SETEMBRO 2013/ ANO 0
ALTERNATIVA
editorial O ser humano precisa fazer escolhas para ser livre. Liberdade é isso, ter alternativas e optar pela melhor. A revista Alternativa pretende expor os mundos paralelos à cultura globalizada e mecânica dessa era digital, apresentando cotidianos e modos de vida simples e tranquilos às pessoas que se sentem presas nessa pressa que é o dia-a-dia da cultura ocidental.
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Nessa edição, a revista vai mostrar pequenas formas de comércio, que utilizam mais a mão que a máquina, duas formas em que o “fazer” é contrário ao atual processo de fabricação de qualquer produto que se encontra no supermercado ou loja. Os produtos feitos por pequenos agricultores da região das Vertentes e a venda deles na feira, e produtos feitos de tricô e crochê, produtos feitos manualmente que demandam tempo paciênciaa e prazer de fazer.
expediente/ n.1 ano 0/ setembro 2013 Fotografia, reportagem e diagramação: Ceília Santos.
índice Outra..................................................................4 Aceita um cafezinho?........................... 10
Coordenador(a): Kátia Lombardi Jornalismo- Comunicação Social- UFSJ
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domingo é dia de feira
A Feira Livre do Produtor Rural do Campo das Vertentes acontece no bairro Matosinhos, em São João del- Rei, todo primeiro dia da semana. Nela, pode ser encontrado de tudo, desde pequenos artesanatos a verduras fresquinhas. Por Cecília Santos Fotos de Cecília Santos
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s domingos amanhecem cheios de diferentes cores e aromas na Rua Doutor Elói Reis, no bairro Matosinhos, em São João del-Rei. Mel, biscoito, queijo, frutas e legumes, tudo que é feito na roça, além de peças dos artesãos da cidade, pode ser encontrado na Feira Livre do Produtor Rural do Campo das Vertentes. Desde maio de 2012, a rua na praça do Matosinhos e ao lado da linha de trem, na qual a Maria Fumaça passa em direção a Tiradentes, gera renda e garante o sustento de pequenos agricultores e artesãos da região. Inicialmente, o objetivo da feira era dar oportunidade apenas para pequenos produtores rurais de venderem suas mercadorias, já que estes, frente ao mundo de peças produzidas em grande escala, não tinham onde comercializar seus produtos. Mais tarde, os pequenos produtores também abriram espaço para o trabalho de artesãos da cidade, pois estes compartilham o mesmo problema e ajudam na valorização da cultura de São João del-Rei. Fig. 1. O mel e seus derivados são uns dos produtos mais visto entre as barracas.
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Fig. 2. Leonilda de Andrade arruma suas peças para expô-las em mais uma manhã de domingo. Segundo ela, a feira é um meio de divulgação de seu trabalho.
Fig.3. Pingas de mel e de banana produzidas por Bonaccio.
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A Feira Livre do Produtor Rural do Campo das Vertentes era organizada pela Secretaria Mu nicipal de agricultura, porém enfrentava problemas como o descaso do governo em relação a atividade e a presença de atravessadores, intermediários que compram mercadorias do produtor destinadas ao mercado, para revendê-las em altos preços. Atualmente a feira é mais independente em relação ao governo, desde abril de 2013 ela é organizada pela Associação Feira Livre do Produtor Rural do Campo das Vertentes, que possui 54 participantes, “todos eles possuem o direito de explorar o comércio”, como ressalta Bonaccio, produtor de uma famosa pinga de banana. Para Marcilene de Melo, que fabrica casarinhos de gesso em miniaturas, a feira, além de um complemento de renda, é uma forma de divulgar suas peças que não possuem lugar para serem expostas. Segundo ela e outros proprietários de barracas na rua Doutor Elói Reis, a feira é pouco conhecida, tanto pela comunidade de São João, como por turistas, e poderia ser mais divulgada. “Podia haver um projeto pro trem parar nessa estação (do Matosinhos) aqui, né? Pro pessoal vir dar uma olhada na feirinha.”, diz. A feira, ao contrário de muitos produtos do supermercado, tem legumes e verduras fresquinhas e sem grande quantidade de agrotóxicos. Tem biscoito, queijo e mel feitos por mãos sábias. Tem cachecol, chaveiros e pequenos ornamentos feitos com carinho e com prazer. Além disso, ela é um ponto de lazer para vários moradores do bairro Matosinhos, onde ela é mais conhecida, que vão espiá-la um pouco nas manhãs ensolaradas de domingo.
Fig.5. Pintura na telha. Barraca de Artesanato.
Fig.4 Barraca de hortifruti
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Fig. 6. Josiana Mara faz doces, bolos e brioches com sua m達e.
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Aceita um cafezinho? Estudante de arquitetura na UFSJ, Clarice Rodrigues tricota e comercializa cachecois, toucas, meias... “O artesanato é uma arte.” Por Cecília Santos Foto de Cecília Santos
1- Há quanto tempo você fabrica nova me empolgo ainda mais para aprender prática é só para senhorinhas idosas seus produtos com o objetivo de venda? Comecei a tricotar para mim mesma. Algumas amigas e pessoas próximas começaram a encomendar cachecóis e eu precisava de um dinheiro para viajar. Resolvi começar a cobrar por eles com o objteivo de juntar dinheiro para essa viagem, a uns 6 anos atrás. Comecei a fazer a divulgação no ano passado, pelo facebook mesmo.
novos modelos e diferentes pontos. Para mim é um prazer tricotar! Melhor ainda é poder ganhar dinheiro fazendo uma coisa que gosto tanto! O ‘gostar de fazer’ é importante não só para o meu bem estar, mas também para a pessoa que compra, que acaba recebendo um produto bem feito e bem acabado!
2- O lucro obtido a partir da venda
dos seus produtos é capaz de ajudar na renda, na sua sustentação como estudante em São João del- ReI? Você utiliza esse lucro como meio para se sustentar? O dinheiro que ganho com os tricôs são uma renda extra, não me sustento com ele. Acaba que vendo mais na época do frio, durante os meses de maio, junho, julho, agosto! O resto do ano eu acabo mexendo com projetos pessoais, tricotando pra mim mesma e testando novas receitas.
4- O fato de você ser universitária e fazer tricô 3- A fabricação dos produtos é influencia ou já influenciou estudantes a fazer feita apenas para o comércio ou também pelo prazer de fazer tricô? Qual a importância que você vê no “gostar de fazer”? Eu adoro tricotar! A cada receita
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ou aprender a fazer, não só tricô, mas outros tipos de artesanato? Muita gente acha engraçado eu, jovem universitária, tricotar! Muitos pensam que essa
que fazem isso para passar o tempo. Muita gente já me pediu aulas e já começaram a tricotar suas próprias peças! Creio que sim, já influenciei algumas pessoas à arte de tecer!
5- Qual a importância que você vê em seus produtos, sendo eles artesanato, frente ao mundo de produtos industrializados de hoje? O artesanato é um produto que precisa ser mais valorizado! Muitos acabam questionando o valor das peças e comparando a produtos industrializados, esquecem que aquele produto foi confeccionado manualmente e que além do trabalho manual há também a exclusividade. Faço muitas peças exclusivas, personalizadas do jeito que cada cliente pede. Muitas vezes acabo não repetindo algumas peças! Como o próprio nome já diz: o artesanato é uma arte! E precisa ser valorizada como tal! “O artesanato é um monumeto da trajetória, e não uma coisa estática. A política paternalista de dizer que o artesanato deve permanecer como tal, é uma política errada. O artesão brasileiro é basicamente um designer em potencial, muito mais do que propriamente um artesão em sentido clássico.” Aloisio Magalhães
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