada um com suas caminhadas, com suas histórias até o momento em que nos encontramos.
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Esposa
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Nas reuniões do partido a Neuza e eu começamos a conviver e nos aproximar
“Nessa militância, no dia a dia, comecei a trabalhar com o Collares. De imediato houve uma afinidade muito grande entre nós. Ele criava projetos, inventava, e eu sabia como operacionalizar. Naquele momento o Collares era um político sem mandato. Tinha concorrido ao governo em 1982, ficou sem mandato, e estava trabalhando na reestruturação do trabalhismo em torno da nova sigla, o PDT. Vivemos grandes momentos, aventuras na construção do partido. Viajamos muito pelo estado. O Afonso Motta, o Carlos De Ré, eu e o Collares fizemos 34 viagens pelo interior do estado durante o ano de 1984. Falávamos sobre o Trabalhismo, fazíamos
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filiações. Íamos criando condições para que o PDT pudesse avançar.
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É lógico que o que mais me encantava era a bandeira da educação.” Neuza Canabarro Esposa
E foi esse abraço do destino, no momento em que eu vivia o auge de uma campanha, não só pra Prefeitura, mas depois pra governador
do Estado, que estava ali sempre a Neuza Canabarro, com sua competência, com seu saber como educadora, sua sabedoria como mulher, sua generosidade como mãe, como avó. Mas, principalmente, na compreensão de viver com um bagual, com um tipo quase primitivo como era e como sou ainda. Eu venho de falhas, eu venho de uma construção em que cada degrau era uma espécie de obstáculo para prosseguir a caminhada. A Neuza na minha vida foi um fator de extrema importância, de significação muito grande. Eu sou hoje o que a Neuza me fez. Ela ajudou a construir a minha personalidade, ela foi decisiva. A Neuza foi fundamental, principalmente para minhas horas de angústia, porque ela é muito forte, muito vigorosa. E traz a experiência da sua própria vida, com uma forma de viver e conviver de uma forma muito avançada, no meu entendimento.
“Só assumimos a nossa relação três anos depois, em janeiro de 1987. Não foi amor à primeira vista, mas um amor alicerçado na admiração mútua. Acredito que o que mantém uma relação é a cumplicidade, o companheirismo, a confiança. Desde o inicio eu estava sempre ao lado dele, fui uma aliada na construção da candidatura do Collares à Prefeitura de Porto Alegre, pois o partido já tinha outras candidaturas postas.” Neuza Canabarro
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Dentro do partido havia vários nomes e eu consegui sair candidato a prefeito. Depois, evidentemente, houve o confronto com os outros candidatos: Carrion Jr. do PMDB, Raul Pont do PT, Victor Faccioni do PDS. Foi uma vitória extraordinária do trabalhismo rio-grandense e porto-alegrense. Uma vitória muito expressiva do nosso trabalhismo que tem companheiros preparados, tanto no município quanto no estado. Quando fui prefeito e governador, demonstramos que os recursos humanos do trabalhismo são muito bons.
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Esposa
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Em campanha para a prefeitura de Porto Alegre (1985)
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GlĂŞnio Peres foi meu vice-prefeito. Acima a nossa propaganda de campanha
Com 249.200 votos fui o primeiro negro eleito pelo voto direto para a prefeitura de Porto Alegre
“O Collares foi o primeiro prefeito eleito após a ditadura. O povo
pegar aquela prefeitura do jeito que estava em apenas três anos. Nós, naquela época, não compreendíamos isso, tínhamos recém surgido, tínhamos que nos afirmar. E nós tínhamos feito a discussão e eu participava de um campo que achava que no campo
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res. Não era um mandato de quatro anos, foi de três anos, era um mandato tampão. Evidente que o Collares tinha problemas enormes,
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de Porto Alegre, após a ditadura, deu o seu voto e elegeu o Colla-
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democrático popular, a primeira eleição democrática, nós tínhamos que ir com todas as forças juntos. Mas não deu. E dentro do PT surgiu uma discussão. Teve parte do PT que já queria apoiar o Collares, eu fui um deles, não era maioria. Eu acho que aquilo já deixou algumas coisas arrepiadas, mas nunca perdi o respeito e a estima pelo Collares, como muitos petistas, mulheres e homens que vinham de uma matriz trabalhista, operária, sindical, ai tem muitos encontros no propósito, na luta social, no direito do trabalhador, no fim das discriminações, dos preconceitos. Nós só tínhamos encontros e acabamos nos desencontrando nessas coisas que não podem deixar de ser passageiras. O Collares foi sempre uma pessoa que avaliava isso, fazia gestos para a gente sentar, conversar.” Olívio Dutra
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Ex-Governador do RS
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Prefeito de Porto Alegre para um mandato de apenas três anos (1986 -1988)
NA MENTE E NO CORAÇÃO Eu era prefeito e tinha ambição. Tinha a ambição de realizar grandes projetos, de construir CIEPs, eu tinha ambições. Mas a maior era servir ao povo pobre, aos que não são ouvidos, aos que não têm voz. A participação popular era um sonho que eu acalentava.
Educação e participação popular eram os principais projetos
Ele saiu candidato a governador e a partir daí começamos a fazer o plano de governo. Durante a campanha, o Collares deu início a filiações, chamando técnicos de todas as áreas para montar o programa de governo. Chamamos os técnicos da Prefeitura, das secretarias e, para esses técnicos, que já eram simpáticos à candidatura, pedimos diagnósticos, alternativas e projetos que pudessem ser operacionalizados em cada área. Era a valorização da prata da casa. Assim avançamos muito no entendimento da realidade do município. Porque o técnico não sai com uma bandeira a bater de porta em porta pedindo votos, mas ele convence, ele trabalha acreditando. Então, isso que o Collares conseguiu imprimir na Prefeitura foi muito bonito. Quando chegamos à Prefeitura já tínhamos todo um diagnóstico da situação. Neuza Canabarro Ex-secretária de Educação de Porto Alegre
Fomos apresentados por um amigo em comum. Eu tinha algumas ideias para a cidade, estava sempre dando opiniões, tinha sido presidente do IAB/RS [Instituto de Arquitetos do Brasil] e estava publicamente aparecendo. E, numa conversa que tivemos, ele me colocou um plano ainda incipiente, e eu disse: “Com esse plano aqui o senhor não vai a lugar nenhum”. E ele desafiou: “Então me apresenta uma proposta”. Pedi trinta dias para trabalhar e que ele me disponibilizasse os dados que eu necessitava. Estava nascendo a Beira Rio. Assim nasceu a Avenida Beira Rio. Eu tinha naquela época um escritório na Avenida Borges de alceu collares
Avenida Beira Rio. Quando eu via, parava o carro do doutor Colla-
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Medeiros, no Largo dos Açorianos. Era uma loja com vitrine. A
res na minha vitrine, e ele descia com amigos, políticos, vereadores,
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partir do momento em que eu comecei a fazer o projeto, a loja se transformou em sede do projeto. E, constantemente, a qualquer hora do dia e mesmo da noite, porque a gente trabalhava muito à noite, o doutor Collares aparecia para mostrar o tal de projeto da
quem estivesse visitando a cidade, para mostrar. Nós mandamos fazer painéis, e o meu escritório virou uma sala de exposições. Em uma ocasião, ele levou o dono da RBS, o falecido Maurício Sirotsky, que ficou muito entusiasmado com a história e acabou publicando aquele negócio todo e começou a dar conhecimento público àquilo que estava sendo planejado. Logo no início do processo alguns viram isso como, talvez, alguma coisa ardilosa e começaram a fazer uma oposição muito acirrada. Por outro lado, porque também viram que aquilo poderia ser um grande sucesso político. O doutor Collares disse assim: “Vamos organizar palestras em todos os bairros de Porto Alegre para apresentar o projeto”. E assim foi feito. A gente ia a reuniões com cinco, seis pessoas, em associações de moradores. Nós fizemos cerca de oitenta palestras. Agendávamos e lá nós íamos apresentando o projeto, vencendo barreiras. Ele foi um batalhador nessa história, e eu o acompanhava nessas incursões. Teve muita oposição. Uma deputada, depois de perdidas todas as batalhas, na inauguração da avenida, ela deitou no asfalto quando nós estávamos nos dirigindo para cortar a fita inaugural. Uma situação hilária. O Collares disse: “Vamos seguir em frente”. E passamos por ela e fomos lá cortar a fita da Beira Rio. Foram muitas as batalhas, a oposição foi muito grande. Até que conseguimos. A cidade passou a ter um desenvolvimento do lado sul muito forte a partir desta avenida, a zona sul foi redescoberta. Vários empreendimentos novos surgiram a partir desse novo caminho. Eu diria que, se não existisse a Beira Rio, a zona sul não seria o que é hoje. Por outro lado, a cidade passa a conviver com seu
Jorge Decken Debiagi Arquiteto e urbanista Autor do projeto de implantação viária da Avenida Beira Rio
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cidade reencontrou o rio.
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rio, com o pôr do sol. É um lugar fantástico. Com a Beira Rio a
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Avenida Beira Rio, em Porto Alegre
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O Collares assumiu a Prefeitura de Porto Alegre, e eu fui trabalhar com ele como chefe de gabinete. A Terezinha Irigaray, que era vereadora, assumiu a Secretaria de Educação. Quando a Tere-
zinha saiu, quatro meses depois, eu assumi para dar continuidade ao trabalho. Naquela época, a Secretaria abrangia um leque bem amplo de projetos nas áreas de educação, cultura, esporte e lazer. Era uma só secretaria para cuidar de tudo. Contávamos com apenas três cargos em comissão e todas as obras tinham seus projetos desenvolvidos dentro da própria secretaria. Foi a valorização do funcionalismo municipal que possibilitou se alavancarem tantas obras. Eram profissionais excelentes, com estudos fantásticos sobre a cidade, que não eram aproveitados adequadamente. Tivemos muitos momentos de luta, a construção do Ginásio Tesourinha, a reforma do auditório Araújo Vianna que estava interditado há mais de um ano e foi recuperado em apenas quatro meses. Neuza Canabarro Ex-secretária de Educação de Porto Alegre
Eu fui o fiscal da obra da Usina do Gasômetro. Trabalhava no Serviço de Prédios Escolares que era um departamento da SMEC. Esse departamento era responsável pelas obras das escolas, e por isso pela obra do Gasômetro, que seria uma escola. O departamento também era responsável pelas obras do Ginásio Municipal, dos CIEPs e por outras obras da Secretaria. A Usina do Gasômetro é de 1928. É uma das primeiras estruturas em concreto armado de Porto Alegre. Em 1986, porque estava abandonado há muitos anos, era um escombro. Na parte de estrutura tinha vigas grandes de um metro de largura por um metro e oitenta de altura, rompidas, com fissuras por onde passava uma mão e com ferros aparentes. Estava
rachadura enorme, de quase vinte metros. A Usina do Gasômetro estava liquidada. Carlos Marcelo Larruscahim Hamilton Ilha Engenheiro
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enferrujadas. A chaminé, que tem 117 metros de altura, tinha uma
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caindo, totalmente destruído. As janelas enormes estavam muito
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Recuperar a Usina do Gasômetro não foi fácil. Primeiro, porque não tínhamos essa reforma prevista no orçamento e, segundo, porque havia um grupo na oposição que não queria a obra. Mas eu dispunha no orçamento da Secretaria de Educação verba para construir uma escola técnica de ensino fundamental básico com 3.400m². Os engenheiros e arquitetos da Prefeitura garantiram que o valor era suficiente para a recuperação do prédio. E foi dessa forma que conseguimos recuperar a Usina do Gasômetro para, entre outras atividades, abrigar uma escola técnica. Havia espaço também para a instalação do Museu do Trabalho. Neuza Canabarro
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Ex-secretária de Educação de Porto Alegre
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Lavagem das paredes da Usina do Gasômetro
A paixão que se tem pelos projetos é que faz com que a gente se mexa, leve as coisas adiante, e supere, às vezes, a falta do conhecimento técnico sobre alguns detalhes. Quando soube que era preciso lavar a Usina para retirar os resíduos do carvão e que isso poderia ser feito pelo Corpo de Bombeiros, eu fui lá e saí com o compromisso da corporação para com o projeto. Achei que estava solucionado o problema. Mas dias depois o Corpo de Bombeiros me entregou a relação do material necessário. Levei um susto enorme. Hidrantes, equipamento de segurança, uma quantidade tão grande de produtos e equipamentos que não tínhamos como comprar. Saímos pedindo ajuda às empresas gaúchas e criamos uma parceria público-privada que permitiu a limpeza do prédio. Neuza Canabarro
Nesta foto acompanhávamos a obra de restauração da Usina do Gasômetro.
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Ex-secretária de Educação de Porto Alegre
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Acompanhei, como fiscal da Prefeitura, a parte da obra civil da restauração. A recuperação estrutural foi anterior e durou seis meses. Foi recuperada toda a estrutura de concreto que estava muito deteriorada. A Usina foi praticamente reconstruída. As imensas janelas em ferro foram jateadas com jato de areia. Isso deu um trabalho enorme, porque, além de grandes, eram muito pesadas. A obra foi dividida em três licitações: estrutura, reforma e elétrica. A elétrica era toda externa, independente da reforma. Quando o governo terminou, em 1988, essa parte elétrica não estava totalmente finalizada, mas a parte da restauração estava totalmente pronta, pisos, estruturas, esquadrias, vidros, tudo estava pronto. Só o que faltava era uma parte elétrica. Uma coisa mínima perto do volume da obra feita lá. Quem passa no Gasômetro hoje vê apenas um prédio, mas ninguém imagina o trabalho que deu. Na época, aquele era um lugar onde ninguém achava que valia a pena investir. Era uma zona marginalizada no centro da cidade. Hoje, a Usina do Gasômetro é um marco de Porto Alegre. Carlos Marcelo Larruscahim Hamilton Ilha
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alceu collares
Engenheiro
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A Usina do Gasômetro foi restaurada entre 1986 e 1988
Durante a campanha eu havia trabalhado no plano de governo para a área de educação. Logo que assumiu, o Collares lançou o projeto Nenhuma Criança sem Escola e, com a saída da Terezinha Irigaray da Secretaria, acabei assumindo a pasta. Era um mandato atípico, um mandato tampão de apenas três anos, então, foi um período intenso, de muito trabalho, mas de grandes resultados. Em apenas três anos recuperamos todas as escolas municipais. E construímos 19 Centros Integrados de Educação Pública, os CIEPs, que eram escolas de turno integral totalmente equipadas para atender a criança o dia inteiro. Outra batalha na Educação foi em relação ao salário dos professores. Conseguimos, depois de exaustivas reuniões com os professores, elaborar um plano de carreira para o magistério municipal que foi aprovado em junho de 1987. Quando deixamos a Prefeitura de Porto Alegre, era o melhor plano de carreira de todo o Brasil. Também construímos 22 Casas da Criança, abrindo 2.560 vagas para a faixa etária de zero a sete anos de idade. Também criamos albergues para menores de rua, numa parceria com o Lar da Esperança, uma entidade filantrópica que atende crianças e adolescentes em situação de abandono. Neuza Canabarro Ex-secretária de Educação de Porto Alegre
Acompanhei as obras dos CIEPs da Restinga, do Parque dos Maias, da Chácara da Fumaça. Os prédios eram modulados, compostos por blocos de salas de aula, de banheiros, ginásio, pátio coberto, jardim da infância, refeitório, reservatório. Esses módulos eram padronizados e implantados de acordo com o terreno. Os
qualquer detalhezinho era muito estudado. Eu lembro que até a
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calha do giz do quadro negro tinha um projeto especial, um lugar
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projetos eram feitos pelo Serviço de Prédios Escolares da SMEC. Era um processo muito interessante. Como a equipe trabalhava há muitos anos com projetos de escolas, fazia um feedback sobre os próprios projetos e iam aperfeiçoando. Então, tudo estava pensado,
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para sair o pó de giz, uma coisa que jamais alguém pensaria se estivesse projetando sua escola pela primeira vez. Naquele período, se construiu muito. A prioridade era a educação. Carlos Marcelo Larruscahim Hamilton Ilha Engenheiro
Cozinha de um dos 19 Cieps construídos em Porto Alegre
Collares assumiu como prefeito sem nunca ter sido do Executivo. Ninguém tinha sido do Executivo em nada. Estávamos ali,
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vivendo uma experiência nova, e tínhamos que costurar aquilo,
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íamos botando um aqui, outro lá, mudávamos. Nós também não tínhamos muitos quadros, mesmo assim, teve dois fatos extremamente significativos na administração do Collares. Um foram os CIEPs, o outro, que não é muito enfocado e colocado em relevância, foi o Orçamento Participativo. Eu acho que esses dois traços bastam para dizer o que foi o governo Collares, o significado dele. Um
significado popular, trabalhista sobretudo, dando uma autonomia relativamente grande aos movimentos populares. Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS
Fui o primeiro prefeito a implantar em Porto Alegre a participação popular nas decisões sobre o orçamento. Criamos os Conselhos Populares aqui na Prefeitura. Era um instrumento de tentativa de conscientização da sociedade, que pudesse despertar e elevar a consciência coletiva da comunidade, para ela saber exigir seus próprios direitos. Então, criamos o primeiro Conselho Popular, e fizemos a experiência no bairro Sarandi. Lá, havia vinte associações, e os presidentes traziam a legitimidade da escolha feita em cada uma delas. Fiz uma reunião com eles, disse o valor disponível e pedi que apontassem a prioridade das prioridades. Depois de duas ou três reuniões eles decidiram. Queriam a canalização de um valão de um quilômetro e meio onde já havia morrido uma criança. E nós fizemos a canalização. Após a obra, sobrava uma pequena área na frente das casas. Criamos um programa de aproveitamento dessas áreas: cinco metros quadrados na frente de cada casa. E os moradores começaram a plantar ali verduras, flores, hortaliças. O Orçamento Participativo, nós começamos. Eu me recordo como se fosse hoje, e foi o Collares que tomou a iniciativa. Nós começamos a fazer reuniões em Porto Alegre para discutir em cada região onde seria aplicado o orçamento. Uma das primeiras
falar naquilo que seria decidido naquela noite, onde a Prefeitura iria aplicar tantos milhões de cruzeiros na região sul. Isso foi uma antecipação do Orçamento Participativo. Na prática, houve uma participação efetiva das associações de bairro, dos clubes de mães
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nião que encheu. Foi uma multidão, porque nunca tinham ouvido
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grandes reuniões que nós fizemos foi em Belém Novo. Uma reu-
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e outras entidades na escolha, na decisão, de onde seria aplicada a verba destinada para cada região. Então, o governo Collares é um governo precursor do Orçamento Participativo. Carlos Araújo
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Ex-deputado estadual do PDT-RS
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Eu acredito que o povo deve ser ouvido nas decisões que vão afetar a sua vida. Em Porto Alegre, existia o Conselho do Desenvolvimento do Centro, que administrava o Mercado Público. Era dominado por um empresário que encrencou com os comerciantes do Mercado. Argumentava que o aluguel das lojas no Centro era mais alto do que o aluguel daqueles espaços, e dizia que os comerciantes dali estavam ganhando, tendo vantagens. Começamos a negociar os valores de administração, e foi indo, foi indo. Quando chegou a 70% de reajuste, 70%, eu disse: “Chega, não precisamos de vocês!”Fizemos um projeto de lei e enviamos para a Câmara Municipal. E criamos, em 1987, com a Lei 5.994/87, o FUNMERCADO, o Fundo Municipal do Mercado Público, que é constituído pela receita arrecadada das permissões de uso. Esse fundo serve para cobrir os custos com a restauração, reforma, enfim, para a manutenção do prédio. Entregamos a administração do FUNMERCADO para a Associação do Comércio do Mercado Público Central. Em 2013, quando um grande incêndio destruiu parte do prédio, esse fundo tinha uma reserva que permitiu o início da reconstrução do nosso Mercado Público, um símbolo da Capital que resiste ao tempo e guarda parte da história de Porto Alegre. Experiências como os Conselhos Populares e o FUNMERCADO eram extremamente positivas e me estimulavam a pensar e tentar, tentar viabilizar formas outras de transferir poder, dar maior autonomia ao povo nas decisões administrativas. Era como uma ideia fixa que não saía do meu pensamento. Uma ideia que passei a elaborar e ampliar naqueles dois anos sem mandato entre o final da gestão na Prefeitura e o início do mandato no Governo do Estado.
A população participava das decisões orçamentárias
Essa ideia, justiça seja feita, pelo menos o seu embrião, estava na mente e no coração do governador, para atender duas facetas que eram a participação popular e a regionalização. Ele se impressionou muito com iniciativas que a gente viu durante a campanha. Por exemplo, uma articulação que havia na região de Ijuí em torno
questões dos conselhos regionais. Então a ideia foi sendo lapidada, e foi implementada pelo governador. Eu participei, a Secretaria de Desenvolvimento foi o órgão do Estado que geriu essa política de
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também um grupo de Santa Maria que tinha um estudo a respeito, que foi quem fez a base para alimentar do ponto de vista teórico as
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de ciência e tecnologia deixou ele muito impressionado. Havia
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implantação, com essa visão. A visão do governador é de que as regiões deveriam participar da decisão do orçamento, do investimento do Estado no orçamento. Eu complementava isso com a visão de que nós iríamos articular cada região para terem um panorama estratégico das pretensões daquela região, das potencialidades. João Gilberto Lucas Coelho Ex-vice governador do Rio Grande do Sul
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Candidato a governador, durante a campanha eleitoral, eu já estava elaborando o programa de governo, assim como fizera na campanha para a Prefeitura. Quando assumi, já tinha os secretários, quase todos, escolhidos. Era só nomear e começar a governar imediatamente. A vantagem de ter um programa de governo elaborado durante a campanha é que se vai fazendo a coleta de sugestões. Uma quantidade muito grande de ideias são debatidas e fornecidas para o programa de governo. E isso gerou um movimento social muito grande em prol da nossa candidatura.
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Durante a campanha ao governo elaboramos projetos como a escola de turno integral
No momento em que o Collares foi definido como candidato ao Governo do Estado, de imediato ele começou a estabelecer o seu plano de governo. O plano de governo não era uma coisa de iluminados, era uma coisa de muito esforço e muito estudo, muita pesquisa e indagação a respeito do estado. Esses estudos foram feitos por centenas de pessoas e acompanhados pari passu pelo Collares e algumas pessoas da sua confiança. Desse estudo, resultou uma síntese, consultada a comunidade, indagadas no Rio Grande do Sul inteiro as instituições, inclusive religiosas, as organizações sindicais, as organizações de bairros, foi um trabalho enorme realizado antes do governo. Orion Cabral Ex-secretário da Fazenda do RS
No Estado ampliei a experiência dos Conselhos Populares criando os COREDES, Conselhos Regionais de Desenvolvimento Econômico. Foi o resultado de um amplo debate e articulação com a sociedade organizada a fim de viabilizar a institucionalização deste que considero um instrumento de participação popular dos mais avançados. Os COREDES foram criados pela Lei 10.283/94 e regulamentados pelo Decreto 35.764/94, no último ano do meu governo. Mas, na prática, já vinham sendo organizados, funcionando, ao longo dos quatro anos em que governei o Rio Grande do Sul. Foi um governo de centro-esquerda? Sim. Um governo que pode ter agradado certos setores empresariais? Sim. Porque era um
e empresários se acertavam. E havia ali figuras marcantes, e o Conselho tinha um bom grau de entrosamento, de entendimento. Quando o Collares quis mexer no ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] teve um choque grande, e houve
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criou um Conselho de Desenvolvimento em que trabalhadores
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governo de muita resposta. Eu lembro que o governador Collares
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um conflito fortíssimo dele com o Anton Karl Biedermann, que na época presidia a FEDERASUL [Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul], e era figura proeminente desse Conselho de Desenvolvimento pela sua atuação. Então houve também a crise. Mas havia normalmente muitas ideias. Muitas providências transcorriam no Conselho e no resultado desse Conselho. Então era um governo de diálogo com os setores, mas também de crise. Porque isso é característica da personalidade, do estilo do governador: não recusa briga que se coloque na frente dele. João Gilberto Lucas Coelho
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alceu collares
Ex-vice-governador do Rio Grande do Sul
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Outra experiência de dar à população o poder de decisão foram os Pedágios Comunitários, criados pelo Matheus Schmidt, que era o Secretário de Transportes do Estado. Nesse formato de pedágio, os valores das tarifas eram aplicados na mesma região onde estava aquele posto de pedágio. Serviam para a manutenção da estrada, e quem decidia as prioridades eram os integrantes do Conselho Regional. Assim como os Conselhos Populares criados durante a gestão na prefeitura, de 1986 a 1988, os COREDES são uma forma de democracia direta, onde, através da participação popular, são definidas e executadas as estratégias para o desenvolvimento das diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Os COREDES são uma verdadeira escola de cidadania, onde entidades das mais variadas áreas de atuação trabalham de forma organizada, cooperada, pensando em conjunto o que é melhor para os municípios de sua região. Fico muito feliz que hoje todo o COREDE tem um plano estratégico para a respectiva região. Foi uma coisa que se consolidou ao longo do tempo. Veja que passaram diferentes partidos, diferentes
orientações para o Estado do RS, e todos, alguns até com resistência no início, mas todos tiveram que, ao longo do tempo, aprender a trabalhar com os Conselhos Regionais de Desenvolvimento. João Gilberto Lucas Coelho Ex-vice-governador do Rio Grande do Sul
Os COREDES são fruto da observação da sociedade, de suas formas de organização, das minhas convicções, resultado de um ideal. Um desejo de ver construída a verdadeira democracia: um governo do povo e para o povo. Acho que conseguimos deixar uma resistente, forte e bela semente. Hoje os COREDES ainda estão aí. Vinte anos depois continuam a existir, se consolidam a cada ano. E o mais importante é que não dependem de governos ou partidos. São do povo gaúcho. Esse foi um sonho que eu tive a felicidade de ver realizado. Outra questão que me toca muito, que foi criado no governo Collares, foi o Programa de Qualidade RS, ou seja, um programa de qualidade e produtividade para dentro da máquina estatal, mas também para todos os agentes econômicos, sociais, da comunidade gaúcha. O Programa de Qualidade hoje é um sucesso enorme, tantos anos depois. E foi plantado e implantado no governo Collares. João Gilberto Lucas Coelho
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O Programa Qualidade RS, ou PGQP, Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade, que está aí fazendo um enorme trabalho, preparando pessoas, empresas, organizações, no campo da gestão, foi criado no nosso governo. Em outubro 1992, realizamos um seminário reunindo os COREDES numa grande articulação com segmentos representativos da sociedade gaúcha e da iniciativa privada. Trouxemos o guru da gestão no Brasil, o professor Vicente Falconi,
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Ex-vice-governador do Rio Grande do Sul
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e começamos ali a divulgar e implantar os conceitos da qualidade no setor público do Estado e, também, na iniciativa privada. O meu sonho era transformar o Estado do Rio Grande do Sul num referencial de qualidade para o país. O empresário Jorge Gerdau Johannpeter era um dos conselheiros. Criado em 1992, veio com a missão de promover a competitividade do Rio Grande do Sul para melhoria da qualidade de vida das pessoas através da busca da excelência em gestão com foco na sustentabilidade. É considerado um dos maiores patrimônios gaúchos na disseminação da Qualidade e melhoria da gestão das organizações. Foi mencionado, inclusive, na Agenda 2020 como um dos principais acontecimentos do Estado em sua década de criação. Envolve mais de 9,5 mil organizações, entre iniciativa privada, órgãos públicos e terceiro setor, e cerca de 1,3 milhão de pessoas relacionadas com a Gestão da Qualidade. Nestes 20 anos, o PGQP construiu uma rede de 80 comitês setoriais e regionais, permeando o estado do Rio Grande do Sul e diversos setores da economia gaúcha. Centenas de exemplos e frentes de atuação de grande relevância têm servido, inclusive, como motivação e referencial para outros estados brasileiros.
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(Texto extraído do site do PGQP)
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Em 2012, quando completou 20 anos, o PGQP prestou uma homenagem a pessoas que contribuíram com o Programa, eu fui um dos homenageados. Só se esqueceram de dizer que quem criou o Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade fui eu. Ele nos trouxe a experiência do Programa Gaúcho de Qualidade Total. Em 2007, na primeira reunião, disse: “Olha, instituímos no Rio Grande do Sul um procedimento de acompanhamento por processo. Cada procedimento, cada uma das ações, cada um dos
projetos tem que ter um acompanhamento. Tem que ter um cronograma, quanto vai gastar, quando vai começar, quando vai ficar pronto e quem é o responsável”. Nós fomos buscar essa experiência que tomou conta do Brasil, inclusive de empresários brasileiros famosos que adotam exatamente esta metodologia. E desde 2008 implantamos aqui dentro da Itaipu essa experiência exitosa, trazida através dessa ideia do governador Collares. E finalizo com uma outra questão importantíssima nesse processo. Nesse período, Itaipu teve os maiores recordes de produção de energia, a atualização tecnológica está em ordem, pagando todas as suas obrigações e terminando de pagar, exatamente como diz o tratado, através da sua própria geração de energia, e ampliando essa visão para fazer o desenvolvimento territorial da área onde está inserida Itaipu que é o projeto Cultivando Água Boa, que ganha prêmios internacionais exatamente pela boa prática na conservação dos solos e da água. Em tudo isso tem o dedo, tem a ideia e tem a impressão digital de Alceu Collares. Jorge Miguel Samek
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Levei para o conselho da Itaipu Binacional a nossa experiência no campo da qualidade
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Diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional
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NÃO É UM CANTEIRO DE ROSAS Chegamos ao Piratini depois de uma campanha muito forte com um adversário muito leal, o Nelson Marchezan. Era o terceiro homem da ditadura, assim mesmo eu nunca tive conhecimento de que o Marchezan tenha se prevalecido da força para prejudicar qualquer pessoa no Brasil. Por isso, por ele, eu tinha uma enorme admiração. E na campanha, no segundo turno, com 2 milhões e 400 mil votos ganhei a eleição.
Campanha para o governo do Estado em 1990
Há um lance da campanha ao Governo do Estado que mostra bem o temperamento do Collares. Nós estávamos em cima de um carro de som, numa enorme carreata em Porto Alegre, e alguém lá do segundo andar de uma casa fez um gesto agressivo em relação ao Collares. Ele desceu do carro, se dirigiu a casa e, naturalmente, a segurança de campanha foi lá segurá-lo porque ele estava indo bater na casa para acertar as contas com quem lhe tinha feito a ofensa. E este é o lado humano dele, é um lado interessante, é um lado marcante, um lado de uma pessoa que realmente cria fatos, mas também compra brigas. O governador é uma pessoa que não tem medo, enfrenta situações, crises. O governo teve também seus conflitos, foi um governo de muitos conflitos, esse é um lado negativo, mas também foi um governo de muitas medidas afirmativas para o Estado e para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul. João Gilberto Lucas Coelho
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Posse como governador do Rio Grande do Sul (1991)
Trazia um conjunto fantástico de propostas, de projetos, de programas. Porque, fora o primeiro, tanto na Prefeitura quanto no Governo, que na campanha eleitoral já estava elaborando um projeto de governo para, se eleito, no dia em que assumisse, poder dar a cada secretário 10, 15 páginas sobre a sua área: da saúde, da educação, do transporte, das estradas. Não era um programa desses feitos por marqueteiros e publicitários. Era um trabalho científico, técnico, elaborado ouvindo a sociedade e lapidado ao longo de cada campanha. Depois de assumirmos, cada secretário pegava a sua responsabilidade e, de 15 em 15 dias, eu reunia o primeiro escalão, e pedia aos secretários um balanço de cada projeto, de cada situação a ser enfrentada. Eu preciso dizer que esse procedimento eu nunca tinha visto antes, isso foi uma ideia do Collares, de fazer esse plano e o caderno de encargos. Mas eu acho que foi extremamente produtivo. Porque o que eu tenho visto é os governos começarem a tomar pé e tomar decisões em função das pressões do momento. Orion Cabral
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Primeiro tivemos que enfrentar o problema das contas, vinha um déficit orçamentário, uma dívida, que não tinha como pagar. E era a Zélia Cardoso de Mello, a ministra da Fazenda do Governo Collor. E ele com aquela balaca de combater os marajás, rebentar com os marajás. E ela pressionava, coagia, todos os estados e municípios que tinham dívidas a fazer um acerto, uma negociação. Ali, eu comecei o movimento de federalização da dívida dos estados e municípios, porque o governo federal veio fazer as cobranças, e disseram que o Estado tinha que comprometer 13% da receita. Os juros eram de seis a nove por cento do IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), o indexador das dívidas dos estados,
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e tinha ainda a inflação. E eu disse: “O máximo que posso pagar é 7% da renda líquida, mais eu não posso pagar e não vou pagar”. E não paguei. E ameaçavam fazer uma intervenção no estado. E eu dizia: “Então, façam!”. Foi uma determinação do governador Collares uma moratória de três meses para que nós pudéssemos definir as prioridades. A Secretaria da Fazenda era o lugar mais obscuro que existia. O desenvolvimento das finanças do estado, as projeções de receita e despesa não eram claras. Não nos satisfaziam. Nós não estávamos com as informações que gostaríamos de ter. E por isso se deu uma moratória de três meses. Orion Cabral
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Jornal Zero Hora 19/03/1991
Nós não tínhamos assumido, e o CPERS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul) já estava ali na frente, batendo panela. Pedimos uma trégua, eles não deram e continuaram em greve, trinta dias, quarenta dias. O Estado sem dinheiro, e o CPERS exigindo aumento. Decretamos uma moratória, e eles não terminavam a greve. Então, decretamos um novo início de ano letivo para maio, e a greve se transformou em férias. Eu sempre defendi o direito dos trabalhadores, o salário justo. Mas, acima de tudo, sempre defendi o mais fraco, aquele que não era ouvido. E, naquela situação, o mais vulnerável era o aluno, crianças privadas do ensino, golpeadas em seu direito à educação. Quando assumimos a Educação no Rio Grande do Sul, nós tínhamos um caos. A Educação não tinha planejamento em relação às escolas. Uma escola só deve ser colocada onde há demanda, mas aqui elas eram construídas onde havia cabo eleitoral. Eram 3.200 escolas sem planejamento. Em algumas escolas, faltavam vagas; em outras, sobravam. Uma escola na Ilha da Pintada tinha só quatro alunos. Então, havia necessidade de construir onde não havia escola nenhuma, aumentar a capacidade das escolas onde havia muita procura e até mesmo fechar algumas. Por isso implantamos o calendário rotativo, apelido dado ao Programa de Aproveitamento Integral do Espaço Escolar. Quando o projeto foi questionado no Supremo Tribunal Federal, nós explicamos que o apresentamos no plano plurianual e foi aprovado por unanimidade. Além disso, a ideia de novos calendários também está prevista no ECA [Es-
poderia ser de até 30%. Ora, se o estado tinha 3.200 escolas, uma amostragem de 10% seria o equivalente a 320 escolas. O programa de Aproveitamento Integral do Espaço Escolar foi implantado em apenas 96 escolas. Ganhamos a ação, mas nos incomodamos muito. Uma mulher que aceita desafios, em uma Secretaria forte, e ainda,
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deveria implantar como teste em apenas uma amostragem, que
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tatuto da Criança e do Adolescente]. O Supremo decidiu que se
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um negro no governo. Isso incomodava muita gente. Muitas vezes vi o preconceito, o racismo, a discriminação. Quando a CPI da Propina não deu em nada, um deputado do PT disse: “Pelo menos o Collares não chega ao Congresso como senador”. Neuza Canabarro Ex-secretária de Educação do RS
O pior foi que a Neuza queria arrumar tudo. E tinha na parte residencial do Palácio Piratini um abandono, uma sujeira. O banheiro, desde o vaso, tudo arrebentado, tudo quebrado, foi a primeira coisa que ela mandou consertar. E o deputado Beto Albuquerque entrou com uma ação popular dizendo que nós estávamos gastando milhões na reforma do banheiro. Ela guardou as notas e um dia fez uma exposição na frente do Palácio. Pegou todas as peças, todo material que tinha sido tirado do banheiro e expôs para mostrar que a reforma tinha que ser feita, senão seria uma irresponsável com o patrimônio público. No Governo do Estado, nós sofremos pressão, oposição, de todos os lados. Quando chegamos ao Palácio, mandei reformar um banheiro que estava destruído. Sofremos uma ação popular que durou 13 anos. A decisão judicial foi a de que era obrigação do governo fazer a manutenção do Palácio Piratini. Neuza Canabarro
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Vou citar um caso concreto que eu lembro bem, foi a reforma do banheiro do Palácio. O deputado Beto Albuquerque estava começando uma carreira política, fez daquilo um cavalo de batalha, e a imprensa assumiu. Mas, com relação à imprensa, eu tenho uma outra ótica. É que houve um desentendimento entre o Collares e a Empresa Jornalística Caldas Júnior, entre a campanha e
posse no governo. A Caldas Júnior que reunia o jornal Correio do Povo, Rádio Guaíba, TV Guaíba, pertencia ao Renato Ribeiro, e os apresentadores dos programas da Guaíba fizeram uma campanha sórdida contra o governo do Collares desde a sua posse. Essa campanha mudou a estratégia da RBS, do Grupo RBS. A cada governo que assumia, a RBS dava um crédito de confiança de seis meses, levava livre, apontava algumas coisas, mas não era uma postura crítica. Mas a crítica exacerbada da Caldas Júnior levou a RBS a adotar um posicionamento crítico também, pois não ia deixar o concorrente ocupar sozinho esse espaço de crítica ao governo. Então, não teve folga. E isso foi muito problemático, no meu entender. Carlos Bastos Ex-secretário de Comunicação do RS
Não havia monotonia em nenhum momento do governo, era um governo sempre muito dinâmico, inclusive com as suas complicações. Eu acho que uma personalidade como a do Collares tem uma grande vantagem. É um homem que não teme tomar decisões e que, à frente do Estado, sempre foi muito afirmativo, tomou decisões sempre que necessário. Esse lado dele tem um ônus que é justamente, significa também, que é afeito ao conflito. João Gilberto Lucas Coelho Ex-vice-governador do RS
um grande erro. Ele não se preocupou em conseguir uma maioria na Assembleia, ele tinha todas as condições de conseguir essa maioria, porque o PMDB tinha apoiado ele no segundo turno, as lideranças do PMDB estavam maduras para integrar o governo dele. Era possível fazer um acerto e convidar quadros do PMDB
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com uma coragem política incrível, e aí eu acho que ele cometeu
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O meu amigo Alceu Collares é um homem desassombrado,
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para integrar o governo, e isso daria maioria pra ele na Assembleia. Mas o Collares resolveu constituir o governo com os partidos que apoiaram a candidatura dele, e principalmente com o PDT. Acho que isso foi mal no governo dele, porque tivemos minoria na Assembleia, e então surgiu a CPI da Propina. Outra prova do desassombro do Collares é que, quando o João Luiz Vargas, que era o líder do governo na Assembleia, chegou com a notícia de que estava se preparando a criação da CPI da Propina, o Collares disse que ele tinha que ser o primeiro a assinar e pedir pra todos os deputados que integravam a nossa bancada assinarem também o pedido de CPI. E ela causou aquela desgraceira pro nosso governo. Carlos Bastos Ex-secretário de Comunicação do RS
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alceu collares
Um dia eu estava tomando café com a família, com a Neuza, com a mãe dela e os filhos, e veio o meu líder, o João Luiz Vargas, e disse que estavam colhendo assinaturas para fazer uma CPI porque havia setores que estariam pedindo propina. Eu me levantei, peguei o papel, e disse: “Vai lá e assina em primeiro lugar. CPI é um instrumento das oposições e minorias destinado a fazer a apuração total de uma ou outra irregularidade, e isso é benéfico para coisa pública”. Só que eles transformaram a tal CPI em palanque político para bater, principalmente, na Neuza, porque sabiam que meu grande amor é a Neuza. Batiam na Neuza para bater no nego veio. Mas batiam desesperadamente, ficavam batendo na gente como num cachorro louco.
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Prejudicaram a carreira dele. O Collares era candidato natural ao Senado e teria uma boa eleição dentro de uma situação de normalidade, mas essa campanha, a CPI, essa guerra de guerrilha contra a gestão dele desestruturou completamente a candidatura.
Tanto é que ele não concorreu ao Senado. Era um pleito do partido lançar o Collares ao Senado, e ele não pôde concorrer por causa da campanha que tinha na Assembleia Legislativa com a CPI. Carlos Bastos Ex-secretário de Comunicação do RS
Lá na origem, nós e o PT disputávamos o mesmo campo social. O PT, na sua origem, era muito autossuficiente, sabia tudo, era sabichão, era o suprassumo do conhecimento. E a gente travou uma luta na Assembleia muito dura com o PT. Eu fui muito duro, sempre, com o PT. Eu dizia que eles eram a UDN de calça curta porque viviam só no moralismo, um moralismo imbecil. Estão sendo vítimas, agora, disso aí. Porque aquilo lá não era esquerda, eles achavam que era esquerda, mas não era. Porque a esquerda não é moralista, a esquerda é realista. Então a gente travou uma luta dura, mas estávamos no mesmo campo. Mas eles se excederam demais, fizeram coisas que não se faz com aliados, não se faz com parceiros estratégicos. Pretendiam atingir um líder que disputava o mesmo campo social. Era só isso. E usaram métodos piores do que fazem hoje o DEM, o PPS e o PSDB, piores, mais baixos. Inventaram história onde não havia história nenhuma para inventar. Essas coisas se voltaram contra eles, com o tempo. O Collares, ao fim de tudo, embora tenha sido na época muito vilipendiado, com o passar dos anos, a história mostrou que ele estava correto, e que eles do PT é que estavam equivocados. Hoje, nós somos aliados, estamos no mesmo barco. Mas o processo de
res. Então, eu que acho que, inobstante o PT ter práticas muito antidemocráticas e equivocadas, o governo Collares conseguiu avançar muito em nosso estado. Hoje, acho que o Collares é coerente ao apoiar o PT. Ele não seria um homem comprometido com a luta social se orientasse seu comportamento atual por aquelas
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Eu acho que eles deveriam ter colaborado com o governo Colla-
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aprendizagem, às vezes, é duro, muito duro.
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imbecilidades que o PT praticou naquela época. Porque, se o PT não teve coerência com a gente, nós não vamos, por isso, deixar de ser coerentes com eles. O PT nunca fez uma autocrítica concreta, assim, verbal. Mas, na prática, ele fez. Tanto é que nós somos aliados hoje, e muitos quadros do PT têm uma visão crítica do seu comportamento incorreto naquela época. Isto são episódios da luta política, são episódios da luta social. Acho que aquilo lá foi um episódio pleno de equívocos do PT, mas nem por isso a gente pode deixar de estar juntos em jornadas presentes e futuras. Nós não vivemos de maus humores com quem foi injusto conosco ou foi equivocado conosco. Nós vivemos de coerência política, de compromissos políticos que independem do que fizeram conosco no passado. Independe disso. O que depende é a nossa coerência, o que depende são os nossos compromissos. Se hoje são nossos parceiros, marcharemos juntos. Se ontem estávamos em lados opostos por incoerências, por incompreensões, lastimamos. Agora, nós nos orientaremos pela nossa ideologia, pelos nossos compromissos. O PT é um primo irmão, como dizia Brizola. Temos nossas diferenças, temos as nossas rixas, mas a tendência é marcharmos juntos. Cada um com suas diferenças. Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS Líder do partido na Assembleia Legislativa no governo Collares
Na época que o Collares era o prefeito, o único vereador que elegemos no estado inteiro era Antônio Holfeldt. E o Antônio Holl-
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feldt caia de pau na questão do transporte coletivo. Em outras
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ocasiões, fui conhecendo melhor o Collares, e foi aumentando a minha admiração por ele. Adversário de partido, mas fundamentalmente uma figura popular, o primeiro negro que se identifica com o negro, se assume como negro, é eleito prefeito de Porto Alegre e depois governador do Estado. Então para mim foi referência de um lutador. Tinha a professora Neuza, o grande amor do Collares,
um amor que chega com ele com mais idade, e esses amores são eternos, duram muito. Nós tínhamos a área da educação muito do PT, então, aí tivemos também uma disputa, discussões com a professora Neuza, secretária de Educação do Município e depois secretária de Educação do Estado. Eu lembro também que a Dilma, nossa querida presidenta da República, foi secretária da Fazenda do Collares e se retirou nos últimos meses porque o Carlos Araújo foi candidato. Tudo isso mostra como a história dá voltas, evidentemente que não se repete, porque daí é farsa. Mas ensina, educa. Eu acho que aprendi bastante, tenho a impressão de que também contribuí para que a política fosse a construção do bem comum com o protagonismo das pessoas e que a gente tem sempre muito a aprender uns com os outros, em especial no campo democrático popular. Hoje, com experiências já vividas no Trabalhismo, no Socialismo Democrático. Então isso sempre me levou a pensar no Collares como uma grande figura, uma pessoa com a qual a gente deveria ter convivido mais, ter sentado mais, em mais oportunidades. Chegamos a fazer em algumas ocasiões, com muito gosto Eu gosto da franqueza, do jeito dele, acho uma figura humana muito séria e muito estimada. Eu só tive com ele o gosto de aprender coisas boas, porque na política a gente também aprende com os erros, da gente e dos outros, e tem muita vilania na política, muita vilania. E ninguém é anjo ou demônio, mas tem a ética da política que é a construção do bem comum com o protagonismo das pessoas. O Collares é um pro-
O governo Collares foi muito injustiçado, eu integrei o governo, estive no coração do governo e tenho essa lembrança. As realizações do Collares foram apagadas pelas campanhas que fizeram
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Olívio Dutra Ex-governador do RS
o voto e o pão
vocador desse protagonismo, nós somos irmãos na mesma causa.
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contra ele. Porque foi um governo que realizou muitas obras, teve muitas realizações. Carlos Bastos Ex-secretário de Comunicação do RS
Quando deram início à CPI da Propina, nós não fizemos absolutamente nada para impedir. Abrimos as portas e permitimos que investigassem a fundo. E isso foi feito. Investigaram tudo o que quiseram, foram a fundo, e no relatório final o relator não conseguiu sequer citar o meu nome porque não tinha onde me enquadrar em nada. Com o Calendário Rotativo, fomos ao Supremo Tribunal Federal e lá conseguimos o aval para o projeto. O Supremo entendeu que não aceitar o calendário rotativo foi um prejuízo para população e para a qualidade da educação. Porque a reforma da educação é no ensino fundamental, é no alicerce. Alfabetizar, ler, interpretar o texto e as quatro operações matemáticas. Com isso o aluno vai adiante. Esses dois episódios foram muito sofridos. É muito difícil aceitar que tudo seja distorcido. Mas passou. E hoje o que fica pra nós é a gratificação do dever cumprido. Neuza Canabarro
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alceu collares
Ex-secretária de Educação do RS
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Tudo isso é natural na vida política. Quem não está preparado para a convivência das contradições, às vezes até das injustiças, não pode se meter em política. Porque política lamentavelmente é assim. Não é um canteiro de rosas e de perfumes, é muito difícil, é uma luta muito forte, porque tem a luta ideológica. Não adianta dizer que não tem mais esquerda, que não tem mais centro, que não tem mais direita, porque direita, centro e esquerda sempre houve e sempre haverá enquanto a humanidade existir. É a esquerda querendo as transformações, querendo modificações, e a direita legitimamente querendo a manutenção do status quo. E isso é assim ainda hoje.
Então, quando chega uma pessoa que quer transformar, encontra resistências naturais. O Collares não abria mão da sua autoridade e sabia exercê-la com força, mas era também uma pessoa que tinha a capacidade de superar o momento e reencontrar aquela pessoa como se nada tivesse acontecido, como se ainda fossem velhos amigos e como se nunca tivessem acontecido aqueles momentos difíceis e mais duros de decisão e de imposição, porque um governador muitas vezes tem que impor a sua vontade e a sua determinação. Ele facilmente recompunha com seus amigos, secretários e pessoas que lidavam com ele. O Collares sabia, até pela história de vida dele, que ele não podia afrouxar, tinha que ser muitas vezes duro, mas tinha a capacidade de recompor. Acho que pela alegria dele, esse lado humano que ele nunca perdeu, o lado afetivo que se emocionava com as pequenas coisas. É uma pessoa que em momento nenhum perde a alegria de viver. Nós passamos por momento muitos difíceis, tinha uma CPI em andamento, e a minha ida para o gabinete foi em meio à crise, em 1993, já no último biênio do governo. Era uma crise forte, dura, severa. Uma CPI muito combativa, atacando o governo de forma permanente. Mas o Collares, acho que pela história de vida dele que enfrentou desafios muito maiores que uma CPI, não se deixava abater. Giles Carriconde Azevedo Assessor especial da Presidência da República
que não guarda rancores e tem uma relação muito próxima. Ivo Nesralla Diretor-presidente do Instituto de Cardiologia
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Isso marca o psiquismo dele, que é muito alegre. É uma pessoa
o voto e o pão
Chefe de gabinete do governo Collares
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Houve um determinado momento em que realizei um dos programas de grande audiência do Rio Grande do Sul como entrevistador do Collares. Quando ele foi governador, tínhamos aos sábados de manhã o programa Os Gaúchos e o Governador. E, durante quatro anos, atingimos o ápice de audiências porque o programa era gostoso de ouvir, era descontraído, tínhamos um debate, às vezes, até um pouquinho combinado para esquentar o programa. A verve do Collares, o bom humor e as tiradas do Collares, e as minhas provocações. Grande parte das pessoas ainda deve se lembrar disso.
Lasier Martins Senador do PDT-RS
Aquele programa é a prova do poder de comunicação do Collares, porque outros governadores participaram daquele programa, mas não tiveram o retorno de audiência que teve no governo do Collares.
Carlos Bastos Ex-secretário de Comunicação do RS
Ele tinha uma energia permanente para trabalhar, construía sua agenda, fazia suas atividades e tinha uma alegria muito grande. O Palácio Piratini várias vezes foi palco de saraus. Ele gostava de música, gostava dos amigos que ele construiu ao longo da vida,
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alceu collares
gostava de cantar, de declamar.
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Giles Carriconde Azevedo Assessor especial da Presidência da República Chefe de gabinete do governo Collares
o voto e o pĂŁo
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Bailando com a minha prenda
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Em um dos muitos jogos com o time do Piratini
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alceu collares
Eu nunca tive tristeza no exercício pleno do poder porque foi aquilo que eu pedi a Deus e ao povo, que me dessem a oportunidade de ser útil como vereador, como deputado, como prefeito, como governador. Eu queria, eu tinha vontade de servir ao povo, por isso eu não registrei na minha memória as horas amargas, eu só registrei as horas doces, boas, lindas e belas, agradecendo principalmente ao povo que me trouxe até aqui e a proteção de Deus.
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É FÁCIL ENXERGAR O CAMINHO Todos que se candidatam, com a possibilidade de se eleger ou não, têm a esperança de um dia chegar ao Palácio Piratini. Pela extraordinária história deste palácio com raízes profundas na política do Rio Grande do Sul e pelos homens que ali passaram e ajudaram a escrever a bela história do nosso Estado. Quando cheguei ao Piratini, disse para a Neuza: “Nós estamos chegando aqui como inquilinos, e nosso contrato dura quatro anos. Vamos ter que trabalhar minuto a minuto porque no exercício do mandato o tempo passa num abrir e fechar de olhos”. Nunca tiramos férias, nossos dias, e até mesmo muitas noites, foram dedicados ao exercício do mandato popular. Nós nos sentíamos engrandecidos, honrados, principalmente pelas nossas origens. A Neuza vinda lá de Livramento, de família trabalhista, e eu vinha de Bagé, de vendedor de laranjas. Chegar ao Palácio Piratini foi um momento de uma extraordinária sensação espiritual. Nós trazíamos a consciência da responsabilidade que pesava sobre nossos ombros. Primeiro porque ali estivera Getúlio, segundo porque ali estivera também Leonel Brizola. Dois trabalhistas que, com a sua consciência, com sua capacidade de prestação de serviço, com seu amor pelo povo rio-grandense, deixaram obras maravilhosas. O Brizola comandou do Piratini a Campanha
da Legalidade. As encampações, o início da reforma agrária foi meu querido Brizola quem começou. Então, sobre nós pesava, sem dúvida alguma, a responsabilidade de dar continuidade a essa passagem de duas das grandes figuras do trabalhismo brasileiro.
Trazíamos a responsabilidade de representar o Trabalhismo
O programa Condomínios Rurais foi definido naquele grupo de técnicos que trabalhou no Plano de Governo. Ali ficou definido como uma das prioridades da agricultura o programa dos condôminos rurais. E tinha que falar do Cirnelino Grec que foi o coordenador . A ideia era ter, no mínimo , um condomínio por mu-
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alceu collares
nicípio. E os condomínios eram de vários tipos, de armazenagem,
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de eletrificação rural, de abastecimento de água, irrigação. Em alguns lugares foram comprados equipamentos para se irrigar 5, 7, 10 propriedades. A referência teórica eram os chamados círculos de máquinas, uma experiência da Alemanha. Os agricultores se reuniam para comprar um trator, uma máquina cara que individualmente nin-
guém poderia comprar. Só que aqui o projeto foi ampliado. Foram constituídos condomínios de suínos que até hoje, em muitos lugares, ainda funcionam. Condomínios de armazenagem, onde um núcleo de famílias fazia um armazém para secar limpar e armazenar as safras. Então, a referência eram os circulos de máquinas da Europa, mas adaptados a nossa realidade. Foram criados mais de 500 condomínios no Rio Grande do Sul. Em alguns municípios, eu lembro de Giruá , tinha vários condomínios. Eles se constituíram numa grande solução. Em alguns lugares os de armazenagem foram importantíssimos. Os de eletrificação rural também porque naquele tempo não tinha programas como o “Luz para Todos”. Lá em Garuchos , por exemplo, foi feito um condomínio para eletrificar uma região do interior com 30 e poucas famílias. Em muitos lugares, ainda hoje existem condomínios rurais funcionando. Hoje, não existe uma politica que olhe a questão associativa de grupos. Hoje existem muitos programas individuais, quase todos os programas apontam para esse lado individual não apontam para o lado associativo. Carlos Cardinal Ex-secretário da Agricultura do RS
Eu tenho inúmeros pontos positivos para citar. O governo Collares se notabilizou pela grandiosidade de obras que fez no estado. O Livro das Obras do governo Collares é uma publicação que prova isso. O Collares implantou os COREDES, e eu me emocionava ao assistir aos debates nas cidades-polo e outras cidades.
vi pequenos agricultores se unindo para comprar um trator, uma colheitadeira. Collares fez 94 CIEPs no Rio Grande do Sul, já tinha construído 19 em Porto Alegre. Pena que os governos que sucederam o Collares não deram sequência ao projeto dos CIEPs. O Collares foi muito competente na gestão financeira e na gestão
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Rurais, na área da agricultura, e na minha cidade, Passo Fundo,
o voto e o pão
Era a sociedade participando do governo. Criou os Condomínios
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do Estado como um todo. Ele, com aquele jeito gabola, até hoje diz que os que o sucederam tiveram um ‘pibinho’ e ele teve um ‘pibão’, referindo-se ao extraordinário crescimento econômico do Estado durante a gestão dele. Carlos Bastos Ex-secretário de Comunicação do RS
O Collares seguiu os princípios trabalhistas mais relevantes, ou seja, o estado desenvolvimentista. Essa ideologia desenvolvimentista do estado supõe que o Estado tem obrigação de promover o desenvolvimento. E essa obrigação do desenvolvimento do estado não se faz de maneira simples, requer um estudo, um planejamento, uma identificação dos vazios econômicos no território que está sendo analisado. E em função destes vazios, propiciar um programa de desenvolvimento, para que empresas desenvolvam essas atividades dentro da região considerada. É um processo complicado, difícil, que inclusive ultimamente tem sido muito negado pelos liberais. Mas o Brasil certamente ainda teria possibilidade de fazer isso como fez o Collares na época. A preocupação em desenvolver um estado, em propiciar condições para que empresas viessem produzir no estado, para que essas empresas não fenecessem e que pudessem ter o sentido do desenvolvimento, eu acho que este foi um papel desempenhado magnificamente pelo governador Collares. E, em decorrência disso, realmente, o PIB do Rio Grande do Sul teve um crescimento expressivo, foi de 23,46%, bem acima da soma dos governos do PMDB. O governo Antônio Britto chegou a 10%, mas
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alceu collares
fez muitas vendas de estatais. Mesmo assim, comparativamente
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com o governo Collares, não chegou à metade. Essa questão do desenvolvimento econômico do governo do Collares não foi por acaso, foi uma coisa pensada, planejada, para o que contribuíram todas as secretarias envolvidas. E não foi só isso, no governo Collares, o crescimento do Rio Grande do Sul ficou 11% acima do crescimento do Brasil. Em relação ao empre-
go, o governo Collares foi o que registrou os menores índices de desemprego. Foi o período de maior empregabilidade até os dias de hoje. O desemprego baixou de 14,3% para 11,01% enquanto nos governos seguintes, somando-se todos eles, houve um aumento de 4,8%. Outra questão que registra bem, através de números, a qualidade do governo Collares é a questão do superávit primário e dos investimentos realizados. O governador Collares, no histórico até o seu governo, foi o único que não apresentou, em nenhum ano, déficit orçamentário. Por isso foi possível a realização de investimentos que na média do governo foi de 13,2%, ou seja, uma média fantástica quando a gente vê os governos hoje sem conseguir sequer pagar uma folha de funcionários. Orion Cabral
Outro aspecto em relação ao trabalho é que no governo Collares os secretários e o primeiro escalão não tiravam férias, nunca se tiraram férias, nenhum dia. Tive que tirar um fim de semana para
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Jornal Zero Hora 19/03/1991
o voto e o pão
Ex-secretário da Fazenda do RS
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visitar uma pessoa no exterior. Saí na sexta de noite e segunda já estava trabalhando, isso acontecia com todos os secretários. Nós fomos alunos do Collares. Ele é um homem extremamente inteligente, estudioso, dedicado e tem um viés ideológico que herdou do Trabalhismo de Getúlio, de Jango, do Brizola, e que ele executou. Orion Cabral Ex-secretário da Fazenda do RS
Foi um governo de um momento excepcional de transição do país, transição política e tecnológica. Nós governamos o Estado do Rio Grande do Sul de 1991 a 1994. Fomos o primeiro governo eleito na nova Constituição brasileira. Então havia muita novidade, as estruturas estavam se reorganizando. Ao mesmo tempo era um momento de transição. Eu me lembro de dois fatos do governo Collares que mostram essa mudança tecnológica, essa coisa que está por acontecer ou está começando a acontecer no Brasil. Primeiro: foi o governo que introduziu a telefonia celular no Rio Grande Sul. Ainda existia a Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações (CRT) e foi no governo Collares que vieram os primeiros aparelhos de telefonia celular. Foi introduzida a tecnologia de celular, e nós tivemos que tomar decisões difíceis para escolher que tecnologia usar. Uma coisa que depois veio a explodir quando vieram mudanças nacionais na área de telecomunicações. E a outra questão que eu lembro é a questão da internet. A internet, na época, mundialmente era restrita ao mundo acadêmico e não podia ser usada para fins comerciais. E aqui no estado havia dois alceu collares
dade Federal de Santa Maria. Através de um projeto criado pelos
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pontos que o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
Sul, a FAPERGS, nós conseguimos transformar isso em três pon-
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e Tecnológico (CNPq) colocava à disposição das duas maiores universidades federais: um ponto na UFRGS e outro na Universipróprios professores da UFRGS e financiado pelo Estado através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do
tos, e passamos a ter mais um ponto em Rio Grande. Compramos equipamentos roteadores para esses pontos, e outras instituições de pesquisa e ensino puderam ter acesso à internet. Veja que poucos anos depois a internet explodiu, tem todos os usos devidos e indevidos, mas, naquele momento, era restrita ao mundo acadêmico. Eu diria que o governo fez coisas importantes pelo Estado, tomou grandes decisões. João Gilberto Lucas Coelho Ex-vice-governador do RS
O governo Collares conseguiu avançar muito em nosso estado porque sempre teve práticas vinculadas às aspirações populares. Com uma bancada minoritária, nós éramos 13 deputados num palco de 55, soubemos, com a compreensão das demais bancadas, exceto do PT e do PSB, aprovar o que era importante do governo Collares. Aprovamos leis de caráter social muito importantes. Uma que eu reputo como das mais importantes e que também não é divulgada, é aquela que transformou em proprietários pessoas que ocupavam terrenos públicos, pessoas de baixa renda, em terrenos de no máximo dez a quinze metros de frente por cinquenta de fundos. Só em Porto Alegre foram mais de 20 mil pessoas beneficiadas. Nós tínhamos bairros inteiros de Porto Alegre onde a pessoa tinha a posse, mas não tinha o título de propriedade. A zona do Presídio Central, toda aquela região e várias outras regiões de Porto Alegre vieram a regularizar suas terras. E essa lei hoje em dia ainda é aplicada, continua a ser aplicada por
foi o governo Collares. Um governo voltado para as aspirações populares. E é isso que interessa no fim das contas. Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS
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de grande, grande repercussão social, de alcance social. E assim
o voto e o pão
todo o estado porque há muita terra devoluta. Então, foi uma lei
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O PMDB na Assembleia, no geral, votou apoiando os principais projetos. Não houve um problema maior com o PMDB no governo Collares. E o PDS não fez uma oposição tão dura. Então havia outro tipo de comportamento. Então, hoje, se acha que ou os partidos estão no governo ou estão na oposição. Terminou um pouco aquela coisa do partido independente que apoia um projeto conforme o conteúdo e com o qual é possível dialogar o tempo todo. Hoje nós não temos essa prática no Brasil, mas naquele momento houve. João Gilberto Lucas Coelho
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alceu collares
Ex-vice-governador do RS
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Acho que cheguei ao Piratini e fiz o melhor governo da história deste estado. Tenho essa convicção baseado em fatos concretos como o PIB de 23,46%, os CIEPs, os investimentos em saúde, a segurança unificada, a Avenida do Trabalhador, quilômetros e mais quilômetros de estradas, enfim, muitas e muitas obras que deixamos. Mas, para fazer um grande governo, não basta ter um grande governador, prefeito ou presidente. É preciso formar quadros comprometidos com as ideias e programas, valorizar o conhecimento técnico dos servidores, dar um ritmo de grandes realizações e não permitir que projetos pessoais se sobreponham aos interesses da maioria. Nós conseguimos isso no Rio Grande do Sul. Pegamos um Estado em situação pré-falimentar e quatro anos depois entregamos uma estrutura enxuta, superavitária, com uma média anual de investimentos superior a 13%, salários pagos em dia e centenas de obras concluídas. Tenho a noção exata da rapidez com que passa o tempo. Nós não tínhamos direito a férias, não tínhamos direito a nada, só a obrigação de nos dedicarmos de corpo e alma ao exercício do mandato que o povo nos concedeu. Quem assume um mandato é empregado do povo e está ali para trabalhar por ele. É preciso uma entrega total e absoluta.
Tanto no período do Governo do Estado, como na Prefeitura, o pai e a mãe não tiravam férias. Era muito difícil a gente sair e fazer qualquer programação com cara de férias. Na realidade, era mais nos finais de semana que eu ficava com eles, principalmente, na época da Prefeitura. No Governo do Estado, o contato era um pouco maior porque morávamos no Palácio Piratini. Mas, durante o período da Prefeitura, eu passava a semana inteira com a minha avó e com os meus irmãos e só no final de semana eu ia ficar com a mãe e com o Collares. Mas, como eles sempre tiveram uma agenda muito intensa, trabalhavam muito, a programação era pra fazer alguma coisa relacionada ao trabalho deles: visitar obras, reuniões, jantares políticos, e eu estava sempre junto nas atividades deles, eles me incluíam na agenda. Tanto que numa ocasião, saindo de um jantar, o Collares viu uma lâmpada queimada e disse: “Genarinho, vamos começar a contar as lâmpadas e vamos ver quantas a gente acha queimadas”. E começamos a andar pela cidade, contando lâmpadas queimadas. Aí ele parou no órgão responsável para resolver o problema. Para mim aquilo era uma brincadeira, mas para eles era parte do trabalho. Genaro Wuthemberg Viera Filho
O Collares foi de uma coerência muito grande estabelecendo na prática aquilo que era a principal bandeira nossa que é a educação. E com a bandeira de que a única educação que ensina mesmo é a
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Quando se está preparado, quando se tem idealismo, quando se tem convicção, quando se é instrumento para servir, é fácil enxergar o caminho. E na minha cabeça só precisava ser servido quem tivesse necessidade. Os grandes ricos, os grandes bancos, com esses, eu não tinha contato. Por isso, sempre, a bandeira número um era a educação.
o voto e o pão
Enteado
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escola integral. O Collares não vacilou em criar a escola em turno integral. Construiu aqui em Porto Alegre vários CIEPs que depois foram sendo desvirtuados. Isso faz trinta anos, trinta anos. Hoje não tem CIEPs por aí, os que têm são meia-boca. Estão abandonados, mesmo aqui em Porto Alegre, e no estado a mesma coisa. Falam que tem, eu andei pelo estado vendo alguns lugares, junto com a deputada estadual Juliana Brizola, e era tudo um desespero. Os CIEPs eram só de fachada, prédios caindo, não havia receita para manter os turnos integrais, a alimentação, nada. Carlos Araújo
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alceu collares
Ex-deputado estadual do PDT-RS
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A educação sempre foi a nossa prioridade
Na Prefeitura de Porto Alegre, deixamos 19 CIEPs em funcionamento e, no estado, construímos mais 75 escolas de turno integral. E um CIEP não é uma escola padrão, é uma escola onde a criança fica o dia inteiro, faz três refeições por dia. Para atender
o aluno o dia inteiro é preciso uma estrutura muito grande. Então, esses prédios tinham banheiros com chuveiros para o banho no final do dia, cozinhas industriais, amplos refeitórios, ginásio para esportes, gabinetes médicos e odontológicos, e alguns tinham até piscina. O CIEP aqui era chamado de “Brizolão do Collares” porque o projeto de turno integral surgiu no primeiro governo do Brizola no Rio de Janeiro. Nós trouxemos a proposta pedagógica, física e de recursos humanos do Darcy Ribeiro e adaptamos à nossa realidade, ao nosso clima. Neuza Canabarro Ex-secretária de Educação do RS
Nesse processo de adaptação surgiu uma necessidade diferenciada que foi um grande desafio: a criação de CIEPs para crianças com necessidades especiais. O CIEP Especial para nós foi a glória. Os primeiros quatro foram criados ainda na Prefeitura. Naquela época, ainda havia muito preconceito com a criança especial, casos de não aceitação pela família e até mesmo de violência. Nós chegamos a encontrar crianças acorrentadas. Havia muita falta de informação e orientação para a sociedade em geral e, por isso, no início, houve uma resistência muito grande a essas escolas. Na construção do primeiro CIEP Especial, em Porto Alegre, poucos dias depois do início da obra a construtora disse que não tinha como dar continuidade ao trabalho porque faziam a perfuração para as estacas das fundações durante o dia e a comunidade
cientização da comunidade. Íamos com os professores de casa em casa para explicar o projeto. Neuza Canabarro Ex-secretária de Educação do RS
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preciso colocar segurança nas obras e fazer um trabalho de cons-
o voto e o pão
tapava os furos durante a noite, tamanha era a resistência. Foi
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Foi um trabalho árduo, mas com um final muito bonito. Ouvimos histórias emocionantes de vidas que mudavam na medida em que as crianças iam ganhando uma educação de qualidade. E até hoje somos surpreendidos com relatos lindos de crianças que estudaram em um CIEP e, agora, já adultos, desejam uma escola igual para seus filhos. Eu fui secretária do Collares no Município de Porto Alegre e no Estado e não poderia ser de mais ninguém, porque é difícil alguém que assuma dessa forma a bandeira da educação. O Collares priorizou a educação. Quando ouço dizer que não existe recurso para o salário, eu digo que tem sim. O que falta é competência para administrar e vontade política para fazer. Neuza Canabarro
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alceu collares
Ex-secretária de Educação do RS
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Com Darcy Ribeiro dividi a mesma paixão pelo nosso povo e pela educação
A gente trabalhava muito, tinha uma dedicação muito grande em todos os momentos, tanto na Prefeitura quanto no Estado. No Estado, construímos 75 CIEPs, montamos uma estrutura na Secretaria de Obras para executar, foram milhões e milhões de reais, acho que um dos maiores investimentos feitos, e tudo correu bem, sem problemas, a equipe era ótima. Pensar em fazer obras dessa ordem num período de três anos não é brincadeira. É uma coisa muito grande. Sobra uma obra física que a qualquer momento pode receber algo igual ou parecida com a educação integral. As escolas estão aí, elas existem, estão equipadas, montadas para o ensino integral, então, quem sabe a qualquer momento isso muda e voltamos a ter a escola que o doutor Collares sonhava. Jorge Decken Debiagi Ex-secretário de Desenvolvimento Regional e Obras Públicas do RS
Ele sempre foi atuante, tanto como deputado como no Executivo, muito trabalhador. Eu, por exemplo, em todo esse período que ele foi governador, no cair da noite, eu estava lá no Palácio, e nós conversávamos sobre as coisas. Ele sempre foi muito trabalhador e organizado, sempre foi. Sereno Chaise Ex-prefeito de Porto Alegre, cassado em 1964
Na Itália, fizemos uma visita de cortesia ao presidente da Confederação da Indústria Italiana - CONFINDUSTRIA. E fomos, o
em Roma. E, num prédio antigo, histórico, muito amplo, de um lado a comitiva gaúcha e do outro lado a comitiva da Confederação. Abriram-se as portas dos dois lados, e aqueles dois pelotões caminharam um em direção ao outro para um encontro bem no meio. E, quando se aproximaram, o presidente da CONFINDUSTRIA
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dantes de ordens, jornalistas, para a sede da CONFINDUSTRIA,
o voto e o pão
grupo da comitiva de Collares, vários secretários, assessores, aju-
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olhou para aquele pelotão da frente onde estava o Walter Nique, que era um dos secretários de Collares. Homem alto, bem apessoado, aloirado. E o presidente da CONFINDUSTRIA olhou e pensou que o governador era aquele ali e estendeu a mão pra ele na chegada do encontro. E o Collares do lado dele deu um empurrão, num jogo de corpo no Nique, e olhou pra trás e disse: “Esse cara pensa que só porque sou negrão não posso ser governador”. O encontro se deu nesse clima de risadas, de alegria, e o italiano não entendeu o que estava se passando. Depois, contaram pra ele. Lasier Martins Senador do PDT-RS
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alceu collares
A Avenida do Trabalhador liga Porto Alegre a quatro municípios da região metropolitana
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Foi o período que mais se construiu no estado. Naquela época, um dos órgãos vinculados à minha Secretaria era a METROPLAN [Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional]. E eu, como urbanista, como arquiteto, tinha muitas vinculações com a Região Metropolitana, era conhecedor da causa.
Então, numa das minhas reuniões de trabalho com a METROPLAN, falei: “Por que não criamos alguma coisa que ligue essa região metropolitana? Por que estamos hoje com uma fragilidade muito grande?”. “Ah, mas não temos como fazer, depende de muitos recursos e projetos complexos” foi a resposta. E eu disse: “Talvez não. Eu vou sugerir para vocês um passeio e vou mostrar o que eu penso da criação de uma ligação intermunicipal, com linha de ônibus e tudo mais. Um dia marcamos e fizemos esse passeio. Saímos lá da Avenida Bento Gonçalves, em cima, e fomos atravessando por uma coisa existente, havia loteamentos com avenidas prontas, eu já tinha visto tudo antes. No trajeto, mostrei: “O caminho está aqui. Temos que fazer poucas obras para poder fazer essa ligação, mas ela está feita. E fomos de lá até o bairro Mathias Velho, entramos Canoas adentro. Então, a minha ideia era que se criassem essas pequenas adaptações e que se viabilizasse uma linha transversal metropolitana que é a Avenida do Trabalhador, ligando o bairro Restinga a Canoas. “Estamos ligando aqui as zonas de trabalho. Se fizermos essa ligação transversal, estamos ligando esses bairros todos que de uma forma ou de outra têm trabalho e hoje não convivem um com o outro”, foi um dos argumentos que eu usei. Era impensável sair da Restinga e ir lá para zonas próximas de Canoas, estavam a poucos quilômetros, mas sem ligação nenhuma. E essa ligação permitiu que essas zonas todas se integrassem. A partir daí, passamos a ter um novo eixo de desenvolvimento urbano, de trabalho, de conexão, de interação.Eu falei para o doutor Collares, expliquei a ideia. Ele achou ótima. Num primeiro momento, houve
Achavam que não tinha viabilidade. Mas como se prova a viabilidade? Tem coisas que se prova através do raciocínio lógico, é imbatível. Não é preciso, muitas vezes, dados matemáticos. O raciocínio lógico te coloca que aquilo tem possibilidade de existir, de ser feito.
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nunca tinham pensado nisso.
o voto e o pão
uma reação muito grande, pois alguns técnicos da METROPLAN
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E o Collares estava convencido de que era uma coisa muito boa. Colocamos as equipes da Secretaria de Obras e da METROPLAN e acabamos fazendo a Avenida do Trabalhador. Na realidade, não fizemos praticamente nada. Acertamos algumas coisas, tiramos os obstáculos legais, fizemos acordos com municípios, tudo isso foi coordenado pelo Governo, e conseguimos implantar a avenida que até hoje é um sucesso metropolitano, então, nós estávamos certos. Eu nunca tive dificuldade de trabalhar com ele. Sempre tivemos um relacionamento muito fraternal, sempre foi muito bom trabalhar. Acho que ele tinha uma confiança muito grande em mim, e eu, um respeito muito grande por ele. Foi um convívio muito bom. Do primeiro ao último dia, foi muito bom ter trabalhado com o doutor Collares, pessoalmente foi um aprendizado. Eu era um arquiteto de mercado e de repente virei um secretário de Estado, larguei meu escritório, e meu escritório foi pro espaço. E eu levei algum tempo para voltar à minha atividade. Porque eu não tinha intenção nenhuma de seguir dentro de parâmetros políticos. Jorge Decken Debiagi Ex-secretário de Desenvolvimento Regional e Obras Públicas do RS
Quando o Collares assumiu o Governo do Estado, em 1991, o Instituto de Cardiologia tinha um problema financeiro muito grave, como todos os hospitais têm. Eu recorri ao governador, e ele foi muito positivo em nos ajudar. E conseguimos graças à atuação dele recuperar o hospital desse problema. alceu collares
o Collares assumiu o governo, o primeiro secretário da Saúde dele
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Outro ponto muito importante: o Instituto de Cardiologia é ad-
queria que o Estado administrasse o hospital. Eu procurei então o
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ministrado pela Fundação Universidade de Cardiologia, uma fundação privada criada por professores da disciplina de cardiologia da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre, em 1966. Esta fundação está ligada à Secretaria da Estadual da Saúde. Quando
governador, ele foi extremamente positivo para manter esse vínculo, que já dura quase 50 anos, entre o Instituto de Cardiologia e a Fundação Universidade de Cardiologia. Isso representou a continuidade do Instituto de Cardiologia. Se não fosse a atitude positiva dele, hoje nós não teríamos o Instituto de Cardiologia como se tem agora. Por isso, nós temos pelo governador Collares, pela figura dele, pelas atitudes dele, um apreço muito grande. Ele pertence ao coração de todos os médicos e de todos os funcionários que trabalham aqui. Hoje, o Instituto de Cardiologia representa um papel muito decisivo. Mais de quatro milhões de gaúchos passaram por aqui, nos ambulatórios, na equipe cirúrgica, no cateterismo, enfim, em procedimentos diversos. Então, o Instituto de Cardiologia hoje é o hospital do coração dos gaúchos. Ivo Nesralla Diretor-presidente do Instituto de Cardiologia
foi o Adão Eliseu. Depois o governador resolveu alterar o sistema extinguindo a Secretaria de Segurança e atribuindo ao chefe de polícia as missões de secretário no que diz respeito à Polícia Civil,
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Naquela época foi designado um secretário de segurança que
o voto e o pão
O coronel Antônio Carlos Maciel Rodrigues e o delegado Newton Müller Rodrigues me convenceram de que não era necessário ter um Secretário de Segurança Pública. “Cada secretário que chega fica um ano e meio aprendendo o que é segurança, gastando um monte de dinheiro, trazendo um monte de assessores. Não é preciso, nós damos conta.” O Maciel era o comandante-geral da Brigada Militar, e o Müller, chefe da Polícia Civil. Ambos traziam uma larga experiência acumulada em anos de atuação nas suas corporações. Fui o único governador que não teve secretário de Segurança e aquele foi o período com menos complicações no campo da segurança pública.
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e ao comandante geral da Brigada as questões referentes à Brigada Militar. Havia a Secretaria de Justiça, cujo secretário foi o doutor Geraldo Gama, que permanceu com a administração dos presídios. E levamos assim durante todo período, sem nenhuma questão entre o relacionamento da Policia com a Brigada que tivesse que ter a intervenção do governador. Todas as coisas foram resolvidas num quadro de equilíbrio e até de muita fraternidade. O comandante da BM era o coronel Maciel e tivemos muita afinidade. Não havia divergência nas nossas posições profissionais, então as coisas foram bem resolvidas. O que havia e continua havendo com relação à Secretaria de Segurança, é que muitas vezes o secretário de Segurança não tinha comprometimentos com Polícia Civil, nem com Brigada Militar, mas um comprometimento político-partidário e buscava estender essa orientação para as polícias. Nós entendíamos que polícia é uma instituição do Estado, não era instrumento de governo, era sim instituição do Estado e precisava permanecer como instituição do Estado. E essa também era a visão do governador Collares. Essa formatação evitou a indevida interferencia partidária nas questões policiais. O chefe de polícia passou a ter as atribuições de chefe, era ele que decidia pelas remoções e pelas promoções do seus servidores que antes, e depois também, sofriam ingerência das questões partidárias. E no período Collares não aconteceu nenhum fato desses. Sempre que havia qualquer questão o governador transferia essa questão ao chefe de polícia que dava a solução que precisava ser dada. Instauração de sindicância, ou ações policiais propriamente. Mas a atribuição era do chefe de polícia. alceu collares
meiro, a questão do trabalho prisional. Por que, qual é o objetivo
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Newton Müller
do sistema penitenciário brasileiro? É a recuperação do preso, a
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Ex- chefe da Polícia Civil do RS
Eu destacaria muitos pontos, mas fundamentalmente dois. Pri-
ressocialização. Se prestigia o estudo, se prestigia a cultura, se prestigia que ele trabalhe. Nós chegamos a ter o índice de 81% dos presos trabalhando no Rio Grande do Sul. Em qualquer presidio do interior tinha uma horta, onde os presos dedicavam o seu trabalho. E trabalhando reduziam a pena. Sendo remunerado, o preso ajudava no sustento da família, e aquilo melhorava a autoestima como pessoa, como cidadão, como ser humano. Assim, devolvíamos um contingente ressocializado. Foi um período bastante interessante. Outra questão que eu ressaltaria é que, estimulados pelo governador Collares, estivemos com o ministro da Justiça, Maurício Corrêa, e passamos a ele uma ideia que ele encampou: a criação do Fundo Penitenciário não só com aquelas verbas que estavam sendo projetadas, mas que se injetasse uma verba forte, que seria uma participação que teríamos de todas as loterias oficiais. Queríamos 4% e lá pelas tantas me liga um deputado e diz: “Olha, nós estamos aqui com o projeto, podemos aprovar 3%, mas 4% é muito difícil pelas circunstâncias. Há poucos dias, verificando os dados do Ministério da Justiça sobre o Fundo Penitenciário, tenho certeza de que não se arrecadou menos de dois bilhões de reais. Podem ser muitos anos, de qualquer forma daria para fazer muita coisa. Como dizia o ministro Maurício Corrêa: “Com esse dinheiro pingando mensalmente, podemos conseguir financiamentos do Banco Mundial de três, quatro, até cinco vezes esse valor e construir imediatamente presídios. Nós saímos da Secretaria, o ministro saiu também, e isso parece não ter sido feito. Eu não estou vendo muita obra, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, não estou
Eu acho que a coisa mais importante que eu cobri na minha vida em relação ao Collares foi quando ele era governador do Estado. Que era um período já depois da ditadura militar, mas ainda muito
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Geraldo Nogueira da Gama Ex-secretário da Justiça, Trabalho e Cidadania do RS
o voto e o pão
vendo obras novas de presídios.
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confuso. E uma das coisas que a gente sabia é que os documentos secretos eram uma parte importante da estrutura de poder que existia na época. E havia uma espécie de empurra-empurra, pode não pode, porque as pessoas tinham muito medo. Em São Paulo, por exemplo, nesse vaievem, os militares inventaram um homem da total confiança deles, o delegado da Polícia Civil, Romeu Tuma, para que assumisse a Polícia Federal e, nesse período, grande parte da documentação que existia no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista foi transferido para a Polícia Federal porque ali teria um cara de confiança deles. Quando o Collares foi governador, ele e o chefe da Polícia Civil gaúcha, o delegado Newton Müller Rodrigues, ficaram à frente de uma situação inédita. Aqui no Rio Grande do Sul, além dos documentos do DOPS, nós tínhamos os do Serviço de Ordem Política Social (SOPS), que eram documentos para toda a rede da comunidade de informações em cada delegacia de polícia do interior. O Collares e o delegado Newton Müller solicitaram essa documentação que estava espalhada e escondida, com uma única exceção, Rio Grande. Em Rio Grande, nós tínhamos o delegado Firmino Peres Rodrigues, um excelente policial. Era um cara da direita, ideologicamente voltado para a direita, mas com uma qualidade fundamental, ele era muito caprichoso e cioso dessa documentação. Então, a melhor documentação que veio foi a de Rio Grande, porque ele guardava todos os documentos de uma forma perfeita. Descobrimos, por essa documentação, que o Chico Buarque de Hollanda foi espionado no exterior, quando esteve em
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alceu collares
Portugal. Então, a gente ficava sabendo que teve estes esquemas,
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inclusive no exterior. Nessa documentação, apareceu também um recibo de um preso político uruguaio que estava escondido no Brasil e que foi entregue aos militares uruguaios na fronteira, por um delegado de polícia que recebeu e fez a declaração, e o militar uruguaio assinou e ficou um contrarrecibo da entrega de um uruguaio “subversivo” que
morava no Brasil. Houve muitos casos desses, mas, em termos de documentação, essa foi a única. Havia milhares de fichas de pessoas, tudo isso era uma coisa impressionante, porque ninguém sabia, nem nós. Eu, por exemplo, atuava nessa área e não tinha ideia da qualidade e da quantidade de documentos. O Collares foi o primeiro governador do país a abrir esses documentos secretos, que eram uma parte importante da estrutura da repressão política em função da ditadura militar. Pelas circunstâncias da época, acredito que foi muita coragem dele. Essa coragem ficou clara na sequência. Foram dois meses e meio, depois que foi instalada uma comissão, e ali diariamente abria-se parte da documentação até terminar. Esse material estava todo no Arquivo Público, com acesso à população. Como os jornalistas se revezavam na cobertura diária, com a minha exceção, eu fui o único jornalista na época a ter acesso a toda essa documentação. Todo dia tinha algum fato novo, e isso era manchete nos principais jornais do país. Eu priorizei, na minha vida profissional, a cobertura da área de comunidade e informações, e nesse sentido, com a atitude que ele tomou ao abrir os documentos do SOPS, ele e o delegado Newton Müller Rodrigues foram os principais responsáveis por esse fato que foi um dos motivos da abertura política no Brasil. José Mitchell Jornalista
Foi um governo que teve vanguarda em muitos aspectos. Um aspecto de vanguarda é o Collares colocar no governo dele uma
petência dele. Abrir para a população o que restava ali. Então, foi sempre um governo que, isso que eu quero enfatizar, em qualquer aspecto que se examine do governo Collares, qualquer aspecto, foi sempre um governo voltado para os interesses populares. Esse é um marco, é uma característica, é um perfil do governo Collares.
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Segundo, abrir os arquivos da ditadura, estaduais, que era da com-
o voto e o pão
quantidade enorme de ex-presos políticos, em cargos de relevância.
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Ficou marcado para a nossa história, a história do Rio Grande do Sul. Um governo que abriu veredas, abriu caminhos, mas sempre com compromisso popular. Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS Líder do partido na Assembleia Legislativa no governo Collares
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Quem não está preparado para a convivência com as contradições, às vezes, até com as injustiças, não pode se meter em política. Porque política é assim. É muito difícil, é uma luta muito forte. Lembro-me, como se fora hoje, dos primeiros dias de janeiro de 1992. Eu havia assumido o Governo do Rio Grande do Sul há menos de um ano e, naquele verão, determinei a abertura dos arquivos da ditadura em poder do Governo do Estado. Quando anunciei a medida à minha equipe, houve reações violentas, fortíssimas. Em determinado momento, precisei dizer: “Ou fazem o que estou determinando, ou eu mesmo faço. Eu sou o governador e estou determinando a abertura dos arquivos”. Naquele momento, o Brasil recém saía de um longo período de ditadura militar. Fui o primeiro governador do Brasil a tornar públicos os documentos secretos que eram uma parte importante da estrutura da repressão política praticada pela ditadura militar. O medo ainda estava vivo e presente. Mas, quando se tem idealismo, quando se têm convicções, é preciso enfrentar as adversidades com força e seguir em frente.
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CONTRA OS MOINHOS DE VENTO A pior parte de um mandato é o primeiro ano após o término do mandato. Tu não tens projeto, tu não tens proposta, tu não tens planos. Não é governador, não é vereador, não és nada, estás parado. Era assim que eu me encontrava em 1995. Aí, fui lá para o sítio, sempre com os livros na mão, sempre lendo. Decidi fazer umas experiências de fazendeiro. Foi um fracasso. Resolvi fazer criação por confinamento. Tinha um amigo em Encruzilhada que me vendeu cento e tantos bichos. Na saída, vi uns burrinhos e disse: “Manda também um casal daqueles”. Ele me mandou dois burros, dois machos. Não deram cria. E quando eu cheguei de volta ao sítio com aqueles bichos, os guris da Neuza: “Tu vais fazer jardim de infância aqui?”. Porque o confinamento tu tens que levar um gado adulto e magro que tu só engorda. E os que eu comprei eram uns bezerrinhos, uns novilhos. Pequenos e magros. Lá no sítio, temos um vizinho, o João Jardim, que foi secretário da Agricultura, publicou quatro livros, tem fazendas em Uruguaiana, em Alegrete, e tem um campo bem na frente do nosso sítio que é um colosso. Eu lá com o meu gado, já estava quase chamando o João de colega. Até que falei em confinamento, e ele me disse: “Collares, isso é bom lá nos Estados Unidos porque eles produzem tudo, produzem desde a alimentação. Essa alimentação que tu estás dando pra eles, o quilo da alimentação é mais caro que o quilo da carne que tu vais
vender”. Acabou com o meu negócio!
Fui para o sítio e fiz algumas experiências como fazendeiro
Depois do Governo do Estado, de toda aquela perseguição que ele sofreu, ele se afastou e resolveu ir pro sítio e começar uma criação de gado. Começamos procurando vacas magras para engordar. Até que um dia, numa conversa, um amigo disse para ele que comprava terneiros, engordava e vendia. E, quando a gente viu, ele arrumou um corretor de gado, e fomos para Encruzilhada do Sul buscar uns terneiros. Quando eu e o meu irmão, o Cirino, vimos aquilo, comentamos com ele: “Pai, tu tá comprando uma terneirada, é uma creche, um jardim de infância, isso não vai dar certo”. Mas como ele tinha sido convencido pelo amigo, comprou cerca de cem terneiros. E começou um sistema de confinamento.
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E, é claro, sistema de confinamento para terneiro tem um custo
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muito elevado. No decorrer do tempo, a gente foi se adaptando e entendendo um pouco mais. No final, conseguimos empatar as contas, mas foi complicado. Na mesma época, ele revolveu diversificar e também criar peixes. O sítio tem açudes, e ele decidiu que ia fazer piscicultura. Consultou um técnico, especialista em piscicultura, e decidiu criar
carpas. Na primeira ida a Viamão para comprar as carpas, eu não pude ir, mas ele foi. Botou um reboque num jipe que ele tinha e, em cima do reboque, uma caixa d’água de mil litros para trazer os peixes. Quando voltava de Viamão para Guaíba, o reboque quebrou e espalhou peixe por toda a estrada, uma esculhambação total. Ele acabou dando os peixes pra uns caminhoneiros, mas não desistiu. Na segunda vez, conseguimos um caminhão com tanque aberto para carregar as carpas. Eu estava junto. Enchemos o caminhão numa fazenda em Viamão com carpas grandes. Aí o caminhão atolou. Eu tinha levado uma barraca e usamos para cobrir o areal e desatolar o caminhão. Destruímos a barraca e só chegamos no sítio com os peixes perto da meia-noite. Muitos se criaram, só que depois descobrimos que no açude tinha jacaré! E o pior, com as chuvas, o açude transbordava pro sítio do vizinho, e os peixes passavam junto com a água. E lá íamos nós buscar os peixes. Voltávamos carregando as carpas no colo. Genaro Wuthemberg Viera Filho
Tentei criar carpas, mas no açude tinha jacaré
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o voto e o pão
Enteado
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Lembro que saímos do governo muito desgastados e, seguindo o conselho da liderança político-partidária, nos afastamos um pouco e voltamos a concorrer só em 1998. O Collares se elegeu deputado federal, mas entrou em último lugar, com 43 mil votos. Neuza Canabarro
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Esposa
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Iniciei meu quarto mandato na Câmara Federal empunhando a bandeira contra a desproporcionalidade da representação parlamentar. O atual critério para a divisão de vagas no Congresso Nacional é inconstitucional, e venho denunciando isso há muito tempo. Quando era governador, cheguei a impetrar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal. Se o sistema proporcional é o consagrado princípio do “um homem, um voto”, como admitir a desigualdade manifestada na representação desproporcional dada a eleitores dos estados de menor população, como Roraima, Amapá, Acre, Tocantins, e o consequente rebaixamento da representação popular, dos eleitores de estados de maior população, como São Paulo? Este absurdo fere os princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade e faz com que as duas Casas do Congresso, especialmente o Senado, sejam sempre presididas por representantes da oligarquia nacional, pautadas por interesses exclusivamente patrimonialistas. A desproporcionalidade entre a população e a representação parlamentar dá pesos distintos aos votos dos eleitores das diferentes regiões e viola o princípio democrático de que todos os cidadãos tenham votos com valores iguais. As regiões Sul e Sudeste concentram a grande maioria da população do país, mas têm apenas 30% dos assentos no Congresso Nacional. O Nordeste está super representado, e o grande número de representantes dessa região no Congresso emperra o desenvolvimento do país. Todos os presidentes precisam pedir a bênção das oligarquias mais atrasadas que não têm preocupações com o povo.
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Levei também esse debate, em 2005, à minha candidatura à presidência da Câmara Federal. Uma candidatura de protesto. Fui como Dom Quixote da La Mancha lutando contra os moinhos de vento. Mas tinha um objetivo bem claro: ocupar os espaços dessa candidatura para denunciar e propor as mudanças que precisavam e precisam ser feitas. Naquele momento, defendi o fim das Medidas Provisórias permitidas após a Constituição de 1988. Com elas, a Câmara e o Senado se transformaram em verdadeiros “tabelionatos”. As MPs são instrumentos semelhantes aos decretos-leis do regime militar. Defendi, também, o fim do recesso parlamentar, das votações secretas no Congresso e do pagamento por convocações extraordinárias. A candidatura me permitiu expor a minha inconformidade e as minhas crenças. Achei que só teria o meu próprio voto. Mas o meu partido votou em peso no nego veio. E no outro dia, o PDT era fiel da balança para a eleição da Câmara. Todos os candidatos nos procuravam. Hoje, no Brasil, o que mais me angustia é a desproporcionalidade da representação política, que vem da época da ditadura. Todas as tentativas de reformulação política e eleitoral que possam ser
o voto e o pão
Na Câmara, lutando contra os moinhos de vento
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alceu collares
submetidas a um plebiscito sem alteração da representação política não terão nenhum significado. Há três fatores que, se não forem alterados, a situação não muda: a desproporcionalidade, as altas taxas de juros e as dívidas dos estados. A candidatura à presidência da Câmara não foi a única em que entrei sem chances de me eleger. Mas, na minha cabeça, eleger-se nem sempre é o mais importante. Às vezes, o importante é marcar posição, mostrar à população quem somos, de onde viemos e aonde esperamos chegar. Foi o que fez o nosso senador Cristovam Buarque com uma candidatura à Presidência da República onde não tinha a menor chance. E naquela eleição mostrou aos brasileiros que o partido da educação é o PDT. Em 2000, nós tínhamos consciência da dificuldade que teríamos com a nossa candidatura à Prefeitura de Porto Alegre, pois havia outras candidaturas com muito mais poder. Mas nós oferecemos o nosso nome tendo em vista fortalecer a sigla PDT. E foi exatamente o que aconteceu. Acho que foi uma eleição muito importante para aquele momento do nosso partido. No primeiro turno desestruturamos o principal adversário. Fomos para o segundo turno e fizemos 36% dos votos. Elegemos uma boa bancada na Câmara Municipal de Porto Alegre.
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Durante uma carreata. Sempre gostei do contato direto com a população
O Collares sempre foi parceiro nessa questão de construir o partido, sempre me ouviu, nas questões dos municípios X, Y ou Z, porque problemas sempre existem, a política é uma espécie de cabide coletivo, com problemas pendurados, cada dia solta um. Sereno Chaise Ex-prefeito de Porto Alegre cassado em 1964
Plantei um pé de jabuticaba na área da Itaipu Binacional. O Samek acompanhou
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o voto e o pão
Muitos me chamam de intuitivo. Outros acham que sou bom de marketing. Eu apenas vou vivendo e fazendo o que eu acho que devo fazer. Meu compromisso é com a minha consciência. Não vou parar de trabalhar enquanto tiver com o que contribuir. Continuo estudando diariamente. Leio muito sobre economia, acompanho a política e tenho grande interesse por temas como as novas formas de energia, produção orgânica, sustentabilidade.
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Collares não trouxe só a sua experiência de administrar a Prefeitura, o Governo do Estado, a experiência do parlamento, ele nos trouxe a sua sensibilidade social. É um dos homens que conheci de maior envergadura do ponto de vista de que o trabalho tem que ser distribuído. Ele, como é natural lá da fronteira, é lá de Bagé, ele traz no seu sangue o Mercosul, a integração do nosso continente, da América do Sul. E ele, como foi um personagem vivo na constituição desse processo de integração, nos auxilia em cada reunião do ponto de vista de como deve ser o nosso comportamento para melhor dirigir a Itaipu Binacional. Temas espinhosos, assuntos delicados, que você fica até pensando como introduzir e discutir, de repente, numa sacada genial, ele coloca todo mundo numa conversa e quando vê a gente acha a solução exatamente por seu bom humor e com esse comportamento ele consegue sempre extrair os melhores resultados. E todo mundo acaba concluindo uma reunião de uma forma extraordinária, sem guardar rancores, mágoas, sem vencedores ou vencidos, porque venceu a melhor ideia, aquilo que é melhor para o nosso desenvolvimento. Jorge Miguel Samek
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alceu collares
Diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional
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NO CAMPO DA ESPERANÇA
Há uma frase do filósofo espanhol José Ortega y Gasset que gosto de citar: “Yo soy yo y mi circunstancia”. A conjuntura, os fatores existentes quando eleito fui, os companheiros com os quais eu pude contar foram essas circunstâncias que me permitiram realizar tanto em tão pouco tempo. Nas gestões da Prefeitura e do Governo do Estado, pude contar com a elite do Trabalhismo, companheiros e companheiras que comigo dividiram dias de muito trabalho e, sem dúvida alguma, de total realização. Então, chegando ao fim, há uma saudade que vem chegando antes. Porque não tem coisa mais linda do que um mandato popular. É uma procuração que tu recebes do povo, e ela vem inserida em reivindicações, em sofrimento, em abandono. Isso é a interpretação que se tem que dar a um mandato popular. Eu não me lembro de ter tristeza nenhuma, porque eu sabia quanto tempo iria ficar. Estive sempre junto do pessoal do Satélite Prontidão, do Floresta Aurora, no Marcílio Dias, nos Democratas, nos Bambas da Orgia. Mas eu nunca fui capaz de me intitular um líder dos negros. Nelson Mandela foi um líder da raça negra, lutando contra a segregação racial na África do Sul. Eu sou apenas um negro, igual aos outros, que teve uma oportunidade única dada pelo povo, e, evidentemente,
procurei corresponder a essa esperança, a essa expectativa.
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alceu collares
Estive com Mandela, um exemplo da luta do negro, em 1992, no Rio de Janeiro
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Eu tenho dores na alma e no meu corpo pelos meus antepassados que foram escravos. Nenhuma raça sofreu tanto no mundo. Porque nós trabalhamos 350 anos sem receber nada, como escravos. Nos largaram com uma mão na frente e outra atrás. Até hoje, nas periferias das grandes cidades, existem descendentes daqueles que foram arranhados pelo chicote. Isso tem que ser corrigido. Eu sou favorável ao sistema de cotas, às ações afirmativas. É um começo, mas não é a solução. A nação brasileira precisa fazer uma reparação para com os negros pelo serviço, pelas dores, pelos séculos de escravidão. As cotas não vão pagar toda a riqueza que nós, negros, produzimos. O índio, que era dono desta terra, e o negro não têm ainda hoje o tratamento que merecem. Nós, em Bagé, apesar de termos tentado acarinhá-lo, homenageá-lo, trazido para perto de nós, temos ainda uma grande dívida por tudo o que ele fez por Bagé. Não só pela projeção que ele deu
à cidade, mas porque aonde ele vai, em qualquer rincão do mundo, ele sempre se apresenta como Alceu Collares, de Bagé. Sapiran Brito Produtor Cultural
excelente pai. Sempre calmo, centrado, nunca me bateu, conversava sempre, igual ao que eu faço com meus filhos. Meu pai me falou uma coisa quando eu era bem novo: “Meu filho, dinheiro é uma consequência de alguma coisa que você faz bem feito.
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Ele me ensinou a ser muito correto. Foi um pai muito bom, um
o voto e o pão
Minha vida foi tema de uma escola de samba de Bagé
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Ele é um homem que batalhou muito, lutou demais, é um vencedor. E o mais importante, defende as ideias que acha certas. Um homem que passar por este mundo e não defender o que é certo ele simplesmente passou e não fez nada. Antônio Alceu Medeiros Collares Filho
Meu pai é uma pessoa que se sensibiliza com o outro ser humano. Com tudo, com as necessidades, com os sentimentos dessa pessoa. Ele é muito emotivo. Acho que faz tudo com o coração. Esta é a palavra que define bem ele: coração. Adriana Medeiros Collares Filha
Eu tinha uns quatro anos quando comecei a conviver com o Collares. No início, eu chamava de tio, mas em seguida passei a chamar de pai, e ele a me chamar de filho. Adotamos um ao outro. Ele é emotivo e muito bem humorado. Dá conselhos, se preocupa com estudos, trabalho. E está sempre estudando, lendo muito. Moro com ele há mais de trinta anos e nunca vi, um dia sequer, que ele não tenha parado algumas horas para ler e para estudar. É um ser humano ímpar, sempre preocupado com os que mais precisam, com nosso Estado, nossa Nação. O pai é um exemplo para mim. Genaro Wutemberg Viera Filho
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alceu collares
Enteado
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Eu passei por muitas dificuldades, muitas situações de racismo, e fui caminhando. E eu dizia para os racistas: “Olha, vocês ficam aí com os preconceitos, com esse atraso psíquico, moral e ético. Na estrada da minha vida eu vou de cabeça erguida dando os passos pra chegar aonde quero”. E foi assim na minha vida.
O Collares é um predestinado. Saiu da extrema pobreza, chegou a dormir num galinheiro, viveu numa casa sem água corrente, sem esgoto, e superou tudo. Para ter conseguido estudar e chegar aonde ele chegou é porque tem uma liderança e uma capacidade muito grande. Ele é um homem muito inteligente, detalhista, tem a capacidade de assimilar tudo rapidamente. É muito criativo, ama a leitura e a família. Tem um enorme coração, bondade, supera tudo com alegria. É muito ciumento, mas eu também sou. Neuza Canabarro Esposa
Não sei se eu achava que ia salvar o mundo, mas eu tinha convicções, eu sou fruto do meu idealismo. Provavelmente possa ser até meio abobado, mas eu cavalguei sempre no campo da esperança, do amanhã, dos bons dias, das relevantes realizações do povo, principalmente do povo pobre. O povo pobre era sempre a minha preocupação. Eu tive oportunidade de conhecer o Collares, conviver com ele no dia a dia, naqueles momentos difíceis ainda, e aprendi muito com ele. Aprendi com o Collares, com os exemplos que a vida dele trouxe para todos nós. Uma pessoa que nasceu em condições precárias, uma família humilde, uma pessoa negra que teve de superar, então, sua condição de classe. Teve que considerar o racismo que é latente, que existe aí sempre, principalmente nas nossas elites, principalmente na política.
transformar num grande líder. Então, o Collares é, sobretudo, um exemplo de quem soube, em sua vida, superar obstáculos. Por isso, ele é um vitorioso. Então, estes aspectos dele, eu valorizo muito. A luta e a coerência dele. Depois de superar esses obstáculos, se
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sua forma de enfrentar adversidades, superar isso aí tudo. E se
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O Collares soube, com sua competência, com sua intuição, com
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manter fiel. Fiel a suas origens, fiel a sua ideologia. Nunca vacilou nesse sentido, foi sempre um homem vinculado às questões populares, às lutas populares, às aspirações e sonhos das pessoas mais pobres, com mais dificuldades na vida. Carlos Araújo Ex-deputado estadual do PDT-RS Líder do partido na Assembleia Legislativa no governo Collares
Somos lutadores. Esta não é uma lembrança triste, é uma esperança. Um exemplo de quem fomos e do que somos. Maria Collares Perez Irmã
Acho que o Collares se apaixonou por mim, como eu me apaixonei por ele. Acredito que a estrutura familiar, a maneira com que me relaciono com meus filhos, despertou a admiração dele. Quando casamos, eu tinha um filho de três anos de idade, o Genaro, e três filhos adolescentes, a Helena, o Cirino e a Celina. O carinho dele com os meus filhos eu vou guardar para o resto da vida como uma dívida de gratidão. Uma vez o Genaro teve uma dor de ouvido, ele sentou ao lado e chorou junto. Ele adotou a minha família, e a minha família o adotou. Ele não teve a oportunidade de acompanhar essas coisas com os filhos dele, porque chegava em casa e eles já estavam dormindo. Isso ele lamenta sempre.
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alceu collares
Foi um momento difícil em que ele trabalhava e estudava para
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poder dar algo melhor para esses filhos. E ele conseguiu. Muitas mulheres podem ter sido amadas, mas não mais do que eu. O amor dele é incondicional, e a nossa parceria também. São essas pequenas coisas que fazem a nossa felicidade. Neuza Canabarro Esposa
Araújo, Dilma, Neuza e eu
“A vida me proporcionou oportunidades extraordinárias, entre as quais conhecer pessoas que vieram ao mundo para fazer grandes transformações. Tive a sorte de conviver com inovadores, pioneiros e revolucionários, com o tipo de gente que, com seus princípios e seus atos, ajuda a tornar a humanidade melhor. Presto homenagem a um desses desbravadores – Alceu Collares, este grande brasileiro que ajudou a construir o trabalhismo, foi cinco vezes deputado federal, prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul. Um ser humano especial e um político diferenciado, cujo legado de realizações tem, como
de contar para todos, ter trabalhado com Alceu Collares, atuado ao lado dele e, mais importante ainda, aprendido muito com a sua experiência e suas práticas. O respeito que sempre tive pelo político trabalhista amado pelo povo transformou-se em profunda
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Para mim, é motivo de muito orgulho, e sempre faço questão
o voto e o pão
marca mais visível, a promoção do desenvolvimento com justiça e inclusão social.
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admiração quando tive a honra de integrar a sua equipe, como secretária municipal de Fazenda e como secretária estadual de Minas, Energia e Comunicações. Collares ensina a todos que convivem com ele a verdadeira expressão de virtudes fundamentais para aqueles que atuam na gestão do Estado: lealdade, coerência e atenção aos mais necessitados. Lealdade aos seus princípios e à sua formação trabalhista, forjada na herança histórica de grandes brasileiros, como Vargas, Pasqualini, Jango e Brizola. Coerência com uma trajetória de imenso respeito pelos direitos do povo, muito bem traduzida no poema em que proclama: “Desperta pra luta, amigo / Faz tua revolução / O voto é tua única arma / Põe teu voto na mão.” Nos versos fortes, Collares manifesta, ao mesmo tempo, a disposição de lutar por mudanças e o respeito pela vontade popular expressa nas urnas – qualidades que deveriam ser inerentes a todos que participam da cena política e se submetem ao escrutínio do eleitor. O compromisso com o apoio aos mais necessitados nasceu com ele. Menino que vendia laranjas nas ruas de Bagé, fez-se quitandeiro, e estudou com sacrifício para formar-se em Direito. Indo além dos limites impostos pela atividade profissional, tornou-se o primeiro negro a eleger-se prefeito de Porto Alegre e governador de um estado em que os negros sempre tiveram de lutar duramente por seus direitos. Na Prefeitura e no Piratini, implantou políticas públicas inovadoras, como o ensino em tempo integral, que hoje buscamos adotar
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alceu collares
em todo o País, e governou para a maioria, sobretudo para aqueles
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que mais precisam da atenção e do apoio do Estado. Foi uma honra ter estado ao lado do prefeito e do governador Alceu Collares. Mais ainda, foi uma honra ter militado ao lado do líder político Alceu Collares. A experiência me permitiu, depois, trabalhar ao lado de Olívio Dutra e, em seguida, ser parceira de Lula, primeiro operário a assumir a presidência do Brasil. Conviver
com pioneiros me fez, também, pioneira – com a honra suprema de ser a primeira mulher a presidir o nosso país. Devo isto aos meus amigos, aos meus companheiros de luta política, aos meus mestres. Devo isto a amigos como Alceu Collares, a quem nunca deixarei de ser grata.” Dilma Rousseff Presidente do Brasil
E com a Neuza e os netos Lorenzo, Giovanna e Victor
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o voto e o pão
Fé no futuro, com a Juventude Socialista do PDT
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alceu collares
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Nasci no Povo Novo, em Bagé, no dia 7 setembro de 1927. Tive a honra de ter Deus no meu próprio nome, Alceu de Deus Collares. Na minha certidão, a data de nascimento está trocada, aparece lá o dia 12. Erro? Descuido? Como vou saber o que aconteceu? Mas talvez, apenas, talvez, tenha sido a mão do destino que ali já apontava o meu caminho, pois foi exatamente o número 12 que esteve ao meu lado nas minhas maiores vitórias políticas. Quando se chega a esta faixa etária, é natural que os que estão chegando, ocupem os espaços. Mas, às vezes, homens como eu e outros, teimosamente, continuam comparecendo, dando opinião, discutindo, debatendo. Quando o natural talvez fosse uma retirada estratégica. Mas não passa pela minha cabeça, nem pela cabeça da Neuza, qualquer tipo de retirada. Se eu for a cem anos como estou esperando, eu vou continuar dando opinião. Se me pedirem, eu dou; se não me pedirem, eu dou igual. Quem diria que o Alceu Collares, menino pobre lá do Povo Novo, seria vereador de Porto Alegre e cinco vezes deputado federal? Quem diria que o Collares, filho do velho João e da velha Severina, que só pôde estudar depois de adulto, seria prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul? Quem diria que o negro Collares, descente de escravos, seria o homem que colocaria a capital dos gaúchos de frente para o Guaíba? Quem diria? Eu sempre soube que a minha vida não seria fácil, sempre vi as pedras apontando no meu caminho, mas também, sempre procurei viver com leveza, com alegria. Nunca guardei mágoas ou rancores. E sempre, sempre, fui muito agradecido a Deus. Ele não me deu mais, nem menos, deu apenas o que eu merecia. E, mesmo sem saber direito o que Ele me reservava, me agarrei nos livros e fui seguindo o meu destino. Cheguei aonde tinha que chegar e não me arrependo de nada.
ANEXOS
ALCEU DE DEUS COLLARES
– Nasceu em Bagé, em 7 de setembro de 1927. – Foi vendedor de laranjas, entregador de telegramas, telegrafista. – Filiou–se, em 1959 ao antigo PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. – Formou–se em Direito pela UFRGS em 1960. – Elege–se vereador de Porto Alegre pelo PTB em 1963. – Com a extinção dos partidos políticos, em 1965, passa a compor a bancada de oposição filiando–se ao MDB. – Reeleito vereador de Porto Alegre pelo MDB em 1967. – Foi um dos fundadores e o primeiro presidente do Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta, do MDB. – Deputado federal pelo MDB de 1971 a 1983. – Com a redemocratização, une–se a Leonel Brizola e outras lideranças da esquerda brasileira na fundação do PDT, o Partido Democrático Trabalhista, em 1979. – Na primeira eleição municipal após a ditadura, em 1985, elegeu–se prefeito de Porto Alegre para um mandato de apenas três anos para ajustar o calendário eleitoral brasileiro. – Foi governador do Rio Grande do Sul de 1991 a 1994. – Em 1999, eleito pelo PDT, retona ao Congresso Nacional. – Em 2002 elege–se para o quinto mandato como deputado federal.
VEREADOR (1964 a 1970) Alceu Collares foi vereador de Porto Alegre 1964 a 1970, quando foi eleito deputado federal. Nesse período atuou em diversas comissões: – Presidente da Comissão de Justiça, Redação e Reclamação – Titular da Comissão de Finanças e a Comissão de Serviços Públicos – Integrante de Comissões Especiais para revisar o Código de Posturas, para redigir o Código de Loteamento do Município e para solucionar problemas relativos ao lixo domiciliar – Membro de Comissões de Inquérito para apurar aumento nas tarifas de transporte e para investigar irregularidades no sistema de concessão de bancas de mercados em prédios municipais Autor dos Projetos de Lei: PL 50/65 – Revisão do Código de Posturas PL 38/65 – Alteração das normas de fixação da tarifa d’água e esgotos PL 54/66 – Abertura de crédito de Cr$ 307.701.866,00 para aquisição de glebas destinadas a casas populares PL 2/66 – Criação de Comissão Especial para revisar o Projeto de Lei com proposta de atualização do o Código de Posturas PL 34/66 – Alteração da Lei 1233/ 54 que regularizava os loteamentos
PL 28/69 – Estabelecia regras sobre a manutenção e conservação de áreas livres em conjuntos residenciais PL 24/69 – Alteração da Lei 2901/65 relativa à fixação de tarifas de água e esgotos
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PL 53/67 – Fim da distribuição de lixo domiciliar para ser usado como adubo ou alimentação de animais
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PL 16/67 –Criação da Comissão Especial para resolver problemas relativos ao lixo domiciliar
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DEPUTADO FEDERAL Mandatos na Câmara dos Deputados: Primeiro Mandato (MDB) 1971–1975 Segundo Mandato (MDB) 1975–1979 Terceiro Mandato (MDB) 1979–1983 Quarto Mandato (PDT) 1999–2003
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alceu collares
Quinto Mandato (PDT) 2003–2007
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Iniciou em 1971 o primeiro de cinco mandatos como deputado federal. Em todos eles foi eleito pela imprensa especializada como um dos deputados mais atuantes do Brasil. Escolhido um dos parlamentares mais influentes nos anos de 2000, 2002, 2003, 2004, 2005 e 2006 pela publicação “Os Cabeças do Congresso Nacional”, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). A publicação, criada em 1994, o destaca como debatedor e formador de opinião. Integrou o Grupo dos Autênticos do MDB, parlamentares da Câmara Federal com forte atuação contra a ditadura militar. Foi um dos fundadores do Instituto de Estudos Políticos Pedroso Horta do MDB do qual foi o primeiro presidente. Liderou a iniciativa que garantiu à oposição o primeiro programa político de televisão do Brasil, em 1977. Esse programa, um dos mais importantes atos da resistência democrática contra a ditadura militar, denunciou a tortura no Brasil. Apenas quatro deputados falaram ao vivo, em rede de rádio e tv, para todo o país: Collares, Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Alencar Furtado. Foi Vice–Líder do MDB no ano de 1973 e de 1975–1979 Ficou conhecido como “deputado do salário mínimo” por sua luta pela remuneração digna ao trabalhador. Autor da Lei do Inquilinato (Lei 6.649/1979) que acabou com a “denúncia vazia” que favorecia o locador.
Atuou fortemente em defesa da revogação das medidas provisórias, mudança no sistema de nomeação do Supremo Tribunal Federal, fim da votação secreta na Câmara Federal, redução do recesso remunerado de três meses para 30 dias para os deputados, contra a desporporcionalidade da representação parlamentar e pelo ressarcimento integral das perdas dos Estados e Distrito Federal, relativo à não incidência do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS. Foi Líder do PDT de 1980 a1981, Vice–líder do PDT em 1999 e de 2003 a 2004, Vice–líder do Bloco PDT/PPS de 2001 a 2003 e Primeiro Vice–líder do Bloco PDT/PPS nos anos de 2001 e 2002. Comissões Permanentes: Presidente das comissões de Seguridade Social e Família e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional Vice–presidente da Comissão de Constituição e Justiça Titular das Comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania e da Constituição e Justiça e de Redação
Comissões Externas: Presidente da Comissão de Política de Remuneração do Trabalho Relator da Comissão de Reajustamento Salarial
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Presidente da Comissão de Elegibilidade de Cônjuge e Parentes Titular das comissões sobre a Reforma da Previdência, Fixação do Salário Mínimo, Regime de Previdência Complementar , Normas Gerais para Instituição de Regime de Previdência Complementar, Aposentadoria Compulsória, Trabalho Doméstico, Revisão Constitucional, Estatuto da Igualdade Racial, Quadro Temporário Servidor, Coligações Eleitorais, Estatuto da Mulher, Alimentos, Produção, Comércio e Fiscalização de Sementes, Proposições Referentes a Assuntos da SERASA
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Comissões Especiais:
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Titular das comissões sobre Controle do Tráfego Aéreo, CPI: Extermínio no Nordeste, INSS, Medicamentos, Tráfico de Armas. Proposições: Propostas de Emenda à Constituição: PEC 566/2002 – Alteração do sistema de nomeação dos ministros do Supremo Tribunal Federal. PEC 195/2000 – Fim da desproporcionalidade na representação parlamentar na Câmara Federal, garantindo a cada Estado um número de deputados proporcional à sua população. PEC 191/2000 – Redução para 14 anos do limite de idade para o trabalho do menor. Projetos de Lei e Projetos de Resolução: PL 2320/1974 – Extinção da “denúncia vazia” que era prevista na Lei do Inquilinato PL 1901/1974 – O reajuste dos aluguéis residenciais não poderia ser superior a dois terços do percentual de aumento do salário mínimo. O locador deveria pagar o imposto e o seguro do imóvel. PL 303/1975 – Regulamentação do funcionamento de empresas particulares que exploram serviços de segurança e regime de trabalho dos empregados. PL 2118/1976 – Aumento do salário–família para 20% do mínimo regional e inclusão da mulher do trabalhador como dependente
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PL 2514/1976 – Regulação de casos de despejo relativos a aluguéis de imóveis comerciais
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PL 3104/1976 – Proibição da contratação de trabalho temporário por pessoas físicas, empresas intermediárias ou locadoras de mão de obra em caráter permanente PRC 6/1976 – Criação de Comissão Especial para elaborar projeto de lei delegada para evitar o desmatamento criminoso e o uso
indiscriminado de poluentes com penas severas aos infratores PL 4072/1977 – Fixação de abono de emergência de 29% sobre os salários PL1127/1979 – Aumento do salário–família e inclusão da mulher do trabalhador como dependente PL2428/1979 – Alteração da Lei Orgânica da Previdência Social no artigo relativo ao valor mínimo e reajuste de benefícios. PL 3262/1980 – Fixação de itens do salário mínimo para que o trabalhador tivesse condições de sustentar uma família de, pelo menos, três pessoas. PL 3701/1980 – Reintegração de servidores civis e militares afastados de cargos punidos por atos institucionais e complementares, dirigentes sindicais e empregados de empresas privadas demitidos por participação em greves. PL 3951/1980 – Proibição da contratação de trabalho temporário por pessoas físicas, empresas intermediárias ou locadoras de mão de obra em caráter permanente PL2754/1980 – Proposta de correção trimestral de salários. PL5569/1981 – Criação do seguro–desemprego. PL5789/1981 – Reintegração ao emprego no caso do trabalhador ser demitido sem justa causa. PRC 235/1981 – Criação de CPI para investigar desvios de recursos da Previdência Social
PL 414/1999 – Reajuste dos salários pelo INPC, quando o índice chegar a 5% PL 71/1999 – O salário família, por dependente, deveria corres-
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PL 71/1999 – Realização de pesquisa prévia para estabelecer as necessidades básicas previstas na Constituição Federal para cálculo do reajuste do salário mínimo nacional.
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PL 6504/1982 – Inclusão no horário da propaganda eleitoral gratuita de dois minutos para tratar do direito ao voto e divulgação do modelo de cédula oficial.
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ponder à dez por cento do salário nos casos em que o trabalhador recebesse até cinco mínimos. PL 3772/2000 – Alteração da Consolidação das Leis do Trabalho ( CLT) visando à não extinção do contrato de trabalho com a aposentadoria do empregado. PL 4592/2001 – Extinção dos ciclos na organização da educação básica, grupos não seriados com base na idade, na competência ou em outros critérios, aumentando a transparência no diagnóstico do número de repetência escolar PL 118/2003 – Definição de critérios para o reajuste anual do salário mínimo, com base na variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) a partir de 1º de maio de 2003. PL 292/2003 – Aumento para quatro a oito anos da pena de reclusão em caso de exploração do trabalho escravo PLP 242/2005 – Ressarcimento integral das perdas dos Estados e Distrito Federal , relativo à não incidência do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços ICMS, não cobrado em função da Lei Kandir (L.C.87/1996) PL 4895/2005 – Revogação da lei que restringe o exercício das profissões de apresentador e comentarista de rádio e televisão em período pré–eleitoral
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PL 6107/2005 – Criação do Sistema Nacional de Armas (SINARM) para estabelecer condições para o registro e porte de arma de fogo e definição de crimes, revogando o Estatuto do Desarmamento
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PREFEITO DE PORTO ALEGRE (1986 a 1988) Principais obras e ações: Construção de 19 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) – escolas de turno integral, entre eles, 4 CIEPs para crianças portadoras de necessidades especiais Construção de 22 Casas da Criança para atendimento da primeira infância Implantação do Albergue Municipal Ingá Britta para crianças em situação de abandono Construção da Avenida Beira Rio Construção do Ginásio Tesourinha Restauração da Usina do Gasômetro Reforma de todas as escolas municipais Instalação da Câmara Municipal no prédio da Av. Loureiro da Silva, no Centro Histórico de Porto Alegre Criação dos Conselhos Populares onde a população decidia a aplicação de recursos municipais Instituição da Secretaria Municipal da Cultura Implantação do Plano de Carreira do Magistério Reajuste bimestral para servidores Projeto de lei do Executivo que instituiu o Passe Livre para Idosos nos ônibus municipais
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Projeto Praia do Guaíba para resgatar à população o uso do Rio Guaíba. Previa o aproveitamento dos 104 hectares entre a Usina do Gasômetro e a ponta do Melo. Acrescentava 75% de novas áreas urbanizadas às áreaspúblicas já existentes. O projeto foi aprovado pela Câmara Municipal em 1988 mas não teve prosseguimento pela
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Criação de uma Comissão de Humanização do Centro de Porto Alegre
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forte oposição de entidades ambientalistas. Projeto Cais do Porto para desenvolvimento e aproveitamento da área Reforma do Hospital de Pronto Socorro Reforma do Auditório Araújo Vianna Implantação de programas de reciclagem, aproveitamento do lixo e coleta nas Vilas Populares
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Cobertura de valões na Vila Elisabete
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Durante o governo de Alceu Collares o PIB foi de 23,43%¹, o maior Produto Interno Bruto dos governos estaduais desde 1987. A recupeção orçamentária e financeira do Rio Grande do Sul permitiu grandes investimentos. Foram mais de 7.500 realizações que encontram–se registradas no Livro das Obras, publicação de 1994 que reúne todas as obras da gestão. Algumas delas: Construção de 75 CIEPs, escolas de turno integral, no RS. Porto Alegre já tinha 19 CIEPs construídos por Collares. Reforma de 2.895 escolas Programa Nenhuma Criança Sem Escola aumentou e 50% a capacidade da rede estadual Criação do Crédito Educativo Estadual Criação do PGQP – Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade Ampliação da rede rodoviária com a construção de 978 quilômetros de estradas Implantação da Avenida do Trabalhador – 58 km interligando a zona sul e leste de Porto Alegre, onde localizam–se os bairros Restinga, Pitinga e Lomba do Pinheiro, aos municípios de Viamão, Alvorada, Cachoerinha e Canoas. Na Avenida do Trabalhador a tarifa de ônibus era subsidiada. Ao longo da avenida, foram criados nove postos para instalação de equipes de segurança pública, saúde e bibliotecas. Implantação da Zona de Processamento de Exportações no Distrito Industrial de Rio Grande Implantação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento – COREDES – para a participação popular nas definições de metas e prioridades do orçamento. Criação do programa Pró–Produtividade Agrícola Criação de mais de 500 Condomínios Rurais, associações para estimular a agricultura familiar Implementação da Telefonia Rural e da Telefonia Celular
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GOVERNADOR (1991–1994)
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Ampliação da rede que garantiu luz élétrica para todo o RS Implantação da FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental Programa Pró–Guaíba para recuperação da bacia hidrográfica Instalação de sete regionais para atuar na área ambiental nos municípios de Rio Grande, Santa Maria, Lageado, Cachoeira do Sul, Caxias do Sul Santa Rosa e Estância Velha Implantação do serviço de atendimento a emergências ambientais com funcionamento 24h, inclusive aos finais de semana Implantação do programa de controle da fluoretação da água Elaboração da política da saúde da mulher e implantação do comitê de perinatologia para reduzir a mortalidade na gravidez, parto e do bebê nos primeiros dias de vida Reforma do Lafergs – Laboratório Farmacêutico do Rio Grande do Sul Criação do Serviço de Doenças Sexualmente Transmissívei e AIDs Implantação do centro de referência para tratamento do Câncer de pele Constituição do Conselho Estadual de Saúde Municipalização da Saúde em 168 municípios (42%)
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¹ fonte: Afocefe – Sindicato dos Técnicos Tributários do RS
AGRADECIMENTOS Adriana Medeiros Collares Afonso Antunes da Motta Agnese Schifino Álvaro Henrique Baggio Antônio Alceu Collares Carlos Franklin Paixão de Araújo Carlos Henrique Bastos Carlos Henrique Juruna Falk Carlos Marcelo Larruscahim Hamilton Ilha Carlos Rodolfo Thompson Flores Cristina Molenda Carvalho Débora Dornsbach Soares Edgar Abip Muza Erly Borba Inghes Fabiana Kloeckner Francis Pando Maia Francisco Emir Ferreira Genaro Wuthemberg Viera Filho Geraldo Nogueira da Gama Germano Rigotto Giles Carriconde Azevedo Ivo Nesralla Jair Soares João Gilberto Lucas Coelho Jorge Decken Debiagi Jorge Miguel Samek José Mitchell Júlio Chaise Lasier Martins Leonardo Coronel Lúcia Porto
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Manuela D’Ávila Maria Collares Perez Maria Ragagnin Osmari Mauro Zacher Neuza Canabarro Newton Müller Olívio Dutra Orion Cabral Paulo Burd Paulo Paim Pedro Simon Rubens Lahude Sapiran Brito Sereno Chaise Marcelo Gayer Barbosa White Jay Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul Associação Gaúcha de Municípios Auditório Dante Barone - ALRS Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados Câmara de Vereadores de Porto Alegre Cinemateca Capitólio Espaço Cultural dos Correios Grêmio Esportivo Bagé Governo do Estado do Rio Grande do Sul Itaipu Binacional Jornal do Brasil Jornal Minuano Jornal Zero Hora Memorial da Câmara de Vereadores de Porto Alegre Memorial do Legislativo - ALRS Museu da Comunicação Hipólito José da Costa Museu Dom Diogo de Souza Nave Comunicação Partido Democrático Trabalhista Prefeitura de Porto Alegre Rádio Gaúcha RBS TV