Central Skate Mag #13

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FOTO: PEDRO MACHADO

EDITORIAL: Diego Almeida Jeny Choe FOTOGRAFIA: Diego Almeida Júlio Tio Verde Dennes Ferreira

PERÍODICIDADE: Bimestral COMERCIAL: centralskatemag@gmail.com EDITOR PORTAL: Felipe Henrique S.A

REDAÇÃO: Renata Oliveira César Bulcão Alberto Santos Alessandro Mcgregor COLABORARAM NESSA EDIÇÃO: Diogo Andrade, Leonardo Avelino, Paulo Macedo, Rodrigo Kbça Lima, Maurício Nava, Mario Kreb, Fernando Menezes, Pedro Machado, Marcos Van Basten, Fael Diogo, Carlos Hauck, Pablo Bernardo e Chic Homes. As matérias publicadas não refletem necessariamente a opinião da revista e sim de seus autores.



RODRIGO K-B-ÇA LIMA/RED BULL CONTENT POOL


SKATE

Falar da pandemia que se disseminou por todo o planeta e do isolamento social que ela ocasionou, é algo que escutamos todos os dias no noticiário ou que lemos nas redes sociais, nos jornais, ou seja qual for o veículo de informação, independente da plataforma o assunto é recorrente. É como chover no molhado, mais do mesmo, nada que já não se é sabido. Contudo o skate tem suas peculiaridades e mesmo sendo um esporte de prática individual, o coletivo se faz presente, não só por conta da convivência e compartilhamento de espaços comuns, como pistas e picos, mas também por conta de todo o lifestyle que o skate oferece. Com a pandemia a proibição da prática foi inevitável, assim como toda atividade esportiva. E para “viver o skate”, foi necessário encontrar outras formas de manter a chama acesa. Ações pela internet foram propostas para trazer maior aproximação entre os praticantes, como por exemplo os games of skate, a produção de conteúdo virtual intensificou-se e nós da Central Skate Mag também temos estudado maneiras de minimizar esse distanciamento, trazendo um pouco mais de informação relacionada a esse universo. Por enquanto, o “novo normal” que tanto se fala, não é o que esperamos e nem o que gostamos, pelo menos não no mundo do skate. O nosso normal é viver intensamente, porque apesar da prática ser individual é no coletivo que encontramos o real espírito skatista, que é infinitamente cultural e repleto de conhecimento, dessa forma, “contaminamos” mais adeptos, pois diferente do Corona Vírus, o skate não tem cura. É nesse cenário e movidos pelo impulso de disseminar informações sobre essa cultura que amamos, que apresentamos uma nova edição da Central Skate Mag!

ALESSANDRO MCGREGOR


SSO É SKAT

É a essência que nos movimenta A cada remada o vento na cara O suor que pinga, respira, a adrenalina corre nas veias e faz pulsar mais rápido o coração Transborda, em cada borda a inspiração A frustração de não voltar aquela manobra É o impulso que faz tentar inúmeras vezes até acertar ou não.

Aqueles segundos antes de sentir o skate no pé Ouvir o barulho das rodas em atrito com o asfalto O time do tail batendo no chão, é o aviso que antecede a sensação de voar e querer ir cada vez mais alto A cena reprisada em slow na memória Na volta pra casa só risada e histórias

É o que a sessão rende A água de torneira, o pastelzin de feira E aquela velha travada na pedrinha Já é rotineira Street, bowl, half ou a galera da ladeira A sensação é a mesma E mesmo que eu tente transmitir Não tem como descrever em palavras Porque não é sobre falar É sobre sentir... Sinta o skate, viva o skate! TEXTO: RENATA OLIVEIRA


MIKHAEL VINHAS OLLIE ONE FOOT // FOTO: JULIO TIO VERDE


EM BUSCA DO EQUILÍBRI

EM BUSCA DO EQUILÍBRI

FOTO: MARCOS VAN BASTEN

TEXTO: ALBERTO SANTOS

E cá estamos nós. Praticamente todos os meses úteis do ano lidando com uma quarentena. Alguns foram bem afetados, outros menos e há aqueles em que suas rotinas e exigências não foram abaladas. Quem conseguiu se adequar bem no início já sentiu o cansaço de lidar com tantas mudanças difíceis, mas ainda assim conseguiram se virar de alguma forma. Já aqueles que começaram perdidos, podem ter encontrado agora um norte e retomado aos poucos os espaços seguros que nos últimos meses se abriram.


IO

De alguma forma estamos aprendendo, seja pelo lado bom ou na marra. Aqui me refiro não necessariamente a lidar com a pandemia, mas, lidar com nós mesmos. Nossos próprios pensamentos, o que dizemos para os outros e principalmente o que dizemos para nós. É importante saber reconhecer o que acontece dentro de nós, tanto em momentos ruins quanto em momentos bons. Se traduz por alcançar a melhor compreensão de emoções e sentimentos que se alternam diante de rotinas diferentes para cada um. É aprender a reagir com moderação diante de tantos acontecimentos confusos e encontrar, de alguma forma, o auto controle e evitar ser tomado pelo caos quase instintivo frente a sensação de perigo. Estar longe do equilíbrio se traduz pelo quanto estamos sensíveis ao que acontece e quão exagerada são nossas reações, nos deixando instáveis. Além da agressividade, podemos cair no desânimo, na tristeza ou pessimismo sem perceber o poço que estamos entrando. Conseguir encontrar ou reencontrar o equilíbrio depende também do quanto ouvimos o que estamos constantemente nos dizendo e dizendo para os outros. O quanto conseguimos nos ligar a situações boas, se divertir com as crianças, cuidar da casa, jogar um bom vídeo game ou simplesmente ouvir nossas músicas preferidas. A busca pelo equilíbrio em nossas vidas é feita de modo semelhante à quando estamos em cima do carrinho, se dá de forma ativa e com atenção aos detalhes que nos fazem sempre manter o equilíbrio. Se esquecermos que o equilíbrio é ativo a próxima queda sempre estará lá para lembrar.

FOTO: GARDEN GROOVE FILMES

IO


Na percepção visual do mundo real, o contraste é determinado pela diferença na cor e brilho do objeto e outros objetos dentro do mesmo campo de visão.


FOTOS: LEONARDO AVELINO

MAURÍCIO NAVA - FS INDY


GUILLYS - HEELFLIP || FOTO: ENOISCACHORRO


SAPUCAIA - NO COMPLY || FOTO: PAULO MACEDO


GABRIEL BILA - 360 FLIP // FOTO: MAURÍCIO NAVA


GABRIEL ERCKMAM - BS WALLRIDE // FOTO: FERNANDO MENEZES


WILTON - CABALLERIAL FLIP || FOTO: PAULO MACEDO



GABRIEL LOUREIRO - FS GRIND || FOTO: DIOGO ANDRADE


JHON ANDERSON - NOLLIE VARIAL HELLFLIP // FOTO: MARIO KREB



CARLOS EDUARDO DUDU - NOLLIE FS HEELFLIP || FOTO: ENOISCACHORRO


DIEGO STEPHAN - OLLIE INTO BANK || FOTO: DIOGO ANDRADE


RAFAEL EASTWOART - FS FEEBLE || FOTO: ENOISCACHORRO


TEXTO: CÉSAR BULCÃO

A RUA É A LINHA DE FRENTE DA LIBERDADE DE EXISTIR!

A rua é asfalto? A rua é cidade? A rua é um lugar? Afinal, o que é a rua? A palavra rua tem origem do latim - ruga (ruga, sulco, caminho), dava nome para o “caminho” das marcas na pele de um rosto já com muita vida. Nas cidades romanas a palavra serviu para dar nome aos caminhos de escoamento das águas urbanas e esses caminhos, em uso alternativo, se tornaram canais também, para a circulação de pessoas. Com o tempo a palavra diminuiu, ficou menor em letras, perdeu o “g” e virou “rua”, se firmou como passagem e lugar de convivência, e hoje, apesar do nome menor virou gigante de significado e é lugar de VIVÊNCIA mesmo. A vivência da rua é a maior expressão de liberdade dos habitantes de uma cidade. Nesse microcosmo, existem leis próprias e ecossistemas complexos que não cabem nas visões limitadas de quem só usa a rua como passagem ou quer ela pra negócio. As cores, os sons, as formas, as expressões e os usos da rua são uma experiência que não pode se perder no tempo e nem virar produto. Pra rua não se perder entre os que querem limpá-la ou querem vendê-la precisamos compartilhar as vivências de rua para manter a cultura firme e forte contra os que querem fazer da rua cenário de exclusão social ou hype comercial. Para somar na luta pela cultura da rua viva e pulsante vamos unir forças e vivências de várias cabeças. Compartilhar experiências de vida dos mais diferentes “vivedores” da rua, para que a rua continue sendo rua. Essa é a ideia do DaRua, manter a rua viva! Circular essas informações, conhecimentos e vivências para levar pros “DaRua” a melhor experiência nesse mundo próprio, até que venha o meteoro.


FOTO: PEDRO MACHADO


NO TELE

FOTO: PAULO MACEDO

CHAAAAAAAAMA


A CORRIDA TEXTO: RENATA OLIVEIRA

O boom do skate ter se tornado esporte olímpico gerou uma busca por informações um tanto quanto burocráticas que antes não faziam muita diferença na vida de um skatista. Atrelado a isso vieram os interesses de pessoas que antes não tinham vínculo algum com o skate. Há uma grande movimentação em todas as partes do país para fundarem associações e consequente federações com o discurso de que isso será importante para o crescimento do esporte naquele determinado lugar ou região, mas até que ponto isso é real? Por que essa preocupação se deu só agora? Na prática sabemos bem como funcionam essas questões e quem de fato é favorecido com isso. O skate é muito mais que uma modalidade olímpica, é um life style, não nos iludamos com lobos em pele de cordeiro, com discurso bonito, mas saibamos tirar proveito disso, informar para articular e formar movimentos independentes que é o que vem acontecendo paralelo a isso. Nunca tivemos tantas crews de skate feminino antes. Elas filmam, editam, produzem conteúdo, organizam campeonatos e acolhem umas as outras. Nesse momento de pandemia foram feitas algumas medidas para que essa rede de apoio chegasse ao maior número de meninas, competições online, rifas e vaquinhas foram organizadas visando ajudar com o mínimo possível, porque a essência real do skate é essa: a união. Não precisamos de pessoas que não nos representem falando por nós e que mais do que não nos representar, ainda dividam o skate, seja limitando o acesso a informação, seja privilegiando atletas de dentro da instituição, as chamadas panelinhas. Estamos de volta para fortalecer a galera que está no corre das ruas, que vive o skate independente do retorno financeiro e midiático que ele pode proporcionar. Esse texto não tem o intuito de banalizar as associações, mas sim, de fazer uma reflexão de como podemos ocupar os espaços, de como podem nos ouvir e mais ainda de como podemos chegar lá se trabalharmos em conjunto. Estamos de olho!


TEXTO: RENATA OLIVEIRA / FOTO: DENNES FERREIRA



Paralelo as grandes produções, com efeitos visuais e imagens cinematográficas, o vídeo Simplesmente nasceu em 2006 na cidade de Porto Alegre, em meio a uma fase do skate mais focada em pistas e dependente de campeonatos.

LÉO FAVARO - FS 50-50

Segundo JP Romero, um dos idealizadores do projeto, poucas pessoas produziam vídeos no Brasil e os mesmos já tinham seus grupos formados. Com isso, notou a necessidade de mostrar mais o skate vivido nas ruas, fomentando um movimento que agregasse pessoas que tivessem o mesmo pensamento, formando uma família. Com o objetivo de expandir o projeto e levá-lo para diversas regiões, cada edição teve cidades específicas, mostrando lugares novos e uma galera diferente, que não tinha visibilidade nas mídias de skate. Há 14 anos o projeto se mantém vivo sem patrocínios fixos ou investidores, somente com o esforço de cada skatista dentro dele.


A GENTE DERRUBA EGO, DERRUBA TUDO PARA VIVER ISSO, ESTAMOS SEMPRE VIVENDO EM HARMONIA E ESTAMOS EM BUSCA DE PESSOAS QUE PENSEM IGUAL A NÓS E ISSO É BEM IMPORTANTE, PORQUE O PROJETO VAI CRESCENDO. JP ROMERO.

Jp explica que ninguém recebe para fazer o vídeo, mas através do vídeo alguns skatistas se envolvem com marcas e patrocinadores. As marcas acabam agregando para a produção do filme, pois entendem a importância do projeto. Não existe uma verba específica para produção que exige tempo e dedicação e só acontece porque todos estão unidos e em contato sempre. A prova dessa união, são os filmes lançados e o Ímpeto, último vídeo produzido que tem uma hora de duração e foi algo inesperado. Um filme que foi desenvolvendo - se naturalmente, da mesma forma que o projeto segue com o propósito de transmitir a mensagem e não perder a sua essência: SIMPLESMENTE SKATE!


Duelo Nacional de MC’s TEXTO: JENŸ CHOË E CÉSAR BULCÃO FOTOS: @FAELDIOGO, @CARLOSHAUCK, @PABLOBERNARDOBH ⁣E @CHICOHOMESFOTO⁣

O movimento hip hop é um dos acontecimentos culturais mais influentes do mundo de hoje, ele construiu a linguagem comum que uniu periferias do planeta inteiro, uma verdadeira globalização dentro da globalização. Com a universalização da opressão o “sistema” criou o terreno ideal para que a resistência também fosse global. O hip hop como cultura é explicado, só pra facilitar pra quem não dá conta de acompanhar, em 4 elementos básicos. O RAP; O DJing; O breakdance; O grafitti. Nenhum dos elementos existem sozinhos, e existem vários outros elementos que podem ser inseridos nessa cultura ao longo do tempo, mas talvez a música da cultura hip hop seja o elemento mais popular e que tem a maior capacidade de unir pessoas. O RAP (rhythm and poetry – ritmo e poesia) é o canto do oprimido, as palavras desse canto transmitem um 5º elemento, a matéria que dá a liga pra todos os outros elementos, o conhecimento. As verdadeiras “aulas abertas” do hip hop podem ser vistas em quase todas as capitais brasileiras em eventos conhecidos com as batalhas de rima.


No contexto das batalhas que surgiu a família de rua e o duelo nacional de MC’s. Lá por volta de 2008, em BH, debaixo do viaduto Sta. Tereza começou a juntar uma galera pra batalhar nas rimas. Com a regularidade desse encontro surgiu a ideia de elevar o acontecimento a outro patamar, levar aquela energia pro resto do Brasil. Muito beat passou por debaixo do viaduto e muita ideia encheu o Brasil de conhecimento até que chegamos em 2020, um ano que redefiniu a noção de capacidade de adaptação. Assim como tudo que aconteceu em 2020 o duelo nacional teve que se adaptar, e como um autêntico representante da rua, atualizou o app do rolê em tempo real e deu um hack na pandemia.


Esse ano, na sua 9ª edição, o asfalto cedeu o espaço para os estúdios profissionais e o encontro das ideias saiu das molduras de concreto, e esse ano, foi enquadrado nos frames de pixels das telas. Com as restrições aos encontros presenciais a arena escolhida foi a “rua dos bits”, a mesma que fez com que a cultura hip hop se tornasse universal. As batalhas de tela transmitidas ao vivo pelo canal da Twitch.tv do duelo nacional e depois disponibilizadas no canal do Youtube para quem “tava de chapéu” e perdeu o dia da batalha deram uma nova cara pro evento, mas além de resolver um problema eterno da rua, que é não ter replay, a inovação tecnológica colocou todo o conhecimento da edição 2020 disponível pra consulta imediata e ainda guardou a memória pro futuro. Pra quem já conhece a batalha sabe, mas pra quem não conhece fica fácil explicar assim, lembra muito a organização das competições de skate. Coloca a organização do duelo nacional como a confederação e as federações estaduais são as “rodas culturais”.


As rodas culturais dos estados se formam dentro das batalhas de destaque de cada cidade se ligam à organização do duelo nacional por produtores relevantes para as cenas hip hop locais. Antes de começar as batalhas do duelo nacional, as rodas culturais dos estados fazem suas próprias etapas seletivas para a classificação de MC’s para as pré-seletivas nacionais. O duelo nacional, esse ano, se dividiu nas etapas de curadoria local, votação popular e júri técnico, seletivas estaduais, repescagens e o grande duelo nacional. Na curadoria local, com base em critérios decididos coletivamente cada núcleo estadual definiu 16 representantes para participar das seletivas estaduais. Dos 16 MCs selecionados, 2 mulheres têm vaga garantida na final estadual e 14 MCs vão para a fase de votação. Além dos participantes, a curadoria de cada estado também foi responsável por estabelecer um júri técnico. Para a escolha dos vencedores teve a votação popular e o júri técnico. Os desafiantes foram divididos por estado e cada pessoa votou em um MC, levando os 3 mais votados os 3 escolhidos pelo júri técnico para a próxima fase. Foram feitas 26 seletivas estaduais e os 26 ganhadores se juntaram a mais 6 MC’s selecionados nas repescagens para se enfrentarem na grande final. Ao todo 32 Mc’s vão batalhar suas ideias na grande final nos dias 30 e 31 de janeiro de 2021 e além das batalhas vão rolar shows e participações de convidados especiais. A grande final vai seguir a linha das etapas anteriores, vai ser transmitida ao vivo pelo canal da Twitch.tv do duelo nacional e depois vai ficar disponível no Youtube pra galera conferir e curtir à vontade as ideias. O RAP faz parte da alma do hip hop, do espírito da rua e esse conhecimento é aula pra vida.



MARCIO SILVA - ACID DROP || FOTO: ENOISCACHORRO

ASSIM COMO NO SKATE, NA VIDA, O EQUILÍBRIO É ATIVO. Encontrar o equilíbrio não é uma tarefa fácil e nem passiva. Exige de nós coragem para enfrentar diversos monstros que nos acompanham e nos sugam a energia de vida diariamente.

SIGA NAS REDES SOCIAIS PSICOLOGIA_RADICAL Alberto Santos - Skatista e especialista em Psicologia do Esporte.


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