Ex-aluno da FEI e Diretor Presidente da Votorantim

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Talento O engenheiro de Produção Paulo Henrique de Oliveira Santos, formado pelo Centro Universitário da FEI (na época Faculdade de Engenharia Industrial) em 1983, alcançou sucesso na carreira graças à sua competência, dedicação e formação. Depois de alguns anos de atuação no setor bancário, Paulo Henrique recebeu a missão de estruturar uma nova empresa para o Grupo Votorantim e criou a Votorantim Novos Negócios (VNN), da qual é diretor-presidente desde 2000. O executivo, que é pós-graduado em Administração de Empresas e tem especialização na Harvard Business School, conta nesta entrevista exclusiva como obteve sucesso na carreira e para onde caminham os negócios da empresa que dirige.

APESAR DE JÁ TER UMA CARREIRA CONSOLIDADA NO BRASIL E NO EXTERIOR, ASSUMIR A RESPONSABILIDADE DE CRIAR A VOTORANTIM NOVOS NEGÓCIOS FOI UM GRANDE DESAFIO? Sem dúvida foi meu maior desafio, porque começamos do zero, com um pedaço de papel em branco. Além disso, na época em que criamos a empresa havia a expectativa dos acionistas do Grupo Votorantim de criar algumas opções de investimento no mundo da internet. A ‘bolha’ da internet explodiu logo depois que criamos a empresa e, por sorte, e por uma questão de visão estratégica também, não tínhamos muitos investimentos em inter-

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ENTREVISTA – PAULO HENRIQUE DE OLIVEIRA SANTOS

para encarar desafios net, então não perdemos muito dinheiro. Não quero dizer que não poderíamos ter criado valor investindo na internet, só quero dizer que quando estávamos montando a VNN já sentíamos que estávamos atrasados para aproveitar aquela onda.

do Brasil; e a Votorantim Novos Negócios. São três holdings que respondem ao Conselho do Grupo Votorantim. As empresas da carteira da Votorantim Novos Negócios são parte do Grupo, mas respondem à nossa empresa.

A VOTORANTIM NOVOS NEGÓCIOS FOI CRIADA COM QUAL OBJETIVO? Os objetivos basicamente são dois: criação de valor acima dos negócios tradicionais do Grupo, e expor aos executivos e acionistas do Grupo Votorantim novos modelos de negócios, novas ideias e novas tecnologias para criação de opções estratégicas de negócios futuros. Montamos e compramos algumas empresas no decorrer desses nove anos que criaram muito valor para os acionistas, e também empresas novas e diferentes, que trouxeram novos conhecimentos e novas opções, tanto para os acionistas quanto para os executivos do Grupo. Poderia dizer que os dois objetivos traçados foram, até agora, alcançados.

ESSES NOVOS NEGÓCIOS SÃO ADQUIRIDOS PARA

AS

NOVAS EMPRESAS PASSAM A FAZER PARTE

GRUPO VOTORANTIM? As empresas fazem parte do Grupo Votorantim, mas embaixo da estrutura da Votorantim Novos Negócios. O Grupo tem três grandes holdings: a Votorantim Industrial, que tem os principais ativos como cimento, papel, celulose, metais; a Votorantim Finanças, com o Banco Votorantim, que agora tem parceria com o Banco DO

SEREM NEGOCIADOS OU FICAM DENTRO DO

GRUPO VOTORANTIM? O fim é que as novas empresas sejam negociadas, tanto para o próprio Grupo como para terceiros ou por abertura de capital. É uma estrutura de transição. Se o negócio crescer e ficar bem interessante, o Grupo pode adquirir. Se o Grupo achar o negócio interessante, mas um desafio muito distante da sua área de competência, temos a possibilidade de vender para um terceiro. A abertura de capital dessas empresas também faz parte do mandato da VNN. O SENHOR AFIRMOU RECENTEMENTE QUE A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL PODERIA CRIAR MUITAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS, PRINCIPALMENTE PARA AQUISIÇÃO DE EMPRESAS POR UM PREÇO MAIS JUSTO.

ESSAS

OPORTUNIDADES

FORAM EFETIVAMENTE CRIADAS?

Não vimos muitos ajustes de preço nas empresas com a crise econômica. Acho que isso está acontecendo, mas de uma maneira mais lenta do que esperávamos. Mas acredito que ainda teremos algumas oportunidades no decorrer deste e do próximo ano.

AS EMPRESAS DA VOTORANTIM NOVOS NEGÓCIOS SÃO DIVERSIFICADAS OU DE UM SEGMENTO ESPECÍFICO? São ativos diversificados. Temos empresas na área de biotecnologia, Tecnologia da Informação (TI), distribuição e mineração. Atualmente, a empresa com mais peso no portfólio é a Tivit, que é da área de TI. A Tivit, de certa forma, foi um bom resultado do boom da internet. Em 2002, logo após o estouro da bolha da internet, compramos um ativo que estava quebrando, desenvolvemos um novo modelo de negócio e consolidamos a Tivit com a compra de outros ativos. Até que, em 2007, em uma fusão com outra empresa que era do nosso portfólio também, criamos a Tivit atual. Estamos crescendo como estava programado. O crescimento da Tivit beira 40% ao ano. Hoje, a Tivit é uma empresa de aproximadamente R$ 1 bilhão de faturamento. COMO É POSSÍVEL ADMINISTRAR EMPRESAS DE SEGMENTOS TÃO DISTINTOS? Dividimos o portfólio em áreas de conhecimento, áreas de afinidade entre os executivos da VNN. No meu caso, sou um generalista, porém, desenvolvi conhecimento específico em algumas indústrias, como a de TI. COMO ESTÁ O TRABALHO DA VNN NA ÁREA DE BIOTECNOLOGIA? Nós tínhamos duas empresas focadas em biotecnologia onde desenvolvíamos

“Não vimos muitos ajustes de preço nas empresas com a crise econômica. Acho que isso está acontecendo, mas de uma maneira mais lenta do que esperávamos” AGOSTO DE 2009 | DOMÍNIO FEI

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ENTREVISTA – PAULO HENRIQUE DE OLIVEIRA SANTOS variedades transgênicas e não-transgênicas de cana-de-açúcar, mas vendemos em outubro passado por entender que esse negócio, sob nossa administração, já tinha atingido o seu valor máximo. Hoje, temos um investimento na área, que é a participação em uma empresa chamada Amyris, que desenvolve diesel a partir do melaço do açúcar. É uma tecnologia patenteada pela companhia, que já mostra resultados bastante promissores. Já temos diesel sendo produzido, mas ainda em uma escala não industrial. Mas está indo muito bem, melhor do que estávamos esperando. QUAIS SERÃO OS PRÓXIMOS PASSOS DA EMPRESA A PARTIR DE AGORA? Não sairemos muito dessas áreas. No segundo semestre deste ano discutiremos a inclusão de uma ou outra área. Mas não é nossa intenção abrir muito o leque de indústrias. A FORMAÇÃO EM ENGENHARIA FOI IMPORTANTE PARA QUE O SENHOR SEGUISSE ESSA TRAJETÓRIA DE SUCESSO? Muito importante. A formação foi fundamental para que eu seguisse essa trajetória. Acredito que foi a Engenharia que me deu essa base para chegar aonde cheguei. Sem dúvida foi importante. O SENHOR SE FORMOU EM 1983 EM ENGENHARIA, MAS NÃO EXERCEU A PROFISSÃO... Formei-me engenheiro em uma época duríssima, em que era muito difícil arrumar emprego como engenheiro. A maioria dos engenheiros acabava indo trabalhar nas instituições bancárias e foi mais ou menos o que eu fiz. Fiz um estágio no quarto ano da faculdade na antiga Metal Leve – hoje Mahle – e vi que não era com Engenharia que queria trabalhar. Mas o curso dá uma base muito forte em Matemática e na FEI era preciso ter muita disciplina e dedicação nos estudos para passar de semestre. E isso me deu a base muito forte para chegar aonde eu cheguei. Depois de formado, surgiu a opor-

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tunidade de trabalhar em um banco brasileiro que tinha participação de um banco estrangeiro e eu fui. Trabalhei como tesoureiro, gerente de relacionamentos. Fui para os Estados Unidos como colaborador desse banco, onde fiquei três anos, voltei ao Brasil em 1992 e fui para o Banco Votorantim. Dentro do Grupo Votorantim atuei também na área de metais, mineração e metalurgia, fiz privatizações e, por fim, montei a Votorantim Novos Negócios.

“A Engenharia foi fundamental para que eu seguisse essa trajetória” O SENHOR ACHA QUE O MERCADO PARA FORMADOS EM ENGENHARIA APRESENTOU ALGUMA MELHORA NOS ÚLTIMOS ANOS? Sim. Com a estabilidade da economia brasileira e o consequente aumento de investimentos, nacionais e estrangeiros, houve uma melhora sensível nas oportunidades de emprego para engenheiros em várias áreas. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS FERRAMENTAS PARA SEGUIR UMA CARREIRA DE SUCESSO COMO A SUA?

Hoje, mais do que antes, a competição é muito acirrada. Vai se destacar, principalmente no início da carreira, quem tiver uma boa formação, mas é preciso ter muita vontade e dedicação para se conseguir alguma coisa. Sorte também é importante. Além disso, é fundamental gostar do que se faz.

É DIFÍCIL ENCONTRAR PROFISSIONAIS BEM FORMADOS E QUALIFICADOS ATUALMENTE? Sempre é difícil encontrar, atrair e principalmente reter bons profissionais. Mesmo em um período como o que estamos vivenciando no momento, em que a economia não está tão aquecida, os bons profissionais são sempre muito disputados. OS JOVENS CHEGAM PREPARADOS OU PRECISAM SER LAPIDADOS NAS EMPRESAS? É natural que o profissional recémformado precise ser treinado para enfrentar os problemas nessa nova fase da sua vida. Na minha opinião, as faculdades têm por obrigação enfatizar a formação teórica, porém, deveriam ensinar sem perder o foco na parte prática. Entretanto, a lapidação e o treinamento mais profundo para a necessidade da empresa terá de vir da própria empresa e da experiência que se obtém no dia-a-dia. O

QUE DIRIA PARA OS JOVENS QUE ESTÃO SE

FORMANDO E QUEREM SEGUIR UMA CARREIRA DE SUCESSO?

Sempre procurar se atualizar, saber aonde quer chegar e planejar a carreira. Eu sempre planejei a minha carreira, desde a saída da faculdade. Planejo a minha vida, em ciclos de cinco em cinco anos, e até agora tem dado razoavelmente certo. Claro que não é uma linha reta, às vezes é preciso replanejar no meio, mas nunca deixo de fazer esse exercício. E é assim também na minha vida particular. O SENHOR JÁ CHEGOU AONDE QUERIA? Já cheguei a uma posição bastante interessante, mas é sempre bom sonhar com mais. Não se pode parar de sonhar. Se pararmos de sonhar estamos fadados a definhar. É sempre bom ambicionar alguma coisa a mais. O

QUE O SENHOR FAZ PARA ELIMINAR O ES-

TRESSE DA ROTINA DIÁRIA?

Tenho uma atividade física intensa. Sempre fiz esportes. Corro quase todos os dias há pelo menos 15 anos. Também


“Se fosse começar de novo a minha vida não faria nada diferente” tenho uma família muito bem estruturada, o que é importante para não estressar mais ainda. Tenho três filhos e sou casado há 25 anos. Além disso, gosto do que faço. O estresse maior é quando fazemos aquilo que não gostamos. QUAIS

SÃO SUAS MELHORES LEMBRANÇAS DA

FACULDADE?

A faculdade me trouxe um senso de responsabilidade que eu não tinha. Entrei na faculdade com apenas 17 anos e, na época, não era irresponsável, mas muito desligado. Mas, na FEI não tinha esse negócio de dar uma ‘enroladinha’ na matéria, e isso foi muito importante para a minha formação. Quem não tinha disciplina não conseguia se formar. Acho que as lições aprendidas e as experiências vividas na faculdade foram fundamentais para a minha vida pessoal e profissional. O SENHOR SE LEMBRA DE ALGUM CASO ENGRAÇADO DA ÉPOCA?

Eu me lembro de uma prova de Desenho Industrial que pedia para duplicar o tamanho de uma figura. Então, vejo um

amigo com a prova na mão já para entregar. Olhei no desenho e vi que ele tinha errado a escala e que, ao invés de multiplicar por dois, tinha dividido por dois

“Não se pode parar de sonhar. Se pararmos de sonhar estamos fadados a definhar” (risos). O desenho ficou minúsculo, mal dava para enxergar os detalhes. Isso virou piada o resto do curso. A faculdade foi uma época boa. Foi uma época muito gostosa e que me traz boas recordações.

POR QUE A ESCOLHA PELA FEI? Sinceramente, eu era muito jovem e não sabia direito o que queria fazer. Acho que isso continua sendo o problema da maioria dos jovens. Sabia que gostava muito de Matemática. Então resolvi que queria fazer uma faculdade de Engenharia com uma boa reputação e, como vários amigos estavam entrando na FEI, também prestei vestibular na FEI. ATUALMENTE, A FEI TEM CURSOS NAS ÁREAS ENGENHARIA, CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO. QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE ESTAS ÁREAS? A Ciência da Computação, sem dúvida, é uma das áreas mais promissoras hoje e será daqui a 20, 30 anos. Já Engenharia e Administração são áreas mais tradicionais que dão uma abrangência muito grande de conhecimento para os jovens. Considero as três áreas muito interessantes. DE

SE

FOSSE PARA COMEÇAR NOVAMENTE, O SE-

ENGENHARIA? Sem dúvida. Se fosse começar de novo a minha vida não faria nada diferente. NHOR FARIA

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